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Título do Plano de Desenvolvimento e Caracterização de

Atividades do Bolsista Materiais Compósitos Poliméricos Condutores


Nome do Bolsista Daniel Champoski
Nome do Orientador Claudimir A. Carminatti
Grupo de Pesquisa Ciência e Engenharia de Recursos Renováveis
Materiais Compósitos, Biopolímeros,
Palavras-chave
Nanomateriais, Celulose Bacteriana, Grafeno.
Período de Vigência da
AGO/2019-JUL/2020
Bolsa
Data Joinville, 12 de agosto de 2020.

Introdução
Os materiais compósitos são materiais formados por uma combinação de
dois ou mais constituintes diferentes. Essa combinação pode ser tanto em nível
microscópico ou macroscópico, e os materiais são essencialmente insolúveis
um nos outros. Tais materiais ganharam muita importância em décadas
recentes tanto a nível industrial quanto científico por tornarem possível a
obtenção de materiais inovadores, com propriedades semelhantes e até
superiores que as originais, reduzindo o custo financeiro e energético para se
obter novos materiais com características mais atrativas (Smith & Hashemi,
2013).
A celulose, biopolímero mais abundante, ocorre em várias espécies de
plantas, em alguns animais, e também é produzido por algumas bactérias. É
um polímero linear polidisperso formado por cadeias de moléculas de glicose
do tipo β(1→4) glicosídicas, e na maioria das plantas a função da celulose é
atuar como material de reforço (Azizi Samir et al., 2005).

A celulose acompanha a humanidade durante grande parte da civilização


e seu desenvolvimento tecnológico, desde a produção de fibras e cordas na
China antiga até se tornar o principal material para a produção de folhas para o
registro de documentos. Atualmente, é amplamente utilizada nas indústrias
modernas para a produção de materiais têxteis, papeis, plásticos, aditivos
alimentícios, além de também ser utilizada em aplicações biomédicas (BARUD
et al., 2016; HON, 1994).

A celulose bacteriana (CB) é um biopolímero com a mesma estrutura


química da celulose proveniente de vegetais, porém não contém as impurezas
encontradas nas plantas, tais como a lignina e a hemicelulose. Com isso, o
consegue-se a celulose pura com maior facilidade utilizando bactérias, como a
Acetobacter xylinus, por exemplo(Shao et al., 2016).

O meio de cultivo pode ser tanto estático, quanto agitado. No meio


estático, uma solução de nutrientes é encubada entre 1 e 14 dias, em
temperatura adequada (28-30 °C) e pH entre 4 e 7. A celulose bacteriana será
gerada em forma de hidrogel e deve ser purificada, geralmente com água
quente e hidróxido de sódio. No método agitado, a ideia principal é fornecer
mais oxigênio para as bactérias. Em quantidade adequada, há aumento na
quantidade de CB produzida. Porém, há instabilidade genética em bactérias
sobre agitação, o que ocasiona queda na quantidade de CB em comparação
com o método estático. O método agitado costuma formar celulose na forma
esférica(Wang et al., 2019).

Para a produção em escala industrial, as bactérias do gênero


Komagataeibacter (antigamente conhecidas por Gluconacetobacter e
Acetobacter) têm sido reportada como destaque pela sua alta produtividade
quando comparadas a outras bactérias produtoras de celulose (Uzyol & Saçan,
2017). Estas são bactérias gram-negativas e estritamente aeróbicas, não
patogênicas, que podem ser encontradas em frutas. Tais bactérias produzem
celulose que podem ser facilmente isoladas em forma de fibras. Em cultura
estática, é possível produzir um biofilme de espessura variável, que ajuda a
manter alto teor de oxigênio próximo à superfície, o que previne a bactéria
contra secagem, inimigos naturais e radiação graças à barreira protetora que é
formada (de Souza et al., 2019; Klemm et al., 2005).

