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Resumo
1
Passaremos agora a descrever os fundamentos teóricos e os objetivos do projeto
mais claramente.
2 Fundamentação teórica
2.1 Produção de entropia e informação mútua
A entropia de um sistema aberto se comporta de maneira fundamentalmente diferente
de outras grandezas como, por exemplo, a energia. Quando a energia de um sistema
varia, sabemos que o excedente há de ter fluido para o ambiente. Ou seja, podemos dizer
que a energia satisfaz uma equação de continuidade. Para a entropia isso não é verdade.
Quando a entropia de um sistema varia, parte desta entropia pode ser associada com
um fluxo de entropia entre o sistema e o ambiente. No entanto, além disso é possível
também que haja uma criação espontânea de entropia no sistema. Esta produção de
entropia ocorre sempre que a dinâmica é irreversível e funciona, portanto, como um
quantificador da irreversibilidade de um processo. Matematicamente, a taxa de variação
da entropia S de um sistema pode portanto ser escrita como
dS
=Π−Φ (1)
dt
onde Φ é a taxa de fluxo de entropia do sistema para o ambiente e Π é a taxa de
produção de entropia. Da segunda lei da termodinâmica esperamos que Π ≥ 0, com
Π = 0 se e só se o sistema está em equilíbrio térmico. O fluxo e a produção de entropia
não são observáveis de um sistema, mas dependem de um formalismo teórico para
serem relacionados com observáveis. No entanto, apesar de esforços recentes, não há
atualmente um formalismo teórico unificado para descrever a produção de entropia em
sistemas quânticos.
Para relacionar a idéia de produção de entropia com o conceito de correlação
quântica, podemos utilizar o seguinte exemplo de livro texto. Considere dois sistemas a
temperaturas T A e T B que são postos em contato entre si, de tal forma que eles possam
trocar calor. Suponha que passado um tempo curto a quantidade de calor trocada foi δQ.
Sabemos da termodinâmica que a mudança na entropia dos dois sistemas será
δQ δQ
δS A = , δS B = − . (2)
TA TB
Assim, a mudança total na entropia será
!
1 1
δΠ = δS A + δS B = δQ − . (3)
TA TB
O calor trocado δQ será positivo se T B > T A . Consequentemente, vemos que a soma das
entropias, δΠ, é uma grandeza sempre não-negativa. Ou seja, a troca de calor sempre
aumenta a entropia entre os dois sistemas, o que é razoável já que a troca de calor é
um processo irreversível. Dessa análise, podemos portanto associar δΠ com a entropia
produzida neste processo.
Vejamos agora como conciliar este resultado com as leis da mecânica quântica.
Consideramos o sistema bipartido AB como sendo descrito por uma matriz densidade
genérica ρAB . De acordo com a mecânica quântica, podemos associar a entropia de
qualquer estado com a entropia de von Neumann
S (ρ) = −tr(ρ ln ρ). (4)
2
Consideremos agora a evolução do sistema AB durante a troca de calor. Como os dois
sistemas estão isolados, a evolução deles será unitária, sendo descrita portanto por um
mapa ρ0AB = UρAB U † onde U é um operador unitário. No entanto, a entropia de von
Neumann é invariante por transformações unitárias. Ou seja,
δS AB = 0. (5)
Chegamos agora a questão de como conciliar o resultado (5), que advém da mecânica
quântica, com Eq. (3), que é um resultado termodinâmico. De acordo com a mecânica
quântica, a entropia de um sistema fechado é sempre constante. Por outro lado, de
acordo com a termodinâmica, a entropia de um sistema fechado deverá aumentar até
o sistema entrar em equilíbrio térmico. A solução para este paradoxo está na enorme
complexidade e propensão ao caos de sistemas macroscópicos, contempladas no famoso
Stosszahlansatz (caos molecular) de Boltzmann. Esta complexidade faz com que a perda
de informação seja inexorável, levando portanto para ao surgimento da irreversibilidade
como uma propriedade emergente.
Esta discussão põe em evidência o papel essencial do conteúdo de informação ao
lidarmos com a transição entre o micro e o macro. Procuremos agora uma maneira
microscópica de estabelecer esta conexão. A entropia de von Neumann (4) para um
sistema bipartido AB pode ser escrita como
S AB = S A + S B − IAB , (6)
δIAB = δS A + δS B (7)
Comparando com a Eq. (3), vemos portanto que a variação da informação mútua δIAB
tem um papel análogo à produção de entropia δΠ. Concluímos portanto que a troca de
calor entre dois sistemas leva a um aumento na informação mútua (ou seja, na correlação)
entre os dois sistemas. Isso é de certa forma intuitiva sob a ótica da mecânica quântica:
como os dois sistemas interagiram, se realizarmos uma medida sobre um deles, podemos
obter informações sobre o outro. No entanto, do ponto de vista da termodinâmica, este
resultado é paradoxal, já que sabemos que dois sistemas que trocam calor entre si não
ficam correlacionados um com o outro.
