Cânion do Itaimbezinho. Parque Nacional de Aparados da Serra - Rio Grande do Sul. banco de imagem THINKSTOCK.

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03/07/15 15:30
1 EXPEDIENTE

O Semeador
Vincent Van Gogh

Em toda Lua Cheia, uma publicação dedicada à memória de Hugo Werneck

DIRETOR-GERAL E EDITOR REPORTAGEM PROJETO GRÁFICO-EDITORIAL

Hiram Firmino Bia Fonte Nova, J. Sabiá e Ecológico Comunicação em
hiram@souecologico.com Luciana Morais Meio Ambiente Ltda.

DIRETORA DE GESTÃO MÍDIAS DIGITAIS REDAÇÃO

Eloah Rodrigues Bruno Frade Rua Dr. Jacques Luciano, 276
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Ecológico Comunicação em e Maria Dalce Ricas
Meio Ambiente Ltda. EDIÇÃO DIGITAL
REVISÃO www.revistaecologico.com.br
EDITORIA DE ARTE Gustavo Abreu
André Firmino
andre@souecologico.com CAPA (*) Os artigos são de responsabilidade
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CONSELHO EDITORIAL de seus autores e não expressam
Fernando Gabeira, José Cláudio necessariamente a opinião da revista.
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Xavier, Fabio Feldmann, José Carlos revistaecologico ecologico
Carvalho, Roberto Messias Franco,
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2,24 tCO2e

Dezembro de 2018
C

CM

MY

CY

MY

K
1

FOTO: JCOMP
ÍNDICE

Capa
NO “DIA MUNDIAL DA ÁGUA”, ESPECIALISTAS ABORDAM A
REALIDADE HÍDRICA MUNDIAL E LOCAL. E, SOB A ÓTICA DA
SUSTENTABILIDADE, APONTAM O FUTURO QUE NOS ESPERA Pág. 24
18
PÁGINAS VERDES E mais...
O RECADO HÍDRICO DO ATOR
GLOBAL VLADIMIR BRICHTA,
COM O SEU PERSONAGEM DAVI, IMAGEM DO MÊS 08
NA NOVELA “AMOR DE MÃE”
CARTAS DOS LEITORES 10
CARTA DO EDITOR 12
BLOG DO HIRAM 14
GENTE ECOLÓGICA 16

54 ARTIGO 36
ESTADO DE ALERTA 38
MEMÓRIA ILUMINADA OPINIÃO PÚBLICA 40
O PENSAMENTO DO ‘SUMO
POETA’ DANTE ALIGHIERI COMPORTAMENTO 42
SOBRE A CONDIÇÃO HUMANA EDUCAÇÃO AMBIENTAL 44
ECOLÓGICO NAS ESCOLAS 49

58
NATUREZA MEDICINAL
O ALECRIM É UM ALIADO
NATURAL PARA AUMENTAR
AS DEFESAS DO ORGANISMO
E TRATAR INFLAMAÇÕES
UM NOVO
ORIZONTI
VAI CUIDAR
DE BH E DO
PLANETA.

Mais que um hospital, o Instituto Orizonti é um espaço multiprofissional criado para acolher e
valorizar a vida, com tecnologia avançada e estrutura completa, com mais de 50 especialidades
médicas. O Orizonti chega a Belo Horizonte alinhado às novas tendências em arquitetura: a
maior cobertura vegetal da América Latina e um sistema de aproveitamento de água compõem
o projeto do edifício sustentável.

Conheça melhor o novo Orizonti:

www.institutoorizonti.com.br
1 IMAGEM DO MÊS

FOTO: ALFEU TRANCOSO

BELEZA NO CÉU
Superlua no céu é sinônimo de contemplação e reverência na Terra. Em mais um espetáculo da
natureza, a lua atingiu, em 9 de março, o seu perigeu – ponto de sua órbita mais perto de nós.
Quando isso ocorre, o nosso satélite natural fica até 14% maior e 30% mais brilhante, ganhando
um luar "turbinado", capaz de clarear a escuridão da noite em locais mais afastados das luzes
da cidade. O nome técnico do fenômeno é Lua Cheia no perigeu. Mas, popularmente, ganhou
o apelido de superlua. Nesta imagem, o registro foi feito pelo filósofo e fotógrafo da natureza
Alfeu Trancoso. A próxima superlua poderá ser vista em 7 de abril. Até lá!

08  ECOLÓGICO | MARÇO DE 2020

M

Y
1 CARTAS DOS LEITORES

“Um homem firme nas decisões e santo

em atitude de coragem.”
Teófilo Dantas, pelo Instagram

“Viva meu padrinho!”

Francisco Caldas, via Facebook

“Padim Cícero, o profeta do sertão.”

Luiz Dantas, via Facebook

l ECOLÓGICO NAS ESCOLAS

“Conteúdo de qualidade e lindas imagens.
A matéria dos ‘Corais’ ficou muito bacana.
A educação ambiental forma pessoas
mais conscientes.”
Fábia Leonel, por e-mail

“Gosto muito deste encarte de educação

l ESPECIAL: O RECADO DE DAVOS ambiental. Que tal fazerem algo sobre a
“O que pensar de um banqueiro? De um ‘Washington ararinha-azul. Sou apaixonada por aves.”
boy’? Banqueiro quer apenas lucrar com juros.” Cláudia Aparecida, via Instagram
Tiago Lima Pereira, via Facebook
l NATUREZA MEDICINAL – ALFAZEMA
“Num mundo onde só temos pessoas egoístas “Vou procurar aqui perto de casa para ver se
e sem empatia, Greta Thunberg é uma arrumo uma muda.”
esperança no fim do túnel!” Eliete Venâncio, via Facebook
Paty Menezes, pelo Instagram
“Tem aqui onde moro, perfume maravilhoso...”
“Que Deus multiplique jovens conscientes como Romilde Luiza, via Facebook
Greta! E que ela continue a ser ouvida.”
“Lindo, lindo demais. Que alegria.
Cygnus Maceió, pelo Instagram
Deus abençoe vocês.”
Ângela Santos, via Facebook
“As imagens dos estragos das chuvas, sobretudo
em áreas nobres de Belo Horizonte, mostram o
l BLOG DO HIRAM
FOTO: FERNANDO GILBERTO DOS SANTOS

quanto ainda temos de aprender com a natureza.

