Você está na página 1de 17

Revista Ibero-Americana de Ciências Ambientais

Ibero-American Journal of Environmental Sciences

Set 2021 - v.12 - n.9 ISSN: 2179-6858

This article is also available online at:


www.sustenere.co

Estudo da absorção de água em compósitos com fibras vegetais:


uma prática de gestão ambiental
Um dos grandes desafios nos últimos anos dos setores produtivos é desenvolver novos materiais, como os compósitos, por exemplo, para suprir a crescente
demanda mundial e diminuir os diferentes tipos de impactos, principalmente os ambientais. Várias pesquisas têm sido realizadas sobre a utilização de fibras
vegetais como reforço em compósitos de matrizes poliméricas, devido à possibilidade de substituírem as fibras sintéticas e a seu grande potencial de aplicação
tecnológica, bem como sobre a absorção de água destes materiais, já que prejudicam as propriedades mecânicas dos mesmos. Neste sentido, este trabalho tem
como objetivo estudar, analiticamente, o comportamento da absorção de água em compósitos de matriz poliéster reforçados com a fibra vegetal da folha do
abacaxi, com teores de fibras de 15 e 20%. Uma modelagem matemática tridimensional transiente foi utilizada para predizer a transferência de massa durante a
absorção de água destes compósitos com forma paralelepipédica. Resultados do teor de umidade médio adimensional são mostrados, comparados com os
dados experimentais e analisados, obtendo-se um ajuste viável. Observou-se que, em geral, o aumento dos teores de fibras tem influência no aumento da
absorção de água dos compósitos, e também que nos vértices dos compósitos o fluxo de umidade é mais elevado.

Palavras-chave: Compósitos; Fibras vegetais; Folha do abacaxi; Solução analítica; Absorção de água.

Study of water absorption in compounds with vegetable fibers: an


environmental management practice
One of the great challenges in recent years for the productive sectors is to develop new materials, such as composites, to meet the growing world demand and
reduce different types of impacts, especially environmental ones. Several researches have been carried out on the use of vegetable fibers as reinforcement in
polymeric matrix composites, due to the possibility of replacing synthetic fibers and their great potential for technological application, as well as on the water
absorption of these materials, as they harm the mechanical properties thereof. In this sense, this work aims to study, analytically, the behavior of water
absorption in polyester matrix composites reinforced with vegetable fiber from the pineapple leaf, with fiber contents of 15 and 20%. A transient three-
dimensional mathematical modeling was used to predict the mass transfer during water absorption of these parallelepiped-shaped composites. Results of the
dimensionless mean moisture content are shown, compared with the experimental data and analyzed, obtaining a viable fit. It was observed that, in general, the
increase in fiber contents has an influence on the increase of water absorption of the composites, and also that the moisture flow is higher at the composite
vertices.

Keywords: Composites; Vegetable fibers; Pineapple leaf; Analytical solution; Water absorption.

Topic: Engenharia de Materiais Received: 14/08/2021


Approved: 15/09/2021
Reviewed anonymously in the process of blind peer.

João Victor Sales da Nóbrega Charles Ulises de Montreuil Carmona


Universidade Federal de Pernambuco, Brasil Universidade Federal de Pernambuco, Brasil
http://lattes.cnpq.br/5206546661336913 http://lattes.cnpq.br/7405613985962104
https://orcid.org/0000-0001-8420-215X http://orcid.org/0000-0003-4625-1078
jvictornobrega@hotmail.com charles.carmona@ufpe.br

Antonio Gilson Barbosa de Lima João Pinto Cabral Neto


Universidade Federal de Campina Grande, Brasil Instituto Federal de Alagoas, Brasil
http://lattes.cnpq.br/4527387699298544 http://lattes.cnpq.br/6343416990001721
http://orcid.org/0000-0003-1691-1872 http://orcid.org/0000-0003-4884-3392
antonio.gilson@ufcg.edu.br cabralneto7@hotmail.com

João Baptista da Costa Agra de Melo


Universidade Federal de Campina Grande, Brasil
http://lattes.cnpq.br/7962147028271194
http://orcid.org/0000-0002-1577-8590
joao@dem.ufcg.edu.br

Referencing this:
NÓBREGA, J. V. S.; LIMA, A. G. B.; MELO, G. B. C. A.; CARMONA, C. U.
M.; CABRAL NETO, J.. Título: subtítulo. Revista Ibero Americana de
Ciências Ambientais, v.12, n.9, p.294-310, 2021. DOI:
DOI: 10.6008/CBPC2179-6858.2021.009.0023 http://doi.org/10.6008/CBPC2179-6858.2021.009.0023

©2021
®Companhia Brasileira de Produção Científica. All rights reserved.
Estudo da absorção de água em compósitos com fibras vegetais: uma prática de gestão ambiental
NÓBREGA, J. V. S.; LIMA, A. G. B.; MELO, G. B. C. A.; CARMONA, C. U. M.; CABRAL NETO, J.

INTRODUÇÃO

É crescente a busca por novos materiais e a preocupação em minimizar os impactos de sua


produção, principalmente os ambientais. Os melhores aproveitamentos tecnológicos, econômicos e sociais
destes recursos estão voltados para propiciar um melhor padrão de vida para as futuras gerações,
adicionando aos modos de produção sistemas menos poluentes e impactantes. Neste contexto, as fibras
vegetais vêm sendo utilizadas como substitutas de diversos reforços sintéticos ou de cargas minerais em
compósitos poliméricos, apresentado um grande potencial de aplicação tecnológica. Várias pesquisas são
realizadas para desenvolverem compósitos utilizando fibras naturais como cargas reforçantes, devido ao
seu baixo custo, disponibilidade, biodegradabilidade, reciclabilidade e propriedades mecânicas satisfatórias
(MENDES, 1992; ISHIZAKI et al., 2006; ALMEIDA et al., 2006).
Um material compósito é caracterizado como a combinação de dois ou mais materiais, sendo que
cada qual permanece com as características individuais distintas. Na sua constituição está presente uma
fase contínua, constituída pela matriz, e a fase descontínua, chamada de reforço. Nos compósitos, os
reforços (sob forma de fibras, partículas esféricas ou plaquetas) são embebidos na matriz (CALLISTER, 2003;
LARANJEIRA, 2004; FLINN et al., 1981). Quanto às propriedades dos compósitos, estas são controladas
pelas propriedades de seus materiais constituintes, teores, distribuições e geometrias dos reforços. Em um
compósito, as características de anisotropia são influenciadas pela orientação do reforço. Além disso, as
propriedades finais dependem da interface entre as fases descontínua e contínua, ou seja, dependem
fundamentalmente de como os componentes individuais interagem entre si (CAVALCANTI, 2006).
As fibras vegetais são compostas de grande percentual de celulose, sendo chamadas de celulósicas
ou lignocelulósicas. Devido às fibras vegetais serem recursos naturais renováveis de grande abundância no
mundo, e possuírem características como baixa densidade, alta resistência, durabilidade, baixo custo,
serem biodegradáveis, e apresentarem um bom conjunto de propriedades mecânicas, pode ser adequados
a várias aplicações (MISHRA et al., 2003; MOHANTY et al., 2004; ROUISON et al., 2005).
Quando as fibras vegetais são introduzidas no compósito como reforço, melhoram
consideravelmente as propriedades mecânicas em tração, impacto e flexão, entretanto, esta melhora é
muito menor quando comparada à obtida pela introdução da fibra de vidro. Contudo, as fibras vegetais
podem ser utilizadas em compósitos onde as propriedades mecânicas exigidas não são muito elevadas. As
propriedades mecânicas das fibras vegetais são dependentes da idade da planta, tipo do solo, condições
climáticas, do local e as condições de processamentos empregados, além de sua estrutura e composição
química (MOHANTY et al., 1995; CARVALHO et al., 2006; GOWA et al., 1999).
No desenvolvimento de compósitos poliméricos pode-se empregar, como reforço, por exemplo, a
fibra da folha do abacaxizeiro (Ananas Comosus), que corresponde a uma fibra vegetal que provém de
fontes renováveis de matéria-prima, sendo ideais para a utilização em residências de baixo custo, e
apresentando boas propriedades mecânicas, térmicas e acústicas. Além disso, são leves, abundantes e
disponíveis para serem agregadas em diversas aplicações (DEVI et al., 1997; DORAISWAMY et al., 1993;
CHOAIRY, 1985; ALEXANDRE et al., 2004).

