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UNIDADE

Objetivos:

• C ompreender que ondas são perturbações que se propagam em


um meio qualquer, transportando energia sem transporte de maté-
ria;
• Classificar as ondas quanto à sua natureza, quanto aos modos de
vibração e propagação e quanto à sua dimensionalidade.

1.1 Introdução

Já parou para pensar o quanto as ondas estão presentes no nosso dia a dia?
Veja algumas situações em que as ondas estão presentes e não percebe: quando
falamos ao celular, assistimos televisão, ouvimos um programa de rádio, tocamos
um instrumento musical, quando usamos o forno de micro-ondas ou conversamos
com os nossos amigos, ao nos submetermos a um exame de ultrassonografia ou
raios-X, quando jogamos um objeto num lago parado, na propagação da luz no
espaço, etc. Percebe que as ondas estão praticamente em todos os espaços?

Qual é o conceito físico de uma onda?

Antes de conceituá-la, vejamos alguns exemplos para melhor entendimento


sobre o que é uma onda.

Ondas Mecânicas 5
Exemplo 01:

Imaginemos uma pessoa vibrando uma corda. Ao sacudi-la rapidamente


para cima e para baixo, de forma contínua, provocando várias perturbações,
uma série de pulsos se propagará ao longo dela, como se fosse uma cobra
se movendo. A formação e propagação desta série de pulsos constitui uma
Onda na corda. Observe a Figura 1.
Figura 1 - Ondas em cordas

Fonte: https://courses.lumenlearning.com/physics/chapter/16-9-waves/

Exemplo 02:

Na Figura 2, temos uma ilustração de gotejamento de água. Observe


que quando os pingos atingem a superfície da água parada, criam-se
perturbações neste meio, que se propagam em círculos concêntricos. A
propagação dessas perturbações caracteriza uma Onda na água.

Figura 2 - Gotas de água

Fonte: Imagem de FelixMittermeier por Pixabay

Ondas Mecânicas 6
Exemplo 03:

O som emitido por uma flauta causa perturbações no ar. Essas perturbações
se propagam até os nossos ouvidos acionando o sistema auditivo que nos
dá a sensação de audição. A propagação destas perturbações caracteriza
uma Onda Sonora, Figura 3.

Figura 3 - O pastor flautista

Fonte: Pintura de Sophie Gengembre Anderson

Estes exemplos que caracterizam uma onda têm algo em comum. Na


propagação da perturbação criada pela fonte, apenas a energia é transportada,
não havendo transporte de matéria.

Com esse entendimento, podemos conceituar uma onda como sendo:

“Uma perturbação (ou sequência de pulsos) que se propaga no meio perturbado,


transportando apenas energia sem transporte de matéria”.

1.2 Classificação das ondas

Diversos são os métodos que os livros utilizam para classificar as ondas.


Nesta obra, classificaremos as ondas quanto à sua natureza, quanto aos modos de
vibração e propagação, e quanto à sua dimensionalidade.
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1.2.1 Quanto à natureza das ondas

Classicamente, as ondas são identificadas como “ondas mecânicas” e


“ondas eletromagnéticas”.

Ondas Mecânicas: são ondas que precisam de um meio material elástico, seja ele
sólido, líquido ou gasoso para que possam propagar-se. Assim sendo, ondas desta
natureza não se propagam no vácuo. Ondas em cordas, ondas na superfície da
água e ondas sonoras são alguns exemplos de ondas mecânicas, pois necessitam
de um meio de propagação.

Ondas Eletromagnéticas: são ondas constituídas por dois campos variáveis,


sendo um elétrico e o outro magnético que se propagam no vácuo, e em alguns
meios materiais. Este tipo de onda está muito presente no nosso cotidiano, por
exemplo: as ondas de rádio, ondas de TV, ondas da luz visível, ondas de raios-X e
γ, ondas de radar, micro-ondas, etc.

Muito do que discutiremos nesta obra é aplicável a ondas mecânicas e


ondas eletromagnéticas, no entanto, nossa abordagem se concentrará apenas nas
Ondas Mecânicas.

1.2.2 Quanto ao modo de vibração e propagação

Quanto ao modo de vibração e propagação, as ondas mecânicas são


denominadas em: ondas transversais, longitudinais e mistas.

Ondas Transversais: são aquelas que vibram perpendicularmente à sua


propagação. O exemplo mais simples que podemos dar de uma onda transversal é
o da onda em uma corda. Considere uma corda fixa em um suporte com algumas
fitas pequenas amarradas ao longo dela. Na outra extremidade da corda, uma
pessoa provoca o movimento de subida e descida criando vários pulsos que se
propagam ao longo da corda. Esses pulsos, ao passarem pelas fitas que estão
presas às cordas, provocam um movimento de subida e descida nelas. O movimento
de subida e descida ocorre perpendicular à direção de propagação dos pulsos,
conforme podemos visualizar na Figura 4:
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Figura 4 - Onda Transversal

Fonte: Elaborada pelos autores (2020)

Ondas Longitudinais: são aquelas em que o seu movimento de vibração ocorre


na mesma direção em que a onda se propaga. Como exemplo clássico, considere
uma mola distendida horizontalmente. Se comprimirmos umas 15 espiras da
extremidade direita da mola e em seguida soltarmos, se observa uma compressão
se propagando para esquerda da mola. Entenda que os pontos da mola oscilam na
mesma direção de propagação da onda. Observe a ilustração na Figura 5.

Figura 5 - Representação de ondas transversais

Fonte: https://www.researchgate.net/figure/Figura-9-Ilustracao-de-onda-
longitudinal_fig5_325942399

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Outro exemplo muito interessante de ondas longitudinais são as ondas
sonoras. A Figura 6 mostra como uma onda sonora é produzida por um alto-falante.
O movimento para frente e para trás da membrana acoplada ao cone do alto-falante
empurrando as moléculas de ar, cria ondas de compressões e rarefações que se
propagam na mesma direção em que as moléculas de ar vibram.

Figura 6 - Ondas sonoras

Fonte: https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:CPT-sound-physical-manifestation.svg

Ondas Mistas: são as que emitem comportamento vibratório característico das


ondas transversais e longitudinais simultaneamente quando se propagam. Este
comportamento é muito perceptível nas ondas produzidas na superfície de líquidos.
Se um objeto qualquer, por exemplo, uma folha seca, está boiando em cima da
água em alto mar. Quando atingida pela passagem da onda, a folha realizará um
movimento para cima e para baixo, e um movimento para frente e para trás como
uma composição ordenada de ondas transversais e longitudinais.

1.2.3 Quanto à sua dimensionalidade e propagação

Quanto à dimensionalidade e propagação, as ondas mecânicas são


classificadas em três tipos: ondas unidimensionais, bidimensionais e tridimensionais.

Ondas Unidimensionais: como o próprio nome já diz, são as que se propagam em


uma dimensão. Ex.: ondas em cordas ou em molas.

Ondas Bidimensionais: são ondas que se propagam em duas dimensões, ou em


um plano. Ex.: ondas em superfície de líquidos.

Ondas Tridimensionais: são ondas que se propagam em três dimensões no


espaço. Ex.: ondas sonoras no ar.
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RESUMO

Nesta Unidade, fizemos uma introdução ao estudo das ondas, com foco
principal na definição do conceito de onda e sua classificação quanto à natureza,
modos de vibração e propagação, e quanto à sua dimensionalidade. Apresentamos
as principais características das categorias de ondas mecânicas além de exemplificá-
las.

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REFERÊNCIAS

BÔAS, Newton Villas; DOCA, Ricardo Helou; BISCUOLA, Gualter José. Tópicos
de Física: termologia, ondulatória, óptico. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

BONJORNO, José Roberto et al. Física: termologia, óptica, ondulatória. 3. ed. São
Paulo: Ftd, 2016.

HALLIDAY, David; RESNICK, Robert; WALKER, Jearl. Fundamentos de Física:


gravitação, ondas e termodinâmica. 8. ed. Rio de Janeiro: Ltc, 2009.

RAMALHO JÚNIOR, Francisco; FERRARO, Nicolau Gilberto; SOARES, Paulo


Antônio de Toledo. Os Fundamentos da Física: termologia, ópticas e ondas. 9.
ed. São Paulo: Moderna, 2007.

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UNIDADE

PROPRIEDADES FÍSICAS DAS ONDAS


Objetivos:

• R
econhecer movimentos oscilatórios periódicos.
• Conhecer as propriedades físicas de uma onda, tais como amplitu-
de, comprimento de onda, frequência, período e velocidade de pro-
pagação.

