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UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DO PARÁ

INSTITUTO DE BIDIOVERSIDADE E FLORESTAS


BACHARELADO EM BIOTECNOLOGIA
BIOINFORMÁTICA

ALINE DOS SANTOS ALBUQUERQUE


JESSYCA KELLY FERREIRA DE SOUSA
PEDRO LUCAS DAS NEVES DE OLIVEIRA

POLI(TEREFTALATO DE ETILENO) HIDROLASE: UM AVANÇO


BIOTECNOLÓGICO NA DEGRADAÇÃO DE RESÍDUOS PLÁSTICOS

SANTARÉM – PA
2022
ALINE DOS SANTOS ALBUQUERQUE
JESSYCA KELLY FERREIRA DE SOUSA
PEDRO LUCAS DAS NEVES DE OLIVEIRA

POLI(TEREFTALATO DE ETILENO) HIDROLASE: UM AVANÇO


BIOTECNOLÓGICO NA DEGRADAÇÃO DE RESÍDUOS PLÁSTICOS

Revisão bibliográfica apresentada na disciplina de


Bioinformática, curso de Bacharelado em
Biotecnologia da Universidade Federal do Oeste do
Pará, como requisito obrigatório para obtenção de
nota para a primeira avaliação.

Docente: Dr. Kauê Santana

SANTARÉM – PA
2022
SUMÁRIO

RESUMO ................................................................................................................................4

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................4
2. BIOQUÍMICA E ESTRUTURA DA ENZIMA ......................................................................6
3. APLICAÇÕES BIOTECNOLÓGICAS ..............................................................................10
4. ESTUDOS PARA PRODUÇÃO INDUSTRIAL ................................................................14
5. CONCLUSÃO ..................................................................................................................15

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................16


4

RESUMO – O poli(tereftalato de etileno) (PET) é um dos polímeros sintéticos mais


abundantemente produzidos. Os plásticos, que incluem o PET, possuem muitas
características desejáveis e, portanto, são amplamente utilizados na vida diária. No
entanto, a não biodegradabilidade, antes considerada uma vantagem oferecida pelos
plásticos, está fazendo esse material se acumular no meio ambiente a uma taxa
impressionante. Nesse sentido, a PET hidrolase (PETase), uma enzima recentemente
identificada, tem alta eficiência e especificidade em relação ao PET, o que fornece
boa perspectiva sobre a sua degração, embora seu mecanismo molecular ainda não
seja totalmente compreendido. Mesmo assim, a descoberta da PETase apresenta um
cenário promissor de pesquisas e futura introdução na indústria.

1 INTRODUÇÃO
O plástico é um material que está presente no cotidiano de populações em todo
o mundo, sendo empregado em diversos setores e conhecido por sua versatilidade.
Contudo, o crescente aumento do índice de poluição tem contribuído para que esse
material passasse a ser conhecido por uma de suas propriedades mais marcantes: a
não degradabilidade. Joo et al. (2018) afirmam que propriedades como leveza,
durabilidade, preço baixo, fácil processabilidade em muitas formas diferentes e não
degradabilidade são desejáveis para a civilização. No entanto, afirmam que:

[...] a não degradabilidade, que foi considerada uma grande vantagem do


emprego de plásticos, foi reconsiderada como uma das principais causas de
problemas ambientais, em especial devido ao acúmulo de resíduos plásticos
em aterros e no oceano. (JOO et al., 2018, p. 2)

Ou seja, o desenvolvimento da espécie humana levou a criação de


componentes que levam séculos, milhares e até milhões de anos e o crescimento
populacional gerou acúmulo desses materiais. Segundo a Association of Plastic
Manufacturers (2016), a produção de plástico aumenta anualmente e em 2015 foram
produzidos cerca de 320 milhões de toneladas de plástico no mundo. Segundo as
estimativas de Rochman et al. (2013), até 2050 o acúmulo de plástico deve alcançar
cerca de 33 bilhões de toneladas.
Segundo Ma et al. (2018) os principais métodos de reciclagem de plástico são
dos tipos químicos e biológicos, sendo que a primeira requer temperaturas elevadas
5

