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Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo UFU ano 10 • 47ª edição dezembro de 2019

ESPECIAL DESIGUALDADES

A luta em campo
Mulheres que desafiam a misoginia do futebol
Páginas 6 e 7

Cotidiano Saúde Política


Associação de catadores Tabus dificultam diálogo Ocupação Fidel Castro
ajuda meio ambiente por sobre a sexualidade carrega história que mostra
meio da reciclagem feminina a cara da desigualdade
Página 3 Página 5 Página 8
Senso nº47
DA REDAÇÃO Dez/2019
ESPECIAL DESIGUALDADES

EDITORIAL//

"Mundo tão desigual, tudo é tão desigual..."


O refrão da música “A Novidade” de Gilberto Gil
ilustra a desigualdade como um problema social
recorrente nas discussões, no que diz respeito às
particularidades do Terceiro Mundo, e é um pro-
blema enraizado na cultura de países emergentes,
como o Brasil, onde o termo vem acompanhado de
adjetivos relacionados a “crescimento”. Nesta edi-
ção temática, a equipe do SENSO procurou mos-
trar um recorte das desigualdades do Brasil em
Uberlândia, considerada uma cidade próspera e
em constante desenvolvimento.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) mostrou que, a partir de 2016, o índice de
Gini - cálculo usado para medir a desigualdade so-
cial - voltou a crescer, atingindo um aumento em
2018. De toda a renda do país, 40% dela está con-
centrada nas mãos de 10% da população. Trocando
em miúdos, a maioria da população brasileira sofre
com o efeito cascata da desigualdade, entre eles a
precarização de serviços públicos, o aumento dos
preconceitos e a pobreza.
Essa edição pretende dar rosto e histórias às
desigualdades. O plural da palavra abrange o dese-
quilíbrio que atinge não só o aspecto socioeconô-
mico, mas também o de gênero, raça e o cultural.
O objetivo é entender a desigualdade como pro-
blemática para o acesso à informação, educação,
acessibilidade, moradia e direitos trabalhistas. FOTO: EMERSON SOARES
Pela primeira vez, o jornal-laboratório traz um
Especial de esporte, abordando o tema da desi-
gualdade de gênero no futebol. O esporte carre- CRÔNICA//
ga o título de “paixão nacional”, mas em estádios
e quadras de todo o país, jogadores e jogadoras
são alvo de atos discriminatórios que envolvem
racismo, LGBTfobia e comportamentos machis-
tas e xenofóbicos. Será essa a reprodução de um
A (r) existência do rap
Brasil desigual? FELIPE MELO
Diante de constantes questionamentos sobre o Vocês sempre me cons- Eu cresci à margem de tudo Fonte de todos os gritos de
exercício da imprensa no Brasil, o SENSO reforça o truíram como a figura do meu o que conheciam. Meu berço dor que vocês tentam abafar.
Artigo 220 da Constituição Federal, que garante o próprio algoz. Apontaram os era a rua que vocês evitam. Eu sei que minha rima inco-
direito à plena liberdade de informação jornalística. meus erros e disseram que Meu único sonho era que dei- moda por tocar na ferida. Abre
Ou seja, onde houver liberdade de imprensa, aquilo era o que me definia. xassem de tirar de mim tudo o os olhos de muitos pra reali-
haverá espaço favorável para a consolidação do re- Nunca me deram nada além de que eu amo. dade, e dá força pra eles luta-
gime democrático. Com isso, a responsabilidade motivos para chorar. Mas, ho- Porém vocês tentam até ca- rem contra. Por isso eu
social do jornalismo de fiscalizar o Poder Público e je, não luto contra mim. lar o meu som e a minha voz. apanho e levo cuspe na cara,
denunciar os problemas enfrentados pela popula- Quando a gente percebe o Tentam silenciar a minha luta, por isso me perseguem por
ção, torna-se importante para informar e fazer re- controle, o rebanho do qual assim como já fizeram com a fazer arte. Porque a única arte
fletir sobre a sociedade. O diálogo, a desigualdade faz parte, não tem volta. Esse luta de tantos, mas nunca vou que vocês querem é a que
e o impulso por mudanças não acabam aqui, e co- fardo é seu pra carregar. deixar. Posso ser enjaulado e conseguem vender. A voz da
mo estudantes e moradores de Uberlândia, deve- Quem me dizia isso era o humilhado, mas a minha voz rua nunca vai ter lugar nos
mos estar sempre atentos. meu irmão, e eu nunca es- vai reverberar na cabeça de seus salões.
queci. Ele também dizia que a vocês em todos os seus mo- Eu canto por todos os
minha rima corta como faca. mentos de paz. meus, não só por mim. Faço
ERRAMOS #46 | CAPA: a chamada atribuída Hoje, eu acho que eu sei o Hoje, eu sei por que vocês minha parte em uma luta que,
à editoria de Cultura, na verdade, seria para porquê. Eu não canto o que é não gostam de mim, sei por pra muitos, já foi perdida. Mas
Política. Página 2: no expediente, a impressão bonito. Eu não canto o amor, que não aturam os excluí- eu não acredito nisso. Mesmo
é pela Gráfica e Editora Scanner Ltda. e não a nem a paz mundial, porque dos, os fora da curva e os sem nunca ter tido o mínimo,
Imprensa Universitária como foi publicado. eu nunca vivi essas coisas. marginalizados. Conheço as eu continuo dando tudo de
Página 3: na infografia de Políticas, a Minha poesia é cheia de dor. bases do racismo e de todos mim por aqueles que vivem
população brasileira total é de 210.147.125 O meu ritmo é agressivo. É o os outros preconceitos que hoje o que eu vivi no passado e
habitantes, (IBGE, julho/2019). Página 6/7: a meu sangue que escorre e mancham de sangue as nos- encontram seu apoio numa ri-
imagem é de autoria de Vitor Bueno. respinga em vocês. sas ruas. ma alheia. 

Reitor Valder Steffen Jr. - Diretora da Faced Geovana Ferreira Melo - Coordenador do Curso de Jornalismo Vinicius Dorne - Professores Gerson de Sousa, Nuno Manna, Raquel Timponi,
Reinaldo Maximiano - Jornalista Responsável Reinaldo Maximiano Mtb 06489 - Editores-Chefe Luan Borges - Túlio Daniel - Lorena Sanches - Foto de capa Pedro Souza - Editores e
Diagramadores Ítana Santos (Capa) - Luan Borges e Laura Justino (Editorial/Crônica) - Gabriel Souza (Cotidiano) - Josias Ribeiro (Cultura) - Matheus Rabelo (Entrevista) - Betina
Scaramussa, Ítana Santos e Juan Madeira (Especial) - Lorena Sanches, Lorena Artemis e Emerson Soares (Política) - Jackeline Freitas (Saúde) - Túlio Daniel (Fotoensaio) - Finalização
Danielle Buiatti e Ricardo Ferreira de Carvalho - Tiragem: 1000 exemplares - Impressão Gráfica e Editora Scanner Ltda - Apoio (edições 46 e 47) Sintet-UFU. Acesse conteúdo exclusivo:
sensoincomumufu.wixsite.com/jornal

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Senso nº47
Dez/2019
COTIDIANO
ESPECIAL DESIGUALDADES

