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EDIÇÃO 2020 – RESUMO EXPANDIDO – TRABALHO CIENTÍFICO

OBTENÇÃO DO BIOPLÁSTICO A PARTIR DO AMIDO DE BATATA-DOCE

OBTAINING BIOPLASTICS FROM SWEET POTATO STARCH

Gabriel Richard da Silva Del Vecchio I


Larissa Albunio SilvaII

RESUMO

A maioria das atividades industriais permitem a utilização do material plástico, polímero


altamente consumido, devido suas diversas propriedades e seu alto fator de contribuição para o
desenvolvimento da saúde e sobrevivência humana, acarretando consequências facilmente
observadas como o acúmulo de seus resíduos não renováveis e de difícil degradação no meio
ambiente. Neste contexto, a utilização de plástico verde ou bioplásticos, proveniente de uma
fonte renovável, pode ser uma alternativa para minimizar estes problemas. Estes materiais
biodegradáveis resultantes de recursos renováveis, em alguns casos, apresentam propriedades
semelhantes aos plásticos produzidos a partir do petróleo. Este trabalho teve por objetivo obter
um bioplásticos proveniente do amido da batata-doce e realizar testes qualitativos de
resistência, flexibilidade, textura e degradação. Em que se concluiu que as características
estruturais testadas deste bioplásticos são influenciadas pela adição ou não de agentes químicos
em sua composição e que ainda foi possível desenvolver um aprendizado socioambiental, que
auxilia no desenvolvimento de possíveis soluções para o meio ambiente.

Palavras-chave: Amido. Batata-doce. Bioplástico. Biodegradável.

ABSTRACT

Most industrial activities allow the use of plastic material, a highly consumed polymer, due to
its diverse properties and its high contribution to the development of human health and survival,
resulting in easily observable consequences such as the accumulation of non-renewable
materials and difficult waste degradation of the environment. In this context, the use of green
or bioplastic plastic, from a renewable source, can be an alternative to minimize these problems.
These biodegradable materials result from renewable resources and, in some cases, have
properties like plastics produced from oil. This work aimed to obtain bioplastics from sweet
potato starch and to carry out qualitative tests of resistance, flexibility, texture, and degradation.
In which it was concluded that the tested structural characteristics of this bioplastic are
influenced by the addition or not of chemical agents in its composition and that, it was still
possible to develop a socio-environmental learning, which helps in the development of possible
solutions for the environment.

I
Estudante do curso de Tecnologia em Biocombustíveis pela Faculdade Nilo De Stéfani de Jaboticabal (Fatec-JB)
– São Paulo – Brasil. E-mail: gabriel.vecchio@fatec.sp.gov.br
II
Profa. Dra. da Faculdade Nilo De Stéfani de Jaboticabal (Fatec-JB) – São Paulo – Brasil. E-mail:
larissa.silva146@fatec.sp.gov.br

Ciência & Tecnologia: Fatec-JB, Jaboticabal-SP, v. 12, n. 1, 2020. Suplemento: anais do Simpósio de
Tecnologia Ambiental, Biocombustíveis e Marketing realizado no período de 03 a 06 de novembro de 2020.
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Keywords: Starch. Sweet potato. Bioplastic. Biodegradable.

Área do resumo: Química.


Data de submissão: 18/10/2020.
Data de aprovação: 31/10/2020.

1 INTRODUÇÃO

Na atualidade podemos notar que um dos maiores vilões do aumento da produção de lixo
é o plástico proveniente do petróleo que não é biodegradável, ou seja, tem um tempo de
degradação muito elevado sendo ele de 100 a 400 anos. Uma opção para substituir o plástico
sintético e ajudar a diminuir o problema do aumento da produção de lixo é a fabricação de
plásticos biodegradáveis, isto é, que sejam degradados por microrganismos que estão no meio
ambiente, responsáveis por decomporem o material e que auxiliam no retorno a sua forma
natural, integrando-se mais rapidamente a natureza do que os plásticos convencionais (BRITO
et al., 2011).
O plástico biodegradável pode ser uma opção para diminuir esses efeitos, pois é composto
por matéria orgânica1 de origem renovável. Um constituinte muito eficaz utilizado na
fabricação de bioplástico é o amido encontrado nos tubérculos, cereais e raízes (RÓZ, 2004).
O amido é um polímero natural, ou seja, uma macromolécula formada por dois
polissacarídeos: a amilose e a amilopectina. Isso se encontra em múltiplas fontes vegetais com
muitas possibilidades de modificação física e química, ele pode ser convertido em um
biopolímero favorável para a produção de embalagens biodegradáveis, ajudando na preservação
do meio ambiente e no desenvolvimento sustentável. (NEVES et al., 2013)
A hipótese levantada por este trabalho foi: “é possível a substituição do plástico derivado
do petróleo, uma vez que sua degradação é mais lenta, e substituí-lo por polímeros naturais, no
caso pelo amido extraído da batata-doce? Assim, o objetivo geral dessa pesquisa foi estudar a
produção do plástico biodegradável a partir do amido extraído da batata-doce. Os objetivos
específicos dessa pesquisa foram: estudar qualitativamente algumas características estruturais
e de degradação do bioplástico proveniente da batata-doce e pesquisar os processos de
fabricação do plástico biodegradável
A importância deste trabalho está em, além de contribuir para a conscientização
socioambiental, estimular buscas alternativas e inovadoras para a preservação do meio
ambiente, também em colaborar com a economia, já que se buscou a produção de um novo
produto que pode ser comercializado em um futuro próximo.

