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Energia Hídrica
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Energias Renováveis
Energia
Hídrica
Organizadores
José Baltazar Salgueirinho Osório de Andrade Guerra
Youssef Ahmad Youssef
Consórcio de Universidades
Européias e Latino-Americanas em
Energias Renováveis – JELARE
Copyright © JELARE – 2011
Professora Conteudista
Paola Beatriz May Rebollar
Energias Renováveis
Energia Hídrica
Livro Digital
Designer Instrucional
Aline Cassol Daga
Sabrina Bleicher
Parcerias
1. Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
2. Aproveitamentos hídricos nas diferentes regiões do planeta. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
3. Impactos ambientais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
4. Contabilidade ambiental. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
5. Aspectos técnicos de aproveitamentos hídricos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
Energia das marés (Tidal power). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
Energia das correntes marinhas (Marine current power) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
Energia das ondas oceânicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
Energia do fluxo dos rios. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
6. Princípios físicos da energia de barragens (Dam power). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
7. Equipamentos e design das instalações das barragens. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
Equipamentos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
Design das instalações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
8. Viabilidade dos aproveitamentos hídricos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
Estudos de casos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
9. Políticas públicas e regulamentações. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
10. Considerações finais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
Referências bibliográficas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
Referências de ilustrações e tabelas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
ENERGIA HÍDRICA l 7
1. Introdução
A
água é elemento fundamental para o desenvolvimento econômico e social.
Ela é importante para garantir a integridade dos ambientes naturais, além
de ser fonte de energia.
Energia da água
A energia hídrica pode ser usada de muitas maneiras, para irrigação, abastecimento
doméstico, produção de ar comprimido, e em moinhos e máquinas têxteis, por
exemplo. No entanto, a forma de aproveitamento economicamente mais importante
dessa energia é a geração de eletricidade.
Hidroeletricidade
E
xistem muitos usos possíveis para a energia hídrica. A energia cinética da
água corrente ou a energia potencial de quedas de água podem ser usadas
diretamente para operar máquinas. Esses foram os principais usos dessa
energia até metade do século XIX.
A água corrente é uma das mais antigas fontes de energia utilizadas para reduzir o
trabalho de pessoas e animais. Há pelo menos 5.000 anos, já existiam, em diferentes
lugares do planeta, equipamentos de aproveitamento de água. O primeiro deles foi a
roda de elevação (Figura 1). Esse equipamento aparece nos registros arqueológicos
de diferentes regiões no Oriente Médio e era composto de uma roda de madeira
na qual eram afixados jarros de cerâmica que elevavam a água provavelmente para
irrigação.
10 l ENERGIA HÍDRICA
Moinhos
Outro equipamento ainda hoje muito conhecido e utiizado é o
moinho. Os primeiros moinhos foram utilizados provavelmente para
produzir farinha de trigo na região do Mediterrâneo. Seus registros
mais antigos datam de praticamente 2.000 anos atrás e se estenderam
até a Escandinávia. Nos séculos seguintes, eles ficaram cada vez mais
sofistificados e se espalharam pelo Império Romano e além de suas
fronteiras. Com o passar do tempo, os moinhos movidos a água
passaram a ser utilizados também para mineração, siderurgia, produção
de papel. A água era a principal fonte de energia mecânica. Estima-se
que no século XVII, somente na Inglaterra, existiam 20.000 moinhos
movidos a água em funcionamento.
O uso mais comum das águas está relacionado à irrigação de cultivos agrícolas. Esse
uso é muito antigo e ainda é fundamental para o desenvolvimento de atividades
agrícolas visando evitar as incertezas climáticas. Em algumas regiões, a irrigação
ainda é utilizada, fazendo uso de tecnologias neolíticas que aproveitam a energia
potencial para distribuição de água nas áreas cultivadas (Figura 2).
ENERGIA HÍDRICA l 11
A energia hídrica pode ainda ser utilizada para produção de ar comprimido a partir
de quedas de água. Utilizando uma trompa é possível comprimir o ar que pode
ser utilizado para operar outros equipamentos distantes da água. Em condições
ideais, a compressão é possível diretamente. Uma coluna de água cai em uma
câmera subterrânea, levando uma mistura de ar e água gerada pela turbulência.
