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POLITEISMO 773 POLÍTICA

indicar um silogismo multiplice ou composto, Ia O primeiro conceito foi exposto em Éti-


ou seja, uma cadeia de silogismos. Essa cadeia ca, de Aristóteles. A investigação em torno do
pode estar ordenada de tal modo que todo que deve ser o bem e o bem supremo, segun-
silogismo sirva de fundamento para o que o do Aristóteles, parece pertencer à ciência mais
segue e de conseqüência para o que o pre- importante e mais arquitetônica: "Essa ciência
cede. O silogismo da série que contém a ra- parece ser a política. Com efeito, ela determina
zão da premissa de um outro silogismo é quais são as ciências necessárias nas cidades,
chamado prossílogismo; o que contém a con- quais as que cada cidadão deve aprender, e até
seqüência de outro silogismo é chamado que ponto" (Et. nic. I, 2. 1094 a 26). Este con-
epissilogismo (v.). Toda concatenação cie ra- ceito da P. teve vida longa na tradição filosófi-
ciocínios, portanto, é constituída por prossi- ca. Hobbes, p. ex., dizia: "A P. e a ética, ou seja.
logismos e epissilogismos (WOLFI-, L.og., §§ 492- a ciência do justou do injusto, do equânimee
94; KANT, Logik, § 86; HAMILTON. Lectures 011 do iníquo, podem ser demonstradas a priori,
Logic, § 68; B. ERDMAIW, Logik, § 85). visto que nós mesmos fizemos os princípios
POLITEÍSMO (in. Polytheism; fr. Polythéis- pelos quais se pode julgar o que é justo e equâ-
rai* ai. Polytheism lis; it. Politeismo). (Sobre a nime, ou seus contrários, vale dizer, as causas
noção de P., v. DKUS, 3, a). O P. está liem longe da justiça, que são as leis ou as convenções"
de ser uma crença primitiva e grosseira, incon- (Dehom.. X. § 5). Neste sentido. Althusius dava
ciliável com a reflexão filosófica. Visto que já a seu tratado sobre o direito natural o título de
está presente na distinção entre divindade e Política methodice digesta (1603), e todas as
Deus, na realidade são politeístas muitas filoso- obras sobre direito natural foram consideradas
fias às vezes consideradas tipicamente mono- tratados de P. (v. DIRKITO).
teístas, como p. ex. a de Aristóteles. O P. foi às 2a O segundo significado do termo foi ex-
vezes explicitamente defendido por filósofos posto em Política de Aristóteles: "Está claro
modernos. Hume já observava, em História que existe uma ciência à qual cabe indagar
natural da religião (1757), que a passagem do qual deve ser a melhor constituição: qual a
P. para o monoteísmo não deriva da reflexão mais apta a satisfazer nossos ideais sempre que
filosófica, mas da necessidade humana de adular não haja impedimentos externos; e qual a que
a divindade para obter sua benevolência, e que se adapta às diversas condições em que possa
o monoteísmo é acompanhado muitas vezes ser posta em prática. Como é quase impossível
pela intolerância e pela perseguição, visto que que muitas pessoas possam realizar a melhor
o reconhecimento de um único objeto de de- forma de governo, o bom legislador e o bom
voção leva a considerar absurdo e ímpio o cul- político devem saber qual é a melhor forma de
to de outras divindades (lissay, II. pp. 335 ss.). governo em sentido absoluto e qual é a melhor
Na era moderna, a superioridade do P. foi res- forma cie governo em determinadas condições"
saltada por Kenouvier (Psycbologíe ratíonelle, (Pol., IV, 1, 1288 b 21). Neste sentido, segundo
1859, cap. 25) e James (A Pluralistic Universe, Aristóteles, a P. tem duas funções: líl descrever
1909), mas muitas outras doutrinas são poli- a forma de Estado ideal; 2a determinar a forma
teístas, inclusive a de Bergson. Max Weber con- do melhor Estado possível em relação a de-
siderou o P. como a luta entre os diversos valo- terminadas circunstâncias. Efetivamente, a P.
res ou as diversas esferas cie valores, entre os como teoria do Estado seguiu o caminho utópi-
quais o homem deve tomar posição, luta que co da descrição do Estado perfeito (segundo o
nunca termina com a vitória de um só valor. exemplo da Republicada Platão) ou o caminho
Neste sentido, o mundo da experiência nunca mais realista dos modos e dos instrumentos
chega ao monoteísmo, mas se detém no P. para melhorar a forma cio Estado, o que foi fei-
(Zwischen zwei Gesetze, 1916. em Gesammelte to pelo próprio Aristóteles numa parte de seu
Politische Schriften, pp. 60 ss.). tratado. As duas partes, todavia, nem sempre
POLÍTICA (gr. 7IOÀ.ITIKIÍ; lat. Política; in.
são facilmente distinguíveis e nem sempre fo-
Politics; fr. Politique, ai. Politik, it. Política). ram distintas. Quando, a partir de Hegel, o
Com esse nome toram designadas várias coi- Estado começou a ser considerado "o Deus
sas, mais precisamente: Ia a doutrina do direito real" (v. ESTADO) e o caráter da divindade do
e da moral; 2a a teoria do Estado: 3a a arte ou Estado foi aceito pela historiografia, a P., en-
a ciência do governo; 4a o estudo dos comporta- quanto teoria do Estado, pretendeu ter cará-
mentos intersubjetivos. ter descritivo e normativo ao mesmo tempo.
POLÍTICA POLITICISMO

