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CHAPTER 4

OSCILAÇÕES

O conceito de oscilações é de especial importância na fı́sica, pois aparece em inúmeros


sistemas, das mais diversas naturezas. Em comum entre eles está o fato de suas
dinâmicas serem descrita pelas mesmas equações. Neste capı́tulo analisaremos sis-
temas unidimensionais que apresentam movimento oscilatório, seja ele harmônico
ou não. Esse capı́tulo constitui também, de certa forma, uma extensão dos conceitos
estudados no capı́tulo anterior. Agora, entretanto, trataremos casos onde a força pode
depender da posição, do tempo e da velocidade, simultaneamente. Dessa forma, as
equações de movimento não serão, em geral, separáveis e resolveremos as equações
diferencias ordinárias de segunda ordem através de técnicas padrões.

4.1 Estabilidade

Os pontos onde a força resultante sobre a partı́cula se anula são chamados de pon-
tos de equilı́brio, denotados por x eq . Podemos classificar os tipos de equilı́brio
de acordo com o comportamento adquirido pela partı́cula quando a deslocamos do
ponto de equilı́brio e a liberamos. Para tanto, precisamos entender a atuação da força
em uma vizinhança, de raio δ, do equilı́brio, ou seja, nos pontos x = x eq + , onde
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64 OSCILAÇÕES

0 < || < δ. Se a força nessa vizinhança tende a fazer a partı́cula retornar ao ponto
de equilı́brio, então ela se comporta de maneira restauradora em torno deste ponto.
Mais precisamente, no caso unidimensional, podemos fazer a seguinte definição.

Definição 4.1. Se existe uma vizinhança em torno do equilı́brio tal que F (x eq ±


||) ≶ 0, então a força é restauradora e o equilı́brio é dito estável. Caso contrário, o
equilı́brio é dito neutro ou indiferente se existe vizinhança onde a força é identica-
mente nula e instável se não existe vizinhança onde a força é identicamente nula.

Note que um mesmo campo de força pode ser restaurador em torno de um dado
ponto de equilı́brio e não restaurador em torno de outro. Quanto ao comportamento
da partı́cula, temos que quando esta encontra-se na vizinhança em que a força age
de maneira restauradora, ela é sempre acelerada em direção ao equilı́brio. Conse-
quentemente, a partı́cula é desacelerada sempre que tenta se afastar do equilı́brio.
No equilı́brio instável, não há vizinhança do ponto de equilı́brio em que a partı́cula
é desacelerada sempre que se afastar do equilı́brio. Ela possui uma tendência de se
afastar do equilı́brio. Já no equilı́brio indiferente, existe uma vizinhança em que a
partı́cula não experimenta nenhuma aceleração e, portanto, mantém seu estado de
movimento.

Exemplo 4.1. A chamada força de Morse, usada para descrever a interação inte-
ratômica, é dada por
h i
F (x) = C e−2a(x−x0 ) − e−a(x−x0 ) ,

onde x é a separação entre os átomos. Os parâmetros positivos C, a e x0 são ajus-


tados fenomenologicamente de modo que esta força forneça uma boa descrição do
modo vibracional da molécula diatômica. Do gráfico desta força, Fig. 4.1 , ve-
mos que há apenas um ponto de equilı́brio. O valor dessa separação de equilı́brio
é x0 , que decorre imediatamente da expressão da força. Note que a separação de

0
x
x0

Figura 4.1
ESTABILIDADE 65

equilı́brio é x0 , pois neste ponto a força é nula. Também é possı́vel ver diretamente
do gráfico que o equilı́brio é estável, pois a força é restauradora em torno do ponto
de equilı́brio. Em casos onde não temos acesso ao gráfico, ou o mesmo não é sufi-
cientemente claro, mas temos a função, podemos expandi-la em série de Taylor em
torno do equilı́brio e considerar pequenos deslocamentos do equilı́brio. Por exem-
plo, expandindo a força de Morse em torno de x = x0 em primeira ordem, temos

F = −2aC,

onde  = x − x0 . Vemos, portanto, que esta é uma força restauradora. A expansão


acima tem justamente a forma da Lei de Hooke, ou seja, suficientemente próximo ao
equilı́brio, a interação descrita pela força de Morse se comporta como uma força
elástica. A expansão em Taylor funciona como um zoom que consegue capturar
essa nuance em torno do equilı́brio. Note também que foi suficiente expandir só
até a primeira ordem não nula porque  é muito pequeno e os demais termos iriam
contribuir de maneira desprezı́vel.

Se a força atuando sobre a partı́cula é conservativa, podemos discutir a estabili-


dade a partir da energia potencial, o que, em geral, é mais simples do que analisar
a força. Nos restringiremos a este caso até o final da próxima seção. Além disso,
vamos considerar apenas os casos unidimensionais, pois nos casos com muitos graus
de liberdade, o formalismo da Mecânica Analı́tica torna-se mais apropriado.
Como os pontos de equilı́brio são os pontos onde a força resultante se anula, estes
pontos correspondem, no caso de forças conservativas, a pontos onde a primeira
derivada da energia potencial, em relação à posição, se anula,

dU
(x eq ) = 0,
dx
ou seja, pontos de máximos, mı́nimos ou pontos de inflexão com derivada nula1 .
Se U (x eq ) é um mı́nimo local, então o equilı́brio é estável, sendo a recı́proca
verdadeira. Para ver isso, basta olhar a tangente à curva, o negativo da força, na
vizinhança do ponto de mı́nimo e ver que a força sempre aponta na direção deste.
De maneira análoga, se U (x eq ) é um máximo local, então o equilı́brio é instável,
assim como nos pontos de inflexão com primeira derivada nula. Na Fig. 4.2, x0 é
um ponto de equilı́brio estável, enquanto que x1 é um ponto de equilı́brio instável.
Já na Fig. 4.3 temos um exemplo de ponto de inflexão, x0 , correspondendo a um
ponto de equilı́brio instável. Uma maneira pictórica de visualizar o tipo de equilı́brio
a partir de uma curva de energia potencial é imaginar uma partı́cula, sob ação da
gravidade, podendo deslizar sem atrito sobre um fio rı́gido no formato da curva.
Deslocamos infinitesimalmente a partı́cula da posição de equilı́brio e a liberamos do
repouso. Se, para todo deslocamento infinitesimal, a partı́cula deslizar em direção
ponto de equilı́brio, após ser liberada, então o equilı́brio é estável. Se, para algum

1 Noteque existem pontos de inflexão onde a primeira derivada diverge ou é indefinida. Esses casos não
correspondem a uma força nula.
66 OSCILAÇÕES

deslocamento infinitesimal a partı́cula deslizar afastando-se do equilı́brio, então ele é


instável. Finalmente, se a partı́cula permanecer imóvel a partir de todo deslocamento
infinitesimal, o equilı́brio é indiferente.

U U

x0 x1 x x0 x

Figura 4.2 Figura 4.3

Em termos de derivadas segundas, sabemos que

d2 U
(x eq ) > 0,
dx2
implica que U (x eq ) é mı́nimo e, portanto, o equilı́brio é estável. No entanto, a
recı́proca não é verdadeira. Existem pontos de equilı́brio estável, ou seja, pontos de
mı́nimo da energia potencial, nos quais a derivada segunda se anula. Por exemplo a
função U = x4 , com equilı́brio em x = 0. Similarmente,

d2 U
(x eq ) < 0,
dx2
implica que U (x eq ) é máximo e, portanto, o equilı́brio é instável. Novamente a
recı́proca não é verdadeira, pois existem pontos de equilı́brio instável, como os pon-
tos de inflexão, os quais não correspondem a um máximo local. Já nos casos em que
a derivada segunda se anula,
d2 U
(x eq ) = 0,
dx2
nada podemos afirmar sobre a estabilidade, com base apenas neste resultado.

Exemplo 4.2. A Fig. 4.4 mostra as energias potenciais U1 = x3 , U2 = x4 e


U3 = x6 − x4 . Todas possuem a derivada segunda nula no ponto de equilı́brio
que se encontra na origem. No entanto, como podemos ver da figura, x eq = 0
corresponde a um ponto de equilı́brio estável para a energia potencial U2 e instável
para as energias potenciais U1 e U3 .

Exemplo 4.3. A interação intermolecular deve ser repulsiva para curtas distâncias,
evitando o colapso da matéria, e atrativa a longas distâncias, de modo a tornar
possı́vel a ligação molecular. Além disso, sua magnitude deve cair com a distância,
ESTABILIDADE 67

U2 U3

U1

Figura 4.4

permitindo a dissociação molecular. Um modelo fenomenológico para essa interação


é dada pela força de Lennard-Jones, a qual é derivada da energia potencial
   x 6 
x0 12 0
U (x) =  −2 ,
x x

onde x é a separação molecular e  e x0 são parâmetros positivos, ajustados fe-


nomenologicamente, com dimensão de energia e comprimento, respectivamente. O
gráfico dessa energia é mostrado na Fig. 4.5. O ponto de equilı́brio, x eq , pode ser

U x−12

x0
0
x
−

−x−6

Figura 4.5

encontrado de
dU
(x eq ) = 0,
dx
que fornece x eq = x0 . A energia potencial correspondente é U (x0 ) = −.
68 OSCILAÇÕES

Do gráfico é visı́vel que x0 corresponde a um ponto de equilı́brio estável. Anali-


ticamente, podemos calcular a derivada segunda de U e aplicar em x0 , o resultado
sendo
d2 U 72
(x0 ) = 2 > 0,
dx2 x0
o que corresponde, de fato, a um ponto de mı́nimo. O terceiro método faz uso da
força obtida a partir de U ,
 12
x60

x0
F (x) = 12 − 7 .
x13 x

Expandindo em Taylor, em torno de x0 , temos

dF 72
F (x0 + ∆x) = F (x0 ) + (x0 )∆x + O(∆x2 ) = − 2 ∆x + O(∆x2 ),
dx x0

de onde vemos que a força é restauradora.