Revista Ibero-Americana de Ciências Ambientais


P a g e | 295
v.12 - n.9  Set 2021
Estudo da absorção de água em compósitos com fibras vegetais: uma prática de gestão ambiental
NÓBREGA, J. V. S.; LIMA, A. G. B.; MELO, G. B. C. A.; CARMONA, C. U. M.; CABRAL NETO, J.

As fibras vegetais possuem algumas desvantagens, apesar de possuírem um bom conjunto de


propriedades mecânicas relacionadas à natureza polar e hidrofílica de alta suscetibilidade destas fibras ao
ataque de fungos e bactérias. Sua natureza hidrofílica é fator que influencia diretamente nas suas
propriedades mecânicas, por ser a causa da baixa molhabilidade e adsorção da matriz polimérica em sua
superfície, resultando assim numa fraca aderência interfacial polímero-fibra no compósito final, a qualidade
da interface é significativa para a aplicação desse tipo de compósito (CARVALHO et al., 2006; NÓBREGA et
al., 2006; BLEDZKI et al., 1999).
Outro obstáculo a ser considerado é a alta absorção de umidade das fibras vegetais, pois a
absorção de umidade pode resultar em inchamento das fibras, afetando a matriz por enfraquecimento das
interações da interface fibra-matriz ou iniciação de trincas. Em compósitos poliméricos reforçados por
fibras vegetais, a absorção de umidade pela fibra não tratada, com baixa molhabilidade e adesão
insuficiente entre matriz polimérica hidrofóbica e a fibra hidrofílica, tanto diminui as propriedades
mecânicas do sistema como leva à delaminação com o tempo (ROUISON et al., 2005; WANG et al., 2005;
WAMBUA et al., 2003; GASSAN, 2002).
Segundo Tang et al. (2005), a umidade quando absorvida pelo compósito pode causar plastificação
da matriz polimérica, alterar a distribuição de tensão e degradar a interface fibra-matriz. A falta de
interação interfacial leva a tensões internas, porosidade e degradação por exposição ambiente. A
molhabilidade das fibras depende da viscosidade dos polímeros e da tensão superficial de ambos os
materiais. Para promover uma melhor interação interfacial existem vários métodos que modificam a
energia superficial das fibras e do polímero.
Muitas pesquisas são encontradas na literatura, sobre a cinética de absorção de água e/ou umidade
em sistemas compósitos apresentando soluções analíticas e/ou numéricas. Contudo, a maioria dos
trabalhos considera a difusão de água no sólido como sendo unidimensional (MARCOVICH et al., 1999;
CHOI et al., 2001; PEGORETTI et al., 2004; TANG et al., 2005). Para levar em consideração a
tridimensionalidade do problema, alguns pesquisadores têm utilizado soluções analíticas para o problema
tridimensional, aplicadas para tempos longos, o que simplifica bastante o problema (CHATEAUMINOIS et
al., 1994; DEFFARGES et al., 1995; PAVAN et al., 2001; SRIHARI et al., 2002; BAO et al., 2002).
Neste contexto, visando contribuir com esta área de pesquisa, o presente trabalho tem por
objetivos: apresentar um estudo da absorção de água (analiticamente) em materiais compósitos
poliméricos reforçados com a fibra vegetal da folha do abacaxi; apresentar uma modelagem matemática
tridimensional transiente para predizer a transferência de massa durante a absorção de água; simular a
distribuição do teor de umidade no interior dos sólidos e o teor de umidade ao longo do processo; e
comparar os resultados analíticos com os experimentais apresentados na literatura, para validar a
metodologia e estimar os coeficientes de difusão.

METODOLOGIA

Os métodos e dados experimentais da absorção de água utilizados para desenvolvimento desta

Revista Ibero-Americana de Ciências Ambientais


P a g e | 296
v.12 - n.9  Set 2021
Estudo da absorção de água em compósitos com fibras vegetais: uma prática de gestão ambiental
NÓBREGA, J. V. S.; LIMA, A. G. B.; MELO, G. B. C. A.; CARMONA, C. U. M.; CABRAL NETO, J.

pesquisa foram obtidos da literatura, mais especificamente do trabalho de Alexandre (2005).

Materiais

As placas de compósitos poliméricos reforçadas por fibras vegetais foram confeccionadas, com as
seguintes especificações: A fibra empregada foi a da folha da planta do abacaxi (Ananas Comosus (l.)
Merr.), variedade “Pérola”, obtida por meio do método manual-mecânico através de uma máquina
desfibradeira e pelo processo de mercerização. As propriedades das fibras das folhas do abacaxizeiro estão
relacionadas com as seguintes características na Tabela 1 (abaixo). A matriz empregada foi à resina do
poliéster insaturado ortoftálico pré-acelerado, de cor clara, rígida, totalmente polimerizável, de baixa
reatividade e baixa viscosidade, tixotrópica e fornecida pela RESANA S/ A, sob o código RESAPOL 10-116, NF
64.582. Para a preparação da placa compósita foi usado molde metálico com base e tampa, conforme
mostra a Figura 1 (abaixo), com o método de laminação por compressão, que tem o seguinte
procedimento: Secagem da fibra e corte em comprimento desejado, neste estudo utilizou-se 35 mm;
Confecção manual da manta; Pesagem da manta bruta; Separação das mantas em 4 partes (lâminas) e
pesagem de cada parte; Prensar as partes da manta separadas a 8 toneladas por 30 minutos; Colocação das
mantas na estufa a 80oC, por 30 minutos; Pesagem das partes da manta secada; Preparação do molde
metálico: colocar o desmoldante (cera de carnaúba); Preparação da resina: 100ml + 1% de catalisador
(misturar com bastão de vidro); Colocação da primeira camada de resina em todo o molde; Colocação da
primeira parte da manta no molde com a resina, usar um rolinho metálico para que ela esteja toda
embebida pela resina, para evitar a formação de bolhas, até a última parte da manta; Fechamento do
molde metálico e colocar num recipiente aparador de resina (flandres); Colocação do molde e o aparador
na prensa com 8 toneladas por um tempo de 4 horas; Retirar o molde da prensa e desmoldar, com a ajuda
de chave ou talhadeira; Identificação e pesagem da placa (laminado); Colocação da placa na estufa por 4
horas, a 80oC, para acelerar o processo de cura; Marcação, corte e identificação dos corpos de prova de
absorção de água.

