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XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro.

EXTRAÇÃO DE TANINO VEGETAL DO EUCALIPTO NO


CURTIMENTO DE PELE DE PEIXE: ASPECTOS
FITOGEOGRÁFICOS.
Mariana Cristina Mourão Veiga1, Carlos Alberto Ferreira de Melo Junior 2, Geize dos Santos3, Juliana Maria Aderaldo
Vidal4, Weruska de Melo Costa5.

Introdução
Os taninos são substâncias naturais, minerais (obtidos de sais orgânicos a base de elementos minerais como o
zircônio ou cromo) ou sintéticas (oriundo da condensação de compostos orgânicos, naftaleno e forfural), que podem
precipitar as proteínas das peles para transformá-las em couro (PACHECO, 2005). Este trabalho teve o objetivo de
abordar a viabilidade do eucalipto (Eucalyptus globulus) na extração do tanino vegetal utilizado no curtimento de pele
de peixe do ponto de vista fitogeográfico e da sustentabilidade florestal.
De acordo com Parrapozo (1997), os taninos naturais são encontrados em diversas partes do vegetal, tais como
madeira, casca, frutos e/ou sementes e representam aproximadamente de 2 a 40% da massa seca da casca de diversas
espécies florestais. As espécies geralmente utilizadas no mundo são: quebracho (Schinopsis sp.), ocorrendo na
Argentina e Paraguai e a acácia negra (Acacia mollissima e Acacia mearnsii) na Austrália. No Brasil, podemos citar a
Acacia mearnsii domesticada e cultivada no sul, com aproximadamente 28% de tanino apenas em sua casca. O
Eucalyptus astringens, o mangue-vermelho (Rhizophora candelaria) e o mangue-branco (Rhizophora mangle) também
são grandes representantes no país, com aproximadamente 50% de tanino em suas cascas. No nordeste brasileiro, uma
parcela significativa dos curtumes tradicionais usam os taninos vegetais do angico-vermelho (Anadenanthera colubrina
(Vell.) Brenanvar. cebil (Gris..) Alts.).
Os estudos decorrentes de análises bibliográficas identificaram que o eucalipto (Eucalyptus globulus) utilizado para
o curtimento é encontrado com facilidade no Brasil devido implantações da espécie em diferentes regiões e a
substituição do curtimento químico para o curtimento natural com utilização de tanino vegetal foi satisfatória por não
utilizar metais pesados como o cromo e não haver variação nos resultados obtidos referentes à maciez e coloração.

Material e métodos
A técnica de curtimento foi realizada conforme as seguintes etapas: 1) Remolho: o couro foi imerso em água por
algumas horas para hidratação das peles, para a liberação de sangue e gorduras; 2) Descame e Descarne: consiste na
retirada de escamas e carnes com objetivo de penetração de produtos nas etapas posteriores e diminuição da gordura
com a remoção da camada hipodérmica (SEBRAE, 2010). 3) Caleiro: para abertura da estrutura fibrosa e diminuir a
alcalinidade das peles; 4) Curtimento: foi utilizado o eucalipto, que promove a estabilização da proteína colágena,
tornando as peles imputrescíveis; 5) Engraxe: proporcionou maciez ao couro e foi realizada com óleo vegetal e
detergente misturados em água; 6) Secagem e amaciamento: as peles foram pressionadas e secas com ajuda de papel e
tecido para diminuir a umidade conferida pela água. A tecnologia adaptada para de produção de “couro ecológico”
dispensa a utilização de cromo, um metal pesado que traz elevados índices de contaminação ao ecossistema (MALUF &
HILBIG, 2010).
Em estudo feito por Melo Junior (2013) foram realizados dois tratamentos com a utilização da extração do tanino
obtida através da maceração das folhas e de pedaços do caule do Eucalipto (Eucalyptus globulus). Para o 1º tratamento
foi utilizado um recipiente de PVC de 5L, foram colocadas 500 gramas de folhas e galhos com pouca água fria e
acrescentando aos poucos água quente para atingir a metade do recipiente. Foram colocadas 13 peças de pele de tilápia
durante 48 horas. Foi feito um chá com dois pedaços de cascas em dois litros de água para cada 04 peles. Em outro
recipiente, 2º tratamento, de PVC de 5L, foram colocadas 500 gramas de casca; 1L de água fria e 1L de água quente
com 2 peças de pele de tilápia durante 12horas. Para verificar se haveria alteração nos resultados foram realizadas três
repetições.
Ressalta-se que a metodologia foi utilizada em um projeto que contempla comunidades de pescadores, onde as peles
de peixes que são provenientes de filetagem foram aproveitadas. Nesta técnica foram utilizadas peles de Tilápia
(Oreochromis sp.) provenientes da comunidade do Açúde Saco I em Serra Talhada. Esta comunidade participa do
projeto ComuniArte de extensão universitária que realiza pesquisas em aproveitando resíduos de pescado.

1
Primeiro Autor é Graduanda do Curso de Engenharia de Pesca, Bolsista do Projeto de Extensão da Universidade Federal Rural de Pernambuco –
UFRPE – Dep. de Pesca e Aquicultura – Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife – PE, 52171-
900. E-mail: mariana.veiga_83@yahoo.com.br
2
Biólogo – Dep. de Ciências Biológicas – UFRPE.
3
Engenheira de Pesca - Dep. de Pesca e Aquicultura UFRPE.
4
Docente do curso de Engenharia de Pesca - UAST – Estr. Para Fazenda Saco, Serra Talhada – PE, Brasil.
5
UFRPE – Dep. de Ciências Biológicas – Área de Ecologia.
XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro.