4.2 Aproximação harmônica e movimento harmônico simples

A razão pela qual sistemas completamente distintos realizam oscilações e são descri-
tos pelas mesmas equações é que em torno de pontos de equilı́brio estável podemos
aproximar uma força restauradora pela Lei de Hooke ou, no caso de força conserva-
tiva, a energia potencial por uma parábola. Essa aproximação é chamada harmônica
ou parabólica. Considere por exemplo uma partı́cula com uma energia potencial ar-
bitrária, a qual possui um ponto de equilı́brio estável, como na figura 4.6. Para uma

E
E0
xa x0 xb x

Figura 4.6

energia E ligeiramente maior que a energia mı́nima E0 vemos que a parábola, dada
pela curva pontilhada, consiste em uma boa aproximação da energia potencial na
região do movimento da partı́cula, x ∈ [xa , xb ]. Para verificar que isso é verdade,
APROXIMAÇÃO HARMÔNICA E MOVIMENTO HARMÔNICO SIMPLES 69

basta expandir a energia potencial em Taylor, em torno do ponto de equilı́brio,

dU 1 d2 U
U (x0 + ∆x) = U (x0 ) + (x0 )∆x + (x0 )∆x2 + O(∆x3 ).
dx 2 dx2
Como a derivada primeira de U se anula no ponto de equilı́brio, temos
1
U (x0 + ∆x) = E0 + k∆x2 , (4.1)
2
onde definimos
d2 U
k= (x0 ), (4.2)
dx2
e E0 é o valor da energia potencial no ponto de equilı́brio, o qual pode ser despre-
zado, pois não altera a dinâmica do sistema. Assim, a energia dada pela Eq. (4.1)
corresponde exatamente à energia potencial elástica de um sistema massa-mala, cuja
constante elástica é k. Note, no entanto, que estamos considerando um sistema ar-
bitrário e k deve ser interpretado como uma constante associada à força restauradora,
ou a uma mola efetiva. Além disso, a vizinhança em torno do ponto de equilı́brio
na qual a força é restauradora e a energia potencial pode ser aproximada harmonica-
mente é, em geral, pequena e isso implica que estamos interessados em sistemas que
realizam pequenas oscilações.
Redefinindo a origem, x0 = 0, a força nas proximidades da posição de equilı́brio,
obtida a partir de (4.1), vale
F (x) = −kx,
e assim a equação de movimento fica

d2 x
+ ω02 x = 0, (4.3)
dt2
onde r
k
ω0 ≡
, (4.4)
m
é chamada de frequência natural do oscilador. De fato, veremos na sequência que a
solução da Eq. (4.3) resulta em um movimento oscilatório com frequência angular
ω0 .
A Eq. (4.3) é um exemplo de uma equação diferencial ordinária (EDO). Uma
EDO de segunda ordem é dita linear quando pode ser escrita da forma2

a0 (t)ẍ + a1 (t)ẋ + a2 (t)x = b(t). (4.5)

Se b(t) = 0 ela é dita homogênea, caso contrário é dita não-homogênea. Uma EDO
homogênea satisfaz o chamado Princı́pio de Superposição, ou seja, se x1 (t) e x2 (t)

2 Daquiem diante, as notações ẋ e ẍ corresponderão, respectivamente, à primeira e à segunda derivada de


x em relação ao tempo.
70 OSCILAÇÕES

são soluções, então cx1 (t) e x1 (t) + x2 (t) também são, onde c é uma constante
arbitrária. O significado fı́sico deste princı́pio é o mesmo discutido na Seç. 1.7.
Dizemos que um modelo é linear quando as equações de movimento que o descreve
são EDO’s lineares.
Suponha que x1 (t) e x2 (t) sejam soluções da EDO linear homogênea de segunda
ordem, com a0 , a1 , a2 funções reais contı́nuas3 . A teoria geral das equações diferen-
ciais ordinárias mostra que se x1 (t) e x2 (t) são linearmente independentes (LI)4 , ou
seja α1 x1 (t) + α2 x2 (t) = 0 é equivalente a α1 = α2 = 0, então qualquer solução
da EDO homogênea em questão tem a forma geral

xh (t) = c1 x1 (t) + c2 x2 (t), (4.6)

onde c1 e c2 são constantes. Se todos os sistemas fı́sicos idênticos, descritos pela


mesma equação diferencial, possuem a mesma forma de solução geral e a única coisa
que diferencia seus movimentos é a maneira com que eles iniciam o movimento,
então é natural que as constantes c1 e c2 sejam determinadas pelas condições iniciais.
De fato, a teoria geral das equações diferenciais ordinárias também mostra que o
problema de valor inicial, composto pela EDO (4.5) e as condições de contorno
x(0) = x0 e ẋ(0) = v0 possui solução única para cada função b real e contı́nua.
Considere agora x(t) uma solução geral da EDO linear não homogênea e xp (t)
uma solução particular dessa mesma EDO, linearmente independente da solução ge-
ral da EDO homogênea correspondente. Naturalmente, a diferença x(t) − xp (t) é
solução da EDO homogênea. Por outro lado, como a solução geral da EDO ho-
mogênea é xh (t), temos que a solução geral da EDO não homogênea é

x(t) = xh (t) + xp (t).

Além de ser linear e homogênea, a equação (4.3) possui os coeficientes ai cons-


tantes. Nesse caso, há um método simples e geral de resolução. Propomos uma
solução do tipo x = eλt . Substituindo na equação diferencial chegamos à chamada
equação caracterı́stica
λ2 + ω02 = 0,
cujas soluções são λ1 = iω0 e λ2 = −iω0 . O conjunto eiωt , e−iωt é LI e, assim,


a solução mais geral de (4.3) é

x(t) = c1 eiω0 t + c2 e−iω0 t ,

onde c1 , c2 ∈ C são parâmetros arbitrários a serem determinados posteriormente.


Como x é real, x = x∗ , e obtemos c2 = c∗1 . Da representação polar c1 = A1 eiφ =

3 Vamos nos restringir ao caso real, pois este será suficiente para tratar os exemplos deste livro.
4 Para verificar se um conjunto de soluções {x1 (t), x2 (t)} é linearmente independente ou linearmente
dependente (LD) em um dado intervalo de t, calculamos o Wronskiano, W = x1 ∂x ∂t
2
− x2 ∂x∂t
1
. Se W
é identicamente não nulo nesse intervalo, então o conjunto é LI. A recı́proca não é verdadeira. Na grande
maioria dos casos,  W identicamente nulo está associado a um conjunto LD. Há exceções, entretanto,
como o conjunto t2 , t|t| , que é LI, mas com Wronskiano nulo.

APROXIMAÇÃO HARMÔNICA E MOVIMENTO HARMÔNICO SIMPLES 71

Aeiφ /2 e da fórmula de Euler, eiθ = cos θ +isenθ, podemos reescrever solução x(t)
como
x(t) = A cos(ω0 t + φ) = Asen (ω0 t + φ0 ), (4.7)
A, φ ∈ R. Dizemos que x(t) dado por (4.7), a menos de uma constante aditiva,
corresponde a um movimento harmônico simples (MHS) e que todo sistema descrito
por (4.3) é um oscilador harmônico simples (OHS). Note ainda que a solução (4.7)
pode ser reescrita como

x(t) = a cos(ω0 t) + bsen (ω0 t),

com a, b ∈ R.
A solução do MHS, em qualquer uma de suas formas, oscila com frequência
angular ω0 e perı́odo r
2π m
T = = 2π .
ω0 k
Como vemos, o perı́odo e a frequência angular independem da amplitude. Está é uma
das assinaturas do movimento harmônico. Sua origem pode ser entendida a partir da
própria equação de movimento que descreve o sistema. A Eq. (4.3) é invariante
por uma transformação de escala, x → λx, onde λ é um parâmetro de escala ar-
bitrário. Essa simetria implica que qualquer observável temporal, como por exemplo
perı́odo e frequência, são independentes da escala espacial, ou seja, estas variáveis
não podem depender da amplitude do movimento. Note que a variável dinâmica
de interesse não precisa ser a posição, podendo ser, por exemplo, um ângulo, um
volume, um valor de pressão, a componente de um campo elétrico, etc.
O par de constantes arbitrárias na solução, A e φ ou b, podem ser determinadas a
partir das condições iniciais x(0) = x0 e ẋ(0) = v0 , bastando, portanto, resolver um
sistema linear de duas incógnitas. Em particular, |A| nos dá a amplitude de oscilação.
Já a energia mecânica de um oscilador harmônico simples, cujo movimento é dado
por (4.7), é
1 1 1
E = mẋ(t)2 + kx(t)2 = kA2 ,
2 2 2
constante como esperado. A dependência da energia mecânica com o quadrado da
amplitude é outra assinatura do movimento harmônico.

Exemplo 4.4. Uma partı́cula de massa m encontra-se presa a uma mola de cons-
tante elástica k, como mostrado na figura 4.7. O sistema está disposto na vertical e
sujeito à ação da gravidade, cuja magnitude é g. No instante inicial a mola está com
seu comprimento natural l0 e a partı́cula é liberada a partir do repouso. A força
sobre a partı́cula é
F = −k(x − l0 ) + mg,
a qual nos dá a equação de movimento

ẍ + ω02 x = ω02 l0 + g,
72 OSCILAÇÕES

p
com ω0 = k/m. Essa é uma EDO não homogênea e sua solução mais geral é a
soma da solução homogênea, Asen (ω0 t + φ), com uma solução particular. Dado
que o termo não homogêneo da EDO acima é constante, propomos uma solução
do tipo constante e após substituirmos na equação não homogênea encontramos a
solução particular l0 + mg/k. Portanto, a solução mais geral é
mg
x(t) = Asen (ω0 t + φ) + l0 + .
k
Daqui, vemos que um sistema massa-mola na vertical, oscila com a mesma frequência
angular do sistema massa-mola na horizontal. Fazendo uso das constantes iniciais
x(0) = l0 e ẋ(0) = 0 obtemos
mg
x(t) = [1 − cos(ω0 t)] + l0 .
k

l0

Figura 4.7

4.3 Oscilador harmônico amortecido

Na prática, a maioria dos osciladores estão sujeitos a alguma força dissipativa, a qual
é responsável pelo decréscimo da energia mecânica com o passar do tempo. Em
sistemas mecânicos, essas forças dissipativas estão, em geral, associadas à fricção,
como atrito com superfı́cies, forças de arrasto ou forças viscosas. Como há uma
infinidade de termos dissipativos possı́veis, gerando as mais diversas equações di-
ferenciais, não há um método geral para encontrar a solução de osciladores amor-
tecidos. Vamos considerar um exemplo particular, mas que aparece com bastante
frequência nas aplicações práticas. Vamos supor que, além da força elástica, há uma
força dissipativa proporcional a velocidade e contrária ao movimento, ou seja, −bv,
onde a constante b é positiva. Essa é a força resistiva sentida, por exemplo, por um
corpo devido a uma fina camada de um lı́quido sobre uma superfı́cie. A equação de
movimento do sistema será

mẍ + bẋ + kx = 0.
OSCILADOR HARMÔNICO AMORTECIDO 73

Usando a definição (4.4) e introduzindo o coeficiente de amortecimento

b
γ≡ ,
2m
podemos escrever a equação de movimento como

ẍ + 2γ ẋ + ω02 x = 0, (4.8)

a qual descreve um oscilador harmônico amortecido. A equação caracterı́stica asso-


ciada é
λ2 + 2γλ + ω02 = 0, (4.9)
de onde separamos as soluções em três classes, de acordo com as relações entre γ e
ω0 .

