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Do exposto, se pode afirmar que um sólido elástico quando sujeito a um sistema externo
de forças irá se deformar. De modo que, estas forças realizarão trabalho sobre o sólido que
é denominado de trabalho de deformação. O corpo sólido, por sua vez, irá acumular este
trabalho realizado sobre ele na forma da denominada energia elástica.
Durante um processo de deformação em que forças realizam trabalho que decorre dos
deslocamentos de seus pontos de aplicação (originados pelas deformações) é possı́vel que
aconteça dissipação de energia.
É importante identificar esta situação, pois se não houver dissipação de energia, se pode
afirmar que o sistema é conservativo. O tratamento de sistemas conservativos do ponto de
vista energético é bem mais simples, e esta possibilidade é extremamente interessante. Basta
lembrar que sistemas conservativos dependem exclusivamente dos seus estados inicial e final
e não dependem das situações intermediárias pelas quais passou.
Cabe aqui ressaltar que no âmbito do processo de deformação elástica, o estado inicial é
normalmente a situação do sólido indeformado e o estado final é o sólido deformado na sua
configuração final.
As causas de dissipação de energia num processo de deformação elástica seriam:
a) Dissipação de energia na forma de energia cinética. Há energia cinética envolvida
num dado processo quando este envolve movimento e portanto velocidade. O sólido está em
repouso e indeformado no estado inicial . As forças externas atuam e provocam deformação
elástica, portanto seus pontos materiais saem do repouso adquirem velocidade até a posição
deformada do estado final. Há, portanto, uma parcela que será dissipada na forma de energia
cinética.
b) Dissipação de energia para vencer o atrito nos vı́nculos.
c) Dissipação de energia devido ao atrito interno visto que os materiais não apresentam
estrutura cristalina perfeita.
d) Dissipação de energia de outras formas, que não são do interesse da mecânica dos
sólidos deformáveis dentre elas a dissipação na forma de energia térmica.
Assim, se forem estabelecidas algumas hipótese sobre o sistema, este poderá ser admitido
conservativo. Tais hipótese são, admitir que não há atrito nos vı́nculos, admitir que a estrutura
cristalina dos materiais é perfeita e finalmente admitir que as forças externas são carregadas
lentamente de zero até seus valores finais, denominado de carregamento estático. Nesta
situação a dissipação de energia na forma de energia cinética será extremamente pequena, de
tal sorte que se poderá admitir com bastante precisão que o sistema de deformação elástica é
um processo conservativo.
Daqui para frente todo sistema elástico será admitido conservativo, portanto, como afir-
mado anteriormente, somente dependerá de seus estados inicial e final, e não dependerá por
quais situações intermediárias o sistema passou.
Evidentemente, quando se consideram tais hipóteses se está cometendo um erro de apro-
ximação. mas este erro será extremamente pequeno e não trará prejuı́zo nenhum as análises
que seguem. A figura 1 mostra esquematicamente o processo de deformação com seus estados
inicial e final.
W =U (1)
O trabalho de deformação realizado pelas forças externas sobre um sólido, será integral-
mente acumulado pelo sólido na forma de energia elástica.
Uma expressão que permita avaliar esta energia U , evidentemente, será função das tensões
e deformações que são entes mecânicos internos.
Antes da dedução desta expressão será analisado um pequeno mas importantı́ssimo aspecto
decorrente da hipótese de que os valores das forças crescem lentamente de zero a seus valores
finais. A figura 2 mostra um gráfico força versus deslocamento do ponto de aplicação de uma
força P .
Se observa que a força P cresce a partir de 0 assim como o deslocamento x. De modo
que o trabalho W realizado por esta força até o valor do deslocamento atingir x1 será dado
por
∫ x1
W = P dx (2)
0
No caso de deformação elástica linear, a curva necessariamente será uma reta como repre-
sentado na figura 3.
A força interna correspondente a tensão τxy é dada por τxy dx dz. O deslocamento deste
ponto na direção x desta força é dado por γxy dy. De modo que se pode escrever
1 1 1
dU = τxy dx dz γxy dx = τxy γxy dx dy dz = τxy γxy dV (6)
2 2 2
1
dU = τxy γxy dV (7)
2
Generalizando para um estado geral de tensões com componentes normais σx , σy , σz e
componentes tangenciais τxy , τyz , τzx , se obtém
1
dU = (σx ϵx + σy ϵy + σz ϵz + τxy γxy + τyz γyz + τzx γzx ) dV (8)
2
Integrando no volume se obtém
∫ ∫
1
U= dU = (σx ϵx + σy ϵy + σz ϵz + τxy γxy + τyz γyz + τzx γzx ) dV (9)
V 2 V
com dx dy dz = dV .
