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1º Edição
Bento Gonçalves
UERGS
2020
ISBN 9786586105155
Sobre os Organizadores desta publicação:
Ícaro Da Ré
Acadêmico – Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia, UERGS – Bento Gonçalves
REVISÃO DA PUBLICAÇÃO
Lisete Lorensatti
Mestre em Bioquímica – UFRGS e Artista Plástica – AAPLASG
3
*Todos os direitos reservados.
© 1. ed. 2020 – Organizadoras (es) da Publicação
Qualquer parte desta publicação pode ser reproduzida, desde que citada a fonte.
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E-book – PDF
ISBN 9786586105155
4
SUMÁRIO
Autores e revisão................................................................................................................03
Introdução..........................................................................................................................06
Domínio Bacteria................................................................................................................10
Domínio Archaea................................................................................................................63
5
INTRODUÇÃO
ambientes, como os micróbios influenciam os
A diversidade microbiana representa uma
ecossistemas em que vivem, e como essas
importante fonte de recursos genéticos para o
nanomáquinas podem ser aproveitadas para
avanço da biologia e da biotecnologia. Estudos
melhorar nossa compreensão do mundo natural.
recentes em ecologia e biologia molecular têm
Descobrimos que eles desempenham funções
demonstrado que a extensão e a heterogeneidade
únicas e cruciais na manutenção de ecossistemas,
da diversidade microbiana na natureza é muito
como componentes fundamentais das cadeias
maior do que o previamente estimado e que a
alimentares e dos ciclos biogeoquímicos,
distribuição desses organismos é universal,
representando quase 90% das espécies da
abrangendo praticamente todos os ambientes do
biosfera. Contudo, apesar de sua grande
planeta e onde quer que as condições físico-
importância na sobrevivência e manutenção das
químicas o permitam, incluindo-se ambientes
formas de vida na biosfera, estima-se que menos
extremos, sob temperaturas abaixo de 0°C em
de 10% dos microrganismos existentes no
ambientes glaciais, acima de 100°C em fontes
planeta tenham sido caracterizados e descritos,
termais oceânicas a grandes profundidades, em
com os maiores esforços envidados no estudo da
condições de extrema salinidade em lagos
biodiversidade dos macrorganismos (mamíferos,
saturados de cloreto de sódio ou hidróxido de
aves, peixes e plantas). Em decorrência disso,
sódio e, até mesmo, em fraturas de rochas
conhecemos mais de 80% das plantas e mais de
continentais (incluindo rochas da Antártida), ou
90% dos vertebrados existentes na natureza,
a quilômetros abaixo da superfície terrestre –
enquanto somente cerca de 1% das bactérias e
inclusive, atualmente, existe renovado interesse
vírus, e menos de 5% dos fungos.
na ecologia e na diversidade da vida microbiana
Embora a real amplitude da diversidade
presente em ambientes extremos, em especial
microbiana ainda esteja sendo estudada,
porque teoriza-se que sua existência possa ser
caracterizada e melhor descrita, é importante
útil como modelo de estudo para a vida em
ressaltar que, nos últimos anos, grande parte dos
outros planetas.
avanços da biotecnologia e da agricultura deriva
Os microrganismos podem ser
das descobertas nas áreas da genética, fisiologia
considerados os pilares da vida na Terra. Ao
e metabolismo dos microrganismos. Estratégias
longo de bilhões de anos, eles evoluíram para
tradicionais de isolamento, estudo e seleção têm
todos os nichos concebíveis do planeta,
permitido explorar a diversidade genética e
remodelaram os oceanos e a atmosfera e deram
metabólica dos microrganismos visando à
origem a condições propícias aos organismos
obtenção de uma ampla variedade de produtos
multicelulares. Somente na década passada
ou processos biotecnológicos, tais como: a
começamos a investigar profundamente o
produção de novos antibióticos, fármacos e
universo microbiano, e o que descobrimos é
agentes terapêuticos ou profiláticos
incrível. Os ecossistemas microbianos se
imunológicos, hormônios e vitaminas, alimentos
comportam de várias maneiras, como
de alto teor protéico (cogumelos comestíveis e
ecossistemas de grande escala, embora existam
suplementos alimentares), fermentados (molho
exceções importantes. Analisamos os recentes
de soja, probióticos) ou processados (queijo,
avanços em nossa compreensão de como a
iogurte, vinagre), bebidas alcoólicas (vinho,
diversidade microbiana é distribuída entre os
cerveja), ácidos orgânicos (cítrico e fumárico),
álcoois (etanol), enzimas e polímeros para
6
INTRODUÇÃO
aplicações industriais e tecnológicas, além de possibilidades de geração de produtos
processos de tratamento e/ou biorremediação de especializados e de novos nichos da
poluentes e resíduos (esgotos domésticos, biotecnologia microbiana é excepcionalmente
efluentes industriais, lixo), e de biolixiviação e amplo e pode, assim, alimentar muitas grandes,
recuperação de minérios, bem como na médias e pequenas empresas com oportunidades
agricultura, em especial, na fertilização de solos de novos negócios e bioprodutos lucrativos.
(fixação biológica de nitrogênio e fósforo), no A biotecnologia microbiana constitui a
controle biológico de pragas e doenças (controle área de conhecimento e investigação
da lagarta da soja, da cigarrinha da cana de fundamental na descoberta de recursos
açúcar, de fitopatógenos como Rhizoctonia, entre microbiológicos industrialmente exploráveis.
muitos outros), ou no desenvolvimento de Ela representa uma das tecnologias mais antigas
agentes de proteção e promoção do crescimento (a história da fermentação é tão antiga quanto a
das plantas. civilização) e uma das indústrias mais recentes e
Os benefícios científicos esperados a de crescimento mais rápido (o maior número de
partir de um maior conhecimento sobre a startups, globalmente, são empresas de
diversidade microbiana são extensos, entre biotecnologia baseadas em microbiomas). O
outros, a melhor compreensão das funções campo tem, portanto, uma longa linhagem de
exercidas pelas comunidades microbianas nos experiência e experimentação e atualmente
ambientes terrestres e o conhecimento das suas desfruta de um período excepcionalmente
interações com outros componentes da emocionante de descobertas contínuas. Uma
biodiversidade, como por exemplo, as plantas e abordagem clássica das etapas de um processo
os animais. Os benefícios econômicos e de desenvolvimento de um produto
estratégicos estão relacionados, por sua vez, com biotecnológico passa, resumidamente, pela coleta
a descoberta de microrganismos potencialmente de material biológico adequado, seguida pela
exploráveis e úteis para o desenvolvimento de seleção e triagem de materiais com os atributos
novos processos biotecnológicos. Outros desejados, seleção final do(s) melhor(es)
benefícios de destaque incluem o candidato(s), a partir de uma lista reduzida de
desenvolvimento de kits diagnósticos de doenças opções e culmina com o desenvolvimento de um
humanas, de animais e de plantas, e a otimização produto comercial ou processo industrial. Este
da capacidade microbiana para a fertilização dos conceito clássico de exploração de recursos
solos e a despoluição das águas, além de biológicos ainda se mantém válido nos dias de
tecnologias de biocatálise e química verde, de hoje e constitui o modelo utilizado em diversos
produção de biopolímeros e biomateriais, setores da indústria de biotecnologia mundial.
biossurfactantes e emulsificantes, entre muitos No âmbito das aplicações microbianas em
outros bioprodutos. A diversidade de aplicações biotecnologia tradicional, o valor dos
dos microrganismos encontra-se na mesma microrganismos é geralmente definido pela
escala que a dos produtos químicos. E o mais potencialidade de aplicação direta dos mesmos
relevante – a variedade de aplicações encontra-se nos processos biotecnológicos ou pelo valor de
em franca expansão, testemunhando a explosão mercado dos produtos. O valor indireto das
de novas aplicações no campo da tecnologia de biotecnologias baseadas em processos
microbiomas. Isso significa que o leque de microbianos, contudo, é raramente contemplado,
tal como: benefícios ambientais e sociais
7
INTRODUÇÃO
decorrentes do tratamento de resíduos industriais processos de interesse. Pretende-se, igualmente,
e da poluição ambiental. Avanços científicos e além de fornecer informações, contribuir para o
tecnológicos alcançados nos últimos anos vêm estabelecimento de novas linhas de investigação
revolucionando as abordagens tradicionais de científica e o desenvolvimento de biotecnologias
exploração de recursos biológicos. O processo de inovadoras.
busca e descoberta biotecnológica em si vem
sofrendo profundas alterações em função das Referências
mudanças de modelos desencadeadas pelos
avanços em biologia molecular, genômica e LOCEY, K. J.; LENNON, J. T. Scaling laws
bioinformática. As principais forças indutoras e predict global microbial diversity. Proc. Natl
Acad. Sci. USA, v. 113, p. 5970–5975, 2016.
direcionadoras do desenvolvimento em
biotecnologia são a demanda econômica, GILBERT, J. A.; JANNSON, J. K.; KNIGHT,
direcionada pela indústria, políticas nacionais e R. The Earth Microbiome project: successes and
internacionais, frequentemente influenciadas aspirations. BMC Biol. v.12, p. 69, 2014.
pela pressão pública, e os avanços em ciência e
tecnologia. Juntos, estes componentes catalisam THOMPSON, L. R. et al. A communal
o desenvolvimento da biotecnologia, com a catalogue reveals Earth's multiscale microbial
diversity. Nature, v. 551, p. 457–463, 2017.
geração de novos mercados, solução de
Disponivel em:
problemas crônicos e emergentes, e a melhoria https://www.nature.com/articles/nature24621.
da eficiência e a redução do custo dos processos Acesso em: 01 dez. 2020. DOI:
industriais. Nesse sentido, a biotecnologia 10.1038/nature24621.
representa um exemplo primo de área de
excelência em inovação tecnológica, gerando AMIR, A. et al. Deblur rapidly resolves single-
nucleotide community sequence patterns.
tecnologias inteiramente novas para atividades
mSystems, v. 2, p. 1-7, March/April
industriais existentes e permitindo a geração de 2017. Disponivel em:
novas indústrias. https://msystems.asm.org/content/msys/2/2/e001
Este e-book foi elaborado pelos 91-16.full.pdf . Acesso em: 01 dez. 2020.
acadêmicos do Curso de Engenharia de DOI:10.1128/mSystems.00191-16.
Bioprocessos e Biotecnologia, da Unidade da
Universidade Estadual do Rio Grande do Sul THE HUMAN Microbiome Project Consortium.
Structure, function and diversity of the healthy
(UERGS) em Bento Gonçalves, como uma
human microbiome. Nature, v. 486, p. 207–214,
atividade de pesquisa proposta e orientada pelo 2012.
docente responsável pelo Componente Curricular
"Genética de Microrganismos", e representa um LLOYD-PRICE, J. et al. Strains, functions and
material disponibilizado para consulta dynamics in the expanded Human Microbioma
bibliográfica, organizado sob a forma de “Fichas Project. Nature, v. 550, p. 61–66, 2017.
Técnicas”, as quais apresentam informações
concisas e referências de pesquisas relativas a
um grupo de microrganismos que se
caracterizam como potenciais alvos de estudo e
aplicação em processos biotecnológicos,
incluindo a geração de novos bioprodutos ou
8
APRESENTAÇÃO DA FICHA TÉCNICA
9
Domínio Bacteria
O Reino Monera compreende o mais antigo grupo de microrganismos presente na Terra, bem
como o mais numeroso e diversificado. Filogeneticamente, pode ser dividido em dois grupos distintos, ou
“Domínios”: Domínio Bacteria, também denominado Eubacteria (bactérias verdadeiras), e Domínio
Archaea (arqueobactérias) – divisão proposta por Carl Woese e George E. Fox (1977), que identificaram
que as arqueobactérias (metanogênicas) são geneticamente distintas (com base em análises de RNA
ribossômico) das bactérias, e mais próximas dos eucariotos.
O Domínio Bacteria compreende procariontes unicelulares autotróficos quimiossintetizantes,
como as bactérias nitrificantes do ciclo do nitrogênio, além de espécies que desempenham um papel
fundamental na reciclagem de outros nutrientes, tais como fósforo, ferro e enxofre, ou ainda espécies
autotróficas fotossintetizantes, como as bactérias sulfurosas roxas. Outras bactérias se enquadram como
heterotróficas, como as decompositoras saprofíticas, que se alimentam de matéria orgânica morta do solo,
ou as parasitas, que adquirem alimento de um hospedeiro vivo, geralmente causando danos. Tais
organismos enriquecem o solo e são muito importantes nos ciclos biogeoquímicos, garantindo a
sobrevivência da vida na Terra. Eles também são úteis em bioprocessos industriais destinados à produção
de alguns alimentos, como queijos, iogurtes e vinagre, ou na produção de uma série de antibióticos e
outros bioprodutos de interesse farmacológico, agrícola e industrial.
Ancestral Comum
Figura 1 - Árvore filogenética baseada na análise do rRNA, proposta por Carl Woese e George E. Fox
(1977), mostrando a separação dos grandes grupos biológicos: Bacteria, Archaea e Eukarya. O Domínio
Bacteria (Reino Monera) encontra-se representado em azul.
Referências
WOESE, Carl R.; FOX, George E. Phylogenetic structure of the prokaryotic domain: The primary kingdoms.
Proceedings of the National Academy of Sciences, v. 74, n. 11, p.5088-5090, 1977. Disponivel em:
https://www.pnas.org/content/74/11/5088. Acesso em: 01 dez 2020. DOI: 10.1073/pnas.74.11.5088.
10
1. BACTÉRIAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
peritríqueos (presentes ao longo de toda a célula)
Índice ou polares (5). Grande parte dessas bactérias são
gram-negativas (2) (5), ou seja, possuem fina
1.1 Acetobacter aceti
camada de peptideoglicano em sua parede
1.2 Acidithiobacillus ferrooxidans celular. Utiliza o etanol como fonte de carbono,
1.3 Acidithiobacillus thiooxidans transformando-o em ácido acético e liberando
CO2 e H2O. É catalase-positiva e oxidase-
1.4 Aphanizomenon flos-aquae
negativa (1).
1.5 Arthorospira platensis Além disso, possuem temperatura e pH
1.6 Bacillus thuringiensis ótimos de 30ºC e 5,0-6,5, respectivamente. Em
se tratando de reprodução, essas bactérias se
1.7 Bifidobacterium animalis subsp, lactis reproduzem assexuadamente por fissão binária e
1.8 Cupriavidus metallidurans CH34 não formam esporos (9).
São aeróbias estritas, por isso demandam
1.9 Deinococcus radiodurans
ambientes com presença de oxigênio. Quando
1.10 Geobacillus stearothermophilus cultivada, se apresenta em colônias pálidas, não
1.11 Geobacter metallireducens produz pigmentos e se reproduz por brotamento
(4)(11).
1.12 Ideonella sakaiensis
1.13 Magnetospirillum magnetotacticum
1. 14 Photorhabdus luminescens
1.15 Streptococcus pyogenes
1.16 Streptomyces griséus
12
1. BACTÉRIAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
Disponível em: https://sciencing.com/bacteria-
life-cycle-12211284.html. 5 june 2020. Acesso a
potencialmente destinados à integração em 5 jun. 2020
dispositivos associados a folhas artificiais. Tal
pesquisa contribui para o estudo e 7. NAKANO, S.; FUKAYA, M.; HORINOUCHI,
S. Putative ABC Transporter Responsible for
desenvolvimento de tecidos biológicos,
Acetic Acid Resistance in Acetobacter aceti.
permitindo a criação de sistemas Applied and Environmental Microbiology,
multifuncionais, vivos e auto-replicantes (3). Tóquio, v. 72, n. 1, p. 497-505, 2006. Disponível
em: https://dx.doi.org/10.1128/AEM.72.1.497-
Referências 505.2006. Acesso em: 30 ago. 2019.
Referências
1. BANK, Eric. Three Mechanisms of Genetic
Recombination in Prokaryotes. Sciencing.com.
Publicado a 05/03/2018. Disponível em:
https://sciencing.com/three-mechanisms-
genetic-recombination-prokaryotes-
18252.html. Acesso em: 5 jun. 2020
20
1. BACTÉRIAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
21
1. BACTÉRIAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
substâncias com propriedades anti-inflamatórias
1.4 Aphanizomenon flos-aquae e antioxidantes (2). No tópico de aplicações
A Aphanizomenon flos-aquae (AFA) é biotecnológicas serão detalhados os compostos
considerada uma cianobactéria, filo que de maior interesse.
compreende parte das microalgas. É amplamente
encontrada em lagos de regiões temperadas, mas
já foi vista em lagos de regiões de alta latitude. A
“troca de ambientes” de algumas espécies entre
regiões subárticas e temperadas, resulta ser
recorrente, dada a atual problemática do
aquecimento global. Sendo assim, compreender
as estratégias ecológicas da A. flos-aquae é
importante quando considerada a possibilidade
da expansão deste microrganismo (4).
É conhecida por ocorrer espontaneamente Figura 1 - Microalga Aphanizomenon flos-aquae.
no lago Upper Klamath (Oregon, EUA), inibindo As setas indicam os heterocistos de cada tricoma.
o crescimento de outras espécies de microalgas, Barra de escala = 20 µm. Fonte: (4)
quando em eflorescência algal. O lago Upper
Klamath é o ecossistema ideal para que a AFA Taxonomia
cresça, especialmente, ao final do verão e início Tabela 1 - Classificação taxonômica da A. flos-
do outono (2). aquae.