4.3.1 Subamortecimento
Nesse caso,
γ < ω0 ,
e a equação (4.9) possui duas raı́zes distintas,

λ = −γ ± iω1 ,

onde definimos q
ω1 ≡ ω02 − γ 2 .
Assim a solução mais geral para o oscilador subamortecido é

x(t) = e−γt C1 eiω1 t + C2 e−iω1 t ,




com C1 , C2 ∈ C, a qual também pode ser escrita como

x(t) = Ae−γt cos(ω1 t + φ) = Ae−γt sen (ω1 t + φ0 ), (4.10)

onde A, φ, φ0 ∈ R. Vemos, portanto, que a amplitude de oscilação, |A|e−γt , de-


cai exponencialmente e que a frequência angular de oscilação, ω1 , é menor que a
frequência natural. Além disso, devido a este decaimento exponencial, o movimento
não é periódico, no sentido que não existe perı́odo T tal que x(t + T ) = x(t) e
ẋ(t + T ) = ẋ(t), para todo instante t. Na Fig. 4.8 mostramos a posição de um
oscilador subamortecido descrito por x(t) = 2e−t cos(20t). Ainda assim, há uma
periodicidade com que o oscilador cruza o ponto de equilı́brio. Normalmente nos
referimos ao intervalo dessa periodicidade simplesmente como perı́odo e seu valor é
2π/ω1 .
Além de decair com o tempo devido ao amortecimento, a energia mecânica do
oscilador subamortecido oscila. Seu valor médio é a soma dos valores médios das
74 OSCILAÇÕES

0
t

Figura 4.8

energias cinética e potencial elástica. Em um perı́odo 2π/ω1 , isso corresponde a

kA2 −2γt
hU i = he cos2 (ω1 t + φ)i,
2
mA2 −2γt 2
hKi = he [−γ cos(ω1 t + φ) − ω1 sen (ω1 t + φ)] i.
2
Vamos considerar um oscilador subamortecido tal que

γ  ω0 ' ω1 .

Neste caso, o amortecimento é fraco o suficiente de modo que o oscilador oscila


muitas vezes antes da amplitude variar consideravelmente e o cálculo dos valores
médios acima é simplificado. O valor médio de f (t) em um perı́odo T é dado por
Z t0 +T
1
hf i = f (t)dt.
T t

Assim,
kA2 −2γt
hU i = e ,
4
e
mA2 ω02 −2γt
hKi = e ,
4
onde assumimos que e−2γt é aproximadamente constante no perı́odo. Desta forma,
o valor médio da energia mecânica deste oscilador é aproximadamente

kA2 −2γt ω0 t
hEi = e = E0 e− Q .
2
OSCILADOR HARMÔNICO AMORTECIDO 75

Aqui, definimos o fator de qualidade,


ω0
Q≡ ,

que é inversamente proporcional ao amortecimento.

4.3.2 Superamortecimento

O oscilador superamortecido corresponde a

γ > ω0 .

As duas raı́zes distintas da equação caracterı́stica são

λ = −γ ± ω2 ,

com q
ω2 ≡ γ 2 − ω02 .
A solução mais geral para x real é

x(t) = e−γt C1 eω2 t + C2 e−ω2 t = C1 e−(γ−ω2 )t + C2 e−(γ+ω2 )t ,



(4.11)

com C1 , C2 ∈ R, pois devemos ter x = x∗ .


Dadas as condições iniciais x(0) = x0 e ẋ(0) = v0 , obtemos

x0 = C 1 + C 2 ,
v0 = C1 (ω2 − γ) − C2 (ω2 + γ),

que, resolvendo para C1 e C2 , nos dá

(γ + ω2 )x0 + v0 −(γ − ω2 )x0 − v0


C1 = , C2 = .
2ω2 2ω2
Como γ + ω2 e γ − ω2 são positivos, ambos os termos da solução do oscilador
superamortecido, representadas por decaimentos exponenciais, vão a zero assintoti-
camente e o oscilador não cruza a origem se C1 e C2 possuem o mesmo sinal. Além
disso, como γ + ω2 > γ − ω2 o primeiro termo do lado direito da Eq. (4.11) é do-
minante para tempos grandes, ou seja, a curva x(t) se aproxima da origem vindo de
x > 0 se C1 > 0 ou x < 0 se C1 < 0. Assim, a solução cruza o eixo se e somente se
o termo associado a C2 for dominante, |C2 | > |C1 |, para tempos suficientemente pe-
quenos. Em outras palavras, o oscilador subamortecido cruza a origem se e somente
se C1 /C2 < 0 e |C1 | < |C2 | ou, equivalentemente,
v0
< −(γ + ω2 ).
x0
76 OSCILAÇÕES

Em particular, se x0 e v0 possuem o mesmo sinal, ou se alguma das condições ini-


ciais é nula, o oscilador nunca cruza a origem. Note também que, como a solução
é formada por uma soma de decaimentos exponenciais, se ela cruzar a origem, será
apenas uma vez. Na figura 4.9 são plotados as posições de três osciladores supe-
ramortecidos, com γ = 2 e ω2 = 1. As curvas contı́nua e pontilhada representam
osciladores, ambos com posição inicial x0 = 2. O primeiro é liberado do repouso,
enquanto que o segundo é lançado com v0 = −7. Já a curva tracejada corresponde
à posição de um oscilador lançado da origem com v0 = −8. Note como não há
oscilações.

x x

0 0
t t

Figura 4.9 Figura 4.10

4.3.3 Amortecimento crı́tico


Dizemos que estamos no regime de amortecimento crı́tico quando

γ = ω0 .

Nessa situação a equação caracterı́stica possui uma raı́z duplamente degenerada, λ =


−γ, e o conjunto linearmente independente de soluções é {e−γt , te−γt }, o que nos
dá a solução mais geral
x(t) = (C1 + C2 t)e−γt , (4.12)
com C1 , C2 ∈ R. Usando as condições iniciais x(0) = x0 e ẋ(0) = v0 obtemos

C1 = x0 , C2 = v0 + γx0 .

O oscilador criticamente amortecido, assim como o oscilador superamortecido,


também não oscila e pode cruzar a origem apenas uma única vez. Com efeito, note
que a solução (4.12) é dada pelo produto de uma reta com uma exponencial. Essa
solução cruza o eixo t, uma única vez, se e somente se a reta cruzar o eixo t positivo,
ou seja, se os coeficientes C1 e C2 possuı́rem sinais trocados, ou, equivalentemente,
v0
< −γ.
x0
OSCILADOR HARMÔNICO AMORTECIDO FORÇADO 77

Novamente, se as condições iniciais tem o mesmo sinal ou alguma delas é nula, o


oscilador não consegue cruzar a origem. A figura 4.10 mostra a posição de três
osciladores criticamente amortecidos com γ = 2 e x0 = 2, v0 = 0, x0 = 2,
v0 = −7 e x0 = 0, v0 = −8, associados às curvas contı́nua, pontilhada e tracejada,
respectivamente. Note a semelhança com as curvas da figura 4.9, sendo que ambos
os gráficos estão na mesma escala. Para osciladores com mesma frequência natural,
o oscilador criticamente amortecido decai antes do superamortecido.

4.4 Oscilador harmônico amortecido forçado

Na prática a grande maioria dos sistemas fı́sicos possuem algum termo dissipativo.
Se quisermos que uma oscilação, com amortecimento, não decaia a zero, é necessário
uma força periódica fornecendo energia ao sistema.
Considere, por exemplo, um ponto oscilando sobre uma reta horizontal de acordo
com R cos(Ωt) a partir do ponto central da trajetória. Uma mola de constante elástica
k possui uma extremidade fixa a esse ponto e a outra presa a uma partı́cula de massa
m. Vamos assumir que a partı́cula, a qual move-se sobre a reta, sofre uma força
resistiva do tipo −bv, onde b > 0, e vamos definir a origem do eixo x como a posição
da partı́cula quando o ponto oscilante está na metade de seu curso e a mola em seu
comprimento natural. Assim, a equação de movimento deste oscilador harmônico
amortecido forçado é
F0
ẍ + 2γ ẋ + ω02 x = cos(Ωt), (4.13)
m
onde γ = b/2m e definimos F0 ≡ kR. Essa EDO é linear, de segunda ordem e não
homogênea. O termo F0 cos(Ωt) é chamado de fonte ou termo forçado. A solução
geral de uma EDO não homogênea consiste em

x(t) = xh (t) + xp (t),

onde xh é solução da equação homogênea correspondente,

a0 ẍh + a1 ẋh + a2 xh = 0,

e xp é uma solução particular de

a0 ẍp + a1 ẋp + a2 xp = b(t).