Nessa câmera, o ar é separado da água, comprimido e capturado no alto da câmera
enquanto a água é espelida para a superfície. Existem algumas usinas com esse tipo
de equipamento, um exemplo é a Usina do Rio Montreal, no estado de Ontário, nos
Estados Unidos, que opera desde 1910.
12 l ENERGIA HÍDRICA
Nos oceanos, a energia das marés pode ser capturada na posição horizontal, sendo
possível utilizá-la através de geradores de fluxo semelhantes a turbinas eólicas.
Além disso, ainda é possível produzir eletricidade utilizando barragens de marés. A
energia hídrica marinha pode ser usada para geração de eletricidade pela utilização
das ondas de superfície. Pontaa e Jacovkisa (2008) destacam a utilização da
energia cinética das correntes marinhas e as diferenças de temperatura entre águas
profundas e superficiais nos oceanos para gerarem hidreletricidade.
Na América do Sul, o Brasil gera 90% de sua eletricidade a partir da energia hídrica,
e a Colômbia, 80,4%. Outros exemplos nessa região podem ser apontados, tais
como o Panamá, o Chile e a Venezuela.
papéis dos setores público e privado ainda são analisados para melhor definição de
atribuições no desenvolvimento de projetos hidrelétricos. Atualmente, destacam-se
algumas diretrizes, tais como o desenvolvimento de plantas que permitem múltiplos
aproveitamentos, transporte, abastecimento de água, integração entre diferentes
fontes renováveis – hídrica, eólica, solar – para a geração de eletricidade; e a
utilização das plantas hidrelétricas para mitigação das emissões de GEE em projetos
de desenvolvimento limpo.
Produtores de Hidreletricidade
3. Impactos ambientais
A
implantação de empreendimentos hidrelétricos promove impactos
ambientais positivos e negativos. Dessa forma, existem impactos que
prejudicam o ambiente (ecológico, econômico e social) local, como
o alagamento de áreas de vegetação nativa. Mas também existem impactos de
atividades econômicas que favorecem o ambiente local, como, por exemplo, a
geração de empregos em áreas onde existe a migração de jovens em busca de
trabalho (MÜLLER-PLATENBERG; AB’SABER, 1998; SANCHEZ, 2006).
Outro problema ambiental que pode ser causado pela existência de barragens está
relacionado com alterações no transporte de sedimentos naturalmente realizado
pelo recurso hídrico regulado. No Egito, a construção da barragem do Alto Aswan
reduziu o transporte de solos e nutrientes, afetando negativamente as atividades
agrícolas a jusante (em uma corrente, é lado contrário ao da nascente, ou seja, para
onde correm as águas, ponto mais próximo à foz). Além disso, os sedimentos foram
acumulados no reservatório, reduzindo o volume de água (BOYLE; EVERETT;
RAMAGE, 2003).
mais de 60.000 pessoas cada uma. A implantação da barragem das Três Gargantas, na
China, implicou no desaparecimento de 100 cidades e no deslocamento de 1 milhão
de pessoas (BOYLE; EVERETT; RAMAGE, 2003).
Impactos ambientais
O controle desses impactos pode ser realizado por meio de medidas, projetos ou
programas ambientais como:
» » redimensionamento da infraestrutura;
28 l ENERGIA HÍDRICA
4. Contabilidade ambiental
A
discussão sobre a qualidade ambiental é cada vez mais relevante
internacionalmente. De acordo com a legislação local é possível analisar o
valor das externalidades ambientais geradas pela instalação e operação de
um empreendimento gerador de energias. Essa análise é denominada avaliação de
passivos ambientais.
Passivos ambientais
Essa avaliação permite observar os riscos do negócio gerados por ações inovadoras,
pela análise das reivindicações das comunidades atingidas e pela verificação do
cumprimento das obrigações ambientais legais. De forma geral, existem três tipos de
obrigações decorrentes do passivo ambiental: legais ou implícitas, construtivas e
justas.
