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Prudência e tino,
Critério e siso;
Também vergonha,
Se for preciso:
E se esta dose
Lhe não bastar
Um bom cacete
Para o coçar21.
Atentem nisto!
A liberdade,
Sem piedade.
Eu vendo como Judas vendeu Cristo.26
O exemplo anterior foi extraído de um dos textos até agora inéditos que se
poderá ler aqui. Obviamente, as condições para se identificar relações
(temáticas, intertextuais) existentes entre os diversos escritos de Luiz Gama
dependem não só do conhecimento ampliado como da possibilidade de
cotejá-los, preocupação que nos perseguiu depois de reunir a obra poética
do autor.
Assim, nos primeiros anos do século XXI, cresceu, dentro e fora do
mundo acadêmico, o número de estudos e discursos “sobre” Luiz Gama,
alguns fidedignos, apoiados em fontes seguras, outros imprecisos, quando
não puramente ficcionais. Aliás, como mostram vários artigos, nosso autor
exasperava-se com notícias falsas e fantasiosas a seu respeito, e reagia
prontamente pelos jornais no intuito de estancá-las, prova da maneira atenta
com que ele – negro, figura notória e formador de opinião pública – zelava
por sua imagem e reputação de homem honesto, virtuoso e sincero (“Esta é
a verdade que profiro sem rebuço, e que jamais incomodará aos homens de
bem”27). Gama buscou, por todas as formas, a autonomia incondicional, o
direito a ter voz, o desejo de ser ouvido. Note-se, igualmente, que sua
biografia excepcional e seus feitos como abolicionista desviaram a atenção
do seu principal legado: seus escritos.
Tal constatação motivou-nos a organizar a coletânea Com a palavra,
Luiz Gama. Poemas, artigos, cartas, máximas (2011), no intuito de oferecer
ao público de hoje uma visão panorâmica e a possibilidade de ler textos
inéditos na íntegra, e não apenas sob a forma de discursos indiretos ou de
breves citações. Conforme anunciava o título, a ideia era acessar
diretamente a palavra do autor, colocando-nos na posição dos leitores de
seu tempo, a fim de apreciar a forma como inscreve sua subjetividade,
coloca sua cor e seu corpo na escrita e no discurso – às vezes numa
encenação teatral –, em particular nos textos jornalísticos, nos quais
reproduz artifícios empregados em sua poesia satírica. Além disso, não
existe texto jornalístico sem a instauração do diálogo ou a interação
explícita com os leitores, destinatários de existência real em relação aos
quais as expectativas podem variar da adesão à rejeição das ideias e
opiniões do redator. Buscávamos, assim, ilustrar a riqueza e a diversidade
de sua produção, tanto do ponto de vista dos gêneros textuais quanto do
leque temático, por meio de uma antologia contendo doze poemas extraídos
da edição anterior das PTB, 31 máximas publicadas n’O Polichinelo (1876),
cinco cartas (correspondência ativa); e dezenove artigos escritos entre 1869
e 1882, dos quais dezesseis foram publicados na imprensa paulistana e três
na imprensa carioca.
De lá para cá, os avanços neste campo foram notáveis e ajudam a
compreender o que muitos consideram a “inexplicável” ignorância dos
escritos de Luiz Gama. Assim, ao “silenciamento” e à invisibilidade da sua
obra jornalística, cujo papel fora minimizado em narrativas oficiais do
abolicionismo triunfante – encabeçadas por homens brancos –,
correspondeu um longo silêncio e invisibilidade a que ficaram confinados
arquivos hoje disponíveis ao garimpo de pesquisadores dispostos a
(re)discutir visões, atores e discursos consagrados daquela história. O
levantamento do corpus jornalístico presente em Com a palavra... fora
feito, em anos anteriores, através de consultas nos arquivos físicos do
Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (IHGSP) e do Arquivo do
Estado de São Paulo (transferido para a nova sede em 2012), que conserva
preciosidades entre os jornais não digitalizados, como a Gazeta do Povo,
folha abolicionista e republicana raramente explorada, porém de
fundamental importância para o estudo da produção jornalística e da
atuação profissional e política de Luiz Gama entre dezembro de 1880 e
agosto de 1882. Por fim, as buscas realizadas na hemeroteca digital da
Fundação Biblioteca Nacional, também criada em 2012, comprovaram
nossa hipótese de ser ali possível levantar novas peças para a montagem do
extenso quebra-cabeça da obra de um “trabalhador incansável do
jornalismo”, que teve, como outros intelectuais no século XIX, a “plena
convicção de ser ator da história”28.
Assim nasceu este livro.
III
Ilustrado redator,
Acabo de ler, o contristador escrito [...] contra o distinto cidadão José
do Patrocínio.
Em nós, até a cor é um defeito, um vício imperdoável de origem, o
estigma de um crime; e vão ao ponto de esquecer que esta cor é a
origem da riqueza de milhares de salteadores, que nos insultam; que
esta cor convencional da escravidão, [...] à semelhança da terra, ao
través da escura superfície, encerra vulcões, onde arde o fogo sagrado
da liberdade.
Vim [lembrar ao] ofensor do cidadão José do Patrocínio por que
nós, os abolicionistas, animados de uma só crença, dirigidos por uma
só ideia, formamos uma só família, visando um sacrifício único,
cumprimos um só dever.
