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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Escola de Engenharia de Lorena - EEL

PROGRAMA UNIFICADO DE BOLSA DE ESTUDOS


PARA ESTUDANTES DE GRADUAÇÃO
EDITAL 2023/2024

APLICAÇÃO DO RESÍDUO AGROINDUSTRIAL DE ABACAXI


COMO UMA NOVA PROPOSTA DE SUPORTE PARA A OBTENÇÃO
DE BIOCATALISADORES SUSTENTÁVEIS

COORDENADORA DO PROJETO:
Profa. Dra. Patrícia Caroline Molgero Da Rós

Lorena - SP
Junho-2023
1- RESUMO

Diante do aumento pela busca por processos mais sustentáveis, ressalta-se o uso das

enzimas como biocatalisadores em diversas reações, dentre as quais podem se destacar a

síntese de química fina, cosméticos, produtos farmacêuticos e biocombustíveis. Além de seu

elevado desempenho catalítico, essa classe de catalisadores favorece uma rota mais

sustentável e ecológica, contribuindo para um ambiente livre de poluição.

Entretanto, o alto custo de obtenção e purificação da enzima e a baixa estabilidade em

condições operacionais tornam a sua aplicação em processos industriais limitada. Uma

alternativa eficiente e que tem apresentado resultados bem satisfatórios é imobilizá-las em

suportes sólidos insolúveis ao meio reacional, que pode classificá-las como enzimas

imobilizadas. Para essa finalidade, faz se necessário à busca por materiais alternativos

eficientes, de baixo custo, sustentáveis e que obtenham uma boa interação entre enzima-

suporte.

Com base nesse contexto, o presente trabalho tem como objetivo verificar o

desempenho do resíduo agroindustrial de abacaxi, mais especificamente a casca e a coroa,

como uma opção alternativa de suporte para imobilização de enzimas. Os principais aspectos

que irão envolver essa pesquisa compreendem o processamento do resíduo, o preparo e a

ativação dos suportes, a imobilização das lipases, e, por fim, a aplicação desse sistema

imobilizado em reações de síntese.

2- FINALIDADE E RELEVÂNCIA

O uso de enzimas oferece diversas vantagens em comparação aos catalisadores

químicos, como alta especificidade, quimio, regio e estereosseletividade, além de atuarem em

condições reacionais mais brandas de temperatura e pressão, minimizando a formação de

subprodutos indesejáveis e, portanto, facilitando as etapas de purificação do produto final


(CHAPMAN et al., 2018). Diante dessa classe de biocatalisadores, destacam-se as lipases

(triacilglicerolacilhidrolases: EC 3.1.1.3), que fazem parte de um grupo de enzimas

hidrolíticas com origens e propriedades diversas. As lipases atuam na interface orgânico-

aquosa, catalisando a hidrólise de ligações éster carboxílica presentes em triacilgliceróis,

liberando ácidos graxos e glicerol, sendo comumente utilizadas para catalisar reações de

transesterificação, esterificação e interesterificação (VILAS BÔAS; DE CASTRO, 2022;

CHOI et al., 2015).

A biocatálise tem sido extensivamente aplicada em reações de transesterificação

devido às condições operacionais menos complexas e produtos de fácil purificação e não

toxicidade. O biodiesel é especialmente destacado como produto sintetizado por essa reação,

sendo ele considerado fonte de energia renovável promissora e alternativo ideal aos

combustíveis fósseis. O uso da rota enzimática na produção de biodiesel permite a obtenção

de um produto verde, em contraste com a produção comercial atual que utiliza catalisadores

químicos homogêneos, como NaOH e KOH, que dificultam a purificação do produto final

(CAO et al., 2021).

Apesar da versatilidade de aplicação das lipases, o seu uso em processos industriais

ainda é limitado devido a sua baixa estabilidade em condições operacionais, o alto custo de

obtenção e purificação da enzima, além das dificuldades técnicas e elevados custos de

recuperação e separação do produto ao final da reação para reutilização em bateladas

subsequentes (ISMAIL; BAEK, 2020). Portanto, com a finalidade de aproveitar o potencial

catalítico das enzimas e reunir as vantagens dessas proteínas sobre os catalisadores químicos,

tem-se estudado formas de torná-las insolúveis ao meio reacional. Uma alternativa eficiente e

que tem apresentado resultados bem satisfatórios é imobilizá-las em suportes sólidos

insolúveis ao meio reacional, ou torná-las insolúveis por meio de ligações entre seus grupos

químicos, que pode classificá-las como enzimas imobilizadas (CIPOLATTI et al., 2017).
Dentre todos os materiais envolvidos na etapa de imobilização da enzima, o suporte

contribui significativamente para o custo final do processo. Além disso, muitos suportes

utilizados são obtidos por rotas de síntese química (RANGEL et al., 2022; CARVALHO et

al., 2015, BENTO et al., 2021), envolvendo reagentes orgânicos, o que torna o processo ainda

mais oneroso. Diante desse contexto, faz se necessário à busca pelo desenvolvimento de

materiais alternativos eficientes, de baixo custo, sustentáveis e que obtenham uma boa

interação entre enzima-suporte (BEZERRA et al., 2017).