Inserindo as expressões da Lei de Hooke deduzidas e apresentadas no Capı́tulo 3 página
67, numeradas de (50) a (55) se obtém
∫ [ 2 ]
1 σx σy2 σz2 2ν 2
τxy 2
τyz 2
τzx
U= + + − (σx σy + σy σz + σz σx ) + + + dV (10)
2 V E E E E 2G 2G 2G
N
Para o caso de força normal N , se sabe que σ = . Inserindo este valor em (12) se obtém
A
∫ ∫ ∫
N2 N2 N2
U= dV = dA dx = dx (13)
V 2EA2 V 2EA2 L 2EA
M
Para o caso de flexão M , se sabe que σ = y. Inserindo este valor em (12) se obtém
I
∫ ∫ ∫
M2 2 M2 2 M2
U= 2
y dV = 2
y dA dx = dx (14)
V 2EI V 2EI L 2EI
T
Para o caso da torção T , se sabe que τ =
ρ. Inserindo este valor em (15) se obtém
J
∫ ∫ ∫
T2 2 T2 2 T2
U= 2
ρ dV = 2
ρ dA dx = dx (16)
V 2GJ V 2GJ L 2GJ
VQ
Finalmente, para o caso de força cortante V , se sabe que τ = . Inserindo esta
It
expressão em (15) se obtém
∫
V 2 Q2
U= 2 2
dV (17)
V 2GI t
O termo que precede a última integral é puramente geométrico e seu valor depende ex-
clusivamente da forma geométrica da seção transversal. É denominado de fator de corte ou
fator de cisalhamento sendo representado pela letra grega χ. Assim,
∫
V2
U =χ (20)
L 2GA
onde
∫
1 Q2
χ= 4 dA (21)
i A A t2
Para seções retangulares χ = 1, 2 e para seções transversais circulares χ = 1, 1.
Quando se tem a presença dos quatro esforços internos atuando concomitantemente, a
expressão de U será dada pela soma das expressões (13), (14), (16) e (20) tomando a forma
∫ ∫ ∫ ∫
N2 M2 T2 V2
U= dx + dx + dx + χ dx (22)
L 2EA L 2EI L 2GJ L 2GA
Obtida esta expressão para a energia elástica, se pode fazer algumas considerações muito
importantes.
Esta expressão mostra que a dependência entre energia elástica (ou trabalho de de-
formação) em relação aos esforços não é linear, mas quadrática. Este fato impede que seja
aplicado o princı́pio da superposição dos efeitos quando se lida com trabalho/energia em
processos de deformação elástica.
Para o caso de treliças planas e espaciais, se tem apenas forças normais. De modo que, a
expressão de U se resuma a
∫
N2
U= dx (23)
L 2EA
Além disso, como uma treliça está constituı́da por n barras, a expressão anterior deve ser
aplicada a cada barra. Mas em treliças, o valor da força normal é constante ao longo de cada
barra, de modo que a expressão pode ser escrita numa forma mais apropriada como
∑n
Ni2 Li
U= (24)
i=1
2EAi
Para pórticos planos não se tem apenas torção, logo a expressão para U se simplifica para
∫ ∫ ∫
N2 M2 V2
U= dx + dx + χ dx (27)
L 2EA L 2EI L 2GA
Entretanto, as parcelas devidas a força normal e força cortante em geral são muito pequenas
comparadas a flexão de modo que se irá considerar apenas a flexão como em vigas.
∫
M2
U= dx (28)
L 2EI
Para o caso de grelhas não há força normal, logo a expressão de U se simplifica para
∫ ∫ ∫
M2 T2 V2
U= dx + dx + χ dx (29)
L 2EI L 2GJ L 2GA
Também aqui se irá desprezar a influência da força cortante, de modo que se usará a
expressão
∫ ∫
M2 T2
U= dx + dx (30)
L 2EI L 2GJ
Esta expressão é idêntica a expressão (22), apenas seus termos foram rearranjados. Cada
1
integrando está numa forma idêntica a expressão (3). Cada um deles vale a constante que
2
multiplica o valor da ação pelo o valor do deslocamento correspondente na forma infinitesimal.
