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O advogado dos escravos

Livro conta a trajetória de Luiz Gonzaga Pinto da Gama

Não dá para passar pela história da advocacia sem conhecer a trajetória de um dos
advogados mais altruísta dos tempos do Império. Em “O advogado dos escravos”,
Editora Lettera.doc, o autor Nelson Câmara apresenta os caminhos traçados por Luiz
Gonzaga Pinto da Gama em defesa dos negros.

Nascido em Salvador (BA), em 1930, filho de fidalgo português e uma escrava, foi
vendido pelo próprio pai aos dez anos de idade. Libertado aos 17, estudou Direito e
exerceu a advocacia mesmo sem diploma de bacharel.

Luiz Gama tornou-se advogado dos negros. Atuava gratuitamente e conseguiu


libertar mais de 500 escravos com base na lei em vigor à época, a do Império. Foi
também político, poeta e jornalista.

Para a construção da obra, o autor Nelson Câmara, que é advogado trabalhista, fez
ampla pesquisa no acervo do Tribunal de Justiça, de onde coletou imenso material.

As peças judiciais reproduzidas têm comentários jurídicos de Câmara.

(OAB)

Quem foi Luiz Gama?

Luiz Gonzaga Pinto da Gama nasceu no dia 21 de junho de 1830, no estado da Bahia.


Era filho de um fidalgo português e de Luiza Mahin, negra livre que participou de
diversas insurreições de escravos.

Em 1840 foi vendido como escravo pelo pai para pagar uma dívida de jogo.
Transportado para o Rio de Janeiro, foi comprado pelo alferes Antônio Pereira
Cardoso e passou por diversas cidades de São Paulo até ser levado ao município de
Lorena.

Em 1847, quando tinha dezessete anos, Luiz Gama foi alfabetizado pelo


estudante Antônio Rodrigues de Araújo, que havia se hospedado na fazenda
de Antônio Pereira Cardoso. Aos dezoito anos fugiu para São Paulo.

Em 1848 alistou-se na Força Pública da Província ou Corpo de Força da Linha de São


Paulo, entidade na qual se graduou cabo e permaneceu até o ano de 1854 quando
deu baixa por um incidente que ele classificou como “suposta insubordinação”, já
que apenas se limitara a responder insulto de um oficial.
Em 1850 casou-se e tentou freqüentar o Curso de Direito do Largo do São Francisco –
hoje denominada Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Por ser negro,
enfrentou a hostilidade de professores e alunos, mas persistiu como ouvinte das
aulas. Não concluiu o curso, mas o conhecimento adquirido permitiu que atuasse na
defesa jurídica de negros escravos

Na década de 1860 destacou-se como jornalista e colaborador de diversos periódicos


progressistas. Projetou-se na literatura em função de seus poemas, nos quais
satirizava a aristocracia e os poderosos de seu tempo. Hoje, é reconhecido como um
dos grandes representantes da segunda geração do romantismo brasileiro, mas na
época enfrentou a oposição dos acadêmicos conservadores...

Luiz Gama foi um dos maiores líderes abolicionistas do Brasil. Sempre esteve


engajado nos movimentos contra a escravidão e a favor da liberdade dos negros. Em
1869, fundou com Rui Barbosa o Jornal Radical Paulistano. Em 1880 foi líder
da Mocidade Abolicionista e Republicana. Devido a sua luta a favor da libertação dos
escravos era hostilizado pelo Partido Conservador e chegou a ser demitido do cargo
de amanuense por motivos políticos.

Nos Tribunais, usando de sua oratória impecável e seus conhecimentos jurídicos,


conseguiu libertar mais de 500 escravos, algumas estimativas falam em 1000
escravos. As causas eram diversas, muitas envolviam negros que podiam pagar cartas
de alforria, mas eram impedidos pelos seus senhores de serem libertos, ou que
haviam entrado no território nacional após a proibição do tráfico negreiro em 1850.
Luiz Gama também ganhou notoriedade por defender que ao matar seu senhor, o
escravo agia em legítima defesa.

Faleceu em 24 de agosto de 1882 e foi sepultado no Cemitério da Consolação, na


presença de 3.000 pessoas numa São Paulo de 40.000 habitantes. O poeta Raul
Pompéia (1863-1895) imortalizou Luiz Gama e seus feitos escrevendo na ocasião:

" (...) não sei que grandeza admirava naquele advogado, a receber constantemente
em casa um mundo de gente faminta de liberdade, uns escravos humildes,
esfarrapados, implorando libertação, como quem pede esmola; outros mostrando as
mãos inflamadas e sangrentas das pancadas que lhes dera um bárbaro senhor;
outros... inúmeros. E Luís Gama os recebia a todos com a sua aspereza afável e
atraente; e a todos satisfazia, praticando as mas angélicas ações, por entre uma
saraivada de grossas pilhérias de velho sargento. Toda essa clientela miserável saía
satisfeita, levando este uma consolação, aquele uma promessa, outro a liberdade,
alguns um conselho fortificante. E Luís Gama fazia tudo: libertava, consolava, dava
conselhos, demandava, sacrificava-se, lutava, exauria-se no próprio ardor, como uma
candeia ilumi nando à custa da própria vida as trevas do desespero daquele povo de
infelizes, sem auferir uma sobra de lucro...E, por essa filosofia, empenhava-se de
corpo e alma, fazia-se matar pelo bom...Pobre, muito pobre, deixava para os outros
tudo o que lhe vinha das mãos de algum cliente mais abastado."