Atualmente, biomassas lignocelulósicas ganharam grande importância como suportes

catalíticos para imobilização de lipases, classificados em madeira dura e macia, gramíneas e

resíduos agrícolas. Além de sua alta disponibilidade, esses materiais tem como características

promissoras uma grande área superficial porosa e a presença de sítios químicos ativos como

amino, carboxila, fosfato e hidroxila, permitindo a ligação com a enzima (NÁJERA-

MARTÍNEZ et al., 2022; COSTA et al., 2015).

Considerando o aproveitamento de resíduos agroindustriais destinados a obtenção de

suportes, tem-se a coroa e a casca do abacaxi, visto que o Brasil é o terceiro produtor mundial

de abacaxi (PEREIRA et al., 2021) e cerca de 45% de sua massa inicial é descartada pela

indústria alimentícia (PEREIRA et al., 2020). Dentre as partes descartadas, a coroa representa

aproximadamente 30-42 % (m/m) e sua composição química é celulose (24,1%),

hemicelulose (29,3%), lignina (6,3%) e cinzas (5,0%) (PEREIRA et al., 2022).

Neste estudo, propõe-se a aplicação do resíduo agroindustrial do abacaxi como fonte

alternativa de suporte para a imobilização de lipases.

3- OBJETIVOS

O objetivo principal do presente trabalho é estudar a aplicação do resíduo

agroindustrial do abacaxi em sua forma in natura, mais especificamente a coroa e a casca,


como fonte alternativa de siporte para imobilização de lipase. Para alcançar esse objetivo,

serão desenvolvidas as seguintes atividades:

 Preparação dos suportes: moagem, secagem e classificação granulométrica;

 Imobilização das lipases por meio de diferentes metodologias (adsorção física e

ligação covalente);

 Caracterização do melhor sistema imobilizado quanto as propriedades bioquímicas

e cinéticas;

 Avaliação do desempenho catalítico da lipase imobilizada em reações de síntese.

4 – MATERIAIS E MÉTODOS

4.1. Materiais

4.1.1. Coroa do abacaxi

O preparo da coroa do abacaxi será realizado de acordo com a metodologia adaptada

de Pereira et al. (2022). Inicialmente, as folhas da coroa do abacaxi serão lavadas em água

corrente e cortadas manualmente em pedaços pequenos. Após esta etapa serão levadas a

estufa por 48 horas a 60ºC. Após a secagem será novamente cortada em pedaços menores e

moídas até virarem pó. Em seguida, o material será peneirado, visando sua classificação

granulométrica.

4.1.2.Biocatalisadores

Serão utilizadas as preparações comerciais de lipases Burkholderia cepacia e

Pseudomonas fluorescens, adquiridas na sua forma livre da Sigma-Aldrich®.

4.2. Metodologia
4.2.1. Imobilização das lipases

4.2.1.1. Adsorção física

A lipases serão imobilizadas por adsorção física no suporte seguindo a metodologia

descrita por Da Rós et al. (2010) com pequenas modificações. 1 g do suporte será previamente

embebido em hexano sob agitação (100 rpm) por 1 h.O excesso de hexano será então

removidoe será adicionado 0,25 g de lipase no suporte. A fixação delipase sobre o suporte foi

realizada sob agitação por 2 h em ambientetemperatura e seguido por um período adicional de

18 h sobcondições a 4°C. O derivado será filtrado e enxaguado com hexano.

4.2.1.2. Ligação covalente

Os suportes serão embebidos em solução de agente de ativação epicloridrina 2,5%

(v/v) ou glutaraldeído em tampão fosfato de sódio (0,1 mol L-1 e pH 7), na proporção massa

de suporte: volume de solução 1:10, mantidos sob agitação durante 1hr e temperatura

ambiente. Após ativação, o suporte será lavado exaustivamente com água destilada e solução

tampão de fosfato de sódio (0,1 mol L-1, pH 7,0) e levado à secagem em estufa a 60 ºC por

24h (Da Rós et al., 2010).