O último termo do segundo membro s trata de uma expressão que permite calcular o valor
do deslocamento transversal devido a força cortante,
∫
V dx
v=χ (32)
L GA
Este seria o valor da flecha devida a força cortante. Este valor é normalmente
desprezado por ser muito menor do que a flecha produzida pela flexão.
Na seção anterior foram obtidas as expressões (8) e (22) que são diferentes formas integrais
para a determinação da energia elástica acumulada num processo de deformação. A primeira
é função dos campos de tensões e deformações. A segunda é função dos esforços internos e
seus correspondentes deslocamentos.
Se define densidade de energia elástica representada por u, o valor desta por unidade de
volume. De modo que, a expressão que segue mostra esta definição.
U
u= (33)
V
E tendo como referência a expressão (9), se pode escrever
1
u= (σx ϵx + σy ϵy + σz ϵz + τxy γxy + τyz γyz + τzx γzx ) (34)
2
Levando as expressões da lei de Hooke nesta expressão se obtém
[ ]
1 σx2 σy2 σz2 2ν 2
τxy 2
τyz 2
τzx
u= + + − (σx σy + σy σz + σz σx ) + + + (35)
2 E E E E G G G
E em função das tensões principais no ponto, a expressão toma a forma
1 [ 2 ]
u= σ1 + σ22 + σ32 − 2ν (σ1 σ2 + σ2 σ3 + σ3 σ1 ) (36)
2E
As expressões (11) e (36) tratam da mesma energia elástica. A primeira no sólido e a
segunda em um ponto deste. A primeira envolve integração que em última análise significa
somar a energia elástica em cada ponto que constituı́ este sólido.
A figura 6 mostra um estado geral de tensões representado pelas seus valores principais.
Este é decomposto em dois estados de tensões também representados por tensões principais
cujos valores são escolhidos de forma conveniente.
No primeiro estado de tensões desta decomposição os valores principais são iguais e valem
σ1 + σ2 + σ3
σ= (37)
3
Deste modo, valem a média das três tensões principais. O segundo estado componente
apresenta valores principais iguais a σ1 − σ, σ2 − σ e σ3 − σ.
A energia elástica para o estado dado será a soma das energias elásticas correspondentes
aos dois estados componentes.
Para o primeiro estado componente a energia elástica pode ser obtida da expressão (36)
fazendo (σ1 = σ), (σ2 = σ) e σ3 = σ. Esta parcela é conhecida como energia de dilatação.
Ela é a energia envolvida na variação de volume do sólido.
1 [ 2 ]
udilatacao = 3 σ − 6 ν σ2 (38)
2E
3 (1 − 2ν) 2 (1 − 2ν)
udilatacao = σ = (σ1 + σ2 + σ3 )2 (39)
2E 6E
Se pode observar que sendo as tensões principais do primeiro estado de tensões da de-
composição, idênticas de valor igual a σ, o correspondente cı́rculo de Mohr se degenerá a um
ponto de modo que para qualquer inclinação não se terá componentes tangenciais. Portanto,
não ocorrerá mudança de forma apenas variação de volume.
Para obtenção da parcela de energia de distorção se pode fazer
ou seja
1 [ 2 ]
udistorcao = 3(σ1 + σ22 + σ32 ) − 6ν (σ1 σ2 + σ2 σ3 + σ3 σ1 ) − (1 − 2ν)(σ1 + σ2 + σ3 )2
6E
(41)
Expandindo o último termo no segundo membro que está elevado ao quadrado, e rearran-
jando o resultado se obtém
1+ν [ 2 ]
udistorcao = (σ1 − 2σ1 σ2 + σ22 ) + (σ22 − 2σ2 σ3 + +σ32 ) + (σ32 − 2σ3 σ1 + σ12 ) (42)
6E
Mas cada termo entre parêntese é um quadrado perfeito, vem
1+ν [ ]
udistorcao = (σ1 − σ2 )2 + (σ2 − σ3 )2 + (σ3 − σ1 )2 (43)
6E
Mas, E = 2 (1 + ν) G, então
1 [ ]
udistorcao = (σ1 − σ2 )2 + (σ2 − σ3 )2 + (σ3 − σ1 )2 (44)
12G
Caso se tenha um estado plano de tensões, onde σ3 = 0, a expressão anterior tomará a
forma
1 2
udistorcao = (σ − σ1 σ2 + σ32 ) (45)
6G 1
12.4.1 Exemplo 1
Um tubo de alumı́nio com comprimento de 762 mm e seção transversal de área de 1194 mm2
é soldado a um suporte fixo A e a uma tampa rı́gida B. A barra de aço EF , de 19, 1 mm
de diâmetro, é soldada à tampa B. Isto é mostrado na figura 7. Sabendo que o módulo de
elasticidade é de 200 GP a para o aço e 74 GP a para o alumı́nio, determine o valor da energia
de deformação total neste sistema para P = 44, 5 kN .
