Você está na página 1de 34

Índice 8.4.

1 Ondas estacionárias e ressonância em


cordas de violão . . . . . . . . . . . . 29
1 Introdução: o conceito de onda 2 8.4.2 Ondas estacionárias em colunas de ar 31
8.4.3 Batimentos: interferência no tempo . . 32
2 Descrição matemática da ondas progressivas
transversais 3 9 Resumo - Oscilações em cordas 33
2.1 Função ondular . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
2.2 Ondas progressivas senoidais . . . . . . . . . 5
2.2.1 Exercício 1 . . . . . . . . . . . . . . 8

3 Equação de onda em uma dimensão 9

4 A equação de onda de uma corda vibrante e


a velocidade de ondas tranversais em cordas 10

5 Taxa de transferência de energia por ondas


senoidais em cordas 11
5.1 Energia cinética . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
5.2 Energia potencial elástica . . . . . . . . . . . 12
5.3 Energia total em um comprimento de onda . 13

6 Reflexão e transmissão de ondas transversais


em uma dimensão 13
6.1 A equação de onda: reflexão de um pulso em
corda com extremidade fixa em uma extre-
midade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

7 Interferência de ondas 16
7.1 Superposição de ondas que se propagam no
mesmo sentido . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
7.1.1 Ondas de mesma frequência e amplitude 17
7.1.2 Ondas de mesma frequência mas am-
plitudes diferentes . . . . . . . . . . . 18
7.1.3 Fasores . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
7.1.4 Exercício 2 . . . . . . . . . . . . . . 20
7.1.5 Ondas de frequências próximas (bati-
mentos) . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
7.2 Ondas em sentidos opostos (estacionárias) . . 22

8 Ondas Sonoras 23
8.1 Variações de pressão em ondas sonoras . . . . 24
8.2 Velocidade escalar de ondas sonoras . . . . . 27
8.2.1 Exercício 3 . . . . . . . . . . . . . . 28
8.3 Intensidade das ondas sonoras e nível sonoro 28
8.4 Fontes de sons musicais - sistemas com con-
dições limite . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

Euzi C. F. da Silva - Física 2 - Poli/2020 1


Ondas Mecânicas1 3. Ondas da matéria. Estão associadas aos
elétrons, prótons e outras partículas elemen-
• Neste modulo estudaremos (1) Propagação de
tares. São chamadas de ondas da matéria
uma perturbação; (2) Modelo de análise de ondas
porque normalmente pensamos nas partícu-
progressivas (caminhantes); (3) A velocidade das
las como elementos da matéria.
ondas transversais em cordas; (4) Taxa de tranfe-
rência de energia por ondas senoidais em cordas.
(5) Reflexão e transmissão de ondas. (6) Interfe-
rência de ondas. (7) Ondas sonoras • Tipos de ondas mecânicas: Neste capítulo
estudaremos as ondas mecânicas, as ondas que se
propagam em algum material denominado meio.
1 Introdução: o conceito de onda Começaremos deduzindo equações básicas para
descrever a ondas, incluindo o caso especial de
• O estudo dos fenômenos ondulatórios é um dos ondas periódicas para as quais a configuração
conceitos mais importantes da física. Num sen- da onda se repete à medida que ela se propaga.
tido bastante amplo, uma onda surge quando um Veremos também o que ocorre quando duas
sistema é deslocado de sua posição de equilíbrio e ou mais ondas se propagam no mesmo espaço
a perturbação pode se deslocar ou se propagar de simultaneamente, dando origem ao fenômeno de
uma região a outra do sistema. No movimento da interferência. E para finalizar, estudaremos um
onda há transporte de energia sem a transferência tipo importante de onda chamada som.
de matéria de um ponto a outro do espaço.

• As ondas podem ser de 3 tipos: Todas as ondas mecânicas necessitam de: (1) al-
guma fonte de distúrbio, (2) um meio contendo
1. Ondas mecânicas. Essas ondas são as mais
elementos que podem ser perturbados e (3) algum
conhecidas, já que estão presentes em toda a
mecanismo físico pelo qual os elementos perturba-
parte; são, por exemplo, as ondas do mar e as
dos podem influenciar uns aos outros.
ondas sonoras. Todas possuem duas caracte-
rísticas: são governadas pelas leis de Newton
e existem apenas em meios materiais, como
a água e o ar.
2. Ondas eletromagnéticas. As ondas ele-
tromagnéticas não precisam de meio material
para existir; entre elas estão a luz visível, os
raios X, ondas de rádio. Todas as ondas ele-
tromagnéticas se propagam no vácuo com a Fig. 1 - Uma onda longitudinal progressiva (caminhante)
propaga-se na queda dos dominós. Observe que não há trans-
porte direto de matéria, mas somente uma propagação do ponto
mesma velocidade: 300 milhões de metros/s. de contato entre o último dominó que caiu e o dominó atingido
1
por este. A grandeza que se propaga é um impulso.
Este texto foi preparado para as aulas online durante a pan-
demia. Ele contém fragmentos de texto e figuras dos vários livros
adotados como bibliografia desta disciplina. É possível que exis- • Ondas transversais: Uma onda em uma corda
tam muitos erros de digitação. Por favor, encontrando erros me
esticada é a mais simples das ondas mecânicas.
avise para que eu possa fazer as correções. As observações devem
ser enviadas para o e-mail euzicfs@if.usp.br. Quando damos uma sacudidela numa ponta de

Euzi C. F. da Silva - Física 2 - Poli/2020 2


uma corda esticada, um pulso se propaga ao longo fizemos nas extremidade dela. Como os desloca-
da corda, com uma velocidade ~v . mentos do meio são perpendiculares ou transver-
sais à direção de propagação da onda ao longo do
• À medida que o pulso se move através da corda,
meio, este tipo de movimento é chamado de onda
cada elemento perturbado nela se move em dire-
transversal.
ção perpendicular à direção de propagação. A Fig.
2 ilustra esse ponto para um elemento específico, • Ondas longitudinais: Considere agora a situ-
marcado como P . Note que nenhuma parte da ação onde a ponta esquerda de uma mola é em-
corda se move na direção da propagação. purrada para a direita, então, empurrada para a
esquerda, como mostra a Fig. 4. Esse movimento
cria uma compressão súbita de uma região das es-
pirais. A região comprimida se move ao longo da
mola.

• Note que a direção do deslocamento das espirais é


paralela à da propagação da região comprimida.

• Uma onda progressiva, ou um pulso, que faz que


os elementos do meio se movam paralelamente à
direção de propagação é chamada onda longitu-
dinal.
Fig. 2 - Um pulso transversal propagando-se em uma corda.
• Ondas de som são outro exemplo de ondas longi-
• Quando movemos continuamente a mão para cima tudinais. O distúrbio de uma onda sonora é uma
e para baixo, executando um movimento harmô- série de regiões de alta e baixa pressão que se mo-
nico simples, uma onda contínua se propaga ao vem através do ar.
longo da corda com velocidade ~v .

Fig. 4 - Um pulso longitudinal ao longo de uma mola esticada.

Fig. 3 - (a) Um pulso isolado. Com a passagem do pulso, um


elemento da corda (indicado por um ponto) se desloca uma vez 2 Descrição matemática da on-
para cima e uma vez para baixo. (b) Uma onda senoidal. Com
a passagem da onda, um ponto da corda se move repetidamente
para cima e para baixo.
das progressivas transversais

• Quando agitamos ou balançamos a extremidade 2.1 Função ondular


esquerda da corda, a agitação se propaga através
do comprimento da corda. Os segmentos sucessi- • Um modo de estudar as ondas é examinar a forma
vos da corda sofrem o mesmo deslocamento que da onda, ou sejam a forma assumida pela corda

Euzi C. F. da Silva - Física 2 - Poli/2020 3


em um dado instante. Outra forma consiste em • Em um novo referencial (x0 , y 0 ) que se move junto
observar o movimento de um elemento da corda com o pulso, a forma do pulso, obviamente, não
enquanto oscila para cima e para baixo por causa depende do tempo, o que podemos traduzir escre-
da passagem da onda. vendo
y 0 (x0 , t) = y 0 (x0 , 0) = f (x0 ) (1)
• Vamos agora apresentar a matemática que des-
creve a propagação de uma onda. Começaremos,
• Os dois referenciais (x, y) e (x0 , y 0 ) são relacionados
por simplicidade, estudando a propagação de uma
pela Transformação de Galileu, a seguir:
onda transversal em uma dimensão, que se move
através do espaço sem interagir com outras on- y0 = y e x0 = x − vt
das.
Usando as transformações de Galileu em (1) obte-
• Considere um pulso unidimensional viajando para
mos,
a direita, em uma corda com velocidade v. A Fig.
y(x, t) = f (x − vt) (2)
5(a) representa a forma2 e a posição do pulso no
instante t = 0. Nesse momento, a forma do pulso, Usando a relação
qualquer que seja, pode ser representada por al-
guma função, qualquer que seja, que escreveremos ∆x = v∆t ,
como y(x, 0) = f (x). Essa função descreve a posi-
ção transversal y do elemento de uma corda loca- na equação (2), temos
lizado em cada valor x no instante t = 0.
y(x + ∆x, t + ∆t) = f [x + ∆x − v(t + ∆t)]
(3)
= f (x − vt) = y(x, t)

• Essa última relação traduz o fato de que o pulso


se propaga com a velocidade v, na direção x posi-
tiva, sem mudar de forma. Um ponto P qualquer
do pulso, que estava na posição x no instante t,
encontra-se na posição x + ∆x no instante t + ∆t.
Assim, para uma onda propagando-se para a di-
reita com velocidade v temos:

y(x, t) = f (x − vt)
Fig. 5 - (a) Pulso em t = 0: os referenciais (x, y) e (x0 , y 0 )
coincidem. (b) Pulso em t > 0: o referencial (x0 , y 0 ), que se
move junto com o pulso, encontra-se, agora, na posição vt. • A função y, às vezes chamada de função ondu-
• Em um instante posterior esse pulso encontra-se lar, depende das duas variáveis x e t. Ela repre-
na distância vt da origem O, na direção positiva senta a coordenada y - posição transversal - de um
do eixo x [veja a Fig. 5(b)]. elemento da corda na coordenada x em qualquer
2
Na verdade, o pulso muda de forma e se espalha gradual- instante t. Ainda, se t é fixo (como em um caso
mente durante o movimento. Esse efeito, chamado dispersão, é
de tirar uma fotografia do pulso), a função ondu-
comum a várias ondas mecânicas, assim como as eletromagnéti-
cas. Aqui não consideraremos a dispersão. lar y(x) descreve a forma geométrica de um

Euzi C. F. da Silva - Física 2 - Poli/2020 4


pulso naquele momento. cima e para baixo por uma lâmina oscilatória e
vibrante em movimento harmônico simples.
• Obviamente, para um pulso qualquer, de forma
arbitrária g(x), deslocando-se para a esquerda, na
direção x negativa, temos

y(x, t) = g(x + vt)

• Observação: A dependência (x ± vt) é geral e


característica de ondas unidimensionais, sejam
elas transversais ou longitudinais.