“Grande
Só com respeito a ela, mudança de mentalidade
merecimento,
e políticas públicas sérias, vamos evoluir.” figuras históricas
Antônio Prado, por e-mail da melhor estirpe.
Parabéns, Hiram, por
l MEMÓRIA ILUMINADA – PADRE CÍCERO homenageá-los.”
“Não conhecia os ‘Dez Maurício Gontijo,
FOTO: DIVULGAÇÃO

Mandamentos do Padim’. Agora pelo Instagram

que conheço, vejo o quanto ele
estava certo. Nós, infelizmente,
estamos caminhando para o
lado oposto.”
Marilson Uchoa Pinto, JOSÉ ISRAEL E OCTÁVIO ELÍSIO: os “ambientalistas
pelo Instagram históricos” da última premiação werneckiana

10  ECOLÓGICO | MARÇO DE 2020

CONTEÚDO DE MARCA
ETANOL E AÇÚCAR
CONTRA O CORONAVÍRUS
Produtores mineiros produzem 60 mil litros de álcool 70 para doação pública
O
s produtores de etanol de Minas Gerais, junta-
mente com a Start Química de Uberlândia, irão
doar 60 mil litros de álcool 70 para órgãos pú-
blicos, unidades de saúde e Polícia Militar dos municípios
do Triângulo Mineiro. A parceria com a Start Química,
uma das maiores produtoras de álcool gel do estado,
foi fundamental para que o produto, que tem um ótimo
efeito higienizador, fosse envasado corretamente.
“Recebemos várias solicitações para produção do ál-
cool 70 e nossas usinas atenderam ao chamado neste
momento difícil pelo qual passam o estado, o país e o
mundo”, afirma Mário Campos, presidente da Associa-
ção das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais
(SIAMIG). Isso só foi possível após resolução da Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que passou a
permitir a produção, o transporte e a doação do álcool
hidratado tipo 70º INPM pelas usinas.
“Estamos trabalhando para novas doações e forma-
ção de parcerias em outras regiões do estado”, afirma
Campos. A Usina Jatiboca, por exemplo, localizada em
Urucânia (Zona da Mata) já se prontificou a doar três
mil litros de álcool 70 às duas unidades do Hospital Ar-
naldo Gavazza, em Ponte Nova; além da busca de par-
ceiros na região Noroeste.
A SIAMIG e seus Associados estão atentos às necessi-
dades da sociedade e compromissados com a manuten-
ção da fabricação de produtos essenciais como o açú-
car, a energia elétrica e o álcool, imprescindível neste
momento para a higienização das pessoas e combate
ao coronavírus.
SAIBA MAIS
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Conteúdo de Marca:
MARÇO DE 2020 | ECOLÓGICO  11
 1 CARTA DO EDITOR
HIRAM FIRMINO | hiram@souecologico.com
FOTO: FERNANDO FRAZAO
ESCUTEMOS A CIÊNCIA
I
nfelizmente, é isso que os nossos olhos conti-
nuam testemunhando em toda a crosta terrestre
cada dia mais sem verde e desnuda. E, por isso
mesmo, mais quente e agonizante. Nascentes, rios,
torneiras e cisternas continuam secando e se enco-
lhendo da superfície do planeta numa velocidade
jamais vista na história recente da humanidade.
Embora a quantidade de água seja a mesma, des-
de que a vida terrestre se formou há bilhões de anos,
graças à nossa insustentável relação com a nature-
za, ela está sumindo mesmo diante das nossas reti-
nas. E de maneira irreversível. Só não vê quem não
quer. Tal como o eventual ocupante da Presidência
da República do Brasil. Até hoje, ele não ouviu o re-
cado da ‘piralha’ Greta Thunberg: “Escute a ciência!”
Foi o que ela disse ao nosso capitão surdo. Ele
mesmo que, medroso ou envergonhado perante
outros líderes mundiais, por incentivar a “Amazônia
em chamas”, não teve coragem de comparecer ao
50º Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça.
Tivesse ele ido, seus ouvidos seriam informados
12  ECOLÓGICO | MARÇODE 2020
OS ÚLTIMOS 10 anos, encabeçados
por 2019, foram a década mais
quente já registrada no mundo:
apocalipse climático à vista?
sobre o que qualquer homem e mulher da roça, sem
instrução alguma, sabe estar acontecendo cientifica-
mente. É só olhar para o sol a pino e o chão rachando
para constatar a morte em vida das lavouras de sub-
sistência e da pele humana, ressequidas juntas.
A ciência traz essa realidade em números. Os
últimos 10 anos, encabeçados por 2019, foram a
década mais quente já registrada no mundo, vasto
mundo devastado, diria hoje Drummond.
Desde 1850, e isso certamente entristeceria o
poeta de Itabira, não tivemos uma década tão
quente quanto os anos 2010. Uma década infernal,
com registros recordistas de temperatura alta, de-
gelo de calotas polares e cobertura de neve, além
de elevação do nível do mar.
De acordo com um novo relatório da Organi-
zação Meteorológica Mundial (OMM), 2015-2019
foram os cinco anos mais quentes já registrados
em todo o mundo.
Isoladamente, 2019 foi o segundo ano mais quen-
te, com temperatura média global de 1,1°C acima
CS_0003
 “De acordo com um novo relatório da Organização
Meteorológica Mundial (OMM), 2015-2019 foram os cinco anos
mais quentes já registrados em todo o mundo”
dos níveis pré-industriais estimados. Só perdeu
para 2016, mais infernal ainda, cujas consequên-
cias sanitárias e econômicas já são vistas, como a
diminuição da segurança alimentar e o aumento
de deslocamentos humanos.
São os já chamados “refugiados ambientais que
tentam, cada vez mais, entrar nos Estados Unidos
e na Europa, em busca de sombra, moradia e co-
mida”, explicam os cientistas. Refugiados climáti-
cos que também poderemos ser, todos nós, num
futuro próximo, tal como a realidade do novo coro-
navírus. A vida, enfim, ameaçada em escala global.
Com mais secas e doenças flagelando nossa traves-
sia equivocada sobre o planeta que murcha.
Até o Rio Jordão, onde Jesus foi batizado, não cumpre
mais a sua missão ecológica. Suas águas não chegam
mais ao mar. Elas são bombeadas antes, na totalida-
de e de maneira insustentável, pelo agronegócio que
produz alimentos. E o mar, onde antes chegava água
doce, hoje está ácido, por causa da salinidade exces-
siva. Nem peixes nem algas conseguem sobreviver lá.
CSul Lagoa dos Ingleses
COMPROMISSO COM O FUTURO.
LAGOA DOS INGLESES
CS_0003_19Y_AD_BANNERS_SOU_ECOLOGICO_AD_19,5x13,3cm.indd 1
TRANSFORMAÇÃO AMOROSA
Para quem ainda tem dúvida sobre tudo isso, o re-
latório da OMM está disponível na internet. Já para
quem ainda acredita na transformação ecológica e
amorosa do ser humano, temos um recado espe-
cial, nas ‘Páginas Verdes’ desta edição comemora-
tiva ao “Dia Mundial da Água”.
Trata-se de uma entrevista exclusiva com o ator
mineiro e global Vladimir Brichta, que interpreta
o ambientalista Davi, na novela “Amor de Mãe”, e
luta contra a poluição e busca a recuperação am-
biental da Baía de Guanabara.
Nessa data especial de tamanha e necessária es-
perança, para não dizer amor à natureza, às águas
que nos mantêm vivos, façamos o que, em Brasília,
um capitão poderia fazer. E nos salvar juntos, não
pondo mais fogo na Amazônia nem destruindo
o Ministério do Meio Ambiente, por ‘secamento’
ideológico, ignorância religiosa e destemor a Deus:
– Escutemos a ciência!
Boa leitura. 
Uma nova centralidade urbana onde o
Planejamento e a Sustentabilidade são os
principais pilares. Assim é o CSul Lagoa dos
Ingleses: o maior projeto de desenvolvimento
urbanístico sustentável da América Latina.
120m² de área verde por habitante.
6x mais área verde que Belo Horizonte.
11/12/19 10:10
1 BLOG DO HIRAM