2.1 Ondas periódicas

São ondas que se repetem de formas padronizadas em intervalos de tempo


iguais e sucessivos. Para estudar as propriedades físicas das ondas, vamos analisar
uma corda em equilíbrio, Figura 7, conectada em uma fonte geradora de ondas
periódicas, Figura 8.

Figura 7 - Corda em equilíbrio Figura 8 - Ondas periódicas

Fonte: https://phet.colorado.edu/sims/html/wave-on-a-string/latest/wave-on-a-string_pt_
BR.html

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A Figura 8 representa a propagação das ondas. Podemos destacar as seguintes
propriedades físicas: amplitude, crista, vale, frequência, período, comprimento de
onda e velocidade.

Amplitude (A) — É o deslocamento vertical máximo para cima ou para baixo de


um ponto da corda em relação à sua posição de equilíbrio representada pela linha
pontilhada na horizontal. Quanto maior for a amplitude da fonte, mais intensa é
energia da onda.

Crista (C) — É o ponto mais alto da amplitude, tomando como referência seu ponto
de equilíbrio.

Vale (V) — É a parte mais baixa da amplitude. Tomando como referência seu ponto
de equilíbrio.

Frequência (f) — É o número de oscilações por unidade de tempo realizada por um


ponto da corda A frequência é uma grandeza pertinente à fonte, portanto,
quanto maior a frequência emitida pela fonte maior será a frequência da onda.

Período (T) — É o tempo que um ponto da corda leva para executar uma oscilação
completa. Período e frequência são grandezas inversamente proporcionais

Comprimento de Onda (λ) — É a distância entre duas cristas ou dois vales. É


representada também pela distância de uma oscilação completa. Nas ondas
longitudinais, o comprimento de onda é a distância entre os centros de duas
rarefações ou de duas compressões sucessivas.

Velocidade de propagação das ondas (v) — Expressa a rapidez com que uma
onda se propaga em um determinado meio. No caso de ondas periódicas que
se propaga sem dissipação de energia, sem mudança de meio e sem alterar as
condições do meio. A velocidade é constante e pode ser extraída da função horária
do espaço S = S0 + vt. Por tratar-se de uma onda, reescrevemos a equação fazendo
S = λ; S0 = 0 e t = T, o que nos dá: λ = vT. Lembrando que o período é o inverso
da frequência, logo a equação fica da seguinte forma que resulta em v = λf.
Chamada de Equação Fundamental da Ondulatória.

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• Velocidade de propagação de um Pulso em uma corda

Como dito anteriormente, a velocidade de uma onda periódica em um meio


(sólido, líquido ou gasoso) é constante e independe das propriedades da fonte que
a gerou. Dependendo somente do meio de propagação e das condições físicas do
meio. Portanto, sua velocidade de propagação só vai alterar se alterarmos o meio
ou as condições do meio. Tomamos como exemplo um pulso que se propaga em
uma corda fina e em seguida é transmitido à parte mais grossa da corda. Figura 9.

Figura 9 - Passagem de uma onda de um meio para outro

Fonte: Elaborada pelos autores (2020)

A velocidade de propagação do pulso depende apenas da densidade linear


da corda (μ) e da força tensora (F) a qual está submetida, conforme determina a
expressão de Taylor:

Onde é a densidade linear da corda.

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Da expressão da velocidade, podemos observar uma relação quadrática
direta da velocidade e da força tensora, e uma relação inversa quadrática da
velocidade e a densidade linear da corda. Como a densidade linear da corda é dada
pela massa sobre o comprimento, concluímos que mantendo a força tensora e o
comprimento da corda constante, quanto maior for a massa da corda menor será a
velocidade de propagação do pulso ao percorrê-la.

Como já mencionado, a frequência da onda não se altera ao ser transmitida


de um meio para outro, pois, ela não depende do meio e sim da fonte originadora.
É importante ressaltar também que no exemplo de propagação do pulso em uma
corda, vale a relação v= λ.f, como f é constante, a relação da velocidade e o
comprimento de onda são diretamente proporcionais.

RESUMO

Nesta Unidade, apresentamos o conceito de ondas periódicas e descrevemos


sobre suas propriedades físicas: amplitude, comprimento de onda, frequência,
período e velocidade de propagação. Expressamos a partir da equação horária do
espaço, a equação fundamental da ondulatória. A partir da ilustração (Figura 9) de
um pulso propagando-se em uma corda, estudamos que sua velocidade depende
apenas da densidade linear da corda e da força tensora que está submetida,
conforme determina a expressão de Taylor.

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REFERÊNCIAS

BARRETO FILHO, Benigno; SILVA, Claudio Xavier da. Física Aula por Aula:
termologia, óptica, ondulatória. 3. ed. São Paulo: Ftd, 2016.

GUIMARÃES, Osvaldo; PIQUEIRA, José Roberto; CARRON, Wilson. Física: física


térmica, ondas, óptica. 2. ed. São Paulo: Editora ática, 2016.

HALLIDAY, David; RESNICK, Robert; WALKER, Jearl. Fundamentos de Física:


gravitação, ondas e termodinâmica. 8. ed. Rio de Janeiro: Ltc, 2009.

RAMALHO JÚNIOR, Francisco; FERRARO, Nicolau Gilberto; SOARES, Paulo


Antônio de Toledo. Os Fundamentos da Física: termologia, ópticas e ondas. 9.
ed. São Paulo: Moderna, 2007.

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UNIDADE

FENÔMENOS ONDULATÓRIOS
Objetivos:

• Identificar as características das ondas estacionárias em cordas


vibrantes;
• Reconhecer em situações reais as manifestações dos fenôme-
nos ondulatórios de reflexão, difração, refração, polarização e
interferên­cia.

3.1 Reflexão de ondas

É a alteração do sentido de propagação de uma onda, quando em determinada


velocidade ocorre a incidência dessa onda em outro meio. Observe a representação
esquemática desse fenômeno:

Figura 10 - Reflexões de ondas bidimensionais

Fonte: Elaborada pelos autores (2020)

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Ao analisarmos a Figura 10, é possível destacar as seguintes características
da reflexão em ondas: 1 — A onda refletida retorna ao meio de onde se originou;
2 — Por ser uma característica do meio, a velocidade da onda refletida é a mesma
antes da incidência, pois a onda não mudou de meio; 3 — A frequência é uma
característica da fonte originadora da onda, portanto na reflexão ela também não
sofre alteração; 4 — Como nem a frequência e nem a velocidade sofrem alteração
na reflexão, é obvio que o comprimento de onda também permanece inalterado; 5
— O ângulo de incidência da onda com a normal é igual ao ângulo de reflexão.

A partir da análise dessas características, podemos apresentar duas leis


que regem a reflexão de qualquer onda:

1ª Lei da Reflexão

O raio incidente, o raio refletido e a reta normal à superfície refletora


no ponto de incidência estão contidos sempre em um mesmo plano (são
coplanares).

2ª Lei da Reflexão

O ângulo formado pelo raio incidente e a normal (ângulo de incidência


i), e o ângulo formado pelo raio refletido e a mesma normal (ângulo de reflexão
r) são sempre de mesma medida: i = r.

O fenômeno da reflexão é característico tanto às ondas mecânicas quanto


às ondas eletromagnéticas. Como o nosso estudo se restringe apenas às ondas
mecânicas, não abordaremos exemplos de reflexão de ondas eletromagnéticas,
como o caso da luz.

3.1.1 Reflexão de um pulso em uma corda

Vamos considerar duas situações para análise da reflexão de um pulso em


uma corda. A primeira situação é quando se têm uma das extremidades da corda
fixa, a outra situação é quando uma de suas extremidades está livre.