Tabela 1: Propriedades da fibra da folha do abacaxizeiro (FFA).


Propriedades Características

Razão de aspecto (comprimento/diâmetro) (L/D) 450


Densidade (g/cm³) 1,44
Densidade Linear (tex) 2,70 – 3,72
Finura (tex) 2,5 – 5,5
Higroscopicidade (%) 11
Aumento Transversal em água (%) 18 – 20
Cor Branco-creme (Amarelo-branco)
Toque Macio e liso
Aspecto Superfície lustrosa
Combustão Chama amarela e combustão rápida
Odor da combustão Papel queimado
Resistência à tração (MPa) 413 – 1627
Alongamento na ruptura (%) 0,8 – 1,0
Módulo Elástico (GPa) 34,5 – 82,5
Módulo de Flexão (MPa) 0,2 – 0,40
Ângulo Microfibrilar (°) 14 – 18
Índice de Celulose (%) / Lignina (%) 81 / 12
Fonte: Doraiswamy et al. (1993); Mukherjee et al. (1986); Mishra (2001), citados por Alexandre et al. (2009).

Revista Ibero-Americana de Ciências Ambientais


P a g e | 297
v.12 - n.9  Set 2021
Estudo da absorção de água em compósitos com fibras vegetais: uma prática de gestão ambiental
NÓBREGA, J. V. S.; LIMA, A. G. B.; MELO, G. B. C. A.; CARMONA, C. U. M.; CABRAL NETO, J.

Figura 1: Molde metálico de moldagem por compressão. Fonte: Alexandre (2005).

As dimensões dos corpos de prova obedeceram às dimensões especificadas na norma ASTM D570-
81 (20x20x3 mm) para o ensaio de absorção (Figura 2).

Figura 2: Dimensões do corpo de prova do ensaio de cinética de sorção. Fonte: Alexandre (2005).

Absorção de Água

Os ensaios de cinética de absorção de água foram realizados conforme a norma ASTM D 570-81,
durante 1008 horas e em 4 corpos de provas para cada compósito. Utilizou-se uma balança analítica de
precisão AND HR-200 Japan, com peso máximo de 210g e precisão d = 0,1mg, além de estufa TECNAL TE
394/1 com circulação e renovação de ar.
A Figura 3 (abaixo) mostra os equipamentos usados nos ensaios de absorção de água. As amostras
de absorção tiveram as bordas seladas com resina para evitar o contato direto das fibras com a água.
Inicialmente, as amostras foram colocadas numa estufa com temperatura de 105oC por 24 horas. Depois
foram colocadas em dessecador e após isso foram pesadas, em balança analítica de precisão d = 0,1mg.
As amostras foram mergulhadas em reservatório plástico com água destilada à temperatura
ambiente e, em tempos pré-determinados, foram retiradas, secadas com papel ou tecido de baixa
absorção, pesadas e colocadas de volta na água. O teor de água absorvido foi calculado, relacionando o
peso seco (inicial) e o peso imerso de cada leitura.

Figura 3: Equipamentos para ensaios de absorção de água. Fonte: Alexandre (2005).

No primeiro dia foram feitas 13 leituras, no tempo zero (peso seco), na 1a, 2 a, 3 a, 4a, 5a e 6a meia
hora, sequenciando a cada hora até a oitava hora, e com 24 horas. A partir do primeiro dia foram realizadas

Revista Ibero-Americana de Ciências Ambientais


P a g e | 298
v.12 - n.9  Set 2021
Estudo da absorção de água em compósitos com fibras vegetais: uma prática de gestão ambiental
NÓBREGA, J. V. S.; LIMA, A. G. B.; MELO, G. B. C. A.; CARMONA, C. U. M.; CABRAL NETO, J.

leituras a cada 24 horas durante 41 dias.

Modelagem Matemática

Durante a absorção de água de um compósito ocorrem significativas variações de umidade dentro


do sólido, o que pode gerar tensões internas. Estas tensões, por sua vez, podem ocasionar trincas, fraturas
e deformações, comprometendo a qualidade final do produto. Neste contexto, a solução da equação de
difusão transiente é muito importante tecnologicamente, especialmente na análise de compósitos
reforçados com fibras vegetais, podendo demonstrar o comportamento da umidade no interior deles.

Para a modelagem matemática, considere o problema de difusão de uma variável Φ(x,y,z,t) em


um paralelepípedo sólido de dimensões 2R1x2R2x2R3, correspondente as dos corpos de prova (20x20x3
mm) de acordo com a Figura 4.
y

x
O
R2
R3
R2
R 3

z R1 R1

Figura 4: Configuração geométrica do problema físico.

A equação diferencial geral que descreve o fenômeno de difusão neste sólido é da forma:
 (  )
 .(  )  S (1)
t

Onde Ф é a variável dependente, t é o tempo,  e   são os parâmetros de processo e S é um


termo fonte que depende de reações internas.
O operador Nabla  em coordenadas cartesianas é dado por:
  
 î  ĵ  k̂ (2)
x y z

Logo, a Equação 1 em coordenadas cartesianas pode ser escrita como:

 ( )               
       S (3)
t x  x  y  y  z  z 

onde x, y e z são coordenadas cartesianas de posição.


Fazendo: Ф = M (teor de umidade, em base seca),   = D (coeficiente de difusão),  = 1, e S= 0
(não há geração interna), a Equação 3 pode ser escrita como segue:

            
 D  D  D  (4)
t x  x  y  y  z  z 

Revista Ibero-Americana de Ciências Ambientais


P a g e | 299
v.12 - n.9  Set 2021
Estudo da absorção de água em compósitos com fibras vegetais: uma prática de gestão ambiental
NÓBREGA, J. V. S.; LIMA, A. G. B.; MELO, G. B. C. A.; CARMONA, C. U. M.; CABRAL NETO, J.

