Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
APLICAÇÕES AMBIENTAIS DE
MICROALGAS ENVIRONMENTAL
APPLICATIONS OF MICROALGAE
Lista C
CLABAS
T iago da Silva
14 RV12439
Jose De Almeida Net o
Revista CIATEC – UPF, vol.4 (1), p.p.48-60, 2012
RESUMO
As microalgas tem sido foco de muitos estudos nos últimos anos tendo em vista sua grande aplicabilidade na
indústria de alimentos e farmacêutica, nas áreas da biomedicina e ambiental. As aplicações ambientais das
microalgas incluem a biofixação de CO2, remoção de matéria orgânica e metais tóxicos de efluentes, produção
de biocombustíveis como biodiesel e bioetanol e na produção de moléculas de origem lipídica com capacidade
surfactante entre outros. Dentre as microalgas estudadas, a Spirulina platensis tem apresentado grande
potencial de utilização em todos esses setores com destaque especial na área ambiental. Objetivou-se revisar as
principais aplicações ambientais dos cultivos microalgais, com ênfase para a microalga Spirulina platensis.
Palavras-chave: microalgas; aplicações ambientais; Spirulina platensis.
ABSTRACT
Microalgae have been focus of many studies in recent years due to its wide applicability in food and
pharmaceutical industries and in biomedical and environmental areas. The environmental applications of
microalgae include the biofixation of CO2, in the removal of organic matter and toxic metals from wastewater,
in the biofuels production, as biodiesel and bioethanol, and in the production of lipid molecules with surfactant
activity, among others. Among the studied microalgae, Spirulina platensis has shown great potential in all these
sectors with particular emphasis in the environmental area. The objective was to review the main
environmental applications of microalgae cultures, with emphasis on Spirulina platensis.
Keywords: microalgae, environmental applications, Spirulina platensis.
1. INTRODUÇÃO
A preocupação com as questões ambientais tem se tornado cada vez mais evidentes em função
da demasiada utilização de recursos naturais em processos produtivos, acarretando assim, um elevado
potencial de poluição desses recursos pelas indústrias (BARCELLOS et al., 2009).
A crescente demanda por produtos e serviços tem elevado drasticamente a atividade industrial,
gerando cada vez mais resíduos e elevando a utilização dos recursos naturais, os quais estão tornando-
se escassos e muitas vezes encontram-se poluídos e degradados (DAL MAGRO et al., 2011). Diante
desse cenário, busca-se aliar desenvolvimento econômico com proteção ambiental, desenvolvendo-se
novos produtos, novas alternativas de processos e técnicas eficientes no combate e remediação da
poluição, tornando assim, a atividade industrial menos impactante ao meio ambiente.
48
Revista CIATEC – UPF, vol.4 (1), p.p.48-60, 2012
2. MICROALGAS
49
Revista CIATEC – UPF, vol.4 (1), p.p.48-60, 2012
50
Revista CIATEC – UPF, vol.4 (1), p.p.48-60, 2012
A fotossíntese é a principal rota de fixação de carbono da Spirulina platensis, sendo a luz solar
sua principal fonte de energia. Por meio da fotossíntese, converte os nutrientes em matéria celular e
libera oxigênio. Os nutrientes de que necessita são uma fonte de carbono, nitrogênio, fósforo,
potássio, ferro e outros oligoelementos (VONSHAK, 1997).
A biofixação de dióxido de carbono (CO2) por microalgas tem provado ser um método
eficiente e econômico, principalmente devido à capacidade fotossintética desses micro-organismos ao
uso deste gás como fonte de nutrientes para o seu desenvolvimento. Rosa et al. (2011) estudaram o
crescimento das microalgas Spirulina LEB18 e Chlorella kessleri, expostas a condições controladas e
não controladas, com a injeção de diferentes concentrações de CO2. Verificaram que a maior
concentração de biomassa e fixação máxima diária foram obtidas para Spirulina LEB18 na cultura que
foi preparada em condições não-controladas com uma injeção de 6% (v/v) de CO2. C. kessleri teve
taxa de crescimento máximo específico quando cultivada com 18 % (v/v) de CO2 em condições de
cultivo não-controladas.
