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São Paulo
2022
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
CONCLUSÃO
INTRODUÇÃO
Introdução (Marina citando João Maurício)Observações:
1) Justificativa da escolha
2) Explicitação metodológica
3) Resumo do conteúdo (plano de exposição)
4) Informar as premissas.
5) Abordagem estritamente normativa do direito – conjunto de normas (p. XXIII)
6) Aspecto dogmático (Tércio – Introdução ao Estudo do Direito – p. XXVII)
O trabalho a ser desenvolvido pretende estudar de forma analítica
o texto normativo relativo ao artigo 149, VII, do Código Tributário
Nacional - CTN, diante da necessidade de se investigar melhor o seu
alcance, uma vez que há escassez de trabalhos doutrinários sobre as
possibilidades encartadas por tal dispositivo.
O estudo proposto visa colaborar com o processo investigativo
dos problemas que o enunciado do artigo 149, VII, do CTN deixa em
aberto, a partir da análise das relações de coordenação e subordinação
desse dispositivo com as demais normas do sistema jurídico, cumprindo
o mister de explorar as normas do sistema jurídico no seu aspecto
sintático, semântico e pragmático.
Em razão disso, pretende-se responder a seguinte pergunta: O
terceiro, referido no inciso VII do artigo 149, do CTN, pode figurar como
sujeito passivo na relação jurídico-tributária constituída pela revisão do
lançamento?
Por hipótese, entendemos que o inciso VII do artigo 149 do CTN
não se presta a criar forma de responsabilidade tributária, ou seja, não
autoriza a inclusão do terceiro que participou do ilícito na relação
jurídico-tributária.
Há, contudo, na doutrina a posição de que esse terceiro citado no
artigo 149, VII, do CTN seria o “efetivo realizador do fato jurídico
tributário, partícipe dos atos negociais que se encontravam ocultos em
razão do pacto simulatório perpetrado com o auxílio de interposta
pessoa”1; levando a entendermos que se de fato o terceiro estiver
ocultado da condição de contribuinte ou responsável, deverá participar
da relação jurídica-tributária, ocupando a posição de sujeito passivo; do
contrário, pensamos que não é possível a sua inclusão nessa relação.
1
FERRAGUT, Maria Rita. Responsabilidade tributária. 4ª ed. São Paulo: Noeses, 2020, pg. 207.
Propõe-se neste trabalho a análise do artigo 149, VII, do CTN à
luz do Constructivismo lógico-semântico, de modo que não se tem como
iniciar o percurso dessa análise, sem antes conhecermos o direito pela
visão dessa Escola Jurídica. Assim, vamos traçar os principais conceitos
advindos desse método de conhecimento do direito, necessários à
incursão que faremos nos próximos capítulos. Criada pelos professores
Lourival Vilanova e Paulo de Barros Carvalho, o Constructivismo lógico-
semântico é escola de base epistemológica, que estuda o direito como
linguagem, analisando-o em seus aspectos sintático, lógico, semântico e
pragmático. A escola do Constructivismo Lógico-Semântico entende que
a realidade é constituída pela linguagem.
Nesse sentido, Aurora Tomazini de Carvalho 2 enuncia que “a
realidade se constitui pela linguagem e que só conhecemos aquilo que
constituímos linguisticamente em nosso intelecto”.
Com o advento da filosofia da linguagem, cujo marco inicial é a
obra de Wittgenstein (...) passou-se a considerar a linguagem
como algo independente do mundo da experiência e, até
mesmo, a ela sobreposta, originando o movimento hoje
conhecido como giro linguístico.3
O Constructivismo Lógico-Semântico, para melhor estudar a
norma jurídica tributária de incidência, promoveu o recorte necessário a
sua análise, assim, desenvolveu a chamada Regra-Matriz de Incidência
Tributária., que é instrumento que possibilita segregar, recortar o direito,
na espécie o direito tributário 4. A RMIT é utilizada como ferramente para
controlar a aplicação de da norma tributária da forma mais objetiva
possível.
Pelo trabalho aqui desenvolvido envolver tema sobre a
possibilidade de constituição de responsabilidade tributária de terceiro,
2
CARVALHO, Aurora Tomazini. A regra-matriz como esquema lógico de interpretação dos
textos jurídicos. In: BRITTO, Lucas Galvão; CARVALHO, Paulo de Barros. Lógica e Direito. 1
ed. São Paulo: Noeses, 2016. p.393.
3
TOMÉ. Fabiana Del Padre. A prova no direito tributário: de acordo com o código de processo
civil de 2015. 4 ed. São Paulo: Noeses, 2016. p.8.
4
“A regra-matriz de incidência tributária foi pensada por Paulo de Barros Carvalho a partir das
lições de Lourival Vilanova. É, portanto, um desdobramento do ‘Constructivismo Lógico-
Semântico’ que se apresenta como ‘meio e processo para construção rigorosa do discurso’ que
possibilita o exame da linguagem do direito positivo.” DUCCI, Renata Flório de Oliveira; BRAZ,
Jacqueline Mayer da Costa Ude. A norma de responsabilidade e a regra-matriz de incidência
tributária. In: MACHADO, Hugo de Brito; Ávila, Huberto; MARTINS, Ives Granda da Silva.
Revista brasileira de direito tributário e finanças públicas, n. 87. Porto Alegre: Magister, 2021.
P. 24.
por meio do artigo 149, VII, do CTN, é que se pretende demonstrar que
a partir da RMIT é possível adotar mesma estrutura de análise utilizada
para a incidência tributária para outros fenômenos jurídicos, como a
incidência da norma que constitui a responsabilidade tributária.
5
“o conhecimento humano se estrutura em três processos: (i) atribuição de nomes, que nos
garante a identificação do objeto, que reflete um conceito (ideia) do objeto; (ii) definição, que
nos permite a delimitação e o conhecimento (em sentido estrito – proposicional) do objeto,
delimitando as características, associamos um termo (nome) a outros produzindo um juízo
(proposição) sobre o objeto; e a (iii) racionalização, que nos autoriza credenciar o
conhecimento (proposição) como verdadeiro, formamos o raciocínio pela relação criadas entre
as proposições. AURORA – CLS v.3 – Pg 26. – EU: LER FABIANA – DAS PROVAS.
6
Hursserl
7
Silvia – RMIT – p.8
as coisas apresentadas à sua experiência e assim o faz por meio de
uma linguagem. Existe, por consequência, a realidade de dentro (a
inteligível) que cria a que está fora do ser (a experimentada).
Dito isso, reconhece-se duas realidades: a que está dentro do ser
(constituída em linguagem) e a que está fora do ser, mas que a ele é
inacessível. Em síntese, a Filosofia da Linguagem tem por base
entender o conhecimento enquanto linguagem 8.
Com efeito, para se conhecer um dado objeto, deve-se
empreender sua análise a partir de um método, como fora proposto pela
por Edmund Husserl em sua fenomenologia9. E para o Constructivismo
Lógico-Semântico, o método por ele utilizado parte do direito como
construção linguística, fincado que está nas ideais da filosofia da
linguagem, no modelo conhecido como giro-linguístico (firmado pelo
Círculo de Viena)10.
O Constructivismo Lógico-Semântico é uma Escola do
Pensamento Jurídico e é um método. Na perspectiva de Escola, o
Constructivismo Lógico-Semântico estuda o direito delimitando
precisamente seu objeto e utilizando-se de um método. Enquanto
método, o Constructivismo Lógico-Semântico fixa um modelo de
conhecimento do direito como linguagem, como texto.
O Constructivismo Lógico-Semântico é, portanto, uma Escola
científica11 que se utiliza do método de enxergar o direito enquanto
linguagem, e delimita o objeto estudado: o direito positivo. Mais
especificamente, esse método é denominado analítico-hermenêutico 12
apto, no nosso sentir, como o mais adequado para a investigação do
artigo 149, VII, do Código Tributário Nacional.
8
CLS . V.3. AURORA, página 22.
9
Silvia – RMIT – pg 15.
10
Silvia – RMIT teoria à prática – p. 10 – “Pensar o Direito dentro do modelo proposto pelo Giro
Linguístico, implica nos seguintes pressupostos [...] percebe-se p direito positivo como um corpo de
linguagem prescritiva que constitui a realidade jurídica”.
11
“para a epistemologia o caminho para se ter contato com os objetos é a compreensão, sendo
um método empírico dialético [...] que é próprio dos objetos culturais (pois se vai dos fatos aos
valores e dos valores aos fatos).” CLS v. 3(p. 16)
12
Silvia – Análise da norma... – pg 4.