Figura 7: Exemplo 3
Solução
Para esta situação, a barra de aço estará sujeita a uma força normal de tração igual a P .
O tubo de alumı́nio estará sujeito a uma força normal de compressão igual a P . deste modo,
o valor da energia elástica será dada pela soma
U = Ubarra + Utubo
ou seja,
2 2
Ntubo Ltubo Nbarra Lbarra
U= +
2 EAl Atubo 2 Eaço Abarra
As áreas transversais valem
Atubo = 1194 mm2 = 1194 ×−6 m2
π × 19, 12
Abarra = = 287 mm2 = 287 × 10−6 m2
4
Os comprimentos da barra e do tubo são mostrados na figura e o enunciado fornece os
valores dos módulos de elasticidade. Assim,
44, 52 × 0, 762 44, 52 × 1, 219
U= + = 0, 0296 kN.m
2 × 74 × 106 × 1194 × 10−6 2 × 200 × 106 × 287 × 10−6
12.4.2 Exemplo 2
Considere a treliça carregada como mostra a figura 8. Suas barras são do mesmo material
e apresentam idêntica área transversal A. Determine o valor da energia elástica acumulada
por esta estrutura devido a ação da força P .
Figura 8: Exemplo 2
Solução
Como se trata de uma treliça, para a determinação da energia elástica acumulada deverá
ser empregada a expressão (24) abaixo reproduzida.
∑n
Ni2 Li
U=
i=1
2EA
LCB = l
l
LDC = = 2l
cos 60o
√
LDB = LDC × cos 30o = l 3
√
∑ √ P 3
MB = 0 RDx × l 3 − P l = 0 RDx =
3
Equilı́brio do nó D
√
∑ 2P 3
Fx = 0 RDx + NDC × cos 60o = 0 NDC =−
3
∑
Fy = 0 NDC × cos 30o + NDB = 0 NDB = P
Equilı́brio do nó C
√
∑ P 3
Fx = 0 NCB − NDC × cos 60 = 0
o
NCB =
3
Levando todos estes valore na expressão de U , se obtém
( √ )2 ( √ )2
P 3 2P 3
l − 2l √
3 3 P2 l 3
U= + + =
2EA 2EA 2EA
√
P2 l 8P2 l P2 l 3 P2 l √
= + + = (1 + 8 + 3 3) =
6 EA 6 EA 2EA 6 EA
P2 l √ P2 l
= (9 + 3 3) = 2, 37
6 EA EA
12.4.3 Exemplo 3
Calcule o valor da energia acumulada pela viga mostrada na figura 9, devido exclusivamente
à flexão. Considere a rigidez à flexão EI constante.
Figura 9: Exemplo 3
Solução
Como se trata de uma viga e apenas os efeitos da flexão devem ser considerados, a
expressão a ser considerada para o cálculo da energia elástica é a (26) abaixo reproduzida.
∫
M2
U= dx
L 2EI
Deste modo, será necessário determinar as expressões de variação dos momentos para os
trechos AD e BD. Para tanto se irá em primeiro lugar determinar os valores das reações.
∑ Mo
MB = 0 RAy × L + Mo = 0 RAy = −
L
∑ Mo
Fy = 0 RAy + RBy = 0 RBy = −RAy =
L
As equações de momento para os trechos AD e BD são
Mo
MAD = − x 0≤x≤a
L
Mo
MBD = x b≥x≥0
L
Levando estas expressões na expressão de U resulta
1 ∫ a Mo2 2 1 ∫ b Mo2 2
U= x dx + x dx =
2EI 0 L2 2EI 0 L2
( 2 3 )a ( 2 3 )b
1 Mo x 1 Mo x Mo2 (a3 + b3 )
= + =
2EI L2 3 0 2EI L2 3 0 6 EIL2
12.4.4 Exemplo 4
Solução
Para determinar a energia elástica acumula por esta barra, é necessário, em primeiro lugar,
determinar o valor para o torque T . Este está limitado pelo valor da tensão tangencial. Se
pode reparar que o diâmetro externo do eixo é constante de valor igual a 24 mm. O trecho
CB tem um furo portanto com menor inércia polar do que o trecho AB. Logo, a geometria
do trecho CB irá limitar o valor do torque T . Sendo assim, se pode escrever
π(244 − 164 )
JBC = = 26138 mm4 = 26138 × 10−12 m4
32
T × 0, 012
= 120 × 103 T = 0, 261 kN m
26138 × 10−12
O valor da inércia polar para o trecho AB vale
π 244
JAB = = 32572 mm4 = 32572 × 10−12 m4
32
Tomando a expressão
∫
T 2 dx
U=
L 2GJ
12.4.5 Exemplo 5
Considere a viga engastada-livre mostrada na figura 11. Esta apresenta seção transversal
retangular de dimensões b × h. Mostre que a influência da força cortante no valor da flecha
máxima é pequena o suficiente para ser desprezada. Admita uma relação E/G = 2, 5.
