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AMAR

Coletânea
de
Livres
Infantis

Livre diário. Uma criança trans relata a sua história em um caderno de descobertas
e reflexões. Os escritos de Frida Kahlo, Hilda Hilst e Clarice Lispector foram as
partidas, assim como os relatos de alunas e alunos participantes das oficinas
da AMAR no Projeto Reinserção Social Transcidadania. O corpo como um dom e
a beleza de existir. É o revelar-se. A expressão artística de todas as infâncias.

A melhor maneira de construir uma sociedade sem preconceitos começa na infância.


Nenhuma criança nasce preconceituosa: são os mais velhos que transmitem a intolerância
como uma espécie de doença cultural que, depois, é muito mais difícil de curar. A
educação é uma importante ferramenta de combate e transformação. Assim também
é a literatura infantil, elemento fundamental para a formação de todos nós. Por isso, ela
tem que ser diversa, como a vida mesma é, com gente de todas as cores e casais de
todos os tipos e famílias tão diferentes como na realidade. Para que ninguém se
sinta estranho nesse mundo. Para que os outros e as outras entendam. Para que
vivamos melhor. Viva a literatura infantil diversa e colorida com as cores do arco-íris!
Livros que libertem dos preconceitos e da ignorância. Livros para livrar da doença
do ódio. Livros que sejam LIVRES, para a liberdade, o amor e a felicidade! Viva a
AMAR Coletânea de Livres Infantis! Jean Wyllys

Realização
VINÍCIUS CARDOSO
Na odisseia lançada para compor esse “livre”, Devíamos ter medo de como as pessoas se odeiam e não de como se amam.
descobri que eu sou trans. Todo mundo é. Descobri Não entendo nem como podemos manter preconceitos ou estranhezas para
que gênero deve ser compreendido como uma com essa coisa incrível de encontrarmos metade do nosso coração em outra
variável. É fluido. Descobri que existe verdade no pessoa. Coração é um órgão de partilha que não pede muita licença nem
lugar da naturalidade. A bricolagem de si mesmo. dá muita explicação. O bonito de se ser pessoa é isso de não ter limite para
Caleidoscópica. Sou branco, cisgênero, gay, classe amor, e o amor, de todos os jeitos, é sempre uma surpresa, até para quem fica
média. Privilégios que assumi aos alunos e alunas fazendo planos, contas ou tomando decisões. Se for amor, ninguém vai decidir
do Transcidadania, projeto da Prefeitura de São muito, vai apenas reconhecer. Por que razão, então, querer regrar o carinho
Paulo, onde aplicamos oficinas de texto e desenho.
de alguém? Carinho, cuidado, não se deve diminuir, só aumentar.
Lá todos se descobriram artistas e inspiraram o
mergulho dessas páginas. Nos descobrimos juntos. Todas as classes, de todas as matérias, de todas as escolas deviam começar
Transcendemos. Superamos. assim: antes de aprendermos sobre matemática, biologia, inglês ou história,
Agradeço à minha sobrinha Catarina, que me fez devemos celebrar a capacidade de amar. Amar vai até ajudar a que a gente
renascer para a beleza da infância e para o amor. aprenda matemática, biologia, inglês ou história, porque tudo na vida é
justificado por sentir vontade e existir companhia. Se não houvesse ninguém,
MARCIA MISAWA a gente também não ia querer saber mais nada. A mais espantosa conta de
Sou ilustradora que ama a infância. Fiz pós- matemática tem de ser o amor. O maior luxo da biologia tem de ser o amor.
graduação em Educação e lá aprendi que o O assunto mais sagrado para ser declarado em inglês tem de ser o amor.
preconceito acaba surgindo porque as pessoas A parte mais importante da história tem de ser o amor.
temem o desconhecido. Que os adultos dizem o
que é certo ou errado, mas é com os amigos que Por vezes, preconceito contra amor começa quando alguém pensa nos outros
as crianças vão decidir. E que o primeiro passo para fazendo sexo. Eu não gosto sempre de pensar nos outros fazendo sexo. Só
formar cidadãos justos e generosos é conhecer-se às vezes. Somos todos assim. Muita gente não nos atrai e ficamos com
a si mesmo e dar-se valor. Desde criança tenho o vergonha da nudez, tornamo-nos muito complicados e bobos com a nudez.
sonho de mudar o mundo através da beleza dos Por exemplo, eu não quero pensar em meus pais na cama, arghhhh, mas
sentimentos. E a aquarela me mostra, todos os preciso de agradecer que tenham dormido juntos. Na verdade, pensar no
dias, que o inesperado pode ser o mais bonito. amor dos outros a partir do sexo é uma tolice. Eu sei que a maioria do povo
Imagine a minha alegria por participar de um que se ama nem faz muito sexo, fica vendo novela, lendo livros, cuidando dos
“livre” que fala de tudo isso. filhos, pagando contas, precisando de férias, sonhando, comendo abacate.
Eu adoro abacate. Mas o amor suporta tudo. Só o ódio é que não.
Aos alunos e alunas do Transcidadania, com muita
admiração e carinho. As famílias são todas as junções de gente que se ama. Amigos que amam
são família da categoria sorte demasiada.