Avaliação de passivos
5. Aspectos técnicos de
aproveitamentos hídricos
A
energia hídrica está presente nas águas dos rios e oceanos, e existem
múltiplas formas de aproveitá-la. A partir daqui, serão discutidos os
princípios físicos, equipamentos e instalações relacionados à geração
de hidreletricidade a partir de diferentes fontes hídricas, tais como as marés, as
correntes marinhas, as ondas oceânicas, os fluxos das águas correntes dos rios ou as
quedas de água nas barragens.
Energia potencial
A energia potencial é aquela presente em um corpo e que está pronta
para ser convertida em energia cinética. Uma mola comprimida, um
elástico esticado possuem energia potencial; em uma cachoeira, a
água apresenta energia potencial. Ao realizar o movimento a energia
potencial é convertida em energia cinética, a qual está associada ao
movimento.
uma grande barragem de marés foi construída na França, com capacidade instalada
de 240 MW. Isso se deve a obstáculos como a necessidade de altos investimentos,
bem como aos grandes impactos ambientais associados.
Fluxos de marés
Diversas avaliações visando a identificar áreas potenciais para
instalação de sistema de geração de eletricidade baseado no
aproveitamento dos fluxos de marés foram realizadas no Reino Unido.
Esses estudos identificaram 33 áreas adequadas. Entre elas, a região
de Portland Bill, Dorset, na costa sul do Reino Unido, é conhecida por
apresentar fluxos de maré com velocidade de aproximadamente 3.6
m/s, grandes penhascos em cada lado, fortes turbulências e ondas de
superfície. Os estudos das marés dessa região buscaram identificar
os sistemas de transporte de sedimentos através de modelagem
matemática (BLUNDEN; BAHAJ, 2006).
No passado, havia grandes dificuldades técnicas para explorar a energia dos oceanos,
principalmente, devido a dificuldades na construção dos equipamentos e sua
manutenção no ambiente marinho. A exploração de petróleo em águas profundas
promoveu avanços científicos e tecnológicos que permitiram maior exploração da
energia das correntes marinhas.
Aproveitamento de energia
Erosão
A erosão de praias é um grave problema em muitos países. Esse
fenômeno ocorre por diversos motivos: redução do suprimento de
sedimentos pela barragem de rios; modificação do transporte de
sedimentos pela construção de diques e quebra-mares; e aumento
do nível dos mares. As principais estratégias para conter os processos
erosivos nas praias são o suprimento de areia nas áreas erodidas e
retirada de quebra-mares.
Bomba hidráulica
Ondas
incidentes
Pêndulo
Ensecadeira
Esse tipo de aproveitamento conduz boa parte do fluxo do rio através de um tubo ou
túnel que leva às turbinas de geração de eletricidade e depois conduzem de volta ao
leito do rio (Figura 10).
Nas últimas décadas, projetos desse tipo foram implantados em diferentes regiões.
O Canadá possui uma planta com capacidade instalada de 1027 MW, em British
Columbia. A definição de áreas viáveis para implantação desses projetos deve levar
em consideração o fluxo e a altura da queda de água, pois a queda deve ser abrupta
(GULLIVER, 1991).
A
seguir serão descritos os princípios físicos da geração de energia
elétrica a partir do aproveitamento do fluxo das águas fluviais. Esse tipo
de aproveitamento consiste em utilizar a energia potencial da água,
convertendo-a em energia cinética e, em seguida, em energia elétrica.
Potencial de energia
Essas usinas são bastante eficientes, podendo gerar mais de 95% da energia
disponível a montante. Em qualquer tipo de usina sempre há perdas de energia
dentro do sistema, pois a água dissipa parte de sua energia pelo atrito e turbulência
nos condutos até atingir a turbina.
ENERGIA HÍDRICA l 43
P = hrgk,
Onde P é a energia em KW; h é a altura em metros; r
é a vazão de água em metros cúbicos por segundo; g
é a aceleração da gravidade (9,8 m/s2); e k é o coefi-
ciente de eficiência que varia entre 0 e1.