José do Patrocínio, por sua elevada inteligência, [...] brios, [...]
patriotismo, [...] nobreza [de] caráter, [...], que não têm cores, tornou-
se credor da estima e é digno dos louvores dos homens de bem.40
Hoje, nos juízos, e nos tribunais, quando um africano livre, para evitar
criminoso cativeiro, promove alguma demanda, exigem os sábios
magistrados que ele prove qual o navio em que veio; qual o nome do respectivo
capitão.
TABELA 1
1864 1
1867 1
1869 12
1870 7
1871 4
1872 6
1873 3
1874 1
1877 1
1880 9
1881 14
1882 2
Total 61
TABELA 2
O Ipiranga SP 1869 1
A República RJ 1873 1
O Abolicionista RJ 1881 1
Tiradentes RJ 1882 1
Total 61
Essa carta comprova a admiração precoce de Luiz Gama pelo modelo norte-
americano, conforme ele já havia declarado no mesmo jornal em 29 de
janeiro de 1867 e reiterado em escritos posteriores:
O dia da felicidade será o memorável dia da emancipação do povo, e o
dia da emancipação será aquele em que os grandes forem abatidos e os
pequenos levantados; em que não houver senhores nem escravos;
chefes nem subalternos; poderosos nem fracos; opressores nem
oprimidos; mas em que o vasto Brasil se chamar a pátria comum dos
cidadãos brasileiros ou Estados Unidos do Brasil.
Em 1869, quase cem anos antes de Martin Luther King, Luiz Gama volta ao
tema quando confessa ter um “sonho sublime”: “O Brasil americano e as
terras do Cruzeiro, sem reis e sem escravos”56. Muitos ignoram que o
abolicionista negro adianta-se à posição e ao anseio afirmados, um ano
depois, no Manifesto Republicano: “Somos da América e queremos ser
americanos”. Esta era a intenção de homens que desejavam reformar um
país, segundo eles, refém do Poder Moderador que distorcia a monarquia
parlamentar brasileira, teoricamente de inspiração inglesa, mas que se
descompunha como a França de Napoleão III. A admiração pela nação
norte-americana é compartilhada por um grupo de liberais republicanos,
paulistas ou que passaram por São Paulo. O convívio desses indivíduos na
redação dos jornais, nas lojas maçônicas ou em reunião dos partidos
certamente gerou influências recíprocas. Eram seduzidos pelo modelo
federativo de descentralização política e pelas oportunidades oferecidas nos
Estados Unidos ao self made man, que muitos encarnavam e cujo anseio de
ascensão política e social se via frustrado no regime imperial. Nesse
quesito, o ex-escravo, autodidata e mais velho dos abolicionistas negros,
além de ser o único com atuação em São Paulo, distinguia-se ainda mais
pelas superações enfrentadas até o final da vida.
Os primeiros artigos desta coletânea, publicados no Correio
Paulistano, introduzem temas, tramas, tom, personagens e posicionamentos
que serão retomados nos textos posteriores. Em 1864, o futuro abolicionista
alude a sua “obrigação” de recorrer à imprensa e informar a opinião pública
sobre atentados contra os escravizados e sobre calúnias contra si; reporta as
ações judiciais sob sua responsabilidade; o enfrentamento com os senhores
e com a justiça; declara sua condição de ex-escravo e negro (“ombreio com
o infeliz por cujos direitos pugnei”) e sua missão (“o rigoroso dever que me
impus de zelar pelos meus irmãos desvalidos”). No texto de 1867 aparecem
os embates com a imprensa conservadora, o anticlericalismo, a defesa da
“democracia” (por oposição à monarquia) e da separação entre Igreja e
Estado, as críticas à Constituição de 1824 ou à “nossa teocracia”. A partir
de então, a despeito das crises políticas que o atingiriam em cheio, Luiz
Gama ganha voz própria, e, no final dos anos 1860, inicia-se a sua espiral
ascendente, testemunhada por seus escritos na imprensa.
V
Não sou jurisconsulto, nem sou douto, não sou graduado em direito,
não tenho pretensões à celebridade, nem estou no caso de ocupar
cargos de magistraturas; revolta-me, porém, a incongruência notória de
que, com impávida arrogância, dão prova cotidiana magistrados
eminentes que têm por ofício o estudo das leis, e por obrigação a justa
aplicação delas62.
Quase vinte anos antes da abolição, o advogado negro, que sofrera na pele a
escravidão de seus ancestrais e dos “milhões” de africanos trazidos ao
Brasil, chama reiteradamente para si a tarefa “desinteressada” de
representar mulheres e homens imprescindíveis para a construção da
riqueza do país63, mas invisíveis aos olhos da nação e, sobretudo, da justiça.
Era preciso mostrar e proclamar o óbvio:
[E] em nome de três milhões de vítimas [...] gravarei[,] nas ombreiras
dos parlamentos e dos tribunais subornados, esta legenda terrível:
Nós temos Leis!
São o tratado solene de 23 de novembro de 1826, a lei de 7 de
novembro de 1831, o decreto de 12 de abril de 1832.
Por efeito destas salutares e vigentes disposições são livres, desde
1831, todos os escravos que entraram nos portos do Brasil, vindos de
fora.
São livres! repetiremos perante o país inteiro, enquanto a peita e a
degradação impunemente ousarem afirmar o contrário64.
