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BIOADSORÇÃO NO TRATAMENTO DE EFLUENTES

Sarah Pereira Santos1*, Lana Caroline Bernardino Moura, Maykon Douglas Ferreira da Silva1,
Shara Brenda Barbosa Souza, Joyce Rover Rosa1
1
Instituto Luterano de Ensino Superior. Curso de Bacharelado em Química. Avenida Beira
Rio, 1001, Setor Nova Aurora, cep 75.522-330, Itumbiara-GO.

*E-mail: sarahpereirasan@gmail.com

RESUMO
A adsorção é o principal método utilizado para que se realize a descoloração dos efluentes das indústrias. A
adsorção é um mecanismo relativamente novo para tratamento de tais resíduos, mas já tem demonstrado
bastante eficiência, sobretudo quando se utiliza resíduos agrícolas, já que são bem disponíveis e baixo custo.
Para o desenvolvimento deste trabalho foi realizado apenas um estudo bibliográfico exploratório para um
levantamento qualitativo acerca de tratamentos de efluentes pelo método de adsorção. Os bioadsorventes
estudados foram: casca de camarão e quitosana, farinha de amendoim, argila bentonina, casca de banana,
palito de erva-mate, fibras de buriti, casca de batata, casca de abacaxi. Conclui-se que a aplicação de biomassa
no tratamento de corantes é satisfatória e se destaca pela simplicidade, eficiência e redução de custos.
Portanto, o uso de resíduos agrícolas é uma estratégia de grande importância, pois esta irá reduzir a extração
de recursos naturais.

PALAVRAS-CHAVE: Bioadsorventes. Resíduo Agrícola. Adsorção.

1. INTRODUÇÃO
As indústrias têxteis estão tendo uma produtividade cada vez mais alta, sendo
produzidos até 10.000 tipos de corantes, o que faz de tal seguimento um dos mais poluidores
que existe. Os efluentes têxteis têm uma coloração marcante advindo da presença dos corantes
que não tem uma fixação na fibra, ainda no processo de tingimento (JORGE et al., p. 01,
2015; KUNZ et al., p. 78, 2002)
Um dos corantes mais utilizados dentro dos processos industriais é o Azul de
Metileno, e a adsorção é o principal método utilizado para que se realize a descoloração dos
efluentes das indústrias. A adsorção é um mecanismo relativamente novo para tratamento de
tais resíduos, mas já tem demonstrado bastante eficiência, sobretudo quando se utiliza
resíduos agrícolas, visto que estes possuem uma alta disponibilidade – acentuado no Brasil
que possui o agronegócio como uma das principais fontes para o PIB – e um baixo custo
(OLIVEIRA, P. 23, 2012; JORGE et al., p. 01, 2015; COELHO et al., p. 309, 2014).

2. METODOLOGIA
Para o desenvolvimento deste trabalho foi realizado apenas um estudo
bibliográfico exploratório para um levantamento qualitativo acerca de tratamentos de
efluentes pelo método de bioadsorção e a proposta de adsorção comentada e desenvolvida a
partir de 2000 por meio de matérias-primas não convencionais com foco na reutilização da
grande quantidade de resíduos gerados pela indústria, sendo assim, de baixo custo. Os artigos
foram selecionados por meio eletrônico acessados na Scientific Eletronic Library Online
(SciELO) e outras fontes de pesquisas cientificas, tendo como critério trabalhos que
desenvolveram bioadsorventes recentemente.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os adsorventes formam interações intermoleculares fracas com o adsorbato


(contaminante) semelhantes a Van der Walls. Para isto, os adsorventes convencionais
utilizados são areias, zeólitos, alumina ativada e carvão ativado, sendo este último, o mais
utilizado e adequado para o tratamento de efluentes das indústrias têxteis devido à alta área
superficial e porosidade desenvolvida (TAO; RAPPE, 2014).
Os bioadsorventes ou adsorventes não convencionais efetuam a adsorção por troca
iônica ou complexação, e possuem em sua composição lignina, celulose, hemicelulose e
proteína que possuem grupos adsortivos como carbonilas, carboxilas, aminas e hidroxilinas,
apresentam grande área superficial e poros, portanto, são eficientes como o carvão ativado
podendo trabalhar em um grande volume de efluente, de forma rápida, econômica e
satisfatória (GUARATINI; ZAONI, 2000, TARLEY; ARRUDA, 2003). Para o tratamento de
efluentes com a presença do corante azul de metileno é possível utilizar matérias-primas
apresentadas na Tabela 1.