Solução
Na página 322 foi apresentada a expressão (32) que permite calcular a flecha devida a
força cortante. Tal expressão é abaixo reproduzida.
∫
V dx
v=χ
L GA
Para esta viga, a flecha máxima ocorre na extremidade livre (devido exclusivamente aos
efeitos da flexão) e vale
P L3
vmax =
3 EI
O valor acima foi determinado no Exemplo 2 do Capı́tulo 10, página 293.
Agora se vai determinar a contribuição da força cortante. A expressão para a força cortante
admitindo a origem em B é
V =P
De modo que
∫ L
P dx PL
vf c = χ =χ
0 GA GA
Assim, o valor da flecha máxima será dada pela soma das contribuições da flexão e da
força cortante.
P L3 PL
vmax = +χ
3 EI GA
Esta expressão pode ser colocada na forma
[ ]
P L3 P L 3 EI
vmax = 1+χ ×
3 EI GA P L3
Simplificando vem
[ ]
P L3 EI
vmax = 1 + 3χ
3 EI GA L2
bh3
Mas, para uma seção retangular χ = 1, 2, a relação E/G = 2, 5, I = e A = bh.
12
Levando estes valores na expressão anterior se obtém
bh3
P L3 3 × 1, 2 × 2, 5 ×
vmax = 1 + 12
3 EI bh × L 2
Assim, se pode concluir que neste caso, a influência da força cortante em relação a da
flexão é de apenas 0, 75 %.
Tal resultado permite simplificar
P L3 P L3
vmax = [1 + 0, 0075] ∼
=
3 EI 3 EI
Deste modo, ficou provado que ao se desprezar a influência da força cortante, o erro que
se está cometendo é muito pequeno.
Nas seções anteriores foram abordadas algumas questões teóricas importantes. Abaixo são
resumidamente descritas.
- Foi abordado a dualidade trabalho/energia nos processos de deformação elástica.
- As hipóteses que permitem considerar o processo de deformação elástico como conser-
vativo.
- Por conta disso, o trabalho/energia nos processos de deformação elástica depende exclu-
sivamente dos seus estados inicial e final. Em outras palavras, não depende da forma como
um conjunto de forças externas são carregadas.
- Foram deduzidas expressões para a densidade de energia elástica e para a energia elástica.
Esta última em função dos esforços internos. A expressão é reproduzida abaixo.
∫ ∫ ∫ ∫
N2 M2 T2 V2
U= dx + dx + dx + χ dx (22)
L 2EA L 2EI L 2GJ L 2GA
- A hipótese de carregamento ser admitido lento, faz com que as expressões para o trabalho
de deformação e para a energia elástica estejam multiplicadas pela constante 1/2.
- Foram deduzidas expressões para a energia elástica de dilatação e energia elástica de dis-
torção em função das tensões principais em um ponto. Esta segunda expressão foi empregada
por von Mises ao estabelecer seu critério de escoamento.
Nesta seção e nas próximas será feita a dedução e apresentação de alguns teoremas sobre
trabalho de deformação que tem grande relevância na análise estrutural.
O denominado Teorema de Clapeyron é historicamente tido como formulado por Benoit
Paul Émile Clapeyron (1799 - 1864), fı́sico e engenheiro francês. Estabelece e formaliza uma
expressão para o cálculo do trabalho de deformação.
Seja um corpo elástico que será carregado por um sistema de n forças P que irão deformar
o corpo. O estado inicial é o corpo indeformado. O estado final é o corpo deformado pela
ação deste sistema de forças. A figura 1 mostrou os estados inicial e final.
