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RESUMO – O colapso do meloeiro causado por Monosporascus cannonballus, é uma síndrome limitante ao
cultivo do meloeiro. A desinfestação do solo por fumigação com brometo de metila antes do plantio é uma prática
comum para manejo da doença, mas tal produto será banido nos próximos dez anos, tornando-se notória a carência
de alternativas que controlem tal fungo. Avaliou-se a eficiência, in vitro, de oito ingredientes ativos (i.a.) em inibir o
crescimento micelial de M. cannonballus. Foram testadas as concentrações 0 (testemunha), 3, 6, 9, 12, 15, 18 e 21
µg.mL-1 de i.a., sendo avaliadas a taxa de crescimento micelial (TCM), percentagem de inibição do crescimento
micelial (ICM) e área abaixo da curva de crescimento micelial (AACCM) que tiveram correlação altamente
significativa entre si para todos os produtos testados. Os i.a. mais eficientes, Fluazinam, Piraclostrobina + Metiram
e Propiconazole foram submetidos a menores concentrações, pois inibiram em 100% o crescimento micelial na
menor concentração testada. As curvas de progresso da ICM, TCM e AACCM, em função das concentrações desses
i.a. foram ajustadas, com coeficientes de determinação variando de 81,76 a 98,31 (ICM e TCM) e 74,65 a 98,31
(AACCM). Dos i.a. testados, os que se apresentaram com maior eficiência foram Fluazinam, na concentração 0,5
µg.mL-1 na qual obteve percentagem de inibição de crescimento micelial de 68,21% seguido de Propiconazole que
obteve, em média, ICM = 56,07%, demonstrando o potencial de utilização dos referidos i.a. no controle de M.
cannonballus.
Palavras-chave: controle químico, colapso do meloeiro, inibição do crescimento micelial
MEDEIROS et al 361
A região Nordeste ocupa lugar de destaque no algumas podem causar impacto ambiental, como
cenário nacional, sendo responsável por 93,4% é o caso da fumigação com brometo de metila
da produção brasileira de melão. Os maiores (COHEN et al., 1999; STANGHELLINI et al.,
produtores estão concentrados nos estados do Rio 2004), motivo pelo qual será proibida a utilização
Grande do Norte, Ceará, Pernambuco, Paraíba e do referido produto até o ano de 2015
Bahia (NEGREIROS et al., 2003). (STANGHELLINI et al., 2004).
Apesar de bem adaptado à região semi -árida, Em testes realizados in vitro com diferentes
o meloeiro atualmente apresenta índices de baixa concentrações de produtos em relação à
produtividade, atribuídos a fatores como patógenos habitantes de solo, houve inibição total
ocorrência de enfermidades, manejo de adubação, do crescimento de M. cannonballus, com os
dentre outros. Entre os problemas de ordem ingredientes ativos (i.a.) Captan e Procimidone
fitossanitária, destaca-se uma síndrome complexa na concentração de 500 µgml -1 , Carboxin-thiram
que apresenta diversos agentes causais, atuando e Tiofanato metílico à 100 µgml-1 (ALVES et al.,
de forma isolada ou em associação com outros 2002 a e b). Tais resultados ampliam as
microorganismos fitopatogênicos (SALES JR. et possibilidades de controle que possam garantir a
al., 2002). Diversas denominações são atribuídas manutenção das plantas até o final do ciclo.
à referida síndrome tais como “vine decline”, Tendo em vista a importância econômica do
“collapse”, “sudden death”, decaimento de ramas colapso do meloeiro aliado ao fato da
ou simplesmente colapso ou morte súbita inexistência de produtos registrados para o
(GARCÍA-JIMÉNEZ et al., 1994). controle da doença, o presente trabalho objetivou
O colapso do meloeiro atribuído a avaliar a eficiência in vitro de oito ingredientes
Monosporascus cannonballus Pollack e Uecker é ativos no controle de M. cannonballus.
considerado uma doença de importância agrícola,
tendo em vista dizimar cultivos da referida MATERIAL E MÉTODOS
cucurbitácea em todo o mundo, principalmente
em regiões áridas e semi -áridas (MARTYN e Obtenção de isolado de M. cannonballus
MILLER, 1996). Em levantamentos realizados O isolado de M. cannonballus foi obtido a
por García-Jiménez et al. (2000), foi constatado partir do isolamento de raízes de meloeiro
que a produção de melão na Espanha diminuiu procedentes de área produtora de melão,
em torno de 40% em apenas 15 anos, localizada em Mossoró-RN com sintomas de
principalmente devido ao colapso, com a colapso de ramas. Fragmentos de raízes
predominância de patógenos radiculares como previamente desinfestadas com hipoclorito de
Acremonium cucurbitarcerum Alfaro-García, W. sódio (1,5% de cloro ativo), durante 1 min foram
Gams et J. García-Jiménez e M. cannonballus depositados em placas de Petri contendo meio de
(GARCÍA-JIMÉNEZ et al., 2000). cultura batata-dextrose ágar (BDA) acrescido de
Alcântara et al. (1997), em testes de 500 µg.mL-1 de estreptomicina, as quais foram
patogenicidade executados no vale de Arava mantidas à 27 ºC durante quatro dias.
