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Resumo
O uso de fibras lignocelulósicas e seus constituintes tem despertado interesse da sua aplicação
como matéria prima na produção de compósitos poliméricos, representando uma oportunidade de
agregar valor econômico a resíduos industriais e ao desenvolvimento tecnológico sustentável.
Neste trabalho foi realizado o estudo da fibra de bananeira in natura e da fibra com tratamento
alcalino, através de caracterizações das propriedades térmicas e químicas, a fim de avaliar as
diferenças estruturais e melhores formas de utilização da fibra como reforço em materiais. Os
resultados encontrados demonstraram variações de percentuais de celulose, hemicelulose e
lignina, principais constituintes da fibra de bananeira, quando comparado a fibra in natura com a
fibra tratada. Estas alterações impactaram nas características físicas da superfície da fibra com o
aumento da rugosidade, o que favorece no processo de ancoragem à matriz. Observou-se também
alterações do comportamento térmico da fibra in natura em relação à fibra tratada, com
degradação mais acentuada na fibra in natura.
Palavras-chave: Fibra de bananeira; tratamento de superfície; compósitos.
* Centro Universitário SENAI CIMATEC, CEP 41650-010, Salvador-BA, Brasil.
tatiana.nery.br@gmail.com
DOI:
Rev. Virtual Quim. |Vol 10| |No. 2| |no prelo| 000
Volume 10, Número 2 Março-Abril 2018
1. Introdução
2. Material e Método
2.1. Processo de extração da fibra de bananeira
2.2. Caracterização da fibra de bananeira
3. Resultados e Discussão
3.1. Caracterização da fibra de bananeira
4. Conclusão
para avanços tecnológicos que agreguem ranking mundial das frutas, com 106,5
valor aos produtos da agroindústria e, ao milhões de toneladas. O Brasil produz sete
mesmo tempo, atuem na fixação de carbono milhões de toneladas, com participação de
na natureza.3,4,5 No Brasil, as principais fibras 6,9% no mercado mundial.8,9 As bananeiras
lignocelulósicas geradas são provenientes da são plantas do gênero Musa, um dos três que
cana-de-açúcar, do arroz, coco da baía, compõem a família Musaceae, que inclui as
abacaxi, sisal, dentre outras.5,6 A aplicação plantas herbáceas vivazes, incluindo as
das fibras naturais como reforço em bananeiras cultivadas para a produção de
materiais compósitos requer uma forte fibras (abacás) e para a produção de fruto.
adesão entre as fibras e a matriz polimérica, Existem cerca de 50 espécies de Musa,
independente do tipo de matriz (termofixa, utilizadas pelo ser humano para diversas
termoplástica, biodegradável).4,6 O processo finalidades, somente 20 variedades são
de modificação da estrutura das fibras usadas para o consumo.10,11. As fibras de
naturais através de tratamentos químicos bananeira podem ser extraídas do
promove uma melhora na adesão fibra- pseudocaule ou das folhas da planta. Após a
matriz, alterando o caráter hidrofílico das colheita do cacho de banana o pseudocaule é
fibras naturais de modo que os efeitos da descartado, pois não serve para produzir
umidade no compósito sejam reduzidos.6,7 novos cachos. Este material orgânico, rico em
nutrientes, favorece proliferação de fungos,
A banana é a segunda fruta mais
após o seu apodrecimento, alguns deles
consumida no planeta, com 11,4 kg/hab/ano,
prejudiciais à plantação.11,12 A possibilidade
perdendo apenas para a laranja, com 12,2
de utilização da fibra oriunda do pseudocaule
kg/hab/ano.8 O continente americano é o
transforma este material da categoria de
maior consumidor, destacando-se a América
resíduos para a categoria de matéria prima.12
do Sul, com 20 kg/habitantes/ano e a
A Tabela 1 apresenta a comparação de
América Central, com 13,9
8 propriedades estruturais da fibra de
kg/habitantes/ano. Em termos de produção,
bananeira com outras fibras lignocelulósicas.
a banana destaca-se na primeira posição no
Fibras de banana têm sido utilizadas no O objetivo deste trabalho foi realizar a
reforço de alguns materiais compósitos, extração, tratamento químico e
incluindo resina epóxi, éster vinílico, caracterização da fibra de bananeira in
poliéster, polipropileno e polietileno.14,15 A natura e tratada, como possibilidade de
fibra também foi usada com outras fibras aplicação da mesma como reforço
como juta, cânhamo e vidro, sisal e linho.10,16 polimérico.