Características Biológicas Domínio Bacteria
A microalga Aphanizomenon flos-aquae Filo Cyanobacteria
(Figura 1) é um microrganismo unicelular,
procarionte, que pertence ao filo cianobactéria Classe Cyanophyceae
(2). É uma microalga filamentosa (existe na
Ordem Nostocales
forma de tricomas) cujo comprimento é variável,
em até centenas de micrometros, é aflagelada, Família Aphanizomenonaceae
móvel, possui coloração verde-azulada e é Gênero Aphanizomenon
fotoautótrofa. Ademais, vive em ambientes
aquáticos, tanto em água doce quanto salgada, Espécie A. flos-aquae
sendo capaz de sobreviver em condições de Fonte: (1)
baixa concentração de CO2, nitrogênio ou
fósforo (2)(4). Ciclo de Vida e Mecanismos Genéticos
Ademais, prolifera-se abundantemente nos Diferentemente de outras espécies de
meses do verão enquanto que nos meses frios microalgas estudadas neste livro, a literatura
reduz suas atividades. Diante de alterações aborda o ciclo de vida anual da A. flos-aquae
ambientais, como variações na temperatura ou na (Figura 2). Esta cianobactéria sobrevive no
intensidade de luz, os acinetos (células inverno, na forma de acinetos e, ao final da
vegetativas) começam a ser produzidos no primavera, com o aumento de temperatura, são
tricoma, como mecanismo de proteção (4). recrutados na água dando lugar a células
A cianobactéria, é fonte de componentes vegetativas (tricomas). Os fatores que
bioativos como ácidos graxos poli-insaturados, influenciam no crescimento destas células são a
proteínas, pigmentos e minerais, e produz
22
1. BACTÉRIAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
benefícios a saúde ganhos pelo consumo de
temperatura da água, o pH e a duração do dia e a Aphanizomenon flos-aquae (3).
presença de outras espécies fitoplanctônicas. Ao A estação do inverno estimula a AFA a
crescer, formam o que se conhece por produzir altos níveis de ácidos graxos, incluindo
eflorescência algal de tricomas muito largos, que o ômega 3. Além disso, esta microalga concentra
sobem até a superfície da água. Isso se dá na altos teores de vitaminas, em especial, as do
estação do verão, estendendo-se até o outono. grupo B. A caráter de exemplo, a vitamina B12 é
Em seguida, a mudança da estação inviabiliza o essencial para a síntese de ácidos nucleicos,
crescimento, favorecendo o desenvolvimento de eritrócitos e formação da mielina. A sua
acinetos, por meio da fragmentação dos deficiência pode acarretar em severas desordens
tricomas. Os novos fragmentos, em especial os associadas ao sistema nervoso e, por isso, o seu
que estão próximos do fundo sedimentado, são suplemento é importante em determinados
decompostos por microrganismos ou consumidos estilos de dieta (3).
por plânctons (4). A A. flos-aquae é rica em pigmentos,
como o betacaroteno e clorofilas. As suas
ficocianinas possuem propriedades antioxidantes
e anti-inflamatórias significativas (2). Também é
capaz de produzir compostos com propriedades
antibacterianas e antimutagênicas (3).
Ademais, esta cianobactéria contém
significativos níveis de feniletilamina, um
neuromodulador ausente em determinados tipos
de depressão e distúrbios mentais. Existe um
grande interesse pela pesquisa e
desenvolvimento de compostos bioativos
utilizados como agentes neuroregenerativos e
neuroprotetivos no combate à demência (2).
Figura 2 - Ciclo de vida anual da A. flos-aquae. Alguns estudos reportaram a presença de
Fonte: (4). toxinas em suplementos alimentares,
supostamente produzidas pela A. flos-aquae,
Genoma
como microcistinas e anatoxinas. No entanto, há
Tabela 2 - Genoma representativo da A. flos- controvérsias sobre este assunto, pois outros
aquae. estudos revelam que outras espécies é que
produzem estas toxinas e têm sua “identidade”
Genoma Tamanho GC Nº de Nº de
(Mb) (%) proteínas genes trocada com a AFA (SakerA). Alguns
NIES-81 5,85 38,8 4787 5260 departamentos estaduais da saúde dos Estados
Fonte: (1). Unidos recomendam a concentração máxima de
1mg/Kg de microcistina- LR em suplementos.
Aplicações Biotecnológicas Alguns estudos indicam que uma concentração
O interesse pela pesquisa e em até 10mg/Kg não é nociva (3).
industrialização das microalgas deve-se ao seu Referências
fácil manejo e suas aplicações biotecnológicas
diversas e acessíveis. Nas últimas duas décadas, 1. NATIONAL CENTER FOR BITECHNOLOGY
INFORMATION. Aphanizomenon flos-aquae.
houve um crescente interesse pelos potenciais Disponível em:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/genome/?term=ah
23
1. BACTÉRIAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
24
1. BACTÉRIAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
sobrevivência são em pH básico com
temperatura ideal entre 30-35ºC (2).
A sua parede celular é constituída por
1.5 Arthorospira platensis mucopolissacarídeos que permitem a
Mais conhecida por Spirulina, a A. preservação de componentes como as vitaminas
platensis é uma microalga verde-azulada (2) que e os ácidos graxos poli-insaturados (2). Ademais,
já foi isolada no lago Chenghai (China), em a sua conformação é influenciada pelas
lagos de origem tectônica da África Oriental e condições ambientais externas, tendo a forma
também em lagos alcalinos (7). linear mais adaptada a situações de estresse ou a
Inicialmente pertencia ao gênero luminosidade intensa (15).
Spirulina, mas passou a fazer parte do gênero A A. platensis se destaca pela sua
Arthrospira ssp, por ser considerada um grupo composição e pelos produtos que gera. É uma
distinto (10). fonte de proteínas, superior à carne, peixes e soja
A Arthrospira platensis é uma (3), e a maioria delas contém todos os
cianobactéria. Estes microrganismos são aminoácidos essenciais, inclusive a metionina,
conhecidos como elo evolucionário entre as aminoácido ausente na maioria das
bactérias e as algas, visto que apresentam cianobactérias e algas (2). A sua composição é
estrutura morfológica semelhante a das bactérias, abundante em vitaminas, como a
porém um sistema fotossintetizante similar ao cianocobalamina (B12), pirodoxina (B6),
das algas. Com isso, as cianobactérias riboflavina (B2), tiamina (B1), tocoferol (E), e
compreendem uma variedade de microrganismos fitonadiona (K), além do ácido pantotênico (B5).
com amplas características morfológicas, Também constam, na sua composição, os ácidos
bioquímicas e fisiológicas (2). graxos poli-insaturados, como os ácidos
Os bioprodutos de origem microalgal assim essenciais alfa-linolênico, gama-linolênico,
como o extrato de biomassa algas, vêm tendo ácidos palmítico, linoleico e oleico (2).
notória visualização no mercado mundial. Por fim, apresenta muitos pigmentos,
Assim, o uso industrial das microalgas vem dentre os quais destacam-se os carotenóides,
crescendo e observa-se o aumento das pesquisas como o β-caroteno (3) e minerais como o cálcio,
na área biotecnológica aplicadas às substâncias o ferro e o fósforo (2).
sintetizadas por estes microrganismos (2).
Neste contexto, destaca-se a A. platensis,
cujo fácil cultivo permite a produção de
compostos de interesse para as indústrias
alimentícia, química, cosmética e farmacêutica,
dentre outras (2).
Características Biológicas
A microalga Arthrospira platensis (Figura
1) é uma cianobactéria. É um microrganismo
procarionte filamentoso que forma tricomonas
cilíndricos multicelulares e se dispõe na forma
espiralada. Possui coloração verde-azulada, é
aflagelada, móvel e fotoautótrofa, tendo o Figura 1 - Microalga Arthrospira platensis.
dióxido de carbono (CO2) e a água como Fonte: (12).
principais fontes de carbono e eletrólitos,
respectivamente (5)(13).
Vive em ambientes aquáticos, tanto salinos
quanto alcalinos. As condições ótimas de
25
1. BACTÉRIAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
Taxonomia
Tabela 1 - Classificação taxonômica da A.
platensis. É uma microalga que pertence ao
domino Bacteria.
Domínio Bacteria
Filo Cyanobacteria
Figura 2 - Ciclo de vida da Arthrospira platensis.
Classe Oscilatoriophycideae Fonte: (2)
26
1. BACTÉRIAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
Research, v. 17, n.2, p. 85–103, 2010.
Disponivel em: 10.1093/dnares/dsq004 . Acesso
absorvendo esses elementos, evitando assim, a em: 01 dez. 2020.
eutrofização das águas (9). Ademais, ela é capaz
6. KLANCHUI, A. et al. Systems biology and
de assimilar de dióxido de carbono, o que
metabolic engineering of Arthrospira cell
possibilita o tratamento das emissões industriais factories. Computational andstructural
(2). biotechnology journal, [S.L.], v. 3, n. 4, 2012.
Outrossim, nos seus estudos Berzegari, A.
7. MASOJÍDEK, J.; TORZILLO, G. Mass
et al. (2004) propuseram o uso desta microalga cultivation of Freshwater Microalgae.
como vacina comestível baseada em plantas Encyclopedia of Ecology. Elsevier. 2008.
(PEV). O objetivo destas vacinas é a viabilidade p. 2226–2235, 2008. Disponivel em:
econômica, principalmente em áreas remotas, 10.1016/b978-008045405-4.00830-2. Acesso em:
01 dez, 2020.
uma vez que nesses lugares é difícil a
preparação, o armazenamento, a distribuição e o 8. NATIONAL CENTER FOR
acesso ao maior número de doses de vacina em BIOTECHNOLOGY INFORMATION.
um curto período de tempo. A A. platensis é uma Arthrospira platensis C1. Disponível em:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/genome/1261?gen
candidata devido ao fato de que, em comparação ome_assembly_id=171005. Acesso em: 21 maio
com outros organismos e plantas, apresenta uma 2020
fácil manipulação genética, grande produção de
biomassa, simples purificação e fácil 9. NOÜE, J.; PAUW, N. The potencial of
microalgal biotechnology: a rewiew of
armazenamento. production and uses of microalgae.
Biotechnology Advances, v.6, p.725-770, 1988.
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10. PULZ, O.; GROSS, W. Valuable products from
1. BARZEGARI, A. et al. The search for a biotechnology of microalgae. Applied
promising cell factory system for production of Microbiology and Biotechnology, v.65, n.6,
edible vaccine spirulina as a robust alternate to p.635-648, 2004.
plants. Iran, Human vaccines &
immunotherapeutics, v. 10, n. 8, p. 2487-2502, 11. RIPPKA, R. et al. Generic assignments, strain
2014. histories and properties of pure cultures of
cyanobacteria. Journal of General
2. BORBA, V.; FERREIRA, L. Cianobactéria Microbiology, v. 111, p.1-61, 1979.
arthrospira (spirulina) platensis: biotecnologia e
aplicações. [S.I]: Instituto Oswaldo Cruz - Centro 12. GROW SPIRULINA PLATENSIS CULTURE
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3. COHEN, Z. The chemical of Spirulina. In: %2F%2Falgae-lab.com%2Fshop%2Fliving-
VONSHANK, A. Spirulina plantesis algae%2Fculture-starter%2Fspirulina-platensis-
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4. COLLA, L. et al. Production of biomass and AAAAAdAAAAABAD. Acesso em: 21 maio
nutraceutical compounds by Spirulina platensis 2020
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Bioresource Technology, n. 98, p. 1489–1493, 13. TOMASELLI, l. Morphology, ultrastructure and
2007. taxonomy of Arthrospira (Spirulina). In:
VONSHAK, A. Spirulina platensis
5. FUJISAWA, T. et al. Genomic structure of an (Arthrospira). Physiology, cell-biology and
economically important cyanobacterium biotechnology. London: Taylor & Francis, 1997.
Arthrospira (Spirulina) plantesis NIES-39. DNA
27
1. BACTÉRIAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
28
1. BACTÉRIAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
Taxonomia
1.6 Bacillus thuringiensis
Tabela 1 - Classificação taxonômica da Bacillus
A Bacillus thuringiensis é uma bactéria
thuringiensis.
conhecida por ser produtora de cristais proteicos
com atividade inseticida. B. thuringiensis foi
Domínio Bacteria
descrito, em 1915, na Alemanha, isolado a partir
de uma espécie de traça de farinha a Anagasta
Filo Firmicutes
kuehniella. Anteriormente, em 1902, no Japão, o
pesquisador Ishiwata já havia isolado uma
Classe Bacilli
bactéria a partir de Bombyx mori popular bicho-
da-seda, que posteriormente, se soube ser Ordem Bacillales
também uma subespécie de B. thuringiensis. A
comercialização do primeiro produto à base de Família Bacillaceae
B. thuringiensis foi iniciada em 1938, na França,
com o nome de “Sporeine” (1). Gênero Bacillus
29
1. BACTÉRIAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
Figura 2 - Ciclo de vida de bactérias do gênero
causa paralisia do intestino médio e interrupção Bacillus, (a) fase vegetativa de crescimento com
da alimentação pelo hospedeiro infectado. A multiplicação celular por divisão binária, (b) fase
presença de um cristal parasporal, que está fora estacionária com formação de esporos. Fonte:
do exosporium do endosporo, é indicativa da (4).
produção da toxina e serve como um marcador Genoma
para esta espécie. A ativação da toxina
As proteínas Cry são as principais toxinas
normalmente requer um ambiente de alto pH,
constituintes dos cristais que caracterizam B.
como os ambientes alcalinos dos insetos,
thuringiensis. São codificadas por genes que
intestino médio seguido de proteólise. A ligação
geralmente se localizam em plasmídeos e com
da toxina a um receptor nas células epiteliais
menor frequência, no cromossomo bacteriano
intestinais serve para posicionar a toxina para se
(1). O cromossomo de B. thuringiensis é circular
inserir na membrana apical onde forma um
(3).
poro. O fluxo de água e íons para o citoplasma
resulta em eventual lise levando a danos nos Tabela 2 - Projeto genômico de Bacillus
tecidos (3). thuringiensis ASM211944v1, sequenciado em
Outra forma de atuação da proteína Cry é 2017, depositado no Genbank conforme números
chamada de “transdução de sinal”, onde a de acesso.
ligação da proteína Cry com receptores
Genoma Tamanho % CG Nº de Nº de
específicos induziria uma série de reações
(Mb) proteínas genes
intracelulares provocando um desequilíbrio da CP005935.1 6 35,4 5743 6148
pressão interna celular. A ação das toxinas, seja Fonte: (3).
por qualquer uma das formas de atuação,
“formação de poro” ou “transdução de sinal”, Aplicações Biotecnológicas
resulta na paralisia do aparelho digestório, A produção de cristais tóxicos por B.
ocasionando morte por inanição, paralisia geral thuringiensis a torna um organismo de alto
dos músculos e septicemia. O esporo dessa potencial como entomopatógeno em controle
bactéria possui formato elipsoidal e localiza-se biológico de pragas que afetam a agricultura.
na região central ou paracentral quando no Entre as vantagens dos bioinseticidas estão a alta
interior da célula-mãe. Ao final da esporulação, especificidade, menor risco ambiental e a saúde
o cristal proteico tóxico corresponde a cerca de humana, menor frequência de resistência nos
20% a 30% do peso seco da célula, sendo insetos alvo e a possibilidade do
liberado no momento da lise celular (1). entomopatógeno se multiplicar no ambiente,
aumentando seu tempo de permanência (1).
Outro campo onde os bioinseticidas à base de B.
thuringiensis são utilizados é na saúde, por meio
do biocontrole de insetos vetores de doenças
como dengue, malária e febre amarela. Além
disso, vários genes de toxinas específicas para
uma variedade de insetos estão sendo usados em
engenharia genética projetando plantas que
produzem a toxina, eliminando a necessidade de
produzir quantidades suficientes de esporos de B.
thuringiensis (3).
30
1. BACTÉRIAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
Referências
31
1. BACTÉRIAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
possivelmente pela regulação da expressão de
1.7 Bifidobacterium animalis subsp. lactis quimiocinas e citocinas.
32
1. BACTÉRIAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
35
1. BACTÉRIAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
que permite uma ampla defesa por parte da
bactéria (1). O genoma completo de C.
metallidurans CH34 pode ser consultado na
plataforma NCBI Nucleotide database por meio
de número NC_007973.1 (4).
Tabela 2 - Informações dos genomas associados
à Cupriavidus metallidurans CH34.
Tamanho Nº de Nº de
Genoma GC% Ano
(Mb) proteínas genes
Cromossomo
3,93 63,8 3522 3652 2014
Circular
Fonte: (4).
Aplicações Biotecnológicas
Figura 2 - Mecanismo de reprodução da bactéria
Cupriavidus metallidurans CH34. Esquerda - As Estudos demonstraram que essa bactéria é
células procarióticas se reproduzem por meio da capaz de remover totalmente Amerício-241 de
fissão binária, onde cada cromossomo replicado rejeitos radioativos líquidos pós 6 horas de
estará presente em cada uma das células-filhas. cultivo (2), indicando o potencial de C.