(Israel), determinaram ser M. cannonballus o Posteriormente os pontos de isolamento foram
agente mais agressivo envolvido na referida repicados para cultivos puros, quando foi
síndrome. No Brasil, o primeiro relato foi realizada a seleção de um isolado de M.
realizado em cultivos comerciais de meloeiro no cannonballus, confirmado por microscopia
Rio Grande do Norte, onde M. cannonballus óptica. Após a seleção, o isolado foi repicado em
apresentou índice de freqüência de 15% em dois culturas puras e incubadas em estufa (B.O.D.) a
campos de produção comercial no verão de 2002 27 ºC e fotoperíodo de 12h de alternância de luz.
(SALES JR. et al., 2003 e 2004).
O colapso do meloeiro é caracterizado pelo Efeito de diferentes ingredientes ativos no
declínio das ramas em períodos próximos a controle in vitro do crescimento micelial de M.
colheita (WAUGH et al., 2003). Isso se deve ao cannonballus
apodrecimento das raízes da planta, levando a um O estudo foi realizado com base em dois
desequilíbrio entre sistema radicular e parte experimentos. No primeiro, avaliou-se in vitro a
aérea, que no momento de maior demanda de eficiência de oito ingredientes ativos (i.a.) em
água sofre estresse resultando, em alguns casos, inibir o crescimento micelial de M. cannonballus,
em morte da planta. nas concentrações 0 (testemunha), 3, 6, 9, 12, 15,
Diversas medidas de controle vêm sendo 18 e 21 µg.mL-1 . Os i.a. testados foram:
testadas para controlar a enfermidade, entretanto, Difenoconazole (Score®), Fluazinam
(Frowncide® 500 SC), Tiofanato Metílico em duas avaliações consecutivas e dti o intervalo
(Cercobin® 700 PM), Piraclostrobina + Metiram entre as avaliações. Os dados originais foram
(Cabrio Top®), Cresoxim-Metílico (Stroby®), transformados em vx+0,5 e submetidos à análise
Chlorothalonil (Daconil®), Trifluozole de correlação de Pearson, ao nível de 5% de
(Trifmine®) e Propiconazole (Tilt®). probabilidade.
Soluções de fungicidas foram diluídas em Os ingredientes ativos que se revelaram
água destilada estéril (ADE), conforme a eficientes na menor concentração utilizada no
concentração final desejada do i.a. em meio de primeiro experimento, foram submetidos à outra
cultura. Alíquotas das soluções fungicidas foram avaliação nas concentrações 0 (testemunha), 0,5;
adicionadas separadamente ao meio de cultura 1; 2; 3; 6; 9; 12; 15; 18; 21 µg.mL-1 .
BDA a 45 ºC. Na testemunha, concentração de 0 O delineamento experimental utilizado foi do
µg.mL-1 de i.a., foi adicionado apenas ADE. tipo inteiramente casualizado, em arranjo fatorial
Depois de homogeneizados os meios contendo as 3 x 10 + 1, sendo 3 i.a. em 10 concentrações mais
diferentes concentrações dos i.a. testados, foram a testemunha, com quatro repetições.
vertidos em placas de Petri de 9 cm de diâmetro. Com base nos resultados obtidos, os dados
Discos de 6 mm de diâmetro de meio contendo foram submetidos análise de variância e com as
micélio de M. cannonballus com 15 dias, foram médias foram selecionadas curvas de regressões,
semeados no centro da superfície do meio. tendo as concentrações dos i.a. como variável
O delineamento experimental utilizado foi do independente. Modelos exponencial, logarítimo,
tipo inteiramente casualizado, distribuídos em quadrático e polimoniais foram testados, tendo
esquema fatorial 8 x 7 + 1, sendo 8 i.a. em 7 sido selecionados com base no coeficiente de
concentrações mais a testemunha, com quatro determinação (R2 ) e no quadrado médio do
repetições. resíduo (QMR).