A solução homogênea do nosso problema corresponde a uma solução de (4.8), vari-


ando de acordo com o nı́vel de amortecimento. Para encontrar uma solução particular
de (4.13), notamos que esta equação pode ser obtida a partir da parte real de
F0 iΩt
z̈p + 2γ żp + ω02 zp = e , (4.14)
m
78 OSCILAÇÕES

onde zp = xp + iyp . Assim, xp = Re zp , pois a linearidade da EDO acima garante


que as partes real e imaginária de zp não se misturam. Como a Eq. (4.14) envolve
derivadas de zp , as quais devem se combinar com zp e o resultado ser proporcional
a eiΩt , propomos uma solução do tipo zp = z0 eiΩt , onde z0 ∈ C. Substituindo em
(4.14) encontramos
F0 ω02 − Ω2 − i2γΩ
z0 = ,
m (ω02 − Ω2 )2 + 4γ 2 Ω2
e, após extrairmos a parte real de zp ,

xp (t) = E(Ω) cos(Ωt) + A(Ω)sen (Ωt), (4.15)

onde,

F0 (ω02 − Ω2 ) F0 2γΩ
E(Ω) ≡ , A(Ω) ≡ .
m [(ω02 − Ω2 )2 + 4γ 2 Ω2 ] m [(ω02 − Ω2 )2 + 4γ 2 Ω2 ]

O termo proporcional a cos(Ωt) está em fase ou em oposição de fase com a fonte.


Já o termo proporcional a sen (Ωt) está com uma diferença de fase de π/2. Por
razões que veremos mais a frente, E(Ω) é chamada de amplitude elástica, enquanto
A(Ω) é chamada de amplitude absortiva. No entanto, nenhuma delas é, de fato, a am-
plitude da solução particular, pois nenhuma, isoladamente, fornece o deslocamento
máximo em relação à posição de equilı́brio.√ O deslocamento máximo da solução
particular pode ser obtido simplesmente de E 2 + A2 . Porém, vai ser útil, para o
que estudaremos mais adiante, escrever a solução complexa zp na sua representação
polar e depois tomar a parte real. Para isso,p escrevemos o número complexo z0 na
sua forma polar, z0 = Beiϕ , com B = z0 z0∗ e tan ϕ = Im z0 / Re z0 . Assim,
zp = Bei(Ωt+ϕ) e a solução particular 4.15 também pode ser escrita como

xp (t) = B(Ω) cos(Ωt + ϕ), (4.16)

com
F0 /m
B(Ω) ≡ q , (4.17)
2 2
(ω0 − Ω2 ) + 4γ 2 Ω2
e  
2γΩ
ϕ ≡ arctan . (4.18)
Ω2 − ω02
Como a solução da equação homogênea vai a zero quando t → ∞, chamamos este
termo de transiente. Já a solução da equação não homogênea, (4.16), oscila indefi-
nidamente no tempo e é chamada de solução estacionária. Dizemos que estamos no
regime estacionário quando o termo transiente torna-se desprezı́vel e, assim,

x(t) → B cos(Ωt + ϕ).


OSCILADOR HARMÔNICO AMORTECIDO FORÇADO 79

de onde vemos que B corresponde à amplitude de oscilação, a qual depende forte-


mente da frequência da fonte. Como a fonte oscila de acordo com cos(Ωt), vemos
que ϕ corresponde a uma diferença de fase entre o movimento da partı́cula e a fonte.
Esse termo é muitas vezes chamado de atraso √ de fase. O gráfico de (4.18) é mos-
trado na Fig. 4.11 para um oscilador com ω0 = 2 e dois valores de amortecimento,
γ = 0.2 e γ = 1. Quanto menor o amortecimento, mais acentuada é a variação da
fase ϕ nas proximidades de ω0 . Note que quando a frequência da fonte tende ao
infinito, o movimento do oscilador tende a ficar em oposição de fase com a força.

ϕ
0

−π/2 ω0

−π

Figura 4.11

4.4.1 Batimentos

Queremos agora tomar o limite em que o amortecimento vai a zero na solução dada
pela Eq. (4.16) para obter a solução de um oscilador forçado e não amortecido
descrito pela equação de movimento
F0
ẍ + ω02 x = cos (Ωt), (4.19)
m
tal que a frequência da fonte é diferente da frequência natural.5 Notando que
(
0, Ω > ω0 ,
lim ϕ =
γ→0 π, Ω < ω0 ,

temos que a solução particular fica


F0
xp (t) = cos(Ωt).
m(Ω2 − ω02 )

5O caso em que as duas frequências são iguais é deixado como exercı́cio ao leitor.
80 OSCILAÇÕES

Como cos(ω0 t) é solução da equação homogênea correspondente à Eq. (4.19), fica


claro que
F0
f (t) = [cos(Ωt) + cos(ω0 t)]
m(Ω − ω02 )
2

também é uma solução particular da Eq. (4.19). A solução geral é dada pela soma
da solução homogênea com a solução particular,
F0
x(t) = A cos(ω0 t + φ) + [cos(Ωt) + cos(ω0 t)] ,
m(Ω2 − ω02 )

com A e φ determinados pelas condições iniciais. Obviamente, o uso de xp ou f


como solução particular altera correspondentemente os valores de A e φ de modo
que a forma final deve ser a mesma. Escrevendo a solução como na forma acima,
entretanto, facilita a visualização de um novo fenômeno.
O movimento gerado pelo termo forçado, a solução particular, será periódico se e
somente se a razão entre a frequência natural e a frequência da fonte for um número
racional. Em qualquer caso, se a diferença entre elas for suficientemente pequena
observamos um fenômeno interessante. Escrevendo Ω = (Ω + ω0 )/2 + (Ω − ω0 )/2
e ω0 = (Ω + ω0 )/2 − (Ω − ω0 )/2 podemos reescrever a solução particular como
   
2F0 Ω − ω0 Ω + ω0
f (t) = cos t cos t .
m(Ω2 − ω02 ) 2 2

Quando as frequências são próximas, mas não iguais, podemos interpretar essa solução
como uma oscilação com amplitude modulada,
 
Ω + ω0
f (t) = C(t) cos t ,
2

pois a amplitude  
2F0 Ω − ω0
C(t) = cos t ,
m(Ω2 − ω02 ) 2
oscila lentamente, fornecendo uma modulação para a oscilação rápida, cuja frequência
angular é (Ω + ω0 )/2. O fenômeno, ilustrado nas Figs. 4.12 a 4.15, é chamado de
batimento. Nas Figs. 4.12 e 4.13 plotamos a solução particular e a solução geral,
respectivamente, com diferença entre as frequências sendo um quinto da frequência
média e a amplitude da solução homogênea sendo um quinto da amplitude da solução
particular. Nas Figs. 4.14 e 4.15 temos os mesmos parâmetros de amplitude, mas
a diferença entre as frequências foi reduzida à metade e a frequência média dobrou,
em relação ao caso anterior. Observe como a modulação da amplitude ficou mais
lenta e a oscilação interna à modulação ficou mais rápida. Todos os gráficos estão na
mesma escala. Note como a solução geral segue o mesmo padrão de batimentos da
solução particular.
Os batimentos são bastante comuns e relevantes em fenômenos ondulatórios, pois
esses fenômenos são normalmente gerados a partir de oscilações. Podem ser fa-
OSCILADOR HARMÔNICO AMORTECIDO FORÇADO 81

f x

0 0
t t

Figura 4.12 Figura 4.13

f x

0 0
t t

Figura 4.14 Figura 4.15

cilmente ouvidos durante a afinação de instrumentos musicais, quando dois instru-


mentos vão aproximando as frequências de suas notas, por exemplo. Neste caso,
o tı́mpano do nosso ouvido entra em oscilação forçada pelas ondas sonoras e a
superposição origina os batimentos que são percebidos como vibrações no som. Um
outro exemplo de situação onde aparecem batimentos é na transmissão de rádio AM6 .
Nesta, que foi por décadas a principal forma de transmissão de sinais de rádio, a am-
plitude oscila enquanto a onda eletromagnética com frequência no intervalo de ondas
de rádio oscila rapidamente dentro dessa modulação.

6 AM de “amplitude modulada”.
82 OSCILAÇÕES

4.4.2 Ressonâncias de amplitude e energia


Quando a frequência da fonte é escolhida de modo que a amplitude seja máxima,
dizemos que o oscilador está em ressonância de amplitude. A frequência de res-
sonância de amplitude, Ωa , é obtida de

dB
(Ωa ) = 0,
dΩ
cuja solução é q
Ωa = ω02 − 2γ 2 ,
e que resulta na amplitude
F
Bmax = B(Ωa ) = p0 .
2γm ω02 − γ 2

Note que para haver√ ressonância de amplitude é necessário um amortecimento fraco,


tal que γ < ω0 / 2. Quando o amortecimento tende a zero, a amplitude de res-
sonância diverge e a frequência desta ressonância tende à frequência natural do os-
cilador. Na Fig.√ 4.16, temos diferentes curvas B(Ω) um oscilador de frequência
natural, ω0 = 2, considerando diferentes amortecimentos. A linha pontilhada in-
dica o valor da frequência natural ω0 , enquanto que as linhas tracejadas indicam as
frequências de ressonância de amplitude. O maior valor de Ωa está associado a curva
com γ = 0, 2. O seguinte valor de Ωa é correspondente a curva com γ = 0, 5. Já
a última curva possui γ = 1 e como vemos não√possui pico de amplitude, o que era
esperado já que este caso não satisfaz γ < ω0 / 2.