Radmann et al. (2011) realizaram estudo e desenvolveram planta piloto para biofixação de
CO2 oriundo da Usina Termelétrica Presidente Médici, localizada no município de Candiota/RS com
o objetivo de utilizar gás de combustão da usina para o cultivo das microalgas Spirulina sp. LEB-18 e
Scenedesmus obliquus LEB-22, determinando suas características cinéticas e capacidade de fixação de
CO2. Nesse estudo observaram que a utilização de gás de combustão da usina termelétrica
incrementou em 35 % a produção de biomassa ao final do cultivo de Spirulina sp. LEB-18, com
redução de 24,2% da concentração de CO2 do gás de combustão, sendo biofixado 5,7% do CO2 para o
crescimento das microalgas. A biomassa final das microalgas S. obliquus LEB-22 e Spirulina LEB-18
cultivadas com gás de combustão apresentou 6,2 e 4,8% de lipídios, e 40,6 e 46,8% de proteínas,
respectivamente. Os resultados mostram que as microalgas podem ser cultivadas em plantas de
energia elétrica para biofixar o CO2 proveniente do gás de combustão de carvão e contribuir para
redução do aquecimento global.
Morais e Costa (2007) testaram em fotobiorreatores tubulares a capacidade de biofixação de
CO2 por microalgas Scenedesmus oblíquo e Spirulina sp. em concentrações de situação limitada e em
excesso de CO2. A Spirulina apresentou os melhores resultados em todos os parâmetros avaliados,
dentre eles a taxa de crescimento específica, produtividade e biofixaçao de CO2.
A composição dos efluentes pode variar de acordo com sua origem. Muitos efluentes podem
conter grande quantidade de matéria orgânica, ou ainda apresentar altas concentrações de metais
tóxicos, representando um grave problema para o meio ambiente (DAL MAGRO et al., 2011).
Mezzomo et al. (2010) utilizaram efluente de suíno, rico em fósforo e nitrogênio inorgânicos,
para a produção de biomassa de microalga Spirulina platensis, no qual verificaram que a cultura de
Spirulina em efluente suíno demonstrou a possibilidade do seu uso na remoção de DQO e fósforo,
além da produção de biomassa, podendo ser uma possível solução para o impacto ambiental gerado
pela descarga de efluentes em fontes naturais. O estudo destacou que a biomassa produzida pode ser
adicionada a rações de peixes, os quais podem ser utilizados na formulação de produtos cárneos.
Frente a essa problemática tem-se intensificado os estudos baseados em processos biológicos
para tratamento de efluentes, surgindo assim, a biossorção que consiste na absorção de metais tóxicos
por microrganismos (QUINTELAS et al., 2008). Esse processo apresenta-se como uma tecnologia
promissora e em atual expansão (MÓDENES et al., 2009), apresentando vantagens como baixo custo
e boa eficiência (DAS et al., 2008). Dentre os micro-organismos utilizados na biossorção, as
51
Revista CIATEC – UPF, vol.4 (1), p.p.48-60, 2012
De acordo com Vadusevan e Fu (2010), com o consumo atual as reservas mundiais de óleo
estarão exauridas em 40 anos e de gás em 60 anos. Este fato associado ao aumento do efeito estufa e
da temperatura global torna necessário o desenvolvimento de tecnologias para a produção de
biocombustíveis.
Segundo Varfolomeev e Wasserman (2011), a crise energética de 1970 catalisou o início dos
estudos relacionados à produção de biocombustíveis microalgais. As microalgas podem ser utilizadas
para a produção de biometano, biodiesel, biohidrogênio e bioetanol. O uso de microalgas para a
produção de biocombustíveis é, desta forma, uma alternativa aos combustíveis fósseis.
A produção de biocombustíveis a partir de microalgas baseia-se primeiramente na produção de
biomassa com elevadas produtividades. No caso do uso para a produção de biodiesel, necessita-se
ainda que esta biomassa apresente elevados percentuais de lipídios, o que parece ser contraditório,
visto que a maioria das espécies que apresentam elevadas produtividades em biomassa não são
capazes de acumular lipídios (Montero et al., 2011). Entretanto, grandes avanços tem sido obtidos por
pesquisadores no mundo todo através de cultivos em fotobiorreatores, capazes de aumentar a
produtividade em biomassa (VARFOLOMEEV e WASSERMAN, 2011).