(ALSABAGH et al., 2016; RUVOLO-FILHO; CURTIS, 2006; LÓPEZ-FONSECA et al.,


2011) e alta pressão (GEYER; LORENZ; KANDELBAUER., 2016; SINHA; PATEL;
PATEL, 2010). Essa abordagem também gera grande quantidade de substâncias
tóxicas e nocivas ao meio ambiente, capazes de causar poluição secundária.
(ALSABAGH et al., 2016; RUVOLO-FILHO; CURTIS, 2006; LÓPEZ-FONSECA et al.,
2011; GEYER; LORENZ; KANDELBAUER., 2016; SINHA; PATEL; PATEL, 2010;
WEBB et al., 2012).
A partir disso, várias pesquisas foram realizadas a fim de buscar um meio de
degradação desse material, como métodos de degradação química a partir de
glicólise, metanólise e hidrólise (SINHA et al., 2010), porém a reação de degradação
somada à temperatura poderia produzir compostos poluentes (MARSHALL; TODD,
1953). Outros métodos incluem a utilização de microrganismos para a biodegradação
do plástico, mas a eficiência do processo depende de suas propriedades físicas e
químicas (TOKIWA et al., 2009).
Um dos componentes mais utilizados para a produção de plástico é o
Poli(tereftalato de etileno), o PET. Produtos feitos desse material são mais resistentes
à biodegradação e levam cerca de 450 anos para se decompor (NATIONAL PARK
SERVICE – US). Pesquisas têm sido desenvolvidas para aumentar a atividade
enzimática para acelerar a degradação do PET, tais como a mutagênese sítio-dirigida
do sítio ativo que aumenta a atividade de hidrólise (HERRERO ACERO et al., 2013;
SILVA et al., 2011).
O uso do PET pela sociedade em geral e sua baixa degradabilidade colaboram
para impactos negativos no meio ambiente, principalmente pelo aumento da demanda
por esse material.
O PET contém o tereftalato (TPA) e etilenoglicol (EG), polimerizados por
ligação tipo éster (JOO et al., 2018). Segundo estudos, algumas hidrolases de origem
bacteriana já se mostraram promissoras na degradação do PET (JOO et al., 2018),
como cutinases (CHEN et al., 2008), lipases, carboxilesterases e esterases
(RIBITSCH et al., 2011).
Segundo Joo et al. (2018), as enzimas degradantes de PET identificadas até o
momento que demonstraram maior promissão na degradação desse material foram:
TfH e TfH BTA-2 de Thermobifida fusca DSM43793, TfCut1 e TfCut2 de T. fusca KW3,
LC cutinase do metagenoma em composto vegetal, cutinase de Saccharomonospora
6

viridis AHK190, HiC de Thermomyces insolens, e lipase B de Candida antarctica.


Contudo, a atividade de degradação que essas enzimas possibilitam ainda é
insuficiente para aplicações em escala industrial (DE CASTRO et al, 2017; WEI;
ZIMMERMANN, 2017).
Estudos visando alcançar enzimas com características mais eficientes, levaram
ao isolamento de uma nova espécie de bactéria: a Ideonella sakaiensis. Essa bactéria
é capaz de utilizar o PET como fonte de carbono (YOSHIDA et al., 2016 (A);
BORNSHEUER, 2016; YANG; YANG; JIANG, 2016; YOSHIDA et al., 2016 (B)),
produzindo uma enzima, a Is PETase, que pode degradar esse material em
temperaturas de 30ºC e ainda possui atividade enzimática maior que outras enzimas,
como a cutinase (YOSHIDA et al., 2016 (A)).
A presente revisão tem como objetivo abordar informações gerais acerca dessa
enzima, bem como o interesse biotecnológico com ênfase na degradação de PET.

2 BIOQUÍMICA E ESTRUTURA DA ENZIMA


A PETase tem uma estrutura similar a outras enzimas, como as cutinases.
Através do emprego de técnicas biotecnológicas, especificamente a cristalografia de
raios-X de comprimento de onda longo associada a uma linha de luz síncroton, Austin
et al. (2018) conseguiram determinar a estrutura cristalina da PETase:

Conforme previsto a partir da homologia de sequência com as famílias de


lipase e cutinase, a PETase adota uma dobra α/β-hidrolase clássica, com um
núcleo consistindo de oito fitas β e seis α-hélices. (AUSTIN et al., 2018, p.
E4351)

Yoshida et al. (2016) identificaram similaridade de sequência de 52% com a cutinase


de Thermobifida fusca, uma enzima capaz de degradar PET. Essa porcentagem é a
maior identificada quando se compara a estrutura da PETase com outras enzimas. As
diferenças são abordadas por Austin et al. (2018, p. E4351).