GRATIDÃO Se você for menina e gostar de menino, eu gosto de você. Se você for menino
À Fernanda de Moraes da Silva. Ao grupo de amigos e gostar de menina, eu gosto de você. Se você for menina e gostar de menina,
amados que nos ajudaram nas oficinas e debates. eu gosto de você. Se você for menino e gostar de menino, eu gosto de você.
Obrigado André Peixoto, Bruno H Castro, Fernanda Se você for menina e gostar de alguém que não sabe o que é, eu gosto de você.
Franco, Cris Eich, Ligia Roca, Rosana Urbes, Zaine Se você for menino e gostar de alguém que não sabe o que é, eu gosto de você.
Laura Gabriel. Um agradecimento especial aos Se você não gostar, lamento. Desejo que crie condições para mudar.
alunos, alunas e organizadores do Transcidadania:
Amanda Marfree, Ester Lisboa, Gil Santos, Janaina Rosana Urbes, Cris Eich, Marcia Misawa, Safo, Mateus Rios, Thiago Minamisawa,
Santos, Maria Catharina de Mello, Milky Oliveira, Vinícius Cardoso e Bruno H Castro (querido amigo), gosto muito de vocês.
Paloma Dourado, Samantha, Samaya Cordeiro,
Symmy Larrat, Valeryah Rodrigues, Karen e Kyara. Ostentem o amor. Vocês é que estão certos.

VALTER HUGO MÃE


Governo do Estado de São Paulo e
Secretaria da Cultura apresentam:

AMAR
Coletânea
de
Livres
Infantis
Safo
Estória visual e transcriações de Rosana Urbes dos
fragmentos da poesia de Safo a partir de traduções
de Joaquim Brasil Fontes
Ilustrações Rosana Urbes
Fotografias Fernando Fernandes
EU
Texto Thiago Minamisawa
Ilustrações Mateus Rios
nonada
Texto Bruno H Castro
Ilustrações Cris Eich
Existo
Texto Vinícius Cardoso
Ilustrações Marcia Misawa
Concepção e coordenação geral Thiago Minamisawa
Edição Bruno H Castro e Thiago Minamisawa
Projeto gráfico Bruno H Castro e Thiago Minamisawa
Revisão ortográfica Fernanda Franco
Produção de gráfica Ricardo Antunes
facebook.com/amarlivresinfantis
“AMAR Coletânea de Livres Infantis” foi realizada com
recursos do edital PROAC Manifestações Culturais LGBT 2014,
promovido pela Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo.
São Paulo, Brasil - 2016
Com amor
Valter Hugo Mãe, pelo prefácio, e Jean Wyllys, pelo posfácio.
Antonio Martinelli, Peter O. Sagae, Cássio Rodrigo Silva, dados internacionais de catalogação na publicação (cip)
André Pomba, Franco Reinaudo, João Zambom, Roberto bibliotecária juliana farias motta crb7/5880
Paulino Guimarães, Ana Starling, Daniela Santos, Hugo
Toni, Márcia Abreu, Ricardo Antunes, Glene Macedo, C268e Cardoso, Vinícius
Frederico Barbosa, Daniel Moreira, Mariana Manfredini,
Existo / Vinícius Cardoso ; ilustrações Marcia Misawa. – São Paulo: [s.n], 2016.
Casa das Rosas - Espaço Haroldo de Campos de Poesia
e Literatura, Museu da Diversidade Sexual, Projeto
Reinserção Social Transcidadania, Secretaria da Cultura 32 p. : ilustrado. ; 24 x 21 cm. – ( Amar Coletânea de Livres Infantis )
do Estado de São Paulo.
Realização 1. Literatura infantojuvenil brasileira. I. Misawa, Marcia. II. Título. III. Série.
Amar Coletânea de Livres Infantis
CDD 808.899282

Índice para catálogo sistemático:

1. Literatura infantojuvenil brasileira.


Uma das partidas da obra foi o “ensô”, círculo zen-budista desenhado à mão que expressa
o momento em que a mente está livre para deixar o corpo criar. Uma atividade espiritual da
caligrafia japonesa impressa na fascinação por círculos da nossa criança artista, em sua busca
das proporções perfeitas e na tentativa de recriar manualmente a forma. A ação resume o
“wabi sabi”, ou a beleza da imperfeição. Em nossos cadernos de referências constam obras de
potentes artistas visuais, como Leonilson, Jean-Michel Basquiat, Marc Chagall e Renné Magritte.
Outras inspirações para a construção poética do trabalho são o “O Diário de Frida Kahlo”,
“O Caderno Rosa de Lori Lamby ”, de Hilda Hilst, o conto “Os Dragões Não Conhecem o
Paraíso”, de Caio Fernando Abreu, o relato autobiográfico “A Metafísica dos Tubos”, de Amélie
Nothomb, e o mergulho nas letras e na pintura feito por Clarice Lispector em “Água Viva”.

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