As principais formas de produção de biocombustíveis microalgais são:
a) pirólise: a biomassa seca é destruída na ausência de oxigênio em temperaturas elevadas,
levando a formação de benzeno, hidrocarbonetos aromáticos. O uso de microalgas é mais vantajoso do
que a pirólise de lignocelulósicos porque pode ser realizada em temperaturas inferiores (450-550ºC) e
mais rapidamente;
b) liquefação termomecânica: a biomassa úmida é utilizada em temperaturas de 300ºC e
10MPa de pressão com carbonato de sódio como catalisador para a realização da conversão em óleos;
c) Gaseificação e combustão direta: oxidação na presença de oxigênio e água a elevadas
temperaturas (800-1000ºC);
52
Revista CIATEC – UPF, vol.4 (1), p.p.48-60, 2012
53
Revista CIATEC – UPF, vol.4 (1), p.p.48-60, 2012
54
Revista CIATEC – UPF, vol.4 (1), p.p.48-60, 2012
55
Revista CIATEC – UPF, vol.4 (1), p.p.48-60, 2012
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AKAR, T.; TUNALI, S. Biosorption characteristics of Aspergillus flavus biomass for removal of
Pb(II) and Cu(II) ions from an aqueous solution. Bioresource Technology, v. 97, n. 15, p. 1780-1787,
2006.
AMIN, G. A. A Potent Biosurfactant Producing Bacterial Strain for Application in Enhanced Oil
Recovery Applications. Journal of Petroleum Environmental Biotechnology, v. 1, n. 2, p. 1-5, 2010.
ANEJA, R.K.; CHAUDHARY, G.; AHLUWALIA, S.S.; GOYAL, D. Biosorption of Pb2+ and Zn2+
by non-living biomass of Spirulina sp. Indian Journal Microbiology, v. 50, n. 4, p. 438-442, 2010.
56
Revista CIATEC – UPF, vol.4 (1), p.p.48-60, 2012
ANTELO, F.S.; ANSCHAU, A.; COSTA, J.A.V.; KALIL, S.J. Extraction and Purification of C-
phycocyanin from Spirulina platensis in Conventional and Integrated Aqueous Two-Phase Systems.
Journal of the Brazilian Chemical Society, v. 21, n. 5, p. 921-926, 2010.
CHEN, X.; HU, S.; SHEN, C.; DOU, C.; SHI, J.; CHEN, Y. Interaction of Pseudomonas putida CZ1
with clays and ability of the composite to immobilize copper and zinc from solution. Bioresource
Technology, v. 100, n. 1, p. 330-337, 2009.
CIFERRI, O.; TIBONI, O. The biochemistry and industrial potential of Spirulina. Annual Review of
Microbiology, v.39, p. 503-26, 1985,
CHISTI, Y. Microalgae: our marine forests. Book reviews. IN: RICHMOND, A. (Ed). Handbook of
microalgal culture: biotechnology and applied phycology. Oxford: Blackwell Science, 2004. 566p.
COSTA, J.A.V.; MORAIS, M.G. The role of biochemical engineering in the production of biofuels
from microalgae. Bioresource Technology, v. 102, p. 2-9, 2011.
DAL MAGRO, C.; HEMKEMEIER, M.; COLLA, L.M. Remoção de cromo VI e DQO de meio de
cultivo adicionado de efluente com elevada concentração de cromo a partir da microalga Spirulina
platensis. In: XVIII SIMPÓSIO NACIONAL DE BIOPROCESSOS, 2011, Caxias do Sul. Anais...
Caxias do Sul: Editora da UCS, 2011. 1 CD-ROM.
DAS, N.; VIMALA, R.; KARTHIKA, P. Biosorption of heavy metals - An Overview. Indian Journal
of Biotechnology, v. 7, p. 159-169, 2008.
DOSHI, H.; RAY, A.; KOTHARI, I.L. Bioremediation potential of live and dead Spirulina:
Spectroscopic, kinetics and SEM studies. Biotechnology and Bioengineering, v. 96, n. 6, p. 1051-
1063, 2007.
GADD, G.M. Biosorption: critical review of scientific rationale, environmental importance and
significance for pollution treatment. Journal of Chemical Technology & Biotechnology, v. 84, p. 13-
28, 2009.
57
Revista CIATEC – UPF, vol.4 (1), p.p.48-60, 2012
GOKHALE, S.V.; JYOTI, K.K.; LELE, S.S. Modeling of chromium (VI) biosorption by
immobilized Spirulina platensis in packed column. Journal of Hazardous Materials, v.170, p. 735-
743, 2009.
GONG, Y.; JIANG, M. Biodiesel Production with Microalgae as Feedstock: from Strains to
Biodiesel. Biotechnology Letters, v. 33, p. 1269-1284, 2011.
HENRIKSON, R. Microalga Spirulina. Superalimento del futuro. Ediciones S.A. Urano, Barcelona,
Espanha. 1994, 222 p.