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• Extremidade Fixa

Em uma extremidade fixa, o pulso incidente (ou ondas) sofre reflexão com
inversão de fase, mantendo todas as outras grandezas (frequência, velocidade e
comprimento de onda) sem alteração. Como mostra a Figura 11, o pulso incidente
sobre a ferramenta a qual a corda está fixa, tem um formato com amplitude para
cima. O pulso refletido, Figura 12, tem a mesma forma, porém com amplitude para
baixo.
Figura 11 - Pulso em uma corda
Figura 12 - Pulso em uma corda

Fonte:https://phet.colorado.edu/sims/html/wave-on-a-string/latest/wave-on-a-string_pt_BR.html

• Extremidade Livre

Em uma extremidade livre, o pulso incidente sofre reflexão sem inversão de


fase. Como a corda tem liberdade de se movimentar na barra fixa, quando o pulso
incidente atinge o anel preso em sua extremidade, ela sobe e, ao descer, reflete o
pulso em sentido contrário exatamente igual ao pulso incidente Figura 13 e Figura
14.
Figura 13 - Pulso em uma corda Figura 14 - Pulso em uma corda

Fonte:https://phet.colorado.edu/sims/html/wave-on-a-string/latest/wave-on-a-string_pt_BR.html

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SUGESTÃO DE SITE

Veja a animação clicando no link:

https://phet.colorado.edu/sims/html/wave-on-a-string/
latest/wave-on-a-string_pt_BR.html ]

3.2 Refração de ondas

A refração ocorre quando uma onda proveniente de um determinado meio


incide e passa para outro meio de características diferentes. Veja a representação
esquemática na figura abaixo:

Figura 15 - Representação esquemática da refração das ondas quando mudam de meio

Fonte: Elaborada pelos autores (2020)

Ondas Mecânicas 21
Conforme mostra a Figura 15, podemos destacar as características comuns
da refração de ondas: 1 — A velocidade da onda é modificada ao mudar de meio,
em consequência disso, o comprimento de onda também muda; 2 — Dependendo
do ângulo de incidência da onda, ela pode mudar a sua direção de propagação;
3 — A frequência como não depende do meio, permanece inalterada; 4 — A onda
refratada está sempre em fase com a onda incidente. A descrição da refração de
ondas é dada por duas leis:

1ª Lei da Refração

O raio incidente, a normal à fronteira no ponto de incidência e o raio


refratado estão contidos no mesmo plano (são coplanares).

2ª Lei da Refração ou Lei de Snell

Relaciona os ângulos, as velocidades e os comprimentos de ondas incidentes


e refratados. Veja sua expressão matemática:

(i) — é o ângulo de incidência; (r) — é ângulo refratado.

v_1 — é a velocidade de propagação da onda no meio 1; v_2 — é a velocidade da


onda no meio 2.

λ_1— é o comprimento de onda no meio 1; λ_2— é o comprimento de onda no meio


2.

3.2.1 Refração de Ondas na Superfície da água em regiões de profundidades


diferentes

No caso de ondas do mar que passam de um meio profundo para um meio


mais raso, ocorre uma mudança na sua direção de propagação, observe a Figura 16.

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Figura 16 - Ondas do mar

Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/d4/Refraction_animation.gif

De acordo com a expressão matemática da velocidade das ondas do


mar quando a altura da onda diminui, a sua velocidade também
diminui, mas pela conservação da energia e da massa, sua amplitude
crescerá. Isso explica o fato de, nas beiras de praia de solo inclinado, termos
as famosas quebras de ondas, nas quais os surfistas aproveitam para surfar.

3.2.2 Refração e Reflexão de um pulso (ou ondas) em cordas tensas com diferentes
densidades lineares.

Na Figura abaixo, temos duas cordas emendadas, do lado esquerdo a corda


(A) de densidade menor que a corda (B), do lado direito.

Figura 17 - Representação de um pulso propagando-se em cordas com densidades diferentes

Fonte: Elaborada pelos autores (2020)


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O pulso gerado na corda (A), ao propagar-se e incidir na corda (B), sofrerá
uma refração e uma reflexão ao mesmo tempo. O pulso refratado percorrerá a
corda (B) com mesma fase do pulso incidente, mas com velocidade menor, devido
à densidade linear da corda (B) ser maior. No entanto, o pulso refletido retorna à
corda (A), em oposição de fase, mas com velocidade de mesmo módulo do pulso
incidente. Veja a Figura 18:

Figura 18 - Representação de um pulso sofrendo reflexão e refração ao mesmo tempo

Fonte: Elaborada pelos autores (2020)

Tomando agora a corda (A) com densidade maior que a corda (B), conforme
mostra a Figura 19, é fácil perceber que o pulso refratado continuará em fase com o
pulso incidente, mas agora com uma velocidade maior, devido à densidade linear da
corda (B) ser agora menor. Neste caso o pulso incidente e o pulso refletido estarão
em fase, pois a corda menos densa se comportará como se fosse uma extremidade
livre.
Figura 19 - Representação de um pulso propagando em cordas com densidades diferentes

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Fonte: Elaborada pelos autores (2020)

3.3 Difração de ondas na superfície da água

Difração é a capacidade que as ondas têm de contornarem obstáculos


(FERRARO; TORRES; PENTEADO, 2012).

Os exemplos mais comuns de difração em ondas mecânicas são dados pelo


som e na superfície de água. Por enquanto, vamos analisar esse fenômeno na
superfície de água, deixando para estudar a difração do som na Unidade seguinte,
onde trataremos apenas de ondas sonoras.

Observe a Figura 20, na qual uma onda que está se propagando na superfície
da água incide sobre um obstáculo que contém uma pequena abertura. Note que a
onda incide paralelamente ao obstáculo. No entanto, a parte que passa na pequena
abertura sofre uma difração em forma de semicírculos mudando assim a direção
de propagação da onda incidente. Ondas retas na superfície da água difratam na
abertura e passam a se propagar como ondas circulares.

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Figura 20 - Difração de Huygens

Fonte:https://commons.wikimedia.org/wiki/File:HuygensDiffraction.jpg

O fenômeno da difração, segundo o princípio de Huygens, ocorre pelo fato


de cada ponto de uma frente de onda comportar-se como uma nova fonte de ondas
elementares, que se propaga para além da região já atingida pela onda original e
com a mesma frequência que ela (BÔAS; DOCA; BISCUOLA, 2012).

Dois fatores tornam a difração perceptível, um é o comprimento de onda


incidente que precisa ser da mesma ordem de grandeza da abertura no obstáculo,
e outro é a largura da abertura do obstáculo. Experiências têm demonstrado que
quanto maior for o comprimento de onda incidente, ou quanto menor for a abertura
do obstáculo, mais perceptível será o efeito da difração.

3.4 Polarização de ondas

Uma onda é dita polarizada quando ela tem uma direção de vibração bem
definida, ou seja, quando sua vibração ocorre em um mesmo plano, em uma única
direção perpendicular à direção de propagação (BONJORNO et al., 2016). Observe
a Figura 21 que representa a descrição de uma onda polarizada.

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Figura 21 - Onda natural polarizada

Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/b/b6/Wave_in_a_rope.png

Ao contrário das ondas polarizadas, temos as ondas não polarizadas, ondas


que não têm uma direção de vibração definida. A sua vibração ocorre em diferentes
direções perpendiculares à direção de propagação. A Figura 22 mostra uma corda
vibrando transversalmente em várias direções, exemplificando o formato de uma
onda não polarizada.

Figura 22 - Onda natural com vários planos de vibração

Fonte: Elaborada pelos autores (2020)

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Para polarizar uma onda, usamos polarizadores, dispositivos capazes
de fazer uma onda vibrar em apenas uma direção. Isso só é possível em ondas
transversais. A Figura 23 mostra a polarização de uma onda em uma corda.

Figura 23 - Polarização de uma onda em corda

Fonte: Elaborada pelos autores (2020)

3.5 Interferência de ondas em uma dimensão

Ferraro, Torres e Penteado (2012, p. 442) definem que: “Interferência é o


fenômeno resultante da superposição de duas ou mais ondas”.

A Figura 24 mostra dois pulsos em uma corda que se propagam em sentidos


opostos, mas em concordância de fase. Quando os pulsos se encontram, ocorre a
superposição deles, dando origem a um pulso resultante de amplitude aumentada
decorrente do somatório de cada pulso individualmente. Esta superposição é um
exemplo de interferência construtiva. Após a superposição, cada pulso volta a
comportar-se como antes, já que eles obedecem ao princípio de independência
das ondas.

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Figura 24 - Interferência construtiva

Fonte: Elaborada pelos autores (2020)

Quando temos, em uma mesma corda, o encontro de dois pulsos que


se propagam em sentidos opostos, mas em oposição de fase, a interferência é
destrutiva, pois em vez de somar cada pulso individualmente, é feita a subtração,
por considerar o deslocamento de um deles negativo. Figura 25.

Figura 25 - Interferência destrutiva

Fonte: Elaborada pelos autores (2020)


Ondas Mecânicas 29
Se a amplitude dos pulsos for igual, na interferência construtiva teremos um
pulso resultante com o dobro da amplitude de um dos pulsos. Já na interferência
destrutiva, o pulso resultante será nulo.