Exemplo: Considerando que em um ano existem 8.760 horas, então uma usina
com capacidade instalada de 1 MW funcionando constantemente deve ser capaz
de produzir 8.760 MWh, ou 8, 76 milhões kWh/ano. O fator de capacidade de
qualquer planta hidrelétrica é igual a sua produção anual atual dividia pela máxima
produção possível, ambos na mesma unidade (kWh, MWh etc.). O resultado dessa
divisão deve expressar uma porcentagem. Assim, a usina de Carsfad com capacidade
instalada de 12.000 kW, gera 30 milhões kWh de eletricidade por ano.
A
definição de máquinas pode ser entendida como sendo o conjunto de
equipamentos que transforma dada energia em trabalho mecânico. Toda
máquina é constituída de dois equipamentos básicos: o motor e o gerador.
Equipamentos
Em uma motobomba hidráulica, o motor elétrico gera trabalho mecânico ao mover
uma turbina, a qual aumenta a pressão e eleva a água para cotas maiores. As usinas
hidrelétricas utilizam esse mesmo princípio, porém no sentido inverso. Nesse
caso, a turbina hidráulica é o motor que transforma a energia potencial em energia
mecânica. Acoplado à turbina, é instalado o gerador que recebe o trabalho mecânico
e o transforma em energia elétrica (Figura 12).
ENERGIA HÍDRICA l 45
Turbinas hidráulicas
Existem muitas variações desse tipo de turbina; elas podem ser formadas por pás
ou por hélices e ambas podem ter eixo vertical, horizontal ou inclinado e serem
alimentadas por um ou mais injetores de injeção total. Para a escolha correta do tipo
de turbina a ser instalada devemos analisar os fatores ligados ao local de instalação,
como altura de queda e vazão, além dos custos de captação da água e operação do
sistema (GULLIVER, 1991).
Turbina Francis
As turbinas tipos Francis, por exemplo,
apresentam eficiência energética intermediária,
funcionam com vazões médias e quedas
podendo variar de 30 a 500m. Seu rotor é
constituído de um núcleo cilíndrico onde são
soldadas diversas lâminas inclinadas e fixadas em
outro cilindro externo, assemelhando-se a uma
turbina de avião (Figura 13). A ação da turbina
se dá pela injeção de água. Figura 13 – Turbina Francis 13
As turbinas tipos Francis são de longe as mais utilizadas entre as usinas de porte
médio e até mesmo as de grande porte. Elas são turbinas de reação que apresentam
eficiência energética intermediária e que podem ter designs bem diferentes,
variando seu tamanho de 30 cm de diâmetro até 6 metros.
Esse tipo de turbina funciona completamente submersa e, por isso, pode trabalhar
da mesma forma com o rotor na posição horizontal ou vertical. Em volumes de água
médios e altos, o fluxo que passa pela turbina é canalizado através de um tubo curvo
cujo diâmetro diminui em direção ao final, o que provoca aumento da velocidade.
A forma das lâminas e a velocidade da água são aspectos críticos na produção de
fluxos que permitem alta eficiência na produção de eletricidade. As turbinas Francis
funcionam de forma mais eficiente quando a velocidade da lâmina é um pouco
menor do que a velocidade da água incidente.
transfere energia para o rotor e assim mantém a rotação. Por essa razão, essas
turbinas são chamadas de reação. Para reduzir as perdas de energia, é necessário
manter a velocidade e a direção corretas do fluxo de água. Nessas condições ótimas,
as turbinas Francis podem alcançar uma eficiência de 95%. No caso de redução de
demanda, a geração de energia pode ser reduzida pela diminuição do fluxo de água,
o que pode ser feito, no caso das turbinas Francis, mudando o ângulo de incidência
do líquido nas lâminas (BOYLE; EVERETT; RAMAGE, 2003; HILL, 1984).
Turbina Pelton
Outro tipo de turbina largamente utilizado é
a do tipo Pelton. Esse modelo é inspirado nas
antigas rodas d`água ou rodas do tipo Pelton, que
podem ter seu eixo horizontal ou vertical e serem
alimentadas por mais de um injetor de jato livre
(Figura 14). Essas são turbinas de ação. Figura 14 – Turbina Pelton 14
Os injetores são fixos e seu acionamento é feito através de agulhas móveis em seu
interior, as agulhas regulam a vazão de acordo com a quantidade de água disponível
de modo a transformar a maior parte da energia potencial em energia cinética. Em
uma usina desse tipo, em que a altura de queda é constante, a agulha é regulada
para que o jato de água também tenha velocidade constante mesmo com vazões
diferentes. Portanto, a potência gerada dependerá unicamente da velocidade de
arrasto periférico da turbina determinada pelo volume de água que atinge a concha.