B hP i

0 ω0 0
Ω ω0 Ω

Figura 4.16 Figura 4.17


OSCILADOR HARMÔNICO AMORTECIDO FORÇADO 83

A potência entregue pela fonte e, portanto, absorvida pelo oscilador é dada pela
taxa de variação do trabalho da fonte, ou seja,

dW dx
P = = F0 cos(Ωt) .
dt dt
No regime estacionário, o exemplo em questão nos dá

P = F0 cos(Ωt)Ω [A(Ω) cos(Ωt) − E(Ω)sen (Ωt)]


(4.20)
 
E(Ω)
= F0 Ω A(Ω) cos2 (Ωt) − sen (2Ωt) .
2

O termo multiplicando A(Ω) é sempre positivo e isso significa que essa contribuição
para a potência dissipada pela fonte é sempre positiva. Em outras palavras, o oscila-
dor está sempre absorvendo energia da fonte através deste termo. Por isso, A(Ω) é
chamada de amplitude absortiva. Já o termo multiplicando E(Ω) possui valor médio
nulo no perı́odo, ou seja, toda energia associada a este termo é, hora absorvida, hora
devolvida pelo oscilador. Além disso, devido a frequência angular do seno ser 2Ω, o
dobro da frequência angular da oscilação, o sentindo da energia muda quatro vezes
por ciclo. Note a semelhança com um sistema massa-mola em movimento harmônico
simples. Nele, a força elástica da mola fornece energia nas duas etapas, de um quarto
de perı́odo cada, em que acelera a partı́cula e retira energia nas duas etapas em que
desacelera. Daı́ a origem do nome amplitude elástica para E(Ω).
Dizemos que o oscilador está em ressonância de energia quando ele absorve ener-
gia da fonte durante todo o ciclo, ou seja, o oscilador nunca realiza trabalho sobre a
fonte. Isso implica que a potência calculada acima é positiva para todo t durante a
ressonância de energia, ocorrendo se e somente se

Ω = ω0 ≡ Ωe ,

pois neste caso a amplitude elástica é nula e a amplitude absortiva é positiva. De


fato, substituindo
F0
A(Ωe = ω0 ) = ,
2mγω0
na Eq. 4.20 obtemos
F02
P = cos2 (ω0 t) > 0.
2mγ
Na frequência de ressonância de energia, Ωe , o oscilador apenas absorve energia da
fonte e o valor médio, por ciclo, da potência absorvida,

F02
hP (Ωe )i = ,
4mγ
84 OSCILAÇÕES

é máximo. Com efeito, tomando o valor médio da Eq. (4.20) temos

F0 ΩA F02 γΩ2
hP i = =
2 m [(ω02 − Ω2 )2 + 4γ 2 Ω2 ]
F02 γ
=  2 ,
ω02 2
m Ω − Ω + 4γ

de onde vemos que ela será máxima quando Ω = Ωe = ω0 . Portanto, na ressonância


de energia, o valor médio, por ciclo, da potência da fonte absorvida pela partı́cula é
máxima. Podemos ilustrar o fato de que a ressonância de energia acontece quando a
frequência da fonte é exatamente igual a frequência natural através do experimento
de embalar uma pessoa em um balanço. Somente quando a frequência dos impulsos
gerados por quem empurra é igual à frequência de oscilação do balanço é que não
há trabalho positivo sobre a mão de quem empurra. O trabalho é sempre sobre o
balanço.
As curvas hP (Ω)i para um oscilador com diferentes amortecimentos são mostra-
das na Fig. 4.17. Os parâmetros são os mesmos da Fig. 4.16, sendo que quanto
menor o amortecimento, menor o pico de potência. Note que em todos os casos, este
pico ocorre exatamente na frequência natural. Como esperado, esta potência diverge
no limite em que o amortecimento tende a zero. Podemos verificar ainda (exercı́cio)
que a razão entre as potências médias por ciclo nas ressonâncias de amplitude e
energia é
hP (Ωa )i ω 2 − 2γ 2
= 02 < 1.
hP (Ωe )i ω0 + 2γ 2
Normalmente o termo “curva de ressonância” é usado indiscriminadamente para
as curvas B(Ω), hP (Ω)i ou ainda B(Ω)2 .

4.4.3 Força arbitrária e decomposição em série de Fourier

Os problema recém exposto consiste em um caso particular, apesar de comum, de


um oscilador forçado, cuja fonte é uma função cosseno. Se a fonte for uma função
seno, a estratégia a ser desenvolvida para a solução é a mesma. Mais precisamente,
resolvemos a forma complexa da equação diferencial e ao final tomamos a parte
imaginária. Essencialmente pouca coisa irá mudar. Entretanto, nem sempre o termo
forçado é do tipo cos(Ωt) ou sen (Ωt). Precisamos, portanto, de algum método para
resolver um oscilador forçado por uma força arbitrária.
Suponha que o termo forçado do oscilador seja um pouco mais geral que o do
exemplo tratado anteriormente. Considere, por exemplo

F (t) = F1 cos(Ω1 t) + F2 cos(Ω2 t).

Da linearidade da equação diferencial a ser resolvida decorre que se x1 é solução


particular da EDO quando apenas a primeira fonte está ligada, F1 6= 0 e F2 = 0, e
x2 é solução particular quando apenas a segunda fonte está ligada, então x = x1 +x2
OSCILADOR HARMÔNICO AMORTECIDO FORÇADO 85

é solução particular quando ambas as fontes estão ligadas. Sendo assim, a solução
geral de
1
ẍ + 2γ ẋ + ω02 x = [F1 cos(Ω1 t) + F2 cos(Ω2 t)] ,
m

x(t) = xh (t) + B(F1 , Ω1 ) cos [Ω1 t + ϕ(Ω1 )] + B(F2 , Ω2 ) cos [Ω2 t + ϕ(Ω2 )] ,

sendo xh a solução da equação homogênea e B e ϕ dados pelas Eqs. (4.17) e (4.18)


com os respectivos valores de F0 e Ω.
Do exemplo acima, vemos que se a força F (t) for dada por uma combinação
linear de senos e cossenos, obtemos a solução particular sem esforço adicional. Mais
precisamente, é imediato verificar que se xn é solução particular de

a0 ẍn + a1 ẋn + a2 xn = Fn (t),


P
então x = n cn xn é solução particular de
X
a0 ẍ + a1 ẋ + a2 x = F (t) = cn Fn (t).
n

Se F (t) e Ḟ (t) são contı́nuas por partes7 e F (t) é periódica, com perı́odo T , então
a função pode ser escrita como uma série trigonométrica
∞     
a0 X 2πnt 2πnt
F (t) = + an cos + bn sen ,
2 n=1
T T

a qual converge para todo t, através da chamada decomposição de Fourier.


O conjunto das funções periódicas, de perı́odo T , contı́nuas por partes e cuja
derivada é contı́nua por parte forma um espaço vetorial de dimensão infinita. Os
elementos de base desse espaço vetorial são {cos(2πnt/T ), sen (2πnt/T )}, n =
0, 1, 2, . . . . Definindo o produto interno
Z t0 +T
hF (t), G(t)i = F (t)G(t)dt,
t0

7 Uma função é dita contı́nua por partes se, em qualquer intervalo finito, ela é descontı́nua em, no máximo,

um número finito de pontos.


86 OSCILAÇÕES

onde t0 é um instante arbitrário, e usando


Z 2π
sen (mt) cos(nt)dt = 0,
0
(

m 6= 0,
Z
πδmn ,
sen (mt)sen (nt)dt =
0 0, m = 0,
(

m 6= 0,
Z
πδmn ,
cos(mt), cos(nt)dt = ,
0 2π, m = n = 0,

obtemos as relações de ortogonalidade,


    
2πmt 2πnt
sen , cos = 0,
T T
     ( T
2πmt 2πnt δmn , m 6= 0,
sen , sen = 2
T T 0, m = 0,
     ( T
2πnt 2πmt δmn , m 6= 0,
cos , cos = 2
T T T, m = n = 0.

Nestas expressões o sı́mbolo δmn denota a delta de Kroenecker, a qual vale 1 se


m = n e 0 se m 6= n.
Tomando o produto interno de F (t), expandida na série trigonométrica, pelos
elementos de base e usando as relações de ortogonalidade, obtemos os coeficientes
de Fourier,
Z  
2 2πnt
an = F (t) cos dt, n ≥ 0,
T T T
Z  
2 2πnt
bn = F (t)sen dt, n ≥ 1.
T T T

A expansão trigonométrica com os coeficientes dados pelas expressões acima é cha-


mada de série de Fourier. P
Decompondo a força da fonte em uma série de Fourier, F (t) = n cn Fn (t),
precisamos apenas resolver equações do tipo

Fn (t)
ẍn + 2γ ẋn + ω02 xn = ,
m
onde o termo não homogêneo Fn (t) é do tipo cos(2πnt/T
P ) ou sen (2πnt/T ). A
solução particular será a combinação linear x = n cn xn e cada xn é um modo
de oscilação. No nosso caso, onde fazemos uma decomposição de Fourier, eles são
chamados de modos de Fourier.
OSCILADOR HARMÔNICO AMORTECIDO FORÇADO 87

Exemplo 4.5. Um oscilador de frequência natural ω0 e coeficiente de amorteci-


mento γ < ω0 é forçado por
(
F0 , 0 < t ≤ π,
F (t) =
−F0 , π < t ≤ 2π,

+ 2π) = F (t). A solução transiente é xh (t) = Ae−γt cos(ω1 t + φ),


tal que F (t p
onde ω1 = ω02 − γ 2 . Para encontrar a solução estacionária, decompomos F (t)
em uma série de Fourier. Como a função é ı́mpar, os coeficientes an são nulos. Já
os coeficientes bn são

1 π 2F0 π
Z Z
2F0
bn = F (t)sen (nt)dt = sen (nt)dt = [1 − (−1)n ] .
π −π π 0 nπ

Note que os coeficientes pares se anulam8 e, portanto, os únicos não nulos são
4F0
b2k+1 = ,
(2k + 1)π

onde k é um inteiro não negativo. Escrevemos a equação não homogênea


1
ẍn + 2γ ẋn + ω02 xn = sen (nt),
m
a escrevemos na forma complexa

eint
z̈n + 2γ żn + ω02 zn = ,
m
com zn = yn + ixn . Substituindo zn = z0,n eint encontramos

1 ω02 − n2 − i2γn
z0,n = = Bn ei(nt+ϕn ) ,
m (ω02 − n2 )2 + 4γ 2 n2

com
1
Bn = q ,
2
m (ω02 − n2 ) + 4γ 2 n2
e  
2γn
ϕn = arctan .
n2 − ω02

8 é esperado, uma vez que sen (2mt) é ı́mpar em torno de de t = π/2, anulando a integral
RIsso
π
0 sen (2mt)dt.
88 OSCILAÇÕES