3.5.1. Interferência de Ondas Bidimensionais

O princípio de superposição de ondas em cordas, visto acima, pode ser


estendido para o estudo de ondas bidimensionais. De acordo com o princípio da
superposição de onda, quando acontece a superposição de duas cristas ou de dois
vales de ondas, temos uma interferência construtiva. Quando ocorre a superposição
de uma crista e um vale, teremos uma interferência destrutiva.

A Figura 26, abaixo, mostra o desenho esquemático que ajuda a entender


melhor a formação desses pontos de interferência construtiva e destrutiva. No
desenho, as circunferências de linhas contínuas representam as cristas das ondas.
As circunferências de linhas tracejadas representam os vales de cada onda. O
cruzamento das circunferências de linhas contínuas, assim como o cruzamento de
circunferências das linhas tracejadas, representadas no desenho pelo ponto preto
cheio, configuram uma interferência construtiva resultante da superposição de duas
cristas ou dois vales. O cruzamento de uma circunferência de linha contínua com
uma circunferência de linha tracejada, representado no desenho pelo ponto vazio,
configuram uma interferência destrutiva resultante da superposição de uma crista e
um vale.
Figura 26 - Representação de superposição de ondas

Figura 25 - Interferência destrutiva

Fonte: Elaborada pelos autores (2020)


Ondas Mecânicas 30
As linhas que configuram os pontos de interferência construtiva são chamadas
de linhas ventrais e as que configuram os pontos de interferência destrutiva são
chamadas de linhas nodais.

Saiba mais

No Phet simulações interativas da Universidade do Colorado, é


possível explorar como um par de fontes de ondas cria um padrão
de interferência, além disso, é possível identificar os pontos de
interferência construtiva e destrutiva visualmente ou utilizando o
detector de ondas.
https://phet.colorado.edu/sims/html/wave-interference/
latest/wave-interference_pt_BR.html.

3.5.2. Condição de Interferência Construtiva em Ondas Bidimensionais

Para a formação de qualquer ponto de interferência construtiva na linha


ventral, a diferença das distâncias entre esses pontos e as fontes originadoras das
ondas tem que ser nula, ou múltiplo inteiro par de meio comprimento de onda.

Figura 27 - Representação de interferência de ondas bidimensionais

Fonte: Elaborada pelos autores (2020)

em que N = 0, 2, 4, 6...

Ondas Mecânicas 31
3.5.3 Condição de Interferência Destrutiva em Ondas Bidimensionais

Para a formação de qualquer ponto de interferência destrutiva na linha nodal,


a diferença das distâncias entre esses pontos e as fontes das ondas têm que ser
um número inteiro ímpar de meios comprimentos de onda.

Figura 28 - Representação de interferência de ondas bidimensionais

Fonte: Elaborada pelos autores (2020)

em que n=1,3,5,7,…

No caso de ondas em oposição de fase, as condições 3.5.2 e 3.5.3 se


invertem.

3.6 Ondas estacionárias

Uma onda estacionária é o resultado da superposição de duas ondas de


mesma frequência, mesma amplitude, mesmo comprimento de onda, que se
propagam na mesma direção e sentidos opostos.

Como são produzidas as ondas estacionárias?

Para responder a essa pergunta, vamos considerar, na Figura 29, uma


corda fixa em uma das suas extremidades e na outra extremidade um aparelho que
produz perturbações permanentes, criando ondas que se propagam ao longo da
corda e incidem na extremidade fixa, sofrendo reflexão e invertendo a sua fase. As

Ondas Mecânicas 32
ondas refletidas se encontraram com as outras ondas incidentes, superpondo-se
uma sobre a outra, dando origem a ondas de interferência construtiva e destrutiva.
Este caso especial de interferência, chamamos Ondas estacionárias.

Figura 29 - Representações de ondas estacionárias

Fonte: Elaborada pelos autores (2020)

Observe, na figura acima que representa o formato da onda estacionária,


que existem pontos sem amplitudes e pontos com amplitudes máximas. Os pontos
sem amplitudes são denominados de nó (representados na figura pela letra N) e
representam a interferência destrutiva. Já os pontos onde a amplitude é máxima,
passam a ser denominados de ventres (representados pela letra V) e representam
a interferência construtiva.

Observe também que a distância entre dois nós consecutivos, ou entre


dois ventres, equivalem a meio comprimento de onda (λ/2), e a distância entre
um nó e um ventre consecutivo vale um quarto do comprimento de onda (λ/4). É
importante ressaltar que as ondas estacionárias não transportam energia, pois os
nós e ventres estão estacionados, o que acontece é a transformação constante de
energia cinética em energia potencial elástica ou o inverso.

Ondas Mecânicas 33
RESUMO

Ao longo desta Unidade, fizemos uma abordagem sobre os fenômenos


ondulatórios de reflexão, refração, difração, interferência e polarização em ondas
mecânicas. Em cada um dos fenômenos, apresentamos os seus conceitos,
leis e suas características próprias. Através de figuras ilustrativas, fizemos uma
demonstração e estudo detalhado sobre o comportamento de cada fenômeno.
Por fim, abordamos o conceito de ondas estacionárias, demonstrando, através de
ilustração, como ocorre a sua produção e quais as suas características.

Ondas Mecânicas 34
REFERÊNCIAS

BÔAS, Newton Villas; DOCA, Ricardo Helou; BISCUOLA, Gualter José. Tópicos
de Física: termologia, ondulatória, óptica. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

BONJORNO, José Roberto et al. Física: termologia, óptica, ondulatória. 3. ed. São
Paulo: Ftd, 2016.

FERRARO, Nicolau Gilberto; TORRES, Carlos Magno A.; PENTEADO, Paulo Cesar
M. Física: volume único. 1. ed. São Paulo: Moderna, 2012.

RAMALHO JUNIOR, Francisco; FERRARO, Nicolau Gilberto; SOARES, Paulo


Antônio de Toledo. Física: os fundamentos da física. 10. ed. São Paulo: Moderna,
2009.

Ondas Mecânicas 35
4
UNIDADE

ONDAS SONORAS
Objetivos:

• Conhecer os limites da audição humana e as características fisioló-


gicas do som;
• Distinguir os fenômenos que podem ocorrer com as ondas sonoras;
• Compreender o efeito ‘doppler’ em ondas sonoras como uma modi-
ficação aparente na frequência devido à consequência do movimen-
to relativo entre a fonte sonora e o observador.

4.1 Introdução

Ondas Sonoras são ondas de natureza mecânica, classificadas quanto ao


modo de vibração e propagação, como ondas longitudinais e que se propagam de
forma tridimensional.

Nesta Unidade, os conceitos de ondas são agora aplicados exclusivamente


às ondas sonoras. É dada uma relevância maior a este tipo de onda por ela ser
tão presente em nosso cotidiano, ser fundamental em nossa comunicação verbal,
possibilitar a audição de belas músicas, descobrir o sexo de um bebê e acompanhar
todo o seu desenvolvimento antes mesmo de seu nascimento, através de aparelhos
de ultrassom.

Ondas Mecânicas 36
Ao longo desta Unidade, estudaremos a produção do som e sua propagação,
as características do som e os fenômenos sonoros.

Ressaltamos também que, embora o som seja uma onda mecânica que se
propaga em meios sólidos, líquidos e gasosos, nosso estudo estará concentrado
praticamente para a propagação do som no ar.

Como o som é produzido? De que forma ele se propaga em um meio material?


Como o som é percebido por nós?

De maneira geral, podemos dizer que o som é produzido quando um


determinado objeto está vibrando e provocando deformações em um meio elástico.
A propagação do som ocorre através de zonas de compressões e rarefações
provocadas pelo deslocamento das vibrações no meio elástico.

Para compreendermos melhor como esse processo ocorre, a Figura 30


ilustra a produção e propagação do som no ar através de um alto-falante, cuja
função é converter sinais elétricos em ondas sonoras.

Figura 30 - Representação de uma onda sonora

Fonte:https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/20/Representa%C3%A7%C3%A3o_
da_Onda_Sonora.png

As oscilações de sinais elétricos causam vibrações no cone, essas vibrações


fazem com que o cone seja comprimido e esticado, ou seja, se movimente para
direita e para esquerda. Esse movimento para direita produz uma compressão
nas moléculas de ar que se encontram próximas ao cone. O movimento do cone
para esquerda faz formar-se uma zona de rarefação permitindo que as moléculas
de ar retornem para a sua posição. Como o movimento de vaivém das moléculas

Ondas Mecânicas 37
que compõem o ar é vibratório e periódico, esse padrão rítmico de compressão e
rarefação se mantém e se propaga às moléculas do ar vizinhas, que fazem a mesma
coisa com as suas vizinhas e assim por diante. Dessa forma, temos a propagação
das ondas sonoras no ar.