O ex-soldado hoje, tão honesto como pobre, [...] arvorou à porta da sua
cabana humilde o estandarte da emancipação, e declarou guerra de
morte aos salteadores da liberdade.
Tem por si a pobreza virtuosa, combate contra a imoralidade e o
poder.
Os homens bons do país, compadecidos dele, chamam-no de
louco; os infelizes amam-no; o governo persegue-o.
Surgiu-lhe na mente inapagável um sonho sublime, que o
preocupa: o Brasil americano e as terras do Cruzeiro, sem reis e sem
escravos!
Eis o estado a que chegou o discípulo obscuro do exmo. sr.
conselheiro Furtado de Mendonça.
Enquanto os sábios e os aristocratas zombam prazenteiros das
misérias do povo; enquanto os ricos banqueiros capitalizam o sangue e
o suor do escravo; enquanto os sacerdotes do Cristo santificam o roubo
em nome do Calvário; enquanto a venalidade togada mercadeja
impune sobre as aras da justiça, este filho dileto da desgraça escreve o
magnífico poema da agonia imperial. Aguarda o dia solene da
regeneração nacional, que há de vir; e, se já não viver o velho mestre,
espera depô-lo com os louros da liberdade sobre o túmulo, que
encerrar as suas cinzas, como testemunho de eterna gratidão71.
Eu, assim como sou republicano, sem o concurso dos meus valiosos
correligionários, faço a propaganda abolicionista, se bem que de modo
perigoso, principalmente para mim e de minha própria conta.
Estou no começo: quando a justiça fechar as portas dos tribunais,
quando a prudência apoderar-se do país, quando nossos adversários
ascenderem ao poder, quando da imprensa quebrarem-se os prelos, eu
saberei ensinar aos desgraçados a vereda do desespero.
Basta de sermões, acabemos com os idílios. [...]
Ao positivismo da macia escravidão eu anteponho o das
revoluções da liberdade; quero ser louco como John Brown, como
Spartacus, como Lincoln, como Jesus; detesto, porém, a calma
farisaica de Pilatos86.
Nabuco refere os mesmos nomes que Luiz Gama para, no entanto, rejeitá-
los, na tentativa de desacreditar ações contrárias às suas, como a
empreendida pelo ativista negro e seu grupo em São Paulo. Esses homens
representaram a vanguarda do movimento abolicionista quinze anos antes
da publicação de sua obra O abolicionismo (1883), movimento
testemunhado pelo próprio Nabuco durante o período em que estudou na
Faculdade de Direito de São Paulo, e que, após a morte do advogado dos
escravos, se radicalizaria sob a ação de Antonio Bento e dos caifases.
Contudo, seria ingênuo ignorar que, mesmo alguns abolicionistas brancos
bem-intencionados, como Nabuco, acreditavam na incapacidade
psicológica, moral, política e civil dos negros para decidirem seu próprio
destino.
A resistência escrava sempre existiu, de Palmares à Revolta dos Malês.
E, desde o início dos anos 1870, as condições sociais e físicas dos arredores
da capital, onde a opinião pública acolhia favoravelmente as ideias
abolicionistas, converteram a cidade num dos destinos principais dos
escravizados daquela província e de outras mais distantes. Esses
encontravam ali negros livres ou libertos, dispostos a lhes dar guarida88, a
orientá-los sobre a quem recorrer para auxiliá-los em seus desesperados
anseios. Ecos da propaganda abolicionista feita através da imprensa
chegava às fazendas, e os interessados apressavam-se em conhecer-lhes o
teor89. Os negros escravizados ou ameaçados de perder uma liberdade
prometida ou adquirida a preço exorbitante recorriam cada vez mais à
justiça para recuperar os direitos que lhes eram devidos, atitude em grande
parte inspirada por Luiz Gama. Assim como ele foi agente no resgate de sua
própria liberdade, antes de colocar sua vida e seus talentos a serviço dos
seus, muitos negros ligados ao advogado negro, alforriados por ele ou por
admirarem-no profundamente, não deram as costas aos seus irmãos no
cativeiro. Apoiavam a Caixa Emancipadora Luiz Gama, fundada em 1881 e
que, em apenas três meses de existência, levantou uma soma considerável,
sendo 70% proveniente das contribuições de pessoas escravizadas, livres ou
libertas90. Tais gestos, portanto, refletiam uma grande mudança de
mentalidade em homens e mulheres negras. Pouco a pouco eles aprendiam
a retórica da cidadania e da igualdade, reivindicavam-nas, a fim de se tornar
plenamente cidadãos e ter participação ativa na questão política central do
país: o fim da escravidão91.
Entre dezembro de 1880 e fevereiro de 1881, estampou-se na Gazeta
da Tarde uma série de onze artigos sob o título “Trechos de uma carta” ou
“Cartas a Ferreira de Menezes” que tiveram ampla repercussão – positiva e
admirada, nos meios genuinamente abolicionistas e republicanos do país;
negativa e irada junto aos escravocratas –, reforçada pela particularidade de
alguns deles serem reproduzidos simultaneamente, como já se disse, em
São Paulo e no Rio de Janeiro. Esses textos distinguem-se do conjunto
presente neste livro sob alguns aspectos, a começar pelo fato de se
apresentarem sob forma epistolar, redigidos em primeira pessoa, em geral
incluídos na primeira página do jornal, e destinadas ao seu proprietário.