Assim, Treitsehke esboçava a sua tarefa no se- apenas notar, em geral, que o bem do Estado
guinte sentido: "A tarefa da P. é tríplice: em tem um direito completamente diferente do
primeiro lugar deve investigar, através da bem do indivíduo, e que a substância ética, o
observação do mundo real dos Estados, qual é Estado, tem sua existência, seu direito, imedia-
o conceito fundamental de Estado; em segundo tamente numa existência concreta, e nào
lugar, deve indagar historicamente o que os po- abstrata, e que somente essa existência concre-
vos quiseram, produziram e conseguiram e por ta (e não uma das muitas proposições gerais.
que conseguiram na vida política: em tercei- consideradas como preceitos morais) pode ser
ro lugar, fazendo isto, consegue descobrir algu- o princípio de sua açào e de seu comportamen-
mas leis históricas e estabelecer os imperati- to. Aliás, a visão do suposto erro que sempre
vos morais" (Politik, 1897, intr.; trad. it., I, pp. deve ser atribuído à P. nesta suposta antítese
2-3). Como já na obra de Treitsehke, a P. como baseia-se na superficial idade das concepções
teoria do Estado muitas vezes foi teoria do de moralidade, de natureza do Estado e de
Estado como força, pois este é de fato o signifi- suas relações do ponto de vista moral" (EU. do
cado de qualquer divinização do Estado (v.). d ir.. § 557). Estas palavras de Hegel outra coisa
3P A P. como arte e ciência de governo é o nào são senão a reiteração do princípio do ma-
conceito que Platão expôs e defendeu em Po- quiavelismo. O que Hegel chama de existência
lítico, com o nome de "ciência regia" (PoL. do Estado outra coisa nào é senão a realidade
259 a-b), e que Aristóteles assumiu como ter- efetiva de Maquiavel. que a P. deveria sempre
ceira tarefa da ciência política. "Um terceiro ter presente. Apesar de Hegel ter declarado
ramo da investigação é aquele que considera superada a antítese entre P. e moral, o conflito
de que maneira surgiu um governo e de que entre as duas exigências ainda está vivo na
maneira, depois de surgir, pôde ser conservado prática política e na consciência comum, e as
durante o maior tempo possível" (Ibid., IV. 1, formas de equilíbrio, por elas alcançadas, ain-
1288 b 27). Foi este o conceito de P. cujo realis- da hoje são provisórias e instáveis.
mo cru Maquiavel acentuou com as palavras 4- Finalmente, o quarto significado de P.
famosas: "E muitos imaginaram repúblicas e começou a ser usado a partir de Comte, e identifi-
principados que nunca foram vistos nem co- ca-se com o de sociologia. Comte deu o nome
nhecidos como existentes. Porque é tanta a de Sistema de P. positiva (1851 -54) à sua obra
diferença entre como se vive e como se deveria máxima sobre sociologia, pois julgou que os
viver, que quem deixa o que faz pelo que de- fenômenos políticos, tanto em coexistência
veria fazer aprende mais a arruinar-se do que a quanto em sucessão, estão sujeitos a leis inva-
preservar-se, pois o homem que em tudo quei- riáveis, cujo uso pode permitir influenciar es-
ra professar-se bom é forçoso que se arruine ses mesmos fenômenos. Foi nesse sentido que
em meio a tantos que não são bons. Donde ser G. Mosca entendeu por P. a ciência da socieda-
necessário ao príncipe que, desejando conservar- de humana. Justificou esse termo da seguinte
se, aprenda a poder ser nào bom e a usar disso maneira: '•Chamamos de ciência política o estu-
ou não usar, segundo a necessidade" (Pri)ic, do das tendências acima mencionadas ["leis ou
XV). Neste sentido. Wolff definia a P. como "a tendências psicológicas constantes, às quais os
ciência de dirigir as ações livres na sociedade fenômenos sociais obedecem"! e escolhemos
civil ou no Estado" (Log., Disc, § 65). Esta é a essa denominação porque foi a primeira a ser
ciência ou a arte política à qual se faz referên- usada na história do saber humano, porque
cia mais freqüentemente no discurso comum. ainda nào caiu em desuso e também porque a
Referindo-se justamente a este conceito, Kant nova denominação sociologia, adotada depois
dizia: "Embora a máxima 'A honestidade é a de Auguste Comte por muitos escritores, ainda
melhor P.' implique uma teoria infelizmente nào tem significação bem determinada e preci-
desmentida com freqüência pela prática, a má- sa, compreendendo, no uso comum, todas as
xima igualmente teórica 'A honestidade é me- ciências sociais (Elementos de ciência política.
lhor que qualquer P.' 6 imune a objeçòes; aliás 1922, I, 1, § II). Mas neste sentido o termo hoje
é a condição indispensável da P." (Zum eicigen é impróprio.
Fríeden, Apêndice, I). Hegel. por outro lado,
dizia: "Já se discutiu muito sobre a antítese en- POLITICISMO (fr. Politisme, ai. Politismus.
tre moral e P. e sobre a exigência de a segunda it. Politicismo). A prevalência ou a excessiva
conformar-se à primeira. Sobre i.s.so cumpre importância que as exigências políticas às ve-
zes assumem na vida moderna, em detrimento

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