"Eu vi a desigualdade de perto"


Aos 58 anos, Roosevelt acredita que seu trabalho como catador e reciclador ajuda o planeta
GABRIELA CARVALHO

RESPONSÁVEIS POR FAZER CAMPANHA DE CONSCIENTIZAÇÃO, CATADORES AINDA SOFREM COM DESCASO DO MUNICÍPIO. FOTO: LUAN BORGES

O lugar já fala por si só. É um galpão com jane- Recicláveis do Bairro Taiaman (Assotaiaman), com coletar e vender materiais, tal como a
las quebradas, grama alta e com três grandes cerca de 15 associados. Ele abandona o caderno de Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Es-
portões do lado esquerdo. Em volta do espaço, anotações, senta no escritório de frente a uma sas colaborações são essenciais para conseguir
tem de tudo: portões, janelas, espelhos, caixas de prateleira cheia de esculturas santificadas e revela equipamentos, como uma balança conquistada
papelão e garrafas – que confundem o galpão da sua história de 30 anos como catador. através de uma parceria com a Coca-Cola e ou-
associação com um depósito de ferro velho. Por Mensalmente, toneladas de materiais são se- tras associações.
dentro, assemelha-se a um labirinto. Apesar dos lecionados e enviados para fábricas de recicla- Essas cooperações são importantes também
materiais estarem organizados em pilhas, a enor- gem. Só em outubro, entre vidro, plástico e para garantir a continuidade dos serviços das as-
papelão, foram 40. Ainda assim, o reciclador ex- sociações. Apesar da ajuda fornecida pela Prefei-
“De fato, o material [da coleta plica que até descartes eletrônicos são aprovei- tura Municipal de Uberlândia, que disponibiliza o
tados para reciclagem na associação, visto que espaço, o custeio das contas de energia e a reali-
seletiva] que a prefeitura alguns deles são treinados para desmontá-los e zação da coleta seletiva, Martins conta que ela
prepará-los. Contudo, reforça que é preciso ter deveria se preocupar mais com os catadores, já
passa para gente já é o estômago forte devido a muitos descartes ina- que eles são os responsáveis por fazer as campa-
dequados. “Tem gente que vai lá, varre as fezes nhas de conscientização populares e ensinar a
suficiente pra sobreviver, mas do cachorro em uma sacolinha e põe um monte fazer descartes de maneira adequada.
de garrafa pet em cima. Outro pega um gato No entanto, mesmo com o grande impacto pro-
eu gostaria de viver, sabe? Eu morto, coloca em uma caixa e manda pro cami- movido pelo seu trabalho, Roosevelt desabafa diante
quero algo mais”. nhão da coleta seletiva”, alerta.
Preocupado com o meio ambiente, o catador
da precariedade em que trabalha e o menosprezo
das organizações públicas. “Tô com 60 anos, aí eu
Roosevelt Martins dos Santos enfatiza que seu trabalho afeta a vida de todos no vou parar de trabalhar e vou viver de um salário
planeta. “Você pega uma fotografia das tartaru- mínimo de aposentadoria. Não vou conseguir viver
me quantidade deixa a sensação de bagunça. No gas enroscadas em garrafa pet e abre alguns pei- com isso e vou ter que voltar a catar, pra eu conse-
sopé de cada pilha, há pessoas selecionando o xes aí que dentro deles é só plástico”, exemplifica. guir ganhar alguma coisa e conseguir comprar pelo
que será reciclado e o que será descartado. Essa Ele reforça: “é um absurdo, uma pessoa educada menos os meus remédios”, lamenta.
triagem é necessária devido a chegada de resídu- achar que o material que ela tá mandando pra Logo após a conversa, ele se levanta e vai
os inadequados juntos ao material reciclável, coleta tá ajudando só os catadores Não sabe que atender os catadores autônomos que o procura-
mesmo havendo uma coleta específica. tá se ajudando, tá ajudando as gerações futuras vam em busca de ajuda. No caminho até a saída,
Ao fundo, na terceira entrada, há uma cozinha da família dele”. sentada em meio às pilhas, segurando uma bone-
e um escritório improvisado. Lá, de pé e com olhar Administrada com carinho, Roosevelt conta ca que deve ter achado nas montanhas de lixo,
atencioso, está Roosevelt Martins dos Santos, pre- que a associação disponibiliza os materiais para uma criança se despede da repórter que pensa
sidente da Associação de Catadores de Materiais preservar o catador e faz diversas parcerias para alto: “eu vi a desigualdade de perto”. 

Saiba mais sobre o lixo e seu descarte em Uberlândia

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Senso nº47
CULTURA Dez/2019
ESPECIAL
ESPECIALDESIGUALDADES
DESIGUALDADES

Cinema: Cultura para todos?


