O intercâmbio mediúnico é um dos temas mais importantes do Espiritismo,
pois muitos creem que a prática mediúnica só ocorre nos Centros Espíritas, o que não é verdade. É, além disso, um dos mais difíceis de ser abordado em qualquer círculo, justamente pela falta de conhecimento das pessoas, pelo misticismo e crendices que envolvem o tema e as pessoas possuidoras de mediunidade: os médiuns. Allan Kardec afirma, em “O Livro dos Espíritos”, que “o Espiritismo é toda uma ciência, toda uma filosofia, e como tal não pode ser aprendido a brincar”. Certamente o Codificador não se referia às técnicas, às dinâmicas e aos exercícios de sensibilização, hoje tão utilizados para melhor aproveitamento e fixação do aprendizado, já codificado e consagrado por todos. Ao que parece, poucos são os espíritas que conhecem esta afirmativa e agem à luz deste conhecimento. Allan Kardec — Hippolyte Léon Denizard Rivail —, pedagogo francês, profundo conhecedor e estudioso do magnetismo, possuidor de vastos conhecimentos no campo da ciência e da filosofia, precisou, com o auxílio dos Espíritos superiores, de quatorze anos consecutivos, de ininterruptos trabalhos, de integral dedicação para codificar “toda” a Base do Espiritismo. Todavia, algumas pessoas crêem que um, dois, três ou mais anos sejam suficientes para se conhecer a Doutrina Espírita. Devemos nos lembrar que nestes anos normalmente estão inseridos os primeiros contatos com a Codificação Kardequiana, algum tempo de indecisão, entre outras coisas, outro tanto de entrosamento, etc. Esquecem-se também que a Doutrina Espírita, segundo Kardec, é uma ciência de observação. Devem-se observar os fenômenos, que com o conhecimento prévio da teoria ficam mais fáceis de identificar. Os que não têm pleno conhecimento da parte teórica podem cometer, e geralmente cometem, muitos erros e desvios. Dirão alguns: — Então é preciso uma inteligência superior para se conhecer o Espiritismo? Não. “O Espiritismo é resultado de uma convicção pessoal, que os sábios, como indivíduos, podem adquirir abstração feita da qualidade de sábios.” (“O Livro dos Espíritos”, Introdução, VII.) Entretanto, para se adquirir uma primeira convicção, recomenda o Codificador que se leia “nesta ordem: “O que é o Espiritismo”, “O Livro dos Espíritos”, “O Livro dos Médiuns”. Esta afirmação se encontra em “O Livro dos Médiuns” (1ª parte, cap. III, Do Método, item 35). Nessa época Kardec ainda não havia publicado os demais livros da Codificação e acreditamos que se o tivesse feito teria prosseguido na recomendação, citando “O Evangelho segundo o Espiritismo”, “O Céu e o Inferno” e “A Gênese”. Em “O Livro dos Espíritos”, Introdução, VIII, diz Allan Kardec: “Acrescentemos que o estudo de uma doutrina, qual a Doutrina Espírita (...) só pode ser feito com utilidade por homens sérios, perseverantes, livres de prevenções e animados de firme e sincera vontade de chegar a um resultado.” Para este estudo, necessário se faz acrescentar “continuidade, regularidade e o recolhimento indispensáveis”. Deve-se estudá-la “metodicamente, começando pelo princípio e acompanhando o encadeamento e o desenvolvimento das ideias”. Na Introdução, XIII, diz: “(...) estes estudos requerem atenção demorada, observação profunda e, sobretudo, como aliás o exigem todas as ciências humanas, continuidade e perseverança. Anos são precisos para formar-se um médico medíocre e três quartas partes da vida para chegar-se a ser um sábio. Como pretender-se em algumas horas adquirir a Ciência do Infinito? Ninguém, pois, se iluda: o estudo do Espiritismo é imenso; ” (...) Apesar disso, podemos constatar que o Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita ainda carece de muita divulgação e desenvolvimento nas Casas Espíritas. Reflitamos. Quantas pessoas, nos Centros Espíritas, conhecem em profundidade a escala espírita e o quadro sinóptico apresentados por Allan Kardec em “O Livro dos Espíritos” e “O Livro dos Médiuns”, respectivamente? Quantas pessoas, após os primeiros contatos com o Espiritismo e, depois de alguns anos de frequência