Quando as ondas sonoras chegam à nossa orelha e se propagam pelo meato


acústico externo, Figura 31, a vibração se amplifica um pouco e atinge a membrana
timpânica que começa a vibrar também. Na membrana timpânica, existem três
ossículos que estão interligados a ela: martelo, bigorna e estribo. Estes três ossículos
também começam a vibrar em conjunto, amplificando as vibrações recebidas pela
membrana timpânica e transmitindo ao caracol (cóclea) no ouvido interno. Ao chegar
à membrana basilar, existem células que transformam as vibrações mecânicas em
impulsos elétricos. Esses impulsos elétricos são transmitidos ao cérebro pelo nervo
auditivo, onde o som será decodificado e percebido por nós (LUZ; ÀLVARES, 2013).

Figura 31 - Orelha humana

Fonte:https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/6b/Ear-anatomy-text-portuguese.PNG

SUGESTÃO DE VÍDEO

Neste vídeo você aprenderá um pouco mais sobre a natureza do som


e o funcionamento do ouvido humano. Disponível em:

https://www.youtube.com/watch?v=wsCIl5ehL0c]

Ondas Mecânicas 38
4.2 A capacidade auditiva humana

Nem todas as frequências são reconhecidas pela audição humana. Uma


pessoa com audição normal pode reconhecer ondas sonoras na faixa de frequências
de 20 Hz a 20 000 Hz. No entanto, essa capacidade de audição humana vai se
perdendo ao logo da vida, principalmente as altas frequências. Conforme vamos
envelhecendo, o limite superior de audição vai diminuindo e o limite inferior de
audição vai aumentando.

Nosso ouvido não pode reconhecer as ondas sonoras com frequência abaixo
de 20 Hz, chamadas de infrassom, e nem as ondas sonoras com frequência acima
de 20 000 Hz, chamadas de Ultrassom. Apenas alguns animais tem a capacidade
de perceber frequências de ultrassons e infrassons, conforme mostra a Figura 32
do espectro sonoro.

Figura 32 - Representação do espectro sonoro

Fonte: Elaborada pelos autores (2020)

Ondas Mecânicas 39
4.3 Velocidade do som

Você já deve ter percebido que em uma tempestade existe uma diferença
de tempo na percepção de um relâmpago e um trovão, embora eles tenham sido
produzidos no mesmo instante. Você já se perguntou por que isso ocorre?

O que acontece é que a velocidade da luz (3.108 m/s) é muito maior que a do
som (340 m/s), portanto, essa diferença de tempo entre a percepção do relâmpago
e a do trovão representa o tempo gasto pela onda sonora para chegar até você.

Como ocorre com qualquer onda mecânica, a velocidade de uma onda


sonora depende das características do meio onde ela se encontra. Portanto,
quando a onda sonora muda de meio, ela muda também de velocidade. A Tabela 01
abaixo, mostra diferentes valores de velocidade da onda sonora com propagação
em alguns sólidos, líquidos e gases.

Tabela 01 - Valores típicos da velocidade de propagação do som em alguns sólidos, líquidos e gases

Fonte:<https://www.engineeringtoolbox.com/> Acesso em: 27 abr. 2020.

Perceba, na tabela, que foi dado o valor da temperatura para alguns líquidos
e gases. Note também que a velocidade do som na água a 0 °C de 1402 m/s
variou para 1493 m/s quando atingiu a temperatura de 20 °C, assim também a
velocidade do som no ar sob pressão constante variou de 331,6 m/s para 343,5 m/s
quando sua temperatura aumenta de 0 °C para 20 °C. O que nos leva a concluir
que a temperatura não pode ser desprezada nos meios líquidos e gasosos, como
acontece nos meios sólidos.
Ondas Mecânicas 40
Considerando que o ar seja um gás ideal, o cálculo da velocidade do som no ar é
determinado pela seguinte expressão:

R é a constante universal dos gases perfeitos;


T é a temperatura em Kelvin;
m é massa molecular;
ү expoente de Poisson.

Podemos também calcular a velocidade do som através de uma análise do


seu movimento harmônico simples, criado pela onda sonora. A velocidade da onda
pode ser determinada pela velocidade das regiões comprimidas do ar viajando
através do meio. Observe, na Figura 33 abaixo, que as moléculas que compõem
uma região de compressão levam um período (T) para completar um ciclo de
oscilação. Durante esse tempo a onda se move um comprimento de onda (λ).

Figura 33 - Representação da onda sonora

Fonte:https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/20/Representa%C3%A7%C3%A3o_da_
Onda_Sonora.png

Ondas Mecânicas 41
Como velocidade é distância sobre tempo A velocidade do som será dada
pelo comprimento da onda (λ) dividido pelo período (T), Como período é
podemos reescrever a velocidade como v= λf.

4.4 Características do som

4.4.1 Altura

É comum, no dia a dia, as pessoas confundirem “altura” do som com o


“volume” do som ou pensar que essas duas palavras são sinônimas. Você já deve
ter presenciado situações em que uma pessoa pede a outra para “aumentar a
altura” do som, o que faz com que alguém gire o botão do volume ao máximo.
O que a pessoa estava pedindo, na verdade, era para “aumentar a intensidade”
do som, mas só que utilizou o termo técnico incorreto. Na física, a altura do som
está relacionada à frequência da onda sonora enquanto volume está relacionado à
intensidade da onda sonora.

A altura é o modo pelo qual diferenciamos sons agudos de sons graves.


Um som de frequência alta é chamado de som agudo ou alto (popularmente som
fino). O som de frequência baixa é chamado de som grave ou baixo (popularmente
som grosso). Para compreendermos melhor, compare a voz do cantor Reginaldo
Rossi e do lutador de MMA, Anderson Silva. Popularmente, podemos dizer que o
Reginaldo Rossi tem uma voz grossa (grave) em relação ao lutador Anderson Silva
que tem uma voz fina (aguda).

No meio musical, é comum o cantor falar que o tom da música está alto ou
baixo. O que ele está falando é exatamente da frequência sonora, ou seja, que o
tom está grave ou está agudo para voz dele. Quando o cantor pedir para descer um
pouco o tom da música, neste caso ele vai para um som mais grave, ou seja, mais
baixo. Quando ele pedir para subir o tom da música, neste caso, ele vai para um
som mais agudo, ou seja, mais alto.

Observe, na Figura 34, uma partitura que demonstra que cada nota musical
tem sua frequência sonora. Perceba que as notas do lado esquerdo representam
Ondas Mecânicas 42
os sons mais graves (menor frequência) e as notas do lado direito representam os
sons mais agudos (maior frequência).

Figura 34 - Representação de uma partitura com clave Sol

Fonte: Elaborada pelos autores (2020)

Outra coisa bastante interessante que podemos observar na Figura 34 é que


da primeira nota Dó, à nota Dó seguinte, a frequência duplicou de 262 Hz para 524
Hz. Da mesma maneira ocorre com a nota Ré. Ou seja, conseguimos ir de uma
nota musical para outra nota musical da próxima escala duplicando a frequência.

Já estudamos que o nosso ouvido consegue perceber sons nas faixas de


frequências entre 20 Hz e 20 000 Hz. Vimos também que a velocidade do som
pode ser calculada por v= λf. Já aprendemos que a velocidade depende das
características do meio e que a frequência depende da fonte sonora. Ou seja,
velocidade e frequência de uma onda independem um do outro. No entanto, o
comprimento de onda depende tanto da frequência quanto da velocidade. Pegando
a equação da velocidade do som e isolando o lambda (λ) temos:

No caso da velocidade do som no ar, que é de 340 m/s, e a maior frequência


audível pelo ser humano, que é de 20 000 Hz, teremos um comprimento de onda
agudo de 0,017 m conforme mostra o cálculo abaixo:

Ondas Mecânicas 43
O som mais agudo que conseguimos ouvir tem aproximadamente 2 cm de
comprimento.

Para a menor frequência audível pelo ser humano, que é de 20 Hz, o


comprimento de onda grave será de 17 m conforme mostra o cálculo abaixo:

O som mais grave que conseguimos ouvir tem 17 m de comprimento.

4.4.2 Intensidade do som

A intensidade sonora é a percepção que nossos ouvidos têm de diferenciar


um som forte de um som fraco.