2 METODOLOGIA DE PESQUISA

O experimento foi realizado no laboratório multidisciplinar da ETEC Dr. Adail Nunes


da Silva, localizado na cidade de Taquaritinga, interior de São Paulo. A batata-doce de casca
roxa e polpa de cor creme amarelada (Ipomoea batatas (L.) Lam.), foi a escolhida para a
realização deste trabalho, pois ela é encontrada em maior abundância na região.

1
Os plásticos obtidos a partir de derivados do petróleo também são orgânicos. A biodegradação ou não está
associada a estrutura de um polímero natural e/ou sintético.

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A extração do amido foi realizada seguindo os princípios da metodologia de Sarmento


(1997) com algumas modificações. Para isso, cortou-se a batata-doce em pedaços e em seguida,
foram colocados no liquidificador juntamente com uma quantidade de água suficiente para
cobri-los e triturou-se por cerca de 3 min. Dando sequência, fez-se a peneiração separando a
parte sólida da líquida, em que por usa vez foi deixada em repouso por aproximadamente 1 h,
para a decantação do amido. O sobrenadante foi submetido a uma filtração a vácuo, haja visto
que ainda existia amido nesta parte líquida que não havia sido sedimentado por gravidade. Todo
o amido separado foi seco em estufa a 105 oC por 2 h, pesado e rotulado.
Para a obtenção do bioplástico, baseou-se na metodologia descrita por Róz (2004), onde
foram implementadas algumas mudanças nas quantidades dos reagentes nos quatro diferentes
experimentos realizados. Sendo assim, pesou-se 7,5 g do amido seco, transferindo para um
béquer de 100 mL, em seguida adicionou-se 50mL de água destilada e 5 mL de glicerina mais
3 mL de ácido clorídrico (HCl) 0,1 M. Esta mistura foi aquecida a 65 ºC sob agitação constante
até obter uma textura viscosa. Após isto, mediu-se o pH com o auxílio de um pHmetro, e
adicionou-se hidróxido de sódio (NaOH) 0,1 M até obter-se a neutralização (pH = 7).
Finalmente, transferiu-se a mistura para uma superfície plana, realizando a secagem em estufa
a 35 ºC, durante aproximadamente 72 h.
As diferenças entre um experimento e outro foram que: nos dois primeiros não
foi retirada a casca da batata-doce e no segundo foi adicionado glicerina em excesso. Já no
terceiro e quartos experimentos retirou-se a casca e adicionou-se ao terceiro 2 mL de peróxido
de hidrogênio P.A.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

De acordo com Róz (2004), o bioplástico possui como agente essencial para sua formação
à glicerina, que lhe confere as propriedades de um plástico convencional, como por exemplo, a
maleabilidade e a elasticidade, características também observadas nos resultados encontrados,
principalmente no experimento 2, em que foi adicionado glicerina em excesso. A glicerina age
como plastificante, separando as cadeias, reduzindo as interações moleculares entre elas e
incrementando flexibilidade
Ao atingir uma temperatura específica de aproximadamente 65 °C, na mistura de água e
amido, ocorreu o rompimento das ligações de hidrogênio e o intumescimento dos grânulos de
amido. Este fenômeno foi identificado pelo aumento de volume dos mesmos e pela
gelatinização, relatado também por Róz (2004). Com a prolongação do aquecimento, atingindo
a temperatura de aproximadamente 80 °C, observou-se a liquefação do amido. Este fenômeno
pode ser explicado pela lixiviação da amilose para fora dos grânulos e a perda da organização
estrutural da amilopectina ocasionando o fim da gelatinização (DENARDIN; SILVA, 2009).
Desta forma, as características estruturais dos bioplásticos obtidos de diferentes fontes de
amido, como o da batata-doce, estão diretamente relacionadas com a eficiência no processo de
gelatinização. Além disso, pode-se melhorar estas características, tais como, resistência e
flexibilidade adicionando aditivos plastificantes, em que os mais usados são a água e a glicerina.
Nas fotos a seguir (Figura 1) pode-se observar os resultados obtidos da produção do bioplástico
de batata-doce, em quatro diferentes situações, já descritas na seção 2.