“NOVO CORONAVÍRUS É REFLEXO DA

DEGRADAÇÃO AMBIENTAL”
A afirmação acima tem valor. E ela não vem cal-

FOTO: SANAKAN
çada somente pelos ambientalistas de plantão. Mas
pelos próprios cientistas que integram o Programa
das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).
Segundo eles, em seu último relato já disponível
na internet sobre a pandemia do novo coronavírus,
as doenças transmitidas de animais para seres hu-
manos estão, sim, em ascensão exponencial nunca
vista. E pioram cada dia mais, em escala planetária,
à medida que os habitats selvagens continuam a ser
destruídos pela atividade e ignorância humanas.
Os cientistas sugerem que habitats degradados
podem incitar e diversificar todo tipo de doenças,
uma vez que os patógenos se espalham facil-
mente tanto para rebanhos animais quanto entre
seres humanos.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) relata
que o morcego é a provável fonte de transmissão
do coronavírus (COVID-19), que está infectando
milhares de pessoas em todo o mundo e pressio-
nando a economia global.
Também é possível que o vírus tenha sido
transmitido aos seres humanos a partir de outro
hospedeiro intermediário, seja um animal do-
méstico ou selvagem.

OUTROS TRANSMISSORES Sem seus habitats naturais, degradados pelo ser

Os coronavírus são zoonóticos, ou seja, são trans-
mitidos de animais para pessoas. Estudos ante-
riores constataram que a Síndrome Respiratória
Aguda Grave (SARS, em inglês) foi transmitida de
gatos domésticos para seres humanos, enquanto
a Síndrome Respiratória do Oriente Médio passou
de dromedários para humanos.
De acordo com o vice-diretor de Serviços Clínicos
do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Cha-
gas (INI/Fiocruz) e médico infectologista, Estevão
Portela Nunes, na época da SARS, em 2002, foi a
civeta, uma espécie de mamífero asiática, que pro-
vocou a transição entre o morcego e o ser humano.
“Agora, o morcego é suspeito de ser a origem
do ‘salto’ de 2019. Mas ainda não sabemos que
animal funcionou como hospedeiro intermediário
até chegar ao homem.”
humano, os morcegos também migram, cada vez mais,
para o ambiente urbano, em busca de sobrevivência
“Portanto, como regra geral, o consumo de pro-
dutos de origem animal crus ou mal cozidos deve
ser evitado. Carne crua, leite fresco ou órgãos de
animais crus também devem ser manuseados
com cuidado para evitar a contaminação cruzada
com alimentos não cozidos”, comunicou a OMS.
A mesma declaração remete a alguns dias antes
de a China tomar medidas para coibir o comércio
e o consumo de animais silvestres. “Os seres hu-
manos e a natureza fazem parte de um sistema
interconectado. A natureza fornece comida, re-
médios, água, ar e muitos outros benefícios que
permitiram às pessoas prosperar”, disse Doreen
Robinson, chefe para a Vida Selvagem do Pnuma.