TÚLIO DANIEL

A volta de Toy Story 4 tros apenas gesticulam,


(2019) para as telas de ci- o que faz com que a de-
nema deixou os jovens sigualdade esteja cada
empolgados pela nostal- vez mais presente.
gia e, na cidade de Patro- A realidade de Luís
cínio, a 150 km de Fernando (20 anos), es-
Uberlândia, o clima era tudante de Engenharia
ainda mais agradável. Elétrica e pessoa com
Uma promoção come- deficiência auditiva não
morava, no dia 12 de ju- se distancia das demais.
lho, um ano da estreia da Morador de Uberlândia,
rede de cinemas na cida- o jovem só frequentou
de e as salas estavam lo- cinemas em sua cidade
tadas, menos com a natal, Montes Claros,
presença de Ana Karo- que também não possui
liny (20 anos), portadora acessibilidade para sur-
de deficiência visual e dos. "Vingadores: Ulti-
patrocinense, que até mato" (2019) foi o último
hoje não frequentou o lo- filme que viu em um ci-
cal por falta de acessibi- nema, e o que restou a
lidade. ele foi ir a uma sessão
Mesmo comparecen- legendada por ser a que
do poucas vezes, a jovem mais lhe assistiu. Porém,
gosta de ir a cinemas e já a falta de assistência fez
foi em alguns nas capi- com que não ir ao cine-
tais de São Paulo e Rio de ma se tornasse algo co-
Janeiro, porém, também mum: “pra mim é
sem acessibilidade para tranquilo não ir a cine-
pessoas com deficiência mas, não me sinto ex-
(PCD). A falta de audio- cluído, mas isso varia de
descrição faz com que pessoa pra pessoa”.
Ana dependa da ajuda de alguém que a esteja acompanhando O diretor e roteirista Cássio Pereira, dono da empresa
para descrever as cenas, se não todas elas, pelo menos aque- Campo Cerrado Produções, sediada em Uberlândia, percebe
las que ela tenha mais dificuldade em imaginar o que seja. a importância da acessibilidade de deficientes visuais e au-
A 844 quilômetros de distância, Carlos Antônio Bonavita ditivos e também a representação destes em conteúdos ci-
(24 anos), namorado de Ana Karoliny e também pessoa com nematográficos. “Ė importantíssimo, não só do ponto de
deficiência visual, divide do mesmo problema. Apesar de vista econômico, mas porque o certo em uma democracia é
morar na capital do Rio de Janeiro, o jovem nunca foi a um que todos tenham acesso à cultura”, opina. Há cerca de 10
cinema acessível. Quando frequenta as salas de cinema, vai anos, Cássio foi contratado pelo Instituto Nacional de Edu-
com amigos ou familiares que possam narrar o filme. Uma cação de Surdos (INES) para dirigir vários curtas com atores
das soluções encontradas é poder assisti-los nas versões on- surdos encenando em LIBRAS, e seu longa-metragem, Va-
line e que possuem legendagem. lentina, terá versões acessíveis, incluindo a Língua Brasileira
A Agência Nacional do Cinema (ANCINE) publicou, em de Sinais, legenda descritiva e audiodescrição.
2016, a Instrução Normativa nº 128, que regulamenta a Lei Abrangendo o cenário nacional, a ETC Filmes é uma em-
13.146/2015 e estabelece regras voltadas à promoção da presa que atua produzindo acessibilidade para grandes es-
acessibilidade aos distribuidores e exibidores cinematográfi- túdios do mercado, como Disney, Sony e Universal. A
cos. Em resumo, ela prevê que distribuidores devem prover, coordenadora de acessibilidade e legendas da ETC Filmes,
para todas as obras lançadas em salas de cinema, os recur- Thais Ortega, possui uma visão positiva a respeito da imple-
sos de legendagem, legendagem descritiva, audiodescrição e mentação da normativa 128: “a acessibilidade será feita de
LIBRAS. Os exibidores deverão adaptar suas salas de modo a maneira individual e fechada, ou seja, as pessoas com defici-
permitir a oferta dos recursos de acessibilidade em todas as ência receberão equipamentos próprios para a exibição dos
sessões comerciais, sempre que solicitado pelo espectador. recursos escolhidos, sem interferir na experiência das pes-
Os prazos da normativa iniciaram-se em junho de 2019 e soas sem deficiência”.
até janeiro do próximo ano, todo o parque exibidor comerci- A empresa na qual Thais trabalha surgiu justamente pen-
al deverá estar adaptado. Adriana Oliveira, assessora da AN- sando em derrubar barreiras através de recursos acessíveis.
CINE, confirma que boa parte do conteúdo audiovisual Assim, quando uma produtora recebe incentivo público para
ofertado no Brasil ainda não oferece modalidades de consu- a produção de um filme, ela deve produzir os três recursos de
mo aptas a proporcionar uma experiência satisfatória às acessibilidade já citados anteriormente e é aí que a ETC atua.
pessoas com deficiência auditiva e visual. “Cinema é cultura e a cultura é um direito de todos os seres
“Nenhum cinema aqui em Uberlândia é acessível”. Essa é a humanos. Se não houver barreiras, todos terão as mesmas
primeira fala de Sayuri Karoline Nogueira, estudante de Lín- possibilidades, isso é inclusão de verdade”, afirma Ortega.
gua Portuguesa com Domínio em LIBRAS e estagiária intér- Enquanto a normativa da ANCINE não é aplicada, Ana Ka-
prete na TV Universitária da UFU. Mesmo ouvinte, a jovem roliny, Carlos, e outras 16,3 milhões de pessoas com
percebe a dificuldade que surdos encontram ao se falar em deficiência visual e auditiva, de acordo com os dados do IB-
cinema na cidade: “É um atraso cultural. Legenda nem sem- GE de 2010, continuam na espera das salas de cinema fre-
pre é a solução, já que não é todo surdo que sabe ler”. Cada quentadas assiduamente por amigos, familiares e casais,
pessoa é um ser individual, assim, alguns surdos são capazes serem menos desiguais e passarem também a serem fre-
de oralizar, ler o português, entender LIBRAS, enquanto ou- quentadas por eles. 

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Dez/2019
SAÚDE
ESPECIAL
ESPECIALDESIGUALDADES
DESIGUALDADES

A ditadura do pênis A sexualidade feminina ainda é


cercada por preconceito e vergonha

BEATRIZ EVARISTO

Quando você era criança e começou a sentir curiosidade adolescentes sem acesso à educação estão propensas a
sobre seu corpo, como seus pais reagiram? Na adolescência, engravidar quatro vezes mais.
quando sentiu vontade de tocar sua vagina por estar com Ainda neste relatório, é possível ver formas para erradi-
um desejo diferente, como contou para suas amigas? Já adul- car essa situação. Algumas delas são: aumento na distribui-
ta, quando transou com aquela pessoa que tanto queria e não ção de contracepção, promover medidas e normas que
sentiu prazer algum, o que você fez? Essas são situações vi- proíbam o casamento infantil e as uniões precoces, ou se-
venciadas por mulheres todos os dias e a culpa é de quem? ja, antes dos 18 anos de idade e aumentar os cuidados
Crescemos com uma cultura enraizada de desaprovação e qualificados de pré-natal, parto e pós-parto. Porém,
proibição de tocarmos nossos próprios corpos e falarmos essas estratégias não são pensadas para conscientizar
sobre sexo, pois é visto como pecado, algo sujo ou errado. a população e evitar o problema, são dadas para
Não conversar com os jovens e não ensinar de forma ade- conter um cenário em que já há gravidez na ado-
quada sobre sexualidade só constrói uma sociedade pre- lescência, uma possível explicação é de fato não
conceituosa e desinformada. poder falar sobre sexualidade.
“Qualquer assunto voltado a vida sexual é um tabu na
minha família, então me sinto desconfortável e com ver- CONHECENDO O CORPO
gonha”. Essa foi uma das respostas dadas em anônimo no
questionário produzido pelo Senso Incomum. Foram 126 Quando o assunto é masturbação, é co-
mulheres, entre 18 e 60 anos, que se abriram e falaram mum associar a homens. Para as mulheres, a
sobre sexualidade feminina. O assunto tem sido pauta palavra “segredo” está completamente liga-
de debates e artigos acadêmicos, mas ainda é um te- da. Basta fazer uma busca sobre mastur-
ma muito velado na sociedade. No mesmo questioná- bação feminina no Google que aparecem
rio, a maioria das mulheres respondeu que sentem vários sites prometendo ensinar as “téc-
vergonha ou medo ao falarem sobre sexo. nicas secretas” para atingir o orgasmo. A
Somos caladas todos os dias, desde pequenas, problemática está no fato de transfor-
pelos órgãos públicos, pelos pais que não falam do mar o ato feminino em algo completa-
assunto, pelos homens que se recusam a utilizar o mente difícil e misterioso.
preservativo ou que acham graça quando falamos da A ginecologista e terapeuta sexual,
vagina, pelas igrejas que julgam as mulheres como pe- Thaís França, enumera alguns proble-
cadoras, quando falam abertamente sobre sexualida- mas da sexualidade feminina: “um
de. Tornar secreto é uma forma de repressão. terço das brasileiras nunca conseguiu
Não conversar sobre sexualidade é tão enraizado chegar ao orgasmo, as causas podem
na nossa cultura que essa dificuldade vem desde a ser as mais variadas, como emocio-
formação dos professores. As universidades não se nais, culturais e físicas, mas uma das
importam em ensinar essa temática. “Durante toda razões mais comuns é o desconhe-
minha graduação eu tive 14 disciplinas pedagógicas, cimento do próprio corpo”.
que abordaram muitos temas importantes, mas se- Em muitos casos, não chegar
xualidade, não”, relata a professora de biologia, ao orgasmo, tanto na masturba-
Bruna Nobile. ção quanto na relação sexual, é
Nobile é professora de Ciências Biológicas, há associado a falta de autoconfian-
doze anos, Atualmente, ela trabalha na rede públi- ça e autoestima . Mas não é exa-
ca da cidade de Ribeirão Preto, interior de São tamente assim, França afirma
Paulo. Quando o assunto é sexualidade, ela per- que “o prazer sexual não é in-
cebe algumas dificuldades para o aprendizado tuitivo, ele precisa ser apren-
das alunas e dos alunos, em essencial, para os dido”, ou seja, a forma ideal
estudantes da rede estadual. “A apostila, tra- para desfrutar dos prazeres é
balha a sexualidade apenas na 1ª série do en- a educação.
sino médio. Esse ano a recebemos em uma Modelo: Beatriz Evaristo
qualidade bem inferior [em relação aos Foto: Beatriz Evaristo
anos anteriores]”
Os alunos não estão habituados com
esse tema, obrigando os professores a se
desdobram para conseguir atenção e a
seriedade dos estudantes. “Eu faço to-
da uma preparação psicológica com
eles antes de começar a trabalhar a
sexualidade. Eu explico as regras, fa-
ço acordos com eles”, conta Nobile.
Não ensinar temas como esse
dentro da escola reflete no cres-
cimento dos jovens. Um relatório
divulgado em 2018, pela Organi-
zação Pan-Americana da Saúde/
Organização Mundial da Saúde
(OPAS/OMS), informa que, na
grande maioria dos países, as