O sistema é conservativo logo se pode admitir uma infinidades de diferentes formas de car-
regamento para as forças. Por conveniência, será admitida a seguinte forma de carregamento:
todas as forças irão ser carregadas lentamente e ao mesmo tempo, crescendo de zero até seus
valores finais proporcionalmente.
dW = αPk δk dα (46)
Mas o sistema de forças está constituı́do por n forças. Logo, estendo este raciocı́nio para
todas forças do sistema se pode escrever
∑
k=n
dW = αPk δk dα (47)
k=1
∑
k=n ∫ 1
W = Pk δ k α dα (48)
k=1 0
ou seja,
1 ∑
n
W = Pk δ k (49)
2 1
1 ∑
n
W = Mk ϕ k (50)
2 1
W = W1 + W2 + W1,2 (54)
A parcela de trabalho mútuo ou indireto W1,2 pode ser nula, negativa ou positiva. Isto
dependerá do sistema de forças e da estrutura considerada.
Agora será feita análise da mesma situação mas com inversão na ordem de aplicação das
duas forças. Primeiro irá atuar a força P2 e a seguir a força P1 .
Quando a força P2 é aplicada, ela irá realizar uma parcela de trabalho de deformação dada
por
1
W2 = P2 v 2 (55)
2
A seguir, é aplicada a força P1 . Ela irá realizar uma segunda parcela de trabalho dada por
1
W1 = P1 v 1 (56)
2
Entretanto, quem irá agora realizar trabalho mútuo é a força P2 , pois já atua na viga. Esta
terceira parcela de trabalho de deformação será dada por
A quantidade total de trabalho de deformação realizada pelas duas forças sobre a viga é
W = W2 + W1 + W2,1 (58)
Mas para as duas formas de carregamento, os estados inicial e final são os mesmos, logo a
quantidade de trabalho de deformação realizada pelas duas forças será a mesma. Deste modo,
se pode igualar as quantidades dadas por (54) e (58).
W1 + W2 + W1,2 = W2 + W1 + W2,1 (59)
Simplificando resulta
W1,2 = W2,1 (60)
Esta é a conclusão do teorema de Betti. Independente da ordem de aplicação
das forças sobre um copro elástico, a quantidade de trabalho mútuo ou indireto
realizado será sempre a mesma. Na expressão (60), W1,2 é o valor do trabalho mútuo ou
indireto realizado pela força P1 devido a ação posterior de P2 , e W2,1 é o valor do trabalho
mútuo ou indireto realizado pela força P2 devido a ação posterior de P1 .
Este teorema se deve a Enrico Betti (1823 - 1892), matemático, professor e topólogo
italiano.
dW = dPk δk (68)
∂U ∑ Ni Nii=n
δk = = dx (77)
∂Pk i=1
EA
onde
∂Ni
Ni = , (78)
∂Pk
Para o caso de vigas e pórticos planos, os efeitos da força cortante são desprezados e
para pórticos em geral os efeitos das forças normais também. Deste modo, para aplicação do
teorema de Castigliano se deve empregar a expressão mostrada abaixo.
∫
∂U MM
δk = = dx (79)
∂Pk L EI
onde
∂M
M= , (80)
∂Pk
ou
∫
∂U MM
ϕk = = dx (81)
∂Mk L EI
com
∂M
M= , (82)
∂Mk
A expressão (79) permite calcular translações, e a (81), rotações.
Para o caso de grelhas, os efeitos da força cortante são desprezados, mas os da flexão e
torção devem ser considerados. Deste modo, para aplicação do teorema de Castigliano se deve
empregar a expressão mostrada abaixo.
∫ ∫
∂U MM TT
δk = = dx + dx (83)
∂Pk L EI L GJ
onde
∂M ∂T
M= , e T = , (84)
∂Pk ∂Pk
ou
∫ ∫
∂U MM TT
ϕk = = dx + dx (85)
∂Pk L EI L GJ
com
∂M ∂T
M= , e T = , (86)
∂Mk ∂Mk
A expressão (83) permite calcular translações e (85) rotações. Cuidado deve ser tomado
para não confundir rotações devido a flexão com as decorrentes da torção.