Apesar de uma dobra conservada, o perfil de superfície é bastante diferente


entre as duas enzimas. A PETase tem uma carga de superfície altamente
polarizada, criando um dipolo através da molécula e resultando em um ponto
isoelétrico geral (pI) de 9,6. Em contraste, a cutinase de T. fusca , em comum
com outras cutinases, tem várias pequenas manchas de resíduos ácidos e
básicos distribuídos sobre a superfície, conferindo um pI mais neutro de 6,3.
Outra diferença marcante entre a PETase e os homólogos de cutinase mais
próximos é a fenda mais ampla do sítio ativo, que, após observação,
hipotetizamos que poderia ser necessária para acomodar poliésteres
7

semiaromáticos cristalinos. Em seu ponto mais largo, a fenda na PETase se


aproxima de três vezes a largura da estrutura correspondente na cutinase
de T. fusca . A expansão é conseguida com rearranjo mínimo das alças
adjacentes e estrutura secundária. Uma única substituição de aminoácido de
fenilalanina por serina no revestimento da cavidade do sítio ativo parece
suficiente para causar essa mudança, com a fenda remanescente formada
entre Trp159 e Trp185. Este alargamento relativo da fenda do sítio ativo
também é observado em comparações com outras estruturas de cutinase
conhecidas. (AUSTIN et al., 2018, p. E4351)

Figura 1: Estrutura da PETase. (A) Representação em desenho da estrutura da


PETase com resolução de 0,92 Å [Protein Data Bank (PDB) ID code 6EQE]. (B)
Estrutura comparativa da cutinase de T. fusca (PDB ID code 4CG1). (C) Distribuição
de potencial eletrostático
mapeada para a superfície
acessível ao solvente da
PETase em comparação
com a cutinase de T. fusca
como um gradiente colorido
de vermelho (ácido) a -7 kT
/e para azul (básico) a 7 kT
/e (onde k é a constante de
Boltzmann, T é a
temperatura e eé a carga
de um elétron). (D) T. fusca
cutinase na mesma
orientação.
Fonte: Austin et al. (2018).

Em seu estudo, Joo et al. (2018) afirmam que a PETase pertence à superfamília
da α/β hidrolase e que “a folha β central torcida é formada por nove fitas β mistas (β1-
β9) e circundadas por sete α-hélices [...]” (JOO et al., 2018, p. 2).
Para entender como uma determinada enzima atua, estudos são realizados
para conhecer sua estrutura e conduzir experimentos para entender o seu mecanismo
de ação. Han et al. (2017, p. 2-3) aborda as estruturas gerais da PETase do ponto de
vista bioquímico:
8

Estruturas gerais da PETase. A proteína recombinante de PETase de tipo


selvagem sem peptídeo sinal foi expressa e cristalizada no grupo espacial
ortorrômbico P212121. A estrutura foi resolvida com resolução de 1,58 Å, e
três cadeias polipeptídicas foram observadas em uma unidade assimétrica,
que são denotadas por cadeia A, B e C. A PETase adota a dobra canônica
ɑ/βhidrolase, na qual a tríade catalítica estritamente conservada S131-H208-
D177, conforme previsto a partir do alinhamento de sequência com enzimas
homólogas que exibem atividade hidrolítica de PET, é encontrada na
superfície da proteína. S131 serve como nucleófilo e está localizado dentro
da distância da ligação de hidrogênio para ser polarizado pela base H208,
que por sua vez é estabilizada pelo ácido D177. Várias características únicas
estão presentes perto do centro catalítico. Primeiro, a PETase forma duas
pontes dissulfeto intramoleculares (DS1 e DS2), enquanto as outras enzimas
homólogas têm apenas uma. O DS2 estritamente conservado (C244-C260)
conecta a hélice C-terminal e a última alça, enquanto o DS1 específico de
PETase (C174-C210) liga duas alças que abrigam o ácido catalítico e a base.
Em segundo lugar, W156 adjacente ao centro catalítico apresenta
conformações variáveis nas estruturas cristalinas. Curiosamente, um Trp
equivalente é encontrado em todas as enzimas hidrolisadoras de PET, mas
a oscilação de W156 não foi observada antes. De fato, este Trp nas outras
estruturas adotou o confórmero “C”. Entre os aminoácidos circundantes é
encontrado um S185 distinto na PETase, que é consistentemente substituído
por um His nas enzimas homólogas. Outras análises indicam que uma cadeia
lateral His seria muito próxima para permitir o confórmero "A" ou "B" de W156
em PETase, enquanto um resíduo de Ser pode render um espaço para
acomodar o confórmero "C" de W156. Portanto, a oscilação do W156 é devido
à presença do S185.

