Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
do Bângala, localizado em Salvador. Meu nome de batismo é Luís Gonzaga Pinto da Gama porém
sou mais conhecido como Luís Gama. Minha mãe, Luiza Mahin, era uma mulher guerreira,
lutadora, revolucionária e escrava livre, foi uma das líderes da revolta do Malês em 1835 e da
Sabinada em 1837, consequentemente, teve que fugir para o Rio de Janeiro, me deixando aos
cuidados do meu pai, um fidalgo de origem portuguesa cujo qual nuca citei o nome.
Em 1840, quando tinha apenas 10 anos, fui vendido como escravo pelo meu pai e levado em
um navio para o Rio de Janeiro. Muito sofrimento presenciei nesta viajem, não conhecia nenhum
homem ou mulher que lá estava, mas entendia a dor pela qual todos nós estávamos passando.
Chegando no destino, eu e muitos outros fomos para a casa de um cerieiro português, de nome
Vieira, dono de uma loja de velas que recebia escravos da Bahia. A senhora Vieira e suas filhas
sempre me trataram muito bem, sou muito grato a elas por todo amor e carinho que recebi por
alguns dias de minha vida.
Em dezembro de 1840 fui vendido ao negociante Antônio Pereira Cardoso. Este revendia os
escravos que comprava, e eu pelo simples fato de ser baiano fui muito atacado. Os preconceitos que
me norteavam não eram só raciais, minha origem também era fator de discriminação. Voltei para a
fazenda do Sr. Cardoso no município de Limeira, onde aprendi a ser copeiro, sapateiro, a lavar,
engomar roupa e costurar. Durante esse tempo refleti muito sobre os direitos que eu deveria exercer
como “cidadão” brasileiro, eu era muito novo mas entendia a sociedade desigual e elitista em que
vivia. Percebi então, que queria fazer a diferença e lutar para mudar tal situação, assim como minha
mãe, que sempre esteve ativa nas questões da libertação dos escravos.
Quando completei 17 anos conheci um grande amigo meu, Antônio Rodrigues do Prado,
filho do Sr. Cardoso. Ficou como hóspede na casa do pai durante um tempo e me ensinou a ler e
escrever. E graças a essa conquista em 1847 consegui secretamente minha alforria na Justiça e fugi
da fazenda em que me encontrava. Alistei-me como praça e servi até 1854, foram seis anos e
durante esse tempo cheguei a cabo de esquadra graduado, porém fui acusado de insubordinação
após enfrentar um oficial ofensivo. Fiquei preso por 39 dias, de 1º de julho a 9 de agosto. Foi muito
difícil suportar a prisão e os horrores que aconteciam lá mas eu acho que esse fato foi crucial para
minha trajetória de advogado, abolicionista e republicano, sempre busquei criticar em minhas obras
o abuso das prerrogativas de autoridades municipais, juízes e delegados. Quando voltei a minha
tarimba e narrei tudo o que vivi aos meus colegas muitos se identificaram e percebi que não fui o
único a sofrer atrocidades exilado.