aos Centros Espíritas, de participação no Movimento Espírita continuam estudando? Quantos estudam em grupo? Quantos apresentam as mensagens recebidas por seu intermédio para a análise de terceiros? Quantos expõem ou discutem seus pontos de vistas sobre os temas considerados polêmicos? Quantos conseguem identificar nas mensagens a interferência do médium, sendo ou não ele o próprio médium? Quantos creem que as mensagens que chegam às suas mãos são primeiramente para eles, depois para os outros? São poucos. Alguns dizem que para ser médium não é necessário conhecer a si mesmo, nem ao Espiritismo. É verdade, mas para o médium espírita deve ser muito importante conhecer perfeitamente os Postulados Espíritas, para que não se torne instrumento dos Espíritos inferiores, encarnados e desencarnados, ou seja, não caia nas malhas da obsessão. A prática mediúnica, o fenômeno mediúnico, pode acontecer, e acontece, em qualquer lugar, dentro ou fora das instituições espíritas, em casa, no trabalho, na rua, em outros núcleos religiosos ou não. As questões 87 e 459, de “O Livro dos Espíritos”, dizem-nos que os Espíritos estão em todos os lugares do Universo e, portanto, à nossa volta, e de ordinário são eles que nos dirigem. Esta direção dá-se através de nossos pensamentos, pois é através deles que nos inspiram e nos influenciam. Assim, quando resolvemos mudar de caminho, passando por outro diferente, provavelmente isto é fruto da influência de um Espírito, podendo ser boa ou má de acordo com os nossos pensamentos, o que podemos avaliar pelos resultados de nossos atos. Para entrarmos em contato com os Espíritos é necessária a satisfação de algumas condições. 1. A permissão de Deus, sem a qual nada é possível. Incluímos aqui a atuação dos anjos de guarda e dos Espíritos protetores, que podem impedir ou facilitar as comunicações; 2. A afinidade de fluidos entre os Espíritos, encarnados e desencarnados. 3. Vontade do Espírito comunicante. Se o Espírito desencarnado não quiser ou não puder comunicar-se, nada acontecerá. 4. Condições do Espírito encarnado. A vontade ou a fé não são condições necessárias às comunicações, pois muitos não as possuem e, apesar disso, as comunicações ocorrem. No entanto, incluímos a aptidão do encarnado que está ligada à organização física. Não estamos tratando da qualidade ou dos tipos das comunicações, apenas estamos falando da ocorrência do fenômeno. Satisfeitas estas condições o intercâmbio acontecerá naturalmente, ficando na dependência da organização física o tipo de manifestação, ou seja, se será pela intuição, pela vidência, psicografia, psicofônica, etc. O grau de influência dependerá, entre outras coisas, do objetivo da comunicação. O que podemos afirmar é que nenhum Espírito bom causa uma impressão má. Assim, quando sentirmos algum mal-estar tenhamos a certeza de que é um Espírito que está em má situação, mesmo que seja provisória. Os Espíritos levados às reuniões mediúnicas têm afinidades com os médiuns, e muitas vezes são aproximados antecipadamente para facilitar as comunicações. Entretanto, é comum ouvirmos os médiuns alegarem que não foram à reunião mediúnica porque estavam passando mal; pareciam que iam morrer do coração; ou, pareciam ter uma faca cravada no peito, por isso correram logo para o médico. Esses médiuns, com certeza, não souberam distinguir o que é seu do que é dos Espíritos; o que é físico, do que é espiritual. De forma geral, esses médiuns não tomam nenhum remédio para melhorar do mal que estão sentindo. Geralmente, o mal passa logo após não dar mais tempo para chegar à reunião. É sempre bom observar isto. Obviamente, não estamos dizendo que tudo é espiritual e que não se deva procurar o médico quando acometido de um mal súbito. Apenas lembramos que uma das características da influenciação espiritual é a mudança repentina de humor. Isto nos leva a constatar a necessidade do autoconhecimento. Por isso Allan Kardec e os Espíritos recomendam, por toda a Codificação, que o médium e os orientadores estudem com atenção toda a teoria e analisem