Direita – Reprodução sexual atribuída à metallidurans para biorremediação de locais
Cupriavidus metallidurans. O fator F será contaminados radioativamente.
transferido da célula doadora para a célula Ademais, em contato com o ouro (Au), a C.
receptora. Fonte: (5). metallidurans CH34 produz biofilmes, de forma
a impedir a entrada do metal na célula, retendo-o
Genoma
na sua parede celular. Além disso, também pode
A resistência dessa bactéria a íons acumular partículas de Au em seu interior,
metálicos deve-se à transferência horizontal de fazendo-o não interferir em seu metabolismo. A
genes durante sua história evolutiva. C. partir disso, pode-se construir biossensores com
metallidurans CH34 possui dois plasmídeos, a C. metallidurans CH34 para análise de rejeitos
pMOL30 e pMOL28 (4), os quais garantem a de minério, o que, nesses casos, otimizaria a
sua sobrevivência em locais contendo altas busca de ouro (6).
concentrações de metais e, também, estabilidade Referências
segregacional. No plasmídeo pMOL30 estão
presentes cinco operons de resistência a Cd2+, 1. BIONDO, R. Engenharia Genética de
Cupriavidus metallidurans CH34 para a
Zn2+, Co2+, Pb2+, Cu2+, Hg2+ e Ag+, enquanto que Biorremediação de Efluentes contendo Metais
no plasmídeo pMOL28 três operons são Pesados. 2008. 171 f. Tese (Doutorado em
responsáveis pela resistência a Co2+, Ni2+, Hg2+ e Biotecnologia) – Instituto de Ciências Biomédias,
CrO42-. Além disso, esse microrganismo ainda Universidade de São Paulo, São Paulo. 2008.
Disponível em:
possui um megaplasmídeo, que contém os genes http://pct.capes.gov.br/teses/2008/33002010156P
ou operons que estão relacionados a resistência a 0/TES.pdf. Acesso em: 22 out. 2019.
Cd2+, Zn2+, Bi2+, Tl+, Ag+ e Cu2+ e o seu próprio
cromossomo possui uma variedade de genes de 2. BORBA, T. R. Estudo da Aplicação de
Biossorventes no Tratamento de Rejeitos
resistência a metais. Quando na presença de Radioativos Líquidos contendo Amerício-241.
determinado íon metálico, C. metallidurans 2010. 79 f. Dissertação (Mestrado em Ciências
CH34 tem a expressão de múltiplos operons, não da Área de Tecnologia Nuclear – Aplicações) –
somente aquele relacionado ao íon específico, o Universidade de São Paulo, São Paulo. 2010.
Disponível em:
36
1. BACTÉRIAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/85/85
131/tde-29082011-103325/pt-br.php. Acesso em:
23 out. 2019.
37
1. BACTÉRIAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
dose de radiação absorvida é, centenas de vezes
maior, quando comparada a outros organismos
1.9 Deinococcus radiodurans
(3).
40
1. BACTÉRIAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
41
1. BACTÉRIAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
como: glicose, frutose, manose, sucrose e
1.10 Geobacillus stearothermophilus maltose com produção de ácidos. Ainda pode
utilizar hidrocarbonetos e maltose como fonte de
A bactéria G. stearothermophilus foi
energia (1)(2)(3).
descrita, pela primeira vez, em 1920, como
Bacillus stearothermophilus, depois de ser Taxonomia
encontrada em milho enlatado (1). Em 2001,
Tabela 2 - Classificação taxonômica da
juntamente a diversas outras bactérias do gênero
Geobacillus stearothermophilus.
Bacillus, foi reclassificada como um membro do
gênero Geobacillus, após análise microbiana dos Domínio Bacteria
campos de petróleo de altas temperaturas (3).
Filo Firmicutes
Características biológicas
A Geobacillus stearothermophilus é Classe Bacilli
encontrada distribuída no solo, fontes termais,
sedimentos oceânicos e em alimentos de baixa Ordem Bacillales
acidez, onde causa deterioração. É gram-
positiva, tem forma de bastonetes e aparece Família Bacillaceae
isolada ou em cadeias. Mesmo sendo gram-
positiva, a coloração de G. stearothermophilus Gênero Geobacillus
pode ter variados resultados. Além disso, possui
Espécie G. stearothermophilus
mobilidade, utilizando flagelos peritríqueos para
locomoção.
Fonte: (2).
É um microrganismo termófilo,
sobrevivendo em uma larga faixa de Ciclo de Vida e Mecanismos Genético
temperatura, de 30 a 75ºC (T ótima: 55-65ºC).
Sua forma de reprodução se dá por
Entretanto, já foi encontrado em ambientes com
esporulação e, em condições ideais, seu tempo
temperatura de 130°C. Também apresenta larga
de geração é de, aproximadamente, 25 minutos.
faixa de pH, já que pode sobreviver em
Em condições de baixo nível de nutrientes, esse
ambientes com pH variando de 2 a 11 (pH
microrganismo produz endósporos para
ótimo: 6,2-7,5).
sobreviver. No processo, o protoplasto do esporo
é desidratado, o que o torna muito resistente ao
calor e a produtos químicos. Algumas proteínas
ainda se ligam aos esporos, aumentando a
resistência à desidratação (1).
44
1. BACTÉRIAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
45
1. BACTÉRIAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
receptora combina o DNA da célula doadora
com o seu próprio (1).
A Geobacter metallireducens expressa
flagelos e fímbrias quando está em meio de Fe
(III) insolúvel ou Mn (IV) oxidado. Aponta-se
que esta bactéria traça uma trilha química
quando estes receptores de elétrons estão em
escassez, sintetizando assim os flagelos, que
permitam a busca por metais (2). Ademais,
chamam a atenção os mecanismos capazes de
ativar para a metabolização de uma variedade de
metais (3), já mencionados.
Como se trata de uma bactéria, a
reprodução mais comum atribuída à Geobacter
metallireducens é a divisão celular por fissão
binária (Figura 2 à esquerda). O seu genoma
haploide replica-se e é repartido entre as novas Figura 2 - Esquerda - As células procarióticas se
células filhas. Geralmente, num lugar específico reproduzem por meio da fissão binária, onde
da molécula de DNA (origem de replicação) é cada cromossomo replicado estará presente em
onde se inicia o processo de cópia do material cada uma das células-filhas. Direita –
genético. Todavia, este lugar não é totalmente Reprodução sexual atribuída à Geobacter
conhecido. Os dois cromossomos “filhos” metallireducens. O fator F será transferido da
recém-replicados se afastam para lados opostos, célula doadora para a célula receptora. Fonte:
ficando juntos à membrana plasmática. Entre os (7).
polos (no centro da célula) é formada uma nova
Genoma
membrana plasmática e parede celular (7).
Após a ativação de mecanismos genéticos, Tabela 2 - Genoma referencial da Geobacter
inicia-se o processo de estrangulamento celular, Genoma Tamanho Nº de GC (%) Nº de proteínas
(Mb) genes
a partir do centro da célula, dando lugar a duas
novas células, cada uma com uma cópia idêntica GS-5 4 3629 59,51 3516
de cromossomos (7).
metallireducens.
Por fim, não se descarta a forma de
Fonte: (6).
reprodução sexuada, no entanto, não se encontra
na literatura a descrição desse método. Ainda Aplicações biotecnológicas
assim, a reprodução de forma sexuada (Figura 2
à direita), é maioritariamente por conjugação e Um papel importante deste microrganismo
ocorre quando há contato físico entre duas é na restauração ambiental, a partir do seu uso
células, geralmente via pilus. Uma delas (célula para remover contaminantes de metal ou
doadora) aporta um pequeno segmento linear de compostos orgânicos nocivos, de águas
DNA (F-plasmídeo ou fator F) que será subterrâneas poluídas (2).
transferido para a outra (receptora, fator F Um potencial biotecnológico desta espécie,
ausente). Nesse momento, a enzima DNA descrito pelo Geobacter Project (8) inclui sua
polimerase sintetiza uma fita complementar para ação na destruição de contaminantes derivados
gerar a dupla fita de DNA. Em alguns casos a do petróleo em águas subterrâneas contaminadas,
célula doadora transfere também DNA na aceleração da degradação de poluentes, na
cromossomal. A partir de então, a célula remoção de metais radioativos.
46
1. BACTÉRIAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
obacter+metallireducens. Acesso em: 18 jun.
2020
Ademais, a habilidade desta e de outras
espécies de geobactérias de transferir elétrons 7. PIERCE, Benjamin A. Genética: um enfoque
conceitual. 5. ed. Rio de Janeiro:Guanabara
para uma superfície de eletrodos, permitiu a
Koogan, 2016. p. 58-60.
elaboração de células combustíveis microbianas,
cuja função é converter resíduos de matéria 8. SCHOLARWORKS. Environmental
orgânica em eletricidade (8). Biotechnology, Geobacter Project. Disponível
em: https://scholarworks.umass.edu/geobacter/
Acesso em: 23 out. 2019.
Referências
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Recombination in Prokaryotes. Sciencing.com.
Publicado em 05/03/2018. Disponível em:
https://sciencing.com/three-mechanisms-genetic-
recombination-prokaryotes-18252.html. Acesso
em: 5 jun. 2020
47
1. BACTÉRIAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
49
1. BACTÉRIAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
espessura) de baixa cristalinidade (macio) de
PET em, aproximadamente, seis semanas,
enquanto a enzima PETase responsável
degrada PET de alta cristalinidade (duro) 30
vezes mais lento. Uma grande quantidade de
PET fabricada é altamente cristalina (por
exemplo, garrafas de plástico), assim pensa-se
que todas as aplicações potenciais da enzima I.
sakaiensis PETase em programas de
reciclagem terão que ser precedidas por
otimização genética da enzima (9).
Tais otimizações vêm sido estudadas
com sucesso através de mutagênese estrutura-
guiada e sítio-guiada da enzima PETase, em
prol de aumentar sua eficiência catalítica,
buscando aumentar o sítio de ligação ao
Figura 2 - Esquerda - As células procarióticas se
substrato (9).
reproduzem por meio da fissão binária, onde
Em 2018, fora testado o efeito de fusão
cada cromossomo replicado estará presente em
de peptídeos de sinalização de proteínas de
cada uma das células-filhas. Direita –
excreção de E. coli Sec-dependentes e SRP-
Reprodução sexual. O fator F será transferido da
dependentes com a IsPETase em construção de
célula doadora para a célula receptora. Fonte: (6)
vetores de clonagem. O resultado foram
Genoma vetores que efetivamente expressam e
excretam a enzima pro meio extracelular e que
Tabela 2 - Genoma referencial da Ideonella
mantém sua capacidade PETlítica (7).
sakaiensis.
Genoma Tamanho Nº GC% Nº Referências
(Mb) Genes Proteínas
Não 6,14 5,636 72,9 5,451 1. AL-SABAGH, A. M. et al. Greener routes for
mencionado recycling of polyethylene terephthalate.
Fonte: (5). Egyptian Journal of Petroleum, v. 25, n. 1. p.
53-64, 2016. Disponivel em:
Aplicações Biotecnológicas https://www.sciencedirect.com/science/article/pii
/S1110062115000148. Acesso em: 5 jun. 2020.
A descoberta de Ideonella sakaiensis Doi: 10.1016/j.ejpe.2015.03.001
tem importância potencial para a degradação
2. BANK, Eric. Three Mechanisms of Genetic
de plásticos PETS. Antes da sua descoberta, os
Recombination in Prokaryotes. Sciencing.com.
únicos degradadores conhecidos de PET, era Publicado a 05/03/2018. Disponível em:
um pequeno número de bactérias e fungos, https://sciencing.com/three-mechanisms-genetic-
incluindo Fusarium solani. E nenhum desses recombination-prokaryotes-18252.html> Acesso
em: 5 jun 2020.
organismos degrada PET como uma fonte de
carbono e de energia primária. A descoberta 3. LIU, B. et al. Protein crystallography and site-
de I. sakaiensis estimula estudos na área de direct mutagenesis analysis of the poly (ethylene
biodegradação de PET como um método de terephthalate) hydrolase petase from Ideonella
sakaiensis. ChemBioChen, v.19. n. 14. p. 1471-
reciclagem e de biorremediação (9).
1475, 2018.
A bactéria selvagem é capaz de
colonizar e quebrar um filme (0,2 mm de
50
1. BACTÉRIAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
51
1. BACTÉRIAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
Taxonomia
1.13 Magnetospirillum magnetotacticum Tabela 1 - Classificação taxonómica da
A Magnetospirillum magnetotacticum é Magnetospirillum magnetotacticum.
uma bactéria magnetotáctica conhecida por se Bacteria
Domínio
orientar ao longo das linhas de um campo
magnético (6). M. magnetotacticum foi isolada
Filo Proteobacteria
das zonas microaeróbicas de sedimentos de água
doce, em 1979, por (Blakemore et al. 1979), que Classe Alphaproteobacteria
a chamou inicialmente de Aquaspirillum
magnetotacticum, posteriormente, alterando para Ordem Rhodospirillales
o gênero atual (3).
Família Rhodospirillaceae
Características biológicas
A M. magnetotacticum (Figura 1), é Genêro Magnetospirillum
uma bactéria Gram-negativa, magnetotáctica,
Espécie M. magnetotacticum
microaerofílica com o crescimento ideal a 30ºC,
formato de espirilo helicoidal, mobilidade por Fonte: (2).
meio de flagelos bipolares, nutrição quimio-
heterotróficas e habitat natural em águas doces Ciclo de vida e Mecanismos Genéticos
com baixa [O2] (1). A magnetotaxia de M. magnetotacticum
decorre de sua capacidade de formar
invaginações na membrana citoplasmática,
chamados magnetossomas, onde ocorre a síntese
de óxido de ferro biomineralizado magnetite
(Fe3O4) que são nanocristais ferromagnéticos.
Esses nanocristais de magnetite são dispostos
dentro dos magnetossomas em forma de cadeia
paralela ao eixo longitudinal do movimento da
célula, formando uma agulha de bússola e
Figura 1 - Micrografia eletrônica da linhagem
conferindo à bactéria, o comportamento
Aquaspirillum magnetotacticum MS-1
magnetotáctico por meio de natação dirigida ao
renomeada para o gênero Magnetospirillum.
longo das linhas do campo geomagnético (1,3,5).
Fonte: (1).
Magnetospirillum magnetotacticum utiliza um
sistema mediado por sideróforos para aquisição
de ferro (3). A reprodução de
alphaproteobacteria pedunculadas ocorre
inicialmente com a perda dos flagelos e com
posterior brotamento de um pedúnculo que se
alonga e a célula se divide até se separar como
uma nova célula completa, seguido do
crescimento dos flagelos bipolares (7).
52
1. BACTÉRIAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
452-455, 1 out. 1981. Microbiology Society.
Disponivel em:
http://dx.doi.org/10.1099/00207713-31-4-452.
Acesso em: 10 abr. 2020.
60
1. BACTÉRIAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
laboratório (6,7). Essas regiões terminais
possuem sequências repetitivas que codificam,
dividem para formar esporos durante um
principalmente, funções relacionadas a
processo de diferenciação celular, constituindo o
regulação, secreção, diferenciação, transporte e
micélio aéreo, que em condições ambientais
biossíntese de antibióticos (7). O genoma de S.
adversas, geralmente entra na fase estacionária
griseus apresenta tamanho bastante grande
do ciclo de vida onde se ativam as vias
comparado a outros genomas baterianos.
metabólicas associadas à produção de
Outra característica é o alto conteúdo de citosina
metabólitos secundários (10). Espécies do gênero
e guanina (C-G), sendo em torno de 70% (10).
Streptomyces são catalase positiva, reduzem
nitratos a nitritos e degradam adenina, esculina,
Tabela 2 - Projeto genômico de Streptomyces
caseína, gelatina, hipoxantina, amido, e L –
griseus IFO 13350 depositado no Genbank sob
tirosina (7). Excretam uma alta concentração de
número de acesso AP009493.1.
enzimas digestivas e possuem atividades
proteolíticas, decomposição de queratina, Genoma Tamanho % Nº de Nº de Ano
(Mb) CG proteínas genes
quitinas, lignocelulose, amido e também Linear 8.55 72,2 6.935 7.167 2008
participam no ciclo de aminoácidos e nitrogênio Fonte: (5).
(5,7). Além disso, são geralmente capazes de
crescer em meio composto de sais inorgânicos e Aplicações Biotecnológicas
glicose (7).
O gênero Streptomyces é reconhecido
por sua capacidade de produzir uma ampla
variedade de metabólitos secundários
(antibióticos, parasiticidas, herbicidas e
substâncias farmacologicamente ativas,
incluindo agentes antitumorais e
imunossupressores) aplicados na medicina,
agricultura e veterinária (6,8). A linhagem de
S.griseus IFO 13350 produz 34 tipos diferentes
de metabólitos secundários como estreptomicina,
Figura 2 - Ciclo de vida e características grixazona, isorenierateno, HPQ melanina,
macroscópicas e microscópicas de levedura do alquilresorcinol, nocardamina, 2-
gênero Streptomyces. Fonte: (10). metilisoborneol, entre outros (6). Devido à
morfogênese complexa e importância industrial e
Genoma
médica, S. griseus tornou-se um modelo de
procarionte para o estudo da diferenciação
Diferentemente da maioria dos outros
multicelular e do metabolismo secundário, pois
genomas bacterianos, o cromossomo de
são responsáveis pela produção de mais de 2/3
Streptomyces griseus, assim como outras
dos antibióticos clinicamente úteis de origem
espécies do gênero Streptomyces, é linear e
natural (2,6). S.griseus também pode ser
apresenta nas suas extremidades telômeros com
aplicado em biorremediação corretiva de águas e
proteínas ligadas covalentemente, onde as
solos contaminados com cromo hexavalente que
sequências terminais de cromossomos lineares e
é extremamente tóxico. Isso ocorre devido ao
alguns plasmídeos lineares de Streptomyces
fato de algumas linhagens serem capazes de
mostram extensa homologia, permitindo assumir
reduzir cromo hexavalente a cromo trivalente
forma circular sob condições naturais ou em
que é uma forma menos tóxica do composto (3).
61
1. BACTÉRIAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
5. NATIONAL CENTER FOR
BIOTECHNOLOGY INFORMATION (NCBI).