Entendendo-se como sendo o homem quem, por meio da
linguagem, constitui todo e qualquer objeto, dentro de uma cultura 13,
revela-se o direito como um objeto cultural; tomando-se esse por todo
aquele produzido pelo homem, que modifica a natureza circundante,
visando implantar valores.
A Escola do Constructivismo Lógico-Semântico, que estuda o
direito como texto14, deve buscar auxílio em outras ciências para melhor
conhecer o seu objeto. Por essa razão a semiótica e a lógica são
instrumentos essenciais.
A semiótica é a ciência que se ocupa dos signos, esse entendido
como unidade da linguagem. Signo é relação que se estabelece entre o
suporte físico do texto e sua significação 15. Uma vez que o direito é
tomado como linguagem, a sua análise deve se valer dos conceitos
desenvolvidos pela semiótica.
A semiótica observa a linguagem sobre três prismas: o sintático,
que cuida da estrutura da linguagem, da relação entre os signos; o
semântico, que analisa o conteúdo, isto é, a relação do suporte físicos
com o conteúdo e o pragmático, que se ocupa da utilização da
linguagem, da relação dos signos com os que os utentes. (VER p. 12 de
Silvia – RMIT)
A sua vez, a lógica, enquanto ciência que estuda a estrutura
formal de uma linguagem, seu aspecto sintático, permite que possamos
entender a estrutura implicacional da norma: D(H-C), isto porque, as
normas são sintaticamente homogêneas (apresentando todas as
mesmas estruturas) e semanticamente e pragmaticamente
heterogêneas16. O campo da lógica aplicada ao direito é a lógica
deôntica, que é específica para as linguagens normativas, do dever-ser.
O que a Ciência do Direito é capaz de produzir é uma perspectiva
sobre o objeto, já que a verdade se dá, apenas sobre as relações entre
13
OLEINIK, Rosana. Teoria da norma jurídica e a regra-matriz de incidência como técnica de
interpretação do direito. In: CARVALHO, Paulo de Barros. Construtivismo Lógico-semântico.
Vol I. São Paulo: Noeses, 2019. p.208.
14
Tudo o que é passível de interpretação é texto – PBC.
15
Curso de Direito PBC, p. 179
16
Silvia – RMIT – pg. 13: “apesar de ser fechado sintaticamente em razão da obediência ao padrão
normativo na forma estrutural D(h-C), permite a constituição de inúmeras hipóteses de incidência, em
consonância com a conduta que o legislador pretende regular.”
linguagens (premissas/conclusões), isto é, de modo logicamente
estruturado.
Com efeito, verifica-se que a denominação Constructivismo
Lógico-Semântico decorre do método de observar o direito como objeto
constituído (culturalmente) pelo ser humano a partir da linguagem,
presando pela definição precisa dos conceitos e coerência lógica do
discurso, noutras palavras, utilizando-se da amarração lógico-semântica
de conceitos17, próprio do discurso científico, de modo a tratar com
conceitos unívocos, retirando a vaguidade e ambiguidade do texto.
Para essa Escola do Pensamento Jurídico, o direito é um
conjunto de normas jurídicas válidas. Uma vez que o método utilizado
separa o plano da expressão do plano do conteúdo do texto, deve-se
distinguir também a norma jurídica em sentido amplo da norma jurídica
em sentido estrito18.
No plano da expressão, tem-se o texto produzido pelo legislador,
frases ou enunciados prescritivos. Já no plano do conteúdo, encontra-se
as proposições jurídicas, que são os juízos construídos na mente do
intérprete a partir dos enunciados.
A mensagem legislativa com um sentido prescritivo completo,
capaz de mudar a conduta intersubjetiva da forma pretendida pela
sociedade, nasce da proposição jurídica, isto é, do sentido retirado do
enunciado, construindo-se a norma jurídica em sentido estrito.
A norma jurídica em sentido estrito é construída, pelo processo da
interpretação (na mente do intérprete), tendo por base o texto normativo
(enunciado prescritivo, donde se extrai a proposição), a partir da
combinação de uma proposição-hipótese e uma proposição-
consequência, por meio de um vínculo implicacional formando essa
estrutura, denominada, estrutura lógica hipotético-condicional, assim
representada: D(H-C). Elas se formam, portanto, na subjetividade do
intérprete. O processo interpretativo é representado, dentro da Escola do
17
PBC – CLS – pg. 23
18
Silvia – Análise da norma ... – pg 1 e 2: “norma jurídicas, aqui consideradas como ‘significações
construídas a partir dos textos jurídicos positivados e estruturadas consoante a forma lógica dos juízos
condicionais – PBC Cusro de Direito...
Constructivismo Lógico-Semântico, pelo chamado percurso gerador de
sentido19.
As normas jurídicas em sentido amplo, em contrapartida, são
aquelas sinônimo das proposições jurídica retiradas dos enunciados,
que se encontram objetivamente nos textos normativos e que não
formam o juízo hipotético-condicional.
Por ser a norma jurídica em sentido estrito aquela capaz de
mudar condutas conforme a vontade de determinada sociedade 20, é que
se passa a chamá-la de norma jurídica 21; enquanto, a norma jurídica em
sentido amplo, de enunciado prescritivo.
A norma jurídica deve descrever hipoteticamente um fato de
possível ocorrência no contexto social (proposição-hipótese) e que, por
um vínculo implicacional, redunda na imposição de um comportamento
pretendido (proposição-consequência). Esse comportamento diz
respeito a uma conduta, obrigatória, permitida ou proibida, que ligam
duas ou mais pessoas.
[Ocorrendo um evento no mundo dos fenômenos e esse é
capturado e relatado por uma linguagem verte-se em fato (é o relato
linguístico de um evento).- ver Marina – revisão de lançamento – p. 101.]
Se esse fato corresponder à proposição-hipótese contida na norma
jurídica e uma autoridade competente produzir linguagem, nos termos
previstos em outra norma (que trata do procedimento) 22, esse fato se
torna um fato jurídico, num processo chamado de subsunção.
Quando se diz fato hipoteticamente previsto na norma jurídica, é
importante diferenciar de evento, porquanto o direito não incide sobre o
19
Num primeiro momento, o intérprete entra em contato com um dado objetivo, a literalidade textual,
um aglomerado de frases ordenadas que forma o plano de expressão do direito positivo (S1). Partindo
deste plano, com a leitura dos enunciados prescritivos, o intérprete vai atribuindo sentido (valores) aos
símbolos que os compõem e, assim, construindo em sua mente significações, que constituem o plano
das proposições ainda não deonticamente estruturados (S2). Estas proposições isoladas, no entanto,
ainda não contêm um sentido prescritivo completo, capaz de regulamentar condutas, é preciso, então,
que o intérprete as uma na forma implicacional D(H-C). Assim, ele junta algumas das significações na
posição sintática de hipóteses (causa) e outras, no lugar de consequente (efeito), ingressando no plano
das normas jurídicas em sentido estrito (S3).
20
Silvia – Análise da norma – p. 5: a mensagem prescritiva do direito, como única linguagem competente
capaz de regular as condutas intersubjetivas, ao verter os acontecimentos sociais em fatos jurídicos.
21
“uma norma é jurídica quando pode ser aplicada coercitivamente pelo Poder Judiciário em caso de
descumprimento de suas disposições – MARINA – PG. 123.
22 As normas jurídicas sempre entram aos pares: norma introdutória – veículo introdutor – e norma introduzida
evento, mas sobre a sua versão linguística, constituindo o fato jurídico, e
é sobre ela que os efeitos são produzidos). Razão pela qual se diz que o
direito cria sua própria realidade, que é paralela aos eventos sociais.
Uma vez constituído esse fato jurídico 23, automaticamente haverá
a ocorrência do efeito jurídico previsto na proposição-consequência
contida naquela norma jurídica, pelo processo chamado de implicação.
Só será relevante para o direito o evento que estiver demarcado
na norma geral e abstrata, para construir a norma individual e concreta,
donde nascerá o fato jurídico.
Pela subsunção do fato à hipótese normativa, por meio de
linguagem competente, constitui-se o fato jurídico 24 e pela implicação
instaura-se o efeito correspondente à conduta intersubjetiva que a
norma quer regular.