Remetidas de São Paulo, essas cartas abertas dirigiam-se, em princípio, aos
leitores da Gazeta da Tarde, mas não só, na medida em que,
deliberadamente, visavam tanto a opinião pública da corte como a opinião
pública paulista. Formava-se um leque heterogêneo de destinatários:
“adversários”, adeptos da causa, além das leitoras e leitores que se buscava
sensibilizar com o relato das “cenas de horror” que estavam “na moda”92.
No Brasil, como já demonstrou David Haberly, o discurso
antiescravista foi acompanhado paradoxalmente do discurso
antiescravizado ou antinegro e justificava-se pelo pânico dos senhores de
que, uma vez libertos, os escravizados dariam vazão a incontroláveis ondas
de violência e selvageria93. O melhor exemplo desse pensamento, colhido
na literatura, é As vítimas-algozes: quadros da escravidão (1869), de
Joaquim Manoel de Macedo, um dos mais populares romancistas da época.
A obra, formada por três narrativas, foi por muito tempo impropriamente
considerada “abolicionista”. Numa divisão moral binária e simplista, no
polo positivo, tem-se ali os senhores descritos como pessoas nobres e
generosas; e, no polo negativo, os escravos encarnam seres pérfidos, cruéis
e de instintos assassinos. O senhor é a vítima; o escravo, o algoz, cuja
maldade, inerente a sua natureza, acentua-se com a escravidão. Daí a
necessidade de extinguir a nefanda instituição, a fim de libertar a classe
senhorial, branca, do nocivo convívio com os escravizados ou libertos
negros. Fatos chocantes, a corroborar essa visão, aconteciam na vida real,
como amiúde relatava A Província de São Paulo: no interior paulista,
fazendeiros “caridosos”, “brandos”, “benévolos”, que tratavam seus
escravos “de igual para igual”, eram brutalmente assassinados por escravos
ingratos e traiçoeiros. No entanto, o que se verá na série de “Cartas a
Ferreira de Menezes”, além de uma linguagem e estilo que jamais se
avizinharam tanto da literatura, é que o jornalista abordaria aquelas histórias
da escravidão reais sob ângulo diametralmente oposto ao das notícias
veiculadas nos jornais, quando o assunto girava em torno das relações entre
escravizados e seus senhores: revoltas, fugas, assassinatos de senhores e/ou
membros de suas famílias reforçavam estereótipos negativos sobre os
negros, legitimando teorias racistas em voga desde meados do século XIX.
Para os artigos da Gazeta da Tarde, Luiz Gama escolheu estrategicamente
as histórias mais ilustrativas do mundo da escravidão, feito de luzes e
sombras, dividido entre o Bem e o Mal, a partir de um ponto de vista
ausente de jornais como A Província de São Paulo, alvo de duras críticas,
explícitas ou veladas. Suas narrativas evidenciavam que os africanos, os
escravizados, os negros é que sofriam, em vários níveis, as “torpezas de
branco”94. Luiz Gama oferecia contranarrativas e expunha um mundo às
avessas sobre o qual só ele – ex-escravo, estudioso e pensador negro – era
capaz de enxergar, a partir da “ciência” jurídica que iluminava sua visão da
sociedade e dos fundamentos do Estado brasileiro: “Antes de analisar as
disposições de uma lei[,] manda a boa filosofia estudar as causas essenciais
ou imediatas da sua promulgação; porque uma lei é um monumento social,
é uma página de história, uma lição de etnografia, uma razão de Estado”95.
No campo da historiografia, da antropologia, da literatura, das artes
visuais, não faltam descrições sobre ser escravo no Brasil. Em escritos por
tanto tempo desconhecidos, emerge de alguns parágrafos magníficos a vida
pungente do “animal maravilhoso chamado escravo”, condição na qual
milhões de homens e mulheres subordinaram-se não a senhores caridosos,
mas a verdadeiras “feras humanas”. A linguagem é enxuta, o quadro se
desenha em pinceladas que chicoteiam:
[A] carta é escrita por uma senhora, tão inteligente quão delicada [...]
não é uma senhora de escravos: é uma personificação de virtudes [...] uma
brasileira benemérita, uma heroína da liberdade. [...]
Não tem data; e tem por assinatura um nome suposto [...]
Se o estilo é um retrato moral, eu lobrigo através das sombras do
mistério as lindas feições da distinta Neta de Zambo [...]
Envio-te a carta, por cópia: deve ser lida por ti, e pelos nossos
dignos companheiros e amigos [...]
Enfim, podemos exclamar, com os nossos irmãos dos Estados
Unidos da América do Norte:
– Surge radiante a aurora da liberdade; e, no seu ninho de luzes, a
nova HARRIET STOWE.
Assim como seus poemas, os artigos de Luiz Gama não são textos simples.
Além da complexidade referencial, refletem estilo elaborado, domínio
retórico e combinação de vários gêneros textuais. Em sua maioria são
escritos em primeira pessoa: o “eu” é narrador e, eventualmente,
personagem, emprego que influi diretamente no ponto de vista ou na
perspectiva adotados. Assim, ocorrem ajustes enunciativos, à medida que se
diversificam os temas, o foco e os destinatários implícitos ou explícitos de
análises e comentários em que os acontecimentos, locais e/ou pessoais,
ganham dimensão política. Do primeiro artigo no Correio Paulistano, em
1864, à “Representação do Imperador”, em 1882, o jornalista não limitou
sua voz: expandiu-a até alcançar “o país inteiro”.