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Senso nº47
ESPECIAL Dez/2019
ESPECIAL
ESPECIALDESIGUALDADES
DESIGUALDADES

Para driblar o machismo: passado


A história das jogadoras que desafiaram a lei
ALLANA LIMA

Os dedos de Zalfa Nader, pionei- mulheres na sociedade perduram


ra do futebol feminino, percorrem a no século XXI. “Eu acredito que o
caixa de fotografias como se esti- que chega, até hoje, contra as mu-
vessem à caça de um tesouro. De lheres é muito mais pela permanên-
óculos escuros e com a disposição cia cultural do que pelo
de quem está prestes a entrar em impedimento legal”. O decreto de
campo, ela recebeu a reportagem Vargas foi revogado em 1979. Entre-
do SENSO para falar daquilo que ela tanto, somente no ano de 1983 a
mais ama: futebol. “É inesquecível modalidade foi regulamentada no
essa parte da vida”. Brasil, por força da mobilização das
Zalfa Nader foi capitã do time atletas.
Araguari Futebol Clube, nos anos de
1950. Naquela época, dispositivos MULHERES EM CAMPO
legais impediam que as mulheres
entrassem em campo. As fotografias Em 2012, 33 anos após a revoga-
em preto e branco da atleta vetera- ção do decreto de Vargas, uma ati-
na são como janelas para uma via- vidade de lazer para as mulheres do
gem no tempo. bairro Dom Almir, em Uberlândia,
O ano era 1941 e, nas páginas do adquire força e desponta nacional-
jornal carioca O imparcial, o noti- mente: o time de futebol feminino
ciário esportivo estampava a se- Divas Dom Almir. Aliado a um cres-
guinte frase: “Pé de mulher não foi cimento profissional e pessoal, as
feito para se metter em shooteiras!”. atletas começam o contato com o
Naquela mesma década, a primeira projeto desde a adolescência. “[Os
árbitra brasileira, Léa Campos, foi treinadores] nos cobram foco nos
proibida de apitar jogos e o Conse- estudos, responsabilidade, discipli-
lho Nacional de Esportes autorizou na e comprometimento”, relata a jo-
a prisão de mulheres que ousassem gadora Maria Laura (19 anos).
o contato com a bola. Frases como Esses princípios têm sua origem
“Fottbal mata a graça da mulher” se nos anos 1950 com a atuação em
tornam rotineiras no jornal. campo das pioneiras atletas de
O ano é 2019 e, na página de Fa- Araguari que desafiaram a lei e en-
cebook do time uberlandense Divas traram em campo. “Jogar, até en-
Dom Almir, dentre os comentários tão, era tranquilo. Não sofríamos
sobre a vitória no campeonato de com assédio e nem desrespeito.
futebol, está a frase: “No campo são Porém, logo depois que a proibi-
vencedoras, já fora dele, as louças ção se intensificou, precisamos
de casa estão todas sujas”. Exatos 78 parar de jogar e o time se encer-
anos separam as publicações em O rou, sem volta”, recorda a capitã
imparcial e no Facebook. Zalfa segurando a foto em que
aparece, aos 15 anos de idade, fa-
DECRETO LEI PROIBIA MULHE- zendo uma embaixadinha.
RES DE JOGAR Ainda em 1958, jogadoras de 15 e
16 anos foram proibidas de atuar em
Em 1947, o então presidente Ge- campo por moradores de Tupaci-
túlio Vargas assinou o decreto-lei guara (MG) por acreditarem que fu-
3.199 que estabelecia “as bases de tebol não era coisa de mulher e os
organização dos desportos em to- shorts estavam curtos. “Umas mu-
do o país”. O artigo 54 determinava: lheres da igreja ameaçaram colocar
“Às mulheres não se permitirá a fogo no ônibus se entrássemos na
prática de desportos incompatíveis cidade”, relembra a ex-atleta.
(SIC) com as condições de sua na- A jornalista Teresa Cristina de
tureza”. O texto determinava, ain- Paiva é filha do fundador do clube PIONEIRA DO FUTEBOL FEMININO, ZALFA NADER, CONTA SUA HISTÓRIA DE RESISTÊNCIA.
da, que o Conselho Nacional de araguarino Ney Montes e defensor FOTO: PEDRO SOUZA
Desportos editasse instruções do futebol feminino. “Ney Montes
complementares. foi uma pessoa muito à frente do gestora de comunicação da organi- Futebol (Editora Xeroca!).
“O decreto da década de 40 é co- seu tempo”, define. Segundo Paiva, zação internacional Love.Fútbol, No campo jornalístico a disputa
erente com a forma de pensar as Montes tinha por objetivo incenti- Larissa Brainer, gosta de futebol também é por espaço na cobertura.
coisas no mundo daquela época. O var outras cidades a criar amistosos desde a infância e se profissionali- Em 2018, as jornalistas se uniram na
que é estranho é como ninguém te- de futebol para mulheres. zou, em 2015, após uma campanha campanha Deixa Ela Trabalhar, para
ve energia de revogá-lo, emergindo de comunicação. “Ao desenvolver a denunciar o assédio nas redações.
de algo autoritário e controlador”, ELAS SÃO O FUTURO ação de comunicação #JogaPraElas, “Ser mulher e ocupar esse espaço
explica a historiadora da Universi- passei a entender melhor o cenário de produção de conteúdo, de co-
dade de Brasília (UnB), Teresa Cris- A proibição do futebol feminino da modalidade. Desde então, me nhecimento sobre esporte é um ato
tina Marques. contribuiu para um déficit de mu- tornei ativista pela presença da mu- político. Vai além do indivíduo. É
De acordo com a pesquisadora, lheres escritoras e comentaristas lher no futebol”, explica a jornalista representação e resistência”, defen-
essas resoluções sobre o espaço das esportivas no Brasil. A jornalista e que é uma das autoras do Elas e o de Brainer.