3. Resultados e Discussão
2.2. Caracterização da fibra de bananeira
PAREDE CELULAR
LÚMEN
60
FB in natura (_____)
40
FB tratamento álcali (_____)
20
0
0 200 400 600 800 1000
0 200 400 600 800 1000
Temperatura (ºC)
Temperatura (ºC)
a) Curvas de TGA das fibras de bananeira b) Curva de DTG para as fibras de bananeira
De acordo com YANG et al. (2007), a et al. (2007).23 Isso pode estar relacionado
hemicelulose inicia a sua decomposição com o baixo teor de lignina encontrada nas
facilmente, com a perda de massa amostras da fibra. Isto já era esperado devido
principalmente, na faixa entre 220 - 315 °C. A à coloração amarelada da fibra, fibras mais
pirólise de celulose é focalizada em uma faixa escuras tendem a possuir maiores teores de
de temperatura mais elevada (315 - 400 °C). lignina. Este resultado está de acordo com
Entre os três componentes, a lignina é o mais Deepa et al. (2011), que obtiveram um
difícil de decompor. Sua decomposição comportamento semelhante para fibras de
acontece lentamente sob a faixa da bananeira devido ao baixo teor de lignina.24
temperatura 100 – 900 °C, mas a uma taxa
A confirmação da remoção dos
muito baixa de perda de massa.23 Para a
componentes de menor massa molar na fibra
análise realizada observou-se no seu perfil
de bananeira pode ser observada na análise
termogravimétrico o não aparecimento do
por infravermelho, antes e após o tratamento
evento relacionado à degradação da lignina,
alcalino (Figura 5).
mesmo na termperatura sugerida por YANG
Figura 5. Espectro de Infravermelho das fibras de bananeira com e sem tratamento alcalino
3
estar relacionado com a remoção parcial das Bledzki, A. K.; Gassan, J. Composites
impurezas e alguns constituintes da fibra. reinforced with cellulose based fibers.
Progress in Polymer Science 1999, 24, 221.
[CrossRef]
4
4. Conclusão Faruk, O.; Bledzki, A. K.; Fink, H.-P.; Sain, M.
Biocomposites reinforced with natural fibers:
2000-2010. Progress in Polymer Science 2012,
Foi possível observar variações da 37, 1552. [CrossRef]
5
composição química da fibra de bananeira in Sousa, V. M. Z.; Dissertação de Mestrado.
natura e em relação à fibra tratada. Houve Faculdade UnB Gama, 2016. [Link]
6
um acréscimo de 22% em relação ao teor de Silva, R.; Haraguchi, S. K.; Muniz, E. C.;
celulose e de 43% em relação à hemicelulose Rubira, A. F. Aplicações de fibras
para a fibra tratada. A celulose é o polímero lignocelulósicas na química de polímeros e
que confere mais resistência às fibras em compósitos. Química Nova 2009, 32, 661.
vegetais e, portanto, o aumento do teor de [CrossRef]
7
celulose teoricamente torna as fibras com Kalia, S.; Kaith, B. S.; Kaur, I. Pretreatments
maior potencial de reforço para os of natural fibers and their application as
compósitos. Houve uma diminuição do teor reinforcing material in polymer composites- A
de lignina na fibra após o tratamento alcalino review. Polymer Engineering and Science
causando uma desorganização na estrutura 2009, 49, 1253. [CrossRef]
da fibra, este fator faz com que haja um
8
OECD – FAO – Agricultural Outlook.
aumento da rugosidade da superfície, Perspectivas Agrícolas 2015-2024. Disponível
melhorando o mecanismo de ancoragem em:
mecânica. Os resultados apresentados <https://www.fao.org.br/download/PA20142
evidenciam que o tratamento químico com 015CB.pdf>. Acesso em: 5 setembro 2016.
9
NaOH (mercerização), utilizado para IBGE-Instituto Brasileiro de Geografia e
modificação da estrutura da fibra mostram- Estatística. Conjuntura Agrícola_ julho 2016.
se eficientes para melhorar a interação Disponível em: <
interfacial entre a fibra e a matriz polimérica. https://downloads.ibge.gov.br/downloads_es
tatisticas.htm>. Acesso em: 5 setembro 2016.
10
Zimmermann, M. V. G.; Turella, T. C.;
Zattera, A. J. Influência do tratamento
Agradecimentos
químico da fibra de bananeira em compósitos
de poli(etileno-co-acetato de vinila) com e
sem agente de expansão. Polímeros 2014, 24,
Os autores agradecem ao SENAI CIMATEC 58. [CrossRef]
pela realização das micrografias e ao Grupo 11
Prasad, V.; Joy, A.; Venkatachalam, G.;
GCIM da UFBA pelas análises de TG e DSC. Narayanan, S.; Rajakumar, S. Finite Element
analysis of jute and banana fiber reinforced
hybrid polymer matrix composite and
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