Os efeitos jurídicos constituem-se sempre numa relação jurídica
ligando dois ou mais sujeitos, onde um tem o direito subjetivo e o outro o
dever jurídico de cumprir). Essa relação jurídica é vínculo abstrato que
se instaura pela incidência da norma jurídica. Esse vínculo criado pela
relação jurídica instaurada corresponde sempre a uma permissão,
proibição ou obrigação (que representam os modais deônticos).
Nesta altura já se pode tratar essa norma jurídica como geral e
abstrata, ou seja, aquela norma construída na mente do intérprete a
partir do percurso gerador de sentido.
Com a incidência que se dá pelo processo da subsunção e da
implicação, isto é, com a constituição do fato jurídico e a imputação da
relação jurídica, é que se diz que é aplicada a norma jurídica geral e
abstrata sobre o caso concreto, constituindo norma individual e
concreta25. A norma jurídica geral e abstrata é denominada pela Escola
23 “
A hermenêutica atual fala em três níveis, tais como a leitura, a interpretação e a compreensão. [...]
este processo é chamado como a inesgotabilidade do sentido, tendo em vista que por mais que
percorramos esse caminho gerador de sentidos, nunca chegaremos ao final, por é inesgotável. A
interpretação é um processo, ou um percurso gerador de sentido”. [...] neste processo terá
compreensões diferentes. (ver Hursserl) – p. 13 A inesgotabilidade da interpretação, condicionada à
intertextualidade (contexto) do direito.
24 A constituição do fato jurídico pelo aplicador do direito importa sempre em um ato de valoração com relação aos fatos alegados e as provas apresentadas. Essa temática será
25
Aplicar a norma é, portanto, positivar uma interpretação possível a se atribuído aos textos
jurídicos; ressalvando que toda construção normativa deve ser pautada em enunciados
jurídicos para garantir que o direito foi aplicado; bem assim deve-se garantir que o fato foi
do Constructivismo Lógico-Semântico de regra-matriz de incidência
tributária26.
Delineado, então, o sistema de referência que se adotará neste
trabalho e identificado o método que alicerçará a análise proposta,
entende-se necessário ainda, no próximo capítulo, ingressar na análise
da estrutura lógico-sintática da norma jurídica, por meio da investigação
da chamada regra-matriz de incidência tributária.
2. Regra-matriz de incidência tributária – Ferramenta epstemológica do
Constructivismo lógico-semântico
aquele constituído pelo fundamento das provas lícitas. Assim, o intérprete está vinculado à
observação da linguagem das provas e do texto normativo, parte essa que será melhor
desenvolvida no capítulo próprio.
26
PBC – Fundamentos jurídicos da incidência – p. 62 – “a regra-matriz de incidência tributária é u’a
norma geral e abstrata que atinge as condutas intersubjetivas por intermédio do ato jurídico
administrativo do lançamento ou de ato do particular, veículos que introduzem no sistema norma
individual e concreta.
27
De uma percepção fragmentária dos elementos que, meramente ajuntados, se ofereciam à
observação do cientista, passou-se a uma compreensão una, incindível, indecomponível e que
corresponde, estritamente, ao mínimo deôntico com sentido completo, vale dizer, à mensagem
do legislador, operando com norma geral e abstrata, em que estatui uma classe de notas que
os acontecimentos do mundo devem conter para serem considerados fatos jurídicos tributários,
imputando-se a eles, enquanto fatos concretos, a eficácia jurídica de irradiarem uma relação
deonticamente modalizada (proibido, permitido e obrigado), entre dois ou mais sujeito de
direito, vínculo igualmente previsto em seus traços de presença imprescindível. (CARVALHO,
Paulo de Barros. Direito Tributário: reflexões sobre filosofia e ciência em prefácios. São Paulo:
Noeses, 2019. p.88-89.)
28
CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário: reflexões sobre filosofia e ciência em
prefácios. 1 ed. São Paulo: Noeses, 2019, p.87.
O cientista do direito vale-se da regra-matriz de incidência
tributária como categoria de estudo do direito tributário para formular, em
termos lógico-sintáticos, a estrutura de uma norma jurídica tributária. 29
Lucas Galvão Britto é assertivo ao afirmar que30:
Para além da consistência teórica dessa técnica, o bom êxito
que a regra-matriz de incidência tributária tem alcançado em
meio a estudos no Brasil e no exterior se deve à sua
capacidade de funcionar como um “mapa” da norma de
incidência de um tributo. Seu esquema lógico permite ao
intérprete compor o sentido da norma de incidência dos tributos
a partir dos dispositivos espalhados ao longo de extensos
diplomas normativos e até mesmo de documentos de distintas
hierarquias, como acontece com frequência na experiência
brasileira.
era da técnica: como as definições feitas pelas agências reguladoras vêm influenciando a
interpretação das normas tributárias. São Paulo: Noeses, 2018. p.846.
34
CARVALHO, Aurora Tomazini. A regra-matriz como esquema lógico de interpretação dos
textos jurídicos. In: BRITTO, Lucas Galvão; CARVALHO, Paulo de Barros. Lógica e Direito. 1
ed. São Paulo: Noeses, 2016. p.404.
avanço é entender que o estudo da Lógica se volta para as
estruturar de uma linguagem. É que o estudo da Lógica
Jurídica, será responsável por identificar as estruturas da
linguagem produzida pelo legislador, nos auxiliando a melhor
lidarmos com ela.
35
“A estrutura da norma, como vimos em Kelsen, é composta por uma proposição-pressuposto
e uma proposição-consequente, enlaçadas por um functor deôntico neutro, donde aquela
descreve (descritor) uma situação possível de ocorrência factual, enquanto esta prescreve
(prescritor) uma conduta intersubjetiva.(...) Com isso, dada uma mesma estrutura para todas as
normas, a lembrar, D(p→q), em que p refere-se a uma proposição pressuposto, identificada
como um fato social possível, e q uma proposição-consequente, referente a prescrição de uma
conduta, Paulo de Barros Carvalho identifica os critérios necessários para, formalmente,
construir p e q, a saber: (i) critério material, espacial e temporal constituem p (proposição-
pressuposto); (ii) critério pessoal e prestacional constituem q (proposição-consequente).”
MARTINS, Bruce Bastos. Introdução ao estudo do constructivismo lógico-semântico no direito e
a regra matriz de incidência jurídica: breve passagem das reflexões lógicas de Descartes até
Paulo de Barros Carvalho. In: CARVALHO, Paulo de Barros. Construtivismo Lógico-semântico.
Vol III. São Paulo: Noeses, 2019. p.202-204.
36
CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributário: fundamentos Jurídicos da Incidência. 10 ed.
São Paulo: Saraiva, 2015. p.52.
(al); e o símbolo “.” é o conectivo conjuntor e “→” é o conectivo
condicional.
A regra-matriz de incidência utiliza-se da lógica para verificar a
validade da norma jurídica; assim, não sendo possível extrair dos
enunciados prescritivos contidos no texto jurídico o preenchimento
semântico para os critérios necessários à composição da “estrutura
mínima e irredutível”37 que se manifesta o deôntico, não se pode ter a
instituição do tributo38.
Noutras palavras, a regra-matriz de incidência tributária, enquanto
norma geral e abstrata, deve conter os critérios 39 essenciais para que
possa se estabelecer a incidência normativa, isto é, para que a norma
individual e concreta possa surgir. Mas, uma vez não sendo esses
critérios preenchidos, não haverá incidência válida, não se podendo
cogitar de norma jurídica individual e concreta.
37
CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário: linguagem e método. 5 ed. São Paulo:
Noeses, 2013. p.611.
38
“As funções operativas do esquema lógico da regra-matriz são basicamente delimitar o
âmbito da incidência da norma e controlar a constitucionalidade e legalidade normativa. Sendo
assim, ao preencher com o conteúdo dos textos positivados o esquema da regra-matriz de
incidência, o intérprete delimita a extensão dos conceitos conotativos da hipótese e do
consequente. Projetando isso na linguagem da realidade social, os acontecimentos capazes de
estabelecer as relações jurídicas ficam delimitados, o que também ocorre com o conteúdo
dessas relações.” BRAZ, Jacqueline Mayer da Costa Ude. Substituição tributária no ICMS:
construção de sentido e aplicação. 1ª ed. São Paulo: Noeses, 2020. p.51. E-book. Disponível
em: Amazon.com.br eBooks Kindle: Substituição Tributária no ICMS: Construção de Sentido e
Aplicação, Braz, Jacqueline Mayer Da Costa Ude. Acesso em: 25 mar. 2022.