O processo de imobilização da lipase pela técnica de ligação covalente será

realizado de acordo com a metodologia descrita por Da Rós et al. (2010). Os suportes ativados

serão embebidos em hexano em uma relação de 1:10 e mantidos sob agitação branda por 2h.

Em seguida, para cada grama de suporte, serão adicionados 100 µL de solução de

polietilenoglicol (5mg/ml) e 200 mg da lipase em sua forma livre. As suspensões contendo

enzima e suporte serão mantidas sob agitação (150 rpm) a 30°C por 2 h, seguido de contato

estático por um período de 18 h a 4°C. Após esse período, os derivados imobilizados serão

recuperados por filtração a vácuo com lavagens sucessivas de hexano e acondicionados em

dessecador sob vácuo, para redução da umidade em valores inferiores a 10%.


4.2.2- Dosagem da atividade catalítica dos biocatalisadores

As atividades enzimáticas das lipases livres e imobilizadas serão obtidas pelo método

de hidrólise do azeite de oliva, conforme metodologia descrita por Da Rós et al. (2010). A

atividade de esterificação será determinada pela formação do oleato de etila na reação de

etanol com ácido oleico, de acordo com a metodologia de Pinto et al., 2014. O rendimento de

imobilização (η%) será calculado pela relação de unidades de atividade oferecidas para

imobilizaçãoe a quantidade recuperada pelo derivado imobilizado.

4.2.3 - Estabilidade térmica dos biocatalisadores

O efeito da temperatura na estabilidade da lipase imobilizada será determinado por

meio da incubação de amostras da lipase imobilizada (0,05 g) numa temperatura de 60 °C em

meio aquoso (0,1 mol L-1 tampão fosfato, pH 6,5) durante diferentes períodos de incubação,

de acordo com a metodologia de Da Rós et al. (2010). Para a lipase livre, serão coletadas

amostras nos intervalos de 5, 10, 15, 30 e 60 min e para lipase livre, no intervalo de 30, 60 e

120min. Após o tratamento térmico e o resfriamento das amostras, será determinada a

atividade hidrolítica conforme metodologia modificada por Da Rós et al. (2010). As

constantes de desativação (kd, h-1), serão calculadas pela equação 1.

𝑙𝑛 𝐴 = 𝑙𝑛 𝐴 − 𝐾𝑑 ∗ 𝑡Equação 1

Em que: A0 = atividade enzimática inicial; A = atividade residual após tratamento térmico

durante um certo período de incubação (t).

4.2.4. Avaliação do desempenho catalítico dos biocatalisadores em reações de síntese de

ésteres etílicos

As reações de transesterificação serão realizadas de acordo com a metodologia previamente

estabelecida por Da Silva et al. 2020 com algumas modificações, empregando lipase
microbiana imobilizada nos diferentes suportes como biocatalisador. As reações serão

realizadas em reatores de vidro com capacidade de 50 mL, contendo 10 gramas de meio

reacional (óleo e aceptor do grupo acila) em uma temperatura de 45 °C, através de um banho

termostatizado e agitação magnética (150 rpm), durante um período máximo de 120 h.

5 – CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO

Bimestres
ATIVIDADES 1 2 3 4 5 6
Revisão bibliográfica
Preparação dos suportes
Imobilização das lipases
Avaliação das atividades catalíticas
Aplicação dos biocatalisadores em reações de síntese de ésteres
etílicos
Elaboração do relatório final
Atividades previstas para os bimestres

6 - RESULTADOSESPERADOSEINDICADORESDE ACOMPANHAMENTO

• Aumento do conhecimento técnico-científico do bolsista;

• Geração de novas tecnologias alternativas sustentáveis;

• Contribuição para a formação acadêmica dos alunos de graduação.

7-REFERÊNCIAS

BENTO, Heitor BS et al. Continuous synthesis of biodiesel from outstanding kernel oil in a
packed bed reactor using Burkholderia cepacia lipase immobilized on magnetic
nanosupport. Catalysis Letters, p. 1-11, 2021.

BEZERRA, T. M. S.; BASSAN, J. C.; MONTI, R. Processo de obtenção de um suporte


sólido para imobilização de enzimas, suporte sólido de fibra de coco verde, processo de
imobilização de enzimas e derivado obtido. 2017.

CAO, X., XU, H., LI, F., ZOU, Y., RAN, Y., MA, X., CAO, Y.; XU, Q., QIAO, D., CAO, Y.
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CHOI, J. M., HAN, S. S., KIM, H. S. Industrial applications of enzyme biocatalysis: Current
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CIPOLATTI, E. P.; MANOEL, E. A.; FERNANDEZ-LAFUENTE, R.; FREIRE, D. M. G.


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