Devido à capacidade da S. griseus de Genome. Streptomyces griseus. Disponível em:
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quitinases, lipases, este microorganismo é
utilizado como ferramenta de biocontrole na 6. OHNISHI, Y.; ISHIKAWA, J.; HARA, H.;
agricultura, por meio de engenharia genéticas de SUZUKI, H.; IKENOYA, M.; IKEDA, H.;
plantas, onde durante a relação simbiótica, o YAMASHITA, A.; HATTORI, M.;
microrganismo produz metabólitos para o HORINOUCHI, S.. Genome Sequence of the
Streptomycin-Producing Microorganism
controle biológico de fitopatógenos (8). Streptomyces griseus IFO 13350. Journal of
Bacteriology, [s.l.], v. 190, n. 11, p. 4050-4060,
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em: 17 out. 2020. PMCID: PMC5185.
62
Domínio
APRESENTAÇÃO DA FICHAArchaea
TÉCNICA
Figura 1 - Árvore filogenética baseada na análise do rRNA, proposta por Carl Woese e George E. Fox
(1977), mostrando a separação dos grandes grupos biológicos: Bacteria, Archaea e Eukarya. O Domínio
Archaea (Reino Monera) encontra-se representado em vermelho.
Referências
WOESE, Carl R.; FOX, George E. Phylogenetic structure of the prokaryotic domain: The primary kingdoms.
Proceedings of the National Academy of Sciences, v. 74, n. 11, p.5088-5090, 1977. Disponivel em:
https://www.pnas.org/content/74/11/5088. Acesso em: 01 dez 2020. DOI: 10.1073/pnas.74.11.5088.
63
2. ARQUÉIAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
tolerante a alta concentração de sal e de baixa
Índice solubilidade de oxigênio. Habita em lugar com
alta intensidade de luz (3).
2.1 Haloarcula marismortui
Devido ao meio em que vive, este
2.2 Haloferax volcanii microrganismo desenvolveu um sistema de
resposta fotobiológica complexo, no qual
2.3 Haloterrigena turkmenica participam as opsinas, o complexo
2. 4 Methanosarcina barkeri criptocromo/fotoliase, reguladores de ciclos e
transdutores. A H. marismortui possui seis
2. 5 Nanoarchaeum equitans proteínas opsinas que utilizam a energia
2.6 Pyrococcus furiosus luminosa para manter as concentrações dos íons,
facilitar a fototaxia e gerar energia via gradiente
2.7 Pyrolobus fumarii 1A de prótons. Já por meio dos transdutores,
2.8 Sulfolobus acidocaldarius proteínas relacionadas ao metabolismo, a H.
marismortui consegue estar sensível ao ambiente
2.9 Sulfolobus solfataricus que a envolve e, assim, mudar de respostas
conforme lhe é exigido para que sobreviva (3).
2.10 Thermoplasma acidophilum
A H. marismortui possui estratégias
metabólicas flexíveis, limitantes à osmose, como
2.1 Haloarcula marismortui é o caso do seu metabolismo via metilaspartato,
Encontrada por primeira vez no Mar onde ocorre a aneplerosis (processo de reposição
de suprimentos de intermediários –
Morto e isolada em 1960 por Ginzburg et al. (8),
metilaspartato - metabólicos) (7).
a Haloarcula marismortui é uma arqueia Ademais, a H. marismortui obtém
vermelha pertencente à família das energia, carbono metabólico e nitrogênio não só
halobacteriaceae. Como toda arqueia halófila, é por glicólise, mas pelo catabolismo de
capaz de sobreviver em condições ambientais aminoácidos. Carbonos inorgânicos são fixados
extremas, graças às estruturas proteicas, às em açúcar, por meio do ciclo de carboxilato
estratégias metabólicas adotadas, e as suas redutivo, onde participam as enzimas fosfo
respostas fisiológicas também (1). piruvato carboxilase e gluconeogênase (3).
Interessantemente, é importante o
sequenciamento do seu genoma para,
gradualmente, desdobrar o conhecimento sobre
os seus mecanismos genéticos que permitem a
sua habilidade única de sobreviver em ambientes
extremos. Além disso, é necessária a
compreensão das respostas fisiológicas acima
citadas para que o conjunto de sistemas que
caracterizam o microrganismo possa ser
delineado por pesquisadores. Através disso,
podem ser dadas aplicações biotecnológicas a
esta e a outros microrganismos que comungam
em aspectos únicos.
H. marismortui é um microrganismo
unicelular e de formato arredondado. Pertence ao
grupo das arqueias halófilas, ou seja, é altamente
64
2. ARQUÉIAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
Figura 2 - Modelo especulativo da divisão
Taxonomia
celular de Haloarcula marismortui (a-h). A
Tabela 1 - Classificação taxonômica da CdvA (proteína de interação membranar) forma
Haloarcula marismortui. uma estrutura anelar (em vermelho) envolta do
nucleoide (em azul) antes da segregação deste e
Domínio Archaea orienta a separação dos nucleoides (b-d). A
maquinária responsável para a separação
Filo Euryarchaeota cromossomal ainda não é identificada. O anel
CdvA recruta e facilita a montagem de outras
Classe Halobacteria proteínas (lilás) associadas às novas estruturas
formadas (e). Em conjunto, vão diminuindo
Ordem Halobacteriales gradualmente à medida que a membrana
invagina (f-h). Fonte: (10).
Família Haloarculaceae
Genoma
Gênero Haloarcula Tabela 2 - Propriedades genômicas da
Haloarcula marismortui (ATCC 43049 I).
Espécie H. marismortui
Genoma Tamanho GC% Nº de Nº de
(Mb) genes proteínas
ATCC 3,13 62,4 3,199 3,108
Fonte: (5). 43049 I
Ciclo de Vida e Mecanismos Genéticos Fonte: (5)
65
2. ARQUÉIAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
loarcula+marismortui. Acesso em: 12 maio 2020.
68
2. ARQUÉIAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
entender a síntese e degradação de proteínas, a
glicosilação, motilidade, entre outras
características das arqueias. As pesquisas
voltadas para esta área permitem o
desenvolvimento de novas aplicações
biotecnológicas deste microrganismo (10).
Devido ao fato de que as condições em
que a H. volcanii sobrevive mimetizam as
condições da superfície de Marte (alta
concentração de sal e radiação), este
microrganismo é estudado como modelo para
teste de sobrevivência em meio extraterreste,
além de servir para estudos evolutivos (12).
70
2. ARQUÉIAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
71
2. ARQUÉIAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
isomerase e carboxilesterase (3). Estas enzimas
Em relação ao ciclo de vida, a são de interesse biotecnológico em diversos
reprodução da H. turkmenica ainda não foi campos.
particularmente elucidada. O método mais Adicionalmente, a Haloterrigena
comum de reprodução, ao qual é atribuído a esta turkmenica é uma boa candidata para pesquisa
arqueia, é por fissão binária. Após o nucléolo se em termos de preservação de DNA, estudos
dividir, mecanismos genéticos ativam o filogenéticos, metanogenesis e ampliação do
estrangulamento celular a partir dos polos, conhecimento do domínio ao qual pertence e das
gerando duas novas células-filhas idênticas características da terra nos seus estágios iniciais
(Figura 2). (4).
A Haloterrigena turkmenica possui o
tempo de geração mais curto entre os organismos
que pertencem à família Halobacteriaceae e
cresce em meio de cultura conhecido, o que a
torna um potencial alvo maior utilização e estudo
(2).
Referências
Figura 2 - Modelo especulativo da divisão 1. SAMSON, R. Y.; BELL, S. D. Cell cycles and
celular de H. turkmenica (a-h). A CdvA cell division in the Archaea. Current Opinion in
(proteína de interação membranar) forma uma Microbiology, v. 14, n.3, p. 350–356, 2011.
estrutura anelar (em vermelho) envolta do DOI:10.1016/j.mib.2011.04.005. Acesso em: 27
nucleoide (em azul) antes da segregação deste e abril 2020.
orienta a separação dos nucleoides (b-d). A 2. SAUNDERS, E. et al. Complete genome
maquinária responsável para a separação sequence of Haloterrigena turkmenica type strain
cromossomal ainda não é identificada. O anel (4k). Standards in genomic sciences, v. 2, n. 1,
CdvA recruta e facilita a montagem de outras p. 107–116, 2010. Disponível em:
proteínas (lilás) associadas às novas estruturas https://doi.org/10.4056/sigs.681272. Acesso em:
27 abril 2020.
formadas (e). Em conjunto, vão diminuindo,
gradualmente, à medida que a membrana 3. SELIM, S., HAGAGY, N. Genome sequence of
invagina (f-h). Fonte: (1). carboxylesterase, carboxylase and xylose
isomerase producing alkaliphilic haloarchaeon
Genoma Haloterrigena turkmenica WANU15. Genomics,
v.7, p.70-72, 2016. DOI:
Tabela 2 - Propriedades genômicas da Estirpe
10.1016/j.gdata.2015.11.031.
4kT da Haloterrigena turkmenica.
Genoma Tamanho Nº de GC (%) 4. VENTOSA A. et al. Proposal to
(bp) genes transfer Halococcus turkmenicus, Halobacterium
trapanicum JCM 9743 and strain GSL-11
Estirpe 5,440,782 5,350 64.26% to Haloterrigena turkmenica gen. nov., comb.
4kT nov. International Journal of Systematic and
Evolutionary Microbiology, v. 49, n. 1, p.131-
Fonte: (2).
136, 1999. DOI: 10.1099/00207713-49-1-131.
Aplicações Biotecnológicas Acesso em: 27 abril 2020.
75
2. ARQUÉIAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
2. 5 Nanoarchaeum equitans
A Nanoarchaeum equitans é uma espécie
de arqueia marinha que foi descoberta em 2002
em uma abertura hidrotermal na costa da
Islândia, no cume de Kolbeinsey, por Karl
Stetter. Foi proposta como a primeira espécie em
um novo filo. Linhagens desse micróbio também
foram encontradas no cume oceânico médio
subpolar e na piscina de obsidiana no Parque
Nacional de Yellowstone. Uma vez que cresce Figura 1 - Simbiose entre N. equitans e I.
em temperaturas próximas de 80 graus Celsius, é hospitalis. Fonte: (3).
considerado um termófilo (1).
Taxonomia
Características Biológicas
Tabela 1 - Classificação taxonômica da
Esta arqueia habita em ambientes com
Nanoarchaeum equitans.
temperaturas acima de 80ºC (2). Suas células
têm apenas 400 nm de diâmetro, tornando-o um Domínio Archaea
dos menores organismos celulares conhecidos,
além de ser a menor arqueia já encontrada. Filo Nanoarachaeota
Ademais, tem preferência por lugares abundantes
em enxofre, hidrogênio e dióxido de carbono. Ordem Nanoarchaeales
Também cresce melhor em ambientes com pH 6
e concentração de salinidade de 2%. A nível
Família Nanoarchaeaceae
fisionômico possui a forma esférica e, em média,
tem 40 nm de diâmetro, sendo considerada uma
das menores células vivas (1). Gênero Nanoarchaeum
Interessantemente, apresenta simbiose
com I. hospitalis (Figura 1). Micrografias Espécie N. equitans
eletrônicas de contato entre I. hospitalis e N.
equitans exibem dois modos de interação. Um é
Fonte: (6).
indireto e mediado por fibras finas. Em outro,
células das duas superfícies celulares estão Ciclo de Vida e Mecanismos Genéticos
diretamente em contato. As duas membranas das
células de I. hospitalis são frequentemente vistas Células de N. equitans mostram um
em contato direto, sendo isto, possivelmente, um modo clássico de divisão celular, por constrição.
pré-requisito para transporte de metabólitos ou Seu citoplasma exibe dois tipos de fibras:
substratos do citoplasma de uma célula para a alongado e em forma de anel (5). Nanoarqueum
outra. Raramente, transportes através de parece ser um simbionte obrigatório do arquaea
vesículas de carga são observados entre I. Ignicoccus e deve estar em contato com o
hospitalis e N. equitans. Não há evidências para organismo hospedeiro para sobreviver (3).
a presença de estruturas tubulares, como em Devido à falta de genes que codificam várias
Pyrodictium, ou que os dois citoplasmas se vias metabólicas vitais, o Nanoarchaeum
fundam, na forma de uma "ponte" citoplasmática equitans depende de seu hospedeiro para adquirir
(3). muitas biomoléculas, como lipídios, aminoácidos
e nucleotídeos (4).
76
2. ARQUÉIAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
Referências
77
2. ARQUÉIAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
Fonte: (4)
Aplicações Biotecnológicas
A Pyrococcus furiosus não apenas revelou
uma infinidade de reações metabólicas sem
precedentes, mas também foi uma fonte de
enzimas termoestáveis, com possíveis aplicações
Figura 2 - Modelo especulativo da divisão em vários processos industriais. Provavelmente,
celular de P. furiosus (a-h). A CdvA (proteína de o mais famoso exemplo é a DNA polimerase I
interação membranar) forma uma estrutura que possui uma atividade de exonuclease de 3’-
anelar (em vermelho) envolta do nucleoide (em 5’. Devido a essa capacidade de revisão, essa
azul) antes da segregação deste e orienta a polimerase chamada de Pfu-DNA tem uma taxa
separação dos nucleoides (b-d). A maquinária de erro muito menor nas PCRs, em comparação
responsável para a separação cromossomal ainda com a polimerase Taq-DNA. A polimerase Pfu é
não é identificada. O anel CdvA recruta e facilita agora usada em milhares de PCRs em todo o
a montagem de outras proteínas (lilás) associadas mundo. Várias outras enzimas de P. furiosus
às novas estruturas formadas (e). Em conjunto, foram isoladas nas últimas três décadas, algumas
vão diminuindo, gradualmente, à medida que a exibindo extrema termoestabilidade. Por
membrana invagina (f-h). Fonte: (8). exemplo, uma β-glucosidase de 85h a 100 °C e
uma α-amilase que tem meia-vida de 2h a 120
Genoma °C. Já nos primeiros anos, P. furiosus foi
Possui um único cromossômico circular. chamado de E. coli dos hipertermófilos. No
Seu tamanho é de 1,908,255 bp, com 40,8% do entanto, a ausência de um sistema genético
conteúdo de G-C e 2.065 ORFs que codificam dificultou, severamente, seu potencial
proteínas, 470 operons. Destas 2.065 ORFs, 6% biotecnológico. Durou até 2010, quando um
(130 ORFs) foram consideradas únicas para P. sistema de transformação baseado em
furiosus. Evidências experimentais mostraram plasmídeos foi desenvolvido, logo seguido por
79
2. ARQUÉIAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
5. KENGEN, Servé W. M.. ‘Pyrococcus furiosus,
manipulação genética cromossômica de uma 30 years on’. Microbial Biotechnology, [s.l.], v.
10, n. 6, p.1441-1444, 20 fev. 2017. Wiley.
linhagem de P. furiosus naturalmente
Disponivel em:
competente (COM1). A expressão de genes https://sfamjournals.onlinelibrary.wiley.com/doi/
heterólogos codificados pelo cromossomo, se full/10.1111/1751-7915.12695. Acesso em: 20
tornou possível, incluindo genes originados de set. 2020. DOI: 10.1111/1751-7915.12695.
baixa temperatura ou mesmo de bactérias. Isso Acesso em: 20 set. 2020.
abriu muitas possibilidades para a engenharia
6. WAGNER, Alexander et al. Mechanisms of gene
metabólica, incluindo a introdução de novas flow in archaea. Nature Reviews Microbiology,
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Acesso em: 20 set. 2020.
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5. Acesso em: 20 set. 2020. em: 20 set. 2020.
80
2. ARQUÉIAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
Taxonomia
2.7 Pyrolobus fumarii 1A
Tabela 1 - Classificação taxonômica de
O nome Pyrolobus deriva das palavras Pyrolobus fumarii.
gregas “pyros”, que significa fogo, e a palavra
Filo Crenarchaeota
“lobos”, que significa lobo, dando origem ao
lobo do fogo, fazendo referência à capacidade de
sobrevivência de Pyrolobus fumarii a altíssimas Classe Thermoprotei
temperaturas. Além disso, fumarii tem origem na
palavra latina “fumari”, a qual significa chaminé, Ordem Desulfurococcales
já que essa arquea pode ser isolada de paredes de
chaminés. Por isso, é frequentemente chamada
de “fumante negro” (1). Foi isolada em 1996 da Família Pyrodictiaceae
Dorsal Mesoatlântica, uma cordilheira submarina
que se estende ao longo do Oceano Atlântico, a Gênero Pyrolobus
uma profundidade de 3650 metros (2). Esse
microrganismo sobrevive por, pelo menos, uma
hora dentro de uma autoclave a 121°C (6). Espécie P. fumarii 1A
Características Biológicas
Fonte: (10).
É hipertermófilo, crescendo em
temperaturas entre 90 e 113°C (sua temperatura Ciclo de Vida e Mecanismos Genéticos
ótima é de 106°C) e pH de 4,0 a 6,5 (seu pH A P. fumarii 1A reproduz-se por fissão
ótimo é de 5,5). É quimiolitotrófico, podendo binária e, segundo pesquisas, utiliza o complexo
crescer em concentrações de sal de 1 a 4%, e chamado de ESCRT-III juntamente à ATPase
aeróbio facultativo, ganhando energia pela Vps4 para se reproduzir (5). Devido a sua
oxidação de H2. Nitrato, S2O32- e O2 a baixas resistência às condições de altas temperaturas e
concentrações são utilizados por P. fumarii 1A pressão, a modificação pós-transcricional foi
como aceptores de elétrons, os quais são identificada como um mecanismo principal de
reduzidos à amônia, sulfato de hidrogênio e estabilização estrutural. Foram detectados 26
água, respectivamente. Ainda, sobrevive em nucleosideos modificados, incluindo 1,2'-0-
ambientes pressurizados, contendo até 250 bar dimetilguanosina (m'Gm), nucleosídeo de RNA
de pressão. Possui forma de cocos irregulares previamente desconhecido (3).
com diâmetro de 0,7 a 2,5 µm (2).