39
“‘Critério’, vemos que uma de suas acepções que se preserva desde origem grega do termo é
a de “regra para distinguir o verdadeiro do falso”. Trata-se de noção que se coaduna com a
compreensão dos critérios da regra-matriz de incidência tributária, pois o alcance das
propriedades por eles determinadas determina uma regra para distinguir, não a verdade ou a
falsidade, mas os fatos que podem ensejar a incidência fiscal, separando-os de todos os
acontecimentos que nos darão cabimento à cobrança do tributo.” BRITTO, Lucas Galvão.
Tributar na era da técnica: como as definições feitas pelas agências reguladoras vêm
influenciando a interpretação das normas tributárias. São Paulo: Noeses, 2018. p.863.
Nesse sentido, valiosos são os ensinamentos de Lucas de Britto
Galvão40:
Sendo operação lógica, convém examiná-la pelos estudos de
lógica. Seguindo essa senda, como anota Cesar Mortari, há
duas formas de apontar que um elemento pertence a um
conjunto: a enumeração e a descrição. Quando enumeramos,
seguimos a via da denotação e designamos os elementos do
conjunto um a um, buscando o seu nome próprio; quando,
porém, descrevemos esse conjunto, fazemos uso da conotação
para aludir indiretamente aos elementos por meio de suas
propriedades: os atributos cuja presença ou ausência são
determinantes para julgar se um membro qualquer pertence ou
não pertence ao conjunto. (...). Desse modo, os critérios da
regra-matriz de incidência tributária cumprem uma importante
função de delinear, em conjunto, quais serão as propriedades
que os elementos (acontecimentos da vida social) devem
apresentar para pertencer à classe dos fatos descritos na
norma geral e abstrata, perfazendo a primeira das operações
lógicas envolvidas na incidência, a subsução.
40
BRITTO, Lucas Galvão. Tributar na era da técnica: como as definições feitas pelas agências
reguladoras vêm influenciando a interpretação das normas tributárias. São Paulo: Noeses,
2018. p.846.
41
“Essa delimitação do campo da incidência também possibilita o controle do ato, que toma a
regra-matriz como fundamento jurídico, ou do próprio ato legislativo que a criou. Assim, a
norma individual e concreta deve se coadunar com a regra-matriz de incidência, que a
fundamentou. Caso não ocorra, o ato deverá ser questionado. A constitucionalidade da regra-
matriz, enquanto norma jurídica, também pode ser objeto de análise para se verificar a sua
consonância com as normas de que ela retira fundamento.” BRAZ, Jacqueline Mayer da Costa
Ude. Substituição tributária no ICMS: construção de sentido e aplicação. 1ª ed. São Paulo:
Noeses, 2020. p.54. E-book. Disponível em: Amazon.com.br eBooks Kindle: Substituição
Tributária no ICMS: Construção de Sentido e Aplicação, Braz, Jacqueline Mayer Da Costa Ude .
Acesso em: 25 mar. 2022.
Nesse sentido, nota que merece destaque é a encartada por
Paulo de Barros Carvalho42:
Quando os desacertos de linguagem envolverem duas ou mais
normas, sendo uma delas, obrigatoriamente, individual e
concreta, e outra, também necessariamente, geral e abstrata,
teremos erro de direito
42
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 30 ed. São Paulo: Saraiva, 2019.
p.420.
43
“ix. denominamos de ‘ilícito monogenético’ a conduta de criar uma norma sem fundamento
na norma de competência”. GAMA, Tácio Larcerda. Competência tributária: fundamentos para
uma teoria da nulidade. 3 ed. São Paulo: Noeses, 2020. p.345.
44
GAMA, Tácio Larcerda. Competência tributária: fundamentos para uma teoria da nulidade. 3
ed. São Paulo: Noeses, 2020. p.358-360.
A regra-matriz, enquanto mapa da incidência, não se submete
apenas aos domínios do direito tributário45.
Em obra dedicada à teoria da regra-matriz de incidência, Antônio
Machado Guedes Alcoforado é assertivo ao dizer: 46
a adequada utilização dessa teoria, como método, aperfeiçoa a
produção da Ciência do Direito, em face da redução de suas
incoerências, vaguidades, ambiguidades e, por conseguinte,
possibilita uma melhor compreensão do fenômeno jurídico em
qualquer ramo do Direito.
48
“a regra de responsabilidade tributária descreve na sua hipótese dois núcleos cumulativos,
inseparáveis e logicamente dependentes, que correspondem às notas do fato jurídico tributário
em sentido estrito conjugado às notas indicativas de outro evento qualquer, lícito ou ilícito. Ou
seja, o antecedente normativo será sempre composto por dois verbos, por duas condutas. É
justamente este ‘fato complexo’ a causa eleita pelo legislador para a imputação da
responsabilidade”. DARZÉ, Andréa M. Responsabilidade tributária: solidariedade e
subsidiariedade. São Paulo: Noeses, 2010. p.124/125.
49
“Por enquanto, importa deixar consignado que, em nossa opinião, dois são efeitos mais
comuns que provoca: i. a ineficácia técnico-sintática do enunciado sobre a sujeição passiva que
compõe a regra-matriz de indicência em sentido amplo; ou ii. a necessidade de positivação de
nova norma individual e concreta que: ii.1 revoga parcialmente, ou ii.2. que irá existir
conjuntamente com a norma que constitui o crédito tributário em face do sujeito que realizou o
fato tributário”. DARZÉ, Andréa M. Responsabilidade tributária: solidariedade e
subsidiariedade. São Paulo: Noeses, 2010. p.89/90.
Comungamos do entendimento50, importante frisar, de que a
responsabilidade tributária autoriza a criação de regra-matriz própria.
Não entendemos, portanto, que a responsabilidade tributária implica
apenas na alteração do critério pessoal da regra-matriz de incidência
tributária51.
De tudo o que foi dito sobre a regra-matriz de incidência, em que
ela figura tanto como ferramenta no processo interpretativo dos textos
normativos, como também norma jurídica em sentido estrito, na
qualidade de geral e abstrata, cabe, igualmente, à regra-matriz de
responsabilidade tributária.
É que, por meio da fórmula da regra-matriz de responsabilidade,
será visto que o contribuinte não integra a relação jurídico-tributária,
como também no critério material não se terá tão somente um evento
tributário, mas igualmente se terá a previsão de outro fato, que no caso
em análise (responsabilidade capitulada no artigo 135 do CTN) será um
fato ilícito.
Exsurge do exposto a importância de construir uma regra-matriz
de responsabilidade tributária para o estudo do tema. Uma vez
preenchido a formulação da regra-matriz de responsabilidade por meio
dos enunciados prescritivos, é possível se ter bases sólidas para
analisar o fundamento de validade das normas individuais e concretas
de responsabilidade que são lançadas no sistema.
Como norma que dá fundamento de validade à norma individual e
concreta de responsabilidade, se a regra-matriz de responsabilidade não
for observada nos rigores de seus critérios, não se poderá falar em
emissão de norma válida a possibilitar o cumprimento de qualquer
obrigação pelo sujeito passivo daquela relação, no caso o responsável
tributário.
50
ALCOFORADO, Antônio Machado Guedes. A teoria da regra-matriz de incidência como
parte do método hermenêutico-filosófico científico denominado constructivismo lógico-
semântico. In: CARVALHO, Aurora Tomazini; CARVALHO, Paulo de Barros. Construtivismo
lógico-semântico. 1 ed. São Paulo: Noeses, 2018, p. 86.
51
DUCCI, Renata Flório de Oliveira; BRAZ, Jacqueline Mayer da Costa Ude. A norma de
responsabilidade e a regra-matriz de incidência tributária. In: MACHADO, Hugo de Brito; Ávila,
Huberto; MARTINS, Ives Granda da Silva. Revista brasileira de direito tributário e finanças
públicas, n. 87. Porto Alegre: Magister, 2021.
Inicia-se, de logo, fazendo as distinções necessárias entre a
regra-matriz de incidência tributária e a regra-matriz de
responsabilidade52. Em que a primeira tem no seu antecedente uma
hipótese de incidência tributária; enquanto a segunda tem no seu
antecedente um fato não tributário que, no caso da responsabilidade do
artigo 135 do CTN é um fato ilícito53.
Não se pode, nesse diapasão, deixar também de diferenciar o
consequente da regra-matriz de responsabilidade do consequente da
regra-matriz de incidência tributária. Naquele, tem-se em seu critério
pessoal, na qualidade de sujeito passivo, um terceiro com obrigação de
pagar o tributo, no outro, tem-se o contribuinte.