Resultados e Discussão
Segundo Costa (2002), a pele de peixe curtida de forma ecológica é uma técnica nova, com intuito de minimizar o
impacto formado por acúmulos de resíduos e gastos com materiais e principalmente o risco de quem trabalha, pois no
curtimento comum se utilizam metais pesados como o cromo, que são dispersos no ambiente, contaminando solos e
águas. São vários riscos para saúde de quem manipula indevidamente os metais pesados.
No trabalho para curtimento foi utilizado às espécies do gênero Eucalyptus que são comumente plantadas para
atender finalidades industriais, pois o eucalipto tem como principal característica um rápido crescimento, atendendo
assim a necessidade dos produtores na obtenção de madeira em curto prazo e ainda constitui como a melhor alternativa
na produção florestal (EMBRAPA, 2013). As florestas homogêneas e renováveis de eucaliptos vêm sendo implantadas,
nas últimas décadas, em diferentes regiões, se tornando um gênero bem familiar em vários países da América do Sul,
especialmente o Brasil (Tabela 1). Na década de 50, passou a ser usado como matéria prima no abastecimento das
fábricas de papel e celulose. Apresenta-se como uma espécie vegetal de rápido crescimento e adaptada para as situações
edafo-bio-climáticas brasileira (DOSSA et al., 2002). No Brasil, dados mais recentes apontam os estados de Minas
Gerais e São Paulo como as maiores produtoras de Eucalipto no país (Figura 1).
As técnicas analisadas com tanino extraído do Eucalipto Eucalyptus globulus, foram satisfatórias nos dois
tratamentos, e não houveram diferenças entre as repetições, o que dispensou o uso da aplicação de métodos estatísticos
para validação da pesquisa.
No primeiro tratamento utilizando 500g de cascas de eucalipto a pele curtida apresentou a coloração escura e
avermelhada com consistência gelatinosa. Para o segundo tratamento com 500g de flores e folhas com caule as peles
agregaram as cascas apresentando uma coloração escura. Analisado que a diferença entra a quantidade de água e do
tempo de exposição ao tanino não sofreram alteração entre as repetições.
De acordo com Souza et al. (2004), dependendo da espécie de peixe utilizada, a pele poderá ter diferença na
resistência em relação ao sentido ou à posição do couro, assim como as técnicas empregadas de curtimento, quanto aos
agentes curtentes utilizados na etapa de curtimento ou recurtimento e inclusive os tipos de óleos e as porcentagens
utilizadas no processamento, e principalmente no tempo de exposição do couro ao tanino.
Percebe-se que o “couro ecológico” na medida em que utiliza tecnologias limpas, isentas de produtos tóxicos pode
beneficiar o meio ambiente e a comunidade que irá produzi-lo. Ao contrário dos processos convencionais de produção,
este couro foi confeccionado sob controle de impacto ambiental, pois foi curtido por meio da utilização de taninos
vegetais que substituem poluidores como os sais de cromo, também considerando o baixo custo com o curtimento e
minimizando o contato dos trabalhadores com elementos químicos prejudiciais.
Concluiu-se que a utilização do tanino é viável por apresentar um mercado acessível, apresenta baixo custo e
metodologia simples para ser trabalhadas com comunidades pesqueiras na obtenção de peças artesanais.

Agradecimentos
Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal Rural de Pernambuco, aos discentes e docentes envolvidos no
projeto na Unidade Acadêmica de Serra Talhada (UAST) e Progest.

Referências
a.Livros
DOSSA, D.; SILVA, H.D.; BELLOTE, A.F.J. & RODIGHERI, H.R. Produção e rentabilidade do eucalipto em
empresas florestais. Colombo, Embrapa, 2002. 4p. (Comunicado Técnico, 83)

PANSHIN, A.J.; HARRAR, E.S.; BETHEL, J. S.; BAKER, W. J. Forest products: their sources, production, and
utilization. 2.ed. New York: McGraw-Hill, 1962. 538p.

PARRA POZO, L. A. Estudo in vitro do efeito de extratos aquosos de plantas medicinais sobre Clostridium difficile.
Universidade Federal de Viçosa, 1997. 77 p.

SEBRAE. Matéria Prima / Mercadoria, Organização do processo produtivo. In: Curtume de couro de Peixe, Série Idéias
de negócios, SEBRAE, p. 15, 2010.

EMBRAPA – Disponível em http://www.cnpf.embrapa.br/publica/seriedoc/edicoes/doc38.pdf Acesso em 15 de fev


2013
PACHECO, J. W. F. Curtumes / José Wagner Faria Pacheco, São Paulo: CETESB, 2005. 76p. (Série P + L) Disponível
em:<http://www.cetesb.sp.gov.br>.ISBN. Acessado em 15/05/2013.

b.Dissertações e teses.
XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro.

COSTA, W. M. Projeto de Extensão: Plano de gestão de resíduos da atividade pesqueira com ênfase em couro de peixe.
Recife. Universidade Federal Rural de Pernambuco. 2012.
MELO JUNIOR, C. A. F. PROCESSAMENTO DE PELES DE PEIXE SUBMETIDA À TÉCNICA DE
CURTIMENTO ECOLÓGICO. Monografia. UFRPE. Recife. 2013. 35p.

Distribuição Área (%)


Norte 6.2
Nordeste 15.8
Centro-Oeste 13.4
Sudeste 53
Sul 11.5

Tabela 1. Área e distribuição dos Plantios de Eucalyptus no Brasil.

FIGURA 1: DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DA PLANTAÇÃO DE EUCALIPTO NO BRASIL.


Fonte: Abraf, 2010.

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