profundamente os fenômenos. Cabe aqui uma pergunta: Quantos médiuns ou dirigentes analisam profundamente e com seriedade as comunicações de que são instrumentos ou testemunhas? Outra recomendação kardequiana e dos Espíritos é que as comunicações sejam analisadas. Antigamente, a dificuldade de se analisar as mensagens psicofônicas era muito grande. Hoje, porém, com o aparecimento dos minigravadores, de todos os tipos e preços, para todos os gostos e objetivos, ficam muito mais fáceis estas análises. Mas quantos fazem isto? Nem sequer conversam sobre elas. Muitas informações, aprendizados, orientações, alertas, simplesmente são desprezados. Temos também as psicografias. do seu teor. O dirigente, por sua vez, nenhum retorno fornece ao médium. Isto pressupõe que o médium ficará na ignorância do fruto de seu trabalho, pelo menos os obtidos naquela reunião. O médium sério jamais deve aceitar ou ter este tipo de comportamento. O médium sério deve sempre estar consciente do que recebe, analisando todas as comunicações obtidas por seu intermédio. Em outros casos, o médium lê a mensagem para os presentes e a passa para o dirigente. Aqui, preciso é lembrar que há uma diferença muito grande entre ler e analisar. O que a priori é bom, a posteriori pode não ser tão bom, pode até mesmo ser ruim. Há os que, após lerem, levam as mensagens para casa. Mesmo ficando de posse da mensagem, não as analisam. Isso também é ruim pois o médium não acompanha o seu estado e as interferências nas comunicações. Por esses motivos, vemos muitos absurdos sendo publicados, sem o menor critério doutrinário. Inconseqüências que nos fazem refletir sobre a importância e a necessidade do Estudo Sistematizado para todos os espíritas. Se nos considerarmos sem condições de analisar as mensagens devemos submetê-las a outras pessoas que possam fazer isso por nós. É por esta falta de conhecimento doutrinário que geralmente quando se fala em analisar as comunicações acontecem os famosos melindres que dispersam grupos e mais grupos. O orgulho e a vaidade, de cada um, aparecem com força total, tanto dos médiuns, como dos dirigentes e daqueles que se propõem a analisar as comunicações. Então, o medo da dispersão do grupo, ou sob a bandeira da fraternidade, faz com que não se toque mais no assunto, e é aí que os Espíritos inferiores se imiscuem nos Centros Espíritas e fazem deles o que bem entendem. A Casa Espírita que não possua um grupo de estudo sério e não esteja atenta aos possíveis desvios corre o risco de parar no tempo; de transformar-se num Centro somente assistencialista, como acontece em outras religiões, faz-se e fala-se de tudo, menos de Doutrina Espírita; de fazer seguidores de médiuns, de dirigentes, de Espíritos, mas nunca de fazer espíritas sérios e convictos, que possuam a fé raciocinada. Reflitamos sobre estas palavras de Allan Kardec: “(...) os Espíritos verdadeiramente superiores nos recomendam de contínuo que submetamos todas as comunicações ao crivo da razão e da mais rigorosa lógica.” (“O Livro dos Médiuns”, 2ª parte, cap. X, 136.) “Um bom Espírito produz sempre uma impressão suave e agradável; a de um mau Espírito, ao contrário, é penosa, angustiosa, desagradável. Há como que um cheiro de impureza.” (Idem, Ibidem, cap. XIV, 164.) “O homem que julga infalível a sua razão está bem perto do erro.” (“O Livro dos Espíritos”, Introdução, VII.) “O que se chama razão não é muitas vezes senão o orgulho disfarçado e quem quer que se considere infalível apresenta-se como igual a Deus.” (“O Livro dos Espíritos”, Introdução, VII.) “O estudo da especialidade dos médiuns não só lhes é necessário, como também ao evocador.” (“O Livro dos Médiuns”, 2ª parte, cap. XVI, 199.) “Por isso é que indispensável se faz o estudo prévio da teoria, para todo aquele que queira evitar os inconvenientes peculiares à experiência.” (Idem, ibidem, p. 254.) Diante do exposto e das palavras de Allan Kardec difícil é aquele que não chega à conclusão, de sã consciência, da importância e necessidade do Estudo Sistematizado e constante da Doutrina Espírita.