De notar que, a regra-matriz de responsabilidade tem no critério
pessoal, na condição de sujeito passivo, aquele que não praticou o
verbo contido no critério material da regra-matriz de incidência tributária,
mas sim aquele que praticou fato não tributário, a que se denomina de
responsável tributário.
Da distinção entre o contribuinte o responsável 54, não se tem
dúvida que antecedente da regra-matriz de responsabilidade difere do
antecedente da regra-matriz de incidência tributária, sendo certo que,
pelo antecedente dessas duas normas serem distintos, é que se
entende pela impossibilidade de serem traduzidas com iguais equações
dentro da linguagem lógica das formulações55.
Na regra-matriz de incidência tributária tem-se no antecedente a
prática de um ato lícito (conforme prescreve o artigo 3º do Código
52
“também nos sentimos habilitados a definir a responsabilidade tributária como norma jurídica
que prescreve em seu antecedente notas de um fato não tributário (lícito ou ilícito), mas que
tem como pressuposto necessário um fato tributário (ainda que presumido).” DARZÉ, Andréa
M. Responsabilidade tributária: solidariedade e subsidiariedade. São Paulo: Noeses, 2010. p.
87.
53
“Daí entendemos ser perfeitamente possível estabelecer o fato ilícito como antecedente da
regra de responsabilidade, sem que isso implique qualquer violação ao conceito constitucional
de tributo.” DARZÉ, Andréa M. Responsabilidade tributária: solidariedade e subsidiariedade.
São Paulo: Noeses, 2010. p. 103.
54
Com efeito, o Código Tributário Nacional define, no seu artigo 121, o contribuinte como o
sujeito que dever ter relação pessoal e direta com o fato tributário, enquanto o responsável
como o sujeito que, ao ser designado por lei, fique obrigado ao pagamento do tributo sem
revestir-se da condição de contribuinte.
55
“Afinal, uma coisa é o fato tributário, outra, bem diferente, é o fato da responsabilidade. Esse
pressupõe aquele, mas com ele não se confunde.” DARZÉ, Andréa M. Responsabilidade
tributária: solidariedade e subsidiariedade. São Paulo: Noeses, 2010. p. 103.
Tributário Nacional), representada pelo seu critério material, composto
do verbo e seu complemento. Enquanto, na regra-matriz de
responsabilidade, pode haver hipóteses de fato ilícito como antecedente
sem que isso viole a definição de tributo, pois o fato da responsabilidade
é distinto do fato tributário, embora esse seja o pressuposto daquele.
Para melhor elucidar o que estamos tratando, pertinente é a
narrativa de Andréa M Darzé56 sobre o tema:
A regra de responsabilidade tributária descreve nas suas
hipóteses dois núcleos cumulativos, inseparáveis e
logicamente dependentes, que correspondem às notas do fato
jurídico tributário em sentido estrito conjugado às notas
indicativas de outro evento qualquer: lícito ou ilícito. Ou seja, o
antecedente normativo será sempre composto por dois verbos,
por duas condutas. É justamente este “fato complexo” a causa
eleita pelo legislador para a imputação da responsabilidade.
56
DARZÉ, Andréa M. Responsabilidade tributária: solidariedade e subsidiariedade. São Paulo:
Noeses, 2010. p. 124/125.
57
DARZÉ, Andréa M. Responsabilidade tributária: solidariedade e subsidiariedade. São Paulo:
Noeses, 2010. p. 96)
exemplo, o fisco); S’ é o contribuinte; S’’ é o responsável; R é o objeto
prestacional; o símbolo “.” é o conectivo conjuntor; o símbolo “→” é o
conectivo condicional e – (S R S’) é a negação da relação entre o sujeito
ativo da relação jurídico tributária e o contribuinte.
Diante da configuração dessa hipótese de responsabilidade,
prevista pelo artigo 135 do CTN, cuja responsabilidade do terceiro é
pessoal, haverá a incidência da regra-matriz de responsabilidade
tributária aplicável à essa subespécie, modificando a sujeição passiva da
regra-matriz de incidência, para incluir o infrator como o responsável
pelo cumprimento da obrigação.
Com efeito teremos a que regra-matriz de responsabilidade,
formada a partir do artigo 135 do CTN, anula ou impede a incidência da
regra-matriz de incidência tributária, em razão da ineficácia técnico-
sintática do enunciado sobre a sujeição passiva que compõe essa
norma, conforme ocorrer o momento de sua incidência.
Ainda, nas palavras de Andréa M. Darzé58, temos que:
Também aqui o legislador foi explícito ao indicar o produto de
relações que se estabelece entre a presente norma e a regra-
matriz de incidência em sentido amplo. Ao afirmar que a
responsabilidade do terceiro é pessoal, deixou claro que a
inserção da norma de responsabilidade no sistema revoga ou
mesmo impede a incidência daquela outra na qual o
contribuinte ocupar o lugar sintático de sujeito passivo. Essas
variações de efeitos, é bom que se esclareça, leva em conta
apenas o estágio do processo de positivação no qual se
certifica a ocorrência do ilícito – se anterior ou posterior à
lavratura da norma individual e concreta em face do
contribuinte (...).
59
“A despeito disso, no decorrer do presente trabalho, ora utilizaremos a expressão regra-
matriz de incidência tributária neste sentido mais restrito, ora em acepção ampla, querendo nos
referir à norma instituidora do tributo ‘antes’ de sofrer a interferência dessas normas – em
especial, das regras de responsabilidade -, que direta ou indiretamente delineiam a obrigação
de pagar tributos, elucidando sempre a significação com que a empregamos.” DARZÉ, Andréa
M. Responsabilidade tributária: solidariedade e subsidiariedade. São Paulo: Noeses, 2010. p.
26/27.
60
Os diferentes resultados do cálculo de relações entre os enunciados normativos que versam
sobre a sujeição passiva tributária (...) na medida em que tratarmos de cada subespécie de
responsabilidade. DARZÉ, Andréa M. Responsabilidade tributária: solidariedade e
subsidiariedade. São Paulo: Noeses, 2010. p.89.
61
DUCCI, Renata Flório de Oliveira; BRAZ, Jacqueline Mayer da Costa Ude. A norma de
responsabilidade e a regra-matriz de incidência tributária. In: MACHADO, Hugo de Brito; Ávila,
Huberto; MARTINS, Ives Granda da Silva. Revista brasileira de direito tributário e finanças
públicas, n. 87. Porto Alegre: Magister, 2021. P. 38/39.
Quadra esclarecer, todavia, para os fins deste trabalho, que a
norma de responsabilidade contida no dispositivo analisado (artigo 135
do CTN) é norma jurídica em sentido lato, ou seja, é aqui entendida
como enunciado normativo. Contudo, juntamente com outros
enunciados prescritivos, que tratam da materialidade do tributo, dos
sujeitos, da alíquota etc., formam a regra-matriz de responsabilidade
tributária, isto é, norma geral e abstrata, que servirá como fundamento
de validade da norma individual e concreta de responsabilidade, emitida
quando o evento previsto naquela norma geral e abstrata for vertido em
linguagem competente. Com efeito, “Ausente qualquer das partes e não
se terá suporte fático suficiente para a sua incidência”. 62
De tudo que foi exposto, entende-se pela importância da
construção da regra matriz de responsabilidade tributária, ante a sua
utilidade prática na verificação da validade da norma jurídica individual e
concreta e será ferramenta essencial para analisar a possibilidade de
construção da regra-matriz de responsabilidade tributária a partir do
enunciado contido no artigo 149, VII, do CTN, que é o objeto de análise
deste trabalho.
62
DARZÉ, Andréa M. Responsabilidade tributária: solidariedade e subsidiariedade. São Paulo:
Noeses, 2010. p. 125.
V - quando se comprove omissão ou inexatidão, por parte da
pessoa legalmente obrigada, no exercício da atividade a que se
refere o artigo seguinte;
VI - quando se comprove ação ou omissão do sujeito passivo,
ou de terceiro legalmente obrigado, que dê lugar à aplicação de
penalidade pecuniária;
VII - quando se comprove que o sujeito passivo, ou terceiro em
benefício daquele, agiu com dolo, fraude ou simulação;
VIII - quando deva ser apreciado fato não conhecido ou não
provado por ocasião do lançamento anterior;
IX - quando se comprove que, no lançamento anterior, ocorreu
fraude ou falta funcional da autoridade que o efetuou, ou
omissão, pela mesma autoridade, de ato ou formalidade
especial.