Como já foi dito anteriormente, o volume não está associado à altura do som,
mas sim à intensidade do som. Quando uma pessoa pede para aumentar o volume
do som, na verdade, ela está pedindo para aumentar a intensidade do som, pois ela
quer um som mais forte.

A intensidade sonora está relacionada com a potência do som, que está


relacionada com a quantidade de energia que a fonte emite com o passar do tempo,
e a energia está relacionada com a amplitude da onda sonora. Portanto, dizemos
que a intensidade sonora depende da amplitude da onda.

Quanto maior a amplitude da onda sonora mais forte será o som, quanto
menor a amplitude da onda sonora mais fraco será o som. Graficamente um som
forte e um som fraco são representados conforme demonstra a Figura 35.

Ondas Mecânicas 44
Figura 35 - Representação da amplitude da onda sonora

Fonte: Elaborada pelos autores (2020)

O cálculo da intensidade do som é dado pela seguinte expressão matemática:

Onde:

I - Intensidade sonora (W/m2);

P - Potência da fonte emissora (W);

S - Superfície atravessada pelo som (m2).

Lembrando que a potência é definida por portanto, podemos reescrever


a equação da intensidade como: Logo, a intensidade sonora é a quantidade
de energia emitida pela fonte sonora por segundo, que atinge determinada área.

Sabemos também que as ondas sonoras são propagadas de maneira


tridimensional em formato esférico, portanto, a superfície pela qual as ondas
sonoras transferem sua energia é dada pela área da esfera. A área da esfera é
dada por: Reescrevendo a equação da intensidade, temos:

Desse modo, podemos dizer que a intensidade sonora é inversamente


proporcional ao quadrado da distância entre o observador e a fonte emissora, ou
seja, quando há o afastamento entre a fonte sonora e o observador, a intensidade
diminui com o quadrado da distância entre os dois. Isso ocorre porque na medida

Ondas Mecânicas 45
em que nos afastamos de uma fonte sonora, a potência do som ficará distribuída
em uma área maior, de maneira que nosso ouvido terá uma menor concentração
de potência sonora, portanto, menor intensidade do som. Este é o motivo pelo qual
ouvimos um som cada vez mais fraco ao nos afastarmos da fonte sonora.

A menor intensidade física de uma onda sonora que uma pessoa pode
ouvir é 0,000000000001W/m2= 10-12W/m2, chamada de limiar de audição. Já uma
intensidade física um pouco maior que 1 W/m2, provocará efeitos dolorosos em
nosso ouvido, é o que chamamos de limiar da dor.

A tabela abaixo mostra alguns valores de intensidade sonora para algumas


situações que estamos sujeitos:

Tabela 02 - Intensidade e nível sonoros de alguns sons comuns

Fonte: YOUNG & FREEDMAN. University Physics. 12th ed. Nova York: Pearson/
Addison Wesley, 2009. p. 540

Observe que há uma diferença considerável entre o limiar da audição (I0=


10-12W/m2) e o limiar da dor (1W/m2) equivalente ao show de rock.

Outra coisa interessante mostrada na tabela, é que as medidas de intensidade


sonora foram dadas usando potência de 10 e as unidades foram dadas em W/m2.

Para simplificar essas medidas de intensidade auditiva, definiu-se o nível


relativo de intensidade sonora (N) pela seguinte equação:

Ondas Mecânicas 46
N = nível relativo de intensidade sonora em relação ao som I0;
I = intensidade sonora de um som;
I0 = som de referência (I0 = 10-12W/m2).

A unidade de medida do nível relativo de intensidade sonora (N) no SI, é o


bel (B), em homenagem ao físico escocês Alexander Graham Bell. Mas como a
unidade bel é muito grande, geralmente usamos o seu submúltiplo, o decibel (dB).
Neste caso multiplicamos 10 pelo log da equação:

Neste caso, o limiar de audição e o limiar da dor são dados por:

Limiar de Audição I = 10-12 W/m ou 10

Limiar de Dor I = 1 W/m2 ou 10

4.4.3 Timbre

Antes de conceituar o timbre, vamos relembrar que quando balançamos


uma corda que tem uma de suas extremidades fixa, obtemos “modos de vibração”
que são várias frequências naturais de vibração. Essa forma de obter os modos de
vibração, permite tratar cada modo como uma configuração de onda estacionária
que resulta da superposição da onda que emitimos quando balançamos a corda
com a onda refletida na outra extremidade.

A Figura 36 demonstra os quatro primeiros modos de vibração da corda de


comprimento L. Cada modo corresponde a uma frequência de vibração com a qual
a corda é sacudida.

O primeiro modo de vibração, ou primeiro harmônico, tem a mais baixa


frequência, chamada de “frequência fundamental”. Os demais modos de vibrações,
ou harmônicos, possuem frequência que são múltiplas inteiras da frequência
Ondas Mecânicas 47
fundamental.
Figura 36 - Representação dos quatros primeiros modos de vibração de uma corda de
comprimento L, presas pelas extremidades

Fonte: Elaborada pelos autores (2020)

No caso dos instrumentos musicais, quando tocamos uma nota qualquer,


diversos sons de frequência múltipla se superpõem para construir essa nota. O
som de mais baixa frequência é chamado de som fundamental, os demais sons
de frequência múltipla são os harmônicos superiores. A superposição do som
fundamental com os demais harmônicos determina a forma da onda emitida pelo
instrumento musical.

O som fundamental é comum a todos os instrumentos e é ele quem determina


a frequência do som emitido. Os harmônicos superiores que acompanham o som
fundamental variam de instrumento para instrumento. É essa característica que
tornam distintos, para o ouvinte, sons de mesma altura (mesma frequência) emitidos
por instrumentos diferentes, mesmo que esses sons tenham a mesma intensidade.
A essa qualidade fisiológica do som, damos o nome de timbre (RAMALHO JUNIOR;
FERRARO; SOARES, 2009).

Quando dizemos que dois sons de mesma altura e mesma intensidade podem
soar diferentemente, estamos nos referindo ao fato de que o primeiro harmônico
destes dois sons tem a mesma altura (mesma frequência) e mesma intensidade.

Ondas Mecânicas 48
Neste aso, a intensidade física e a intensidade fisiológica do primeiro harmônico
são iguais para os dois sons, uma vez que ambos possuem a mesma frequência.
Contudo, a forma de onda evidenciada, por exemplo, num osciloscópio, mostra que a
resultante da superposição destes fundamentais com seus harmônicos superiores é
diferente para cada fonte sonora, residindo aí a explicação para os diferentes timbres.

É através do timbre que conseguimos distinguir um som de um violino, de


um som de uma guitarra, mesmo que os dois toquem a mesma nota musical. É
através também do timbre que identificamos a voz de uma pessoa, pois cada uma
tem um timbre característico.

4.5 Fenômenos sonoros

As ondas sonoras apresentam os mesmos fenômenos das demais ondas


mecânicas, com exceção da polarização, pois o som não é uma onda transversal.
Na Unidade 3, já vimos os fenômenos da reflexão, refração, difração e interferência.
Vamos agora analisar esses fenômenos no caso da onda sonora.

4.5.1 Reflexão do som

Quando ondas sonoras provenientes de uma fonte se propagam em


determinado meio e incidem em um obstáculo, elas sofrem reflexão com inversão
de fase e retornam ao meio incidente mantendo constantes suas características
(módulo de velocidade, frequência e comprimento de onda).

O fenômeno da reflexão do som pode ocasionar outros fenômenos como:


eco e reverberação.

Antes de abordarmos o fenômeno do Eco e da Reverberação, precisamos


entender o que é persistência acústica. Quando a nossa orelha recebe um estímulo
sonoro, a sensação sonora causada pelo estímulo persiste em nosso ouvido por
cerca de 0,10s. Esse tempo é denominado de persistência acústica.

Uma pessoa que produz som diante de um obstáculo capaz de refletir as ondas
sonoras consegue ouvir dois sons: um, no momento que ele é emitido, chamado de
som direto e o outro algum tempo depois, chamado de som refletido pelo obstáculo.

Ondas Mecânicas 49
Eco

A Figura 37 ilustra o caso de uma pessoa gritando próximo de uma montanha


e ouvindo seu grito se repetindo algumas vezes. Talvez você já tenha vivenciado

Figura 37 - Representação do eco

Fonte: https://snapvale163.files.wordpress.com/2013/07/dibujo.jpg

essa experiência. A esse efeito damos o nome de eco.