Ao adentrar os textos desta coletânea, sob nossos olhos vão saindo das
sombras pessoas escravizadas a quem Luiz Gama deu nome e visibilidade,
personagens reais de suas narrativas e dos processos intrincados de que se
encarregava com o objetivo de libertá-los. Descobriremos os dramas de
Tomás, Benedito, Narciso, Elias, Joaquina, Marcela, Benedita; dos casais
João e Rita, Paulo e Lucina, Jacinto e Ana; da Parda F.; das 234 “pessoas
livres, ilegalmente escravizadas”, contrabandeadas da Bahia para o Rio num
vapor alemão; dos quatro “Espártacos” linchados por “trezentos cidadãos”;
do crioulo chicoteado e queimado vivo por nutrir o “vício de detestar o
cativeiro”; do preto Caetano; do bebê “mulatinho” filho de um senhor com
uma escrava obrigada a jogá-lo num rio; do ex-escravo José Lopes,
“cocheiro e proletário”; alguns nomes, enfim, dentre as “três milhões de
vítimas” que, até então, “jamais encontraram quem, dirigindo um
movimento espontâneo, desinteressado, [...] lhes quebrasse os grilhões do
cativeiro”100.
A imprensa também serviu para o jornalista negro estampar o nome
dos algozes impunes, pessoas “ricas e poderosas” que cometiam ou
acobertavam crimes sem castigos contra africanos ou seus descendentes
escravizados: Brigadeiro Carneiro Leão; Comendador José Vergueiro, da
Sociedade Democrática Limeirense; os “sapientíssimos” juízes Santos
Camargo, Rego Freitas e Pereira Tomás; conselheiro Furtado de Mendonça,
chefe de polícia de São Paulo; Rafael Tobias Aguiar, filho do brigadeiro
Tobias Aguiar e da marquesa de Santos; conselheiro Nabuco de Araújo, pai
do abolicionista Joaquim Nabuco; o governo imperial, entre outros.
Na escrita jornalística, em que dizer é fazer, Luiz Gama revelou-se um
mestre das narrativas, e estas serviram de fundamento a suas análises e
interpretações jurídicas. Assim, boa parte de seus artigos poderiam incluir-
se num gênero jornalístico semelhante ao da “crônica judicial” que, no
século XIX, atraía uma legião de leitores na imprensa francesa. O advogado
jornalista não hesita em midiatizar as causas judiciais, usa seus dons
retóricos para sensibilizar a opinião pública e aumentar a pressão sobre as
autoridades, já que, para atingir seus objetivos, era preciso intervir nas duas
frentes.
O conjunto de textos reflete as matrizes do pensamento e as “lições de
resistência”, entendidas como dever de “virtude cívica” por nosso primeiro
abolicionista e republicano negro. No entanto, por mais interessante que
sejam esses conteúdos, há dimensões que não podem ser desprezadas, como
a “forma” escolhida – gênero jornalístico de tipo variado ou híbrido
(opinião/comentários jurídicos, formas narrativas, faits divers, retratos...),
com linguagem e características textuais e discursivas próprias, condições
de produção e recepção enraizadas num presente quase efêmero, situado
num passado aparentemente distante. Ademais, Luiz Gama repetiu a
trajetória de outros literatos do século XIX nos quais jornalismo, literatura e
política se interpenetram, e tornou-se dono de um estilo inconfundível. Faço
desde agora essas observações, a fim de sugerir aos interessados que, antes
de entrarem em contato com os textos, disponham-se a refletir sobre uma
experiência de leitura, conscientes de que, se o jornal é “fonte” (de
pesquisa, informação, interesse histórico ou literário etc.), o texto
jornalístico, quando se avizinha da literatura e de sua carga simbólica, é
fruição.
As leitoras e os leitores deste livro encontrarão, sob a pena do
“incansável” jornalista, mais do que o intransigente defensor dos escravos e
dos ideais republicanos, cujos fundamentos têm sido particularmente
nebulosos e enxovalhados nos dias de hoje, a ponto de reabrir feridas no
sentimento de ser este país verdadeiramente uma nação. O debate, para não
dizer o dilema, em torno dessa questão nasceu na aurora da Independência e
foi reexaminado ad nauseam, na política e na literatura, ao longo do século
XIX. Assim, descortina-se, neste conjunto inédito de artigos, uma visão
original, fruto de análises críticas das grandes questões nacionais, das
instituições políticas, dos sistemas econômicos, da estrutura social, das
mentalidades, das ideologias raciais, dos direitos humanos, quando não uma
anatomia do próprio Estado, aspectos que nos permitem situar o pensador
negro Luiz Gama ao lado dos grandes intérpretes do Brasil.
1. Ver “Cronologia”.
2. Gazeta do Povo, 24 de agosto de 1882, in: Com a palavra, Luiz Gama. Poemas, artigos, cartas,
máximas. Organização, apresentações, notas de Ligia Fonseca Ferreira, São Paulo: Imprensa Oficial,
2011, p. 217.