A Equação 4 é solucionada com certa facilidade por meio de métodos numéricos. Porém, para a
solução analítica é necessário obedecer a certas condições. Portanto, para a obtenção da solução analítica
da equação geral de transporte, considerando a difusão de água em um compósito reforçado com fibras
naturais das folhas do abacaxi com geometria de um paralelepípedo, consideraram-se as seguintes
hipóteses: O sólido é considerado homogêneo e isotrópico, ou seja, não apresenta variação das
propriedades físicas em nenhuma direção; O coeficiente de difusão é considerado constante durante o
processo de difusão na posição; O sólido é considerado simétrico em relação ao centro; O processo é
transiente; Não há variação de volume durante o processo de difusão; A capilaridade é considerada
desprezível; O único mecanismo de transporte de água dentro do sólido é o de difusão, não ocorrendo
geração interna; O sólido é considerado completamente seco no início do processo; Existe condição de
equilíbrio com o meio exterior na superfície do sólido.
A partir das hipóteses consideradas, e observando-se a forma como a Equação 4 é expressa
(tridimensional transiente), serão necessárias pelo menos seis condições de contorno na posição e uma no
tempo para que se possa solucionar tal equação. Devido à hipótese de simetria que existe neste sólido,
consideram-se as dimensões para estudar o problema de difusão, conforme mostra a Figura 5.

Figura 5: Geometria considerada para o compósito, com destaque para o plano vertical xy, em uma posição z onde a
distribuição de umidade será analisada.

Desta forma, para a solução do problema necessita-se da condição inicial, de simetria e de


contorno do problema especificado, que são:
Condição inicial (t = 0):
 ( x, y, z , t  0)   0 (5)

Condição de simetria (considerando isotropia e t>0):


 ( x  0, y, z, t )  ( x, y  0, z, t )  ( x, y, z  0, t )
  0 (6)
x y z
Condições de contorno de terceira espécie na superfície do sólido, ou seja, condição convectiva
para x= R1, y = R2, z = R3 e t > 0. Desta forma pode-se escrever:
Μ(x=R1 ,y,z,t)
-D = h[Μ(x=R1 ,y,z,t)-Μ eq ]
x (7)

Μ(x,y=R 2 ,z,t)
-D = h[Μ(x,y=R 2 ,z,t)-Μ eq ] (8)
y

Revista Ibero-Americana de Ciências Ambientais


P a g e | 300
v.12 - n.9  Set 2021
Estudo da absorção de água em compósitos com fibras vegetais: uma prática de gestão ambiental
NÓBREGA, J. V. S.; LIMA, A. G. B.; MELO, G. B. C. A.; CARMONA, C. U. M.; CABRAL NETO, J.

Μ(x,y,z=R 3 ,t)
-D = h[Μ(x,y,z=R 3 ,t)-Μeq ] (9)
z
Onde h é coeficiente de transferência convectiva e Meq é o teor de umidade de equilíbrio.

A solução analítica tridimensional transiente para o problema de difusão, de acordo com a Equação
4 e as condições (Equações 5, 6, 7, 8, e 9), é dada por uma superposição de problemas unidimensionais em
coordenadas cartesianas e no tempo de placas infinitas, cuja interseção forma o paralelepípedo (LUIKOV,
1968). Então, a solução para o problema de difusão de massa num paralelepípedo será:

Μ(x,y,z,t)-Μ eq  Μ(x,t)-Μ eq  Μ(y,t)-Μ eq  Μ(z,t)-Μ eq 


Μ* = = 
Μ o -Μ eq  Μ -Μ  Μ -Μ   Μ -Μ  (10)
 o eq  o eq  o eq 

Onde Mo é o teor de umidade inicial.


Desta forma, por se tratar agora de um problema em uma única direção e transiente, pode-se
apresentar a solução da equação através da técnica da separação de variáveis. A equação diferencial parcial
que governa a distribuição da variável M na direção X, em regime transiente no interior de uma placa plana
infinita, será dada por:
  ²
D (11)
t x ²

Fazendo Ψ = Μ(x,t)-Μ eq , a Equação 11 assume a forma:

 2
D 2 (12)
t x

As condições iniciais de simetria e de contorno são, respectivamente:


Ψ(x,t) = Ψ 0 = Μ 0 -Μ eq em t=0 e  R 1  x  R 1 (13)

 (x,t)
 0 em t>0 e x=0 (14)
x

 (x,t)
D  h (x,t) em t>0 e x=R1 (15)
x

Desta forma, como    ( x, t ) é solução da Equação 12, usando o método da separação de


variáveis, pode-se escrever:
 ( x, t )  1 ( x )2 ( t ) (16)

A solução analítica da Equação 16 é o produto de soluções, uma dependente da coordenada

Revista Ibero-Americana de Ciências Ambientais


P a g e | 301
v.12 - n.9  Set 2021
Estudo da absorção de água em compósitos com fibras vegetais: uma prática de gestão ambiental
NÓBREGA, J. V. S.; LIMA, A. G. B.; MELO, G. B. C. A.; CARMONA, C. U. M.; CABRAL NETO, J.

espacial x e outra dependente do tempo t. Derivando tal equação uma vez em relação ao tempo, e duas
vezes em relação à posição e substituindo na Equação 12, tem-se:

1  2 1  2 1
 (17)
D 2 t 1 x 2

Igualando-se ambos os termos da Equação 17 a uma constante   2 , pois a escolha de uma

constante negativa possibilita a solução do problema proposto condizente com a física, e reorganizando os
termos as seguintes equações diferenciais ordinárias:

d 2 1
  2 1  0 (18)
2
dx
e
dΨ 2
+Dβ 2Ψ 2 = 0 (19)
dt
As soluções das equações diferenciais ordinárias (18 e 19) são respectivamente:
1 ( x )  C1Sen(x )  C 2 Cos(x ) (20)

e
2
Ψ 2 (t) = C 3e -Dβ t (21)
Substituindo-se as Equações 20 e 21 na Equação 16, tem-se a solução particular do problema
unidimensional transiente, dada por:
2
Ψ(x,t) = [C1Sen(βx)+C2Cos(βx)]C3e-Dβ t (22)
Onde os valores das constantes C1, C2 e C3 são obtidas aplicando-se as condições inicial e de
contorno em x=0 e x=R1. Os autovalores β n da Equação 22 são as raízes da seguinte equação
transcendental:
 R
Cotg( n R 1 )  n 1 (23)
Bi
hL
Onde Bi = é chamado número de Biot de transferência de massa e L = R1.
D

Para o estudo de absorção com a condição de contorno de primeira espécie (equilíbrio), o


coeficiente de transferência convectiva tende para infinito (h→∞). Logo, o valor de Bi tenderá também
para o infinito (Bi→∞). Daí a Equação 23 pode ser reescrita como:
Cos(β n R 1 ) = 0 (24)


Onde para satisfazer a Equação 24, como R 1 ≠ 0, tem-se que β n = com n sendo um número
2
ímpar.
Desta forma, utilizando-se o princípio da combinação linear de soluções, tem-se a solução para o
problema apresentado dada pela Equação 22, pode ser reescrita como:

Revista Ibero-Americana de Ciências Ambientais


P a g e | 302
v.12 - n.9  Set 2021
Estudo da absorção de água em compósitos com fibras vegetais: uma prática de gestão ambiental
NÓBREGA, J. V. S.; LIMA, A. G. B.; MELO, G. B. C. A.; CARMONA, C. U. M.; CABRAL NETO, J.