2.2 Ondas progressivas senoidais


Fig. 7 - Onda senoidal produzida por uma lâmina vibrante. Todo
elemento da corda, como aquele do ponto P , oscila em movimento
• Nesta seção introduziremos uma importante fun- harmônico simples na direção vertical.
ção ondular cuja forma está mostrada na figura • As principais características e representações ma-
seguinte. A onda (série de pulsos) mostrada na temáticas deste tipo de onda progressiva estão
figura é chamada onda senoidal, porque a curva mostradas na Fig. 8.
é a mesma daquela da função sin θ plotada contra
θ.

Fig. 8 - (a) Fotografia de uma onda senoidal. (b) A posição de


um elemento do meio em função do tempo.
Fig. 6 - Onda senoidal unidimensional se movendo para a direita
com velocidade v. A curva marron representa a fotografia de
uma onda em t = 0, e a azul, a fotografia algum tempo depois. • Um ponto da Fig. 8(a), no qual o deslocamento
do elemento de sua posição normal é maior, é cha-
• Observe que as ondas desenhadas na Fig. 6 repre- mado crista da onda. O ponto mais baixo é cha-
sentam o perfil instantâneo da corda oscilando, mado vale.
como se uma fotografia tivesse sido tirada em um
• A distância de um vale para o próximo é chamado
determinado instante.
comprimento de onda λ. De modo geral, o
• Este tipo de onda pode ser estabelecido em uma comprimento de onda é a distância mínima entre
corda como da Fig. 7 balançando a ponta para dois pontos idênticos em ondas adjacentes.

Euzi C. F. da Silva - Física 2 - Poli/2020 5


• Se você contar o número de segundos entre a che- • Note que a posição vertical de um elemento qual-
gada de duas cristas adjacentes em uma dado quer no meio é a mesma sempre que x é aumen-
ponto do espaço, medirá o período T das ondas. tado de um múltiplo inteiro de λ. Assim, com base
O período é o intervalo de tempo necessário para na eq. (1), se a onda se move para a direita com
dois pontos idênticos de ondas adjacentes passa- velocidade v, a função de onda em um instante
rem por um ponto, como mostrado na Fig. 8(b). qualquer t é dada por:
 
• O período da onda é o mesmo que o da oscilação 2π
y(x, t) = ym sin (x−vt) (4)
λ
periódica harmônica de um elemento do meio.
Se a onda se movimenta para a esquerda, a função
• A frequência f de uma onda periódica é o nú-
de onda será:
mero de cristas (ou vales, ou qualquer outro ponto  
na curva) que passa em determinado ponto em 2π
y(x, t) = ym sin (x+vt)
λ
uma unidade de tempo. Está relacionada com o
período por A onda realiza um deslocamento ∆x igual a um
1
f= comprimento de onda λ em um intervalo de tempo
T
∆t de um período T . Portanto podemos escrever:
A frequência da onda é a mesma que a de uma
oscilação harmônica simples de uma elemento do ∆x λ
v= = (5)
meio. A unidade da frequência é s−1 ou o hertz ∆t T
(Hz). Substituindo a expressão (5) na eq. (4) teremos:
h x v i
• A posição máxima de um elemento do meio em y(x, t) = ym sin 2π − 2π t
relação à sua posição de equilíbrio é chamada am-  λ  λ  
x t
plitude y m da onda, como indicado na Fig. 8(a). = ym sin 2π − 2π
λ T
= ym sin [kx − ωt]
• Função de onda senoidal progressiva: Con-
sidere a onda senoidal na Fig. 7(a), que mostra onde definimos outras duas quantidades: o nú-
a posição da onda em t = 0. Como a onda é se- mero de onda angular k (normalmente cha-
noidal, esperamos que a função de onda neste ins- mado simplesmente de número de onda) e a
tante seja dada por y(x, 0) = ym sin ax = 0, onde frequência angular ω.
a é uma constante a ser determinada. Em x = 0,


y(0, 0) = ym sin a(0) = 0. O próximo valor para x 
 Número de onda: k=

 λ
para o qual y = 0 é x = λ/2. (6)
 Frequência angular: ω = 2π = kv


  
λ aλ T
y( , 0) = ym sin =0
2 2
O parâmetro k, no SI, tem um unidade de radi-
Para essa expressão ser verdadeira, devemos ter ano/metro ou m−1 . (Observe que, neste caso,
aλ/2 = π ou a = 2π/λ. Portanto podemos escre- o símbolo k não representa a constante elástica
ver:   de uma mola). Com essas definições, a função de

y(x, 0) = ym sin x
λ

Euzi C. F. da Silva - Física 2 - Poli/2020 6


onda pode ser escrita como: • Velocidade de fase: Vamos examinar a figura
seguinte (Fig. 11). Considere no instante t0 , o
Onda senoidal y(x, t) = ym sin(kx − ωt) (7) ponto P da corda vibrante. Esse ponto, cuja fase é
φ(x0 , t0 ) = (kx0 −ωt0 +φ0 ), encontra-se na posição
A expressão (7) supõe que a posição vertical y de
P 0 no instante posterior t0 +∆t. Obviamente a fase
um elemento no meio é zero em x = 0 e t = 0.
φ(x0 + ∆x, t0 + ∆t) do ponto P 0 é igual à fase do
Podemos generalizar a eq. (7) introduzindo uma
ponto P . Portanto, podemos escrever:
constante de fase φ0 na função de onda:
Φ(x0 + ∆x, t0 + ∆t) = Φ(x0 , t0 )
y(x, t) = ym sin(kx − ωt + φ0 ) (8)
k(x0 + ∆x) − ω(t0 + ∆t) + φ0 = kx0 − ωt0 + φ0 ⇒

onde φ(x, t) = (kx − ωt + φ0 ) é a fase da onda. ∆x ω


k∆x − ω∆t = 0 ⇒ vφ = =
O valor de φ0 pode ser escolhido de tal forma que ∆t k
(10)
a função forneça outro deslocamento e outra in-
clinação (velocidade) em x = 0 para t = 0. Note
• Obtivemos assim a expressão da velocidade de
também que um valor positivo de φ0 faz a curva se
um ponto qualquer de fase definida, e portanto,
deslocar no sentido negativo do eixo x; um valor
constante, ou a velocidade de fase v φ da onda.
negativo de φ0 faz a curva se deslocar no sentido
positivo. • Agora, compare as equações (10) e (5). Da com-
paração podemos escrever:

ω
vφ = v = = λf
k

Fig. 9 - Uma onda progressiva senoidal no instante t = 0 com


uma constante de fase (a) φ0 = 0 e (b) φ0 = π/5 rad.

• Observe que fazendo x = 0 na eq. (4) obtemos a


solução geral da equação do MHS:

y(0, t) = ym sin(−ωt + φ0 ) (9)

Fig. 11 - Onda progressiva em dois instantes diferentes: t0 e


t0 + ∆t.

• Movimento dos elementos da corda: Pode-


mos utilizar a expressão (8) para descrever o mo-
vimento de cada elemento na corda. Um elemento
P da corda (veja a Fig. 7) se move apenas verti-
Fig. 10 - Gráfico do deslocamento do ponto da corda situado calmente, e portanto, sua coodenada x permanece
em x = 0 em função do tempo. A amplitude ym está indicada.
Um período típico T , medido a partir de um instante de tempo constante. Desse modo, a velocidade transver-
arbitrário t1 , também está indicado.
sal v y (que não deve ser confundida com a veloci-

Euzi C. F. da Silva - Física 2 - Poli/2020 7


dade da onda v) e a aceleração transversal ay 2.2.1 Exercício 1
dos elementos da corda são:3
- Uma onda senoidal progressiva em uma direção
dy ∂y x positiva tem a amplitude de 15,0 cm, compri-
vy = = = −ωym cos(kx−ωt+φ0 )
dt x=constante ∂t mento de 40,0 cm e frequência de 8,0 Hz. A
posição vertical do elemento no meio em t = 0
dvy ∂vy
ay = = = −ω 2 ym sin(kx−ωt+φ0 ) e x = 0 também é de 15 cm. Determine a cons-
dt x=constante ∂t
tante de fase e escreva a expressão geral para
• Os módulos máximos da velocidade e da acelera- descrever a função de onda.
ção transversal são simplesmente Solução 1 - O gráfico da onda com as caracte-
rísticas descritas no enunciado está representado
vy,max = ωym
na figura abaixo.
ay,max = ω 2 ym

A velocidade e aceleração transversais não atingem


seus valores máximos simultaneamente. A veloci-
dade é máxima quando y = 0, enquanto o mó-
dulo da aceleração transversal é máxima quando
y = ±A. Finalmente as equações que descrevem o A função ondular tem a forma y(x, t) =
movimento dos elementos da corda são as mesmas ym sin(kx − ωt + φ0 ). Para que a função y(x, t)
de um oscilador harmônico simples. fique definida, os valores de k, ω e φ0 devem ser
calculados:

2π 2π
k= = = 15, 7 rad/m
λ 40, 0 cm

1 1
T = = = 0, 125 s
f 8, 0 s−1
ω = 2πf = 2π(8, 0 s−1 ) = 50, 3 rad/s

Para determinar a constante de fase, usamos as


condições iniciais dadas:

π
15, 0 = 15, 0 sin φ0 ⇒ sin φ0 = 1 ⇒ φ0 =
2

Assim a função de onda será (no SI):

y(x, t) = ym sin(kx − ωt + φ0 )
π
= 0, 15 sin(15, 7x − 50, 3t + )
2
= 0, 15 cos(15, 7x − 50, 3t)
3
Estamos supondo que um elemento na corda sempre oscila na
linha vertical. A tensão na corda variaria se um elemento pudesse A velocidade de propagação da onda é dada por
se mover para os lados. Tal movimento tornaria a análise muito
mais complicada. v = λf = 3, 2 m/s

Euzi C. F. da Silva - Física 2 - Poli/2020 8


• Combinando a eqs. (11) e (12), podemos ver que
3 Equação de onda em uma di- o deslocamento y(x, t) satisfaz a seguinte equação
mensão a derivadas parciais linear de segunda ordem:

• Consideremos, de novo, a forma mais geral de uma 1 ∂2y ∂2y


− 2 =0 (13)
onda progressiva propagando-se na direção x po- v 2 ∂t2 ∂x
sitiva:
onde v é a velocidade de propagação da onda.
y(x, t) = f (x0 ) = f (x − vt)
Essa equação é chamada de equação de onda
Você se lembra do conceito de derivada parcial de em uma dimensão. Sendo assim, uma função
uma onda de várias variáveis e da regra da cadeia? de onda do tipo y(x, t) = g(x + vt), que descreve
Então vamos continuar. A velocidade vy tranver- uma onda progressiva propagando-se na direção
sal de um elemento qualquer da corda vibrante é, negativa de x, é também solução dessa equação de
por definição, onda. A linearidade da equação de onda e o Prin-
cípio da Superposição fazem com que a função
∂y df ∂x0 df
vy = = 0 = −v 0
∂t dx ∂t dx
y(x, t) = f (x − vt) + g(x + vt),
pois
∂x0 ∂ composta pela soma de ondas progressivas
= (x − vt) = −v.
∂t ∂t
propagando-se nas direções de x positivo e nega-
Podemos também calcular a aceleração transversal tivo, seja também uma solução dessa equação. Ela
ay desse ponto da corda: é a solução geral da equação de onda unidimen-

∂2y
 
∂ ∂y ∂

df
 sional.
ay = 2 = = −v
∂t ∂t ∂t ∂t dx0
• A forma da equação de onda unidimensional [eq.
 0
d2 f

d df ∂x
= −v 0 0
= v 2 02 ⇒
dx dx ∂t dx (13)] é a consequência matemática direta da de-
pendência espacial e temporal (x ± vt) de qual-
∂2y d2 f quer função que pode representar uma onda que
= v2 (11)
∂t2 dx02 se propaga em uma dimensão.
Agora, derivando y(x, t) em relação à variável es-
pacial x, obtemos: • A função y(x, t), que representa o deslocamento
transversal de um elemento da corda vibrante,
∂y df ∂x0 df
= 0 = 0 pode de fato representar qualquer grandeza física
∂x dx ∂x dx
  0 propagando-se em uma dimensão, como por exem-
∂2y
 
∂ ∂y d ∂y ∂x plo: - a compressão de um grupo de espiras ao
2
= = 0
∂x ∂x ∂x dx ∂x ∂x
longo de uma mola (onda longitudinal);
2
d f
= 02 ⇒ - as variações de densidade e de pressão em um
dx
fluido dentro de um tubo (onda sonoras longitudi-
∂2y d2 f nais)
= (12)
∂x2 dx02
- os campos elétrico e magnéticos em ondas eletro-
∂x0
pois ∂x = 1. magnéticas, etc.