São diversos os ramos nos quais podemos aplicar a CB. É utilizada para
a fabricação de cosméticos, como hidratantes. Na indústria alimentícia, é
utilizado na produção de nata de coco, doces, sorvetes, entre outros. Também
tem uso em fabricação de membrana para célula combustível, membrana de
ultrafiltração, e para recuperação de óleo e mineral Também despertou mais
recentemente o interesse da área biomédica para aplicações como substituição
temporária da pele, em medicina regenerativa, e implantes dentários (BROWN,
1998 apud RECOUVREUX, 2008; KUCIŃSKA-LIPKA; GUBANSKA; JANIK,
2015; PICHETH et al., 2017).

O grafeno é uma das formas cristalinas do grafite. Formado pelo arranjo


hexagonal de uma única camada de átomos de carbono, sua obtenção
comprovou a possibilidade da existência de materiais 2D (com um átomo de
espessura). O grafeno tem interessantes propriedades elétricas, sendo
considerado um dos melhores condutores devido a sua alta mobilidade
eletrônica. Apresenta condutividade térmica excepcional e também tem
excelentes propriedades mecânicas, sendo extremamente leve e altamente
resistente, atingindo módulo de Young de 1 TPa. (Huang et al., 2012;
Novoselov et al., 2004; Salavagione et al., 2009)
A primeira obtenção de grafeno de forma isolada foi reportada por
Novoselov et al (2004), através de esfoliação mecânica utilizando fita adesiva.
O processo, apesar de sua importância científica e da obtenção de grafeno de
alta qualidade, obteve baixo rendimento e demonstra ser inviável para
produção em larga escala. Diversos outros processos são desenvolvidos para
obtenção mais produtiva de grafeno, como o crescimento epitaxial de filmes de
grafeno utilizando Carbeto de Silício, deposição química de vapor (CVD) de
monocamadas de grafeno, obtenção através de esfoliação química do grafite,
entre outros (Compton & Nguyen, 2010; Orlita et al., 2008)

As aplicações do grafeno variam, podendo inclusive substituir o silício e o


diamante em determinadas aplicações devido a suas propriedades mecânicas.
Com isso, pode ser utilizado para a produção de diversos materiais
compósitos, como eletrodos para células fotovoltaicas, baterias,
supercapacitores, materiais biomédicos, lentes infravermelhas e
optoeletrônicas, fotocatálise, entre outros (Huang et al., 2012; Stankovich
et al., 2006).

O grafeno e o óxido de grafeno (também são considerados materiais


promissores na área de medicina regenerativa, devido à área de superfície
específica elevada, alta porosidade e excelentes propriedades mecânicas.
Além disso, o GO é considerado promissor para aplicações biológicas, pois
apresenta excelente biocompatibilidade, e adesão, proliferação e diferenciação
de várias células de mamíferos (LUO et al, 2018).

A montagem camada a camada (LBLA) in situ para a fabricação de


hidrogéis nanocompósitos espessos (acima de 5 mm) com nanofilmes de GO
altamente dispersos é feito a partir de vários ciclos, onde gotículas contendo
GO são dispersadas na superfície da membrana de CB, resultando em um
primeiro filme de CB/GO na membrana base com ajuda de oxigênio
esterilizado. No segundo ciclo, o novo filme de CB/GO cresce através de
biossíntese, com o primeiro filme servindo como base. Por fim, a membrana é
removida e o hidrogel é purificado, resultando em um nanocompósito de
CB/GO (Luo et al., 2018).

A utilização de óxido de grafeno disperso em água a 5% em peso e


celulose bacteriana para a formação de um nanocompósito têm apresentado
melhoria de 10 a 20% de resistência à tração após secagem, em comparação à
celulose bacteriana pura, utilizando o método de mistura mecânica de
fragmentos (Feng et al., 2012). Utilizando o método LBLA para a adição de GO
de 11 a 22% em massa, observa-se melhora progressiva na resistência à
tração, chegando a valores até 2,9 vezes maior que da CB pura, com módulo
de Young 3,6 vezes maior. Com tais resultados, o método LBLA mostra=se
muito eficiente em melhorar as propriedades mecânicas da CB (Luo et al.,
2018).
Bibliografia

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