Ψ(x,t) =  Cn Cos(βn x)e-βn Dt
2
(25)
n=1

Aplicando a condição inicial na Equação 25 no intuito de obter os valores dos Cn tem-se:



0 

n 1
Cn Cos(n x ) (26)

Logo, multiplicando ambos os lados da Equação 26 por Cos ( m x ) , integrando-se sobre o intervalo

[0, R1] e obedecendo ao teorema da ortogonalidade das funções trigonométricas ( β n = β m ), os coeficientes

C n da série de cosseno de Fourier, serão determinados por:


R1

Cn =
 0
Ψ 0Cos(β n x)dx
R1
 0
Cos 2 (β n x)dx (27)

Assim, depois do adequado tratamento algébrico a Equação 27 resulta em:


2Ψ 0Sen(βn R1 )
Cn =
[β n R1 +Sen(β n R1 )Cos(β n R1 )] (28)

Substituindo a Equação 24 na Equação 28 tem-se:


2Ψ 0Sen(β n R1 )
Cn =
[β n R1 ] (29)
Logo, a solução analítica da Equação 12, obtida pela técnica da separação de variáveis é expressa
por:

Sen  β n R 1  Cos(β n x) -β2n Dt
Ψ(x,t) = 2Ψ 0  e (30)
n=1 [β n R1 ]
onde R1 é a dimensão em x, D é o coeficiente de difusão e t é o tempo. Considerando o seguinte
parâmetro adimensional:
 ( x, t )
*  (31)
0
Aplicando a Equação 31 na Equação 30, o resultante pode ser reescrito na forma:

Sen  β n R1  Cos(β n x) -β2n Dt
 *  2 e (32)
n=1 [β n R1 ]
Portanto, a solução para o problema de difusão de massa num paralelepípedo, de acordo com a
Equação 10, considerando as faces do sólido, perpendiculares aos eixos x, y e z, respectivamente, será dada
por:
  

 A A
2 2 2
Μ * (x,y,z,t) = n m A k Cos(β n x)Cos(β m y)Cos(β k z)e-[β n +β m +βk ]Dt (33)
n=1 m=1 k=1

onde os coeficientes An, Am e Ak são determinados de acordo com:

Revista Ibero-Americana de Ciências Ambientais


P a g e | 303
v.12 - n.9  Set 2021
Estudo da absorção de água em compósitos com fibras vegetais: uma prática de gestão ambiental
NÓBREGA, J. V. S.; LIMA, A. G. B.; MELO, G. B. C. A.; CARMONA, C. U. M.; CABRAL NETO, J.

2Sen(β n R1 )
An = (34)
β n R1
2Sen(β m R 2 )
Am = (35)
βm R 2
2Sen(β k R 3 )
Ak = (36)
βk R 3
Foram utilizados os primeiros 30 autovalores de β n , β m e β k , de acordo com a Equação 24,

resultando em 303 termos da série de Fourier. O valor médio de  é dado por:


1

v  dv (37)
Desta forma, substituindo a Equação 30 na Equação 37 tem-se:

Sen 2  β n R 1  -β 2n Dt
Ψ = 2Ψ 0  e
n=1 (β n R 1 ) 2 (38)

Então, o valor médio do teor de umidade adimensional será dado por:


Ψ(x,t)
Μ* =
Ψ0 (39)
Substituindo a Eq. (38) na Eq. (39), tem-se:

Sen 2  β n R 1 
  2
2
*
2
e -βn Dt
n=1 (β n R 1 ) (40)

O valor médio de  * para o sólido tridimensional, é dado por:


    S en 2  β n R 1    Sen 2  β m R 2    Sen 2  β k R 3   -[β 2n +β 2m +β 2k ]Dt
Μ* =    2 (β R ) 2   2 (β R ) 2   2 (β R ) 2 e (41)
n=1 m =1 k=1  n 1  m 2  k 3 
Para a obtenção dos resultados analíticos foram utilizados dois códigos computacionais no software

Mathematica, sendo um para obter  * e outro para  * .


O coeficiente de difusão foi estimado variando a constante D na Equação 41, tendo em vista

calcular  * e comparar com os dados experimentais, buscando minimizar a soma dos desvios quadráticos
entre os resultados, caracterizando a técnica dos erros mínimos quadráticos (ERMQ). O erro mínimo
quadrático e a variância são definidos de acordo com as Equações 42 e 43 (FIGLIOLA et al., 1995). Para
estimação do coeficiente de difusão (D) em estudo, inicialmente considerou-se um Do e pelo critério do
menor valor do ERMQ obteve-se o D1 para o caso 1 (Tf = 15%). Este procedimento foi executado até
obterem-se os valores dos coeficientes de difusão (D) para os demais casos.
n 2

ERMQ =   M*i,Analit -M*i,Exp 


i=1
(42)

ERMQ
S2 = (43)
(n-1)
Onde n é o número de pontos experimentais.

Revista Ibero-Americana de Ciências Ambientais


P a g e | 304
v.12 - n.9  Set 2021
Estudo da absorção de água em compósitos com fibras vegetais: uma prática de gestão ambiental
NÓBREGA, J. V. S.; LIMA, A. G. B.; MELO, G. B. C. A.; CARMONA, C. U. M.; CABRAL NETO, J.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Tabela 2: Valores dos coeficientes de difusão estimados, ERMQ e variância de acordo com o teor de fibra.
Coeficiente de difusão estimado
Caso D (m2/s) ERMQ S²x104
Tf = 15% 1,18x10-12 0,033206810 6,38593
Tf = 20% 1,06x10-12 0,010364328 1,99314

Para o estudo analítico do comportamento da absorção de água em compósitos de matriz poliéster


reforçado com a fibra vegetal da folha do abacaxi foram utilizados compósitos com teores de fibras de 15 e
20, conforme reportado por Alexandre (2005).