14  ECOLÓGICO | MARÇO DE 2020

 www.blogdohiram.com.br

OUTRAS EPIDEMIAS
O relatório “Fronteiras 2016”, sobre questões emergentes de preo-
cupação ambiental do Pnuma, mostra que as zoonoses ameaçam o
desenvolvimento econômico, o bem-estar animal e humano e a inte-
gridade dos ecossistemas.
Nos últimos anos, diversas doenças zoonóticas emergentes foram man-
chetes no mundo inteiro por provocarem ou ameaçarem causar grandes
pandemias, como ebola, gripe aviária, febre do Vale do Rift, febre do Nilo
Ocidental e zika vírus.
Para impedir o surgimento de zoonoses, é fundamental conter as
múltiplas ameaças aos ecossistemas e à vida selvagem, entre elas, a re-
dução e fragmentação de habitats, o comércio ilegal, a poluição e a proli-
feração de espécies invasoras. E, cada vez mais infernais, as mudanças
climáticas que tanto Trump quanto Bolsonaro insistem em negar.
A CIVETA: triangulação asiática

RECADO DA NATUREZA? NEM TUDO

FOTO: DIVULGAÇÃO
Seria a epidemia do novo coronavírus mais um ESTÁ PERDIDO
recado não ouvido da natureza? Dias desses, voltei a
Certa vez, perguntei ao clínico-geral e presi-
me lembrar do hoje
dente da Oncomed BH, Roberto Fonseca, qual a
amigo Roberto, ao
causa principal do diversificado aumento de cân-
acessar a palestra do
ceres em todo o planeta.
Ex-presidente da Sociedade Brasileira de Can- cientista Bruce Lipton,
cerologia e atual presidente do Conselho Supe- intitulada “A Biologia
rior da instituição, ele me respondeu de maneira da Percepção” (ou da
direta, calma e sensível: “Não existe uma causa “Crença”), no Youtube.
somente, mas várias. E todas elas se referem à Ou seja, o que existe
qualidade do meio ambiente onde vivemos, cada quimicamente lá den- BRUCE LIPTON:
vez mais degradado pelo nosso insustentável e esperança comum
tro do funcionamento per-
predatório modelo de civilização”. feito do nosso DNA, criado pela mesma natureza
para a nossa defesa imunológica. A receita natu-
FOTO: DIVULGAÇÃO ONCOMED

ral e humana, enfim, que temos dentro de nós.

E pode (ainda) nos salvar de quantos novos coro-
novírus queiram nos ameaçar.

PERCEPÇÃO BIOLÓGICA
Além de antigo, o vídeo de Bruce Lipton é muito
científico. Mas, se você, caro leitor e internauta,
tiver paciência e conseguir assisti-lo até a meta-
de do segundo tempo, a partir daí verá que exis-
te uma saída para tudo o que está ocorrendo no
mundo. Ou seja, que o mestre Guimarães Rosa e
até os Beatles tinham razão. Essa esperança (sem
spoiler) é a única coisa que trazemos no nosso
DNA e pode mudar tudo, incluindo nós mesmos,
ROBERTO FONSECA à frente na nossa errática travessia sobre o planeta.
da Oncomed: medicina perceptiva Conserve-a. E assista! 

MARÇO DE 2020 | ECOLÓGICO  15

1 GENTE ECOLÓGICA

FOTO: DIVULGAÇÃO / FACEBOOK

FOTO: ALMG

“Os brasileiros conhecem como

reagem os recursos naturais
contra a exploração predatória
de áreas agricultáveis. Elas se
transformam em desertos.”
JOSÉ APARECIDO DE OLIVEIRA
(1929-2007), jornalista, embaixador
e ex-ministro da Cultura
FOTO: JOSÉ ROSAEL / HÉLIO NOBRE

“Egoísmo, nessa hora, não vai ajudar.”

DRÁUZIO VARELLA, médico, sobre os brasileiros que não
estão levando a sério as recomendações sobre o COVID-19
FOTO: REPRODUÇÃO

“Se todos quisessem, “Nunca o ser humano

poderíamos fazer do Brasil precisou tanto um do
uma grande nação.” outro como agora.”

TIRADENTES (1746-1792), em MARGARETH DALCOMO,

conclamação conspiratória pneumologista, sobre a
aos mineiros pandemia do novo coronavírus
FOTO: DIVULGAÇÃO / INTERVENÇÃO LUNETAS

FOTO: REPRODUÇÃO YOUTUBE

“Estamos imersos em uma

crise similar àquela que
dizimou os dinossauros
há 67 milhões de anos e
cujos sinais hoje são as
extinções de espécies e as
“Quem anda no trilho é mudanças climáticas.”
trem de ferro. Sou água
MAURÍCIO ANDRÉS,
que corre entre pedras – ambientalista e escritor
liberdade caça jeito.”
MANOEL DE BARROS (1916-
2014), poeta mato-grossense

16  ECOLÓGICO | MARÇO DE 2020

 FOTO: SANAKAN

FOTO: ANDREW MEDICHINI / AP

CRESCENDO

JOSÉ CARLOS

FOTO: MARCOS TAKAMATSU

CARVALHO
O ex-ministro
“Não há ação de órgão de Meio
público que substitua a Ambiente foi
responsabilidade “Mãe, olhai para os agraciado, pela
pobres da Amazônia, Universidade
empresarial e a cultura
porque o seu lar está Federal de
em prol da sustentabilidade Lavras (UFLA),
sendo destruído por
na indústria e na interesses mesquinhos. com o título de
agropecuária.” Tocais a sensibilidade dos Doutor Honoris
poderosos porque, apesar Causa, em reconhecimento
GERMANO VIEIRA, secretário
de sentirmos que já é a “uma das trajetórias mais
estadual de Meio Ambiente e
tarde, Vós nos chamais a brilhantes na área florestal
Desenvolvimento Sustentável (Semad)
salvar o que ainda vive.” e ambiental no conjunto
da obra”. Em 111 anos
PAPA FRANCISCO, em trecho de história, a instituição
FOTO: LUIS CLAUDIO VIANNA

da exortação apostólica pós concedeu tal honraria

Sínodo para a Amazônia
somente a outros seis
especialistas, em diferentes
áreas do saber. Engenheiro
florestal e consultor
ambiental, Carvalho integra
FOTO: ALICE VERGUEIRO / ABRAJI

o Conselho Editorial da
Revista Ecológico.
“As pessoas pensam que
a ecologia é apenas uma
ADÉLIA PRADO