Parágrafo único. A revisão do lançamento só pode ser iniciada
enquanto não extinto o direito da Fazenda Pública.
67
Art. 145. O lançamento regularmente notificado ao sujeito passivo só pode ser alterado em virtude
de: I - impugnação do sujeito passivo; II - recurso de ofício; III - iniciativa de ofício da autoridade
administrativa, nos casos previstos no artigo 149.
68
Diferencia-se para fins deste estudo, o autolançamento do lançamento efetuado pela autoridade
fiscal, que, nos termos do artigo XXX é atividade exclusiva dela.
ou do terceiro em seu benefício, levou à supressão ou redução do
crédito tributário constituído69.
Havendo a revisão de ofício do lançamento ou do ato de
lançamento70, a questão a ser investigada atina quanto à possibilidade
de o terceiro – mencionando no dispositivo analisado – figurar no polo
passivo do lançamento tributário se agir com dolo, fraude ou simulação
em benefício do sujeito passivo, auxiliando-o a suprimir ou reduzir
tributo.
Ou seja, é de se indagar se esse terceiro de que cuida o inciso VII
do artigo 149 do CTN, poderia figurar no polo passivo como responsável
solidário. Mais precisamente, se lei estadual poderia se valer desse
dispositivo para lhe servir de fundamento de validade, em face do que já
restou decidido pelo Supremo Tribunal Federal na ADI e o no RE de
repercussão geral.
Daremos início à essa incursão, portanto, a partir dos estudos de
caso contidos nas referidas ADIs e RE, que julgou inconstitucional as
leis que estabelecem responsabilidade solidária de terceiro que em
auxílio do sujeito passivo descumpre a obrigação tributária.
69
MARIA RITA FERRAGUR – PEGAR REFERÊNCIA
70
Propondo-se, neste caso, o lançamento de ofício originário
toda pessoa que intervenha no cumprimento de obrigação tributária.
Veja-se:
72
CURSO (?)
A Constituição Federal atribuiu a Lei Complementar a
incumbência de servir de vínculo introdutor de normas gerais, conforme
descrição contida no seu artigo 146.
A sua vez, o artigo 24 da Constituição da República em seus
parágrafos outorga igualmente como já esclarecido, às ordens jurídicas
parciais a competência plena, para atender as respectivas
peculiaridades (§3°), na hipótese de ausência de normas gerais de
direito tributário editada pela ordem jurídica total. No pertinente ao §2°, a
edição de lei por parte das ordens jurídicas parciais em caráter
suplementar pode ser exercida, desde que respeitados os limites
impostos pela norma geral editada pela ordem jurídica total.
As normas gerais articulam o sistema tributário da Constituição às
legislações fiscais das ordens jurídicas parciais. São normas sobre como
fazer normas em sede de tributação. Discorrendo sobre a abrangência
das normas gerais, leciona o doutrinador Marco Aurelio Greco:
esta dição constitucional (estabelecer normas gerais
em matéria de legislação tributária) é mais abrangente
que a utilizada pela Constituição anterior (normas
gerais de Direito Tributário) e ampliada a adotada pelo
seu art. 24, I, pois abre espaço para a lei
complementar atuar como elemento estruturante do
ordenamento tributário. Vale dizer, não apenas
dispondo sobre prerrogativas do Fisco, direito dos
contribuintes, elementos fundamentais da obrigação
etc. (os chamados Direito Tributário material e formal)
- possibilidade que já advém do art. 24, I, - mas
também sobre as relações e fórmulas de conjugação
e composição entre as várias normas que integram a
legislação interna. Ou seja, abre espaço para a lei
complementar dizer como devem e podem se
relacionar as várias normas do sistema.
73
Maria Rita ou Darzé que diz aqui se referir à sujeição passiva – procurar!
do tributo não seja confiscatória e atenda a capacidade
contributiva, pois se qualquer pessoa pudesse ser
obrigada a pagar tributos por conta de fatos praticados por
outras, com quern não detivesse qualquer espécie de
vinculo (com a pessoa ou com o fato), o tributo teria
grandes chances de se tornar confiscatório, já que poderia
incidir sobre o patrimônio do obrigado e não sobre a
manifestação de riqueza ínsita ao fato constitucionalmente
previsto. Se o vínculo existir, torna-se possível a
preservação do direito de propriedade e do não confisco.
3.1.3. Análise do artigo 149, VII, do CTN como norma geral que pode instituir
responsabilidade solidária de terceiros?
Para se analisar o artigo 149, VII, do CTN é necessário fazer os
recortes de modo a destacar os institutos que lhe tocam.
Inicia-se, portanto, pela investigação do interesse comum de que
cuida o artigo 124, I, do CTN para saber o alcance dessa expressão e se
o terceiro que age em benefício do sujeito passivo poderia ser alcançado
pela conjugação desse enunciado com o enunciado do artigo 149, VII,
do CTN. Na sequência, primordial, enquadrar quem é o terceiro de que
cuida o dispositivo em análise para se verificar se ele pode ocupar o
critério pessoal da regra-matriz de responsabilidade tributária.
Isto porque, há doutrina que entende que o artigo 149, VII é
fundamento válido para a responsabilização do terceiro na hipótese ali
enunciada. Nesse sentido, Maria Rita Ferragut74 dispõe:
O pressuposto de aplicabilidade do art. 149, VII, do CTN é a
prática de um ilícito mediante dolo, fraude ou sonegação, pelo
sujeito passivo ou terceiro [...]. Nessas situações, a norma
mantém intactos a personalidade jurídica e os atos
fraudulentos (desde que efetivamente existentes), mas autoriza
que a Autoridade Administrativa determine que todos os
envolvidos no ilícito responsam pelo passivo fiscal.
[...]
o art. 149, VII, é o correto fundamento de validade porque tanto
o contribuinte quanto o terceiro em seu benefício agiram
conjuntamente em prol desses escusos fins (fraudulentos).
Foge-se, com isso, da interminável discussão do que venha a
ser o “interesse comum” do art. 124, I, do CTN.
Por fim, não compartilhamos do entendimento de que o art. 149
autoriza que o crédito tributário seja constituído somente em
face do efetivo realizador do fato jurídico tributário, partícipe de
atos negociais que se encontravam ocultos em razão de pacto
simulatório perpetrado com o auxílio de interposta pessoa, não
configurando hipótese de solidariedade tributária.
74
Resp Trib 204/207
expressão “interesse comum”, para verificar se a solidariedade pode
alcançar tanto a figura do contribuinte, como do responsável tributário.
75
A lógica reserva à temática da classificação um capítulo inteiro, denominado, Teoria das
Classes, em que se estuda o conceito de classe e o quadro de suas propriedades gerais
(CARVALHO, 2018, p.127).
Assim, toda classe pode ser dividida em outras classes, formando
subclasses e esse processo de classificar, ou seja, separar em classe, é
ilimitado.
Importante destacar que o gênero, que compreende as espécies,
denota mais do que as espécies, porque é predicado de um maior
número de objetos, em contrapartida, a espécie deve conotar mais que o
gênero, porquanto além de conotar todos os predicados do gênero,
conota também a diferença específica.
Deve-se, pela pertinência, por fim, anotar o que nos ensina Pedro
de Oliveira Rocha:
Classificar é operação lógica (mental) que consiste em dispor
elementos em classes consoante um critério escolhido a partir
dos interesses daquele que classifica. A um só tempo, significa
aglutinar em razão da presença e separar em razão da
ausência de um mesmo predicado. (...) Em outras palavras,
sempre que se formar uma classe, cada indivíduo do universo
do discurso deve pertencer à classe (atendendo ao critério) ou
não pertencer a ela (não atendendo ao critério), sem terceira
opção. Eis o princípio da dicotomia, aplicável às classificações
e às divisões, consequência direta da lei lógica do terceiro
excluído (...)
Bastante assemelhada à operação de classificação é o
processo de divisão lógica. Enquanto a classificação parte dos
elementos para chegar às classes, reunindo-os sob um critério,
a divisão segue o caminho inverso, partindo de um gênero
conhecido para segregar as espécies (subclasses) em razão
das diferenças específicas. Classificação e divisão
basicamente representam o mesmo processo vislumbrado em
sentidos opostos, submetendo-se às mesmas regras. (ROCHA,
2019, p.68)
76
Art. 121. Sujeito passivo da obrigação principal é a pessoa obrigada ao pagamento de tributo ou penalidade
pecuniária:
Parágrafo único: O sujeito passivo da obrigação principal diz-se:
I – contribuinte, quando tenha relação pessoal e direta com a situação que constitua o respectivo fato gerador;
II – responsável, quando, sem revestir a condição de contribuinte, sua obrigação decorra de disposição expressa de
lei.