Os dados para o cálculo das variáveis
analisadas foram obtidos a partir da avaliação RESULTADOS E DISCUSSÃO
diária do diâmetro de crescimento da colônia Os i.a. avaliados induziram níveis de inibição
fúngica, durante sete dias. As variáveis de crescimento micelial (ICM) altamente
analisadas foram taxa de crescimento micelial correlacionados com taxa a de crescimento
(TCM), percentagem da inibição do crescimento micelial (TCM) e área abaixo da curva de
micelial calculado pela fórmula de Abbott: ICM crescimento micelial (AACCM), com
(%) = (T-t)*100/T, onde T é a testemunha e t o coeficientes de determinação, variando de -1,00 a
tratamento e área abaixo da curva de crescimento 0,999473 (Tabela 1).
micelial (AACCM), utilizando a fórmula: As variáveis TCM e AACCM foram
AACCM = ?((yi + yi+1)/2.d ti ), onde y i e y i+1 são positivamente correlacionadas. O aumento da
os valores de crescimento da colônia observados taxa de crescimento micelial acarretou o aumento
Tabela 1. Coeficientes de correlação entre as variáveis inibição do crescimento micelial, taxa de cresci-
mento miscelial e área abaixo da curva de crescimento micelial utilizadas para avaliar o efeito de ingre-
dientes ativos no controle in vitro de Monosporascus cannonballus.
Ingrediente ativo Variável ICM AACCM
Difenoconazole TCM -1,00* 0,975332*
ICM -0,97533*
Fluazinam TCM -1,00* 0,992169*
ICM -0,99217*
Tiofanato metílico TCM -1,00* 0,972277*
ICM -0,97228*
Piraclostrobina + metiram TCM -1,00* 0,999447*
ICM -0,99945*
Cresoxim-metílico TCM -1,00* 0,98022*
ICM -0,98022*
Chlorothalonil TCM -1,00* 0,998747*
ICM -0,99875*
Trifluozole TCM -1,00* 0,996824*
ICM -0,99682*
Propiconazole TCM -1,00* 0,999473*
ICM -0,99947*
ICM = inibição do crescimento micelial, TCM = taxa de crescimento micelial, AACCM = área abaixo da curva de crescimento
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da área abaixo da curva de crescimento micelial e baixa eficiência dos referidos i.a. quando
a diminuição da inibição do crescimento. comparados aos percentuais de ICM obtidos dos
Houve interação significativa entre produtos e outros produtos, utilizado as mesmas
concentrações.Os modelos polimoniais melhor se concentrações.
adequaram em descrever o comportamento das Os i.a. eficientes em inibir o desenvolvimento
variáveis ICM, TCM e AACCM em função das micelial de M. cannonballus foram
concentrações (Figuras 1, 2 e 3). Difenoconazole, Fluazinam, Piraclostrobina +
2 2
y = 12,0 + 10,0x - 0,31x y = 26,9 + 11.6x + 0,42x
R2 = 0,9 R2 = 0,67
2
y = 0,17 - 0,35x + 0,04x
R2 = 0,93
2
y = 26,9 + 11,6x - 0,42x
R2 = 0,67
2
2 y = 5,21 + 13,5x - 0,40x
y = 18,3 + 7,23x - 0,21x
R2 = 0,90
R2 = 0,73
2
y = -2,0 + 0,8x + 0,02x
R2 = 0,96
2
y = 26,9 + 11,6x - 0,42x
R2 = 0,67
2
y = 8,3 – 0,98x + 0,03x
R2 = 0,90 y = 6,9 – 1,1x + 0,04x
2
R2 = 0,67
2 2
y = 9,5 + 0,03x + 0,004x y = 6,9 – 1,1x + 0,04x
R2 = 0,93 R2 = 0,67
2
y = 7,77 - 0,69x + 0,02x 2
y = 9,01 – 1,29x + 0,04x
R2 = 0,74 R2 = 0,90
2
2
y = 6,9 – 1,1x + 0,04x
y = 9, 7 – 0,08x + 0,0002x R2 = 0,67
R2 = 0,96
MEDEIROS et al 365
concentrações menores a fim de se obter uma que o fungo apresentasse uma taxa de
curva de regressão que melhor descrevesse o crescimento diferente de zero.
comportamento da variável em questão. Isso seria Em relação à variável área abaixo da curva de
conseguido com a obtenção de uma concentração crescimento micelial (AACCM), houve interação
-x -x -x
y = 97,02 – 76,76e y = 0,28 + 7,30e y = 0,16 + 8,46e
2 2 2
R = 81,76 R = 81,76 R = 74,65
-x -x -x
y = 94,46 – 95,17e y = 0,52 + 9,05e y = 0,46 + 11,19e
2 2 2
R = 98,31 R = 98,31 R = 98,31
-x -x -x
y = 96,80 – 81,28e y = 0,30 + 7,73e y = 0,22 + 9,60e
2 2 2
R = 86,59 R = 86,59 R = 86,59
Figura 4. Modelos polimoniais da inibição do crescimento micelial (ICM), taxa de crescimento micelial
(TCM) e área abaixo da curva de crescimento micelial (AACCM) de Monosporascus cannonballus em
meio BDA com diferentes concentrações dos ingredientes ativos que se mostraram mais eficientes:
Fluazinam, Piraclostrobina + metiran e Propiconazole. Dados transformados em vx+0,5.
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