Tabela 1: Seleção das matérias-primas.


Autor: próprio autor
Bioadsorventes
1. Casca de camarão e quitosana (PEREIRA et 5. Palito de Erva-Mate
al, 2019) (VEIT et al, 2014)
2. Farinha de Amendoim (RAMOS; NETO; 6. Fibras de Buriti (PEZOTI et al, 2014,
SANTOS, 2019) SILVA et al 2012, MELO, 2015, LIMA,
2017)
3. Argila Bentonina (OZAGAR; SENGIL, 7. Casca de Batata (ALFREDO, 2013)
2006)
4. Casca de banana (SALLET et al 2017) 8. Casca de Abacaxi (ANTUNES et al,
2018)

3.1. Casca de camarão e Quitosana


Os resíduos acumulados no processamento de camarão são uma problemática
grande para a indústria sobre o seu descarte. Porém, este resíduo possui em sua composição a
quitina e seu derivado quitosana, estas são biopolímeros eficientes, biodegradáveis e de baixo,
sendo capazes de atuarem como adsorventes de corantes como afirma Pereira et al (2019).
Segundo o estudo do mesmo, a casca de camarão possui capacidade de 93, 67% de remoção,
com melhor desempenho em pH 12, agitação de 2 horas e concentração de 75 mg/L.

3.2 Farinha de Amendoim


Devido à preocupação ambiental, econômica e social em gerar um descarte aos
resíduos agrícolas gerados pela alta demanda populacional Ramos, Neto e Santos (2019)
apontam que por meio da casca de amendoim é possível a produção de uma farinha com
capacidade adsorvente com aplicação em corantes orgânicos aniônicos a partir da dopagem
desta com cátions metálicos propiciando a interação com o corante.

3.3 Argila Bentonina


Segundo Ozacar e Sengil (2006) os contaminantes gerados pela indústria
podem ser adsorvidos por minerais aluminosilicatos presentes nos solos e sedimentos. Os
minerais presentes na argila possuem propriedades como grande área superficial, troca
catiônica e ácidez superficial, estas que permitem que as argilas sejam capazes de agirem
como bioadosrventes. Entretanto, é necessário a alteração por meio da troca catiônica de
cátions inorgânicos Na+, K+ que já estão presentes nos cristais das argilas, para possuírem
característica hidrofóbica e organofílica. Esta argila após a alteração terá capacidade para
adsorção de efluentes com compostos como petróleo e corantes. Assim, Souza et al (2019)
determinaram que o emprego da Argila natural PMT-2 tem alta eficiência no tratamento do
corante têxtil azul de metileno com condições de adsorção máxima de 22 mg/g, com massa
adsorvente de 1 g em um tempo de equilíbrio de 4 horas, tendo eficiência de 99,85% sem a
necessidade de um pré-tratamento anteriormente.

3.4 Casca de banana


O uso da banana como adsorvente além de ser viável é uma maneira de reduzir o
montante de resíduos da casca devido a demanda deste produto agrícola (COSTA et al, 2012).
A eficiência da casca da banana na adsorção de azul de metileno é dada por Sallet et al
(2017), com rendimento de 82,0%; 87,3% e 86,5% para uma quantidade de adsorvente, sendo
respectivamente, 0,2g; 0,4g; 0,6g concluindo que a melhor aplicação dessa matéria-prima é
0,4 g.