81
2. ARQUÉIAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
strain (1AT). Standards in Genomic
Sciences, v. 4, n. 3, p. 381-392, 1 jul. 2011.
envolta do nucleoide (em azul), antes da Disponível em:
segregação deste e orienta a separação dos http://dx.doi.org/10.4056/sigs.2014648.
Acesso em: 30 nov. 2019.
nucleoides (b-d). A maquinária responsável para
a separação cromossomal ainda não é 2. BLÖCHL, Elisabeth. et al. Pyrolobus
identificada. O anel Vps4 recruta e facilita a fumarii, gen. and sp. nov., represents a novel
montagem de outras proteínas (lilás) associadas group of archaea, extending the upper
temperature limit for life to 113°C.
às novas estruturas formadas (e). Em conjunto, Extremophiles, v. 1, n. 1, p. 14-21, feb.
vão diminuindo, gradualmente, à medida que a 1997. Springer-Verlag: Science and Business
membrana invagina (f-h). Fonte: (5). Media LLC. Disponível em:
http://dx.doi.org/10.1007/s007920050010.
Genoma Acesso em: 30 nov. 2019.
O genoma de P. fumarii 1A contém 3. MCCLOSKEY, James A. et al.
informação para síntese de diversas proteínas e Posttranscriptional modification of transfer
enzimas resistentes a produtos químicos RNA in the submarine hyperthermophile
Pyrolobus fumarii. Nucleic Acids
inorgânicos e altas temperaturas. O genoma tem
Symposium Series, v. 44, n. 1, p. 267-268, 1
1,85 milhão de pares de bases e contém, oct. 2000. Oxford Academic. Disponível em:
aproximadamente, 2.000 genes. Estudos sugerem http://dx.doi.org/10.1093/nass/44.1.267.
que P. fumarii 1A possui um alto número de Acesso em: 30 nov. 2019.
genes que não têm similaridade com os genes
4. NATIONAL CENTER FOR
descritos em outras archaeas (1). BIOTECHNOLOGY INFORMATION
(NCBI). Pyrolobus fumarii 1A. 2013.
Tabela 2 - Genoma referêncial da Pyrolobus Disponível em:
fumarii 1A. ncbi.nlm.nih.gov/genome/1258?genome_asse
mbly_id=171002. Acesso em: 30 nov. 2019.
Tamanho Nº de Nº de
Genoma GC% Ano 5. SAMSON, Rachel; BELL, Stephen. Cell
(Mb) proteínas genes
cycles and cell division in the archaea.
Cromossomo Current Opinion in Microbiology, v. 14, n.
1,84 54,9 1906 1969 2013
Circular 3, p. 350-356, jun. 2011. Disponível em:
https://doi.org/10.1016/j.mib.2011.04.005.
Fonte: (4). Acesso em: 30 mar. 2020.
Aplicações Biotecnológicas 6. STETTER, Karl O. Extremophiles and their
adaptation to hot environments. FEBS
Devido ao fato de P. fumarii 1A
Letters, v. 452, n. 1-2, p. 22-25, 4 jun. 1999.
sobreviver em condições que pouquíssimos Disponível em:
outros microrganismos sobrevivem, há interesse http://dx.doi.org/10.1016/s0014-
em suas proteínas e enzimas termoestáveis, além 5793(99)00663-8. Acesso em: 30 nov. 2019.
daquelas produzidas para a degradação de
compostos inorgânicos (1) (2). Além disso, os
nucleosídeos encontrados em P. fumarii 1A
podem ser utilizados para a produção de
medicamentos e relacionados.
Referências
1. ANDERSON, Iain. et al. Complete genome
sequence of the hyperthermophilic
chemolithoautotroph Pyrolobus fumarii type
82
2. ARQUÉIAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
Taxonomia
2.8 Sulfolobus acidocaldarius
Tabela 1 - Classificação taxonômica da
Sulfolobus acidocaldarius é um Sulfolobus acidocaldarius.
crenarqueão termoacidofílico aeróbico que
Reino Archaea
cresce otimamente a 80 °C e pH 2 em fontes de
sulfato terrestre. É, principalmente, um
organismo aquático, altamente abundante em Filo Crenarchaeota
fontes de ácido quente rica em enxofre no Parque
Nacional de Yellowstone (1). Também se Classe Thermoprotei
estabelece em solos ácidos quentes a
temperaturas de 55 a 85 °C. Esta arqueia é Ordem Sulfolobales
responsável pela oxidação do enxofre na
produção de ácido sulfúrico e pela existência de Família Sulfolobaceae
bactérias oxidantes de enxofre (3). Ele serve
como um organismo modelo para o filo
Gênero Sulfolobus
Crenarchaeota e é usado em muitos estudos
sobre a biologia dos arqueias.
Espécie S. acidocaldarius
Características Biológicas
As células deste organismo (Figura 1) são Fonte: (10).
ligeiramente irregulares e apresentam lóbulos, o
que justifica em parte o nome do gênero. As Ciclo de Vida e Mecanismos Genéticos
células apresentam um diâmetro entre 0.8 e 1 É um organismo autotrófico facultativo.
µm, com pouca variação de tamanho. Crescem Quando cresce autotroficamente, este organismo
sob condições estritamente aeróbicas, nem oxida enxofre elementar (codifica a enzima para
substratos orgânicos complexos, incluindo metabolizar o enxofre, que produz ácido
extrato de levedura, triptona e casaminoácidos, sulfúrico a partir do sulfeto de hidrogênio),
uma ampla gama de aminoácidos e um número convertendo-o em sulfato, ao mesmo tempo em
limitado de açúcares (fontes de carbono). que fixa carbono proveniente de dióxido de
carbono em carbono orgânico. Tem tempo de
duplicação de 36.8 a 55.3h quando o crescimento
ocorre na presença de enxofre. Esta espécie
também pode crescer em um meio complexo de
substratos biológicos. Ao crescer em 0,1% de
extrato de levedura, o crescimento é mais rápido
do que quando o crescimento é autotrófico, e a
duplicação ocorre entre 6.5 e 8h. Para ocupar um
ambiente tão extremo com eficiência, possui
características únicas que lhes permitem viver
em fontes quentes e ácidas. Eles são capazes da
Figura 1 - S. acidocaldarius tratada com
correção direta de danos no DNA através do
hidroclorito de guanidina a 6 M. Fonte: (8).
reparo de excisão de bases, reparo de excisão de
nucleotídeos e reparo da quebra de fita dupla (1).
A S. acidocaldarius tem uma distribuição de
meia-vida de mRNA bastante curta, semelhante
83
2. ARQUÉIAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
Tabela 2 - Genoma referêncial da S.
acidocaldarius.
à das bactérias de rápido crescimento, que atende
à necessidade de reprogramar rapidamente a
expressão gênica após mudanças repentinas no Tamanho
Genoma GC% Genes Ano
(Mb)
ambiente (4). Além disso, o organismo carrega
um aparelho para reparo por excisão de dano DSM 639 2.225.959 37 2374 2005
ultravioleta em seu genoma, a endonuclease de
dano UV (1). É observada também, a motilidade Fonte: (1).
para longe de pontos muito quentes e letais,
mesmo na ausência de fontes de carbono e Aplicações Biotecnológicas
energia. Essa motilidade sensível à temperatura é Termófilos extremos sempre foram de
um importante mecanismo de sobrevivência grande interesse por causa de suas habilidades
exclusivo para Sulfolobus acidocaldarius no termoestáveis. Sulfolobus acidocaldarius ajudou
ambiente hidrotérmico (2). Possui um nos estudos de proteínas de ligação à cromatina,
mecanismo de replicação homólogo ao replicação, ciclo celular, reparo, transcrição,
mecanismo ESCRT encontrado em eucariotas. tradução e metabolismo (5). Além disso, sua
sensibilidade a uma ampla gama de antibióticos
ribossômicos e a facilidade de transformação
tornaram S. acidocaldarius um foco para estudos
genéticos in vivo. É o único arquétipo
hipertermofílico com taxa de mutação
espontânea quantificada in vivo. Desperta alto
interesse com sua baixa taxa de mutação em
ambientes de alta temperatura e com seus
sistemas de reparo altamente eficientes (1). Em
Figura 2 - Modelo especulativo da divisão 2007, uma série de vetores de transferência
celular de Sulfolobus acidocaldarius (a-h). A Sulfolobus-Escherichia coli foi construída com
CdvA (proteína de interação membranar) forma sucesso. Os vetores recém-desenvolvidos
uma estrutura anelar (em vermelho) envolta do baseando-se em plasmídeos de transferência
nucleoide (em azul) antes da segregação deste e Sulfolobus-Escherichia coli não integrativos são
orienta a separação dos nucleoides (b-d). A muito estáveis nos hospedeiros, o que os torna
maquinária responsável para a separação adequados para o uso na expressão de proteínas e
cromossomal ainda não é identificada. O anel estudos de genes. O novo sistema vetorial
CdvA recruta e facilita a montagem de outras facilitará os estudos genéticos de Sulfolobus,
proteínas (lilás) associadas às novas estruturas bem como outros usos biotecnológicos,
formadas (e). Em conjunto, vão diminuindo, incluindo superexpressão e otimização de
gradualmente, à medida que a membrana enzimas termofílicas que não são expressas
invagina (f-h). Fonte: (9). adequadamente em hospedeiros mesofílicos (5).
Genoma Referências
O genoma circular carrega 2.225.959 bp 1. CHEN, L. et al. The Genome of Sulfolobus
(37% GC) com 2.292 genes codificadores de acidocaldarius, a Model Organism of the
proteína. Dos genes codificadores de proteínas, Crenarchaeota. Journal of Bacteriology, v. 187, n.
305 são exclusivos para S. acidocaldarius e 866 14, p. 4992-4999, 2005. DOI:
são específicos para o gênero Sulfolobus. Além 10.1128/jb.187.14.4992-4999. Acesso em: 29 set.
disso, 82 genes para RNAs não traduzidos foram 2020.
identificados (1).
84
2. ARQUÉIAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
https://en.wikipedia.org/wiki/Sulfolobus_acidocaldari
2. LEWUS, P.; FORD, R. M. Temperature-sensitive us. Acesso em: 22 set. 2020
motility of Sulfolobus acidocaldarius influences
population distribution in extreme environments.
Journal of bacteriology, v. 181, n. 13, p.4020-4025,
1999. DOI: 10.1128/JB.181.13.4020-4025. Acesso
em: 29 set. 2020.
3. FLIERMANS, C. B.; BROCK, T. D. Ecology of
sulfur-oxidizing bacteria in hot acid soils. Journal of
bacteriology, v. 111, n. 2, p.343-350, 1972. DOI:
10.1128/JB.111.2.343-350. Acesso em: 29 set. 2020.
4. ANDERSSON, A. F. et al. Global analysis of
mRNA stability in the archaeon Sulfolobus. Genome
Biology, v. 7, n. 10, p.99-110, 2006. DOI:
10.1186/gb-2006-7-10-r99. Acesso em: 29 set. 2020.
5. BERKNER, S. et al. Small multicopy, non-
integrative shuttle vectors based on the plasmid
pRN1 for Sulfolobus acidocaldarius and Sulfolobus
solfataricus, model organisms of the (cren-)archaea.
Nucleic Acids Research, v. 35, n. 12, p.88, 2007.
Oxford University Press. Disponível em:
http://dx.doi.org/10.1093/nar/gkm449. Acesso em:
29 set. 2020.
6. HÃRTEL, T.; SCHWILLE, P. ESCRT-III
mediated cell division in Sulfolobus acidocaldarius -
a reconstitution perspective. Frontiers in
Microbiology, v. 5, p.257, 2014. Disponível em:
http://dx.doi.org/10.3389/fmicb.2014.00257. Acesso
em: 29 set. 2020.
7. HJORT, Karin; BERNANDER, Rolf. Cell cycle
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Sulfolobus acidocaldarius. Molecular Microbiology,
v. 40, n. 1, p.225-234, 2001. Disponível em:
http://dx.doi.org/10.1046/j.1365-2958.2001.02377.x.
Acesso em: 29 set. 2020.
8. WEISS R. L. Subunit cell wall of Sulfolobus
acidocaldarius. Journal of bacteriology, v.118, n. 1,
p.275–284, 1974. Disponível em:
https://doi.org/10.1128/JB.118.1.275-284. Acesso
em: 29 set. 2020.
9. SAMSON, Rachel; BELL, Stephen D. Cell cycles
and cell division in the archaea. Current Opinion in
Microbiology, v. 14, n. 3, p.350-356, 2011.
Disponível em:
http://dx.doi.org/10.1016/j.mib.2011.04.005. Acesso
em: Acesso em: 29 set. 2020.
10. WIKIPEDIA. Sulfolobus acidocaldarius.
Disponível em:
85
2. ARQUÉIAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
86
2. ARQUÉIAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
vão diminuindo, gradualmente, à medida que a
membrana invagina (f-h). Fonte: (9).
celular, situação que não é vista perante outros
estresses físicos, nomeadamente, a exposição a Genoma
câmbios no pH ou temperatura. Isto sugere que a
Tabela 2 - Informações genômicas da S.
indução à agregação de células é causada por
solfataricus.
danos específicos ao DNA, no entanto, as
pesquisas ainda não são esclarecedoras. Genoma Tamanho Nº GC% Nº
Em relação ao ciclo de vida, o tipo de (Mb) genes proteínas
SSOP1 3,03 3,279 35,8 2,894
reprodução atribuída à S. solfataricus a assexual,
por meio da divisão celular (figura 2). Após o Fonte: (7).
nucléolo se dividir, mecanismos genéticos Aplicações Biotecnológicas
ativam o estrangulamento celular a partir dos
polos, gerando duas novas células-filhas A Sulfolobus sulfataricus possui enzimas
idênticas (Figura 3). que são de interesse biotecnológico para várias
indústrias (6). As aminopeptidases e as esterases,
como a serine arylesterase, uma nova enzima
descoberta nesta arqueia, são termoestáveis (não
se degradam a altas temperaturas) e, por isso, as
indústrias de alimento, têxtil e de papel têm
interesse, visto que elas são fáceis de cultivar,
estabilizar e importantes em acelerar reações-
chave (2).
Novos estudos também apontam uma
crescente importância às vesículas membranares
do microrganismo, devido à presença de agentes
com propriedades antimicróbicas (8).
Figura 2 - S. solfataricus durante a divisão
celular. Fonte: (6). Referências
1. BROCK, T. D. et al. Sulfolobus: a new genus of
sulfur-oxidizing bacteria living at low pH and
high temperature. Archiv für Mikrobiologie. v.
84, p. 54-68, 1972. DOI:10.1007/bf00408082.
Acesso em: 6 maio 2020.
88
2. ARQUÉIAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
Taxonomia
2.10 Thermoplasma acidophilum
Tabela 1 - Classificação taxonômica da
A Thermoplasma acidophilum foi isolada, Thermoplasma acidophilum.
pela primeira vez, em 1960, de uma região
Filo Euryarchaeota
térmica e ácida de uma pilha de carvão no estado
de Indiana, nos Estados Unidos. Normalmente, é Classe Thermoplasmata
encontrada em fontes termais e campos de
solfatara (grande camada de enxofre depositada
pelos vapores que saem de vulcões em repouso) Ordem Thermoplasmatales
(11). Já foi encontrada, junto a outros
Família Thermoplasmataceae
organismos extremófilos, no Rio Tinto,
localizado na Espanha (8).
Gênero Thermoplasma
Características biológicas Espécie Thermoplasma
É unicelular, anucleada, não possui parede acidophilum
celular rígida (1) (5), porém é delimitada por Fonte: (7).
uma membrana de camada tripla, com espessura
de 5 a 10 nm (5). A T. acidophilum (Figura 1) é Ciclo de Vida e Mecanismos Genéticos
pleomórfica, ou seja, sua forma vai depender das Muitas pesquisas que sugerem forte
condições e do estágio de crescimento. As
relação evolutiva de T. acidophilum com o reino
células podem ser móveis, utilizando flagelo
Eukaryota baseiam-se em estudos do
monotríqueom (5). O tamanho de cada célula
proteossoma dessa arqueia (Figura 2) (2). Foi
varia de 0,1 a 5,0 µm (5) (7). Trata-se de um
microrganismo termófilo, podendo crescer em possível entender a organização do proteossoma
ambientes quentes com temperaturas entre 45 e eucariótico, a partir da estrutura de T.
63ºC (demonstra um ótimo crescimento em acidophilum (3).
temperatura próxima a 55ºC). Além disso, está Segundo Puhler et al. (1992), os
entre os organismos mais acidófilos conhecidos e proteossomas de T. acidophilum e de eucariotos
se desenvolve em ambientes com uma faixa de são quase idênticos. Enquanto o proteossoma de
pH de 0,5 a 4 (o pH ótimo fica próximo de 2,0 e, eucariotos é composto de 10 a 20 diferentes
em pH neutro, T. acidophilum sofre lise) subunidades, o da arqueia possui apenas
(5)(7)(11). subunidades α e β (9) (16). Devido ao fato de
existir conservação da estrutura da enzima há,
também, conservação da função dela, por isso, os
proteossomas dessa arqueia desempenham
praticamente os mesmos papéis dos
proteossomas eucarióticos (2).