3. Gazeta do Povo, 25 de agosto de 1882, in: Com a palavra, Luiz Gama..., op. cit., p. 220.
4. Gazeta do Povo, 26 de agosto de 1882, in: Com a palavra, Luiz Gama..., op. cit., p. 221.
5. Gazeta do Povo, 24 de agosto de 1882, in: Com a palavra, Luiz Gama..., op. cit., p. 218.
6. Gazeta do Povo, 26 de agosto de 1882, in: Com a palavra, Luiz Gama..., op. cit., p. 222.
7. “Luiz Gama – Homenagens e demonstrações”, Gazeta do Povo, respectivamente 28 de agosto, 4,
13 e 22 de setembro de 1882.
8. Gazeta de Notícias, 25 de agosto de 1882.
9. Gazeta da Tarde, 28 de agosto de 1882, in: José do Patrocínio, Campanha abolicionista: coletânea
de artigos. Introdução de José Murilo de Carvalho; notas de Marcus Venício T. Ribeiro. Rio de
Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional; Depto Nacional do Livro, 1996, pp. 52 e 50.
10. “Luiz Gama – Homenagens e demonstrações”, Gazeta do Povo, 27 de agosto de 1882.
11. “Luiz Gama – Homenagens e demonstrações”, Gazeta do Povo, 24 de setembro de 1882.
12. Cf. Joaquim Nabuco, Minha formação, Rio de Janeiro: José Olympio, 1957, p. 246.
13. Cf. Maria Helena T. Machado, O plano e o pânico, os movimentos sociais na década da
abolição, São Paulo: Edusp, 1994, pp. 151-53; Elciene Azevedo, Orfeu de carapinha. A trajetória de
Luiz Gama na imperial cidade de São Paulo, Campinas: Editora da Unicamp, 1999.
14. Cf. Fernando Góes, “Inatualidade do negro brasileiro”, Tribuna negra, n. 1, 1ª quinzena,
setembro de 1935, apud Mirian Nicolau Ferrara, A imprensa negra paulista (1915-1963), São Paulo:
FFLCH/USP, 1986, p. 141.
15. Cf. Luiz Gama, Obras completas: Trovas burlescas & escritos em prosa. Organização de
Fernando Góes, São Paulo: Edições Cultura, 1944.
16. Cf. Fernando Góes, “Breve notícia de Luiz Gama e seus escritos”, in: Luiz Gama, Obras
completas..., op. cit., p. 8.
17. Cf. Luiz Gama, Primeiras trovas burlescas de Luiz Gama, 3. ed. correcta e augmentada, São
Paulo: Typ. Bentley Júnior & Comp., 1904; Júlio Romão da Silva, Luiz Gama e suas poesias
satíricas. Prefácio de Otto Maria Carpeaux, Rio de Janeiro: Casa do Estudante do Brasil, 1954 (2ª
edição 1981).
18. Cf. Ligia Fonseca Ferreira, “Fortuna crítica”, in: Luiz Gama, Primeiras trovas burlescas & outros
poemas. Organização e introdução de Ligia Fonseca Ferreira, São Paulo: Martins Fontes, 2000, pp.
LXII-LXXI.
19. Cf. Luiz Gama, Primeiras trovas burlescas & outros poemas, op. cit.; e Ligia Fonseca Ferreira,
“Luiz Gama autor, leitor, editor: revisitando as Primeiras trovas burlescas de 1859 e 1861”, Estudos
Avançados, n. 96, maio-ago. 2019, pp. 109-35.
20. Cf. “Carta a José Carlos Rodrigues”, 26 de novembro de 1870. Ver, neste volume, p. 362.
21. Cf. “Farmacopeia”, in: Primeiras trovas burlescas & outros poemas, op. cit., p. 107.
22. Cf. “Luiz G. P. Gama”, Correio Paulistano, 10 de novembro de 1871, p. 198. A maioria dos
artigos de Luiz Gama citados nas notas integram este volume. Se houver exceções, será indicada a
fonte.
23. Cf. “Que mundo é este”, in: Primeiras trovas burlescas & outros poemas, op. cit., p. 128.
24. Cf. “Sortimento de gorras para a gente do grande tom”, in: Com a palavra, Luiz Gama..., op. cit.,
p. 70.
25. Cf. “A emancipação ao pé da letra”, Gazeta do Povo, 18 de dezembro de 1880, p. 267.
26. Cf. “Foro da Capital. Juízo Municipal”, Correio Paulistano, 4 de agosto de 1872, p. 217.
27. Cf. “Luiz G. P. Gama”, Correio Paulistano, 10 de novembro de 1871, p. 198.
28. Cf. José-Luis Diaz; Alain Vaillant, “Introduction”, Romantisme, n. 143, 2009, p. 3. No original, a
sentença está no plural.
29. José Murilo de Carvalho, Pontos e bordados: escritos de história e política, Belo Horizonte:
Editora da UFMG, 1999, p. 246.
30. Cf. “Carta a Lúcio de Mendonça”, p. 366.
31. Cf. “Trechos de uma carta”, Gazeta da Tarde, 28 de dezembro de 1880, p. 291.
32. Cf. O Polichinelo n. 19, 20 de agosto de 1876, in: Com a palavra, Luiz Gama..., op. cit., p. 291.
33. Cf. “Trechos de uma carta”, Gazeta da Tarde, 28 de dezembro de 1880, p. 291.
34. Cf. “Carta a Lúcio de Mendonça”, p. 366; ver também Lúcio de Mendonça, “Luiz Gama”, in:
Com a palavra, Luiz Gama..., op. cit., pp. 263-70.