Euzi C. F. da Silva - Física 2 - Poli/2020 9


4 A equação de onda de uma • No extremo esquerdo, o segmento é puxado para
baixo com a força T1 sin θ1 ; no extremo direto, o
corda vibrante e a velocidade de
segmento é puxado para cima com a força T2 sin θ2 .
ondas tranversais em cordas Assim, a força resultante Fy que atua no segmento
é dada por
• Na seção anterior obtivemos a equação de onda Fy (t) = T2 sin θ2 − T1 sin θ1
com argumentos puramente matemáticos. Vamos
agora obter a equação de onda para o movimento Para pequenas oscilações, os ângulos θ1 e θ2 são
de uma corda vibrante usando argumentos físicos. muito pequenos e podemos desconsiderar o au-
mento do comprimento do segmento. Assim,
• Vamos considerar um pequeno segmento de uma
sin θ1 ≈ tan θ1 , sin θ2 ≈ tan θ2 , T2 ≈ T e T1 ≈ T .
corda. Em equilíbrio o segmento ocupa um pe-
Assim teremos
queno comprimento ∆x centrado em x.
Fy (t) = T2 tan θ2 − T1 tan θ1
"    #
∂y ∂y
=T −
∂x x2 ∂x x1 (14)
"    #
∂y ∂y
=T −
∂x x1 +∆x ∂x x1

∂y
Vamos chamar f (x) = . Assim, para ∆x → 0
∂x
podemos escrever:
Fig. 12 - Segmento de corda vibrante fora do equilíbrio.

• Considerando que a distribuição de massa em todo f (x1 + ∆x) − f (x1 ) = ∆x · f 0 (x).


o comprimento da corda é uniforme, a massa do
Com isso, na equação (14) obtemos
segmento, ∆m, é dada por ∆m = µ∆x.
2
• Quando a corda encontra-se em repouso ao longo Fy (t) = T ∆x · f 0 (x) = T ∆x ∂x
∂ y
2 (15)
do eixo x, qualquer ponto é submetido a duas for-
ças iguais em módulo e sentidos opostos, chamadas A força resultante Fy , aplicada ao elemento de
forças de tensão ou simplesmente tensão T . corda de massa µ∆x, provoca a sua aceleração ver-
tical. Assim, de acordo com a 2a Lei de Newton,
• Na situação de não-equilíbrio, o segmento tem
podemos escrever
um deslocamento transversal médio y(x, t) no seg-
mento AB. Este segmento não é mais exatamente ∂2y ∂2y
Fy (t) = ∆m = µ∆x ∂t2
(16)
reto, apresentando uma pequena curvatura e seu ∂t2
comprimento é maior que seu comprimento no Das equações (15) e (16) obtemos
equilíbrio. As tensões T1 e T2 , que agora atuam no
segmento estão orientadas ao longo das tangentes ∂2y ∂2y
µ∆x = T ∆x ⇒
∂t2 ∂x2
ao segmento nos pontos A e B, respectivamente.
Estas tangentes fazem angulos θ1 e θ2 com a linha
horizontal.

Euzi C. F. da Silva - Física 2 - Poli/2020 10


• Vamos considerar um elemento infinitesimal da
∂2y T ∂2y
= (17) corda de comprimento dx e massa dm. Vamos mo-
∂t2 µ ∂x2
delar esse elemento da corda como uma partícula
• A eq. (17) tem a forma usual da equação de onda movendo-se na direção y.
(13)
• A energia cinética associada ao movimento dessa
1 ∂2y ∂2y
− 2 =0 (18) partícula é dada por
v 2 ∂t2 ∂x
onde 1
s dK = (dm)vy2
T 2
v=
µ onde vy é a velocidade transversal do elemento da
Observe que a velocidade v é a velocidade de pro- corda.
pagação de uma onda transversal em uma corda
• Se µ é a massa por unidade de comprimento, a
longa de densidade linear de massa µ sujeita a uma
massa dm do elemento de comprimento dx é:
tesão T .
dm = µdx.

5 Taxa de transferência de ener- • Assim,


1
gia por ondas senoidais em cordas dK = (µdx)vy2 . (19)
2

• A velocidade transversal de cada elemento é dada


• Quando produzimos uma onda em uma corda es-
por
ticada, fornecemos energia para que a corda se
mova. Quando a onda se afasta de nós, ela trans- ∂y
vy (t) = = −ωym cos(kx − ωt). (20)
porta essa energia como energia cinética e como ∂t
energia potencial elástica. Vamos examinar essas
• Usando a relação (20), a equação (19) torna-se
duas formas de energia e calcular qual é a taxa
de energia transportada ao longo de uma corda. 1
dK = µ [−ωym cos(kx − ωt)]2 dx
Para os cálculos vamos supor uma onda senoidal 2
1 2 2
unidimensional. = µω ym cos2 (kx − ωt)dx.
2

• Se considerarmos uma fotografia da onda no ins-


5.1 Energia cinética tante t = 0, a energia cinética de um determinado
elemento é:
• Considere uma onda senoidal se propagando em
1
uma corda, como na Fig. 7. A fonte de energia é dK = µω 2 ym
2
cos2 (kx)dx (21)
2
algum agente externo na extremidade esquerda da
corda. Conforme o agente externo realiza traba- • Integrando a expressão (21) sobre todos os ele-
lho sobre a extremidade da corda, movendo-a para mentos em uma corda em um comprimento de
cima e para baixo, a energia entra no sistema da onda (lembre-se, todos os elementos da corda têm
corda e se propaga ao longo do seu comprimento. a mesma frequência angular ω e a mesma ampli-

Euzi C. F. da Silva - Física 2 - Poli/2020 11


tude ym ) temos a energia cinética total Kλ em um que ω 2 = k/m podemos escrever
comprimento de onda:
1
U = mω 2 y 2 .
Z
1 λ Z 2
Kλ = dK = µω 2 ym
2
cos2 (kx) dx
2 0
 λ
1 2 2 1 1
= µω ym x + sin 2kx
2 2 4k 0
1 2 2
= µω ym λ
4

Kλ = 41 µω 2 ym
2 λ

Fig. 13 - Instantâneo de uma onda progressiva em uma corda


5.2 Energia potencial elástica no instante t = 0. O elemento À da corda está sofrendo um
deslocamento ym e o elemento Á está sofrendo um deslocamento
y = 0. A energia potencial elástica depende do alongamento do
elemento da corda.
• Além da cinética, há energia potencial elástica as-
sociada a cada elemento da corda, devido ao seu • Para um elemento de massa ∆m = µ · ∆x, a ener-
deslocamento a partir da posição de equilíbrio e gia potencial elástica associada a um segmento da
às forças de restauração a partir dos elementos vi- corda será
zinhos. Quando um trecho inicialmente reto de
1 1
uma corda é esticado por uma onda senoidal, os ∆U = (∆m)ω 2 y 2 = (µ∆x)ω 2 y 2 .
2 2
elementos da corda sofrem deformação. Ao oscilar
Para elementos infinitesimais da corda, ∆x → dx,
transversalmente, um elemento da corda de com-
podemos escrever:
primento dx aumenta e diminui periodicamente de
comprimento para assumir a forma da onda senoi- 1 1
dU = (µ∆x)ω 2 y 2 = (µdx)ω 2 y 2 .
dal. Como no caso de uma mola, uma energia 2 2
potencial elástica está associada a essas variações Usando que o deslocamento do elemento de corda
de comprimento. que realiza um MHS é dado por y(x, t) =
• Quando o elemento da corda está na posição y = ym sin(kx − ωt) obtemos
ym (como o elemento À da Fig. 13), o compri- 1
dU = (µdx)ω 2 [ym sin(kx − ωt)]2
mento é o valor de repouso dx e, portanto, a ener- 2
1 2 2
gia potencial elástica é nula. = µω ym [sin(kx − ωt)]2 dx.
2
• Por outro lado, quando o elemento está passando
• Se considerarmos uma fotografia da onda no ins-
pela posição y = 0 (como o elemento Á da Fig.
tante t = 0, a energia potencial de um determi-
13), o alongamento é máximo e, portanto, a ener-
nado elemento é:
gia potencial elástica também é máxima.
1
• A energia potencial elástica de uma partícula rea- dU = µω 2 ym
2
[sin(kx)]2 dx. (22)
2
1 2
lizando MHS é dada por U = 2 ky onde o deslo-
camento harmônico é na direção vertical. Usando • Para obter a energia total em um comprimento

Euzi C. F. da Silva - Física 2 - Poli/2020 12


de onda λ, integramos a expressão (22) em um energia ou a intensidade transmitida pela onda se-
comprimento de onda: noidal é proporcional à: (1) velocidade da onda,
(2) ao quadrado da frequência angular e (3) ao
1 2 2 λ
Z Z
Uλ = dU = µω ym [sin(kx)]2 dx quadrado da amplitude.
2 0
 λ
1 2 2 1 1 (23) • Em verdade, a taxa de transferência de energia de
= µω ym x − sin 2kx
2 2 4k 0 qualquer onda senoidal é proporcional à frequência
1 2 2
= µω ym λ angular ao quadrado e à amplitude da onda ao
4
quadrado.

Uλ = 41 µω 2 ym
2 λ (24)
6 Reflexão e transmissão de on-
das transversais em uma dimensão
5.3 Energia total em um comprimento • Até aqui estudamos ondas progressivas (cami-
de onda nhantes) em cordas muito longas (infinitas), que
se propagam através de um meio uniforme, sem in-
• A energia total em um comprimento da onda é a teragir com nada no caminho. Agora, vamos con-
soma das energias cinética e potencial elástica: siderar como uma onda é afetada quando encontra
uma mudança no meio.
1
Eλ = Kλ + Uλ = µω 2 ym
2
λ
2 • Por exemplo, considere um pulso se movendo em

• Quando a onda movimenta-se ao longo da corda, uma corda que está rigidamente presa a um su-

esta quantidade de energia passa por um ponto porte em uma extremidade, como mostra a Fig.

da corda durante um período de oscilação. 14. Quando o pulso atinge o suporte, uma severa

Assim, a potência ou taxa de energia transferida, mudança ocorre no meio: a corda acaba. Como re-

associada com esta onda será sultado o pulso sofre uma reflexão, isto é, o pulso
se move para trás ao longo da corda na direção
1 2 2
Eλ µω ym λ 1 2 2 λ
  oposta. Observe que o pulso refletido é invertido.
P = = 2 = µω ym
∆t T 2 T

λ
Usando a relação v = [veja eq. (5)] podemos
T
escrever:
1
P = µvω 2 ym
2
2
A potência média da onda unidimensional que aca-
bamos de calcular é também denominada inten-
sidade I da onda ou seja

1
I = P = µvω 2 ym
2
2
Fig. 14 - A reflexão de um pulso na extremidade fixa de uma
corda esticada. O pulso refletido é invertido, mas sua forma fica
• Esta relação mostra que a taxa de tranferência de inalterada.