Turbina Turgo
Uma variante da turbina Pelton é a denominada Turgo.
Esse tipo de turbina foi desenvolvido em 1920. As
conchas simples foram substituídas por duplas, com a
água entrando por um lado e saindo pelo outro. A água
entra como um jato, atingindo as conchas que por sua
vez impulsionam a turbina (Figura 15). No entanto,
sua habilidade de lidar com volumes de água maiores
do que a roda Pelton com o mesmo diâmetro é uma
vantagem para a geração de eletricidade em quedas Figura 15 – Turbina Turgo 15
de água com tamanho médio (BOYLE; EVERETT;
RAMAGE, 2003; PIMENTA, 1981).
Turbina Kaplan
Outro tipo de turbina é denominado Kaplan ou
Propulsores. Nesse tipo de turbina, a área por onde
a água entra é a maior possível, sendo uma turbina
adequada para fluxos de água muito grandes,
podendo ser utilizada mesmo se a queda de água
apresenta apenas poucos metros.
Turbinas adequadas
De forma geral, podemos dizer que as turbinas Pelton são mais adequadas
para altas quedas de água, os Propulsores para pequenas quedas e as
Francis para situações intermediárias.
A vazão dos recursos hídricos é bastante variável. Rios, mares, lagos e lagoas
apresentam vazões variáveis e até mesmo aleatórias. Existem aproveitamentos
hidroenergéticos que não demandam a regularização da vazão. Esses
aproveitamentos são projetados para utilizar as vazões naturais dos recursos
hídricos selecionados. São denominadas de usinas a fio de água (SOUZA; FUCHS;
SANTOS, 1983).
No entanto, vazões variáveis não são ideais para a maior parte dos modelos
utilizados de aproveitamentos hidroenergéticos. O dimensionamento das
instalações e equipamentos se refere a algum valor específico de vazão. Assim,
equipamentos planejados para vazões mínimas deixarão de aproveitar grandes
quantidades de energia, já equipamentos para vazões máximas ficarão sem operar
durante muitos períodos.
O primeiro passo para garantir a regulação da vazão é definir que tipo de barragem
deve ser construída. As barragens são estruturas transversais construídas no leito
do rio com o intuito de bloquear a passagem da água. O tipo ou tamanho de uma
barragem irá depender do objetivo a qual ela se destina. As grandes barragens são
construídas para proporcionar a formação de amplo reservatório de regulação de
vazão, onde a variação do índice pluviométrico é muito grande ao longo do ano. As
barragens muito altas servem para elevar o nível da água a jusante e proporcionar
desnível adequado para o aproveitamento hidroenergético com vazões menores.
Barragens menores podem ser construídas apenas para captação e desvio da água
para uso em local mais distante.
52 l ENERGIA HÍDRICA
O dimensionamento dos condutos de adução deve estar de acordo com a vazão para
a qual a turbina foi construída. A seção transversal do conduto determina o volume
de água que será transportado, e a velocidade da água é determinada pela razão entre
a declividade e a perda de carga dentro do conduto. A perda de carga é calculada de
acordo com o percurso pelo qual a água passa até atingir a turbina e principalmente
em função de curvas, de conexões e do material de revestimento do conduto.
Quanto maior for a rugosidade do material, maior será a perda de carga.
Onde:
Hp = a perda de carga
Q = a vazão
I = índice de Hazen-Willians (tabela)
D = diâmetro interno do conduto
L = comprimento do conduto
56 l ENERGIA HÍDRICA
Índice de Hazen-Willians
O reservatório deve possuir volume de água suficiente para, numa abertura brusca
de admissão da turbina, atender à demanda imediata de água mais rapidamente do
que seria possível através do canal, cujo tempo de resposta será proporcional ao seu
comprimento (SOUZA; FUCHS; SANTOS, 1983). As câmaras de carga também
funcionam como espelho d’água para dissipar as ondas de choque do golpe de aríete
ao receber excesso de água do canal adutor ou de água rejeitada pelas turbinas em
caso de fechamento. Muitas vezes as câmaras são ainda equipadas com vertedouros
para escoar o volume de água além de sua capacidade de retenção.