35. Cf. Raimundo Faoro, Os donos do poder, São Paulo: Globo, 1989, v. 2, p. 453.
36. Cf. Sérgio Buarque de Holanda, História geral da civilização brasileira. São Paulo: Difel, t. 2, v.
5 (Do império à república), 1977, p. 265.
37. Cf. Lúcio de Mendonça, “Luiz Gama”, in: Com a palavra, Luiz Gama..., op. cit., p. 263.
38. Cf. Lilia M. Schwarcz, O espetáculo das raças. Cientistas, instituições e questão racial no Brasil
(1870-1930), São Paulo: Companhia das Letras, 1993, pp. 63-4.
39. Cf. Silvio Luiz Almeida, O que é racismo estrutural, Belo Horizonte: Letramento, 2018.
40. Cf. “Emancipação”, Gazeta do Povo, 1º de dezembro de 1880, p. 256.
41. Cf. “Trechos de uma carta”, Gazeta da Tarde, 1º de janeiro de 1881, p. 297.
42. Cf. “Aresto Notável”, Gazeta da Tarde, 17 de novembro de 1881, p. 350 – grifos do autor.
43. Cf. “Carta ao Dr. Ferreira de Menezes”, Gazeta da Tarde, 22 de janeiro de 1881, p. 317.
44. Cf. “Foro da Capital”, Radical Paulistano, 13 de novembro de 1869, p. 147.
45. Informações mais detalhadas sobre os periódicos serão fornecidas nas notas de fim de texto.
46. Ver “Cronologia”. Assinados por Luiz Gama, aparecem no Diabo Coxo os poemas “Meus
amores” e “Novidades antigas”. No Cabrião, identifica-se através de um de seus pseudônimos
(Barrabrás, formado a partir do nome do ladrão crucificado ao lado de Jesus e do nome do bairro
onde Luiz Gama residiu até o final da vida) apenas a sátira versificada “Epístola familiar”. Para os
textos dos poemas, cf. Primeiras trovas burlescas & outros poemas, op. cit., pp. 220-55.
47. Ver “Cronologia”. Nesse periódico, Luiz Gama publicou cinco poemas satíricos: “Programa”,
“Cena parlamentar”, “Rei-cidadão”, “Espiga”, “O moralista” e o poema lírico “A Maria (epístola
familiar)”. Cf. Primeiras trovas burlescas & outros poemas, op. cit., pp. 256-86.
48. Cf. O Polichinelo n. 1, 16 de abril de 1876.
49. Cf. Daniel Ligou, Dictionnaire de la franc-maçonnerie. Paris: Presses Universitaires de France,
1987, p. 1036.
50. Cf. Boris Fausto. História do Brasil, São Paulo: Edusp, 1994, p. 184; “Loja América”, Correio
Paulistano, 10 de novembro de 1871.
51. Cf. “Loja América”, Correio Paulistano, 10 de novembro de 1871, p. 189.
52. Nabuco foi iniciado na Loja América em 1º de dezembro de 1868, quando ainda era estudante de
direito em São Paulo. Cf. Luaê Carregari Carneiro, Maçonaria, política e liberdade. A Loja
Maçônica América entre o Império e a República, Jundiaí: Paco Editorial, 2016, p. 43.
53. Cf. Gérard Serbanesco, Histoire de la franc-maçonnerie universelle, Beauronne (Dordogne): Les
Éditions Intercontinentales, 1964, v. 2, pp. 140-57 (tradução nossa).
54. Cf. “Carta ao filho, Benedito Graco Pinto da Gama”, p. 361.
55. Cf. “Carta a José Carlos Rodrigues”, p. 362.
56. Cf. “Pela última vez”, Correio Paulistano, 3 de dezembro de 1869, p. 165.
57. Cf. “Ainda o novo Alexandre”, Correio Paulistano, 27 de novembro de 1869, p. 162.
58. Cf. “Foro da Capital”, Radical Paulistano, 13 de novembro de 1869, p. 147.
59. Cf. “Foro da Capital”, Radical Paulistano, 29 de julho de 1869p. 134.
60. Ibidem.
61. Cf. “Pela última vez”, Correio Paulistano, 3 de dezembro de 1869, p. 165.
62. Cf. “Egrégio tribunal da relação”, Correio Paulistano, 12 de março de 1874. Este artigo não
consta neste volume por não atender ao recorte temático aqui proposto.