Vemos, portanto, que a transição entre o micro e o macro envolve a transformação
da informação mútua em produção de entropia. Ao aumentarmos a complexidade de
um sistema, fenômenos como o caos ou a decoerência causam uma perda da informação
mútua, que é transformada em produção de entropia. Os detalhes exatos de como
isso ocorre constituem uma questão em aberto e representam a maior motivação do
presente projeto. Propomos aqui estudar este problema sob o ponto de vista do modelo
de spin-bóson, que discutiremos na próxima seção.
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um número arbitrário (e potencialmente infinito) de bósons (osciladores harmônicos). O
Hamiltoniano é dado por [23]
Ω X X
H= σz + ωk b†k bk + gk σz (bk + b†k ) (8)
2 k k
O fato do acoplamento ser do tipo σz significa que os bósons não trocam energia com o
qubit, causando somente decoerência (dephasing). Vale notar também que é possível
definir o modelo com um acoplamento do tipo σ x , que também é denominado de modelo
de spin-bóson na literatura. Este modelo, no entanto, é fundamentalmente diferente
já que leva transições entre os níveis de energia do qubit. Além disso, ele não possui
solução analítica.
O modelo descrito pela Eq. (8) pode ser resolvido analiticamente a fim de obter a
dinâmica da matriz densidade reduzida dos qubits e dos osciladores. Em geral assume-se
que o estado inicial do qubit é arbitrário, mas o estado dos bósons é um estado térmico
de Gibbs a uma certa temperatura. Recentemente na Ref. [24] os autores analisaram
este modelo quando o estado inicial do modelo de spin-boson é um estado térmico
com squeezing. Squeezing, que representa a compressão das quadraturas (posição e
momento) dos osciladores, corresponde a um recurso quântico amplamente utilizado no
contexto da ótica quântica. Em alguns aspectos, um estado com squeezing se assemelha
a um estado térmico a uma dada temperatura. No entanto, um estado com squeezing
é fundamentalmente diferente, já que o operador de squeezing atua em estados puros.
Dessa forma, estudar o modelo de spin-boson com os osciladores em um estado com
squeezing representa a oportunidade de estudar a evolução do sistema começando em
um estado puro. E, como a dinâmica é unitária, esta pureza será preservada. Dessa
forma, sabemos que neste caso toda a correlação entre o qubit e os osciladores se deve à
emaranhamento, não havendo nenhum tipo de correlação clássica.
3 Objetivos do projeto
Este projeto tem dois objetivos centrais:
1. Estudar a dinâmica do modelo de spin-bóson (8) a partir de um estado puro, com
os osciladores estando em um estado com squeezing.
4
(c) Estudo do modelo de spin-bóson com os osciladores em um estado térmico com
squeezing
Para esta seção, propomos à estudante reproduzir em detalhes os resultados da
Ref. [24]. Isso contempla tanto o estado térmico com squeezing quanto o vácuo com
squeezing (que corresponde ao último no limite de temperatura zero).
4 Conclusões
As atividades propostas aqui deverão ser realizadas no período de um ano. Como já
mencionado anteriormente, este projeto se enquadra na fronteira desta área de pesquisa
sendo, ao mesmo tempo, acessível para um estudante de graduação. Consequentemente,
a depender dos resultados, esperamos que esta pesquisa possa render uma publicação ci-
entífica à estudante. Além disso, acreditamos que esta linha de pesquisa possa funcionar
como uma semente para um projeto de pesquisa de mestrado, caso haja interesse.
Referências
[1] M. Horodecki, P. Horodecki, R. Horodecki, J. Oppenheim, A. Sen, U. Sen, and
B. Synak-Radtke, “Local versus nonlocal information in quantum-information
theory: Formalism and phenomena,” Physical Review A, vol. 71, p. 062307, 2005.
[4] C. Jarzynski and D. K. Wójcik, “Classical and Quantum Fluctuation Theorems for
Heat Exchange,” Physical Review Letters, vol. 92, p. 230602, jun 2004.
[5] P. Cwiklinski, M. Studzinski, M. Horodecki, and J. Oppenheim, “Limitations
on the evolution of quantum coherences: Towards fully quantum second laws of
thermodynamics,” Physical Review Letters, vol. 115, p. 210403, 2015.
5
[8] F. G. S. L. Brandao, M. Horodecki, N. H. Y. Ng, J. Oppenheim, and S. Wehner,
“The second laws of quantum thermodynamics,” Proceedings of the National
Academy of Sciences, vol. 112, no. 11, pp. 3275–3279, 2015.
6
[23] G. Massimo Palma, K.-A. Suominen, and A. K. Ekert, “Quantum computers and
dissipation,” Proceedings of the Royal Society A, vol. 452, pp. 567–584, 1996.
[24] Y.-N. You and S.-W. Li, “Entropy dynamics of a dephasing model in a squeezed
thermal bath,” pp. 1–8, 2017.
[25] H.-P. Breuer and F. Petruccione, The Theory of Open Quantum Systems. Oxford
University Press, USA, 2007.
[26] D. Venturelli, M. Science, and D. Matière, Le Modèle Spin-Boson : Décohérence ,
Localisation et Frustration Quantique. PhD thesis, 2007.
[27] M. A. Nielsen and I. L. Chuang, Quantum Computation and Quantum Information.
Cambridge University Press, 2000.