Nas barragens com tomada de água sob pressão, logo após a comporta deve ser
construída uma galeria vertical com altura superior à cota máxima do reservatório
e aberta em cima. Essa estrutura é denominada de “chaminé de equilíbrio” e tem
o propósito de possibilitar a sucção do ar quando o fluxo de água é interrompido
subitamente, de modo a evitar a formação de cavitações no interior da tubulação.
O fenômeno de cavitação é a formação de bolsões de vácuo gerados pela
rápida diminuição da pressão, o que pode ocasionar a implosão da estrutura ou
deslocamento de parte dela. Após a passagem pela turbina, a água é direcionada aos
tubos de sucção ou canais de fuga e restituída ao leito do rio.
Projeto hidrelétrico
8. Viabilidade dos
aproveitamentos hídricos
A
viabilidade é a característica do que pode ser feito, praticado, executado;
daquilo que é possível, razoável, que pode ser realizado com sucesso. A
existência de aproveitamentos hídricos para geração de eletricidade em
funcionamento há mais de 40 anos demonstram sua viabilidade.
Um dos temas levantados nos estudos sobre as plantas hidrelétricas diz respeito a
falhas em estruturas hidrelétricas. Falhas em barragens apresentam grande perigo
para as pessoas, propriedades e formas de vida a jusante. Diante disso, a necessidade
de elaboração de planos de emergência relacionados a esses tipos de falhas é
cada vez maior; planos que levem em consideração estimativas de enchentes e
descargas de água obtidas através de modelagem matemática (COLEMAN; JACK;
MELVILLE, 1997; SINGH, 1996; WURBS, 1987).
Em países com recursos hídricos limitados, duas estratégias estão sendo aplicadas
para possibilitar a exploração hidrelétrica. A primeira é a instalação de plantas
hídricas em barragens construídas para outros objetivos; a segunda se refere à
ENERGIA HÍDRICA l 59
Outro problema que afeta grande parte dos reservatórios de usinas de geração
de hidreletricidade é a sedimentação. No entanto, a sedimentação é mais grave
em rios de águas turvas do que em rios cristalinos. As grandes barragens podem
acumular sedimentos por décadas antes que esses causem problemas, mas pequenos
reservatórios podem atingir sua capacidade de armazenamento em alguns anos ou
mesmo em uma única tempestade (FAN; MORRIS, 1992; HOLEMAN, 1968;
ZHIDE; XIAOQING, 1997).
Algumas das primeiras usinas construídas no planeta na década de 1940 não levaram
em consideração questões relacionadas à sedimentação dos reservatórios. Em todas
as usinas nas quais a sedimentação constitui um problema grave há a necessidade de
estratégias para minimizar esse fenômeno. As principais estratégias são:
Todos esses temas estão relacionados com a viabilidade técnica e ambiental dos
empreendimentos hidrelétricos. No entanto, existem ainda aspectos éticos e
econômicos que exercem influência sobre o desenvolvimento desse setor. Mesmo
quando uma fonte de energia é adequada e aceitável do ponto de vista financeiro
e ecológico, ainda podem existir outros fatores que afetem sua viabilidade. Assim,
ENERGIA HÍDRICA l 61
de acordo com Boyle, Everett e Ramage (2003) e Hill (1984), duas questões
importantes precisam ser discutidas no que se refere à produção de hidreletricidade:
a . disponibilidade constante;
O critério final, entretanto, é o mais crítico. As plantas hídricas são determinadas pela
geografia. Muitos tipos de plantas, como as usinas com barragens ou os aproveitamentos
de ondas e correntes marinhas, não estão localizados próximos a grandes centros
consumidores, em geral. Já as pequenas centrais ou as usinas que aproveitam o fluxo de
água dos rios podem ser capazes de atender a esse requisito com mais facilidade. Esse
62 l ENERGIA HÍDRICA
Estudos de casos
Muitos aspectos relevantes sobre as interações entre os aproveitamentos
hidrelétricos, desenvolvimento econômico e equilíbrio ambiental podem ser
observados na análise de exemplos já instalados. Inicialmente, são apresentados
casos de grandes e pequenas usinas hidrelétricas com barragens. Para cada caso
apresentado foram analisados os temas tratados acima. Assim, são discutidos
aspectos ambientais (peixes, metano, retirada de pessoas); e aspectos relacionados
com os custos (de implantação, de operação e valor por unidade produzida).