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Observando-se nas fotos da Figura 1 que nos dois primeiros experimentos, em que se
utilizou a casca do tubérculo foi obtido um bioplástico mais escuro e no Exp. 2, devido ao
excesso de glicerina, o bioplástico apresentou uma característica pegajosa, tornando-se inviável
o seu manuseio. Por isso, concluiu-se que a adição de um agente plastificante na produção de
bioplásticos de fonte de amido deve ser controlada, para se evitar as perdas das características
estruturais requeridas para este tipo de produto.

Figura 1 – Bioplásticos de batata-doce obtidos em quatro experimentos: Exp.1 –


com casca; Exp. 2 – com casca + excesso de glicerina; Exp. 3 – com
casca + peróxido de hidrogênio; Exp. 4 – sem casca

Fonte: os autores (2020)

Ainda na Figura 1, observou-se que no experimento três (Exp. 3), em que se usou a casca
da batata-doce com peróxido de hidrogênio, houve o clareamento do material obtido, porém
não foi possível manusear, pois a adição do agente químico comprometeu a formação do filme
plástico. Já no Exp. 4, que não se usou a casca do tubérculo e se controlou a espessura do
produto, foi possível concluir que o filme obtido tinha características estruturais satisfatórios,
ou seja, era translúcido, com certa flexibilidade e resistência. Estes resultados corroboraram
com Lima et al. (2017), que também pesquisaram o bioplástico a partir do amido da batata-
doce e concluíram que os biofilmes encontrados foram flexíveis, com bolhas visíveis a olho nu
e menos amarelados, devido a retirada da casca do tubérculo.
Outro teste realizado foi o tempo de degradação do bioplástico obtido no Exp. 1, em que
se constatou a parcial degradação quando exposto a umidade, fungos e bactérias do solo. Com
este resultado pode-se inferir que o plástico biodegradável contribui para o meio ambiente se
comparado com o plástico derivado do petróleo que demora de 100 a 400 anos para se decompor
danificando e agredindo cada vez mais a natureza (BRITO et al., 2011).

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante dos resultados preliminares obtidos e suas características, a partir das


metodologias utilizadas, infere-se que é possível a obtenção de plásticos provenientes do amido
das batata-doce. Observando-se os testes realizados, notou-se que nos plásticos mais
consistentes foi aplicada menor quantidade de glicerina e não houve a adição de outros agentes
químicos além dos necessários, que são: o ácido clorídrico, a glicerina e o hidróxido de sódio.
Além da realização dos procedimentos para a obtenção do polímero biodegradável, foi possível
também um aprendizado socioambiental, que auxilia no desenvolvimento de soluções para o
meio ambiente, devido o plástico em questão ser produzido a partir do amido da batata-doce,
que é um recurso renovável.

REFERÊNCIAS

BRITO G. F.; AGRAWAL, P.; ARAÚJO, E. M.; MÉLO, T. J. A; Departamento de Engenharia de


Materiais - Universidade Federal de Campina Grande. Biopolímeros, Polímeros Biodegradáveis e
Polímeros Verdes. Revista Eletrônica de Materiais e Processos, Campina Grande, v. 6, n. 2, p.
127-139, 2011.

DENARDIN, C. C.; SILVA, L. P. Estrutura dos grânulos de amido e sua relação com
propriedades físico-químicas. Cienc. Rural, Santa Maria , v. 39, n. 3, p. 945-954. Disponível
em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0103-84782009000300052
&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 16 out. 2020

LIMA, A. C. R.; SOUZA, B. S. G.; SILVA, H. S.; LOPES, J. S.; TORO, M. J. U.; SILVA, S. Y.
S. Produção e caracterização de biofilmes de Amido de batata doce e crueira plastificados com
glicerol e sorbitol. 72º Congresso Anual da ABM, ISSN 2594-5327 vol. 72, num. 1. Disponível
em: https://www.researchgate.net/publication/320725872_producao
_e_caracterizacao_de_biofilmes_de_amido_de_batata_doce_e_crueira_plastificados_com_glicero
l_e_sorbitol. Acesso em: 18 out. 2020

NEVES, J.M. et al. Produção de bioplástico a partir da casca da batata (solanum tuberosum):
o desenvolvimento de um protótipo interdisciplinar. Rio Grande do Sul, 2013.

RÓZ, A. L. Preparação e caracterização de amidos termoplásticos. 2004. Tese (Doutorado


Ciência e Engenharia de Materiais), Universidade de São Paulo. Disponível em:
https://teses.usp.br/teses/disponiveis/88/88131/tde-11062008-150517/publico/
AlessandraLuizadaRoz_D.pdf. Acesso em: 12 out. 2020.

SARMENTO, S. B. S.; PENTEADO, M. V. C. Caracterização da fécula de mandioca


(Manihot esculenta C.) no período de colheita de cultivares de uso industrial.
1997.Universidade de São Paulo, São Paulo, 1997.

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Tecnologia Ambiental, Biocombustíveis e Marketing realizado no período de 03 a 06 de novembro de 2020.

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