Eco é o fenômeno que ocorre quando temos a percepção do som direto


separado do som refletido. Isso só ocorre quando o intervalo do tempo entre o som
direto e o som refletido é maior que 0,10s. Ou seja, uma pessoa percebe o eco
desde que sua distância ao obstáculo refletor seja superior a 17 m no ar. Esse valor
é encontrado por meio da equação: Como a velocidade do som no ar é de
340 m/s, o intervalo de tempo de 0,10s e o deslocamento do som de ida e volta de
2d, temos:

Ondas Mecânicas 50
Reverberação

O fenômeno da reverberação ocorre quando o tempo de separação entre


o som direto e o som refletido for menor que 0,10s. Esse fenômeno faz-nos ter a
percepção auditiva de um som direto prolongado. Em ambientes fechados como
auditórios, teatros, igrejas, salas de músicas etc. As múltiplas reflexões do som nos
materiais e nas pessoas que compõem aquele ambiente o reforçam, e também o
prolongam por um pequeno intervalo de tempo, mesmo após sua emissão. Para
evitar a reverberação excessiva nesses locais, o que prejudica a qualidade do som,
são feitas algumas adaptações nas paredes, tetos e pisos com uso de materiais que
absorvem parte da energia do som, possibilitando um equilíbrio entre a absorção e
a reverberação, para que as condições acústicas do ambiente sejam boas.

Figura 38 - Sala São Paulo, na cidade de São Paulo, Brasil

Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Sala_SP.jpg

4.5.2 Aplicações da reflexão de ondas sonoras

Sonar

O sonar constitui uma importante aplicação da reflexão do som. Os barcos


que possuem o sonar instalado em sua estrutura, conseguem determinar a
profundidade do mar e localizar objetos, submarinos e cardumes, por exemplo.
Isso é possível porque o sonar emite ultrassom em direção ao fundo do mar. O
ultrassom, quando encontra um obstáculo, reflete e volta ao sonar. Dessa forma, o
sonar determina a distância que se encontra aquele obstáculo através do tempo de
ida e volta do ultrassom, Figura 39.

Ondas Mecânicas 51
Figura 39 - Sistema sonar multifeixe emitindo ondas sonoras

Fonte:https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Collecting_
Multibeam_Sonar_Data.jpg

Ecolocalização

Alguns animais, em especial os morcegos e golfinhos, tem um sistema


bem sofisticado de emissão e recepção de sinais ultrassônicos, conhecidos por
ecolocalização. A partir do eco desses sinais, após a reflexão em qualquer obstáculo,
eles conseguem se localizar, podendo assim desviar desses obstáculos ou capturar
suas presas.

Figura 40 - Esquema do ecolocalização em morcego

Fonte :https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/3/37/
Ecolocalizacao_morcego.jpg

Ondas Mecânicas 52
Ultrassonografia

É uma das aplicações da reflexão sonora que tem assumido um papel


de destaque na medicina. O seu funcionamento é idêntico ao do sonar e da
ecolocalização. Trata-se de uma técnica que se baseia na emissão de um pulso
ultrassônico por um transdutor, que chegando a um objeto, retorna como um eco
ao transdutor, cujas características possibilitam determinar a localização, tamanho,
velocidade e textura deste objeto.

Figura 41 - Imagem ultrassonográfica do feto às 12 semanas de gravidez em uma varredura sagital

Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:CRL_Crown_
rump_length_12_weeks_ecografia_Dr._Wolfgang_Moroder.jpg

4.6 Refração sonora

Como foi apresentado na Unidade 3, a refração ocorre quando uma onda


que se propaga em determinado meio, incide obliquamente em outro meio e
passa a se propagar nele, mudando sua direção de propagação, sua velocidade
e o comprimento de onda, mas mantendo constante sua frequência. Todas essas
descrições, assim como as leis da refração, são válidas para a refração sonora.

Um exemplo de refração sonora ocorre quando um som que se propaga no


ar incide na água, que é um meio material mais denso que o ar. A velocidade do
som na água é muito maior do que no ar. Então, um raio de onda sonora que se
propaga no ar afasta-se da normal quando incidir obliquamente na água, conforme
demonstra a Figura 42

Ondas Mecânicas 53
Figura 42 - Representação da refração de onda sonora ao mudar de meio

Fonte: Elaborada pelos autores (2020)

Pela segunda lei da refração temos:

É importante ressaltar que, como acontece nas demais ondas, a frequência


do som não se altera na refração. Então, na figura 42, a onda tem a mesma
frequência em ambos os meios. Portanto, pela equação fundamental da ondulatória
v= λ f, é fácil constatar que λ_2>λ_1, pois v_2>v_1.

4.7 Difração da onda sonora


A difração do som é equivalente ao que já estudamos na difração de ondas
na superfície da água. Relembrando, difração é a capacidade que a onda tem de
contornar um obstáculo quando parcialmente interrompida por ele. É muito comum
em nosso dia a dia ouvirmos sons provenientes de fontes que não estejamos vendo,
Figura 43. Você pode, por exemplo, ligar um som no quarto e ouvir na cozinha.

Neste caso, a onda sonora sofre difração porque para chegar até você na
cozinha, com certeza, ela tem que transpor algumas paredes para possibilitar a
captação do som pelos seus ouvidos. Como a onda sonora tem um comprimento de
onda no ar que varia basicamente de 2 cm a 20 m de comprimento, considerando o

Ondas Mecânicas 54
aspecto sonoro audível de (20 Hz a 20 KHz), e a velocidade do som de 340 m/s. A
difração das ondas sonoras audíveis no ar é bem perceptível quando os obstáculos
a serem contornados têm dimensões nessa ordem de grandeza.
Figura 43 - Difração de uma onda sonora em torno de um muro

Fonte: Elaborada pelos autores (2020)

4.8 Interferência em ondas sonoras

A interferência do som acontece quando duas ondas sonoras se superpõem


em um ponto onde pode ter a ocorrência tanto de interferência construtiva quanto de
interferência destrutiva. As condições para essa ocorrência obedecem às mesmas
condições estabelecidas para as ondas em geral, como já visto nas interferências
de ondas bidimensionais na Unidade 3.

SUGESTÃO DE VÍDEO

Para entender melhor como ocorre a interferência sonora assista


este vídeo realizado pela Prove (Produção de Vídeos Educacionais)
e apresentado pelo professor Luiz Antônio, em que ele demonstra
por meio do ‘software’ ‘Soundcard Oscilloscope’ a ocorrência do
fenômeno da interferência sonora:

https://www.youtube.com/watch?v=yfJPlhvjR8E

Ondas Mecânicas 55
4.9 Ressonância Sonora

Antes de falarmos sobre ressonância, precisamos entender o que é frequência


natural e frequência da vibração forçada.

Frequência Natural

Quando você deixa cair sobre um piso de lajota, uma colher de metal e uma
colher de madeira, provavelmente você não confundirá o som emitido pela colher
de metal com o som da colher de madeira. Isso porque as duas colheres vibram de
maneiras diferentes quando colidem com o piso. Objetos constituídos de materiais
elásticos, quando perturbados, vibram com seus próprios conjuntos de frequências
que lhe são intrínsecas, formando seu próprio som. Isto é o que chamamos de
Frequência Natural de um corpo, a qual depende de um conjunto de fatores como
a elasticidade e a forma do corpo.

Frequência da Vibração Forçada

As vibrações forçadas ocorrem quando um corpo é colocado para vibrar em


uma dada frequência devido à uma perturbação ocasionada por outro corpo que lhe
transmite energia de forma contínua, fazendo-o oscilar.

Entendidos esses conceitos de frequências, vamos falar de Ressonância.

Ressonância é um fenômeno que ocorre quando a frequência da vibração


forçada de um corpo se iguala à sua frequência natural, o que faz com que a sua
amplitude de vibração aumente a cada ciclo.

A ressonância sonora é gerada quando um corpo emite um som de mesma


frequência de vibração natural de um receptor. Por exemplo, quando uma pessoa
emite um som ao quebrar uma taça. A taça de cristal tem suas frequências naturais
que podem ser percebidas quando lhe damos uma batida. Quando a pessoa emite
um som numa frequência igual a uma das frequências da taça, ocorre o fenômeno
da ressonância. Que fará com que as vibrações da taça se tornem maiores a cada
ciclo, acumulando mais energia até que se alcance o limite elástico do material da
taça fazendo-a quebrar, Figura 44.