Tucuruí
No Brasil, uma das maiores usinas hidrelétricas existentes é a Tucuruí, localizada no
estado do Pará, região situada no bioma da floresta Amazônica. A construção dessa
usina esteve inserida em políticas públicas que buscavam aumentar a produção de
eletricidade no país, bem como ocupar a Amazônia. Devido à distância dos centros
consumidores, o projeto de Tucuruí foi associado a outros importantes projetos
econômicos, à instalação do polo industrial-exportador Grande Carajás que extraía e
exportava minérios (ferro, manganês e bauxita) e produzia alumínio; e à construção
da rodovia Transamazônica (MONOSOWSKI, 1998).
As Três Gargantas
O projeto da usina hidrelétrica das Três Gargantas (Three Gorges) na China é
antigo. Esse projeto está relacionado ao rio Yang-tsé, um dos maiores do país.
Originalmente proposto em 1919, o projeto das Três Gargantas passou por longo
trajeto histórico e político até ser aprovado em 1992. A barragem tem 181 metros de
altura e foi construída durante 5 anos, até ser completada em 2003. O reservatório
apresenta locais com 100 m de profundidade, e a capacidade planejada da usina é de
18,2GW. Uma vez que essa usina foi inaugurada há pouco tempo, ainda não existem
dados sobre aspectos físicos, técnicos ou de engenharia, tais como erosão, falhas,
sedimentação (WANG; NIU, 2009; WU et al, 2003).
O Sistema Galloway
A primeira ideia para o aproveitamento dos rios e lagos do sul da Escócia surgiu em
1890, mas o sistema só se tornou viável com o estabelecimento do sistema elétrico
público em 1920. Somente em 1935 foi aprovado o sistema hidrelétrico Galloway,
no rio Dee, cujo objetivo era atender ao centro industrial de Glasgow e, por isso, era
necessário implantar plantas capazes de atender aos picos de demanda (BOYLE;
EVERETT; RAMAGE, 2003; HILL, 1984).
Esse sistema foi desenhado para gerar eletricidade extra em momentos de alta
demanda. Ele compreende seis usinas que são controladas por um sistema
integrado, o qual é tecnicamente interessante porque existem muitas diferenças
entre as barragens, o que levou ao uso de diferentes conjuntos de turbinas e
geradores.
66 l ENERGIA HÍDRICA
Itaipu
Em 1973, técnicos percorreram o rio de barco em busca do ponto mais indicado
para a construção da Itaipu Binacional. O local foi escolhido após a realização de
estudos com o apoio de uma balsa. No coração da América do Sul, brasileiros e
paraguaios indicavam um trecho do rio conhecido como Itaipu, que, em tupi, quer
dizer “a pedra que canta”. Naquele local, encontrava-se uma ilha, quase sempre
submersa, chamada Itaipu, logo após uma curva acentuada de rio, onde a correnteza
parecia medir forças com os barrancos, e a poucos quilômetros da confluência
com o rio Iguaçu. Estudos indicavam para aquele ponto um rendimento energético
excepcional, em virtude de um longo cânion escavado pelo rio.