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Senso nº47 Senso nº47
Dez/2019 Dez/2019
ESPECIAL DESIGUALDADES

o e presente do Futebol Feminino


i e dificuldades atuais para entrar em campo

'Enquanto tiver uma rua ou terreno baldio, a gente joga'


ÍTANA SANTOS

Estádio Municipal Parque do Sa- convite para campeonatos em ou- postas do amador feminino de retoria já pensa em estratégias
biá, casa do Uberlândia Esporte Clu- tras cidades e o time não possui ver- Uberlândia para desenvolver traba- financeiras para atender essa de-
be (UEC), time masculino de futebol ba para a participação. Damas conta lho conjunto. Para ele é inviável pro- manda.
da cidade. Não só homens jogaram que há casos de meninas que che- fissionalizar a partir do amador O diretor afirma que entrando
nesse gramado. O estádio também faz gam sem se alimentar, não possuem feminino, que são projetos embriões nas séries do brasileiro e recebendo
parte da história do futebol feminino nem uma bolacha em casa, que vêm se comparados ao amador masculi- as cotas de transmissão da TV, parte
do Brasil e da América do Sul, pois se- de longe a pé ou de bicicleta. Não há no, centenário na cidade. “Para fazer dos valores serão repassados para o
diou, em 1995, o Campeonato Sul condições de custear a viagem, não um projeto profissional, teria que desenvolvimento do time feminino.
Americano Feminino. Porém, a cidade têm patrocínio e nem apoio munici- contratar muito material de fora, in- Atualmente, o Uberlândia não dis-
palco do segundo título do país na pal. Por falta de recursos financeiros clusive atletas, pelo nível técnico puta nenhuma das quatro divisões
competição, que viu Sissi marcar 12 para transporte, o time deixou de atual do futebol uberlandense”, diz. do brasileiro e somente a série A é
gols e ser artilheira do campeonato, participar dos dois principais tor- Embora existam muitas promessas transmitida em canal aberto.
tem uma equipe masculina com vaga neios de futebol nas equipes ama- Enquanto isso, o Divas segue jo-
garantida no Mineiro A1, enquanto de campo e soci- doras, elas devem gando com as condições que pos-
não tem um time feminino, nem es- ety da região. “Falta uma quadra. ser trabalhadas suem e conquistando espaço e
trutura ou apoio para os projetos que Muitas equipes gradualmente. títulos. A equipe de Damas ganhou
tentam formar um. amadoras fizeram Talvez liberar uma ou Segundo Gomide, o Torneio Regional em Guimarania
Os treinos do Divas do Dom Almir parcerias com seria possível fa- de futsal feminino, dois torneios em
não têm um local fixo. Eles ocorrem clubes masculinos um horário para gente. zer um trabalho Indianópolis e um campeonato sub-
na quadra pública do bairro Dom Al- profissionais para de mescla, reu- 17. Além das conquistas coletivas,
mir ou na escola Ederlino Lannes. terem melhores Tem mais horário para nindo amadoras e algumas jogadoras atuam em outras
Os problemas não abalam o em- condições de trei- profissionais. cidades e estados, também colecio-
penho. O técnico e coordenador do no e participarem os meninos jogarem do O clube já nando títulos. Três foram vice-
projeto, Alexsandro Damas, afirma de outros campe- pensou em ter campeãs no Campeonato Mato-
que elas reclamam quando só tem onatos, como o que para nós”. uma equipe femi- grossense, quatro estão jogando no
bate-bola: “Elas querem toda siste- Mineiro Feminino nina, mas o fator Ceilândia Esporte e duas pela cida-
matização, chegar, alongar, aquecer, 2019. O Divas não Tálita Fernandes financeiro invia- de de Guará.
ter educativos e, só no final, uns 15 a teve contato dire- biliza sua criação. Em meio a dificuldades pessoais,
20 minutos de coletivo”. Ele observa to com o UEC so- Manter a modali- financeiras e estruturais, elas bus-
que há pouco trabalho técnico dire- bre a possibilidade da parceria. Alguns dade, de acordo com Gomide, com- cam soluções para continuar o proje-
cionado ao futebol feminino. “Você apoiadores do grupo prometeram fa- prometeria 25% do orçamento to. Como afirma Alexsandro Damas,
vai nas escolinhas e tem uma ou ou- zer a ponte com o clube, mas houve mensal de um departamento de fu- “a gente não vai desanimar. Podem
tra menina treinando com os meni- nenhum resultado até o momento. tebol, prejudicando o setor masculi- tirar o que quiser, mas enquanto ti-
nos, mas não tem um trabalho Enquanto Uberlândia não mostra in- no e acarretaria em duas ver uma rua ou terreno baldio, a gen-
específico com elas. As carências do teresse pelas atletas, outras cidades, instituições fracas. Como a partir de te joga”. O Divas encerra a temporada
futebol feminino são totalmente di- como Araguari, Patrocínio, Patos de 2021 todos os clubes que estiverem com o tradicional Torneio Solidário
ferentes do masculino”, constata. Minas e Uberaba vem realizando nas séries A, B e C do Brasileirão se- em dezembro. Para a temporada de
Não é por falta de local ou treino convites para montar um time. rão obrigados a ter representantes 2020, a aquipe já se prepara para o
técnico que as jogadoras desani- O diretor do UEC, Flávio Gomide, femininos e o UEC anseia em retor- regional de society em janeiro e o in-
mam. O problema vem quando surge confirma que nunca recebeu pro- nar para as divisões nacionais, a di- ternacional em março. 

MESMO COM RECURSOS LIMITADOS, GAROTAS FAZEM SEUS TREINOS DIÁRIOS


EM QUADRA PÚBLICA. FOTOS: TÚLIO DANIEL.

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Senso nº47
POLÍTICAS Dez/2019
ESPECIAL DESIGUALDADES

"O olhar das pessoas muda quando eu falo que


sou da Ocupação"
Preconceito dificulta acesso aos serviços públicos em Uberlândia
LUAN BORGES

na Fidel Castro provoca respostas ção de posse. Já teve apenas um


em tom de obviedade. Há três anos, quadrado de cimento para chamar
Tatiane conviveu com os aluguéis de lar, mas, hoje, vê a mãe e a irmã
do bairro Tibery e sabe o número construindo seus barracos na mes-
de anos, meses e dias em que pagou ma ocupação.
aluguel, antes de aceitar condições A baixa taxa de casas de alvenaria
de moradia por vezes insalubres, em contraste às dezenas de barra-
que não custam nada por mês. Isso cos de madeira não impedem a
porque, não é só a falta de moradia existência de uma comunidade hos-
que justifica a necessidade de uma pitaleira, que vê em confraterniza-