Estimativa dos Coeficientes de Difusão

Os coeficientes de difusão foram estimados por meio da minimização da soma dos quadrados dos
resíduos. A Tabela 2 mostra os valores dos coeficientes de difusão estimados, bem como o erro relativo
associado a cada caso analisado, obtidos conforme procedimento mostrado anteriormente para o cálculo
do ERMQ, sendo também apresentados os valores da variância em cada caso.
Como esperado, em geral, os valores dos coeficientes de difusão tendem a se elevar com o
aumento do teor de fibra no material compósito. Isto pode ocorrer porque o aumento do teor de fibras
propicia uma maior absorção de água, e tais considerações serão discutidas posteriormente nos resultados
de absorção. O fato de o coeficiente de difusão do caso 1 (Tf= 15%) não seguir o esperado, provavelmente
pode ter ocorrido devido a um erro de leitura nas oito medidas iniciais no ensaio experimental, por ter sido
o primeiro parâmetro analisado e devido à absorção nos tempos iniciais ocorrer mais rapidamente.
O ERMQ máximo apresentado corresponde a aproximadamente 8 %, quando comparados com os
resultados experimentais apresentados na literatura.
Na Tabela 3 (abaixo), são apresentados dados comparativos do coeficiente de difusão estimado
pelo modelo matemático tridimensional e os coeficientes de difusão apresentados na literatura. De acordo
com Alexandre (2005), os coeficientes de difusão foram obtidos por modelo matemático unidimensional,
para tempos curtos (DTC) até 50 horas e longos (DTL) de 150 a 1000 horas em função do teor de fibras do
compósito. Para ambos, a diferença entre os coeficientes aumenta com o incremento do teor de fibras. Na
tabela também é mostrado o coeficiente de difusão (DTM) obtido ponderando-se os dados de DTC e DTL
em função do tempo experimental. Observa-se uma aproximação dos valores do coeficiente de difusão
estimado e o da média ponderada; o desvio ocorre pelo modo como os mesmos são calculados.

Tabela 3: Valores dos coeficientes de difusão: estimado (D), para tempos curtos (DTC), para tempos longos (DTL) e
média ponderada (DTM) de acordo com o teor de fibra.
Coeficiente de difusão D Coeficiente de difusão Coeficiente de difusão DTL Coeficiente de difusão
Caso (m2/s) DTC (m2/s) (m2/s) DTM (m2/s)
Tf = 15% 1,18x10-12 1,37 x10-12 1,29 x10-12 1,16 x10-12
Tf = 20% 1,06x10-12 1,40 x10-12 1,31 x10-12 1,17 x10-12

Absorção de Água

Sobre o estudo de absorção de água, as Figuras 6 a 9 apresentam graficamente os resultados de

Revista Ibero-Americana de Ciências Ambientais


P a g e | 305
v.12 - n.9  Set 2021
Estudo da absorção de água em compósitos com fibras vegetais: uma prática de gestão ambiental
NÓBREGA, J. V. S.; LIMA, A. G. B.; MELO, G. B. C. A.; CARMONA, C. U. M.; CABRAL NETO, J.

comparação entre os valores dos teores de umidade médios adimensionais experimentais e analíticos
(modelo proposto) dos casos estudados. Analisando as figuras, observa-se a adequação do modelo
matemático proposto com a curva experimental obtida com a umidificação do compósito e os teores de
fibras (Tf) de 15 e 20 %. Elas apresentam apenas pequena discrepância geral, para os tempos entre 200 e
800 horas, o que não invalida o modelo matemático, pois, como foi visto, o ERMQ máximo chega a 8%.
Os resultados apresentados estão em conformidade com trabalhos reportados na literatura
(ALEXANDRE, 2005; CAVALCANTI, 2006; NÓBREGA, 2007), que apresentam que a absorção está
diretamente ligada ao teor de fibras. Além das características das fibras presentes no compósito, é
importante a qualidade da interface fibra/matriz. Devido à maior afinidade pela água do material celulósico
ou natureza hidrofílica e permeabilidade do reforço, a capacidade de absorção aumenta com o aumento do
teor ou da fração volumétrica das fibras. A absorção máxima para os teores de 15 e 20 % foram de acordo
com os dados experimentais de 7,14 e 8,70 %, respectivamente, para o tempo final de 1008 horas.
As distribuições do teor de umidade do compósito poliéster/fibra vegetal da folha do abacaxi no
plano z = R3/2 = 0,75mm, nos tempos 8, 24, 48, 96, 144 e 192 horas estão representadas nas Figuras 8 e 9
(abaixo). A existência de um alto gradiente do teor de umidade na região próxima aos vértices dos sólidos é
observada, o qual diminui em direção ao centro do compósito. Isto evidencia que a água migra da
superfície para o centro do compósito. Nas áreas próximas aos pontos (x = R1, y = R2, z = R3) o sólido
umidifica mais rapidamente por estar em contato direto com a água.
Uma comparação entre a distribuição de umidade dentro dos compósitos poliéster/fibra vegetal da
folha do abacaxi indica que quanto maior o teor de fibra (Tf) no compósito, o processo de umidificação é
dado de maneira mais rápido. Este comportamento é atribuído à maior afinidade à água dos materiais
celulósicos e corrobora os resultados de coeficientes de difusão mostrados na Tabela 2 (acima). Isto indica
que quanto menor o teor de fibras vegetais tem-se uma diminuição do processo de absorção de água de
compósitos poliméricos até o equilíbrio.

Figura 6: Comparação entre os resultados analíticos


(modelo proposto) e experimentais do teor de
Figura 7: Comparação entre os resultados analíticos
umidade médio adimensional, para Tf = 15%.
(modelo proposto) e experimentais do teor de umidade
médio adimensional, para Tf = 20%.

Analisando os resultados, observa-se que a distribuição do teor de umidade no interior dos


compósitos é muito similar para os tempos iniciais. Contudo, para os tempos acima de 192 horas, esta
umidificação é dada de maneira mais lenta, pois o processo se encontra próximo do equilíbrio.

Revista Ibero-Americana de Ciências Ambientais


P a g e | 306
v.12 - n.9  Set 2021
Estudo da absorção de água em compósitos com fibras vegetais: uma prática de gestão ambiental
NÓBREGA, J. V. S.; LIMA, A. G. B.; MELO, G. B. C. A.; CARMONA, C. U. M.; CABRAL NETO, J.

É importante conhecer os perfis do teor de umidade dentro do material para predizer quais são as
áreas mais sensíveis à tensão mecânica, o que pode causar trincas e deformações e, consequentemente,
diminuir a qualidade do produto (NASCIMENTO, 2002). Além disso, regiões mais úmidas afetam a fibra mais
intensamente, produzindo redução nas propriedades mecânicas de tração e flexão dos compósitos.
Delaminação é outro fenômeno que pode vir a ocorrer.

b)
a)

c) d)

e) f)
Figura 8: Distribuição do teor de umidade no interior do compósito com teor de fibra (Tf) de 15% no plano z = R3/2,
nos seguintes tempos: a) t=8h, b) t=24h, c) t=48h, d) t=96h, e) t=144h, f) t=192h.

a) b)

Revista Ibero-Americana de Ciências Ambientais


P a g e | 307
v.12 - n.9  Set 2021
Estudo da absorção de água em compósitos com fibras vegetais: uma prática de gestão ambiental
NÓBREGA, J. V. S.; LIMA, A. G. B.; MELO, G. B. C. A.; CARMONA, C. U. M.; CABRAL NETO, J.

c) d)

e) f)
Figura 9: Distribuição do teor de umidade no interior do compósito com teor de fibra (Tf) de 20% no plano z =
R3/2, nos seguintes tempos: a) t=8h, b) t=24h, c) t=48h, d) t=96h, e) t=144h, f) t=192h.