77
“Consideramos que a classificação mais acertada para as normas de sujeição passiva é a que as divide em
contribuintes e responsáveis, utilizando como critério o grau de proximidade que a pessoa compelida ao pagamento
do tributo mantém com o fato jurídico tributário. Sendo pessoal e direta, ter-se-á a figura do contribuinte. Acaso
inexistente ou de outra natureza que não pessoal e direita, ter-se-á responsável” (DARZE, 2010, p. 138). No mesmo
sentido: “Contribuinte é a pessoa que realizou o fato jurídico tributário, e que cumulativamente encontra-se no
polo passivo da relação obrigacional. Se uma das duas condições estiver ausente, ou o sujeito será o responsável, ou
será o realizador do fato jurídico, mas não o contribuinte” (FERRAGUT, 2020, p. 10).
MATERIALIDADE RECORTADA E DISTRIBUÍDA AOS ENTES
TRIBUTANTES.
O Código Tributário Nacional – CTN é a legislação, recepcionada
pela Constituição Federal de 1988 como lei complementar, de caráter
nacional, que regula a matéria tributária no direito brasileiro. Nos
diversos dispositivos do CTN encontram-se enunciados prescritivos 78
relativos ao sujeito passivo da relação jurídico-tributária. Aos fins
propostos pelo presente trabalho, as definições prescritas pelo artigo
121 do CTN no que tocam o contribuinte e o responsável são
suficientes.
78
Pela linha metodológica adotada no presente trabalho do Constructivismo Lógico Semântico,
entende-se por enunciado prescritivo os textos de lei ainda não submetidos ao intérprete,
construtor da norma jurídica em sentido estrito. Nas palavras de Noberto Bobbio: “por
enunciado prescritivo entendemos a forma gramatical e linguística pela qual um determinado
significado é expresso” (DARZÉ, 2010, p. 14).
relação, se e somente se for esse o lado escolhido pela lei para
receber a carga tributária
Em estreita síntese, quero deixar consignado que solidariedade
mesmo haverá, tão somente, na circunstância de existir uma, e
somente uma relação obrigacional, em que dois ou mais
sujeitos de direito se encontrem jungidos a satisfazer a
integralidade da prestação tributária. Ali, onde nos deparamos
com duas relações, entretecidas por preceitos de lei, para se
obter a segurança do adimplemento prestacional de uma delas,
não teremos, a bem do rigor jurídico, o laço da solidariedade
que prende os sujeitos passivos
(CARVALHO, 2015, p. 231/233).
80
Andrea Darzé pondera que: “O mero interesse social, moral ou econômico no pressuposto fático do tributo não
autoriza a aplicação do artigo 124, I, do CTN. Deve haver interesse jurídico comum, que surge a partir da existência
Verifica-se, assim, que só quem pode ter interesse comum na
situação que constitua o fato gerador é o contribuinte, uma vez que o
CTN determina que é o contribuinte que tem relação direta com o fato
gerador que constitua a obrigação tributária.
É o contribuinte quem pode praticar o fato previsto no
antecedente da norma tributária, só é ele quem tem relação pessoal e
direta com a hipótese de incidência contida na regra-matriz de incidência
tributária. A sua vez, o responsável é aquele que tem relação indireta
com o fato gerador da obrigação tributária. Logo, não pode haver
interesse comum sem se estar na condição de contribuinte.
Andrea Darzé lembra que deve ser levado em conta o vínculo
jurídico existente entre o sujeito passivo da obrigação e o fato que
caracteriza a materialidade do tributo e não o vínculo meramente
econômico:
Por outro lado, não há interesse jurídico quando os sujeitos
compartilham somente outros fatos decorrentes da riqueza
manifestada pelo fato típico (interesse econômico), o que
não autoriza que se equipare interesse comum ao
econômico.
Para nós, e a situação que aponta para a relação jurídica
originária do fato tributário, ou seja, a relação jurídica
privada qual o legislador contempla o fato que interessa ao
direito tributário (ato ou negócio jurídico).
82
No âmbito da ciência do direito, o jurista deve preferir as definições conotativas (por gênero e
diferença específica) às denotativas por serem mais adequadas ao conhecimento científico.
(MOUSSALLEM, 2016, p.268)
Assim, é que pela teoria das classes, pode-se de forma objetiva
identificar, a partir das definições prescritas pelas normas jurídicas, qual
a posição desse terceiro.
Do ponto de vista lógico-estrutural, é fato, que dentre as regras
técnicas da definição, encontra-se a que determina que “O definies não
deve ser negativo em significação, ao menos que o definiendum83 seja
primordialmente negativo em sua significação”. ( MOUSSALLEM, 2016,
p.261)
Contudo, o referido autor elucida que a definição pela negativa é
possível quando a negação for característica definitória do definiendum,
dando como exemplo de órfão (definiendum) “como ‘filho que não possui
pai nem mãe’ (definies). Aqui a negatividade (não ter pais vivos) é uma
das características definitórias da palavra ‘órfão’”. ( MOUSSALLEM, 2016,
p.261)
Ademais, explica, o citado autor, que, igualmente, é possível a
definição pela negativa se decorrentes de classes complementares,
confira-se:
A negatividade também tem funcionalidade nas definições
decorrentes de classes complementares. De acordo com
LEÔNIDAS HEGENBERG, classe complementar de A é o
“conjunto formado por elementos (do universo) não
pertencentes à Classe A”. Simboliza-se a classe e sua
complementar pelas letras K e K’, respectivamente. (...). Dentro
do universo dos fatos jurídicos (classe universal – “V”), temos a
classe “K” cujos membros são os “fatos jurídicos lícitos” e a
classe “K”, cujos elementos são fatos jurídicos ilícitos”. Isso
decorre do fato de que toda classe complementar K’ é a
negação da original K. Logo, a negatividade é a característica
intrínseca à classe complementar. (MOUSSALLEM, 2016,
p.261-262)
83
A palavra cujo conceito se busca definir se chama definiendum e as palavras usadas para
definir se denominam definies (MOUSSALLEM, 2016, p.253)
das palavras, usadas pera definir (definiens) esse terceiro (definiendum),
pela negativa.
Diante disso, propomos como definição conotativa do “terceiro”
(na condição indicada pelo artigo 149, VII, do CTN), a seguinte: terceiro
significa pessoa que não se enquadra na condição de sujeito passivo da
relação jurídico-tributária.
3.3. Artigo 124, II, do CTN como hipótese de atribuição de novas hipóteses de
responsabilidade tributária.
Por assim ser, quando o CTN no inciso II do artigo 124 impoe que a
responsabilidade solidaria da sujei9ao passiva pode se dar por deterrnina9ao
expressa de lei, entende-se, essa, por lei dos entes politicos, nao sendo necessaria lei
complementar para sua criac;ao.
Contrario sensu ea posi<;:ao de Julio de Oliveira e Sergio Vasconcelos, em
artigo publicado25, para quern o dispositi o normativo do inciso II do artigo 124 do C
ao mencionar pessoas designadas por lei, impoe a exigencia de lei complementar
confira se:
Dessa forma, quando a reda9ao do art. 124, II, menciona que sao
solidariamente obrigadas as pessoas expressamente designadas por lei, isso
nao significa que esse dispositivo legal esta autorizando o legislador a criar
novos casos de responsabilidade tributaria sem a observancia dos requisites
exigidos pelo art. 128 do CTN, tampouco das normas gerais de
responsabilidade tributaria de terceiros, estabelecidas em carater geral pelos
arts. 134 e 135.
a verdade, ele dispoe que, na hip6tese em que exista uma pluralidade de
sujeitos passives em uma rela9ao juridico-tributaria, se um deles (ou todos)
for considerado como responsavel tributario, a lei com lementar pode
estabelecer que eles respondam solidariamente pelo debito tributario. (grifos
nao constam do original)
julgado pelo plenario acolheu a posic;ao defendida par Mizabel Derzi, coma
razao de decidir, confira-se:
DIREITO TRIBUTARlO. RESPO SABILIDADE TR.IBUTAfUA.
ORMAS GERAIS DE DIREITO TR.IBUTARIO. ART 146, ill, DA CF..