“Da última vez falaram que elas eram da terra,


que chegavam lá com os pés sujos e sujava toda
escola de barro. A gente sofre porque isso pesa na
mente das crianças e atrapalha no estudo delas”.
Tatiane Cardoso
ocupação. As condições em que a ções um anestesiante dos dias
família vive também configuram tó- difíceis. Segundo Débora Alves, uma
picos de déficit habitacional. “A das coordenadoras do MTST, “esta-
gente pagava mais de mil reais de mos construindo nosso barracão,
aluguel por mês, além das despesas que vai ter aulas de balé, jiu-jitsu,
com contas, alimentação e as crian- capoeira e tudo que a gente conse-
ças”, frisa. guir de parceria”. As palavras anima-
À época, mãe solteira e desem- das de Débora ainda reforçam o
pregada, Tatiane ficou 11 anos ins- Natal Solidário, no qual cada mora-
crita no programa do Governo dor dá o alimento que pode para fa-
Federal, o Minha Casa, Minha Vida zer um almoço na praça.
(MCMV), e nunca foi contemplada. Carregado de histórias como a de
“Sempre tive os requisitos para re- Tatiane, o assentamento teve início
ceber e, quando fui correr atrás já no dia 28 de novembro de 2016 pelo
não era mais esse programa”, lembra MTST e este ano, completa três
Cardoso, referindo-se a retomada anos. No início, foram reunidas mais
do “Tchau Aluguel”, programa habi- de 900 famílias às margens da BR-
TATIANE ACREDITA EM UM FUTURO COM MELHORES CONDIÇÕES DE MORADIA PARA OS tacional da prefeitura de Uberlândia 050. Atualmente, os moradores do
FILHOS. FOTO: ÍTANA SANTOS destinado a famílias com renda en- terreno de 16 hectares em frente ao
tre R$ 1.200 e R$ 2.600, que ficou Parque do Sabiá vivem entre incer-
Tatiane Cardoso, 28 anos, senta (MTST), constituem a segunda mai- impossibilitado de execução devido tezas e esperanças de que o proces-
em um banco de madeira enquanto or ocupação de Uberlândia: a Fidel ao baixo número de aprovações na so de regulamentação da ocupação,
segura o filho mais novo, de três Castro. Em número de famílias, a análise de crédito da Caixa Econô- parado desde 2017 no Tribunal de
anos, no colo. É uma quarta-feira de comunidade fica abaixo apenas do mica Federal. Justiça (TJ), seja retomado e que o
sol e, cansada, a mãe de outras duas bairro Élisson Prieto, conhecido co- Depois, Tatiane se manteve firme movimento abrace novas famílias
meninas, uma de oito e outra de on- mo Glória, que, segundo a Compa- diante das tentativas de reintegra- para fortalecer sua frente. 
ze anos, acaba de chegar em casa, já nhia de Habitação de Minas Gerais
que precisa caminhar dois quilôme- (COHAB Minas), possui cerca de
tros a pé para levar as filhas até a es- 2500 moradias.
cola. “O ônibus escolar não para no Ainda que a Fidel Castro não es-
ponto em frente ao bairro para pe- teja dissociada do território do mu-
gar as crianças daqui”, afirma. nicípio, os moradores da ocupação
O problema de mobilidade afeta enfrentam preconceito de forma co-
também o direito de acesso à saúde. tidiana. Na fala segura, Tatiane car-
Sem dinheiro para ônibus, os mora- rega a indignação de ver a mudança
dores precisam se deslocar à Unida- no olhar das pessoas quando fala que
de de Atendimento Integrado (UAI) é moradora da comunidade. Por es-
do bairro Morumbi, a seis quilôme- sas circunstâncias, ela acredita que
tros de distância. Nas proximidades, as filhas sofram bullying na escola.
o atendimento é apenas para ges- “Da última vez falaram que elas eram
tantes e crianças de até dois anos. da terra, que chegavam lá com os
A família de Tatiane, que também pés sujos e sujavam toda a escola de
conta com o marido Antônio, faz barro. A gente sofre porque isso pe-
parte das mil famílias que, de acor- sa na mente das crianças e atrapa-
do com a Coordenação do Movi- lha no estudo delas”, declara. O PAÍS REFERÊNCIA NO FUTEBOL SEGUE TAMBÉM SENDO REFERÊNCIA NA
mento de Trabalhadores Sem Teto Perguntar o motivo de ir morar DESIGUALDADE SOCIAL. FOTO: ÍTANA SANTOS

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Senso nº47
Dez/2019
POLÍTICAS
ESPECIAL DESIGUALDADES

Trabalho doméstico intensifica vulnerabilidade de


mulheres no Brasil
Depois de seis anos da aprovação da PEC das domésticas, o quadro mudou para pior
MILENA FÉLIX