CONCLUSÃO

De acordo com os resultados obtidos acerca da absorção de água em materiais compósitos


tridimensionais, pode-se concluir que: a) O modelo matemático tridimensional apresentado para descrever
o comportamento da absorção de água em compósitos de matriz poliéster reforçado com fibra vegetal da
folha do abacaxi mostrou-se adequado; b) O modelo matemático proposto apresenta vantagens como: boa
aproximação dos resultados com os dados experimentais da literatura; c) resultados mais confiáveis em
relação aos modelos matemáticos unidimensionais reportados na literatura; pode ser aplicado para estudo
de outros casos, além dos diferentes teores de fibras (Tf) de 15, e 20% analisados; baixo tempo
computacional e elevada estabilidade numérica; d) coeficiente de difusão estimado para teor de fibra (Tf)
de 20%, foi de 1,06x10-12 m²/s. Os valores dos coeficientes de difusão do compósito mostram que, em
geral, se elevam com o aumento do teor de fibra no material compósito; e) resultado do erro mínimo
quadrático (ERMQ) máximo apresentado para a estimação dos coeficientes de difusão foi de 8%,
mostrando a confiabilidade dos resultados do modelo analítico proposto, quando comparados com os
resultados experimentais apresentados na literatura; f) os resultados da cinética de absorção de água nos
compósitos reforçados com a fibra vegetal da folha do abacaxi por meio dos gráficos de teor de umidade
médio adimensional, mostraram-se também influenciados pelo teor de fibras. Pôde-se observar que a
capacidade de absorção de água aumenta com o aumento do teor ou da fração volumétrica das fibras; g) a
distribuição do teor de umidade no interior do compósito é maior nos planos superficiais e nos vértices do
sólido para todos os casos analisados (Tf = 15 e 20 %), pois estão em contato direto com a água. Observou-
se que a absorção de água é mais rápida para o caso de (Tf = 20%).
Para todos os casos, no tempo de 192 horas, a distribuição do teor de umidade está em torno de

Revista Ibero-Americana de Ciências Ambientais


P a g e | 308
v.12 - n.9  Set 2021
Estudo da absorção de água em compósitos com fibras vegetais: uma prática de gestão ambiental
NÓBREGA, J. V. S.; LIMA, A. G. B.; MELO, G. B. C. A.; CARMONA, C. U. M.; CABRAL NETO, J.

90% daquela do equilíbrio. Para tempos superiores há 192 horas, a absorção se dá de maneira mais lenta,
tendendo ao equilíbrio.

REFERÊNCIAS

ALEXANDRE, M. E. O.. Compósitos de matriz poliéster DEVI, L. U.; BHAGAWAN, S. S.; THOMAS, S.. Mechanical
reforçados com a fibra da folha do abacaxi: propriedades properties of pineapple leaf fiber-reinforced polyester
mecânicas e de absorção de água. Tese (Doutorado em composites. J. Appl. Polym. Sci., v.64, p.1739-1748, 1997.
Engenharia de Materiais) – Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, 2005. DORAISWAMY, I.; CHELLAMANI, P.. Pineapple: leaf fibre.
1993.
ALEXANDRE, M. E. O.; LADCHUMANANADASIVAM, R.;
TEIXEIRA, I. P.; ALVES, R. F.. Compósitos poliméricos FIGLIOLA, R. S.; BEASLEY, D. E.. Theory and design for
reforçados com a fibra da folha do abacaxizeiro. In: mechanical measurements. New York: John Wiley & Sons,
CONGRESSO NORTE NORDESTE DE PESQUISA E INOVAÇÃO, 1995.
4. Anais. Belém, 2009.
FLINN, R.; TROJAN, P.. Engineering materials and their
ALEXANDRE, M. E. O.; LADCHUMANANADASIVAM, R.; applications. Boston: Houghton Mifflin Company, 1981.
VERÍSSIMO, S. A.; MENEZES, P. L.; BATISTA, J. H.; ARAÚJO, R.
C.. Aproveitamento da fibra da folha abacaxi (FFA) como GASSAN, J. A.. Study of fibre and interface parameters
recurso econômico para o estado do Rio Grande do Norte. affecting the fatigue behaviour of natural fibre composites.
Natal. 2004. Applied Science and Manufacturing, v.33, n.3, p.369-374,
2002.
BAO, L. R.; YEE, A. F.. Moisture diffusion and hygrothermal
aging in bismaleimide matrix carbon fiber composites-part I: GOWDA, T. M.; NAIDU, A. C. B.; CHHAYA, R.. Some
Uni-weave composites. Composites Scienceand Technology, mechanical properties of untreated jute fabric-reinforced
v.62, n.16, p.2099-2110, 2002. polyester composites. Applied Science and Manufacturing,
v.30, n.3, p.277-248, 1999.
BLEDZKI, A. K.; GASSAN, J.. Composite reinforced with
cellulose based fiber. Progress in Polymer Science, v. 24, ISHIZAKI, M. H.; LEILA, L.Y.; VISCONTE, C. R. G.; FURTADO, C.
n.2, p.221-274, 1999. A. M.; LEITE JEAN, L. L.. Caracterização mecânica e
morfológica de compósitos de polipropileno e fibras de coco
CALLISTER JUNIOR, W. D.. Materials Science and verde: influência do teor de fibra e das condições de
Engineering an Introduction. 6 ed. New York: John Wiley & mistura. Ciência e Tecnologia, v.16, n.3, p.182-186, 2006.
Sons, 2003.
LARANJEIRA, E.. Propriedades de compósitos poliéster/juta.
CARVALHO, L. H.; CAVALCANTI, W.. Propriedades mecânicas Influência da adição de carga mineral nanoparticulada e
de tração de compósitos poliéster/tecidos híbridos sistema antichama. Tese (Doutorado em Engenharia de
sisal/vidro. Polímeros: Ciência e Tecnologia, v.16, n.1, p.33- Processos) – Universidade Federal de Campina Grande.
37, 2006. Paraiba, Campina Grande, 2004.