Tomando a parte imaginária de zn obtemos

sen (nt + ϕn )
xn (t) = q ,
2
m (ω02 − n2 ) + 4γ 2 n2

e a solução geral é dada por



X 4F0 sen [(2n + 1)t + ϕ2n+1 ]
x(t) = xh (t) + q .
n=0 (2n + 1)mπ [ω0 2 − (2n + 1)2 ]2 + 4γ 2 (2n + 1)2

Note que a parte estacionária corresponde a uma superposição de infinitos movi-


mentos harmônicos com frequências inteiras 2n + 1. A amplitude de cada um desses
modos vai com 1/n3 , para n grande, fazendo com que os primeiros modos sejam
os mais relevantes. Para efeito de comparação, a solução estacionária do oscilador
forçado discutido na seção 4.4 vai com 1/Ω2 , assintoticamente.
Fica claro que o decaimento mais rápido, com a frequência, dos modos de oscilação
do exemplo anterior, em relação ao oscilador com uma fonte senoidal é uma de-
corrência direta da decomposição de Fourier. A amplitude do n-ésimo modo, Bn ,
vai com 1/n2 , para n grande, mas para que a série trigonométrica convirja, é ne-
cessário que os coeficientes de Fourier também decaiam com n. Em geral, quanto
mais derivadas a função F (t) possui, mais rápido seus coeficientes de Fourier de-
caem e mais rápido sua série de Fourier converge.

4.5 Oscilações não lineares e teoria de perturbação

Sempre podemos fazer uma aproximação harmônica em torno de um ponto de equilı́brio


estável, no entanto, algumas vezes perdemos informações interessantes sobre o pro-
blema. Por exemplo, se a força for conservativa, a aproximação parabólica em torno
do equilı́brio esconderá aspectos globais do movimento que seriam obtidos a par-
tir de um diagrama de energia. É o que acontece se considerarmos o potencial de
interação intermolecular como uma aproximação harmônica. Neste caso não somos
capazes de explicar a dilatação térmica, uma vez que o potencial se torna simétrico
em torno do ponto equilı́brio. Em muitas situações, os termos superiores aos termos
correspondentes a aproximação harmônica, chamados de termos anarmônicos, são
necessários ou não podem ser desprezados. Veremos que, em geral, o perı́odo de
oscilação de sistemas anarmônicos passa a depender não trivialmente da sua ampli-
tude, algo que não acontece na oscilação harmônica.
Dizemos que um sistema é não linear quando ele é descrito por equações de movi-
mento não lineares. Um exemplo de sistema não linear é o pêndulo simples, ou seja,
uma partı́cula de massa m presa a uma corda inextensı́vel, de massa desprezı́vel e
comprimento L, cuja outra outra extremidade é mantida fixa em um pivô enquanto
a partı́cula oscila, sem perda de energia, em um plano vertical fixo. Aplicando a
segunda lei de Newton para rotações, em relação ao pivô, obtemos a equação de
OSCILAÇÕES NÃO LINEARES E TEORIA DE PERTURBAÇÃO 89

movimento para o ângulo que o pêndulo faz com a vertical,


g
θ̈ + sen θ = 0, (4.21)
L
a qual é não linear.

Exemplo 4.6. Na chamada aproximação de pequenos ângulos ou pequenas oscilações,


a qual nada mais é que uma aproximação linear ou harmônica, fazemos sen θ ≈ θ
e a equação de movimento
p se torna apequação do MHS. O pêndulo oscila com
frequência natural g/L e perı́odo 2π L/g.
Sem muito esforço, podemos notar que o perı́odo exato do pêndulo é sempre
maior que o perı́odo do pêndulo em sua aproximação linear. Para isso, note que a
magnitude da aceleração angular exata, ω02 | sin θ|, é sempre menor que a magnitude
da aceleração angular na aproximação linear, ω02 |θ|, para qualquer ângulo não
nulo. Quando o ângulo é zero, elas são iguais.
Vamos encontrar o perı́odo exato de um pêndulo simples de comprimento L e am-
plitude θ0 arbitrária. Veremos que, diferentemente do caso de pequenas oscilações,
o perı́odo depende da amplitude.
Da conservação da energia mecânica temos
r
2
v=± (E − U ).
m
Definindo o zero de energia potencial gravitacional na altura do pivô, temos que a
energia potencial gravitacional vale −mgL cos θ. Como a energia mecânica é igual
a energia potencial gravitacional máxima, E = −mgL cos θ0 . Além disso, como a
partı́cula está em trajetória circular de raio L, v = Ldθ/dt. Portanto,
r
dθ 2g
=± (cos θ − cos θ0 ),
dt L

ou ainda,9
Z t Z θ(t)

dt = ± q .
2g
0 θ(0)
L (cos θ − cos θ0 )
Notando que o perı́odo é igual a quatro vezes o intervalo de tempo que o pêndulo
leva para se deslocar do equilı́brio até o ângulo máximo, temos
Z θ0 √
2T0 θ0
Z
dθ dθ
T =4 q = √ ,
0 2g
(cos θ − cos θ ) π 0 cos θ − cos θ0
L 0

onde T0 é o perı́odo na aproximação de pequenos ângulos. Para resolver a integral


acima, primeiro substituı́mos cosx por (1 − 2sen 2 (x/2)) em ambos os argumentos,

9 Não confundir o ângulo no instante inicial, θ(0), com a amplitude angular θ0 .


90 OSCILAÇÕES

θ e θ0 . Depois fazemos a mudança de variável sen (θ/2) = sen (θ0 /2)sen u. Dessa
maneira,
2T0 π/2
Z
du
T = √ ,
π 0 1 − k 2 sen 2 u
com k ≡ sen (θ0 /2). A integral acima é chamada de integral elı́ptica completa de
primeira espécie. Seu resultado não pode ser dado em termos de funções elementa-
res, sendo escrito em termos de uma série infinita, que diverge rapidamente quando
k tende a um. Substituindo o valor desta integral chegamos no perı́odo
∞  2
X (2n)!k n
T = T0 ,
n=0
22n (n!)2
 
1 9
= T0 1 + sen 2 (θ0 /2) + sen 4 (θ0 /2) + . . . . (4.22)
4 256

Daqui fica claro que o perı́odo aumenta com a amplitude. O fato da série divergir
para k = 1 é consistente com o fato de que o perı́odo do pêndulo tende a infinito
quando a amplitude tende a π. O pêndulo liberado, do repouso, do ponto mais alto,
não se mexe, ou seja, leva um intervalo infinito de tempo para realizar uma oscilação
completa.
Queremos resolver, de maneira aproximada, equações diferenciais não lineares
utilizando uma técnica chamada teoria de perturbação. Com o intuito de entender
o método, vamos, inicialmente, aplicá-lo a um sistema não oscilatório. Considere
o lançamento vertical para cima, com velocidade inicial v(0) de uma partı́cula de
massa m sob arrasto quadrático. Durante a subida a equação de movimento é

dv
m = −mg − bv 2 ,
dt
a qual é não linear devido ao termo bv 2 . Se esse termo for pequeno, dizemos que ele
é uma perturbação, em relação a equação sem o arrasto. A ideia central da teoria de
perturbação é escrever a solução da EDO como uma série infinita de potências em
um parâmetro λ associado à perturbação. Para que essa série convirja, no entanto, é
necessário que este parâmetro seja pequeno e a melhor maneira de se verificar isso
é encrevendo-o como um parâmetro adimensional e comparando com o número um.
A teoria de perturbação só fará sentido se λ < 1. Dividindo a equação de movimento
por mg vemos que o termo bv 2 /mg é adimensional, mas o parâmetro que caracteriza
a perturbação, b/mg, continua com dimensão de velocidade ao quadrado. Fazendo
a mudança de variável v = v(0)u obtemos

v(0) du
= −1 − λu2 ,
g dt
onde o parâmetro perturbativo
bv(0)2
λ= ,
mg
OSCILAÇÕES NÃO LINEARES E TEORIA DE PERTURBAÇÃO 91

é adimensional e assumimos λ < 1. Note que a nova variável de interesse, u, é


adimensional. Em termos desta variável, a condição inicial é u(0) = 1. O próximo
passo é assumir que a solução é uma série infinita em potências de λ,

u = u0 + λu1 + λ2 u2 + . . . ,

e substituı́-la na EDO e na condição inicial,

v(0) 2
u̇0 + λu̇1 + λ2 u̇2 . . . = −1 − λ u0 + λu1 + λ2 u2 + . . . ,

g

1 = u0 (0) + λu1 (0) + λ2 u2 (0) + . . . ,


onde un , n = 1, 2, . . ., são funções a serem determinadas. Como λ é um parâmetro
arbitrário, a única maneira da equação acima ser satisfeita para qualquer λ é que os
coeficientes de λn sesejam nulos ordem a ordem. Na ordem zero temos

v(0)
u̇0 = −1,
g

u0 (0) = 1,
Cuja solução é
gt
u0 = 1 − ,
v0
ou, voltando para a variável v,

v0 = v(0) − gt.

Note que esta é a solução do problema não perturbado. Seguindo adiante, em pri-
meira ordem temos
v(0)
u̇1 = −u20 .
g
Substituindo a solução encontrada para u0 , temos a equação

v(0) 2gt g 2 t2
u̇1 = −1 + − ,
g v(0) v(0)2

com sua respectiva condição inicial

u1 (0) = 0.