“Tá tudo bem, hoje, o trabalho é fácil”. É o que


a diarista Joana D’arc, de 47 anos, diz para acal-
mar a família ao sair para trabalhar logo após
chegar do hospital com uma disenteria. Ela não
pode perder um dia de trabalho, já que a família –
composta por quatro mulheres portadoras de
problemas de saúde – depende unicamente do
seu salário para as despesas diárias.
Joana trabalha como empregada doméstica há
16 anos e meio, e há cinco assumiu a função de di-
arista. Durante dez anos, cumpriu a função de do-
méstica em uma casa de família, mas foi
dispensada do trabalho quando teve um caso de
depressão. Ao ficar desempregada, foi obrigada a
procurar outro tipo de remuneração, e passou a
atuar como diarista na cidade de Uberlândia (MG).
Mulheres como Joana, que trabalham há
muitos anos no serviço doméstico, não pos-
suíam direitos trabalhistas até a aprovação da
Proposta de Emenda Constitucional (PEC) nº
66 em 2013. Por volta da data de aprovação da
PEC, Joana teve sua carteira assinada na casa
onde trabalhava. LOGO DE MANHÃ, JOANA PULA DA CAMA PARA COLOCAR AS COISAS EM ORDEM E SEGUIR PARA A ROTINA DE TRABALHO.
FOTO: BARBARA JANNINI
QUEM SÃO OS EMPREGADOS DOMÉSTICOS
anos de idade – faixa etária que tende a aumen- ada pelo patrão e a sofrer agressão do filho da
De toda a classe trabalhadora do Brasil, 7,6% tar – e têm até sete anos de escolaridade. dona da casa. Mas quando eu era criança não
se ocupa do serviço doméstico, de acordo com a A PEC das domésticas, então, representa os percebia, quando eu fui estudar comecei a ficar
última pesquisa completa divulgada pelo Instituto interesses de um grupo específico da população: revoltada”, relata a historiadora que transformou
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em mulheres negras de meia idade e baixa escolari- a dor em pesquisa.
abril de 2010. Segundo a mesma pesquisa, traba- dade. A historiadora especialista em trabalho do-
lhadores domésticos do país têm sexo, idade, cor méstico da UFU, Jorgetânia Ferreira, explica que, SINDICATO
e classe social bem definidos. Aproximadamente historicamente, foi construída a ideia de que o
95% pertencem ao sexo feminino - o que explica cuidado é uma atribuição feminina. A professora Em Uberlândia, o Sindicato dos Trabalhadores
o uso tão natural da expressão “empregadas do- acrescenta: “Como o Brasil é um país de muita Domésticos (SINTRAD) – órgão responsável por
mésticas”. Além disso, 62% desse grupo são pes- desigualdade, quem vai fazer o trabalho domésti- representar os interesses dos trabalhadores do-
soas pretas ou pardas, possuem entre 45 e 54 co são as mulheres pobres - que além de ser mu- mésticos e promover discussão e fiscalização so-
lheres, em geral são negras”. bre a atuação desses profissionais na cidade –
deixou de existir. Em seu lugar, foi criada uma
A PEC A NECESSIDADE DA PEC empresa de contratação de diaristas, chamada
“Click domésticas”.
Em abril de 2010, o deputado federal Carlos Joana D’arc, hoje, enfrenta muitos problemas A especialista em direito das empregadas
Bezerra (MDB) apresentou a proposta de al- de saúde que decorrem do esforço físico que seu domésticas e ex-doméstica, Lyzyê Almeida,
terar o artigo 7º da Constituição Federal para trabalho tem exigido ao longo dos anos. Entre afirma que a ausência de sindicato é grave. “O
uma injeção de corticoide por mês e algumas do- sindicato é importante, porque ele é que dá
assegurar igualdade de direitos trabalhistas
ses já tomadas de morfina, a diarista conta que uma retaguarda para as empregadas domésti-
entre os empregados domésticos e demais terá que se afastar do trabalho em decorrência cas em uma negociação, por exemplo. É tam-
trabalhadores do Brasil. de um desgaste nos ombros: “Eu tento usar mais bém papel dele sanar dúvidas, porque as
No texto apresentado na proposta, o deputa- um braço que o outro que está doendo menos, empregadas não têm conhecimento dos seus
do afirmou que não havia “justificativa ética” mas os dois braços doem muito”. direitos e é preciso ter esse ponto de apoio”,
para a não formalização dos empregados Sem os devidos direitos trabalhistas, Joana não afirma a advogada. A sindicalista Solange Bar-
domésticos e que a continuação da situação vai conseguir se aposentar ou tirar férias por ros ressalta que, sem o órgão em Uberlândia, as
causa do seu problema no braço. Como diarista, domésticas ficam mais vulneráveis, porque,
de desigualdade da época era uma “iniqui-
sem carteira assinada, seus direitos dependem precisando de trabalho, acabam se submetendo
dade”. O processo, iniciado no início da déca- do pagamento privado da previdência. De acordo ao que é proposto pelo empregador.
da na Sala das Sessões, só seria terminado, com Jorgetânia, esse é apenas um dos problemas Mesmo sem direitos trabalhistas, Joana gosta
no entanto, três anos mais tarde: a PEC das enfrentados pelas empregadas domésticas não do trabalho que exerce. Para ela, o dia de quarta-
domésticas foi aprovada no dia 3 de abril de regularizadas no país. “Elas se submetem a uma feira é seu preferido: na casa onde faz faxina,
2013 e garantia, pela primeira vez na história jornada de trabalho muito grande. Mulheres so- brinca com o filho do casal de um ano. “Ele é
do Brasil, todos os direitos trabalhistas dos zinhas, muitas vezes criando seus filhos. Então apaixonado por mim e eu por ele”. A diarista re-
elas cuidam da casa e dos filhos dos outros, e vela: “Eles dizem que eu sou da família, e eu me
empregados domésticos.
ninguém, nem o Estado, cuida dos filhos e das sinto mesmo. Pela liberdade, pela confiança de
A PEC regularizava salário mínimo, décimo filhas delas”, reflete a pesquisadora. me entregar a chave da casa”. Diante dessa reali-
terceiro, repouso semanal, férias, licença ma- Jorgetânia também recorda do sofrimento do dade, Joana afirma que se sente uma mulher for-
ternidade, aviso prévio, aposentadoria e pre- seu passado como empregada doméstica durante te diante do trabalho exaustivo de todos os dias e
vidência social à classe das domésticas. a infância e adolescência. “Cheguei a ser assedi- diz que se orgulha disso. 

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Senso nº47
EDUCAÇÃO Dez/2019
ESPECIAL DESIGUALDADES

Preocupações além do ENEM batem à porta


Pós ocupações escolares, estudantes refletem sobre desafios da educação pública
GABRIELA CRISTINA E GUSTAVO MEDRADO

Em outubro de 2016, o governo anunciou me- tória pela UFU, Isabella Ribeiro, que integrou escola. Decidida a realizar a ocupação, no dia
didas impopulares que geraram revolta em alu- as atividades na Escola Estadual Antônio Luís seguinte Karenina e seus colegas estavam pron-
nos secundaristas. A PEC 241, popularizada como Bastos na época. tos para iniciar o movimento: “chegamos com
“PEC do teto”, congelaria, por 20 anos, investi- Além de gerar proximidade entre alunos e pro- cartazes, megafones e nos posicionamos no pá-
mentos em áreas como saúde e educação. Dentre fessores, as ocupações possibilitaram o “contato tio prontos para ocupar uma das maiores esco-
as reivindicações dos alunos estava também a com universitários que, com os aulões, nos ensina- las de Uberlândia”.
desaprovação da reforma do ensino médio, ação ram coisas importantes para o ENEM”, avalia. Com
unilateral iniciada pela Medida Provisória 746, as ocupações, a graduanda percebeu que poderia DESIGUALDADE E ENSINO
proposta no governo Temer, com a intenção de fazer parte de uma universidade federal e que de-
modificar o currículo escolar. veria lutar por tal direito. Parte fundamental para alcançar o tão sonhado
Mesmo diante das manifestações, o governo Em todo o país, os estudantes mobilizaram-se ingresso no ensino superior, como diz Isabella, é o
avançou com as propostas e ambas foram apro- contra essas ações. Em Uberlândia, 64% das es- acesso a uma educação de qualidade. Em 2018, o
vadas. Apesar disso, três anos depois, os inte- colas de ensino médio foram ocupadas. Kareni- IBGE divulgou dados da Síntese de Indicadores So-
grantes das ocupações não se veem como na Milosevic, hoje com 20 anos e graduanda em ciais. Eles apontam que apenas 36% dos alunos que
vencidos. Para alguns, o movimento teve êxito Filosofia, também pela UFU, participou da ocu- completam o ensino médio na rede pública ingres-
e trouxe contribuições para a realidade de suas pação na Escola Estadual Messias Pedreiro e en- sam em uma faculdade, em contraste com 79% dos
escolas. É o que observa a graduanda em His- frentou resistência por parte da direção da alunos da rede privada.

ESTUDANTE DE BICICLETA AGUARDA ABERTURA DOS PORTÕES DE UMA ESCOLA PÚBLICA

A discrepância fica ainda mais visível quando para a formação política e conscientização de cada culares é a intensa participação dos pais na vida
observado os dados locais da Superintendência aluno, bem como os aproximou da comunidade ex- escolar. Para Eugenia, é essencial que os pais e
de Ensino de Uberlândia. No município, a comu- terna e trouxe novos olhares para o ensino e para a responsáveis acompanhem o estudante para que
nidade escolar de ensino médio é composta por educação. Além da “valorização do ensino formal e o aprendizado seja efetivo. Reconhece, contudo,
34 escolas estaduais, dez colégios privados e três não formal”, Eugenia vê as ocupações também co- que nem sempre isso é possível, visto que parte
institutos federais. As instituições particulares, mo um lugar de aprendizado: “hora nenhuma per- de seus alunos não convivem com uma família
mesmo representando minoria do total, colocam cebi que o aprendizado deles havia sido afetado estruturada. Mesmo diante de tais questões, os
mais que o dobro de alunos nas universidades durante o movimento. Pelo contrário”. As aulas estudantes seguem lutando.
que as escolas públicas. também não deixaram de acontecer. Em 2019, o movimento estudantil manifestou-
Os alunos da rede pública, acessando pouco o Segundo a professora, o momento das ocupa- se contrário à política de contingenciamento de
Ensino Superior, conciliam a rotina de estudos com ções também foi dedicado a relembrar conteú- 30% da verba de instituições de ensino federais.
momentos de reivindicações por melhores condi- dos. “Deixei um pouco do meu conhecimento Seus protagonistas, advindos do ensino médio e
ções de ensino, como nas ocupações de 2016. Para com eles e aprendi muito também." A professora superior, lutam para melhorá-los. Os abismos
Eugenia Pires, professora de física na Escola Esta- acredita que um dos fatores que contribuem para continuam, mas o legado da educação pública e
dual do Parque São Jorge, o movimento contribuiu o bom desempenho dos alunos de escolas parti- gratuita permanece lutando para reduzi-los. 