Instituto Luiz Gama

Após 133 anos de sua morte, Luiz Gama recebe título de advogado

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) homenageou na noite dessa terça-feira (3)
Luiz Gonzaga de Pinto Gama, reconhecendo-o como advogado. “Há 133 anos, faleceu
Luiz Gama e, após esse período, temos a oportunidade de reescrever a história. Ao
apóstolo negro da Abolição, pelos seus relevantes serviços prestados junto aos
tribunais na libertação dos escravos, a OAB Nacional e a OAB de São Paulo concedem
[a Luiz Gama] o título de advogado”, disse o presidente da OAB, Marcus Vinicius
Furtado Coelho, em cerimônia na Universidade Presbiteriana Macknzie, em São
Paulo.

O baiano Luiz Gama nasceu em 1830, filho de um português com Luiza Mahin, negra
livre que participou de insurreições de escravos. Gama foi para o Rio de Janeiro aos
10 anos após ser vendido pelo pai para pagar uma dívida. Sete anos depois, ele
conseguiu a libertação e se transformou em um dos maiores líderes abolicionistas.
Em 1869, ao lado de Rui Barbosa, fundou o jornal Radical Paulistano.

Em 1850, Gama tentou frequentar o curso da Faculdade de Direito do Largo do São


Francisco, hoje da Universidade de São Paulo (USP), mas foi impedido por ser negro.
Ele frequentou as aulas como ouvinte e o conhecimento adquirido permitiu que ele
atuasse na defesa jurídica de negros escravos.

Seu tataraneto, Benemar França, 68 anos, recebeu a homenagem em nome de Luiz


Gama. “Trata-se de uma reparação histórica e do reconhecimento da sua atuação
jurídica para a qual foi proibido de se graduar. Trata-se de uma justíssima
homenagem a quem tanto lutou pela liberdade, igualdade e respeito”, disse o
presidente da OAB.

O professor da Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie e


presidente do Instituto Luiz Gama, Silvio Luiz de Almeida, disse que a homenagem é
inédita “para alguém que recebe o título de advogado pós-morte não sendo formado
em direito”.

“Luiz Gama não é apenas importante para a história da comunidade negra brasileira,
é, também, para que entendamos dois movimentos fundamentais para a formação
social brasileira e entender para onde caminha o país. Ele está ligado tanto ao
movimento abolicionista, ou seja, a luta contra a escravidão, como à formação da
República”, explicou o professor. “Neste momento, resgatar a figura de Luiz Gama, é
resgatar também a esperança na construção de um país melhor, de um mundo mais
justo e também da luta antirracista”, acrescentou.

Para seu tataraneto, a homenagem “é um resgate ao trabalho que Luiz Gama fez na
sua luta para libertar escravos”. Ele disse que seu tataravô estudou por conta própria
em bibliotecas. Apesar de ser rejeitado pela Faculdade de Direito, segundo Benemar,
Luiz Gama “conseguiu ser rábula, ou seja, tinha um documento que o liberava para
trabalhar como advogado, só que sem diploma”. Nessa condição, ele libertou mais de
500 escravos, afirmou.

Favela

Etimologia

A origem do termo "favela" encontra-se no episódio histórico conhecido por Guerra


de Canudos. A cidadela de Canudos foi construída junto a alguns morros, entre eles o
Morro da Favela, assim batizado em virtude da planta Cnidoscolus quercifolius
(popularmente chamada de favela) que encobria a região. Alguns dos soldados que
foram para a guerra, ao regressarem ao Rio de Janeiro em 1897, deixaram de receber
o soldo, instalando-se em construções provisórias erigidas sobre o Morro da
Providência. O local passou então a ser designado popularmente Morro da Favela,
em referência à "favela" original. O nome favela ficou conhecido e na década de
1920, as habitações improvisadas, sem infraestrutura, que ocupavam os morros
passaram a ser chamadas de favelas.

O termo "aglomerado subnormal", antes conhecido como Zonas Especiais de


Interesse Social, passou a ser utilizado pelo IBGE desde 2010, para designar um
conjunto constituído por no mínimo 51 unidades habitacionais (barracos, casas, etc.),
ocupando ou tendo ocupado até período recente, terreno de propriedade alheia
(pública ou particular), dispostas, em geral, de forma desordenada e densa; carentes,
em sua maioria, de serviços públicos e essenciais.