Euzi C. F. da Silva - Física 2 - Poli/2020 13


• Considere agora outro caso. Desta vez o pulso
chega ao final de uma extremidade livre, como na
Fig. 15. Novamente o pulso é refletido mas não
está invertido, e tem a mesma amplitude que o
pulso de entrada (incidente).

Fig. 16 - (a) Um pulso se movendo para a direita em uma corda


leve se aproxima da junção com uma corda mais pesada. (b) A
situação após o pulso atingir a junção.

• Finalmente, considere que um pulso se movendo


em uma corda pesada atinge o limite entre a corda
pesada e uma mais leve, como na Fig. 17. No-
vamente, parte é refletida e parte é transmitida.
Fig. 15 - A reflexão de um pulso na extremidade livre de uma Nesse caso, o pulso refletido não é invertido.
corda esticada. O pulso refletido não é invertido.

• Considere agora a situação intermediária entre es-


ses dois extremos, como nas figuras Fig. 16 e Fig.
17. Nesses casos, parte da energia do pulso é re-
fletida e parte é transmitida, ou seja, parte da
energia passa pela fronteira.

• Por exemplo, suponha que uma corda leve seja co-


nectada a outra pesada, como na Fig. 16. Quando Fig. 17 - (a) Um pulso se movendo para a direita em uma corda
pesada se aproxima da junção com uma corda mais leve. (b) A
um pulso movendo-se na corda mais leve atinge a situação após o pulso atingir a junção.
fronteira entre as duas cordas, uma parte do pulso
é refletida e invertida e a outra é transmitida para • Nos dois casos mostrados nas Figs. 16 e 17, as
a corda mais pesada. O pulso refletido tem uma alturas relativas dos pulsos refletido e transmitido
amplitude menor que a do pulso incidente. dependem da densidade relativa das duas cordas.
Se elas forem idênticas, não há nenhuma descon-
• Já vimos que a energia transportada por uma tinuidade no limite nem haverá reflexão.
corda está relacionada com sua amplitude. De
acordo com o princípio da conservação de energia, • Lembre-se
q que, de acordo com a expressão
T
quando o pulso se divide em um refletido e ou- v = µ , a velocidade de uma onda aumenta
tro transmitido na fronteira, a soma das energias conforme a massa por unidade de comprimento
transportadas por esses dois pulsos deve ser igual à da corda diminui. Em outras palavras, uma onda
energia do pulso incidente. Como o refletido con- se propaga mais rapidamente em uma corda leve
tém apenas uma parte da energia incidente, sua que em uma corda pesada, se ambas estiverem
amplitude deve ser menor. sob a mesma tensão.

Euzi C. F. da Silva - Física 2 - Poli/2020 14


6.1 A equação de onda: reflexão de um – Além disso, assumimos que a extremidade está
pulso em corda com extremidade presa em x = 0. Esta condição de contorno,
fixa em uma extremidade em qualquer instante, é expressa por

– Podemos usar a equação de onda para prever os y(0, t) = 0 (26)


resultados de reflexão e transmissão que acaba-
mos de apresentar. Vamos ver como isso pode
– Substituindo (26) em (25), obtemos a seguinte
ser feito para o caso da corda presa em uma
relação entre a função conhecida g e a desco-
das extremidades.
nhecida f :
– Consideremos um pulso transversal se propa-
y(0, t) = f (−vt) + g(+vt) = 0 ⇒
gando para a esquerda em uma corda vibrante
de dimensão finita que possui sua extremidade f (−vt) = −g(vt) para qualquer instante t

esquerda presa em x = 0, como ilustrado na


– Portanto, a função f (α), onde α é uma variável
figura abaixo.
qualquer, é univocamente determinada
presa
f (α) = −g(−α)
x

– Substituindo α por (x − vt), a eq. (25) dá a


solução do problema:
– Sabemos que a equação de onda é uma equa-
ção linear de segunda ordem e que, portanto, y(x, t) = g(x + vt) − g(−x + vt) (27)
| {z } | {z }
sua solução geral contém duas funções arbi- para esquerda para direita

trárias. O caso que estamos considerando não onde a função g é conhecida.


escapa dessa regra e a função
– Como interpretar esse resultado? Antes de
y(x, t) = f (x − vt) + g(x + vt) (25) ocorrer a reflexão em x = 0, o primeiro termo
representa o pulso incidente real situado na
é solução da equação de onda qualquer que parte positiva do eixo x propagando-se na di-
seja o instante t. reção x negativa; o segundo termo, um pulso
virtual invertido situado na parte negativa
– Como antes de atingir a parede o pulso se mo-
do eixo x propagando-se na direção x positiva.
vimenta para a esquerda, a função ondular que
descreve o movimento do pulso será dada por – Após a reflexão, os papéis se invertem e o
primeiro termo passa a representar um pulso
y(x, t) = g(x + vt)
virtual situado na parte negativa do eixo
x propagando-se na direção x negativa, o se-
ou seja, f (x, t) = 0 antes do pulso atingir a
gundo termo representa o pulso refletido, real
posição x = 0, e g é o pulso dado.
e invertido, situado na parte positiva do
eixo x propagando-se na direção x positiva.

Euzi C. F. da Silva - Física 2 - Poli/2020 15


– Na Fig. 19, os pulso reais e virtuais estão ilus-
trados antes e depois da reflexão em x = 0

Fig. 19 - Reflexão de um pulso em uma corda com uma Fig. 20 - A figura mostra uma sequência de instantâneos de dois
extremidade presa. Perfil da onda (a) antes e (b) depois da pulsos que se propagam em sentidos opostos na mesma corda
reflexão no ponto fixo O. esticada. Nos pontos em que os pulsos se superpõem, o pulso
resultante é a soma dos dois pulsos. Além disso, cada pulso passa
pelo outro como se ele não existisse. Ou seja, ondas superpostas
não se afetam mutuamente.

• O deslocamento da corda quando as ondas se pro-


7 Interferência de ondas pagam ao mesmo tempo é determinada pelo prin-
cípio da superposição4 que diz que o valor re-
external document
sultante da função de onda em qualquer ponto é
a soma algébrica dos valores das funções de onda
• No uso popular, o termo interferir significa que
das ondas individuais, ou seja,
um agente afeta a situação de maneira que impede
alguma coisa de acontecer. Por exemplo, no fute-
y 0 (x, t) = y1 (x, t) + y2 (x, t)
bol, interferência de passe significa que um jogador
de defesa afetou a recepção da bola pelo jogador Essa soma de deslocamentos significa que ondas
adversário, de modo que ele não consegue pegar superpostas se somam algebricamente para pro-
a bola. Esse uso é muito diferente daquele envol- duzir uma onda resultante ou onda total.
vido na Física, em que ondas passam uma pela
outra e interferem, mas não afetam uma à outra • Nesta seção, vamos determinar as funções da onda
de qualquer modo, como mostramos na Fig. 20. resultante para diferentes situações:
Em Física, interferência é semelhante à noção de – ondas se propagando no mesmo sentido (a)
combinação. com frequências e amplitudes iguais; (b) com
a mesma frequência mas amplitudes diferen-
• Suponha que duas ondas se propagam simultane- tes; (c) com frequências e amplitudes diferen-
amente na mesma corda esticada. Sejam y1 (x, t) tes (batimentos).
e y2 (x, t) os delocamentos que a corda sofreria se
– ondas que se propagam em sentidos contrá-
cada onda se propagasse sozinha. Qual é o des-
rios, dando origem às ondas estacionárias.
locamento da corda quando as duas ondas se en-
4
Ondas que obedecem este princípio são chamadas ondas li-
contram (passam simultaneamente pela mesma re-
neares. Ondas que violam este princípio são chamadas ondas não
gião) como na Fig. 20? lineares. Nesta disciplina, lidaremos somente com ondas lineares.

Euzi C. F. da Silva - Física 2 - Poli/2020 16


7.1 Superposição de ondas que se pro- • A expressão (29) nos mostra a onda resultante
pagam no mesmo sentido também é uma onda senoidal que se propaga no
mesmo sentido positivo x. Ela é a única onda que
7.1.1 Ondas de mesma frequência e ampli-
se pode ver na corda (as ondas y1 e y2 não podem
tude
ser vistas).
Suponha que as ondas que se propagam em uma
corda são dada por
• A onda resultante difere das ondas individuais em
y1 (x, t) = ym sin(kx − ωt) dois aspectos: (1) a constante de fase é φ/2 e a
y2 (x, t) = ym sin(kx − ωt + φ) amplitude ym é o valor absoluto do fator entre os
colchetes da equação anterior:
sendo que a segunda está deslocada em relação à  
primeira. 1
ym (x, t) = 2ym cos( φ) (30)
2
• As duas ondas têm a mesma frequência angular
ω (e, portanto, a mesma frequência f ), o mesmo • Se φ = 0 rad as duas ondas estão em fase e a
número de onda k (e, portanto, o mesmo número equação reduz-se a [veja a Fig. 21(a)]:
de onda λ) e a mesma amplitude ym .
y 0 (x, t) = 2ym sin(kx − ωt) (φ = 0)
• Ambas se propagam no sentido positivo do eixo x,
p
com a mesma velocidade v = T /µ. Elas diferem
apenas de um ângulo constante φ, a constante de
fase. Dizemos que as ondas estão defasadas de φ,
ou que a diferença de fase entre elas é φ.

• Segundo o princípio da superposição, a onda re-


sultante é a soma algébrica das duas ondas e tem
um deslocamento

y 0 (x, t) = y1 (x, t) + y2 (x, t)


= ym sin(kx − ωt) + ym sin(kx − ωt + φ)
(28)

• Usando a identidade trigonométrica


1
+ b) cos 12 (a − b)
  
sin a + sin b = 2 sin 2 (a
Fig. 21 - Superposição de ondas iguais que se propagam em uma
corda no mesmo sentido: (a) em fase φ = 0; (b) com diferença
podemos escrever de fase φ = π rad (180◦ ); (c) ou φ = π/3 rad (60◦ ).

F ator oscilatório
Deslocamento  z • Se φ = π (180◦ ), as ondas que interferem estão
 }| {
z }| { 1 1
y 0 (x, t) = 2ym cos( φ) sin(kx − ωt + φ)
2 2 totalmente defasadas, como na Fig. 21(b). Neste
| {z }
F ator de amplitude caso, cos(φ/2) = cos(π/2) = 0 e a amplitude da
(29) onda resultante, dada pela expressão (30), é nula.