3.5 Palito de Erva-Mate


O palito de erva-mate é gerado após a secagem e cacheamento das folhas, é um
resíduo de baixo custo e viável para produção de carvão para adsorção de contaminantes
orgânicos (GONÇALVES et al, 2007). Os resultados do experimento são fornecidos por Veit
et al (2014), onde o pH final da solução ao final do experimento se manteve ácido próximo à
5,85; assim, o adsorvente não modificou o pH durante o processo de adsorção. Além disso, a
remoção do corante foi realizada de forma rápida inicialmente e se manteve lenta até alcançar
o equilíbrio no sistema. Notou-se que a adsorção foi realizada em menor tempo em 160 rpm,
com equilíbrio de 80 e 160 rpm em 350 minutos, o qual é um valor satisfatório e proposto
para a indústria segundo os autores.

3.6 Fibras de Buriti


De acordo com Vieira et al (2011), o Buriti pode ser utilizado como uma
importante estratégia para conservação da fauna pelos seus frutos, além da sua aplicação na
culinária, extração de óleo rico em vitamina A e sua capacidade indicadora em recursos
hídricos. Estudos foram realizados por Pezoti et al (2014); Silva et al (2012); Melo (2015) e
Lima (2017) sobre o uso da biomassa de Buriti para o tratamento de efluentes contendo
corantes como, azul de metileno, azul remazol e íons metálicos, destacando-se por ser um
adsorvente com benefícios econômicos e sociais. Os resultados de Lima (2017) apontaram
que essa biomassa possui melhor trabalho em pH 6 e 8, com um percentual de remoção
aproximado à 94%, pois o corante AM possui uma molécula catiônica, em pH 6 e 8 se
mantém próximo ao pH 7,5 natural da solução, assim, há uma menor competição entre os íons
da solução.
.
3.7 Casca de Batata
Segundo Alfredo (2013), a aplicação da casca da batata para adsorção é
interessante, já que o alimento é produzido em grande escala, sendo o quarto no ranking
mundial, além disso, seu resíduo possui pouca aplicação. Nos resultados do mesmo, na análise
da densidade, a casca da batata teve um resultado próximo ao da água, assim, de imediato o
adsorvente se manteve por cima da solução, entretanto, ao entrar em contato com a solução de
AM, o adsorvente iniciou o processo ganhando peso e decantando, nos primeiros minutos,
houve um grande aumento da adsorção, porém, posteriormente a remoção não sofreu grandes
alterações, sendo os resultados de adsorção de 94,8% em 30 min e 95,5% em 6 horas.

3.8 Casca de Abacaxi


A utilização da casca de abacaxi é de grande importância para amenizar os
impactos causados pelo descarte inadequado após o processamento e geração deste resíduo,
sendo este, com baixo ou nenhum valor econômico (VIGANÓ, 2012). Segundo Antunes et al
(2018), este adsorvente foi satisfatório com potencial de adsorção de 81% de AM presente em
solução aquosa, sendo o percentual de adsorção diretamente proporcional à massa, assim em
0,1 g de massa de adsorvente houve a remoção de 38,3% e em 0,5 g houve a remoção de
77,25%, já o aumento da concentração do corante mantendo a mesma quantidade de
adsorvente provoca a redução do potencial de adsorção. Estes resultados são justificados por
Reddy, Verma e Subrahmanyam (2016), pois a dose de adsorvente aumenta a área de
adsorção pelo maior número de sítios disponíveis, e também, ao elevar a massa, os sítios na
superfície do adsorvente não serão ocupados por não serem energeticamente favoráveis.
 
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após o desenvolvimento de tecnologias para a descontaminação de efluentes
industriais, a aplicação de biomassa no tratamento de corantes é satisfatória e se destaca pela
simplicidade, eficiência e redução de custos. Portanto, o uso de resíduos agrícolas é uma
estratégia de grande importância, pois esta irá reduzir a extração de recursos naturais, excesso
de resíduos descartados nos aterros sanitários e é metodologia alternativa para as indústrias
têxteis no tratamento de efluentes com a presença do corante Azul de Metileno, e também, nas
literaturas há possibilidade no tratamento de outros corantes e íons metálicos.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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batelada e coluna de leito fixo. 2013. 55 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) –
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6. AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Curso de Química Bacharelado do Instituto Luterano de Ensino
Superior e a orientadora Doutora Joyce Rover Rosa

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