De acordo com o IBGE, aglomerados subnormais podem se enquadrar, observados os


critérios de padrões de urbanização e/ou de precariedade de serviços públicos
essenciais, nas seguintes categorias: invasão, loteamento irregular ou clandestino, e
áreas invadidas e loteamentos irregulares e clandestinos regularizados em período
recente.
História

Em 1897, cerca de 20 mil soldados que haviam retornado ao Rio de Janeiro após a
Guerra de Canudos, na província oriental da Bahia, começaram a morar no já
habitado Morro da Providência. Durante o conflito, a tropa governista havia se
alojado na região próxima a um morro chamado "Favela", o nome de uma planta
resistente da família Euphorbiaceae, que causava irritação quando entrava em
contato com a pele humana e que era comum na região. A planta era da espécie
Cnidoscolus quercifolius, chamada de árvore "faveleira". Por ter abrigado pessoas que
haviam lutado naquele conflito, o Morro da Providência recebeu o apelido de "Morro
da Favela". O nome tornou-se popular e, a partir da década de 1920, os morros
cobertos por barracos e casebres passaram a ser chamados de favelas.

Wikipédia

Ideologia do branqueamento

No Brasil, o mestiço, dependendo do tom da sua pele, era classificado como quase-
branco, semibranco ou sub-branco, e tinha tratamento diferenciado do negro retinto,
porém nunca era classificado como quase-negro, seminegro ou sub-negro. Por isso, a
mestiçagem no Brasil sempre foi vista como o "clareamento" da população, e não
como o "enegrecimento" dela. A ideologia do branqueamento criou raízes profundas
na sociedade brasileira no início do século XX. Muitos negros assimilaram os
preconceitos, os valores sociais e morais dos brancos. Por isso, "desenvolveram um
terrível preconceito em relação às raízes da negritude". A recusa da herança africana
e o isolamento do convívio social com outros negros eram características desses
negros "branqueados socialmente". Para se tornarem "brasileiros", os negros tinham
que abdicar de sua ancestralidade africana e assumir os valores "positivos" dos
brancos, pois o próprio "abrasileiramento" passava por uma assimilação dos valores e
modos dos brancos. Nesse contexto, o racismo brasileiro é peculiar pois a própria
vítima do racismo assume o papel de seu próprio algoz, ao reproduzir o discurso
discriminatório do qual ela mesmo é vítima e ao interiorizar esses conceitos dentro
de sua própria comunidade.

Assim, muitos negros brasileiros cultuaram o padrão de beleza branco, associando os


traços africanos à fealdade e recorrendo a diversos métodos para "mascarar" suas
próprias características físicas, criando uma obsessão nas mulheres negras em alisar o
cabelo, estimulando a venda de produtos que prometiam "clarear a pele" e por meio
de métodos excêntricos de tentar se branquear, como na crença de que beber muito
leite daria esse resultado. Também por meio da assimilação dos valores morais e
sociais das classes dominantes, fazendo com que toda a característica cultural que
remetesse ao passado africano fosse considerada inferior e motivo de vergonha. Por
meio do branqueamento biológico, muitos negros optaram por se casar com
parceiros de pele mais clara, preferencialmente brancos. Quando o parceiro era
branco e rico, simbolizava uma melhoria dupla: de raça e de classe social. A procura
por parceiros de pele mais clara estava enraizada na mentalidade de muitos
membros da comunidade negra, inclusive por pais negros que compeliam seus filhos
a se casarem com pessoas de tom de pele mais claro, na esperança de que seus filhos
e netos se parecessem cada vez menos com a filiação afro-negra. Na mentalidade
dessas pessoas, quando o filho nascia mais claro que os pais, simbolizava uma vitória,
mas quando nascia mais escuro, uma derrota. Ter um filho de pele mais clara
simbolizava que ele teria menos chances de sofrer e mais oportunidades de vencer
na vida.

A ideologia do branqueamento no Brasil teve consequências nefastas, à medida que


parte da comunidade negra absorveu o branqueamento estético, biológico e social
como metas. A historiadora Angela Figueiredo chega mesmo a afirmar que no Brasil
"todos nós nascemos embranquecidos", pois há a predominância da cultura
"branca", "e só enegrecem ou se tornam negros ao longo dos anos os que optam por
incluir em suas vidas os aspectos identificados com a "cultura negra" e se tornam
curiosos em conhecer o seu passado".

Muito se comparou os negros americanos com os brasileiros, fazendo uma crítica que
a sociedade americana era marcada pelo ódio e segregação racial, enquanto que no
Brasil havia uma harmonia e paz entre as raças. Porém, enquanto nos Estados Unidos
o racismo estava escancarado e qualquer pessoa com uma gota de sangue africano
era excluída socialmente, favorecendo a união desses excluídos que lutavam pelos
seus direitos, no Brasil o racismo foi camuflado pela ideologia do branqueamento.
Para a pessoa tentar conseguir ascender socialmente ela tinha que passar por um
processo de "branqueamento" estético, biológico e social, criando um profundo
complexo de inferioridade na população brasileira e uma consequente negação de
qualquer elemento que remetesse à sua negritude.

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