ENQUANTO ESTUDANTE DE ESCOLA PARTICULAR VAI EMBORA DE CARRO. FOTOS: MILENA FÉLIX

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Senso nº47
Dez/2019
ENTREVISTA
ESPECIAL DESIGUALDADES

Arte negra para além do visual


Flaviane Malaquias conta como a cultura negra a transformou como artista e educadora

FLAVIANE MARQUES COM OBRAS EM EXPOSIÇÃO: DIANTE DO RACISMO, ARTE POSSIBILITOU AFIRMAÇÃO DE IDENTIDADE E LUTA POR RECONHECIMENTO. FOTO: JOÃO MARCELO POZATTI

JOÃO MARCELO POZATTI Em Uberlândia, como é o campo artístico? E o que tenham prazer no que vai ser desenvolvido,
campo artístico negro? eles não vão ver sentido algum. Como professora
A artista Flaviane Malaquias, dedicada ao movi- de Artes, você precisa o tempo todo tentar mos-
mento negro e que se expressa, principalmente, Na cidade, a arte é muito valorizada. A gente trar para o seu aluno que ele precisa ser educado
através da arte, apresentou ao público de vê isso com a Secretaria da Cultura e outros ór- para a estética, para a arte, para o sensível e para
Uberlândia, fotografias, pinturas, desenhos e cha- gãos. Claro que não dá pra dizer que tudo é “mil a crítica. A arte é essa porta, mas os próprios
péus típicos a fim de demonstrar a história e as maravilhas”, mas muitos projetos são realizados alunos subestimam isso.
nuances do Congado uberlandense. A exposição aqui. O núcleo de estudos afro-brasileiros da
ocorreu no ITV Cultural durante novembro, mês UFU também abre muitos caminhos pra quem Durante a sua exposição “Cores do Congado”,
da Consciência Negra. trabalha com a cultura negra na região. peças artísticas foram produzidas pelos seus
Flaviane tem 35 anos, nasceu e cursou todo alunos. Por que você decidiu colocá-los nesse
seu ensino básico em Uberaba-MG. Em 2004, in- Como você vê essa relação entre ser artista e projeto?
gressou no curso de Artes Visuais da Universida- professora? E de que forma a arte afro entra
de Federal de Uberlândia e, atualmente, reside na nessa junção? Quem teve a ideia da exposição, foi o Sérgio.
cidade, onde divide casa com o amigo Sérgio Ro- Decidimos partir para um trabalho em conjunto,
drigues, outro artista local. Malaquias é professo- Enquanto professora, considero bem impor- a partir da especialidade de cada um. Eu tenho
ra de Artes no ensino municipal e vinculada ao tante porque eu tenho alunos que também vivem alguns alunos que fazem parte do Congado e
Núcleo de Pesquisa em Pintura e Ensino (Nuppe) essas crises identitárias. Quando eles te vêem pude trazê-los para serem os protagonistas.
do Instituto de Artes da UFU. Nessa entrevista, como um exemplo, que atua nos dois lados da Eles explicaram qual a estrutura dos ternos do
ela conta a sua trajetória, fala sobre a importân- moeda, eles se sentem representados. Em Uber- Congado para os colegas. Pegamos também o
cia da arte afro na cidade e sobre como é ser uma lândia as manifestações são bem fortes e foi esse trabalho do artista Gleyson Archanjo, que já ti-
professora negra no cenário atual. contato que me fez despertar para novos olhares, nha realizado um trabalho sobre o Congado, e
onde eu consegui trazer essa cultura para as mi- pudemos fazer desenhos sobre esse olhar do
Quem é Flaviane Malaquias no mundo? nhas áreas de trabalho. próprio Gleyson.

Por ter sofrido racismo, a arte me fez ter Há interesse dos alunos nas artes? A arte mudou a sua vida?
um encontro comigo mesma, tendo sempre
que reafirmar: “eu sou negra”. Às vezes, as Eu acho que os alunos até se interessam bas- A arte é mais forte do que a gente. Se eu não
pessoas falam que sou parda e isso me traz tante, porque, na escola onde dou aula, temos al- tivesse feito Arte, ela me perseguiria a vida intei-
questões sobre onde eu pertenço e qual a mi- guns projetos, como o Recreio Cultural, que ra, porque o artista tem uma sensibilidade que
nha raiz. A princípio, eu fui bem limitada por acontece uma vez por mês. Nele, os alunos pe- traz a necessidade de colocar imagens, sons ou
questões religiosas. Porém, quis encontrar no- dem para mostrar suas artes, seja uma dança, um movimentos para fora. Eu não sei se posso dizer
vos caminhos para a minha vida. Então, abri a teatro ou as próprias artes visuais. Na sala de au- que a arte transformou a minha vida, porque ela
porta, entrei e me encontrei naquele perten- la, o professor precisa ter algumas sacadas, ainda caminha comigo desde de criança. Porém, eu
cimento, que seria o início do meu trabalho mais porque a maioria dos alunos não cresceu li- sempre digo que a cultura e a arte afro me trans-
com a cultura negra. gado à arte. Se você não achar caminhos para formou para que eu me encontrasse. 

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Senso nº47
FOTO ENSAIO Dez/2019
ESPECIAL
ESPECIALDESIGUALDADES
DESIGUALDADES

A segregação de um shopping
ANNA JÚLIA, BETINA SCARAMUSSA, KAMILA CRISTINA, LORENA ARTEMIS, LORENA BARBOSA E TÚLIO DANIEL

Em novembro, o Instituto Brasileiro de Este fotoensaio possui o intuito de retratar essa


Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o desigualdade na cidade de Uberlândia, com o
levantamento que aponta o aumento da objetivo de mostrar as distintas realidades de
desigualdade social no Brasil. De acordo com os um país que oferece muito aos ricos e pouco
dados, o rendimento entre ricos e pobres atingiu aos pobres. Na Zona Sul da cidade, dois bairros,
a maior diferença: os ricos possuem renda 13 Shopping Park e Jardim Karaíba, antônimos nos
vezes maior do que as classes mais baixas. quesitos social e econômico, são separados por
Assim, as desigualdades socioeconômicas vêm grandes centros comerciais. Qual lado do
crescendo e atingindo números recordes no Uberlândia Shopping é visto pela sociedade
território nacional. uberlandense?

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