Figura 2: Estruturas
de produtos de
hidrólise de PETase
e outros compostos
usados por Han et al.
(2017).

Fonte: Han et al.


(2017).
9

Figura 3: Estrutura geral da PETase apo-forma. (A) A estrutura da PETase é


apresentada como um modelo de desenho animado. A tríade catalítica (círculo da
linha tracejada vermelha, no canto superior esquerdo) e as pontes de dissulfeto
(rótulos vermelhos) são mostradas como bastões. (B) Três cadeias polipeptídicas em
uma unidade assimétrica são sobrepostas. W156, S185 e a tríade catalítica das
cadeias A (verde), B (ciano) e C (magenta) são mostradas em primeiro plano. As
linhas tracejadas indicam distâncias <3,5 Å. (C) A PETase neste estudo é comparada
com a hidrolase degradante de PET Thermobifida fusca (PDB ID, 4CG2). Os resíduos
correspondentes de W156 e S185 na última enzima são de cor amarela. As linhas
tracejadas vermelhas indicam distâncias <1,5 Å.

Fonte: Han et al. (2017).

Mesmo que os autores ressaltem a semelhança da PETase com substratos da


cutinase, Joo et al. (2018) deixam claro que:
10

“Hidrolases, incluindo esterases, lipases e cutinases foram relatados


anteriormente como exibindo atividade de degradação de PET. O mecanismo
catalítico da cutinase, que pertence à família da serina hidrolase, tem sido
explorado analisando estruturas complexas de inibidores e análogos de
substrato natural (cutina e triglicerídeo, Fig. 1). No entanto, o PET é muito
distinto dos substratos da cutinase em termos de estruturas químicas, e o
modo preciso de ligação do PET e o mecanismo subjacente da hidrólise do
PET permanecem obscuros.

3 APLICAÇÕES BIOTECNOLÓGICAS
É perceptível o interesse biotecnológico na Is PETase, principalmente no que
diz respeito à Biotecnologia Cinza, responsável por aplicações de interesse
biotecnológico em páreas ambientais, como reaproveitamento e biodegradação
segura de resíduos, como é o caso dos PETs.
Pesquisas nesse segmento têm sido cada vez mais frequentes. Joo et al.
(2018) propuseram um mecanismo de ação da enzima para a biodegradação do
plástico. A partir de estudos estruturais e bioquímicos e revisão de literatura, esses
autores afirmam que a PETase produzida e secretada pela I. sakaiensis precisa se
ligar à superfície do material para então iniciar o processo que está descrito e ilustrado
abaixo:

Para iniciar a degradação do PET, a PETase secretada pela bactéria primeiro


se ligaria à superfície do PET usando sua superfície plana hidrofóbica que
possui uma fenda de ligação ao substrato (Fig. 2b-d). O processo de
degradação do PET pode ser dividido em duas etapas, etapa de geração de
níquel e etapa de digestão terminal. Na etapa de geração de nick, quatro
frações MHET são ligadas a cada subsite (uma fração MHET para subsite I e
três frações MHET para subsite II) e a ligação de éster cindível parece estar
posicionada entre subsite I e II perto do resíduo Ser160 catalítico (Fig. 4a).
Então, a clivagem de uma ligação éster causa a formação de um entalhe no
PET, resultando na geração de duas cadeias PET com terminais diferentes:
o terminal TPA liberado do subsite I e o terminal HE liberado do subsite II (Fig.
4a). Na etapa de digestão terminal, duas cadeias PET com os terminais HE
e TPA são digeridas em monômeros MHET de maneiras um tanto diferentes.
Para a digestão de PET com o terminal HE (HEPET), o terminal MHET e as
três porções MHET seguintes ligam-se ao subsite I e subsite II,
respectivamente, e a quebra da ligação éster resulta na produção de um
monômero MHET e HEPETn − 1 (Fig. 4b). A digestão subsequente de
HEPETn − 1 deve ocorrer de maneira semelhante à do primeiro processo de
clivagem. A digestão de PET com o terminal TPA (TPAPET) também deve
ocorrer por meio do posicionamento do TPA terminal e das três porções
MHET seguintes no subsite I e subsite II, respectivamente (Fig. 4b). A
clivagem da ligação éster parece produzir uma molécula de TPA e HEPETn
− 1, e este HEPETn − 1 sofre clivagem subsequente, conforme observado no
processo de degradação de HEPET (Fig. 4b). Alternativamente, HEPET e
TPAPET também podem ser digeridos através da ligação de cadeias de
polímero PET e da enzima na direção reversa, embora este tipo de digestão
possa ser menos eficiente do que a digestão acima. Neste caso, uma ou duas
porções MHET, em vez de três porções MHET, podem se ligar ao subsítio II
11