Com relação ao ciclo de vida, de acordo
Figura 1 - Micrografia eletrônica de isolados de com algumas pesquisas, arqueobactérias
Thermoplasma acidophilum. Fonte: (15). pertencentes ao filo Euryarcheota, como T.
acidophilum, codificam proteínas FtsZ (em
vermelho), responsáveis pela divisão celular, o
que sugere que a T. acidophilum possa se
reproduzir por fissão binária (Figura 3) (6).
Porém, outras publicações sugerem que alguns
filamentos presentes nos microrganismos do
89
2. ARQUÉIAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
meio da identificação AL139299.1 (7).
Anteriormente, acreditava-se que o
gênero Thermoplasma façam com que se
microrganismo pertencesse ao domínio
reproduzam por brotamento (1) (5). Ainda por
Eukaryota, já que pesquisas sugerem forte
ser um dos organismos mais acidófilos
relação evolutiva com os eucariotos. Essa
conhecidos, muitas pesquisas são conduzidas em
arqueia possui 1564 kb, o que a classifica como
torno de suas proteínas, já que a maioria das
um dos microrganismos com menor genoma
proteínas “comuns” desnaturam em altas
sequenciado. Apesar disso, possui informação
temperaturas e baixos níveis de pH (7)(11).
para sintetizar 68 proteínas que não aparecem em
nenhum outro microrganismo semelhante (11).
Tabela 2 - Genoma da Thermoplasma
acidophilum.
Tamanho Nº de Nº de
Genoma GC% Ano
(Mb) proteínas genes
5. LANGWORTHY, Thomas A. Thermoplasma. 12. SAMSON, Rachel; BELL, Stephen. Cell cycles
In: WHITMAN, William B. Bergey’s Manual of and cell division in the archaea. Current
Systematics of Archaea and Bacteria. 1 ed. Opinion in Microbiology, v. 14, n. 3, p. 350-
Nova Jersey: John Wiley & Sons, Inc, 2015. 356, 2011. Disponível em:
Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.mib.2011.04.005.
http://dx.doi.org/10.1002/9781118960608.gbm00 Acesso em: 30 mar. 2020.
524. Acesso em: 26 mar. 2020.
13. VOGES, D., ZWICKL, P., BAUMEISTER, W.
6. MIYAGISHIMA, Shin-ya. et al. FtsZ-less The 26S proteasome: A molecular machine
prokaryotic cell division as well as FtsZ- and designed for controlled proteolysis. Annu. Rev.
dynamin-less chloroplast and non-photosynthetic Biochem. v. 68, p. 1015-1068, 1999. DOI:
plastid division. Frontiers in Plant Science, v. 5, 10.1146/annurev.biochem.68.1.101. Acesso em:
n. 459, p. 1-13, 2014. Disponível em: 30 mar. 2020.
91
2. ARQUÉIAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
92
Reino Protista (Microalgas)
Figura 1. Árvore filogenética baseada na análise do rRNA, proposta por Carl Woese e George E. Fox
(1977), mostrando a separação dos grandes grupos biológicos: Bacteria, Archaea e Eukarya. O Domínio
Eukaria, que abriga o Reino Protista, encontra-se representado em marrom.
Referências
93
WOESE, Carl R.; FOX, George E. Phylogenetic structure of the prokaryotic domain: The primary kingdoms.
Proceedings of the National Academy of Sciences, v. 74, n. 11, p.5088-5090, 1977. Disponivel em:
https://www.pnas.org/content/74/11/5088. Acesso em: 01 dez 2020. DOI: 10.1073/pnas.74.11.5088.
94
3. MICROALGAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
Características Biológicas
95
3. MICROALGAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
Taxonomia
Tabela 1 - Tipos de hidrocarbonetos segundos as
quatro raças de Botryococcus braunii. Tabela 2 - Classificação taxonômica da
Raça Hidrocarboneto Botryococcus braunii.
A Hidrocarbono n-alcadieno e trieno, número
ímpar de carbono entre C23 e C33 Filo Chlorophyta
B Hidrocarbonos triterpenóides,
Classe Trebouxiophycea
Botryocosenos C30-C37 e escaleno
metilado em C34 e
Ordem Trebouxiales
L Hidrocarbonos tetraterpenóides e
licopadieno Família Botryococcaceae
S Cadeias epóxi-n-alcano e n-alcano saturado,
com 18 e 30 carbonos, respetivamente.
Género Botryococcus
96
3. MICROALGAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
98
3. MICROALGAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
por biomassa de aproximadamente 42%, muito
maior que a soja, cana-de-açúcar e milho.
3.2 Chlorella vulgaris Possui parede celular digerível por enzima,
diferente de outras algas verdes. C. vulgaris é
Esta microalga unicelular fora um pouco versátil quanto à fixação de carbono
descoberta, em 1890, por Martinus Willem (7).
Beijerinck como a primeira microalga com um
núcleo bem definido. No início da década de
1990, cientistas alemães notaram o alto teor de
proteína de C. vulgaris e começaram a
considerá-la como uma nova fonte de
alimento. O Japão é, atualmente, o maior
consumidor de Chlorella. Microalgas,
incluindo diatomáceas e algas verdes, em
conjunto com cianobactérias, foram estudadas
durante mais de um século (3). O uso desses Figura 1 - Chlorella vulgaris vista em
micróbios fotossintéticos tem várias vantagens microscópio. Fonte: (12).
sobre plantas superiores por causa de sua taxa
mais rápida de crescimento, maior Taxonomia
produtividade de biomassa, a falta de
concorrência com as culturas de terras aráveis, Tabela 1 - Classificação taxonômica da
além da capacidade de crescimento sustentável Chlorella vulgaris.
com recursos marginais. Em 2002, fora
também descoberto que C. vulgaris produz Filo Chlorophyta
vitamina B12, embora fosse identificado em
Classe Trebouxiophyceae
2015, que está na forma de metil cobalamina
(6), seria mais fácil de ser assimilada por seres Ordem Chlorellales
humanos.
Família Chlorellaceae
Características Biológicas
Género: Chlorella
A Chlorella vulgaris (Figura 1) se Espécie: C. vulgaris
apresenta como uma alga verde eucariótica e
unicelular, esférica, com tamanho de 5-10μm. Fonte: (8) Adaptado.
Fotolitoautotrófica, heterotrófica ou
mixotrófica capaz de crescer rapidamente Ciclo de Vida e Mecanismos Genéticos
chegando a cada 20 a 24 horas quadruplicar
seus números. Devido ao seu alto nível de O cloroplasto de C. vulgaris fora
proteína e minerais é usado para produzir sequenciado por Wakasugi e seu time, em
diversos produtos alimentícios, seja para 1997, e estes observaram a existência de genes
suplementação humana em forma de cápsulas possivelmente envolvidos na divisão de
e desidratado ou até em rações para animais. cloroplastos, tendo então sua atividade
Assim como muitas algas, C. vulgaris produz fotossintética expandida (11). Tal é sua
lipídios através da fotossíntese. Isso faz destes atividade fotossintética que empresas como a
organismos uma fonte viável de Hypergiant Industries estão vendendo
biocombustível por deter um conteúdo lipídico fotobiorreatores de microalgas com, segundo
99
3. MICROALGAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
100
3. MICROALGAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
4. GONG, N. et al. Biotoxicity of nickel oxide 11. WAKASUGI, T. et al. Complete nucleotide
nanoparticles and bio-remediation by microalgae sequence of the chloroplast genome from the
Chlorella vulgaris. Chemosphere, [s. l.], v. 83, green alga Chlorella vulgaris: The existence of
n. 4, p. 510–516, 2011. Disponível em: genes possibly involved in chloroplast division.
http://dx.doi.org/10.1016/j.chemosphere.2010.12. Proceedings of the National Academy of
059. Acesso em: 4 nov. 2019 Sciences of the United States of America, [s.
l.], v. 94, n. 11, p. 5967–5972, 1997. DOI:
101
3. MICROALGAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
102
3. MICROALGAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
Fonte: (4)
nem da miosina, tornando o processo de
Aplicações Biotecnológicas
citocinese simples, o que a torna um modelo
ideal de estudo sobre a origem, evolução e os O ponto de maior interesse com relação à
mecanismos fundamentais da célula eucariótica Cyanidioschyzon merolae é a pesquisa sobre a
(4). sua origem, evolução e interação com outros
A sua reprodução dá-se por fissão binária, organismos.
sincronizada com o ciclo de luz e escuridão As análises proteômicas e microarrays
(4)(5). feitos a partir das informações do genoma da A
C. merolae, possibilitam o conhecimento sobre
os princípios básicos das microalgas (4).
Ademais, pela perspectiva evolucionista, este
microrganismo possui propriedades que
permitem o estudo da origem das células
eucarióticas, endossimbiose primária entre
cianobactérias e hospedeiros eucarióticos, e
endossimbiose secundária entre alga vermelha e
seus hóspedes (4). Neste contexto, este
microrganismo é uma espécie-modelo em
estudos bioquímicos e biológicos (5).
Referências
105
3. MICROALGAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
108
3. MICROALGAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
109
3. MICROALGAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
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3. MICROALGAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
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3. MICROALGAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
112
3. MICROALGAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
Família Galdieriaceae
Gênero Galdieria
Espécie G. sulfuraria
Fonte: (7).
Figura 2 - Ciclo de vida sexuado (a) e
Ciclo de Vida e Mecanismos Genéticos assexuado (b) de Galdieria sulphuraria.
O genoma da G. sulphuraria contém Ilustração: Aldona Griskeviciene /
evidências de transferência horizontal de genes a Shutterstock.com. Fonte: (12).
partir de archaeas e bactérias termofílicas. Isso Genoma
explica a sua adaptação a ambientes extremos.
Assim, observa-se neste microrganismo algo Tabela 2 - Genoma de referência da G.
incomum nos eucariontes: ao menos 5 % do seu sulfuraria.
proteoma derivam de transferência horizontal de
Genoma Nº de Tamanho GC% Nº de
genes (10). Ademais, o genoma deste
genes (Mb) proteínas
microrganismo contém um vasto número de ASM34128v1 6,723 13,71 37,9 7,174
genes associados ao metabolismo do carbono e Fonte: (7).
ao transporte através da membrana (1).
Com relação ao seu ciclo de vida, Aplicações Biotecnológicas
compartilha os mecanismos de reprodução As microalgas são capazes de gerar uma
comuns às microalgas. É capaz de se reproduzir grande variedade de metabólitos com excelentes
sexuadamente (Figura 2a), onde há a fusão de propriedades. A G. sulphuraria se destaca pelos
dois indivíduos distintos geneticamente através antioxidantes capazes de produzir. Tanto os
dos gametas flagelados. Esta fusão ocorre por antioxidantes como as moléculas
plasmogamia (fusão dos protoplastos) seguida antiproliferativas, oriundas de fontes naturais,
pela cariogamia (fusão dos núcleos), que resulta são uma alternativa aos compostos elaborados
na formação do zigoto diploide (2n). Os flagelos sinteticamente, que possuem efeitos tóxicos (2).
encurtam-se até desaparecerem e no lugar forma- Esta microalga, em estudo, contém
se uma parede espessa e o zigoto se torna um ficobiliproteínas, como a ficocianina (C-FC),
zigósporo, que fica em um período de
114
3. MICROALGAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
Referências
pigmentos que capturam a energia da luz solar
num comprimento de onda cuja clorofila absorve
em menor quantidade. Assim, auxilia o processo 1. BARBIER, G. et al. Comparative genomics of
de captação de energia, aumentando a sua two closely related unicellular thermo-acidophilic
eficiência (2). A C-FC contém o grupo protético red algae, Galdieria sulphuraria and
cromóforo, que é muito fluorescente, sendo Cyanidioschyzon merolae, reveals the molecular
então utilizado em diversas aplicações como as basis of the metabolic flexibility of Galdieria
análises imunológicas e detecção de espécies sulphuraria and significant differences in
carbohydrate metabolism of both algae. Plant
reativas de oxigênio. Este grupo protético
Physiology. v. 137, n. 2, p. 460–74,
também tem ação antioxidante e anti-
2005. DOI:10.1104/pp.104.051169. Acesso em:
inflamatória (2). 24 abril 2020.
Ademais, a Galdieria sulphuraria foi
testada como ingrediente ativo em fórmulas 2. BOTTONE, C. et al. Antioxidant and anti-
cosméticas e dermatológicas, para ação em peles proliferative properties of extracts from
com excesso de oleosidade e sebo. Esta heterotrophic cultures of Galdieria
microalga é capaz de inibir a ação da enzima 5-α sulphuraria. Natural Product Research. v. 33,
reductase (que regula o hormônio associado à n. 11, p. 1659-1663,
superprodução de sebo) e de induzir a expressão 2018. DOI: 10.1080/14786419.2018.1425853.
de β-defensinas (primeira linha de defesa das Acesso em: 24 abril 2020.
células da pele no combate de microrganismos
3. JU, X. et al. Effective and selective recovery of
associados ao sebo) (4). Adicionalmente, esta
gold and palladium ions from metal wastewater
microalga tem sido utilizada para bioremediação. using a sulfothermophilic red alga, Galdieria
Segundo Ju, X. et al. (2016), a G. sulphuraria é sulphuraria. Bioresource Technology. v. 211, p.
eficiente na biossorção de metais preciosos. A 759–64, 2016.
sua aplicação na recuperação de metais em baixa DOI:10.1016/j.biortech.2016.01.061. Acesso em:
concentração, como o ouro ou paládio, tendo 24 abril 2020.
sido descartados em águas residuais metálicas,
mostrou-se ecológica e econômica. É uma 4. LUCIA, A. D. et al. Galdieria sulphuraria
alternativa viável frente a outras tecnologias de Relieves Oily and Seborrheic Skin By
alto custo operacional. Dentro deste contexto, Inhibiting the 5-α Reductase Expression in
Skin Cells and Reducing Sebum Production in
pesquisas têm sido direcionadas para a
vivo. Smantic Schoolar. Publicado em 2016.
reciclagem de metais de terras raras, devido às
Disponível em:
inúmeras aplicações industriais destes elementos. https://www.semanticscholar.org/paper/Galdieria
Uma vez que o acumulo de metais em -sulphuraria-Relieves-Oily-and-Seborrheic-
microrganismos é um método de baixo custo, Lucia-
ecológico e eficiente, este microrganismo foi Carola/bc8589982c97f8c3cd2738df24123984921
testado e mostra-se eficaz para a recuperação de 7adc6. Acesso em: 24 abril 2020.
metais terra-rara como La (III), Nd (III), Dy (III)
(6). 5. MEROLA, A. et al. Revision of Cyanidium
Por fim, a Galdieria sulphuraria também é caldarium. Three species of acidophilic
aplicável na remoção de nutrientes em efluentes algae. Giornale botanico italiano. v. 115, n. 4-
5, p. 189-195,
tais como nitrogênio amoniacal e fosfatos (11).
1981. DOI: 10.1080/11263508109428026.
115
3. MICROALGAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
116
3. MICROALGAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
Fonte: (4).
verde e biflagelada. Nesta forma, entra no
Aplicações Biotecnológicas
estágio de palmela, tornando-se arredondada e
perdendo seus flagelos. A seguir, entra no A H. pluvialis se destaca por ser a fonte
processo de encistamento, onde ocorre a natural mais rica em astaxantina, um carotenoide
formação do aplanósporo (cisto assexual), que com propriedades nutracêuticas. A astaxantina
por sua vez contém grande quantidade de possui atividade antioxidante através da qual é
astaxantina acumulada. Quando o aplanósporo é capaz de inibir produção de mediadores
colocado em meio fresco, inicia-se a divisão inflamatórios, uma vez que bloqueia a ativação
celular, mitoses e citocineses são levadas a cabo, de determinadas moléculas como as NF-kB,
produzindo até trinta e duas células-filhas iNOS e COX-2. Ademais, suprime a produção
flageladas haploides (autósporo) dentro da de NO, PGE2 e TNF- α (1).
parede celular da célula-mãe, que romperão a Guerin, M. et al. (2003) descrevem este
membrana e serão libertas (2)(5). bioproduto como um pigmento presente em
Por sua vez, ainda que não se exclua a diversos alimentos do mar como o salmão e as
reprodução sexuada, este mecanismo não está ostras, e que está associado a diversas funções
descrito na literatura para este microrganismo. biológicas essenciais como a proteção à oxidação
de ácidos poliinsaturados, aos efeitos da luz UV
e das respostas imunes, sendo então utilizado na
indústria farmacêutica, cosmética e de alimentos.
Referências
1. BARVE, K. H. et al. Chapter 7: Nutraceuticals
as therapeutic agents for inflammation. In:
BARVE, K. H. et al. Fruits, Vegetables, and
Herbs. 2016. DOI:10.1016/b978-0-12-802972-
Figura 2 - Ciclo de vida da Haematococcus 5.00007-x. Acesso em: 24 abril 2020.
pluvialis. Reinício: culturas antigas são
transpostas para um meio fresco e então as 2. BOROWITZKA, Michael A. Chapter 3:
células cocóides incidem o processo de divisão Biology of Microalgae. In: LEVINE, Ira et al.
celular para formar células flageladas no interior Microalgae in Health and Disease Prevention.
da célula-mãe. Germinação: as células flageladas [s.i]: Academic Press. p. 23-72, 2018. Disponível
se assentam e se tornam células cocóides. As em: https://doi.org/10.1016/B978-0-12-811405-
condições de estresse aceleram o acúmulo de 6.00003-7. Acesso em: 24 abril 2020.
astaxantina durante o encistamento, formação do
3. GUERIN, M., et al. Haematococcus astaxanthin:
aplanósporo (setas vermelhas). Fonte: (2).
applications for human health and nutrition.