ART. 135, III, DO CT . s6cros DE SOCIEDADE LIMITADA. ART.
13
DA LEI 8.620/93. INCONSTITUCIO ALIDADES FORMAL E
MATERIAL. REPERCUSSAO GERAL. APLICA<;:AO DA DECIS.A.6
PELOS DEMAIS TR.IBUNAIS.
(...)
0 preceito do art. 124, II, no sentido de que silo solidariamente obrigadas
"as pessoas expressamente designadas por lei", nao autoriza o legislador
a criar novos casos de responsabilidade tributaria sem a observancia dos
requisitos exigidos pelo art. 128 do CTN, tampouco a desconsiderar as
regras matrizes de responsabilidade de terceiros estabelecidas em
carater geral pelos arts. 134 e 135 do mesmo diploma. A previsao legal de
solidariedade entre devedores - de modo que o pagamento efetuado por
um aproveite aos demais, que a interrup<;ao da prescri<;iio, em favor ou
contra um dos obrigados, tambem !hes tenha efeitos comuns e que a
isen<;ao ou remissao de credito exonere a todos os obrigados quando nao
seja pessoal (art.125 do CTN) - pressupoe que a pr6pria condi<;ao de
devedor tenha sido estabelecida validamente.
3. A responsabilidade tributaria pressupoe duas norrnas autonornas:
a regra matriz de incidencia tributaria e a regra matriz de
responsabilidade tributaria, cada uma com seu pressuposto de fato e seus
sujeitos pr6prios. A referencia ao responsavel enquanto terceiro (dritter
Persone, terzo ou tercero) evidencia que nao participa da rela9ao
contributiva, mas de uma rela<;ao especifica de responsabilidade
tributaria inconfundivel' com aquela: 0 'terceiro" s6 pode ser
chamado responsabilizado na hip6tese de descumprimento de
deveres pr6prios de colabora<;ao para com a Administra<;ao
Tributaria, estabelecidos, ainda que a contrario sensu, na regra matriz de
responsabilidade tributaria; e desde que tenha contribuido para a
situa<;ao de inadimplemento pelo contribuinte.
84
Atribuindo conceito ordinário e não jurídico, v.g.: como sinônimo de interesse econômico.
Como se viu, ainda que haja qualquer ato doloso, fraudulento ou
simulado desse terceiro em benefício do sujeito passivo a ocultar o fato
jurídico tributário, não poderá ele participar da relação jurídica tributária
a ser constituída desse fato.
Já, para Maria Rita Ferragut, o artigo 149, VII, do CTN trata de
simulação de autonomia jurídica entre o sujeito passivo e o terceiro;
assim, haveria a prática do fato por apenas uma dessas pessoas (a
única que efetivamente existe), responsabilizando a pessoa existente
pelos débitos da fictícia, confira-se:
O pressuposto de aplicabilidade do art. 149, VII, do CTN é a
prática de um ilícito mediante dolo, fraude ou sonegação, pelo
sujeito passivo ou terceiro, tais como na simulação da
existência de personalidade jurídica, no conluio para obtenção
de um benefício fiscal ou para conferir aparência de legalidade
a uma operação ficta. Nessas situações a norma mantém
intactos a personalidade jurídica e os atos fraudulentos (desde
que efetivamente existentes), mas autoriza que a Autoridade
Administrativa determine que todos os envolvidos no ilícito
respondam pelo passivo fiscal (FERRAGUT, 2020, p.204-205)
CONCLUSÃO
Qualquer estudo que tenha o status de científico deve provar o
seu próprio método, uma vez que emprega linguagem e raciocínio
(ECHAVE; URQUIJO; GUIBOURG, 2008, p.31). A função da Lógica,
pois, é estabelecer esse controle de validade do raciocínio.
A seu turno, “raciocinar ‘consiste em manipular a informação
disponível – aquilo que sabemos, ou supomos ser verdadeiro – construir
consequências disso, obtendo informação nova’”. (CARVALHO, 2019,
p.199)
Quando a Lógica é aplicada à ciência do direito, ela recebe o
predicado de Lógica Jurídica, assim, temos nas palavras de Tarek
Moussallem que:
A lógica aplicada à Ciência do Direito denomina-se lógica
jurídica que é a análise das categorias aléticas ou apofânticas
presentes nos enunciados descritivos (que tem por valor a
verdade ou a falsidade). Por isso as leis lógicas são
estruturantes do discurso descritivo (leis da não-contradição,
do terceiro excluído e da identidade) (MOUSSALLEM, 2020,
p.161).
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O Constructivismo Lógico-Semântico, firme no pressuposto da necessária função constitutiva
da linguagem, insere-se no contexto da Filosofia da Linguagem e traz o ser humano – produtor
de textos – para o centro das teorias da norma jurídica e do ordenamento jurídico. (...)
Providência desse quilate, de cunho epistemológico, permite que a linguagem prescritiva do
direito positivo e a linguagem descritiva da Ciência do Direito sejam vivamente potencializadas
pela utilização dos instrumentos utilizados pela Semiótica para sua análise, forçando as
amarrações lógico-semântico-pragmáticas de todos aqueles que tomam o direito positivo como
objeto de conhecimento, seja para realizar incidências (agentes competentes), seja para emitir
proposições descritivas (cientistas dogmáticos do direito). (LINS, 2019, p.13-14)
norma jurídica86, fruto do processo interpretativo, onde por meio desse
método se explora os quatro planos existentes no texto jurídico.
Assim, o exegeta tem no plano S1, o plano do enunciado; no S2,
o plano das proposições; no S3, o plano das normas jurídicas e no plano
S4, o plano da sistematização.
O S1 é o plano onde o intérprete se depara com o texto, dentro da
percepção sintática, morfológica das palavras que ele contém, embora
ainda não extraindo o sentido que aquele conjunto de palavras tem
dentro daquele enunciado.
Já no plano S2, o intérprete vai buscar o significado semântico
daquele enunciado, dando-lhe sentido completo, contudo, neste
momento, ainda não se extrai do texto uma regra jurídica, não se
constrói a norma, essa que exige a expressão do dever-ser, isto é,
aquela que diz que dado determinado fato, deve ser que se adote
determinada conduta a ser observada pelo destinatário da mensagem
prescritiva, isso que só ocorrerá no plano S3.
Por fim, no plano S4, é que, com a norma já construída, o
intérprete vai verificar, dentro do sistema analisado, a sua pertinência e
validade, em uma análise de coordenação e subordinação com as
outras normas ali existentes.
Em arremate, imprescindível são as lições objetivas de Aurora
Tomazini de Carvalho sobre esse tema, que bem resumem o percurso
gerador de sentido do texto jurídico, assim vazadas:
Explicando: a compreensão dos textos jurídicos é um trabalho
construtivo, resultado de um esforço intelectual. Num primeiro
momento, o intérprete entra em contato com um dado objetivo,
a literalidade textual um aglomerado de frases ordenadas que
formam o chamado plano de expressão (S1...). Partindo deste
plano, com a leitura dos enunciados prescritivos, o intérprete
vai atribuindo valores aos símbolos que os compõem e, assim,
construindo em sua mente significações, que constituem o
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Somente a norma jurídica, tomada em sua integralidade constitutiva, terá o condão de
expressar sentido cabal dos mandamentos da autoridade que legisla.
Isso não que dizer que seja impossível elaborar, a partir da redação de um único artigo de
qualquer documento jurídico-positivo, uma norma na plenitude de sua inteireza lógica. (...) Ao
travar contato com a materialidade física do texto legislado, sabe ele, perfeitamente, que pode
ter de percorrer longo caminho, em termos de integração do sistema, de modo que, na maioria
dos casos, sairá à busca de outros enunciados, muitas vezes em diplomas diferentes daquele
que examina, tudo para montar uma única regra do conjunto, obtendo, então, a plena
esquematização formal da mensagem positivada. (CARVALHO, 2015, p.45)
plano das proposições, ainda não deonticamente estruturadas
(S2...). Como a estruturação destas proposições na forma
implicacional (...), o intérprete junta algumas das significações
construídas na proposição sintática de hipóteses e outras, no
lugar do consequente, ingressando no plano das normas
jurídicas (S3...). E, por fim, ordenar as significações
normativas, construídas no plano S3, de acordo com os
critérios de subordinação e coordenação, compondo os
vínculos que se estabelecem sistematicamente entre as
normas, para construir seu sistema normativo (S4...)
(CARVALHO, 2019, p.258-259).