CAVALCANTI, W. S.. Compósitos Poliéster/tecidos tramados LUIKOV, A. V.. Analytical heat diffusion theory. London:
vegetal-vidro: caracterização mecânica e simulação da Academic Press, 1968.
sorção de água. Tese (Doutorado em Engenharia de
Processos) – Universidade Federal de Campina Grande. MARCOVICH, N. E.; REBOREDO, M. M.; ARANGUREN, M. I..
Campina Grande, 2006. Moisture diffusion in polyester-woodflour composites.
Polymer, v.40, n.26, p.7313-7320, 1999.
CHATEAUMINOIS, A.; VICENT, L.; CHABERT, B. E.; SOULIER, J.
P.. Study of the interfacial degradation of a glass-epoxi MENDES, T. M. F.. Propriedades de resistência à tração e ao
composite during hygrothermal ageig using water diffusion impacto de compósitos poliéster/sisal: um estudo
measurements and dynamic mechanical thermal analysis. comparativo. Dissertação (Mestrado em Engenharia
Polymer, v.35, n.22, p.4766-4774, 1994. Mecânica) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
Natal, 1992.
CHOAIRY, S. A.. A cultura do abacaxi: práticas de cultivo.
Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba. MISHRA, S.; MISRA, M.; TRIPATHY, S. S.; NAYAK, S. K.;
Secretaria da Agricultura e Abastecimento, João Pessoa, MOHANTY, A. K.. Potentiality of pineapple leaf fibre as
1985. reinforcement in PALF-polyester composite: surface
modification and mechanical performance. Journal of
CHOI, H. S.; AHN, K. J.; NAN, J. D.; CHUN, H. J.. Hygroscopic reinforced plastics and composites, v.20, n.4, p.321-334,
aspects of epoxi/carbon fiber composite laminates in aircraft 2001.
environments. Applied Science and Manufacturing, v.32,
n.5, p.709-720, 2001. MISHRA, S.; MOHANTY, A. K.; DRZAL, L.T.; MISRA, M.;
PARIJA, S.; NAYAK, S. K.; TRIPANTHY, S. S.. Studies on
ALMEIDA, A. L. F. S.; CARVALHO, L. H.; ALMEIDA, J. R. M.. machanical performance of biofibre/glass reinforced
Characterization of caroá (Neoglaziovia variegata) fibers. polyester hybrid composite. Composites Science and
Rio de Janeiro, 2006. Technology, v.63, n.10, p.1377-1385, 2003.

Revista Ibero-Americana de Ciências Ambientais


P a g e | 309
v.12 - n.9  Set 2021
Estudo da absorção de água em compósitos com fibras vegetais: uma prática de gestão ambiental
NÓBREGA, J. V. S.; LIMA, A. G. B.; MELO, G. B. C. A.; CARMONA, C. U. M.; CABRAL NETO, J.

MOHANTY, A. K.; MISRA, M.. Studies on jute composites - a absortion characteristics”. Journal of Reinforced Plastics
literature review. Polymer Plastic Technology, v.34, n.5, andComposites, v.20, n.12, p.1036-1046, 2001.
p.729-792, 1995.
PEGORETTI, A.; PENATI, A.. Effects of hygrothermal aging on
MOHANTY, A. K.; WIBOWO, A.; MISRA, M.; DRZAL, L. T.. the molar mass and thermal properties of recycled poly
Effect of process engineering on the performance of natural (ethylene terephathalate) and its short glass fibre
fiber reinforced cellulose acetate biocomposites. Aplied composites. Polymer Degradation and Stability, v.86, n.2,
Science and Manufacturing, v.35, n.3, p.363-370, 2004. p.233-243, 2004.

MUKHERJEE, P. S.; SATYANARAYANA, K. G.. Structure and ROUISON, D.; COUTURIER, M.; SAIN, M.; MACMILLAN, B.;
properties of some vegetable fibres. Part2 Pineapple fibre BALCON, B. J.. Water absorption of hemp fiber/unsaturated
(Anannus Comosus). Journal of Materials Science, v.21, n.1, polyester composites. Polymer Composites, v.26, n.4, p.510-
p.51-56, 1986. 524, 2005.

NASCIMENTO, J. J. S.. Fenômenos de difusão transiente em SRIHARI, S.; REVATHI, A.; RAO, R. M. V. G. K.. Hygrothermal
sólidos paralelepípedos: estudo de caso: Secagem de effects on RT-cured glass-epoxi composites in immersion
materiais cerâmicos. Tese (Doutorado em Engenharia environments. Journal of Reinforced Plastics and
Mecânica) – Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa. Composites, v.21, n.11, p.983-991, 2002.
2002.
TANG X.; WHITCOMB, J. D.; LI, Y.; SUE, H. J.. Micromechanics
NÓBREGA, M. M. S.. Compósitos de matriz poliéster com modeling of moisture diffusion in woven composites.
fibras de caroá neoglaziovia variegata: caracterização Composites Science and Technology, v.65, n.6, p.817-826,
mecânica e sorção de água. Tese (Doutorado em Engenharia 2005.
de Processos) – Universidade Federal de Campina Grande.
Campina Grande, 2007. WAMBUA, P.; IVENS, J.; VERPOEST, I.. Natural fibres: can
they replace glass in fibre reinforced plastics. Composites
NÓBREGA, M. M. S.; BRAZ, C. J. F.; ALVES, T. S.; FONSECA, V. Science and Technology, v.63, n.9, p.1259-1264, 2003.
M.; CARVALHO, L. H.. Tensile and impact properties of
macambira and caroá fiber reinforced unsaturated polyester WANG, W.; SAIN, M.; COOPER, P. A.. Study of moisture
composites. International Conference on Science & absorption in natural fiber plastic composites. Composites
Technology for Sustainable Development. New Delhi, 2006. Science and Technology, v.66, n.3-4, p.379-386, 2005.

PAVAN, R. M. V.; SARAVANAN, V.; DINESH, A. R.; RAO, Y. J.; DEFFARGES, M. P. Z.; SHANAHAN, M. E. R.. Diffusion of
SRIHARI, S.; REVATHI, A.. Hygrothermal effects on painted water an epoxy adhesive: comparison between bulk
and unpaited glass/epoxy composites-Part A: Moisture behavior and adhesive joints. Int. J. Adhesionand Adhesives,
v.15, n.3, p.137-142, 1995.

A CBPC – Companhia Brasileira de Produção Científica (CNPJ: 11.221.422/0001-03) detém os direitos materiais desta publicação. Os direitos referem-se à publicação do trabalho em qualquer parte
do mundo, incluindo os direitos às renovações, expansões e disseminações da contribuição, bem como outros direitos subsidiários. Todos os trabalhos publicados eletronicamente poderão
posteriormente ser publicados em coletâneas impressas sob coordenação da Sustenere Publishing, da Companhia Brasileira de Produção Científica e seus parceiros autorizados. Os (as) autores (as)
preservam os direitos autorais, mas não têm permissão para a publicação da contribuição em outro meio, impresso ou digital, em português ou em tradução.

Revista Ibero-Americana de Ciências Ambientais


P a g e | 310
v.12 - n.9  Set 2021

Você também pode gostar