12.9.1 Exemplo 1
Solução
Para a determinação do valor da flecha que é o valor do deslocamento vertical em B se
deve derivar em relação a uma força que atue em B na direção vertical. Esta força existe. É
a força P . Deste modo, se pode escrever que
∫ L
∂U MM
vB = = dx
∂P 0 EI
onde
∂M
M=
∂P
A expressão de momento de flexão de B para A vale
MBA = −P x
de modo que
∂MAB
MAB = = −x
∂P
Assim,
∫ L
(−P x)(−x) P L3
vB = =
0 EI 3EI
Para a determinação do valor da rotação em B se deve derivar em relação a um momento
que atue em B. Este não existe. Há um impasse momentâneo. Para resolver esta situação,
em relação a quem derivar, se acrescentará um momento em B de modo a permitir a de-
rivação. Para não correr alteração nenhuma no sistema mecânico, este momento Mo deve ser
considerado com valor nulo.
A figura 16 mostra a nova situação da viga com o momento fictı́cio Mo = 0.
Agora se tem
∫ L
∂U MM
vB′ = = dx
∂Mo 0 EI
onde
∂M
M=
∂Mo
A expressão de momento de B para A é
MBA = −P x − Mo
de modo que
∂M
MAB = = −1
∂Mo
Agora se pode anular Mo , assim
∫ L
′ ∂U (−P x)(−1) P L2
vB = = dx =
∂Mo 0 EI 2EI
12.9.2 Exemplo 2
Para a viga mostrada na figura 17, determine o valor da flecha na seção média. Considere
esta viga com rigidez EI constante. Utilize o teorema de Castigliano.
Solução
Na seção média não há uma força externa aplicada. Assim, se deve acrescentar uma força
fictı́cia dirigida para baixo.
Além disso, a viga com seu carregamento constituı́ um situação simétrica. Deste modo,
se poderá integrar do extremo ao meio do vão e multiplicar o resultado por 2.
A expressão de momento da esquerda ao meio do vão vale
( )
qL F qx2
MAC = + x−
2 2 2
de modo que
∂M AC x
M AC = =
∂F 2
Portanto,
∫ L/2 ( )( ) ∫ L/2 ( )
qL qx2 x dx qLx2 qx3 dx
vC = 2 × x− =2× − =
0 2 2 2 EI 0 4 4 EI
( )L/2 ( )
2 qLx3 qx4 1 qL4 qL4
vC = − = −
EI 12 16 0 EI 48 128
5qL4
vC =
384
12.9.3 Exemplo 3
Para a viga mostrada na figura 18, determine o valor da flecha na extremidade livre C.
Considere esta viga com rigidez EI constante. Utilize o teorema de Castigliano.
Solução
De imediato se observa que há duas forças com mesma identidade. São as forças P que
atuam em B e C.
Na aplicação do teorema de Castigliano para esta situação não se poderá derivar o trabalho
de deformação em relação a P . Isto porque não será obtido nem a flecha em B nem a flecha
em C.
Nos dois exemplos anteriores foi utilizado um artifı́cio que possibilitou a realização das
operações de derivação. O artifı́cio foi acrescentar uma força ou momento fictı́cio, nulos, para
se poder operar as derivações.
Aqui a situação é diferente pois se tem duas forças idênticas atuando em posições distintas.
O artifı́cio é, preliminarmente trocar o nome de uma destas forças. Realizar os cálculos
empregando o teorema de Castigliano. Obtido o valor do deslocamento procurado, se deve
fazer a operação inversa, a forca trocada de nome volta ao seu nome original.
Esclarecido o artifı́cio que deve ser empregado, será trocado o nome da força que atua em
C. Será denominada por F . Isto é mostrado na figura 19.
MCB = −F x 0 ≤ x ≤ L/2
Mas
∂U
vC =
∂F
MCB
= −x
∂F
MBA
= −x
∂F
Assim, a flecha em C vale
∫ L/2 ∫ L [ ( ) ]
dx L dx
vC = (−F x)(−x) + (−F x)(−x) − P x − (−x)
0 EI L/2 2 EI
∫ L/2 ∫ L [ ]
dx P Lx dx
vC = Fx + 2
Fx + Px −
2 2
0 EI L/2 2 EI
[ ]L/2 [ ]L [ ]L [ ]L
1 F x3 1 F x3 1 P x3 1 P Lx2
vC = + + −
EI 3 0 EI 3 L/2 EI 3 L/2 EI 4 L/2
F L3 F L3 F L3 P L3 P L3 P L3 P L3
vC = + − + − − +
24EI 3EI 24EI 3EI 24EI 4EI 16EI
3 3
FL 5P L
vC = +
3EI 48EI
Trocando F por P , resulta
P L3 5P L3 7P L3
vC = + =
3EI 48EI 16EI
12.9.4 Exemplo 4
Para a viga Gerber mostrada na figura 20, determine o valor, em graus, da rotação da
elástica em D. Considere esta viga com rigidez constante EI = 12000 kN m2 . Utilize o
teorema de Castigliano.