Genoma Trends in Biotechnology. v. 21, n. 5, p. 210–
216, 2003. DOI:10.1016/s0167-7799(03)00078-
Tabela 2 - Genoma de referência da 7. Acesso em: 24 abril 2020.
Haematococcus pluvialis.
4. NATIONAL CENTER FOR
Genoma Nº de Tamanho GC% Nº de
BIOTECHNOLOGY INFORMATION.
genes (Mb) proteínas
Haematococcus pluvialis. Disponível em:
Lacustris 33,500 171,8 43,4 28,279
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/genome/?term=há
1.0
118
3. MICROALGAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
119
3. MICROALGAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
Referências
1. FAVARELLI, R. B. Análise do genoma da
microalga produtora de lipídios neochloris
oleoabundans, visando à produção de
combustíveis de terceira geração. Tese
(Mestrado em Genética e Biologia Molecular).
Campinas: Universidade Estadual de Campinas.
Figura 2 - Ciclo de vida sexuado (a) e 2012. Disponível em:
assexuado (b) de N. oleoabundans. Ilustração: http://repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP
Aldona Griskeviciene / Shutterstock.com. /316763/1/Favarelli_BrunaRoncon_M.pdf.
Fonte: (2). Acesso em: 5 mar. 2020.
121
3. MICROALGAS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
122
Reino Fungi (Leveduras e Fungos
filamentosos)
Fungos são organismos eucarióticos, unicelulares (leveduras) ou multicelulares (fungos
filamentosos e bolores de solo, de madeira, de ambientes quentes e úmidos, da água e do ar, e
macrofungos), que são heterotróficos e desempenham papéis importantes no ciclo de nutrientes em um
ecossistema. Os fungos se reproduzem sexualmente e assexuadamente e também têm associações
simbióticas com plantas e bactérias.
As células dos fungos têm um núcleo e organelas, como as células vegetais e animais. As paredes
celulares dos fungos contêm quitina, uma substância dura também encontrada no exoesqueleto de insetos
e artrópodes, como os crustáceos. Eles não contêm celulose, que comumente constitui a parede celular
das plantas. Os fungos multicelulares têm muitas hifas (singular: hifas), que são filamentos ramificados.
As hifas têm uma forma tubular e são divididas em compartimentos semelhantes a células por paredes
conhecidas como septos. Essas células podem ter mais de um núcleo, e os núcleos e outras organelas
podem se mover entre eles. A rede de hifas de um fungo é chamada de micélio.
Os fungos são heterotróficos – eles não podem realizar a biossíntese de carboidratos e, assim, tem
que obter nutrientes da matéria orgânica. Para fazer isso, eles usam suas hifas, que se alongam e se
ramificam rapidamente, permitindo que o micélio do fungo aumente rapidamente de tamanho. São
organismos oportunistas, o que significa que podem obter nutrientes de uma ampla variedade de fontes e
prosperar em uma ampla gama de condições ambientais. Alguns fungos obtêm nutrientes da matéria
orgânica morta; esses fungos são chamados de sapróbios e considerados decompositores. Outros fungos
parasitam plantas ou animais e são responsáveis por induzir doenças. No entanto, os fungos também
podem ter relações simbióticas (mutuamente benéficas) com algas ou bactérias fotossintéticas, bem como
com as raízes das plantas. Uma associação simbiótica de um fungo e um protista (alga) fotossintetizante é
chamada de líquen, enquanto uma associação de raiz de planta e fungo é chamada de micorriza.
Figura 1 - Árvore filogenética baseada na análise do rRNA, proposta por Carl Woese e George E. Fox
(1977), mostrando a separação dos grandes grupos biológicos: Bacteria, Archaea e Eukarya. O Domínio
Eukaria, que abriga o Reino Fungi, encontra-se representado em marrom.
Referências
WOESE, Carl R.; FOX, George E. Phylogenetic structure of the prokaryotic domain: The primary kingdoms.
Proceedings of the National Academy of Sciences, v. 74, n. 11, p.5088-5090, 1977. Disponivel em:
https://www.pnas.org/content/74/11/5088. Acesso em: 01 dez 2020. DOI: 10.1073/pnas.74.11.5088.
123
4. LEVEDURAS E FUNGOS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
Espécie A. fumigatus
Fonte: (6).
124
4. LEVEDURAS E FUNGOS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
Surgem, então, hifas ascógenas especiais, nas
Ciclo de vida e Mecanismos Genéticos quais pares de núcleos migram: um da
linhagem “masculina” e outro da linhagem
Pesquisas proteômicas de A. fumigatus “feminina”. Em cada asco, dois ou mais
indicaram que este tem um armamento ascósporos haploides fundem seus núcleos
enzimático que o permite degradar a parede para originar um zigoto diploide (cariogamia)
polisacarídica das plantas (glicosilhidrolases) (5).
e em comparação com sapotróficos e
fitopatógenos, indica que o nicho primário de
A. fumigatus é em vegetais. Não possui lignina
peroxidase, então seu papel degradativo
principal é em folhas e outros materiais
friáveis e não em madeira (9). Devido ao seu
ambiente, A. fumigatus é frequentemente
exposto a flutuações de pH e temperatura, bem
como a espécies reativas de oxigênio. Uma
resposta ao estresse regulado pela proteína
cinase dependente de AMPc (PKA)
desempenha um papel na regulação do
crescimento e da virulência do fungo (7).
Ademais, foi demonstrado em experimentos
que os mutantes da subunidade reguladora da
PKA são mais suscetíveis a danos oxidativos e
anormalidades nos conídios, dificultando sua
capacidade de se tornar transportada pelo ar e
capturada por indivíduos (7).
Ascomicetos filamentosos, como é o
caso deste fungo, produzem hifas divididas Figura 2 - Ilustração do ciclo de vida do
por septos perfurados, permitindo a Aspergillus fumigatus. O ciclo de vida de um
transmissão do citoplasma de uma célula para ascomiceto é caracterizado pela produção de
a outra. Conídios e ascos, que são usados para ascos durante a fase sexual. A fase haploide é a
a reprodução sexual e assexual, fase predominante do ciclo de vida. Fonte: (5).
respectivamente, geralmente são separados das
hifas vegetativas por septos bloqueados (não Genoma
perfurados) (5).
A reprodução assexuada (Figura 2) é Tabela 2 - Genoma de referência do Aspergillus
frequente e envolve a produção de fumigatus.
Genoma Nº de Tamanho GC% Nº de Ano
conidióforos que liberam esporos haploides
genes (Mb) proteínas
que, por sua vez, irão germinar (5). Af293 9544 28,831 49,5 9630 2005
A reprodução sexual começa com o Fonte: (6).
desenvolvimento de hifas especiais de um dos
dois tipos de linhagens de acasalamento. A Aplicações Biotecnológicas
cepa “masculina” produz anterídios e a
“feminina” desenvolve o ascogônio. Na Uma potencial aplicação do fungo A.
fertilização, o anterídio e o ascogônio se fumigatus é na bioabsorção. A bioabsorção é
combinam sem fusão nuclear (plasmogamia).
125
4. LEVEDURAS E FUNGOS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
Referências
considerada como uma tecnologia inovadora
para remover metais de soluções aquosa 1. ANNA, H. T. et al. Serum Stimulates Growth of
devido as suas vantagens de alta eficiência e and Proteinase Secretion by Aspergillus
seletividade para absorver metais em baixas fumigatus. Infection and Immunity. v. 70, n. 1,
concentrações, economia de energia e largo p. 19-26, 2002. DOI: 10.1128/IAI.70.1.19-
espectro de pH e temperaturas. Assim, a A. 26.2002. Acesso em: 15 out. 2019.
fumigatus vem sendo utilizada com sucesso em
2. BHAINSA, K. C.; D’SOUZA, S. F. Extracellular
construir beads fúngicos para absorção de íons
biosynthesis of silver nanoparticles using the
de urânio (VI), metal este que pode contaminar o
fungus Aspergillus fumigatus. Colloids and
meio e se amplificar na cadeia alimentar (9,11). Surfaces B: Biointerfaces. v. 47, n. 2, p. 160–
Ademais, o A. fumigatus provou ser 164, 2006. Disponível em:
eficaz em reduzir íons de cobre https://doi.org/10.1016/j.colsurfb.2005.11.026.
extracelularmente, de forma rápida, detendo o Acesso em: 15 out. 2019.
potencial de sintetizar nanopartículas de prata
(Figura 3) quando apresentado a íons do 3. FINEARTAMERICA. Culture of Aspergillus
mesmo. Os resultados apresentados pelo grupo Fumigatus Fungus by Science Photo Library.
de Bhainsa et al (2006) provaram ser esse Disponível em:
método rápido comparável aos métodos físicos https://fineartamerica.com/featured/culture-of-
aspergillus-fumigatus-fungus-science-photo-
e químicos atuais, tomando questão de
library.html. Acesso em: 15 out. 2019.
minutos para a síntese. É considerado
vantajoso por ser extracelular e não precisar 4. LATGE, Jean-Paul. Aspergillus Fumigatus and
de passos adicionais como tratamento por Aspergillosis. Clin Microbial Rev. v. 12, p. 310-
ultrassom ou adição de detergentes. Não 350, 1999. PMID: 10194462.
apenas isso, mas as nanopartículas formadas
são bem estáveis mostrando assim, aplicação 5. LUMEN, BIOLOGY FOR MAJORS II.
prática para fabricar nanomateriais (2). Ascomycota: The Sac Fungi. Disponível em:
https://courses.lumenlearning.com/wm-
biology2/chapter/ascomycota/. Acesso em: 22
jun. 2020.
126
4. LEVEDURAS E FUNGOS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
127
4. LEVEDURAS E FUNGOS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
Classe Sordariomycetes
Características Biológicas
Ordem Hypocreales
Nasce naturalmente no solo em diversas
partes do mundo, sendo considerado ubíquo. É
Família Cordycipitaceae
categoricamente parasita de várias espécies de
artrópodes (entomopatogênico) causando a Gênero Beauveria
doença da muscardina branca (Figura 1). É o
anamorfo (forma reprodutiva assexuada) do Espécie B. bassiana
Cordyceps bassiana (5).
Em cultura, o B. bassiana se Fonte: (4).
desenvolve como um bolor branco; produz
muitos conídios secos em forma de pó como Ciclo de vida e Mecanismos Genéticos
bolas de esporos brancas características. Cada
esporo é composto de células conidiogênicas O alvo principal de estudo para este
aglomeradas. O ápice destas células é microrganismo são as suas proteínas
denominado ráqui, o qual alonga após cada degradadoras de quitina denominadas
conídio produzido, resultando em uma quitinases, as quais agem em conjunto com
extensão em zig-zag. Os conídios são proteases para destruir a cutícula artrópode,
unicelulares, haploides e hidrofóbicos (5). embora o envolvimento da quitinase na
patogenia a insetos ainda não fora
caracterizado. Pesquisadores do Centro de
Pesquisa Biotecnológica de Chongqing
128
4. LEVEDURAS E FUNGOS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
Referências
131
4. LEVEDURAS E FUNGOS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
Referências
133
4. LEVEDURAS E FUNGOS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
caracterizado pela produção e deposição de
melanina em sua parede celular. É semelhante à
4. 4 Exophiala dermatitidis levedura, oligotrófico e termofílico, tolerando
temperaturas entre 4 e 42°C. Apresenta
O fungo Exophiala dermatitidis foi crescimento lento a 25ºC e escurecimento da
encontrado, primeiramente, em ambientes de colônia após 3 ou 4 semanas de cultivo. Não
floresta tropical (no solo e em madeira em assimila nitrato de potássio. É um patógeno
decomposição). É comumente isolado de locais oportunista (1,9).
com condições quentes e úmidas como: saunas,
banhos de vapor e lava-louças (9). Ainda, pode
ser encontrado em fontes ambientais associadas a
locais poluídos contendo madeira com creosoto
(composto utilizado na preservação da madeira)
e óleo de origem petrolífera (6). Pode ser
denominada Wangiella dermatitidis, sinônimo
utilizado para caracterizar esse fungo (7).
Infecções superficiais, doenças cutâneas Figura 1 - (a) Macro e (b) micrografia do fungo
e subcutâneas, além de doenças sistêmicas ou Exophiala dermatitidis. Fonte: (1).
viscerais podem ser causadas por E. dermatitidis.
As infecções superficiais são comumente Taxonomia
relacionadas a traumas, embora possam ocorrer
infecções invasivas por E. Dermatitidis, após Tabela 1 - Classificação taxonômica de
traumas. Há uma série de relatos de casos Exophiala dermatitidis.
envolvendo feohifomicose, cromoblastomicose,
Reino Fungi
adenite linfática, fungemia, estomatite,
otitismedia, úlceras de córnea, esofagite, Filo Ascomycota
pneumonia, cirrose hepática, pancreatite,
inflamação dos sistemas gastrointestinal e biliar, Classe Eurotiomycetes
edocardite e peritonite, além de infecções
cerebrais (3). Um dos fatores mais importantes Ordem Chaetothyriales
da virulência desse fungo está envolvido com a
Família Hepotrichiellaceae
produção da melanina. Tal composto confere
crescimento em pH ácido, tolerância à Gênero Exophiala
dissecação, proteção contra estresse e
substâncias tóxicas e capacidade de sobreviver Espécie E. dermatitidis
com baixa disponibilidade de água e nutrientes
(6). A melanina pode agir como sequestrador de Fonte: (8).
radicais oxidativos do oxigênio, conferindo
maior resistência a drogas antifúngicas e aos Ciclo de Vida e Mecanismos Genéticos
mecanismos de defesa do organismo do
hospedeiro (1). E. dermatitidis possui propriedades
polimórficas, que impedem a exata determinação
Características Biológicas taxonômica, já que, em algumas fases de
crescimento, apresenta características de
O Exophiala dermatitidis (Figura 1) leveduras, como a reprodução mitótica por
trata-se de um fungo dematiáceo, fungo negro brotamento para produção de novas células.
134
4. LEVEDURAS E FUNGOS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
Aplicações Biotecnológicas
Além disso, E. dermatitidis produz pseudo-hifas
e hifas septadas. Não foi observada forma sexual Possui grande aplicação biotecnológica
desse fungo, mas estudos analisando o lócus por ser um organismo oligotrófico, utilizando-se
mating type de E. dermatitidis sugerem que pode de diversos hidrocarbonetos para sua
se reproduzir sexualmente (1,9,11). sobrevivência. Estudos demonstraram que E.
dermatitidis suportou o crescimento tendo
benzeno, tolueno, xileno, gasolina ou óleo diesel
como única fonte de carbono. Dessa forma, pode
ser utilizado para biorremediação de áreas
contaminadas com esse tipo de composto (5).
Referências
Tamanho Nº de Nº de
4. LUMEN, BIOLOGY FOR MAJORS II.
Genoma GC% Ano Ascomycota: The Sac Fungi. Disponível em:
(Mb) proteínas genes
Cromossomo https://courses.lumenlearning.com/wm-
26,37 51,5 9578 9356 2017
1 Linear biology2/chapter/ascomycota/. Acesso em: 22
jun. 2020.
Tabela 1 - Genoma de Exophiala dermatitidis.
Fonte: (8).
135
4. LEVEDURAS E FUNGOS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
136
4. LEVEDURAS E FUNGOS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
encontrado e utilizado apenas no início da
fermentação de queijos (1).
4.5 Geotrichum candidum
Fonte: (7).
Aplicações Biotecnológicas
139
4. LEVEDURAS E FUNGOS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
Taxonomia
4.6 Kluyveromyces marxianus
Tabela 1 - Classificação taxonômica de
A levedura Kluyveromyces marxianus já Kluyveromyces marxianus.
foi encontrada em uma grande variedade de Reino Fungi
habitats. Isso sugere a existência de uma alta
diversidade metabólica e elevado grau de Filo Ascomycota
polimorfismos intraespecíficos (2, 8). Entretanto,
por ser uma levedura fermentadora de lactose, é Classe Saccharomycetes
largamente encontrada em fontes lácteas (2,6).
Ordem Saccharomycetales
Tal levedura possui diversas aplicações
biotecnológicas e industriais como: produção de Família Saccharomycetaceae
enzimas endógenas termoestáveis, biomassa,
emulsificantes, compostos aromáticos, além de Gênero Kluyveromyces
poder ser utilizada para o tratamento de resíduos
de papel e lama, remoção de lactose e outros Espécie K. marxianus
açúcares de águas residuais, biossorção de
Fonte: (6).
corantes e, ainda, recuperação de metais pesados
de águas residuais (2).
Ciclo de Vida e Mecanismos Genéticos
Características Biológicas
As leveduras desse gênero são
facultativas e, em condições aeróbias,
A Kluyveromyces marxianus (Figura 1) é
sobrevivem por meio de respiração por
unicelular, não filamentosa, tem parede celular
possuírem alta afinidade ao oxigênio e grande
rígida e pode apresentar-se em formato esférico
capacidade respiratória (7). Quando em
ou oval (7). Ocasionalmente, pode aparecer na
condições anaeróbias estritas, sobrevivem a
forma de cilindro, com tamanho variando de 4 a
partir da fermentação produzindo etanol. Além
8 μm. Pode ocorrer de forma isolada, aos pares,
disso, possuem capacidade de utilizar açúcares
ou em cadeias (1). Ainda, é termotolerante,
como: lactose, inulina (polímero de frutose,
podendo crescer em temperaturas entre 25 e
metabolizado intra e extracelularmente) e
45ºC (2).
glicose. Também, produzem enzimas como: a β-
galactosidase (intracelular), inulinase e
endopoligalacturonase (2,7,8). A K. marxianus
possui alta taxa de crescimento celular e
eficiência na conversão de substratos em
biomassa, que são consequência da rápida
hidrólise de substrato, o que otimiza tempo de
reação (2). Em se tratando de reprodução, essa
levedura realiza brotamento, mas também produz
Figura 1 - Micrografia de microscopia eletrônica esporos e pode produzir pseudohifas (1).
de varredura de K. marxianus; 2 µm. Fonte: (4).