Euzi C. F. da Silva - Física 2 - Poli/2020 17


Assim para todos os valores de x e t,
p
ym (x, t) = 0 (φ = π rad) A= A21 + A22 + 2A1 A2 cos(δ2 − δ1 ) (31)

Observe que embora a onda resultante esteja se Im[Z] A2 sin(δ2 − δ1 )


tan β = = ⇒
propagando na corda, não vemos a corda se mo- Re[Z] A1 + A2 cos(δ2 − δ1 )
ver. Este tipo de interferência é chamado de in-
A2 sin(δ2 − δ1 )
terferência destrutiva. β = tan−1 (32)
A1 + A2 cos(δ2 − δ1 )

Portanto, a combinação das ondas resulta em:


7.1.2 Ondas de mesma frequência mas am-
h i
plitudes diferentes y 0 (x, t) = Re Aei(kx−ωt+δ1 ) eiβ

= A [cos(kx − ωt + δ1 ) cos(β)
Consideremos duas ondas propagando-se para a
− sin(kx − ωt + δ1 ) sin(β)] ⇒
direita com velocidade v = ω/k e amplitudes A1 e
A2 e constantes de fase δ1 e δ2 :
y 0 (x, t) = A [cos(kx − ωt + δ1 + β)] (33)
y1 (x, t) = A1 cos(kx − ωt + δ1 )
y2 (x, t) = A2 cos(kx − ωt + δ2 ) • Note que a amplitude A na eq. (33) é a ampli-
tude da onda resultante a qual possui frequência ω.
De acordo com o princípio de superposição, a onda
Sendo assim, podemos obter a intensidade dessa
resultante dada por y 0 (x, t) = y1 (x, t) + y2 (x, t).
onda usando que:
Em notação complexa escrevemos as ondas como:
1 1 1
i(kx−ωt+δ1 ) I = µvω 2 A2 = µvω 2 A21 + µvω 2 A22
y1 (x, t) = A1 Re[e ] 2 2 2
1 2
y2 (x, t) = A2 Re[ei(kx−ωt+δ2 ) ] + µvω 2A1 A2 cos(δ2 − δ1 )
2
e a resultante como: Como as ondas y1 e y2 possuem frequência ω, po-
demos escrever
y 0 (x, t) = y1 (x, t) + y2 (x, t)
h i
= Re A1 ei(kx−ωt+δ1 ) + A2 ei(kx−ωt+δ2 )
p
I = I1 + I2 + 2 I1 I2 cos(δ2 − δ1 )
 

= Re ei(kx−ωt+δ1 ) [A1 + A2 ei(δ2 −δ1 ) ] Esta relação mostra que a intensidade da onda
| {z }
≡Z=Aeiβ resultante pode ser diferente das intensidades as-
sociadas a cada onda. Devido ao último termo
O número complexo Z dado por
pode ocorrer até mesmo uma interferência destru-

Z = [A1 + A2 cos(δ2 − δ1 )] + iA2 sin(δ2 − δ1 ) tiva. Por exemplo, considerado o caso de duas
ondas com a mesma amplitude, I1 = I2 , a in-
pode ser escrito em sua forma polar como Z = tensidade da onda resultante é dada por I =
Aeiβ onde seu módulo A é dado por 2I1 [1 + cos(δ2 − δ1 )]. Se a diferença de fase é
q (δ2 − δ1 ) = π, a amplitude da resultante se anula.
A = [A1 + A2 cos(δ2 − δ1 )]2 + [A2 sin(δ2 − δ1 )]2 ⇒

Euzi C. F. da Silva - Física 2 - Poli/2020 18


7.1.3 Fasores

• A soma mostrada na eq. (28) foi executada com


relativa facilidade pois as ondas tinham a mesma
amplitude ym . Caso elas tenham o mesmo número
de onda, a mesma frequência angular e amplitudes
diferentes, é conveniente utilizar métodos mais ge-
Fig. 22 - Fasor de módulo A com constante de fase α.
rais. Um desses métodos é o uso de fasores para
representar as ondas.5
• Ou seja, o fasor, de módulo igual à amplitude A
da onda, gira em torno da origem com velocidade
• A solução de um grande número de problemas, angular igual à frequência ω da onda e fase inicial
particularmente a adição de várias funções de onda igual ao ângulo que o vetor faz com o eixo x no
propagando-se na mesma direção (ou, a adição de instante inicial do movimento.
várias funções harmônicas) é consideravelmente fa-
cilitada se representamos as oscilações na forma de • Vamos utilizar este método para reproduzir os re-
vetores em um plano. sultados apresentados na seção anterior quando
usamos notação complexa.
• Embora o método possa parecer estranho a prin-
• Para isso, considere as ondas que se propagam
cípio, trata-se, simplesmente, de uma técnica geo-
para a direita:
métrica que usa as regras de adição de vetores, em
lugar de somas trigonométricas complicadas. y1 (x, t) = A1 sin(kx − ωt + δ1 )
y2 (x, t) = A2 sin(kx − ωt + δ2 ).
• Neste método, representamos a função de onda
como sendo um vetor, com origem no ponto O • Quando as duas ondas se propagam na mesma
de um sistema de eixos Oxy, com comprimento A corda e no mesmo sentido, podemos representar as
e fazendo um ângulo α com o eixo x. Se o vetor duas ondas e a onda resultante em um diagrama
gira em torno do ponto O com velocidade angu- fasorial, como na Fig. 23.
lar ω, então a projeção do vetor mover-se-á dentro
dos limites −A para +A. Se usarmos a projeção • As variáveis y1 e y2 podem ser interpretadas como
no eixo y, a coordenada desta projeção variará no projeções dos vetores girantes ~y1 e ~y2 sobre o eixo
tempo de acordo com a função Oy. A projeção y 0 é a projeção do vetor soma
~y = ~y1 + ~y2 sobre Oy.
y(t) = A sin(ωt + α)
• Quando os fasores giram em torno da origem com
5
Vetor usado para representar uma grandeza senoidal. Seu frequência angular ω, as projeções de y1 e y2 no
comprimento representa a amplitude da grandeza, enquanto a eixo vertical variam senoidalmente. Estas varia-
fase é representada pelo ângulo que o vetor faz com alguma dire-
ção fixa escolhida como referência. Se a grandeza varia no tempo, ções correspondem à variação senoidal dos deslo-
sua variação se expressa pela rotação do fasor. Ou seja, é um
camentos y1 e y2 de um ponto da corda quando as
vetor que representa uma função senoidal cuja amplitude (A),
frequência angular (ω) e fase (α) são constantes no tempo. ondas passam pelo ponto.

Euzi C. F. da Silva - Física 2 - Poli/2020 19


ticais yv dadas por:

yh = A1 cos δ1 + A2 cos δ2
yv = A1 sin δ1 + A2 sin δ2

• Assim, a amplitude A do vetor resultante é:


q
A= yh2 + yv2
q (34)
= A21 + A22 + 2A1 A2 cos(δ2 − δ1 )

• A fase α é dada por

yv A1 sin δ1 + A2 sin δ2
tan α = = (35)
yh A1 cos δ1 + A2 cos δ2

• Portanto, a função de onda resultante será dada


por:
Fig. 23 - (a) Dois fasores (~y1 e ~ y2 ) de módulos A1 e A2 , com
uma diferença de fase φ = (δ2 − δ1 ) entre eles, girando em torno y(x, t) = A sin(kx − ωt + α)
da origem O com velocidade angular ω. (b) A onda resultante (36)
y 0 é representada pela projeção no eixo y do vetor resultante ~y
da soma dos dois fasores ~y1 e ~
y2 . = A sin(kx − ωt + δ1 + β)

onde A é dada por (34) e α por (35). Observe que


• Observe que a segunda onda está defasada do ân- o ângulo entre a soma vetorial e o fasor de y1 é
gulo φ = (δ2 − δ1 ) em relação à primeira onda. Se igual à constante de fase β da eq. (32).
φ é um número positivo, o fasor da onda 2 está
7.1.4 Exercício 2
atrasado em relação à onda 1. Se φ é um número
negativo, a onda 2 está adiantada em relação à -Ache a expressão da onda resultante da interfe-
onda 1. rência das ondas senoidais:

y1 = 5 sin(3x − 5ωt + π/6) [m]


• Como as duas ondas têm o mesmo número de onda
y2 = 3 sin(3x − 5ωt + π/3) [m]
k e a mesma frequência angular ω, a onda resul-
tante é da forma Resposta 2 - A função da onda resultante, com
unidades no SI, é dada por:
y 0 (x, t) = A sin(kx − ωt + α)
y 0 (x, t) = 7, 74 sin(3x − 5ωt + α) [m]
em que A é a amplitude da onda resultante e α é
a constante de fase. 5, 1
tan α = ⇒ α = 0, 719 rad
5, 83
Verifique que a constante de fase calculada pela
• Em particular, no instante t = 0, para uma partí-
expressão (35) dá o mesmo valor da soma (δ1 + β)
cula da corda localizada na posição x = 0, o vetor
com β definido na eq. (32).
resultante tem componentes horizontais yh e ver-

Euzi C. F. da Silva - Física 2 - Poli/2020 20


7.1.5 Ondas de frequências próximas (ba- O que a eq. (37) nos mostra? Em primeiro lu-
timentos) gar, que a onda resultante representada pela (37)
é uma onda que oscila no tempo com uma frequên-
cia ω ≈ ω1 ≈ ω2 e sua amplitude oscila também
• Um caso interessante é quando duas ondas harmô-
no tempo, mas com frequência ∆ω/2 muito mais
nicas movem-se na mesma direção mas suas
baixa. Em segundo, que existem duas propagações
frequências são ligeiramente diferentes. Mostrare-
simultâneas: a da onda resultante y 0 (x, t), com ve-
mos que o movimento resultante é uma oscilação
locidade de fase
harmônica com amplitude modulada. Estas osci-
lações são denominadas batimentos. ω
vφ =
k

• Vamos assumir que as ondas tem amplitudes iguais e a velocidade da envoltória, denominada veloci-
a A. Para evitar complicações desnecessárias no dade de grupo
formalismo, consideraremos que a fase inicial de ∆ω
ambas as oscilações é nula. Assim, a equação das vg =
∆k
ondas serão:
que pode ser aproximada por:
y1 (x, t) = A cos(k1 x − ω1 t)

y2 (x, t) = A cos(k2 x − ω2 t) vg ≈ .
dk

Introduzindo as grandezas • Em uma corda vibrante homogênea, de densi-


k1 + k2 dade de massa linear µ e submetida a uma tensão
k= T , sabemos que a velocidade de fase de qualquer
2
∆k = k1 − k2 onda harmônica progressiva é constante e dada por
p
ω1 + ω2 v = T /µ. Portanto, é válido
ω=
2
ω1 ω2 ω
∆ω = ω1 − ω2 = = =v
k1 k2 k
e usando a relação trigonométrica cos(a)+cos(b) =
ou seja, as ondas que se superpõem (y1 e y2 ) e a
2 cos a+b cos a−b
 
2 2 , a onda resultante será dada onda resultante (y 0 ) viajam na direção x positiva
por:
com a mesma velocidade de fase.
 