Solução
Tendo em vista que se trata de uma viga Gerber, a primeira atitude é determinar o esquema
de apoio. É solicitado o valor da rotação em D. De modo que, se deve acrescentar ao sistema
um momento fictı́cio nulo em D para possibilitar as derivações do teorema de Castiliano. Tudo
isto é mostrado na figura 21.
12.9.5 Exemplo 5
Solução
Para determinação do deslocamento solicitado é necessário acrescentar uma força fictı́cia
horizontal em D. Só assim poderão ser realizadas as derivações intrı́nsecas ao teorema de
Castigliano. A figura 23 mostra a inserção desta força fictı́cia que é denominada de F e
nula. A figura também mostra as reações que se tem para esta situação. Aqui será utilizado
H = 4 m, L = 5 m e q = 12 kN/m.
∂MAB
MAB = F y =y
∂F
∂MDC
MDC = F y =y
∂F
qL x2 ∂MBC
MBC = x− + FH =H
2 2 ∂F
de modo que
∫ L [ ] [ ]L
∂U qLx x2 dx H qLx2 x3 qL3 H
δBh = = − H = − =
∂F 0 2 2 EI EI 4 6 0 12EI
qL3 H 12 × 53 × 4
δBh = = = 0, 042 m = 42 mm
12EI 12 × 12000
b) Considerando também os efeitos da força normal
Estes deverão ser acrescentados ao efeito da flexão acima determinado. Deste modo, se
deve considerar a força normal atuante em cada uma das três barras.
Olhando para a figura 23, se pode escrever
qL ∂NAB
NAB = =0
2 ∂F
qL ∂NDC
NDC = =0
2 ∂F
∂MBC
NBC = F =1
∂F
A componente do deslocamento em D (influência) devido às forças normais é dada por
∫ ∫ ∫
h NAB N AB LAB NDC N DC LDC NBC N BC LBC
δD = dx + dx + dx
EI EI EI
Observando as expressões para as forças normais e suas derivadas se chega de imediato a
conclusão que a soma das integrais é NULA.
Se pode então concluir, neste caso especı́fico, o deslocamento horizontal de D não é
influenciado pelas forças normais atuantes.
12.9.6 Exemplo 6
A treliça mostrada na figura 24 tem suas barras construı́das com uma liga de alumı́nio.
As barras tem idêntica área transversal constituı́das por tubos de 50 mm de diâmetro externo
e parede de espessura igual a 4 mm. Para o carregamento indicado, determine o valor do
π(502 − 422 )
A= = 578 mm2 = 587 × 10−6 m2
4
EA = 72 × 10−6 × 578 × 10−6 = 41616 kN
Para a aplicação do teorema de Castigliano, deveria haver uma força vertical atuando no
nó C. Está força não existe.
Assim, se irá utilizar o artifı́cio de acrescentar uma força fictı́cia em C de valor nulo. Esta
força será denominada por F . A figura 25 mostra a estrutura sujeita ao novo carregamento.
Se pode reparar que as barras foram numeradas para melhor determinação dos esforços
atuantes.
Segue a determinação dos valores dos esforços normais para as sete barras. Foi utilizado
o método dos nós (aqui não mostrado) que leva aos seguintes valores
N1 = 30
N2 = −1, 333F
N3 = −7, 5 + F
N4 = −37, 5 − 1, 667F
N5 = −F
N6 = 1, 667F
N7 = 30 + 1, 333F
O valor do deslocamento vertical em C será dado pela aplicação da expressão do teorema
de Castigliano válida para treliças e adequada a este caso.
∑
7
Ni Ni L i
δCv =
1
EA
onde
∂Ni
Ni =
∂F
Os valores de Ni valem
N1 = 0
N2 = −1, 333
N3 = 1
N4 = −1, 667
N5 = −1
N6 = 1, 667
N7 = 1, 333
Deste modo se tem
N3 N3 L 3 N4 N4 L 4 N7 N7 L 7
δCv = + + =
EA EA EA
−7, 5 × 1 × 1, 5 −37, 5 × −1, 667 × 2, 5 30 × 1, 333 × 2
= + + =
EA EA EA
11, 25 156, 28 80 225
= − + + =
EA EA EA EA
225
δCv = = 0, 0054 m = 5, 4 mm
41616