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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO


REGIONAL
DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA
PSICOLOGIA E PRODUÇÃO DE SUBJETIVIDADE

JHÉSSICA RODRIGUES BARROZO

PRODUÇÃO TEXTUAL

CAMPOS DOS GOYTACAZES


2022
Todos os encontros da disciplina de “Psicologia e Produção de Subjetividade”
trouxeram reflexões e temas importantes que tocam a esfera de produção de subjetividade,
a partir de apresentações de pesquisas e trabalhos. O tema que pretendo escrever sobre
diz respeito a adoção tardia em instituições de acolhimento, escolhido pela relevância do
assunto e também por tratar de algo pouco visto dentro da grade curricular do curso de
Psicologia. Além disso, o tema serviu de base para pensar em todos os preconceitos e
ideias disseminadas na mídia e no imaginário social em relação ao tema da adoção, pouco
debatido e muito desconhecido.
A pesquisa desenvolvida por Teresa Cristina de Souza Gomes e Lurdes Perez
Oberg, intitulada “Adoção tardia em instituições de acolhimento: construindo análises a
partir de uma experiência de estágio em Campos Dos Goytacazes”, tem como principal
objetivo a problematização da adoção tardia nas instituições, a partir da experiência em
uma unidade de acolhimento em Campos Dos Goytacazes. Primeiramente, elas trazem a
respeito de todo histórico de violência que crianças e adolescentes vivem nessas
instituições, principalmente em relação ao senso comum que as responsabiliza por
estarem ali e ressaltam comportamentos tidos como “Antissociais”.
A prática de adoção não possuía regulamentação e só passa a ser fomentada no
Brasil a partir do aumento da miséria e pobreza no período militar, e assim começam a
surgir alguns dispositivos. A legislação de adoção no Brasil foi sistematizada a partir de
1916 e só atendia quem não tinha filhos e idade acima de 50 anos. Foram feitas mudanças
significativas até que em 2009 cria-se a Nova Lei da Adoção (12.010/2009),
acrescentando novos dispositivos e agilizando os processos de adoção. E apesar de todas
as mudanças relatadas no trabalho, ainda sim há negligências em relação a crianças e
adolescentes mais velhos. E são justamente esses estigmas que dificultam todo o processo
de adoção tardia, somados ao medo de uma não adaptação e a crenças como:
personalidade já formada e todas as crenças do senso comum em relação a essas
crianças/adolescentes. A preferência de adoção é para bebês.
A pesquisa trata adoção tardia pelo viés da Proteção Social Especial, no Sistema
Único de Assistência Social (SUAS), marcando que a adoção não se trata de caridade,
mas sim direito e cidadania e política pública de proteção social. Além disso, o local onde
foi realizado a pesquisa foge à lógica das instituições totais, são abrigamentos residenciais
que possuem uma proposta de autogestão quanto a regras e rotinas, e ainda com espaço
para o lúdico. O que foi um ponto importante do trabalho, tendo em vista a falta de
informações do senso comum, servindo para desmistificar a ideia de um orfanato como é
tradicionalmente veiculado nas mídias e filmes.
O trabalho também traz toda parte teórica da importância da presença do psicólogo
nesses espaços, bem como a Psicologia Social pode contribuir nesse cenário da adoção
tardia, principalmente quando analisa as desigualdades econômicas e como isso atinge as
famílias, levando um aumento da fragilidade familiar e os vínculos afetivos mais
vulneráveis, de acordo com as autoras.
As autoras também tratam sobre como esse processo de adoção vai se dando,
desde o momento inicial do acolhimento até a adoção, o trabalho da equipe técnica e o
esforço em levar em conta a subjetividade de cada sujeito, bem como fazer esse sujeito
se sentir confortável e criar laços na casa de acolhimento. O que desmistifica preconceitos
em relação à adoção e mostra como há todo um processo por trás, um trabalho a ser feito
com a criança/adolescente e com a família que quer adota-lo.
Na pesquisa de campo, as autoras acompanharam também três casais que estavam
nesse processo de adoção, realizaram as entrevistas com objetivo de entender o desejo, a
motivação, bem como as expectativas e anseios em relação a esse processo. Ainda há
presente uma lógica de caridade e preconceitos em relação a adoção tardia e a burocracia
presente, mas os casais entrevistados mostraram também a presença e desejo de
construção de laços afetivos.
Ainda há muito desconhecimento acerca do tema da adoção e principalmente
adoção tardia, a pesquisa e apresentação na aula serviram para esclarecer alguns pontos e
abandonar toda a lógica de instituições totais, apesar de entender que essa lógica ainda
esteja em voga em alguns contextos. A discussão serve de analisador da nossa sociedade,
bem como atravessada por questões de raça, gênero e classe, direitos e cidadania. É de
extrema importância aumentar o debate sobre a adoção do Brasil e desmistificar os
trâmites burocráticos e do imaginário social.
REFERÊNCIAS
GOMES, Teresa Cristina de Sousa; OBERG, Lurdes Perez. ADOÇÃO TARDIA EM
INSTITUIÇÕES DE ACOLHIMENTO: CONSTRUINDO ANÁLISES A PARTIR DE
UMA EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO EM CAMPOS DOS
GOYTACAZES. POLÊM!CA, [S.l.], v. 18, n. 4, p. 132-151, set. 2019. ISSN 1676-0727.
Disponível em: <https://www.e-
publicacoes.uerj.br/index.php/polemica/article/view/45079>. Acesso em: 18 jul. 2022.
doi:https://doi.org/10.12957/polemica.2018.45079.

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