HU, Q.; SOMMERFELD, M.; JARVIS, E.; GHIRARDI, M.; POSEWITZ, M.; SEIBERT, M.;
DARZINS, A. Microalgal triacylglycerols as feedstocks for biofuel production: perspectives and
advances. The Plant Journal, v. 54, n. 4, p. 621-639, 2008.
HUANG, G.; CHEN, F.; WEI, D.; ZHANG, X.; CHEN, G. Biodiesel production by microalgal
biotechnology. Applied Energy, v. 87, n. 1, p. 38-46, 2010.
MENG, X.; YANG, J.; XU, X.; ZHANG, L.; NIE, Q.; XIAN, M. Biodiesel production from
oleaginous microorganisms. Renewable Energy, v. 34, n. 1, p. 1-5, 2009.
MEZZOMO, N.; SAGGIORATO, A.G.; SIEBERT, R.; TATSCH, P.O.; LAGO, M.C.;
HEMKEMEIER, M.; COSTA, J.A.V.; BERTOLIN, T.E.; COLLA, L.M. Cultivation of microalgae
Spirulina platensis (Arthrospira platensis) from biological treatment of swine wastewater. Ciência e
Tecnologia de Alimentos, v. 30, n. 1, p. 173-178, 2010.
MONTEIRO, M.P.C.; LUCHESE, R.H.; ABSHER, T.M. Effect of Three Different Types of Culture
Conditions on Spirulina maxima Growth. Brazilian Archives of Biology and Technology, v. 53, n. 2,
p. 369-373, 2010.
MONTERO, M.F.; ARISTIZÁBAL, M.; REINA, G.G. Isolation of High-Lipid Content Strains of the
Marine Microalgae Tetraselmis suecica for Biodiesel production by Flow Cytometry and Single-Cell
Sorting, Journal of Applied Phycology, v. 23, p. 1053-1057, 2011.
MORAIS, M.G.; COSTA, J.A.V. Biofixation of carbon dioxide by Spirulina sp. and Scenedesmus
obliquus cultivated in a three-stage serial tubular photobioreactor. Journal of Biotechnology, v. 129, p.
439 - 445, 2007.
QUINTELAS, C.; FERNANDES, B.; CASTRO, J.; FIGUEIREDO, H.; TAVARES, T. Biosorption of
Cr(VI) by three different bacterial species supported on granular activated carbon - A comparative
study. Journal of Hazardous Materials, v. 153, p. 799-809, 2008.
58
Revista CIATEC – UPF, vol.4 (1), p.p.48-60, 2012
ROSA, A.P.C.; CARVALHO, L.F.; GOLDBECK, L.; COSTA, J.A.V. Carbon dioxide fixation by
microalgae cultivated in open bioreactors. Energy Conversion and Management, v. 52, n. 8-9, p.
3071-3073, 2011.
SCOTT, S.A.; DAVEY, M.P.; DENNIS, J.S.; HORST, I.; HOWE, C.J.; LEA-SMITH, D.J.; SMITH,
A.G. Biodiesel from algae: challenges and prospects. Current Opinion in Biotechnology, v. 21, n. 3, p.
277–286, 2010.
UENO, Y.; KURANO, N.; MIYACHI, S. Ethanol production by dark fermentation in the marine
green alga, Chlorococcum littorale. Journal of Fermentation and Bioengineering, v. 86, n. 1, p. 38-43,
1998.
VARFOLOMEEV, S.D.; WASSERMAN, L.A. Microalgae as Source of Biofuel, Food, Fodder and
Medicines. Apllied Biochemistry and Microbiology, v. 47, n.9, p. 789-807, 2011.
XUAN, J.; LEUNG, M.K.H.; LEUNG, D.Y.C.; MENG, N. A review of biomass-derived fuel
processors for fuel cell systems. Renewable and Sustainable Energy Reviews, v. 13, n. 6-7, p. 1301-
1313, 2009.
WIJFFELS, R.H.; BARBOSA, M.J. An Outlook on Microalgal Biofuels. Science, v. 329, n. 5993, p.
796-799, 2010.
59
Revista CIATEC – UPF, vol.4 (1), p.p.48-60, 2012
XU, R.; MI, Y. Simplifying the Process of Microalgal Biodiesel Production Through In Situ
Transesterification Technology. Journal of the American Oil Chemists' Society, v. 88, n. 1, p. 91-99,
2011.
60