63. Cf. “Carta a Ferreira de Menezes”, Gazeta da Tarde, 16 de dezembro de 1880, p. 262.
64. Cf. “Carta ao comendador José Vergueiro”, Ipiranga, 21 de fevereiro de 1869, p. 111.
65. Cf. “Coisas admiráveis”, Correio Paulistano, 2 de dezembro de 1870, p. 179.
66. Cf. “Itatiba. Contraprotesto”. A Província de São Paulo”, 4 de janeiro de 1881, p. 301.
67. Cf. “Escândalos”, Radical Paulistano, 30 de setembro de 1869, p. 145.
68. Cf. “Carta ao Dr. Ferreira de Menezes”, Gazeta da Tarde, 4 de janeiro de 1881, p. 302.
69. Cf. Correio Paulistano, 20 de novembro de 1867.
70. Cf. “Processo Vira-Mundo”, Gazeta do Povo, 23 de abril de 1881.
71. Cf. adiante “Pela última vez”, Correio Paulistano, 3 de dezembro de 1869, p. 165.
72. Cf. “Foro da Capital. Questão de Liberdade”, Correio Paulistano, 13 de março de 1869, p. 118.
73. Cf. Correio Paulistano, 3 de abril de 1870 e 20 de fevereiro de 1874.
74. Cf. “Loja América”, Correio Paulistano, 10 de novembro de 1871, p. 189.
75. Cf. “Carta a Lúcio de Mendonça”, p. 366.
76. Cf. “Loja América”, Correio Paulistano, 10 de novembro de 1871, p. 189 – grifo nosso.
77. Cf. Carta a Ferreira de Menezes, Gazeta da Tarde, 1º de fevereiro de 1881 p. 334.
78. Grifo do autor.
79. Cf. Ligia Fonseca Ferreira, “De escravo a cidadão. Luiz Gama, voz negra no abolicionismo”, in:
Tornando-se livre: agentes históricos e lutas sociais no processo de abolição. Organização de Maria
Helena P. T. Machado e Celso Thomaz Castilho, São Paulo: Edusp, 2015, pp. 233-6.
80. Cf. “Aresto notável”, Gazeta da Tarde, 17 de novembro de 1881, p. 350: “Luiz Gama – Em São
Paulo, adoeceu há dias gravemente este nosso amigo, ilustre por muitos títulos da inteligência, do
coração e do caráter. Logo que de tal soubemos, telegrafamos imediatamente para ali e recebemos
hoje a resposta de que Luiz Gama está ainda doente mas de pé. Todos os amigos da liberdade devem
regozijar-se com esta notícia”.
81. Cf. Raul Pompéia, “Última página da vida de um grande homem”, Gazeta de Notícias, 10 de
setembro de 1882, in: Com a palavra, Luiz Gama..., op. cit., pp. 227-36.
82. Cf. Adilson José Moreira, Pensando como um negro. Ensaio de hermenêutica jurídica, São
Paulo: Contracorrente, 2019.
83. Cf. “Apontamentos biográficos”, Radical Paulistano, 24 de maio de 1869, p. 127.
84. Cf. Joaquim Nabuco, Um estadista do Império, São Paulo: Topbooks, 1997, 2 v.
85. Traçamos um paralelo entre Luiz Gama e Joaquim Nabuco em “Luiz Gama: um abolicionista
leitor de Renan”, Estudos Avançados, v. 21, n. 60, São Paulo, 2007, pp. 271-88. Disponível em:
<http://www.iea.usp.br/iea/revista/>. Acesso em: 13 nov. 2019.
86. Além do artigo supracitado, ver também Ligia Fonseca Ferreira, “Luiz Gama: defensor dos
escravos e do direito”, in: Os juristas na formação do Estado-Nação brasileiro. Coordenação de
Carlos Guilherme Mota e Gabriela Nunes Ferreira, São Paulo: Saraiva, 2010, pp. 219-44.
87. Cf. Joaquim Nabuco, O abolicionismo (1883). Recife: Fundaj, 1988, p. 25.
88. Cf. Maria Cristina Cortez Wissenbach, Sonhos africanos, vivências ladinas. Escravos e forros em
São Paulo (1850-1880), São Paulo: Hucitec, 1998, p. 153.
89. Cf. Ronaldo Marcos dos Santos, Resistência e escravismo na província de São Paulo (1885-
1888), São Paulo: Fundação do Instituto de Pesquisas Econômicas, 1980, p. 74.
90. Cf. Elciene Azevedo, Orfeu de carapinha..., op. cit., p. 260.
91. Cf. Célia Maria Marinho de Azevedo, Onda negra, medo branco. O negro no imaginário das
elites (século XIX), Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987, p. 183.
92. Cf. “Carta a Ferreira de Menezes”, Gazeta da Tarde, 16 de dezembro de 1880, p. 262.
93. Cf. David Haberly, “Abolitionism in Brazil: Anti-Slavery and Anti-Slave”, Luso-Brazilian
Review, n. 2, IX, Winter 1972, pp. 38-9.
94. Cf. “Trechos de uma carta”, Gazeta da Tarde, 28 de dezembro de 1880, p. 291.
95. Cf. “Carta a Ferreira de Menezes”, Gazeta da Tarde, 7 de janeiro de 1881, p. 309.
96. Cf. “Trechos de uma carta”, Gazeta da Tarde, 28 de dezembro de 1880, p. 291.
97. Carta a Ferreira de Menezes”, Gazeta da Tarde, 16 de dezembro de 1880, p. 262.
98. Cf. Gazeta da Tarde, “Trechos de uma carta”, 28 de dezembro de 1880, p. 291.
99. Sobre o significado desse artigo para os republicanos, cf. José Murilo de Carvalho, A formação
das almas. São Paulo: Companhia das Letras, 1990, pp. 60-2.
100. Cf. “Carta a Ferreira de Menezes”, Gazeta da Tarde, 16 de dezembro de 1880, p. 262.