FOTO: MÔNICA IMBUZEIRO

moda. Mas a revolução da
A poeta
consciência já começou.” mineira será a
MARCUS VIANA, “Personagem
músico e compositor Literária
do Ano”
"Veja a falta que faz homenageada
FOTO: NATHALIA TORRES / DIVULGAÇÃO

um ministro do Meio na 62ª edição

Ambiente. O Parque do Prêmio
Nacional e Histórico do Jabuti, quando
Monte Pascoal, na Bahia, setembro
primeira porção de terra próximo chegar. Não à toa, a
do Brasil visitada pelos autora de De vez em quando
navegadores portugueses, Deus me tira a poesia. Olho
está sendo devastado. Os pedra, vejo pedra mesmo,
madeireiros usam até a sempre teve a natureza a
entrada central para sair tiracolo em seus poemas.
“Sou que nem Recife: com madeira ilegal.”
cheio de pontes.” Em Dona Doida, por exemplo,
ANCELMO GOIS, ela confessa um amor curativo
ALCEU VALENÇA, cantor e e sem limites pela natureza:
colunista de O Globo
compositor, 73 anos, sobre as “Só melhoro quando chove”.
cinco pontes de safena que tem

MARÇO DE 2020 | ECOLÓGICO  17

1 PÁGINAS VERDES

AMOR DE FILHO
Luciana Morais
redacao@revistaecologico.com.br

V
isual despojado, vestindo jeans e camisetas-

FOTO: TV GLOBO / JOÃO COTTA

DNA MINEIRO: filho de mãe ongueira e pai geólogo,
o ator global vive o ambientalista Davi, que luta contra a
poluição criminosa e inescrupulosa da Baía de Guanabara
-protesto do Greenpeace e de sua ONG Pla-
neta Vivo. Cabelos longos, presos num rabo
de cavalo. No discurso e nas atitudes, a força de um
ambientalista convicto da causa que defende.
É assim que o ator Vladimir Brichta vem conquis-
tando mais e mais fãs, na pele de Davi Moretti, seu
atual personagem na novela Amor de Mãe, da TV
Globo, onde ele estreou em 2001.
Mineiro, nascido em Diamantina exatamente em
22 de março, quando se comemora o “Dia Mundial
da Água”, o ator tem DNA ‘ecológico’: é filho de um
geólogo e professor; e a mãe foi ativista ambiental.
Depois de morar na Alemanha, Brichta cresceu na
Bahia, onde a experiência de viver em contato com
a natureza marcou a sua infância. Aos 44 anos, ca-
sado com a atriz Adriana Esteves, com quem tem Vi-
cente, de 13 anos, ele também é pai de Agnes, de 23.
Em entrevista exclusiva à Ecológico, Brichta
fala da inspiração para compor seu personagem,
da realidade hídrica do Rio de Janeiro e do que
procura ensinar aos filhos, como o combate ao
consumo exagerado.
Atento a diferentes temas e acontecimentos
atuais, ele critica o discurso equivocado do ministro
da Economia, Paulo Guedes, em Davos. Celebra as
atitudes da jovem ativista Greta Thunberg. E man-
da um recado aos empresários brasileiros.
“Comprometam-se com o meio ambiente e com
formas sustentáveis de produção. O restante do
mundo está correndo atrás disso e levando van-
tagem. Vai levar cada dia mais vantagem quem
estiver em sintonia com esse tópico [a causa am-
biental], que é urgente no mundo inteiro hoje. Os
negacionistas vão ficar para trás na história.”
Confira, a seguir, a mensagem que o ator espera
deixar com o seu personagem e também o seu es-
perançoso otimismo pessoal em relação ao nosso
futuro comum no planeta:

18  ECOLÓGICO | MARÇO DE 2020

 V L A D I M I R B R I C H TA ,
ator, que interpreta o ambientalista Davi
Moretti na novela Amor de Mãe
FOTO: OMAR URAN

“Temos de aprender a
consumir e a viver com o
essencial. O resto é consumo
excessivo. É supérfluo e será a
parte nociva da qual o planeta
vai nos cobrar a conta”