Ondas Mecânicas 56
Figura 44 - Demonstração de uma pessoa quebrando uma taça de vidro com sua voz

Fonte: http://1.bp.blogspot.com/-rz_6amsydfE/UaiJPJT5S7I/AAAAAAAAMeo/uivZe3vHlzU/s1600/
partir+copo+com+voz.jpg

4.10 Efeito Doppler

O efeito Doppler é um fenômeno ondulatório muitíssimo notado quando


ocorre com ondas sonoras. Johann Christian Doppler foi quem postulou em seu
tratado Über das farbige Licht der Doppelsterne und einiger anderer Gestirne des
Himmels (Sobre a luz colorida das estrelas binárias e outras estrelas) em1842, o
princípio de que a frequência percebida muda se a fonte ou o observador estiver
em movimento. Depois de algum tempo, esse princípio foi batizado em sua
homenagem de Efeito Doppler. No entanto, foi só em 1845 que o holandês Buys
Ballot testou experimentalmente e confirmou o efeito doppler para ondas sonoras,
usando um grupo de músicos tocando uma nota calibrada em um trem na linha
Utrecht-Amsterdã.

É possível perceber este fenômeno quando assistimos uma corrida de fórmula


1. Se você já assistiu uma corrida ao vivo ou pela TV, com certeza já presenciou
a seguinte cena: digamos que no meio da reta principal do circuito, encontra-se
a câmera com um microfone acoplado da emissora que faz a transmissão do
circuito. Quando surge um carro no início da reta aproximando-se da câmera, você
perceberá um som agudo. Quando o carro se afasta da câmera, você perceberá um
som mais grave. Essa mesma percepção você observará quando uma ambulância
com sua sirene ligada se aproxima e se afasta de você. Isso é a manifestação do
efeito doppler.

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Efeito Doppler é a alteração da frequência percebida pelo observador em
virtude do movimento relativo de aproximação ou de afastamento entre fonte e
observador.

Para chegarmos à equação matemática que relaciona a frequência emitida


por uma fonte sonora e a frequência percebida por um observador, é preciso
considerar o meio de propagação do som (no caso vamos considerar o ar) em
repouso em relação à terra, e distinguirmos casos em que não há movimento
relativo entre o observador e a fonte, do caso em que a fonte está em movimento
de aproximação e afastamento do observador que se encontra em repouso.

1.º caso: fonte e observador em repouso

A Figura 45 ilustra como ondas sonoras emitidas por uma fonte em repouso
atingem um observador também em repouso.

Figura 45 - Ondas sonoras emitidas por uma fonte em repouso

Fonte: Elaborada pelos autores (2020)

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Neste caso, não teremos a manifestação do efeito doppler, pois o observador
perceberá um som de mesmo comprimento de onda (λ) e mesma frequência (f)
emitida pela fonte.

2.º caso: fonte em movimento de aproximação e afastamento do observador


em repouso

Analisemos agora estas duas situações:

A Figura 46 ilustra o caso de uma fonte sonora se aproximando do observador


que se encontra em repouso.

Figura 46 - Representação de uma fonte sonora se aproximando de um observador em repouso

Fonte: Elaborada pelos autores (2020)

Analisando a Figura 46, percebemos que o observador em repouso receberá


uma onda sonora de menor comprimento de onda, portanto, maior frequência,
isto é, um som mais agudo. Isso ocorre porque, quando a fonte sonora está se
aproximando do observador, cada frente de onda é emitida de uma posição mais
próxima do observador do que a frente da onda anterior. Então, cada frente de onda
leva menos tempo para alcançar o observador do que a onda anterior. Essa redução
de tempo entre as chegadas de sucessivas frentes de ondas ao observador, causa

Ondas Mecânicas 59
um aumento na frequência percebida. Durante a viagem, a distância entre frentes
sucessivas de ondas é reduzida, ficando mais próxima uma da outra.

Figura 47 - Representação de uma fonte sonora se afastando de um observador em repouso

Fonte: Elaborada pelos autores (2020)

Na figura 47, é possível perceber também que o observador receberá uma


onda sonora de maior comprimento de onda, portanto, menor frequência, isto é, um
som mais grave. Neste caso, em que a fonte sonora se afasta do observador, cada
frente de onda é emitida a partir de uma posição mais distante do observador que
a frente de onda anterior, de maneira que o tempo de chegada entre as frentes de
ondas sucessivas aumenta, causando uma redução na frequência percebida. O
espaço entre as frentes de ondas é aumentado distanciando umas das outras.

Vamos agora determinar a frequência Doppler percebida pelo observador


nos dois casos.

Na figura 46, em que a fonte se aproxima do observador, considere o período


(T) o intervalo de tempo entre a emissão de duas frentes de ondas sucessivas
que chamaremos de A e B. Durante o intervalo de tempo (T), a frente de onda A
percorre uma distância v_som.T na direção e sentido do observador, e a fonte sonora

Ondas Mecânicas 60
percorre uma distância v_fonte.T na mesma direção e sentido. Logo em seguida, a
fonte sonora emite a frente de onda B. A distância entre as frentes de ondas A e B é
dada pelo comprimento de onda reduzido (λ_red) das ondas sonoras recebidas pelo
observador. Assim temos:

λ_(red.)= v_som.T- v_fonte.T

Para o observador, as ondas sonoras terão uma frequência aparente f_(ap.) de:

Substituindo λ_red, a expressão para f_ap. Torna-se:

Evidenciando o período (T) e usando a relação entre período (T) e a frequência da


fonte f_fonte da onda sonora temos:

Ondas Mecânicas 61
A frequência aparente f_(ap.) sonora percebida por um observador que está
em repouso, vinda de uma fonte sonora em movimento que se aproxima dele, é
maior que a frequência da fonte (f_fonte ) do som.

Na Figura 47, em que a fonte sonora está se afastando do observador, o


comprimento de onda aumentado λ_(aum.) das ondas é v_som.T+ v_fonte.T, pois as
frentes de ondas sonoras, se propagam em sentido contrário ao movimento da
fonte. Quando o observador detecta as ondas, a frequência aparente f_(ap.)ouvida
por ele é dada por:

Neste caso, a frequência aparente f_(ap.) é menor que a frequência emitida


pela fonte f_fonte.

Como tanto o observador quanto à fonte sonora podem estar em movimento,


cálculos similares aos que foram feitos anteriormente nos permitem obter somente
uma equação para a frequência aparente f_(ap.) . A equação geral do efeito Doppler:

Os sinais (+) ou (-) que precedem a velocidade do observador v_(obser.)


e a velocidade da fonte sonora (v_fonte ) são utilizados conforme a convenção
determinada abaixo:

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RESUMO

Nesta Unidade, estudamos sobre ondas sonoras. Vimos que as ondas


sonoras são ondas de natureza mecânica, longitudinal e que se propagam de forma
tridimensional. Apresentamos os tópicos relacionados à produção, propagação e
percepção do som por nós; a capacidade auditiva humana; a velocidade do som; as
características do som e os fenômenos de reflexão, refração, difração, interferência,
ressonância e efeito doppler do som.

Em cada tópico foram apresentadas abordagens teóricas e descritivas


com exemplificação e ilustração dos conceitos abordados, visando uma melhor
compreensão do conteúdo estudado. Destacamos a ocorrência de manifestações
e aplicações tecnológicas dos fenômenos ondulatórios, e apresentamos uma
descrição matemática para velocidade, intensidade e efeito doppler do som.

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REFERÊNCIAS

BÔAS, Newton Villas; DOCA, Ricardo Helou; BISCUOLA, Gualter José. Física:
termologia, ondulatória, óptica. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2016.

BONJORNO, José Roberto et al. Física: termologia, óptica, ondulatória. 3. ed. São
Paulo: Ftd, 2016.

C. H. D. Buys Ballot. Wikipedia, 2020. Disponível em: https://en.wikipedia.org/wiki/


C._H._D._Buys_Ballot Acesso em : 02 abr. 2020.

FERRARO, Nicolau Gilberto; TORRES, Carlos Magno A.; PENTEADO, Paulo Cesar
M. Física: volume único. 1. ed. São Paulo: Moderna, 2012.

GUIMARÃES, Osvaldo; PIQUEIRA, José Roberto; CARRON, Wilson. Física: física


térmica, ondas, óptica. 2. ed. São Paulo: Editora ática, 2016.

HALLIDAY, David; RESNICK, Robert; WALKER, Jearl. Fundamentos de Física:


gravitação, ondas e termodinâmica. 8. ed. Rio de Janeiro: Ltc, 2009.

RAMALHO JUNIOR, Francisco; FERRARO, Nicolau Gilberto; SOARES, Paulo


Antônio de Toledo. Física: os fundamentos da física. 10. ed. São Paulo: Moderna,
2009.

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