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Política - Nicola Abbagnano
Política - Nicola Abbagnano
Assim, Treitsehke esboçava a sua tarefa no se- apenas notar, em geral, que o bem do Estado
guinte sentido: "A tarefa da P. é tríplice: em tem um direito completamente diferente do
primeiro lugar deve investigar, através da bem do indivíduo, e que a substância ética, o
observação do mundo real dos Estados, qual é Estado, tem sua existência, seu direito, imedia-
o conceito fundamental de Estado; em segundo tamente numa existência concreta, e nào
lugar, deve indagar historicamente o que os po- abstrata, e que somente essa existência concre-
vos quiseram, produziram e conseguiram e por ta (e não uma das muitas proposições gerais.
que conseguiram na vida política: em tercei- consideradas como preceitos morais) pode ser
ro lugar, fazendo isto, consegue descobrir algu- o princípio de sua açào e de seu comportamen-
mas leis históricas e estabelecer os imperati- to. Aliás, a visão do suposto erro que sempre
vos morais" (Politik, 1897, intr.; trad. it., I, pp. deve ser atribuído à P. nesta suposta antítese
2-3). Como já na obra de Treitsehke, a P. como baseia-se na superficial idade das concepções
teoria do Estado muitas vezes foi teoria do de moralidade, de natureza do Estado e de
Estado como força, pois este é de fato o signifi- suas relações do ponto de vista moral" (EU. do
cado de qualquer divinização do Estado (v.). d ir.. § 557). Estas palavras de Hegel outra coisa
3P A P. como arte e ciência de governo é o nào são senão a reiteração do princípio do ma-
conceito que Platão expôs e defendeu em Po- quiavelismo. O que Hegel chama de existência
lítico, com o nome de "ciência regia" (PoL. do Estado outra coisa nào é senão a realidade
259 a-b), e que Aristóteles assumiu como ter- efetiva de Maquiavel. que a P. deveria sempre
ceira tarefa da ciência política. "Um terceiro ter presente. Apesar de Hegel ter declarado
ramo da investigação é aquele que considera superada a antítese entre P. e moral, o conflito
de que maneira surgiu um governo e de que entre as duas exigências ainda está vivo na
maneira, depois de surgir, pôde ser conservado prática política e na consciência comum, e as
durante o maior tempo possível" (Ibid., IV. 1, formas de equilíbrio, por elas alcançadas, ain-
1288 b 27). Foi este o conceito de P. cujo realis- da hoje são provisórias e instáveis.
mo cru Maquiavel acentuou com as palavras 4- Finalmente, o quarto significado de P.
famosas: "E muitos imaginaram repúblicas e começou a ser usado a partir de Comte, e identifi-
principados que nunca foram vistos nem co- ca-se com o de sociologia. Comte deu o nome
nhecidos como existentes. Porque é tanta a de Sistema de P. positiva (1851 -54) à sua obra
diferença entre como se vive e como se deveria máxima sobre sociologia, pois julgou que os
viver, que quem deixa o que faz pelo que de- fenômenos políticos, tanto em coexistência
veria fazer aprende mais a arruinar-se do que a quanto em sucessão, estão sujeitos a leis inva-
preservar-se, pois o homem que em tudo quei- riáveis, cujo uso pode permitir influenciar es-
ra professar-se bom é forçoso que se arruine ses mesmos fenômenos. Foi nesse sentido que
em meio a tantos que não são bons. Donde ser G. Mosca entendeu por P. a ciência da socieda-
necessário ao príncipe que, desejando conservar- de humana. Justificou esse termo da seguinte
se, aprenda a poder ser nào bom e a usar disso maneira: '•Chamamos de ciência política o estu-
ou não usar, segundo a necessidade" (Pri)ic, do das tendências acima mencionadas ["leis ou
XV). Neste sentido. Wolff definia a P. como "a tendências psicológicas constantes, às quais os
ciência de dirigir as ações livres na sociedade fenômenos sociais obedecem"! e escolhemos
civil ou no Estado" (Log., Disc, § 65). Esta é a essa denominação porque foi a primeira a ser
ciência ou a arte política à qual se faz referên- usada na história do saber humano, porque
cia mais freqüentemente no discurso comum. ainda nào caiu em desuso e também porque a
Referindo-se justamente a este conceito, Kant nova denominação sociologia, adotada depois
dizia: "Embora a máxima 'A honestidade é a de Auguste Comte por muitos escritores, ainda
melhor P.' implique uma teoria infelizmente nào tem significação bem determinada e preci-
desmentida com freqüência pela prática, a má- sa, compreendendo, no uso comum, todas as
xima igualmente teórica 'A honestidade é me- ciências sociais (Elementos de ciência política.
lhor que qualquer P.' 6 imune a objeçòes; aliás 1922, I, 1, § II). Mas neste sentido o termo hoje
é a condição indispensável da P." (Zum eicigen é impróprio.
Fríeden, Apêndice, I). Hegel. por outro lado,
dizia: "Já se discutiu muito sobre a antítese en- POLITICISMO (fr. Politisme, ai. Politismus.
tre moral e P. e sobre a exigência de a segunda it. Politicismo). A prevalência ou a excessiva
conformar-se à primeira. Sobre i.s.so cumpre importância que as exigências políticas às ve-
zes assumem na vida moderna, em detrimento