A construção da Itaipu Binacional – considerado um trabalho de Hércules pela
revista “Popular Mechanics”, dos Estados Unidos – começou em 1974, com a
chegada das primeiras máquinas ao futuro canteiro de obras. No segundo semestre
de 1974, foi estruturado o acampamento pioneiro, com as primeiras edificações para
escritórios, almoxarifado, refeitório, alojamento, posto de combustíveis, que existe
até hoje, e as estradas de terra de acesso ao canteiro de obras. A região começou
a transformar-se num “formigueiro” humano. Entre 1975 e 1978, mais de 9 mil
moradias foram construídas nas duas margens para abrigar os homens que atuavam
na obra. Até um hospital foi construído para atender os trabalhadores. À época,
Foz do Iguaçu era uma cidade com apenas duas ruas asfaltadas e cerca de 20 mil
habitantes. Em dez anos, a população passou para 101.447 habitantes.
Nos canteiros de obra, a primeira tarefa foi alterar o curso do rio Paraná, removendo
55 milhões de metros cúbicos de terra e rocha para escavar um desvio de 2 km. O
engenheiro Gomurka Sarkaria é o responsável pelo modelo da barragem, do tipo
gravidade aliviada, formando aberturas que lembram a estrutura de uma catedral.
A Itaipu Binacional passou a ser uma realidade irreversível. A escavação do desvio
do rio Paraná terminou dentro do prazo. Em 20 de outubro de 1978, 58 toneladas
de dinamite explodiram as duas ensecadeiras que protegiam a construção do novo
curso. O desvio tem 2 km de extensão, 150 metros de largura e 90 de profundidade.
No mesmo dia, foi assinado um contrato de US$ 800 milhões que garantiu a compra
de turbinas e dos turbogeradores. O novo canal permitiu que o trecho do leito
original do rio fosse secado, para ali ser construída a barragem principal, em concreto.
A Itaipu Binacional foi a única grande obra nacional a atravessar a fase mais
aguda da crise econômica brasileira do final dos anos 1970, mantendo o status de
prioridade absoluta. No domínio da construção civil, escavações e obras civis, a
Itaipu atingiu um índice de nacionalização, considerado o parceiro brasileiro, de
praticamente 100%. Na área de fabricação e montagem dos equipamentos, o índice
de nacionalização nunca foi inferior a 85%.
68 l ENERGIA HÍDRICA
9. Políticas públicas e
regulamentações
O
s empreendimentos hidrelétricos, especialmente as plantas com barragens,
promovem fortes alterações no ambiente natural das áreas onde são
implantados. Diante da necessidade de controlar as interferências
ambientais, os governos de diferentes países estabeleceram legislações visando a
regulamentação, a instalação e a operação de empreendimentos hidrelétricos.
Estudos ambientais
Sustentabilidade energética
Já nos países em desenvolvimento, existem ainda muitas ações para que sejam
alcançados resultados significativos a nível nacional da integração dos diferentes
usos dos recursos hídricos. Apenas 21% dos países em desenvolvimento têm planos
em execução ou finalizados para integração. Os países do continente americano
foram os que implementaram maior quantidade de projetos. Em seguida, estão
os países africanos que se destacaram por implantar processos participativos com
distintos colaboradores e também pela implantação de subsídios e microcrédito; por
último estão os países asiáticos que avançaram mais em reformas institucionais, mas
que apresentam deficiências no que se refere à coordenação institucional.
Espera-se que esse tipo de avaliação seja capaz de incluir a análise de impactos
cumulativos, as normas de uso da terra, as necessidades ambientais, as estratégias
para redução da pobreza e para o crescimento econômico, além de incorporar no
planejamento energético os elementos da sustentabilidade (econômico, social e
ecologia).
O
s investimentos em hidreletricidade são capazes de movimentar
diferentes aspectos da economia e do bem-estar das comunidades
em diferentes países. Investimentos nesse setor podem promover
sustentabilidade, acesso à energia e água, redução no ritmo das mudanças climáticas
e estimulação de mercados e investimentos. As estratégias de aproveitamento
da energia hídrica para produção de eletricidade podem, no entanto, produzir
impactos ambientais negativos. Uma vez que tais impactos podem comprometer a
qualidade ambiental local, regional e internacional, é necessário garantir o controle
e o monitoramento desses para que a hidreletricidade alcance os objetivos de
sustentabilidade propostos.
Desenvolvimento hidrelétrico
Sustentabilidade
Política da Política
água Energética
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Referências de ilustrações
e tabelas