Novamente, a equação pode ser facilmente integrada, chegando a

gt g 2 t2 g 3 t3
u1 = − + − ,
v(0) v(0)2 3v(0)3
92 OSCILAÇÕES

ou
g 2 t2 g 3 t3
v1 = −gt + − .
v(0) 3v(0)2
Devemos seguir resolvendo ordem a ordem até a ordem desejada e quanto menor
for o parâmetro perturbativo mais cedo poderemos truncar a série. Neste exemplo, o
resultado até primeira ordem em λ é

bv(0)2 g 2 t2 g 3 t3
 
gt gt
u=1− + − + − ,
v(0) mg v(0) v(0)2 3v(0)3
ou
g 2 t3
 
b 2
v = 1 − gt + −v(0)t + gt − .
m 3v(0)
Duas caracterı́sticas são notáveis neste exemplo. Primeiro, para resolver a n-ésima
ordem, precisamos conhecer as soluções das ordens anteriores. Em particular é ne-
cessário sabermos a solução do problema não perturbado. Segundo, mesmo que a
equação original seja não linear, as equações em todas as ordens perturbativas são li-
neares. Em princı́pio, isso nos possibilita encontrar uma solução mesmo que, a cada
ordem, as equações fiquem cada vez mais complicadas. Essas duas caracterı́sticas
são, na verdade, gerais da teoria de perturbação.
Quando aplicado a sistemas oscilatórios, o método da teoria de perturbação re-
quer um pouco mais de cuidado. Vamos aplicar, de maneira ingênua, o procedi-
mento recém exposto a um oscilador harmônico simples. A ideia é identificar onde
o método falha para depois podermos corrigi-lo. Considere um oscilador harmônico
simples de massa M e frequência natural ω0 , o qual é levemente perturbado. Por
exemplo, uma pequena massa λM é adicionada ao sistema massa-mola original.
Após expandir até primeira ordem em Taylor a função (1 + λ)−1 , a equação de
movimento pode ser escrita como

ẍ + ω02 x − λω02 x = 0,

onde λ é um parâmetro adimensional que controla a magnitude da perturbação em


relação ao sistema não perturbado. Por simplicidade vamos assumir as condições
iniciais x(0) = A e ẋ(0)
√ = 0. Note que esse sistema é linear e a solução é simples-
mente x(t) = A cos( 1 − λω0 t). No entanto, vamos usa-lo como protótipo para
entendermos a teoria antes de partirmos para equações não lineares. A ideia central
da teoria de perturbação consiste em escrever a solução como a solução do sistema
não perturbado, λ = 0, mais termos que dependem de λ,

x = x0 + λx1 + λ2 x2 + . . . . (4.23)

Chamamos essa série infinita de expansão perturbativa. As condições iniciais ficam

A = x0 (0) + λx1 (0) + λ2 x2 (0) + . . . ,


0 = ẋ0 (0) + λẋ1 (0) + λ2 ẋ2 (0) + . . . .
OSCILAÇÕES NÃO LINEARES E TEORIA DE PERTURBAÇÃO 93

Substituindo a expansão perturbativa na equação de movimento chegamos a

ẍ0 + λẍ1 + λ2 ẍ2 + . . . + ω02 (x0 + λx1 + λ2 x2 + . . .) =


λω02 (x0 + λx1 + λ2 x2 + . . .).

Para a ordem zero em λ temos

ẍ0 + ω02 x0 = 0,

com x0 (0) = A e ẋ0 (0) = 0 e a solução é x0 = A cos(ω0 t). Na primeira ordem em


λ temos
ẍ1 + ω02 x1 = x0 = ω02 A cos(ω0 t).
A equação acima é de um oscilador não amortecido e forçado por cos(ω0 t). A
solução, deixada como exercı́cio, após usarmos as condições iniciais x1 (0) = 0 e
ẋ1 (0) = 0, é
Aω0 t
x1 = sen (ω0 t).
2
Assim, até primeira ordem, temos

λAω0 t
x = A cos(ω0 t) + sin(ω0 t) + O(λ2 ).
2
Essa solução, no entanto, não é aceitável fisicamente, devido ao segundo termo do
lado direito, chamado de termo secular10 , que cresce linearmente com o tempo.
Como não podemos simplesmente desprezar esse termo, devemos alterar o método.
O método recém exposto, também chamado de teoria de perturbação regular, não
funcionou porque não consideramos correções √ na frequência. Já sabemos que a
solução do oscilador em questão vale ω = 1 − λω0 = (1 − λ/2)ω0 + O(λ2 )
o que nos dá um correção proporcional a λ para a frequência11 . Assim, a fonte na
equação para x1 está em ressonância com o oscilador, gerando uma amplitude di-
vergente. A próxima tentativa, teoria de perturbação singular, consiste simplesmente
em expandir a frequência perturbativamente

ω = ω0 + λω1 + λ2 ω2 + . . . , (4.24)

e repetir o cálculo acima para ẍ+ω 2 x = 0. A correção é proporcional a ω1 tsen (ω0 t),
em primeira ordem, e termos análogos em ordens superiores. Tais termos seculares
serão nulos apenas se ωi = 0, mas isso implicaria em ω = ω0 , o que é incorreto.
Esse problema pode ser resolvido com uma simples mudança de variável, s = ωt.

10 Este nome tem origem na mecânica celeste, onde a teoria de perturbação foi desenvolvida. Os termos
seculares, originários de perturbações a movimentos planetários, apresentam contribuições ilimitadas, em
contraste com contribuições periódicas, e que tornam-se relevantes para intervalos de tempos em escala
astronômica, como séculos.
11 Note que um termo secular também aparece se, ingenuamente, expandirmos em Taylor a solução exata

x = A cos(ω0 1 − λt). Esta expansão é valida apenas para tempos pequenos.
94 OSCILAÇÕES

Ao impor que a nova variável temporal da equação diferencial serja ωt, forçamos
que suas soluções sejam funções do argumento ωt, ou seja, as eventuais soluções
periódicas no tempo terão frequência ω e não mais ω0 . Ilustraremos tal método, no
nosso exemplo de interesse.
Considere a chamada equação de Duffing, sem amortecimento e sem termo forçado,

ÿ + ω02 y + y 3 = 0, (4.25)

onde  é um parâmetro caracterizando a perturbação. Vamos assumir as condições


iniciais y(0) = A e ẏ(0) = 0. É conveniente adimensionalizar a equação e o
parâmetro perturbativo para termos um critério de validade da expansão perturbativa.
A teoria de perturbação baseia-se na premissa de que cada termo da série perturba-
tiva é menor que o termo precedente. Definindo y = Ax, o problema a ser resolvido

1
ẍ + x + λx3 = 0,
ω02
com x(0) = 1 e ẋ(0) = 0 e
A2
λ= ,
ω02
é o parâmetro sob o qual expandiremos a série perturbativa, de acordo com (4.23) e
(4.24). Para garantirmos que a solução oscile com frequência ω, fazemos a mudança
de variável s = ωt, devida a Lindsted e Poincaré. Essa mudança de variável, aliada
à expansão da frequência, Eq. (4.24), que introduziu variáveis ωi a serem determi-
nadas, nos garante a eliminação dos termos seculares em todas as ordens. Na nova
variável s, nossa equação de movimento fica

ω 2 00
x (s) + x(s) + λx3 (s) = 0,
ω02

e essa mudança de variável nos dará liberdade para eliminarmos frequências res-
sonantes de maneira não trivial. Substituindo as séries perturbativas para x(s) e ω
na equação acima e separando as potências de λ obtemos uma série de equações
diferenciais lineares. Para a ordem λ0 temos

x000 + x0 = 0,

sendo x0 (0) = 1 e x00 (0) = 0. Essa é a equação de um oscilador harmônico simples


de frequência 1 e a solução é
x0 = cos s. (4.26)
Para a ordem λ1 a equação de movimento é
2ω1 00
x001 + x1 = − x − x30 .
ω0 0
OSCILAÇÕES NÃO LINEARES E TEORIA DE PERTURBAÇÃO 95

que após substituirmos (4.26) e usarmos a identidade cos3 s = 43 cos s + 1


4 cos(3s)
chegamos a  
2ω1 3 1
x001 + x1 = − cos s − cos(3s),
ω0 4 4
com as condições iniciais x1 (0) = 0 e x01 (0) = 0. Essa equação corresponde a um
oscilador não amortecido forçado pelos termos cos s e cos(3s). Sua solução contém
três termos, a solução homogênea e uma solução gerada por cada termo forçado. A
solução homogênea é do tipo c1 cos s+c2 sens. Para o termo forçado por cos s temos
que encontrar uma solução para
 
00 2ω1 3
x1a + x1a = − cos s.
ω0 4

Como a solução homogênea já contém uma solução do tipo cos s, propomos uma
solução linearmente independente, x1a = assens. Substituindo na equação para
x1a obtemos  
ω1 3
x1a = − ssen s.
ω0 8
Para evitar que esse termo secular apareça na solução, devemos ter
3
ω1 = ω0 .
8
O termo forçado por cos(3s) resulta na equação
1
x001b + x1b = − cos(3s),
4
cuja solução é
1
x1b = cos(3s).
32
Somando a solução homogênea e x1b obtemos
1
x1 = c1 cos s + c2 sen s + cos(3s),
32
e, após aplicarmos as condições iniciais chegamos a
1
x1 = [cos(3s) − cos s] .
32
Assim, até primeira ordem em teoria de perturbação, a solução para x(s) é

λ
x = cos s + [cos(3s) − cos s] .
32
96 OSCILAÇÕES

Retornando para as variáveis y e t temos


 
λ λ
y(t) = 1 − A cos(ωt) + A cos(3ωt) + O(λ2 ), (4.27)
32 32
e  

ω= 1+ ω0 + O(λ2 ). (4.28)
8
O grau de precisão dessa aproximação depende, em geral, do quão pequena é a
magnitude de λ. Assumindo |λ  1| as primeiras ordens em λ normalmente são
suficientes. Caso contrário, devemos continuar com o processo, obtendo as ordens
superiores, uma a uma.
Quando a amplitude do pêndulo é pequena de modo que as contribuições não
lineares são pequenas, podemos expandir senθ em Taylor na equação de movimento
(4.21) e truncar a série no segundo termo. A equação de movimento fica

ω02 3
θ̈ + ω02 θ − θ = 0. (4.29)
6
Comparando com (4.25) temos  = −ω02 /6 ou ainda λ = −θ02 /6, onde θ0 é a am-
plitude do movimento. Para o pêndulo liberado do repouso, as soluções em primeira
ordem em λ são, de acordo com (4.27) e (4.28),