∆k ∆w
y 0 (x, t) = 2A cos

x− t cos kx − ωt • Nos casos em que a frequência ω é uma função
2 2
linear de k, como é o caso das ondas que se pro-
que pode ser escrita como: pagam em uma corda (ω = kv), e fácil provar
a partir da definição da velocidade de grupo que
y 0 (x, t) = A(x, t) cos kx − ωt

(37) vg = v. Em resumo, em uma corda homogênea as
velocidades de fase e grupo são iguais.6
onde
6
Há no entanto casos em que a velocidade de fase depende do
comprimento de onda, de modo que
 
∆k ∆w
A(x, t) = 2A cos x− t
2 2 ω = kvφ (k)

Euzi C. F. da Silva - Física 2 - Poli/2020 21


• As ondas componentes que se superpõem formam 7.2 Ondas em sentidos opostos (estaci-
uma espécie de pacote ou grupo contido entre os onárias)
nodos da envoltória A(x, t), o que justifica o nome
de velocidade de grupo dado à propagação da en-
• Vamos considerar agora uma corda vibrante per-
voltória.
corrida por duas ondas progressivas, de mesma
• Como as variações espacial e temporal da ampli- amplitude e de constantes de fase δ1 = δ2 = 0 (por
tude da onda resultante y 0 (x, t) são expressas pela simplicidade) propagando-se em sentidos opos-
função A(x, t), a velocidade de grupo pode ser cha- tos:
mada de velocidade de propagação da ampli-
y1 (x, t) = A sin(kx − ωt)
tude da onda resultante.
y2 (x, t) = A sin(kx + ωt)
• Como a energia de uma onda é proporcional ao
quadrado da amplitude, entendemos por que a ve- É trivial mostrar usando a identidade trigonomé-
trica sin a + sin b = 2 sin 21 (a + b) cos 12 (a − b)
   
locidade de propagação da energia é a velocidade
de grupo e não a de fase. A Fig. 24 ilustra os que a soma é reduzida à:
conceitos que acabamos de explicar, no caso par-
y 0 (x, t) = [2A sin(kx)] cos(ωt). (38)
ticular de velocidades de fase e de grupo iguais.

• Note que a eq. (38) não contém uma função de


(kx − ωt) !!! que descreve uma onda progressiva.
Portanto, não é uma onda progressiva. Quando
você observa uma onda estacionária, o sentido do
movimento não é na direção de propagação de
qualquer uma das ondas originais.

• A equação (38) representa uma onda resultante


que não se propaga e, por esse motivo, é chamada
de onda estacionária. Na Fig. 25 mostramos o
perfil de uma corda em diversos instantes.
Fig. 24 - Onda resultante e sua envoltória. O batimento é ob-
tido pela superposição de ondas em fase e de mesma amplitude.
O ponto A move-se com a velocidade de fase e o ponto B com
velocidade de grupo. Em meios não dispersivos, os dois pontos • Cada elemento do meio oscila com a mesma
movem-se com a mesma velocidade, vφ = vg = v.
frequência angular ω (dado pelo fator cos ωt na
equação). No entanto a amplitude depende da
posição x do elemento da corda [dado pelo fator
2A sin(kx)].

resultando em uma velocidade de grupo


• Note que não há um sentido de propagação da
dω vφ
vg = = vφ + k 6 vg
= onda ao longo da corda como havia no caso do
dk dk
pulso. Você só vê o movimento para cima e para
Quando isso ocorre, temos o fenômeno de dispersão. É o caso de
ondas eletromagnéticas em meios materiais. baixo dos elementos do fio.

Euzi C. F. da Silva - Física 2 - Poli/2020 22


ocorrem esses deslocamentos máximos são chama-
dos de antinodos, que estão localizados nas po-
sições onde a coordenada x satisfaz a condição
sin(kx) = ±1, isto é, quando:

π 3π 5π
kx = , , , .....
2 2 2

Fig. 25 - Em (a) e (b), cinco instantâneos de duas ondas iguais • Portanto, as posições dos antinodos são dadas por:
se propagando em sentidos opostos. Em (c) a onda resultante.
Alguns pontos permanecem parados (nós) e outros sofrem gran-
des deslocamentos (antinodos). Nos intantes t = 0, t = T /2 λ 3λ 5λ nλ
e t = T a interferência é construtiva. Nos intantes t = T /4, x= , , , ... = , n = 1, 3, 5, ...
t = 3T /4 a interferência é destrutiva. 4 4 4 4

• Observe que

– A distância entre antinodos adjacentes é igual


a λ/2.
– A distância entre nodos adjacentes é igual a
λ/2.
– A distância entre um nodo e um antinodos
adjacente é igual a λ/4.
Fig. 26 - Fotografia multiflash de uma onda estacionária em
uma corda. O deslocamento de um elemento da corda no tempo
a partir da posição de equilíbrio é dado por cos(ωt), isto é, o
elemento vibra com a frequência angular ω.
8 Ondas Sonoras
• Na onda estacionária, a amplitude é zero para
um elemento da corda quando satisfaz a condição • Nesta seção, vamos colocar nossa atenção sobre
sin kx = 0, ou seja, quando: as ondas sonoras, que se propagam através de
qualquer material, mas são mais comumente co-
kx = 0, π, 2π, 3π, ......
nhecidas como ondas mecânicas que se propagam
através do ar e que resultam na percepção humana
Como k = 2π/λ, esses valores para kx resultam
da audição.
em:

λ 3λ nλ • Para entender os conceitos físicos envolvidos na


x = 0, , λ, ..... = n = 0, 1, 2, propagação do som, vamos particularizar nossos
2 2 2
estudos para ondas sonoras se propagando em uma
• Esses pontos de amplitude zero são chamados no- única direção. No entanto, é preciso ter em mente
dos. que o som se propaga em três dimensões (em todas
as direções do espaço).
• Os elementos da corda com o maior deslocamento
a partir da posição de equilíbrio tem uma am- • As ondas sonoras são divididas em 3 grandes ca-
plitude 2A, que definimos como a amplitude da tegorias que abrangem faixas de frequências dife-
onda estacionária. As posições da corda onde rentes:

Euzi C. F. da Silva - Física 2 - Poli/2020 23


1. Ondas audíveis se encontram dentro da são no ouvido. O valor da intensidade sonora em
faixa de sensibilidade do ouvido humano. As que isso acontece é denominado limiar da dor.
ondas mecânicas que se propagam no ar com Esse limiar da dor (assim como o limiar da audi-
frequências de 20 até 20.000 Hz são aquelas ção) também depende da frequência do som.
percebidas pelo ouvido humano.
2. Ondas infrassônicas têm frequências 8.1 Variações de pressão em ondas so-
abaixo da faixa audível. Os elefantes podem noras
usá-las para se comunicar uns com os outros,
mesmo quando estão separados por muitos • Começaremos nossos estudos descrevendo por in-
kilômetros. termédio de figuras, o movimento de um pulso
3. Ondas ultrassônicas possuem frequências de som unidimensional longitudinal que se desloca
acima do audível. Por exemplo, um apito "si- através de um longo tubo contendo um gás com-
lencioso" para chamar cães. Cães ouvem fa- pressível, como mostrado na Fig. 27.
cilmente o som ultrassônico emitido por esse
apito, embora ele não possa ser detectado pe-
los seres humanos. Ondas ultrassônicas são
também usadas em imagens médicas.

• Denominamos espectro sonoro o conjunto de to-


das as ondas que compõem os sons audíveis e não
audíveis pelo ser humano. Se o som contém todas
as frequências em um dado intervalo de frequên-
cias f e (f +∆f ), o espectro é denominado espec-
tro contínuo. Se o som é constituido de algumas
frequências específicas f1 , f2 , f3 , etc., então é ele é
denominado espectro discreto ou espectro de Fig. 27 - No lado esquerdo o movimento de um pulso através de
linhas. um gás compressível. A compressão (região escura) é produzida
pelo movimento do pistão. No lado direito uma onda longitu-
dinal através de um tubo cheio de gás. A fonte da onda é um
• A intensidade do som é o valor médio da densidade pistão oscilante.

de energia carregada pela onda sonora. Para ser


• Pode-se produzir uma onda sonora períodica uni-
audível, a intensidade deve ter um valor mínimo
dimensional no tubo de gás fazendo que o pistão
denominado limiar de audição. Este limiar de-
se mova em movimento harmônico simples. As re-
pende de pessoa para pessoa e da frequência do
giões mais escuras na Fig. 27 representam regiões
som. O ouvido humano é mais sensível na faixa
onde o gás é comprimido e a densidade e a pressão
de frequências de 1000 a 4000 Hz. Neste intervalo
do gás estão acima de seu valor de equilíbrio. A
de frequências, o limiar de audição é da ordem de
região comprimida é formada quando o pistão é
10−12 W/m2 .
empurrado para dentro do tubo. Essa região com-
• Para intensidades no intervalo de 1 a 10 W/m2 , a primida, chamada compressão, propaga-se atra-
onda sonora não é mais percebida pelo ouvido hu- vés do tubo, continuamente comprimindo a região
mano e produz apenas a sensação de dor ou pres- em sua frente.

Euzi C. F. da Silva - Física 2 - Poli/2020 24


• Quando o pistão é puxado para trás, o gás à sua o período T de uma onda longitudinal são defini-
frente se expande e a pressão e a densidade, nessa dos do mesmo modo e obedecem as mesmas rela-
região, caem abaixo de seu valor que equilíbrio (re- ções que para uma onda transversal, exceto pelo
presentado por regiões mais claras na Fig. 27). fato de que agora λ é a distância (na direção de
Essas regiões de baixa pressão, são chamadas ra- propagação) para o qual o padrão de compressões
refações e expansões associado à onda começa a se repetir.

• Ambas as regiões (rarefações e compressões) se


movem com uma velocidade igual à do som no
meio.

• Enquanto o pistão oscila para frente e para trás • A variação na pressão do gás ∆p medida a partir
de uma maneira senoidal, regiões de compressão e do valor de equilíbrio também é senoidal, com o
rarefação são continuamente criadas. A distância mesmo número de onda e frequência angular que
entre duas compressões sucessivas (ou duas rare- para o deslocamento na eq. (39). Portanto, pode-
fações sucessivas) é igual ao comprimento de onda mos escrever como:
λ da onda sonora. À medida que essas regiões se
deslocam ao longo do tubo, qualquer pequeno ele- ∆p(x, t) = ∆pm sin(kx − ωt) (40)
mento do meio se desloca em movimento harmô-
nico simples paralelo à direção da onda. onde a amplitude da pressão ∆pm é a máxima
pressão em relação ao valor de equilíbrio. A eq.
• Se s(x, t) é o deslocamento de um pequeno ele- (40) representa a onda de pressão.
mento de ar em relação à sua posição de equilí-
brio, podemos expressar esta função deslocamento
como:
s(x, t) = sm cos(kx − ωt) (39)

onde sm é o deslocamento máximo do elemento • Pode-se mostrar que a amplitude da pressão é pro-
de ar a partir da posição de equilíbrio, chamado porcional à de deslocamento sm :
amplitude do deslocamento. Observe que o
∆pm = ρvωsm (41)
deslocamento é ao longo do eixo x, na direção de
propagação da onda sonora.
onde ρ é a densidade do meio, v a velocidade da
• A eq. (39) representa a onda de deslocamento, onda e ωsm é a velocidade longitudinal máxima de
onde k é o número de onda e ω a frequência angular um elemento do meio.
do pistão!

• Usamos s(x, t) aqui, em vez de y(x, t), porque o


deslocamento dos elementos no meio não é per-
pendicular à direção x.
• São essas variações de pressão em uma onda
• O número de onda k, a frequência angular ω, a sonora que resultam em uma força oscilando
frequência f , o comprimento λ, a velocidade v e e no tímpano, levando à sensação de audição.