Parte da inspiração para viver
o Davi veio do seu próprio
ambiente familiar?
Sim. Esse universo é muito pró-
ximo a mim, graças ao meu pai,
Arno, e ao meu irmão, Maurício. E
minha mãe, Carmem, foi ativista
ambiental, ainda nos anos 1980.
Ela integrou a Boto Negro, em Ita-
caré (BA), uma associação que lu-
tava pela preservação ambiental
da região. Por tudo isso, não pre-
cisei buscar muito longe de mim
as referências para viver o Davi.
Você sobrevoou a Baía de
Guanabara com o biólogo e
ambientalista Mário Moscatelli,
que há anos luta contra a
sua poluição. Como foi a
experiência?
O sobrevoo foi muito impactante.
Quando sobrevoamos o Rio de
Janeiro, a primeira impressão é
de encanto, diante da beleza da
cidade, que é geograficamente
maravilhosa. E isso, de alguma
forma, aumentou depois a minha
decepção, em ver como ela está
degradada, mal cuidada e mal ge-
rida. Não foi um passeio turístico.
O que você observou
em especial?
Ele fotografou várias saídas de es-
goto. Sobrevoamos a Guanabara,
a Enseada de Botafogo, e pude
ver o quanto os governos não es-
tão dando conta de reverter a de-
gradação ambiental. Vi também
o quanto a população, todos nós,
ainda precisamos nos educar. Em
inúmeros locais, a falta de trata-
mento de esgotos é um problema
– e isso tem sim de ser cobrado
dos órgãos públicos. Mas a gente
também vê todo tipo de lixo, até
sofá, no meio do manguezal. Em
relação à Cedae, o que a gente
vive no Rio, hoje, é resultado de
uma política desastrada...
Acredita que faltam investimento
e projetos eficazes?
Certamente não houve investi-
mento necessário. Há dinheiro e
pessoas com conhecimento, com
know-how para fazer com que as
coisas funcionem de forma me-
lhor. Mas nunca a ação política
caminha nesse sentido. A escolha
nunca é em prol das pessoas, da
natureza, mas sempre em bene-
fício próprio ou de algum amigo.
Isso é assustador. E esse descaso
político fica notório agora, quan-
do a gente abre a torneira aqui no
Rio. O impacto de tudo isso eu
pude sentir lá de cima, durante
o sobrevoo. A degradação am-
biental é uma das mazelas com
as quais temos de conviver, e que
avançam sobre a gente de forma
violenta: se a água está ruim, a
qualidade do peixe, do ar, tudo
fica ruim também. Não temos
como sobreviver ao que estamos
fazendo com o planeta.
Como você define a
personalidade, o jeito de ser do
Moscatelli?
Conhecer o Mario foi impressio-
nante. Eu já havia lido bastante
2
MARÇO DE 2020 | ECOLÓGICO  19
1 PÁGINAS VERDES
FOTO: ARQUIVO PESSOAL
MÁRIO MOSCATELLI: "vida 100%
dedicada à recuperação ambiental”
sobre o trabalho dele. E, obvia-
mente, sabia que se tratava de
uma pessoa muito comprometi-
da com a preservação e a recupe-
ração ambiental. Mas o que mais
me chamou a atenção foi a dedi-
cação dele. É algo sem descanso.
A mensagem que ele transmite
é a seguinte: minha vida só tem
importância se estiver 100% de-
dicada à preservação, à recupe-
ração do meio ambiente, à cons-
cientização e reeducação das
pessoas. A intensidade com que
ele vibra e trabalha é impressio-
nante. A causa ambiental não faz
parte da vida dele, é a vida dele.
E durante as gravações da
novela, alguma cena te marcou
de forma especial?
Várias passagens ficam marca-
das. Numa delas, gravamos um
mutirão para catar lixo na praia.
Fomos para uma praia pequena
e a equipe levou lixo cenográfico
– plástico, tudo amarrado, para
20  ECOLÓGICO | MARÇO DE 2020
não ter risco de cair na água e
poluir. Éramos umas 20 pessoas
catando lixo. Naquele momen-
to, duas coisas me impactaram.
Primeiro, vi o quanto o coletivo é
forte. Juntos, conseguimos catar
um grande volume de lixo num
curto espaço de tempo. Segun-
do: mesmo catando uma grande
quantidade de lixo, isso não foi
suficiente para deixar aquela pe-
quena praia totalmente limpa.
O Davi encarou o desafio de
consumir água e alimentos
contaminados para comprovar
a poluição causada pela fictícia
empresa PWA. Você faria
o mesmo?
Não teria o mesmo impulso e
coragem dele. Por mais que co-
loquemos nossa vida em risco
o tempo inteiro, nos expondo e
vivendo numa cidade violenta,
com realidade urbana precária,
isso não se compara, de fato, à
escolha feita pelo Davi. O que
ele fez foi um gesto-manifes-
to. Algo como no Super Size Me
[documentário em que o diretor
norte-americano Morgan Spur-
lock passa um mês só comen-
do sanduíches do McDonald’s,
para mostrar o impacto disso em
sua saúde]. Projetar a imagem
do Davi colocando a vida dele
em risco para dar visibilidade a
pessoas que estavam morrendo
e sendo lesadas, como o filho
do amigo de cena dele, o Guará
[vivido por Demick Lopes], foi
muito forte. Mas eu não botaria
minha vida em risco. E desacon-
selharia alguém a fazer isso.
Você acompanhou a
repercussão das declarações
do ministro da Economia,
Paulo Guedes, em Davos (sobre
desmatamento x pobreza)? O
que pensa sobre isso?
Acompanhei tudo com olhos de
decepção e de estupor. Na ver-
dade, nem sei se seriam essas
as palavras certas, uma vez que,
desse governo, não esperava algo
diferente. Afinal, antes mesmo
de assumirem seus cargos, es-
sas pessoas deixaram bem claro
como enxergam o meio ambien-
te, a relação com minorias etc.
O ministro distorceu o discurso,
tentando afirmar que as pessoas
desmatam por falta de opção.
Como se a pobreza as empur-
rasse para a ilegalidade quando,
sabemos bem, são duas coisas
completamente distintas. Ele foi
desastroso também ao falar so-
bre a ‘farra’ das domésticas.
O ministro tem protagonizado
uma sucessão de equívocos...
E isso não acontece por acaso.
Todas essas falas deixam bastante
claro qual é o entendimento des-
se governo sobre o meio ambien-
te e sobre as relações humanas.
Isso mostra o quanto estamos
mal representados. Torço para
que países mais avançados, com
maiores exigências no combate à
degradação ambiental, façam uso
de possíveis sanções. E, com isso,
pressionem o nosso governo a
diminuir essa ignorância, essa ar-
bitrariedade que se comete aqui.
E a respeito da estrela mirim
Greta Thunberg: qual a sua
opinião sobre ela?
Greta é absolutamente sensacio-
nal. O mundo atual precisa dis-
so. De pessoas que simbolizem
ideias que nos unam e que façam
com que a gente se organize para
pressionar os governos, órgãos,
seja lá quem for. Vivemos em
um mundo difuso, com muitos
temas em discussão. E, às vezes,
ficamos perdidos em meio à ba-
talha de ideias. Por isso, a ação
de ativistas como Greta – que
simbolizam uma causa e mobili-
zam tanta gente – é motivo para
se festejar. Ela chama a atenção e
 V L A D I M I R B R I C H TA ,
ator, que interpreta o ambientalista Davi
Moretti na novela Amor de Mãe

QUEM É ELE

O ariano Paulo Vladimir

Brichta foi batizado com
esse nome em homenagem
a duas figuras de destaque
na história do Brasil. O
pernambucano Paulo
Freire, patrono da educação
brasileira, e o jornalista
Vladimir Herzog, morto
em 1975, em pleno regime
militar. A estreia como
ator se deu na infância, na
escola experimental Hilda
Figueiredo, em Salvador.
Ele seguiu fazendo teatro
até os 17 anos, quando
ingressou em um curso livre
da Universidade Federal
da Bahia e começou a
trabalhar profissionalmente.
É reconhecido por inúmeros
papéis e prêmios na TV e no
“Todas as falas do ministro (como a de que são os brasileiros pobres e
cinema.
famintos que desmatam a Amazônia) deixam bastante claro qual é o
entendimento do atual governo federal sobre o meio ambiente"