θ02 θ2
 
θ(t) = 1 + θ0 cos(ωt) − 0 θ0 cos(3ωt) + O(θ04 ),
172 172
e
θ02
 
ω= 1− ω0 + O(θ04 ).
16
Já o perı́odo do pêndulo é

θ2
 
T = 1+ 0 T0 + O(θ04 ).
16

Note como a dependência do perı́odo do pêndulo com a amplitude é uma con-


sequência direta da não linearidade da EDO. Diferentemente do que acontece na
Eq. (4.3), as Eqs. (4.21) ou (4.29) não possuem a simetria de escala x → λx e,
assim, era esperado tal dependência.
Expandindo a Eq. (4.22) em Taylor, em torno de zero,

θ02 37θ04
 
6
T = T0 1 + − + O(θ0 ) ,
16 12.288

podemos compará-la com o resultado obtido acima. Vemos que a correção em pri-
meira ordem advinda da teoria de perturbação coincide com o primeiro termo não
trivial da série correspondente ao resultado exato.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 97

É claro que a teoria de perturbação aplicada ao pêndulo possui uma relação custo
x benefı́cio inferior à resolução exata do problema. Entretanto, nem sempre seremos
capazes de resolver uma equação diferencial não linear de maneira exata. Grande
parte dos resultados teóricos obtidos na fı́sica das interações fundamentais provém
exclusivamente de cálculos perturbativos. Os parâmetros perturbativos nesses ca-
sos correspondem às chamadas constantes de acoplamento, as quais caracterizam a
intensidade da interação. Atualmente, a melhor concordância entre teoria e experi-
mento em fı́sica está no valor do momento de dipolo magnético do elétron. O valor
teórico, obtido em quarta ordem em teoria de perturbação, concorda com o valor
medido até o limite do erro experimental, o qual está na décima segunda casa após a
vı́rgula. Por outro lado nem sempre a teoria apresenta uma constante de acoplamento
pequena. É o caso da interação nuclear forte em baixas energias. Nesse caso, não é
possı́vel aplicar a teoria de perturbação.

Referências Bibliográficas

[1] M. Alonso and E. J. Finn, Fı́sica: Um curso universitário - Mecânica. Editora


Blucher, 2018.

[2] A. P. Arya, Introduction to Classical Mechanics. Prentice Hall, 2nd ed., 1998.

[3] A. French, Vibrations and Waves. M.I.T. introductory physics series, Taylor &
Francis, 1971.

[4] H. Georgi, The Physics of Waves. Prentice Hall, 1993.

[5] R. D. Gregory, Classical Mechanics. Cambridge University Press, 2006.

[6] D. Kleppner and R. Kolenkow, An Introduction to Mechanics. Cambridge Uni-


versity Press, 2nd ed., 2014.

[7] H. M. Nussenzveig, Curso de fı́sica básica: Fluidos, oscilações e ondas, calor.


Editora Blucher, 5 ed., 2018.

[8] J. G. Simmonds and J. E. Mann, A First Look at Perturbation Theory. Dover


Books on Physics, Dover Publications, 2013.

[9] K. R. Symon, Mechanics. Addison-Wesley World student series, Addison-


Wesley Publishing Company, 3rd ed., 1971.

[10] G. P. Tolstov, Fourier Series. Dover Books on Mathematics, Dover Publicati-


ons, 2012.
98 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Exercı́cios e problemas

1 - Os átomos da molécula de HCl interagem de acordo com o potencial U (x) =


2
− Ae B
x + x10 , onde x é a separação entre os átomos e k, A, B > 0. Calcule a cons-
4
9(Ae2 ) 3
tante elástica da mola efetiva da ligação. R: k = 1 .
(10B) 3

2 - Considere a força de Morse, F (x) = C e−2a(x−x0 ) − e−a(x−x0 ) , discutida


 

no começo do capı́tulo.
a) Obtenha a energia potencial associada, mostrando que ela pode ser escrita como
2
U (r) = D 1 − e−a(x−x0 ) , onde D, x0 e a são parâmetros positivos.


b) Esboce o diagrama de energia deste potencial. Dica: escreva o potencial como a


soma de três termos, desenhe a curva de cada termo em função de x − x0 e some-os
para obter a curva final.
c) Calcule a separação de equilı́brio e a energia correspondente, identificando-os no
diagrama de energia.
d) Verifique, a partir da energia potencial, se o equilı́brio encontrado é estável.
e) Se a massa de cada átomo é m, calcule a frequência de oscilação de um átomo
para pequenas oscilações em torno da posição de equilı́brio.

3 - Uma conta de massa m, enfiada em um aro vertical de raio R, desliza sem atrito
em torno do ponto mais baixo do aro, sem atrito e sob efeito da gravidade. Seja θ o
ângulo que a reta entre a conta e centro do aro faz com a vertical,
a) Desenhe o diagrama de energia do sistema.
b) Mostre que para pequenas oscilações o movimento descrito por θ é harmônico e
g
calcule sua frequência angular. R: θ̈ + R θ = 0.

4 - Uma conta de massa m, desliza, sem atrito e sob efeito da gravidade, sobre um
arame com a forma da parábola y = x2 /R, onde y é a direção
 vertical.
 Mostre que a
2 2g
equação de movimento para a coordenada x da conta é 1 + 4x
R2
4x 2
ẍ+ R 2 ẋ + R x =

0, que no limite de p
pequenas oscilações recai em movimento harmônico simples de
frequência angular 2g/R.

5 - Mostre que as condições C1 /C2 < 0 e |C1 | < |C2 | implicam em v0 /x0 <
−(γ + ω2 ) para o oscilador superamortecido e C1 /C2 < 0 implica em v0 /x0 < −γ
para o oscilador criticamente amortecido.

6 - Um sistema massa-mola, de massa m, oscila sobre um plano horizontal, sem


atrito, com uma frequência angular ω0 e amplitude A. O mesmo oscilador, ao ser
transferido para um plano horizontal coberto com uma fina camada de um lı́quido
viscoso, tem sua amplitude reduzida à metade em 100 ciclos. Considerando a re-
sistência devido à viscosidade como sendo proporcional à velocidade, mostre que a
ω0 t
potência média dissipada por ciclo pode ser aproximada por dhEi ln 2 3 2 − 100π
dt = − 200π mω0 A 2 .
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 99

7 - Um oscilador subamortecido de massa m, coeficiente de amortecimento γ e


frequência natural ω0 é forçado por uma fonte F0 cos(ω0 t). Calcule sua posição
em função do tempo sabendo que ele é liberado do repouso,
 a√partir da posição de 
F0 e−γt sen ( ω02 −γ 2 t) sen (ω0 t)
equilı́brio, a qual coincide com a origem. R: x = 2γm
√ 2
− ω0 .
ω0 −γ 2

8 - Um sistema massa mola, de massa 1 kg e constante elástica k = 3 N/m, pode


oscilar na horizontal. Além da força elástica, o oscilador está sujeito a um arrasto
linear do magnitude 4v. Sabendo que, no instante inicial, o oscilador é lançado de
x = 2 m (a origem corresponde à posição de equilı́brio) com velocidade −7 m / s .
Resolva explicitamente a equação diferencial e determine a posição do oscilador em
função do tempo e esboce o gráfico.

9 - Considere um oscilador subamortecido e forçado, de frequência natural ω0 , coefi-


ciente de amortecimento γ e termo forçado F0 sin(ωt). Calcule a posição em função
h i 12
do tempo. R: x(t) = Ae−γt cos(ω1 t + θ0 ) + Fm0 (Ω2 −ω2 )12 +4γ 2 Ω2 sin(Ωt + φ),
0

ω1 = ω02 − γ 2 , φ = arctan Ω2γΩ


p
2 −ω 2 .
0

10 - Calcule a potência absorvida, por ciclo, pelo oscilador do exemplo anterior,


considerando γ  ω0 , durante a ressonância de energia e durante a ressonância de
amplitude. Calcule o valor médio, por ciclo, de cada uma dessas potências.

11 - Um sistema massa-mola de frequência natural ω0 oscila sem amortecimento


e sendo forçado por uma fonte F0 cos(Ωt), onde Ω 6= ω0 . Obtenha a solução geral
do oscilador e esboce uma curva de ressonância. Refaça o problema considerando a
frequência da fonte igual a frequência natural.

12 - Calcule a solução estacionária para um oscilador com amortecimento γ, frequência


natural ω0 e forçado pela função dente de serra, F (t) = F0 t, −π < t < π, com
P∞ n+1
perı́odo 2π. R: x(t) = n=1 Bn sin(nt + φn ), Bn = 2F0 (−1) mn [(ω02 − n2 )2 +
1
4γ 2 n2 ]− 2 , φn = arctan n22γn
−ω 2
.
0

13 - Calcule a solução estacionária para um oscilador com amortecimento γ, frequência


natural ω0 e forçado por F (t) = F0 |t|, −π < t < π, a qual se repete com perı́odo 2π.

14 - Na Fig. 4.18, o disco de raio R roda uniformemente com velocidade angu-


lar Ω. A biela de comprimento l, tal que l > R, transmite este movimento, de forma
linear, à plataforma P , a qual desloca-se sobre o eixo x. Há uma mola, de constante
elástica k e comprimento natural l0 , com um extremo fixo na plataforma e o outro
acoplado a uma partı́cula de massa m. A deslocar-se p sobre o eixo x, a partı́cula sofre
um amortecimento de coeficiente γ, tal que γ < k/m. Assumindo que a origem
está no centro do disco, calcule a forma geral da posição da partı́cula em função do
tempo, até a ordem R2 /l2 .
100 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

l P m
R
x

Figura 4.18

15 - Considere um sistema massa-mola de frequência natural ω0 sob ação de uma


força não linear −b · x(x2 − A2 ), onde A e b são constantes. Use a teoria de
perturbação para calcular a solução x(t) e a frequência de oscilação em primeira or-
dem no parâmetro adimensional λ = bA2 /mω02 , dadas as condições iniciais x(0) =
A e ẋ(0) = 0.

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