140
4. LEVEDURAS E FUNGOS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
GRAS (“Generally Recognized As Safe”, do
inglês, “geralmente reconhecidos como
seguros”) feita pelo departamento FDA (Food
and Drug Administration) do governo dos
Estados Unidos (2,7,8). Por isso, há alto
potencial no setor da biotecnologia e poucas
restrições à aplicação, otimizando o uso desse
microrganismo na indústria. Além disso, sua
capacidade de fermentar açúcares como: lactose
e inulina, somada a sua taxa de crescimento
extremamente rápida, na qual o tempo de
geração é de aproximadamente 70 minutos, e
também à termotolerância e atividade secretora,
aumentam seu potencial de aplicabilidade na
indústria biotecnológica (2).
Figura 2 - Ilustração do ciclo de vida de
Ademais, o fato de K. marxianus
Kluyveromyces marxianus. Alternância de
produzir enzimas como β-galactosidase (7) e
gerações e crescimento vegetativo. Fonte: (5).
inulinase impulsionaram diversas pesquisas
acerca de seu potencial industrial. A produção de
Genoma
inulinase, principalmente, é de grande interesse
por não ser uma enzima encontrada em outras
O número de cromossomos dessa espécie
leveduras e fungos. Tais estudos tornam
pode variar de seis a doze, dependendo da cepa
Kluyveromyces marxianus uma fonte alternativa
que for analisada. A quantidade mais comum é
de enzimas interessantes para a biotecnologia
de oito cromossomos (3). Informações sobre o
(2).
genoma completo de K. marxianus podem ser
Por fim, de acordo com algumas
consultadas na plataforma NCBI pelo número de
pesquisas, a levedura em questão é uma
identificação 10898. Mesmo assim, ainda há
alternativa a Saccharomyces cerevisiae para a
grande limitação em relação à pesquisa
produção de etanol 2G a partir de material
molecular de K. marxianus, devido à falta de
lignocelulósico. Kluyveromyces marxianus se
informações abrangentes sobre a sequência do
mostrou mais eficiente devido à extrema
genoma, já que existe forte dependência da
termotolerância, o que possibilita que os
sequência parcial da cepa CBS 712 de
processos de sacarificação e fermentação
Kluyveromces marxianus (2).
ocorram em conjunto, otimizando o processo
como um todo (4).
Tabela 2 - Genoma de Kluyveromyces
marxianus.
Tamanho
Referências
Genoma GC% Proteínas Genes Ano
(Mb)
Cromossomo
1,75 40,0 803 832 2016
1. DEPARTMENT OF VITICULTURE &
1 ENOLOGY, UNIVERSITY OF
Fonte: (6). CALIFORNIA. Kluyveromyces marxianus.
Publicado em 2018. Disponível em:
Aplicações Biotecnológicas https://wineserver.ucdavis.edu/industry-
info/enology/wine-microbiology/yeast-
As leveduras da espécie K. marxianus mold/kluyveromyces-marxianus. Acesso em:
pertencem à classificação de microrganismos 23 set. 2019.
141
4. LEVEDURAS E FUNGOS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
8. SCHOLZ, Elisa Bonifacio. Estudo Cinético de
2. LANE, Melanie M.; MORRISSEY, John P. Kluyveromyces marxianus CBS 6556 a partir
Kluyveromyces marxianus: A yeast emerging de fontes alternativas de Carbono e
from its sister’s shadow. Fungal Biology Nitrogênio visando a síntese de β-
Reviews. v. 24, n. 1-2, p. 17-26, 2010. galactosidase. 2011. 89 f. Projeto de Pesquisa
Disponível em: (Mestrado em Engenharia de Processos) –
https://doi.org/10.1016/j.fbr.2010.01.001. Universidade da Região de Joinville. Programa
Acesso em: 22 set. 2019. de Mestrado em Engenharia de Processos.
Joinville. 2011.
3. LERTWATTANASAKUL, Noppon. et al.
Genetic basis of the highly eficiente yeast 9. TORTORA, Gerard J.; FUNKE, Berdell. R.;
Kluyveromyces marxianus: complete genome CASE, Christine. L. Microbiologia. 10 ed.
sequence and transcriptome analyses. Porto Alegre: Artmed, 2012.
Biotechnology for Biofuels, Yamaguchi, v. 8,
n. 47, p 1-14, 2015. Disponível em:
https://dx.doi.org/10.1186/s13068-015-0227-x.
Acesso em: 23 set. 2019.
142
4. LEVEDURAS E FUNGOS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
143
4. LEVEDURAS E FUNGOS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
utilização do metanol como fonte de carbono e
energia. Os promotores de AOX são induzidos
escassez de nutrientes, por brotamento ou fissão por metanol e são reprimidos por glicose,
(mitose). Na reprodução sexuada existem dois glicerol ou etanol (1).
tipos de acasalamento onde as diferentes células
haploides se fundem e sofrem fusão nuclear para Tabela 2 - O projeto genômico de Komagataella
criar uma célula diploide capaz de se reproduzir pastoris DSMZ 70382 foi depositado no
por mitose. Porém, a escassez de nutrientes GenBank sob o número de acesso
induz a célula diploide a sofrer meiose, LTAD00000000.1.
resultando em quatro núcleos haploides que se
separam em diferentes células produzindo Genoma Tamanho % CG Nº de Nº de Ano
esporos haploides que ficam presos em uma (Mb) proteínas genes
estrutura comum, o asco (7). A notável Linear 9,4 41,1 5,057 5,274 2009
característica fisiológica dessa levedura é o fato Fonte: (5).
de ela ser metilotrófica, sendo capaz de crescer
em meio contendo metanol como única fonte de Aplicações Biotecnológicas
carbono. Isso ocorre pela hiperexpressão de uma
enzima peroxissomal chamada álcool oxidase Quanto ao potencial biotecnológico de
que pode atingir 30% das proteínas intracelulares Komagataella pastoris, a mesma se destaca
na presença de metanol (6). como hospedeiro alternativo para a produção de
proteínas heterólogas biofarmacêuticas como:
proteases, anilases, glicomilases, xilanases,
lipases, celulases, isomerases entre outras.
Apresentando muitas vantagens em relação a
outras leveduras como, por exemplo,
Saccharomyces cerevisiae, devido a sua alta
densidade de cultivo, rápido crescimento,
desenvolvimento de linhagens mais estáveis,
com processamento pós-traducional similar ao
de humanos com glicosilação dos tipos (O e N-
glicano), crescimento em meio com metanol que
inibe o crescimento de contaminantes, baixo
custo de produção em escala industrial e baixa
Figura 4 - Representação esquemática do ciclo carga protéica (6). A baixa carga protéica
de vida de K. pastoris. Fonte: (7). secretada é uma grande vantagem que possibilita
os produtos secretados serem muito menos
Genoma contaminados com a proteína da célula
hospedeira (4). Além disso, a necessidade de
O genoma de Komagataella pastoris é de engenharia genética para produzir linhagens de
aproximadamente 9,4 Mb, organizado em quatro K. pastoris melhoradas de alto rendimento é
cromossomos, nos quais apresenta baixa relativamente baixa (3). Embora a produção de
redundâncias de genoma, onde a maioria das proteínas seja a principal aplicação
enzimas metabólicas está presente apenas em biotecnológica de K. pastoris, a produção de
cópias únicas (4). O genoma de K. pastoris metabólitos também entrou recentemente em
contém dois genes álcool oxidase foco de pesquisa, pois além dessas aplicações
AOX1 e AOX2 específicos que permitem a biotecnológicas, é amplamente utilizado como
144
4. LEVEDURAS E FUNGOS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
Dissertação (Mestrado em Biologia Molecular) -
Universidade de Brasília. Brasília. 2012.
modelo para a pesquisa de peroxissomos e
organelas secretoras (4). 7. PIERCE, Benjamin A. Genética: um enfoque
conceitual. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Referências Koogan, 2016.
145
4. LEVEDURAS E FUNGOS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
também em alimentos em decomposição como
frutas e pães (9).
4.8 Penicillium chrysogenum
146
4. LEVEDURAS E FUNGOS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
Genoma
a partir da formação dos conidióforos que
produzem conídios, sendo estes, carregados pelo O genoma da linhagem industrial mutada
vento e, ao encontrarem condições favoráveis P. chrysogenum P2niaD18 está organizado em
para desenvolvimento, geminam dando origem a quatro cromossomos e apresenta alta
outro corpo vegetativo do fungo. A reprodução produtividade de penicilina e deficiência de
sexuada de fungos ascomicetos ocorre por meio nitrato redutase (10).
do contato gametangial, seguido de copulação Tabela 2 - O projeto genômico de Penicillium
gametangial e espermatização, ou somatogamia chrysogenum P2niaD18 foi depositado no
que se constitui de três fases que são GenBank sob o número de acesso
plasmogamia, cariogamia e meiose. Após a JMSF00000000.1.
meiose são formados os ascos que são
Genoma Tamanho % Nº de Nº de Ano
semelhantes a sacos onde são produzidos os
(Mb) CG proteínas genes
ascósporos, que se dispersam e germinam Linear 32,52 48,9 11,198 11,460 2014
formando novas hifas (6). Os esporos aéreos
Fonte: (3).
de P. chrysogenum são importantes alérgenos
humano, cujas principais proteínas alergênicas
Aplicações Biotecnológicas
são as proteases vacuolares (Pen ch 18) e as
serina proteases alcalinas (Pen ch 13) (7). O
O Penicillium chrysogenum é produtor de
Penicillium chrysogenum é caracterizado por ser
uma grande diversidade de antibióticos, enzimas
o principal produtor de antibióticos β-lactâmicos
e metabólitos secundários biosurfactantes
como penicilina e seus derivados
(glicolipídeos, lipopeptídeos, fosfolipídios,
semissintéticos: amoxicilina, ampicilina e
ácidos graxos e compostos poliméricos) que
pivampicilina entre outros metabólitos
fazem com que apresente um amplo potencial
secundários. Quando infectam alimentos, o seu
biotecnológico, podendo ser aplicado no ramo
metabolismo de degradabilidade também produz
industrial, ambiental e biotecnológico.
micotoxinas nocivas à saúde humana e animal
Industrialmente, pode ser utilizado para
como: aflatoxinas, ocratoxina e patulina (9).
produção em larga escala de enzimas, produtos
farmacêuticos, produtos alimentícios,
cosméticos. No ramo ambiental e
biotecnológico, pode ser aplicado como agente
de controle biológico, agentes promotores do
crescimento de plantas, devido a promover fito-
hormônios como ácido indolacético (auxina) e
ácido giberélico, biorremediação e
biodegradação, além de um grande campo de
pesquisa ainda inexplorado possibilitando o
surgimento de novos produtos naturais para
aplicação na medicina, agricultura e indústria
(9).
Referências
150
4. LEVEDURAS E FUNGOS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
4. 10 Saccharomyces cerevisiae
153
4. LEVEDURAS E FUNGOS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
154
4. LEVEDURAS E FUNGOS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
hibridação foi responsável pelo surgimento das
linhagens dos dois grupos, porém a perda de
heterozigosidade, frequente em Saccharomyces,
afetou tais genomas (11).
A linhagem CBS 1483 pertence ao Grupo
2 foi utilizada para estruturar uma montagem
genômica de uma levedura Saccharomyces
pastorianus, já que, anteriormente, haviam
assembléias genômicas incompletas ou
fragmentadas desse microrganismo. Essa
montagem genômica utilizou o sequenciamento
de leitura longa para gerar um genoma de
referência contendo várias cópias não idênticas
Figura 2 - O ciclo de vida de Saccharomyces de um mesmo cromossomo. Além disso, para
cerevisiae. Alternância de gerações e analisar a ancestralidade de S. pastorianus, foi
crescimento vegetativo. Fonte: (8). desenvolvido um método computacional que
calculou a similaridade entre os dados
Genoma disponíveis para S. Pastorianus, em relação aos
conjuntos de dados de S. cerevisiae e S.
O genoma das linhagens de S. eubayanus (11).
pastorianus é altamente aneuplóide, ou seja, A análise do genoma completo resultou
cada cromossomo pode ou não conter inúmeras em 31 cromossomos, totalizando 23 Mb e 10.632
cópias de si mesmo. Nesse caso, podem ser genes. Os cromossomos foram nomeados
encontradas de zero a cinco cópias de cada conforme sua presença nos sub-genomas de S.
cromossomo em diferentes linhagens de S. cerevisiae e S. eubayanus, como por exemplo, o
pastorianus. Alguns genomas individuais de cromossomo intitulado ScXII se refere ao
linhagens dessa levedura contêm entre 45 e 79 cromossomo XII do sub-genoma de S.
cromossomos, o que faz com que S. pastorianus cerevisiae, enquanto SeIII, da mesma forma, se
seja considerado um microrganismo excepcional refere ao cromossomo III do sub-genoma de S.
dentro do gênero Saccharomyces e tenha eubayanus. Alguns cromossomos, devido a
evoluído ao longo de sua utilização no ambiente recombinações, contêm sequências dos dois sub-
cervejeiro (11). genomas, incluindo: SeIII-ScIII, SeVII-ScVII,
Muitas pesquisas relacionadas ao genoma ScX-SeX, SeX-ScX e SeXIII-ScXIII. Por meio
dessa levedura abordam a separação das da análise de ontologia genética, o estudo
linhagens em dois grupos diferentes: o Grupo 1, identificou o enriquecimento de diversas funções
que contém representantes cuja hibridização importantes para a indústria na linhagem CBS
ocorreu entre um ancestral haplóide de S. 1483 de S. pastorianus, como genes
cerevisiae e um ancestral diplóide de S. envolvidos na floculação da levedura ou na
Eubayanus; e o Grupo 2, que contém atividade transportadora de diversos açúcares
representantes cuja hibridização ocorreu entre como: manose, frutose e glicose (11).
um ancestral diplóide, triplóide ou tetraplóide de Devido ao extenso número de
S. cerevisiae e um ancestral diplóide de S. cromossomos, as informações apresentadas na
eubayanus. As primeiras cepas isoladas por tabela abaixo serão resumidas. O genoma
Hansen fazem parte do Grupo 1. Evidências completo da linhagem CBS1483 de
recentes comprovam que o mesmo evento de Saccharomyces pastorianus pode ser acessado
155
4. LEVEDURAS E FUNGOS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
nov. 2019.
na plataforma NCBI pelo número de
identificação 342 (10), ou diretamente nos 1. DOS SANTOS, Scheila Karina Brito.
artigos aqui citados (11). Identificação de leveduras dentro do
complexo Saccharomyces “sensu stricto” por
PCR-fingerprinting. 2006. 72 f. Dissertação
Tabela 2 - Genoma da linhagem CBS1483 de
(Mestrado em Ciências Biológicas – Biologia
Saccharomyces pastorianus.
Molecular) – Centro de Ciências Biológicas,
Tamanho Nº de Universidade Federal de Pernambuco. Recife.
Genoma GC% Ano 2006. Disponível em:
(Mb) genes
Linhagem <https://repositorio.ufpe.br/bitstream/12345678
23,0 39,3 10.632 2019
CBS1483 9/1910/1/arquivo5192_1.pdf>. Acesso em: 30
nov. 2019.
Fonte: (10).
2. DZIMBA, Flávia Edite Justina Manuel.
Aplicações Biotecnológicas Obtenção e avaliação de extratos protéicos
por autólise das leveduras Saccharomyces
A história evolutiva de Saccharomyces cerevisiae e Saccharomyces carlsbergensis.
1994. 119 f. Tese (Mestrado em Tecnologia de
pastorianus ainda possui muitas dúvidas e
Alimentos) – Faculdade de Engenharia de
controvérsias, sendo que, atualmente, muitas
Alimentos, Universidade Estadual de
pesquisas estão sendo conduzidas com o intuito Campinas. Campinas. 1994. Disponível em:
de melhor elucidar sua evolução (2). Além disso, <http://repositorio.unicamp.br/jspui/bitstream/R
é possível abordar, em estudos, a seleção de EPOSIP/255300/1/Dzimba_FlaviaEditeJustina
linhagens dessa levedura adaptadas a condições Manuel_M.pdf>. Acesso em: 29 nov. 2019.
extremas de fermentação, impostas nos
processos industriais, como por exemplo, sua 3. FLEET, Graham H. Chapter 11:
capacidade de fermentar a baixíssimas Saccharomyces and related genera. In:
temperaturas. Em relação ao seu emprego BLACKBURN, Clive. Food Spoilage
industrial, essa levedura tem sido utilizada para a Microorganisms. Cambridge: Woodhead
Publishing, 2006. p. 306-335.
produção de bebidas como cerveja, do tipo Lager
e vinho (12). Também pode ser empregada na
4. GIBSON, Brian; GIANNI, Liti. Saccharomyces
produção de extrato de levedura: composto pastorianus: genomic insights inspiring
comumente utilizado como fonte proteica em innovation for industry. Yeast, v. 32, n. 1, p.
meios de culturas microbianas (3). 17-27, 2015. Disponível em:
https://doi.org/10.1002/yea.3033. Acesso em:
Referências 18 mai. 2020.
157
4. LEVEDURAS E FUNGOS COM POTENCIAL BIOTECNOLÓGICO
160
ISBN 9786586105155
161