Euzi C. F. da Silva - Física 2 - Poli/2020 25


• Observe que temos expressado o deslocamento • onde B é o módulo de elasticidade volumétrico.
por meio de uma função cosseno e a pressão Substituindo Vi e ∆V na expressão anterior:
por meio de uma função seno. Vamos justificar
A∆s
esta escolha. Considere mais uma vez, o con- ∆p = −B .
A∆x
junto tubo+pistão da Fig. 27. Considere a Fig.
• Deixemos a espessura do disco atingir zero, de
28(a) que mostra um pequeno elemento cilín-
modo que a razão ∆s/∆x se torne uma deri-
drico de gás não perturbado de comprimento
vada parcial,
∆x e área A dentro do tubo. O volume desse
elemento é Vi = A∆x. A Fig. 28(b) mostra ∂s
∆p = −B .
esse elemento do gás depois que uma onda so- ∂x
nora o moveu para uma nova posição. As duas
• Substituindo a função (39) na expressão ante-
faces planas do cilindro percorrem distâncias
rior teremos:
diferentes s1 e s2 . A mudança no volume ∆V
do elemento na nova posição é igual a A∆s ∂ [smax cos(kx − ωt)]
∆p = −B
∂x
onde ∆s = s2 − s1 .
= Bksm sin(kx − ωt)
• A partir da definição de módulo volumétrico,
expressamos a variação da pressão no elemento onde definimos ∆pm = Bksm . Verificamos,
de gás em função de sua variação em volume:a portanto, que a onda de pressão está 90◦ fora de
fase com a onda de deslocamento. A amplitude
∆V da variação da pressão ainda pode ser escrita
∆p = −B . (42)
Vi
como ∆pm = Bksm = ρvωsm onde usamos que
v
k = ωe que a velocidade da onda sonora no
p
meio é dada por v = B/ρ.

Fig. 28 - Um elemento de gás: (a) não comprimido (b)


e comprimido. Os elementos s1 e s2 descrevem os desloca-
mento das extremidades do elemento a partir de suas posi-
ções de equilíbrio.

a ∆p
B é definido como B = − ∆V /V
onde ∆V /V é a
variação relativa de volume produzida por uma variação
de pressão. No SI, a unidade de B é o Pascal. Os sinais
de ∆p e ∆V são opostos: quando aumentamos a pressão
sobre um elemento (ou seja quando ∆p é positivo) o
volume diminui. Inclui-se o sinal negativo da definição
para que B seja um número positivo.

Euzi C. F. da Silva - Física 2 - Poli/2020 26


8.2 Velocidade escalar de ondas so- • Assim
X
noras I~ = F~ ∆t = (A∆p∆t)~i.

Vamos agora avaliar a velocidade do som em • Por outro lado, a variação da pressão ∆p está re-
um gás. lacionada com a mudança de volume e com a ve-
Gás não perturbado
locidade v e vx através da relação (42):
pA î -pA î
∆V (−vx A∆t) vx
∆p = −B = −B =B
Vi vA∆t v
vD
t
Gás
comprimido • Com isso o impulso torna-se
h  v  i
x
(p+D
p)A î
vx î -pA î I~ = A B ∆t ~i. (43)
v
vx Dt
Gás não perturbado • A variação do momento linear ∆P~ do elemento do
gás de massa m é dada por:
Fig. 29 - Elemento do gás (a) em equilíbrio e (b) com-
primido.

∆P~ = m∆~v = ρ(Vi )(vx~i − 0) = [ρvx (vA∆t)]~i


• Na Fig. 29(a) um elemento do gás está em
(44)
equilíbrio sob a influência de forças de mó-
dulo igual. O módulo dessas forças é pA, • Usando o Teorema Impulso-Momento (I~ = ∆P~ )
onde p é a pressão do gás e A, a área da podemos esvrever:
seção transversal do tubo.  vx 
(ρvx vA∆t)~i = AB ∆t ~i.
• A Fig. 29(b) mostra a situação após um in- v
tervalo de tempo ∆t durante o qual o pistão que se reduz a uma expressão para a velocidade do
se move para a direita com uma velocidade som em um gás
vx devido à força da esquerda no pistão que s
aumentou seu módulo para (p + ∆p)A. B
v= .
ρ
• O comprimento do elemento não perturbado
de gás é escolhido para ser v∆t, onde v é a É interessante comparar essa expressão com a
velocidade do som no gás e ∆t é o intervalo equação da velocidade de ondas transversais em
de tempo entre as duas configurações. As- p
uma corda (v = T /µ). Em ambos os casos, a
sim, no intervalo de tempo ∆t a onda sonora velocidade da onda depende de uma propriedade
só vai chegar à extremidade direita do ele- elástica do meio (módulo volumétrico B ou a ten-
mento cilíndrico de gás. O gás à direita do são das cordas T ) e de uma propriedade do meio
elemento não é perturbado uma vez que a (densidade de volume ρ ou densidade linear µ).
onda de som ainda não chegou nesta região.
• O movimento do pistão fornece um impulso
para o elemento do cilindro, que passa a
desloca-se com velocidade vx . O impulso é
fornecido pela força constante, devido ao au-
mento da pressão sobre o pistão.

Euzi C. F. da Silva - Física 2 - Poli/2020 27


8.2.1 Exercício 3 da onda sonora pela equação

- Determine a velocidade do som na água sabendo- 1


I = ρvω 2 s2m
se que um litro de água na temperatura ambiente 2
submetido a um acréscimo de pressão de 20 at-
• A itensidade sonora é uma grandeza que pode ser
mosferas tem seu volume reduzido em aproxima-
medida com um detector. O volume sonoro é uma
damente 0, 9 cm3 . Considere 1 atm ≈ 105 N/m2 .
grandeza subjetiva, que se refere ao modo como o
Solução 4 - Lembrando que 1 L = 1000 cm3 , te-
som é percebido por uma pessoa. As duas grande-
mos
∆V 0, 9 zas podem ser diferentes porque a percepção de-
− = = 9 × 10−4
V 1000 pende de fatores como a sensibilidade do sistema
Além disso, 20 atmosferas = 2 × 106 N/m2 de audição a sons de diferentes frequências.

∆p 2 × 106 • A amplitude do deslocamento no interior do ou-


B=− = = 2, 2 × 109 Pa
∆V /V 9 × 10−4 vido humano varia de cerda de 10−5 m para o som
mais alto tolerável, a cerca de 10−11 m para o som
Sabendo que a densidade da água na temperatura
mais fraco detectável, uma razão de 106 . Como a
ambiente é ρ0 = 103 kg/m3 temos
intensidade varia com o quadrado da amplitude,
s r
B 2, 2 × 109 a razão entre as intensidades nesses dois limites
v= = = 1493 m/s.
ρ0 103 do sistema auditivo humano é 1012 . Isso significa
que os seres humanos podem ouvir sons com uma
enorme faixa de intensidades.
8.3 Intensidade das ondas sonoras e ní-
vel sonoro • Para lidar com um intervalo tão grande de valores,
recorremos aos logaritmos. Considere a relação
• Quando estudamos ondas unidimensionais em cor- y = log x em que x e y são variáveis. Uma pro-
das (uma dimensão), definimos a intensidade de priedade dessa equação é que, se x é multiplicado
uma onda como igual à sua potência média. por 10, y aumenta de 1 unidade. Para verificar
Agora, que estamos tratando ondas que podem isso podemos escrever
propagar-se em mais de uma dimensão, vamos re-
definir a intensidade: a intensidade de uma onda y 0 = log(10x) = log 10 + log x = 1 + y
é igual à potencia média por unidade de área com
a qual a energia contida na onda atravessa a su- • Da mesma forma, quando multiplicamos x por
perfície ou é absorvida pela superfície: 1012 , y aumenta apenas 12 unidades, ou seja

P y 0 = log(1012 x) = log(1012 ) + log x = 12 + y.


I=
A

onde P é a taxa de tranferência da energia (potên- • Assim, em vez de falarmos da intensidade I de


cia) da onda sonora e A é a área que intercepta a uma onda sonora, é muito mais conveniente falar-
onda sonora. Podemos mostrar que (veja a página mos do nível sonoro β, definido pela expressão:
362 do 2◦ volume do Halliday) que a intensidade
está relacionada à amplitude do deslocamento sm β = 10(dB) log II0

Euzi C. F. da Silva - Física 2 - Poli/2020 28


A constante I0 é a intensidade de referência, con- 8.4.1 Ondas estacionárias e ressonância
siderada no limiar da audição (I0 = 10−12 W/m2 ), em cordas de violão
cujo valor foi escolhido porque está próximo do li-
mite inferior da faixa de audição humana. I é a • Considere uma corda de violão esticada entre duas
intensidade em W/m2 que corresponde ao nível presilhas. Suponha que produzimos uma onda se-
do som β, onde β é medido em decibéis (dB). noidal contínua de certa frequência que se propaga
para a direita. Quando chega na extremidade di-
• Nessa escala, o limiar da dor (I0 = 1, 00 W/m2 )
reita, a onda é refletida e começa a se propagar
corresponde a um nível de som
de volta para a esquerda. A onda que se propaga
2
/10−12 W/m2 ) para a esquerda encontra a onda que ainda se pro-
   
β = 10 log(1, 00 W/m
= 10 log(1012 ) = 120 dB, paga para a direita. As ondas se encontram e são
refletidas várias vezes. Desta forma, temos muitas
e o limiar da audição corresponde a um nível de ondas superpostas, que interferem entre si.
som
• Note que há uma condição limite para as ondas
β = 10 log(10−12 W/m2 /10−12 W/m2 )
   
na corda. Como as extremidades são fixas, elas
= 10 log(1) = 0 dB. devem necessariamente ter deslocamento zero, e,
então, são nodo por definição.
de modo que a intensidade de referência corres-
ponde a zero decibel. • Essa condição limite resulta no fato de a corda
ter um número de padrões naturais discretos de
• o valor de β aumenta uma unidade cada vez que a
oscilação, chamados modos normais, cada um
intensidade sonora aumenta uma ordem de gran-
com uma frequência característica que é facilmente
deza.
calculada.
• Assim, β = 40 significa uma intensidade 104 vezes
• Para isso, suponha que uma corda esteja presa en-
maior que a intensidade de referência.
tre duas presilhas separadas por uma distância L.
Para obter uma expressão para as frequências de
8.4 Fontes de sons musicais - sistemas
ressonância em uma corda de violão, vamos con-
com condições limite
siderar que deve existir um nó em cada presilha.
Nesta condição, uma onda estacionária pode ser
Quando ondas sonoras são combinadas em sis-
excitada em uma corda de comprimento L quando
temas com condições limite somente algumas
o comprimento da onda satisfaz a condição,
frequências permitidas podem existir, e dizemos
que as frequências sao quantificadas. Nesta seção, 2L
λn = , n = 1, 2, ....
usaremos a quantificação para entender o compor- n
tamento de alguns instrumentos musicais que são
onde o índice n se refere ao n−ésimo modo nor-
baseados em cordas e colunas de ar.
mal de oscilação. Esse modos são os possíveis. Os
modos reais, que são estimulados em uma corda,
serão discutidos brevemente. Algumas dessas on-
das estão representadas na Fig. 30.