‘recruta’ o pensamento de outros
jovens para a causa ambiental.
Mostra também que as novas ge-
rações já têm um entendimento
mais aprimorado sobre a conser-
vação ambiental do planeta.
Guarda alguma lembrança
ecológica da sua infância?
O grande momento em que me
entendi como um elemento da
natureza foi a partir dos meus
seis, sete anos de idade. Minha
mãe, já separada do meu pai, e
o então companheiro dela com-
praram uma casinha numa roça,
em Itacaré (BA). Lá não tinha luz
elétrica. Eles plantavam horta,
coco e a gente pegava água da re-
presa para lavar louça. Ali apren-
di a importância de me harmo-
nizar com a natureza: a dormir
quando escurecia e a acordar
quando o dia clareava. Também
conheci o peso que tem um bal-
de d’água na cabeça.
Que legado e valores espera
deixar para seus filhos?
O primeiro é a educação. Desde
cedo, quis fazê-los compreender
que somos parte da natureza. E
não um senhor que a domina.
Mantê-la em equilíbrio é asse-
gurar o nosso próprio equilí-
brio: dependemos do sol, a lua
influencia o nosso organismo e
o planeta, etc. Outro aspecto diz
respeito ao consumismo.
O que ensina a eles sobre essa
questão do consumo?
Essa é a parte mais delicada.
Países mais avançados já deram
uma guinada em prol do consu-
mo sustentável e da preservação
ambiental. Mas viver isso, de for-
ma prática, é difícil. Compre me-
nos calças! Coma menos carne
vermelha! Compre menos plásti-
co e menos carro! Esse discurso
é difícil de emplacar, porque vai
contra o poder hegemônico, que
é o dinheiro. Procuro explicar
aos meus filhos que é legal com-
prar aquela ‘calça dos sonhos’,
mas que a gente não precisa de
centenas de calças, de tênis, de
camisas. O legado envolve algo
maior. A ideia de que temos de
aprender a consumir e a viver
com o essencial. O resto é consu-
mo excessivo. É supérfluo e será
a parte nociva da qual o planeta
vai nos cobrar a conta.
Personagens como o Davi
podem inspirar pessoas a
ampliarem sua visão de mundo
em prol da sustentabilidade.
Qual o seu recado aos jovens e
aos empresários brasileiros?
Sem dúvida, ele é um persona-
gem-símbolo. Por isso, quan-
do topei vivê-lo, meu desejo foi
corroborar com um discurso no
qual acredito. O Davi dá voz a
uma mensagem que eu gostaria
de passar às pessoas. Quanto aos

2
MARÇO DE 2020 | ECOLÓGICO  21
1
PÁGINAS VERDES
empresários, se eu disser a qual-
quer um deles que desejo que se
consuma menos aquilo que eles
produzem, criaríamos uma cizâ-
nia desnecessária.
O que pode dizer a eles, então?
Comprometam-se com o meio
ambiente e com formas susten-
táveis de produção. O restante
do mundo está correndo atrás
disso e levando vantagem. Vai
levar cada dia mais vantagem
quem estiver em sintonia com
esse tópico [a causa ambiental],
que é urgente no mundo inteiro
hoje. Os negacionistas vão ficar
para trás na história.
É otimista em relação ao futuro
da humanidade nesta nossa
‘Casa Comum’?
Eu exercito o otimismo. Ele é im-
20  ECOLÓGICO | DEZ 2019 / JAN 2020
ator que interpreta o ambientalista
Davi Moretti, na novela Amor de Mãe
portante até mesmo pra gente
não adoecer. E também, porque
quero que meus filhos, netos e
as gerações que vierem tenham
uma bela vida. No entanto, só oti-
mismo não é suficiente. Quando
a gente se diz otimista com algo,
parece que estamos delegando a
terceiros a responsabilidade so-
bre as mudanças [necessárias] e
a preservação [ambiental]. O pla-
neta não acabará. Mas se tornará
cada dia mais hostil. E só quem
tiver dinheiro poderá comprar as
suas “bolhas” de sobrevivência.
Isso já ocorre, em pequena esca-
la, e é muito cruel...
Com o passar do tempo, se nada
for feito, isso tende a se agravar?
Sim. Sob esse aspecto, fico um
pouco pessimista, porque a vida,
de fato, tende a ficar mais difícil
V L A D I M I R B R I C H TA ,
para a grande maioria da popu-
lação. Essa é a parte trágica [do
desequilíbrio ambiental]. Mas,
ainda assim, prefiro acreditar
– diante de tudo que tratamos
aqui, nesta entrevista, do exem-
plo do meu personagem, do en-
gajamento da minha família, das
atitudes de pessoas como a Gre-
ta, e da mentalidade do empre-
sariado brasileiro e mundial que
está mudando – que podemos
reverter essa situação. A gente
não foi ‘feito para voar, e voa’.
Por que não usar o potencial hu-
mano em prol de nossa própria
sobrevivência, mais justa e equi-
librada? Isso é possível. Eu acre-
dito no ser humano. 
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1 ESPECIAL - DIA MUNDIAL DA ÁGUA
POR QUE NOSSOS RIOS
ESTÃO MORRENDO?
H
á mais água doce abaixo
da superfície da Terra,
em aquíferos subterrâ-
neos, do que em qualquer outra
fonte acima do solo, excluindo-
-se as camadas de gelo. São as
chamadas águas subterrâneas,
fundamentais para a existência
de nascentes e rios em todo o
mundo, mantendo-os vivos mes-
mo quando as secas reduzem o
volume das águas.
Entretanto, nas últimas déca-
das, a exploração desenfreada
de vários desses reservatórios –
‘invisíveis’ aos olhos humanos
24  ECOLÓGICO | MARÇO DE 2020
– está levando a uma realidade
alarmante. Segundo pesquisa
publicada pela revista científica
Nature, milhares de ecossiste-
mas fluviais ao redor do mundo
estão “secando lentamente”.
Hoje, estima-se que cerca de
20% das bacias hidrográficas
que têm suas águas subterrâ-
neas removidas já atingiram
um limiar ecológico crítico. Até
2050, esse número pode subir
para mais de 70%.
A exploração racional e ade-
quada é, portanto, condição es-
sencial para a conservação dos
mananciais subterrâneos, signi-
ficativamente mais vulneráveis
e de difícil recuperação, quando
contaminados.
É importante salientar ainda:
apesar das notícias alarmantes e
do risco iminente de escassez de
água doce no planeta, a quantida-
de de água na Terra é praticamen-
te a mesma há 2 bilhões de anos.
O que está diminuindo em ve-
locidade preocupante – confor-
me alertam, em uníssono, inú-
meros especialistas – é o volume
de água boa para uso humano.
Os motivos incluem desde o con-
 FOTO: JCOMP
40% da
população
mundial viverá
em áreas com
pouco acesso à
água até 2050