(Fig. 4b). Essas ligações podem produzir uma variedade de monômeros e


dímeros PET, como 2-HE (MHET) 2, (MHET) 2, MHET e BHET, que podem
ser finalmente digeridos em MHET, TPA e EG (Fig. 4b). As digestões
contínuas de HEPET e TPAPET ocorrem de maneira combinatória, conforme
descrito acima, resultando no acúmulo de quatro moléculas, incluindo MHET,
TPA, BHET e EG (Fig. 4b). O BHET pode ser posteriormente degradado em
MHET e EG e, finalmente, três moléculas, MHET, TPA e EG, se acumulam
devido à degradação do PET (Fig. 4b). Além disso, é importante notar que a
degradação do filme PET pela IsPETase acumula uma quantidade
significativa de TPA (Fig. 2b), embora a IsPETase não possa hidrolisar MHET
em TPA e EG17. Com base no processo de degradação do PET que
propomos aqui, pode-se também concluir que o acúmulo de TPA da
degradação do filme de PET é derivado principalmente da etapa de digestão
terminal do TPAPET (JOO et al., 2018, p. 5).

Figura 4: Representação do mecanismo de biodegradação do PET proposto pelo


estudo de JOO et al. (2018).

Fonte: Joo et al. (2018, p. 7)


12

Figura 5: Estrutura cristalina de IsPETase. (A) Alinhamento da sequência de


aminoácidos de enzimas que degradam PET. Sequências de aminoácidos de seis
enzimas degradantes de PET, duas de cada tipo I, tipo IIa e tipo IIb, são comparadas.
Os elementos da estrutura secundária são desenhados com base na estrutura da
IsPETase e mostrados com uma seta de cor púrpura (folha β) e hélice de cor azul (α-
hélice). O motivo Gly–x1–Ser–x2–Gly e o loop estendido são destacados como caixas
de cor roxa e vermelha, respectivamente. Os resíduos envolvidos na catálise
enzimática e na constituição do subsítio I e do subsítio II são indicados por triângulos
vermelhos, azuis e roxos, respectivamente. A ligação dissulfeto encontrada em todas
as seis enzimas é indicada com uma linha laranja e rotulada com 'Ligação dissulfeto
1'. A ligação dissulfeto adicional encontrada apenas na IsPETase também é indicada
com uma linha laranja e rotulada com 'Ligação dissulfeto 2'. Is, Ad, Pp, Oa, Tf e Sv
são representações de enzimas de degradação de PET de Ideonella sakaiensis,
Acidovorax delafieldii, Pseudomonas pseudoalcaligenes, Oleispira antarctica,
Thermobifida fusca e Saccharomonospora viridis, respectivamente.
13

(B) Estrutura da IsPETase. A estrutura monomérica é mostrada como um diagrama


de fita. Os três resíduos de Ser160, Asp206 e His237 formando uma tríade catalítica
são mostrados como bastões de cor ciano, e as duas ligações dissulfeto são como
bastões de cor azul claro. A molécula 2-HE(MHET)4 simulada no sítio ativo é mostrada
como um bastão de cor laranja. A figura do lado direito é girada 90° horizontalmente
a partir da figura do lado esquerdo.

Fonte: Joo et al. (2018)

Já o estudo de Austin et al. (2018) identificou ação promissora da PETase na


degradação do Polietileno Furanoato (PEF), um poliéster semiaromático utilizado
como substituto comercial do PET biológico (JONG et al., 2012; EERHART; FAAIJ;
PATEL, 2012). A hipótese dos autores foi que a PETase poderia também degradar
outros poliésteres e os resultados mostraram que não foi possível no caso de
substratos alifáicos. Já no caso dos semiaromáticos, houve significativa ação
biodegradante em comparação com o PET, sugerindo que a ação da PETase é muito
mais eficaz no PEF.
Han et al. (2017) determinaram estruturas cristalinas complexas de uma nova
PETase de uma bactéria que consome PET e realizaram ensaios enzimáticos para
identificar os resíduos essenciais necessários para a catálise. Os resultados sugerem
um “modo de ligação ao substrato em uma enzima hidrolisante de PET, o que pode
fornecer orientação para a futura engenharia e aplicações de PETase na bioconversão
de plásticos” (HAN et al., 2017).
14