Euzi C. F. da Silva - Física 2 - Poli/2020 29


está na faixa dos sons audíveis, é possível "ouvir" a
forma da corda.
p
• Como v = T /µ para ondas em uma corda, onde
T é a tensão na corda e µ é a sua densidade
de massa linear, também podemos expressar as
frequências naturais de uma corda esticada como:

Fig. 30 - Os modos normais de vibração de uma corda de


s
comprimento L, com ambas as extremidades fixas. n T
fn = n = 1, 2, ....
2L µ
• As frequências naturais que correspondem a es-
ses comprimentos de onda são obtidos da relação • Vamos examinar com mais detalhe como os diver-
f = v/λ, onde a velocidade de onda v é a mesma sos harmônicos são criados em uma corda. Para
para todas as frequências. Portanto, as frequên- estimular um único harmônico, a corda deveria ser
cias naturais são: distorcida até um formato que corresponda àquela
do harmônico desejado. Após ser liberada, a corda
v v
fn = = n , n = 1, 2, .... deveria vibrar na frequência daquele harmônico.
λ 2L
No entanto, essa manobra é de difícil execução, e
• A frequência mais baixa f1 , que corresponde a não é como a corda de um instrumento musical é
n = 1, é chamda de fundamental, ou frequên- estimulada.
cia fundamental, ou primeiro harmônico, e é
• Se a corda é distorcida em um formato geral não
dada por:
senoidal, a vibração resultante inclui uma combi-
s
1 T
f1 = nação de vários harmônicos. Tal distorção ocorre
2L µ
em instrumentos musicais quando a corda é tocada
• O segundo harmônico é o modo de oscilação com (como na guitarra), passa por um arco (como no
n = 2, o terceiro harmônico é o modo com n = 3, violino) ou golpeada (como no piano). Quando
e assim por diante. a corda é distorcida em um formato não senoi-
dal, somente ondas que satisfazem as condições
• As frequências associadas a esses modos costumam
limite podem persistir na corda. Essas ondas são
ser chamadas de f1 , f2 , f3 , e assim por diante.
os harmônicos.
• Observe que as frequências dos normais para n > 1
• A frequência de uma corda que define a nota mu-
são múltiplos inteiros da frequência fundamental,
sical que ela toca é aquela da fundamental, mesmo
isto é, fn = nf1 .
que outros harmônicos estejam presentes.
• O conjunto de todos os modos de oscilação é cha-
• A frequência da corda pode ser variada mudando-
mado de série harmônica e n é chamado de nú-
se a tensão da corda ou o seu comprimento.
mero harmônico do n-ésimo harmônico.

• Para uma dada corda submetida a uma dada tra-


ção, cada frequência de ressonância corresponde a
um padrão de oscilação diferente. Se a frequência

Euzi C. F. da Silva - Física 2 - Poli/2020 30


8.4.2 Ondas estacionárias em colunas de ar vibrando com frequência desconhecida é colcado
perto do tubo verticalmente. As ondas sonoras ge-
radas pelo diapasão são reforçadas quando L cor-
responde a uma das frequências de ressonância do
tubo. Para o tubo, o menor valor de L para o qual
um pico ocorre na intensidade do som é 9, 0 cm.
Determine a frequência do diapasão.

• Solução: As ondas sonoras do diapasão entram na


extremidade superior de um tubo. Embora o tubo
seja aberto em sua extremidade inferior para per-
mitir a entrada de àgua, a superfície da água age
como uma barreira. As ondas refletem a partir da
superfície da água e se combinam com as ondas
que se movem para baixo a fim de formar uma
onda estacionária.
Fig. 31 - Representações gráficas do movimento dos elementos
de ar em ondas estacionárias longitudinais em (a) uma coluna • Por causa da reflexão das ondas sonoras a partir
aberta nas duas extremidades e (b) uma coluna fechada em uma
extremidade. da superfíci2 da água, podemos modelar o tubo
como estando aberto na extremnidade superior,
• Em um tubo aberto nas duas extremidades, a e fechado na extremidade inferior. Portanto, po-
frequências naturais de oscilação formam uma sé- demos aplicar as ondas sob modelo de condições
rie harmônica que inclui todos os números inteiros limites a esta situação e obtemos:
múltiplos da frequência fundamental.
v 343 m/s
f1 = = = 953 Hz.
v 4L 4(0, 090 m)
fn = n 2L n = 1, 2, 3, ...
Como o diapasão faz a coluna de ar ressoar nessa
onde v é velocidade do som no ar.
frequência, ela deve ser aquela do diapasão.

• Em um tubo fechado em uma extremidade, as


frequências naturais de oscilação formam uma sé-
rie harmônica que só inclui os números ímpares
inteiros da frequência fundamental.

v
fn = n 4L n = 1, 3, 5, ...

• Um aparelho simples para demonstrar a ressonân-


cia em uma coluna de ar é mostrado na Fig. 33.
Um tubo vertical aberto nas duas extremidade Fig. 31 - (a) Diapasão estimulando diferentes modos normais
de vibração sonora em uma coluna de ar. O comprimento L da
coluna de ar é variado movendo o tubo verticalmente, enquanto
é parcilaente submerso em água, e um diapasão está parcialmente submeso na água. O três primeiros modos
normais do sistema mostrado em (a).

Euzi C. F. da Silva - Física 2 - Poli/2020 31


8.4.3 Batimentos: interferência no tempo que pode ser reescrita como

Os fenômenos de interferência estudados até agora y 0 (t) = A(t) cos ωm t


envolvem a superposição de duas ou mais ondas
com a mesma frequência. Como a amplitude da onde
ω1 + ω2
oscilação de elementos no meio varia com a posi- ωm =
2
ção no espaço do elemento em uma dessas ondas,
e  
referimo-nos aos fenômenos como interferência es- ω1 − ω2
A(t) = 2A cos t
pacial. 2

• Vamos considerar agora quando as duas ondas são • A amplitude A(t) varia lentamente em confronto
observadas em um ponto "fixo" no espaço. Neste com o fator oscilatório cos ωm t. O período TA de
caso será observado o fenômeno de interferência oscilação da amplitude A(t) é:
no tempo ou interferência temporal. Como con-

sequência, o som ouvido terá amplitude periodica- TA = .
(ω1 − ω2 ) /2
mente variável. Esse fenômeno é chamado bati-
mento. A oscilação resultante tem amplitude máxima
quando A(t) = +2A e também quando A(t) =
−2A; a duração entre máximos consecutivos da
Batimento é a variação periódica da amplitude em amplitude é o período dos batimentos:
certo ponto por causa da superposição de duas ondas
1 2π
com frequências levemente diferentes. Tbat = TA = ⇒
2 ω1 − ω2
• Vamos considerar duas ondas de igual amplitude 1 ω1 − ω2
= ⇒
e frequências angulares ligeiramente diferentes ω1 Tbat 2π
e ω2 propagando-se em fase por um meio. Va- fbat = f1 − f2
mos considerar a superposição dessas ondas em
um ponto do espaço, por exemplo, x = 0. Neste onde f1 (ω1 = 2πf1 ) e f2 (ω2 = 2πf2 ) são as
caso as ondas serão dadas por: frequências das ondas individuais.

y1 (x, t) = A cos(ω1 t)
y2 (x, t) = A cos(ω2 t)

• Adimitindo que ω1 > ω2 e usando o princípio


da superposição, a função de onda resultante será
dada por:

y 0 =y1 + y2 = A [cos(ω1 t) + cos(ω2 t)]


   
ω1 − ω2 ω1 + ω2
=2A cos ( )t · cos ( )t
2 2

ω1 + ω2
 •
=A(t) cos t Fig. 32 - Fatores na representação de batimentos.
2

Euzi C. F. da Silva - Física 2 - Poli/2020 32


Por exemplo, se um diapasão vibra a 438 Hz nada aos parâmetros da seguinte forma:
e um segundo a 442 Hz, a onda resultante da
ω λ
combinação tem frequência de 440 Hz (a nota v= = = λf.
k T
musical Lá) e uma frequência de batimento
de 4 Hz. Um ouvinte ouviria uma onda so- • Equação de uma onda progressiva: Qualquer
nora de 440 Hz passar por uma intensidade função da forma
máxima quatro vezes a cada segundo.
y(x, t) = f (kx ± ωt)

9 Resumo - Oscilações em cordas pode representar uma onda progressiva. O sinal


positivo se aplica às ondas que se propagam no
sentido negativo do eixo x, e o sinal negativo às
• Ondas transversais e longitudinais: As ondas ondas que se propagam no sentido positivo do eixo
mecânicas podem existir apenas em meios mate- x.
riais e são governadas pelas leis de Newton. As
ondas mecânicas transversais, como as que exis- • Velocidade de onda em uma corda esticada:
tem em uma corda esticada, são ondas nas quais as A velocidade em uma corda com tração T e den-
partículas do meio oscilam perpendicularmente à sidade linear de massa µ é dada por:
direção de propagação da onda. As ondas em que s
as partículas oscilam na direção de propagação da T
v= .
µ
onda são as chamadas ondas longitudinais.

• Ondas senoidais: Uma onda senoidal que se pro- • Potência: A potência média (taxa de transmissão
paga no sentido positivo de um eixo x pode ser de energia) de uma onda senoidal em uma corda
representada pela função esticada é dada por

1
y(x, t) = ym sin(kx − ωt) Pmed = µvω 2 ym
2
2

em que ym é a amplitude da onda, k é o número • Superposição de ondas: Quando duas ou mais


de onda, ω é a frequência angular e (kx − ωt) ondas se propagam no mesmo meio, o desloca-
é a fase. O comprimento de onda λ está rela- mento de uma partícula é a soma dos deslocamen-
cionado com k pela equação: tos que seriam provocados pelas ondas agindo se-
2π paradamente.
k= .
λ
• Interferência de ondas: A interferência de on-
O período T e a frequência f da onda estão
das senoidais se propagando em uma mesma corda,
relacionados a ω da seguinte forma:
no mesmo sentido, com a mesma amplitude ym e a
ω 1 mesma frequência angular ω (e portanto o mesmo
=f = .
2π T
comprimento de onda λ), mas que têm uma di-
Finalmente a velocidade v da onda está relacio- ferença de fase constante φ é uma única onda

Euzi C. F. da Silva - Física 2 - Poli/2020 33


com a mesma frequência:
 
0 1 1
y (x, t) = 2ym cos( φ) sin(kx − ωt + φ)
2 2

Se φ = 0, as ondas têm fases iguais e a interferência


é construtiva; se φ = π, as ondas têm fases opostas
e a interferência é destrutiva.

• Ondas estacionárias: São produzidas em uma


corda pela reflexão de ondas progressivas nas ex-
tremidades da corda. Se uma extremidade é
fixa, existe um nó nessa posição, o que limita
as frequências possíveis das ondas estacionárias
em uma corda. Cada frequência possível é uma
frequência de ressonância, e a onda correpondente
é um modo normal de oscilação.

• Para uma corda esticada, de comprimento L com


as duas extremidades fixas, as frequências de res-
sonância são dadas por:

v v
f= =n n = 1, 2, 3...
λ 2L

O modo de oscilação n = 1 é o chamado modo


fundamental ou primeiro harmônico, o modo
correspondente a n = 2 é o segundo harmônico,
e assim por diante.

Euzi C. F. da Silva - Física 2 - Poli/2020 34

Você também pode gostar