Formas de aumentar a atividade enzimática de outros tipos de enzimas também


são alvo de estudos que utilizam técnicas biotecnológicas para esse fim. É o caso do
estudo de Herrero Acero et al. (2013) e Silva et al. (2011), que mostraram, através da
técnica de mutagênese sítio-dirigida do sítio ativo, as cutinases podem apresentar
maior atividade de hidrólise.
Além dessa técnica, a introdução de íons Ca2+ ou Mg2+ mostrou aumentar a
estabilidade térmica de esterases (THEN et al., 2015), assim como a adição de pontes
dissulfeto à mesma enzima (THEN et al., 2016), o que levou a uma maior
degradabilidade do PET.
Um sistema enzimático duplo que associava dois tipos de enzimas apresentou
efeitos sinérgicos. A associação consistia em Tfcut2 de T. fusca KW3 e LC cutinase
(BARTH et al., 2016) ou lipase de C. antarctica e cutinase de Humicola insolens
(CARNIEL et al., 2016), entretanto a atividade de degradação permaneceu baixa.
A necessidade de criar novos meios eficientes e promissores de degradação
de plástico é notável. Estudos biotecnológicos têm influenciado positivamente no
desenvolvimento de novos estudos, mais avançados e com melhorias, o que pode
significar uma possível produção industrial de PETase e protocolos de descarte e
degradação de PET, possibilitando menores índices de poluição e representando a
resolução de um problema ambiental urgente.

4 ESTUDOS PARA PRODUÇÃO INDUSTRIAL


Como abordado anteriormente, os estudos conduzidos até o presente momento
resultaram em enzimas, como cutinases e hidrolases, de eficiência catabólica
insuficiente para aplicação industrial. No entanto, a recente descoberta de uma
bactéria capaz de produzir a PETase com grande potencial é um cenário que propício
ao sucesso de estudos posteriores.
A I. sakaiensis utiliza o PET como fonte de carbono e energia, por isso
“despertou um interesse significativo em como esse mecanismo enzimático funciona
com um substrato polimérico altamente resistente que parece sobreviver por séculos
no meio ambiente” (AUSTIN et al., 2018, p. E4356).
Para Austin et al. (2018, p. E4356):

Esta enzima fornece assim uma plataforma excitante para a engenharia e


evolução de proteínas adicionais para aumentar a eficiência e variedade de
15

substratos desta poliesterase, bem como fornecer pistas sobre como projetar
cutinases termofílicas para melhor incorporar poliésteres aromáticos, para o
desafio persistente de alta degradação do polímero cristalino. (AUSTIN et al.,
2018, p. E4356)

Já para Liu et al., (2018):

Graças à mutagênese guiada por estrutura, a modificação racional de certos


resíduos pode ser aplicada à PETase para uma degradação eficiente de
resíduos plásticos PET pós-consumo em um processo industrial. No entanto,
a engenharia de novas hidrolases de poliéster que exibem propriedades
catalíticas altamente eficientes específicas para materiais de PET altamente
cristalinos e de grau de garrafa continua sendo um desafio fundamental. Isso
pode ser alcançado aplicando metodologias de biotecnologia microbiana para
identificar novas enzimas do ambiente, explorando a biodiversidade
microbiana e gerando poderosas variantes de engenharia de proteínas
usando design racional e estratégias de evolução enzimática. Se forem bem-
sucedidas, essas enzimas poderão dar uma contribuição importante para
uma futura indústria sustentável de reciclagem de plástico em circuito
fechado.

Ainda não se tem eficiência e dados suficientes para a utilização dessas


enzimas em escala industrial, mas existe grande potencial para alcançar esse
objetivo nos próximos anos.

5 CONCLUSÃO
Os plásticos, ainda muito utilizados cotidianamente, vêm causando sérios
problemas, principalmente devido ao seu acúmulo no meio ambiente. É no combate a
esse prejuízo ambiental que a PETase tem grande importância. Sendo assim, na
tentativa de alcançar a sustentabilidade, surge a necessidade encontrar meios
eficientes e promissores de degradação de plástico, fins para os quais a produção
industrial de PETase e novos protocolos de descarte e degradação de PET se fazem
necessários.
16

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