Em comemoração ao “Dia Mundial da Água”, a Ecológico busca respostas

para a realidade hídrica mundial e local. E mostra, sob a ótica das
mudanças climáticas, da exaustão de mananciais subterrâneos e
da urgência da gestão sustentável, o futuro que nos espera
Bia Fonte Nova
redacao@revistaecologico.com.br

sumo em escala ascendente – so-
bretudo em razão do crescimen-
to populacional – até a poluição,
tanto das águas subterrâneas
quanto das superficiais.
Conforme dados da Organiza-
ção das Nações Unidas (ONU),
nas últimas décadas, o total glo-
bal de água retirado de rios e
aquíferos aumentou nove vezes.
Enquanto isso, o uso por pessoa
dobrou e a população mundial
praticamente triplicou.
Em 1950, as reservas mundiais
representavam 16,8 mil m3/pes-
soa. Atualmente, estão reduzidas
a 7,3 mil m3/pessoa. E o pior: a
previsão é de que caiam para
cerca de 4,8 mil m3/pessoa nos
próximos 25 anos.
REALIDADE IMPETUOSA
Em termos climáticos, a realidade
do planeta tem se mostrado impe-
tuosa, com claros impactos sobre
o ciclo hidrológico. Eles vão desde
longas estiagens, em diferentes
regiões do globo, às chuvas torren-
ciais concentradas em poucos dias
ou horas. Vide os temporais e en-
chentes que castigaram o Sudeste
brasileiro em janeiro.
Em comemoração ao “Dia
Mundial da Água”, tema des-
ta Edição Especial, a Ecológico
busca respostas para algumas
das perguntas que mais reverbe-
ram entre diferentes públicos.
Por que, diante das mudanças
e incertezas do clima, nossos rios
estão secando, morrendo de sede?
Para onde está indo a água da su-
perfície? Os poços clandestinos
são os grandes vilões do rebaixa-
mento dos lençóis freáticos em
todo o planeta? Que futuro hídri-
co nos espera?
É o que você confere, a seguir:

2
MARÇO DE 2020 | ECOLÓGICO  25
1 ESPECIAL - DIA MUNDIAL DA ÁGUA
Sem verde e água não há vida
As previsões e alertas feitos
por cientistas, quando o assunto
é a correlação água x clima, têm
sido certeiros. Em entrevista pu-
blicada em 2015, pela Ecológico,
o climatologista José Marengo
anteviu a realidade enfrentada,
no início deste ano, em cidades
como Belo Horizonte, São Pau-
lo, Rio de Janeiro e Vitória, em
relação às chuvas.
Questionado sobre as regiões
que serão mais afetadas por
26  ECOLÓGICO | MARÇO DE 2020
eventos climáticos extremos no
Brasil, nos próximos 20/30 anos,
ele alertou: “Centros urbanos
poderão ser atingidos por chuvas
extremas, que geram enxurradas,
alagamentos e deslizamentos
de terra, afetando a população
e a economia. Em São Paulo, a
grande seca que afeta o estado e
a ocorrência, em paralelo, de en-
chentes na capital, sugerem que
a cidade está vulnerável”.
Colaborador do Painel Inter-
governamental Sobre Mudanças
Climáticas (IPCC) e integrante da
lista global Highly Cited Resear-
chers, que inclui os pesquisado-
res mais influentes e citados no
mundo, graças à relevância de
suas pesquisas, Marengo ainda
acrescentou: “Nas próximas dé-
cadas, essa vulnerabilidade pode
aumentar, pois os cenários de cli-
ma futuro sugerem um aumento
na duração dos períodos secos e
também chuvas mais intensas,

NO SUDESTE BRASILEIRO, rios secam e
milhões de pessoas seguem ameaçadas
pela falta d’água: preço alto pela
desconexão com a natureza
concentradas em poucos dias”.
Coordenador-geral de Pesqui-
sa e Desenvolvimento do Cen-
tro Nacional de Monitoramento
e Alertas de Desastres Naturais
(Cemadem/MCTIC), Marengo
explica que os rios estão secan-
do porque em algumas áreas do
mundo está chovendo menos.
“Mas é importante desta-
car: parte da secura, do déficit
dos rios está ocorrendo porque
além de estar chovendo menos,
o consumo por parte da popu-
lação segue aumentando. Tan-
to para dessedentação humana
FOTO: GABRIEL LINDOSO / GREENPEACE
quanto para a criação de ani-
mais, abastecimento das indús-
trias, irrigação etc.”
MAIS EFICIÊNCIA
Outro motivo da ‘morte’ dos nos-
sos rios é a crescente poluição,
sobretudo por esgotos. “Num
cenário futuro, portanto, com o
clima mais seco, essa situação
tende a se complicar. Principal-
mente nas cidades distantes da
região costeira e dependentes de
rios. Na América do Sul e no Mar
Cáspio (localizado entre a Euro-
pa e a Ásia), já temos exemplo de
rios que estão secando, em razão
da captação e do uso exagerado
de suas águas.”
Para o climatologista, a ‘chave’
da segurança hídrica, sobretudo
nos grandes centros urbanos, é
o equilíbrio no uso. “Segurança
hídrica é o conceito mais correto
e pertinente nesse debate. Afinal,
não se trata somente de ter água.
Mas sim de ter água suficiente
para todos os usos e demandas.
O caminho, portanto, é sermos
mais eficientes e sustentáveis no
uso da pouca água que temos.”
A PERGUNTA É...
Como alcançar eficiência e
FOTO: DIVULGAÇÃO
sustentabilidade no uso da água?
“A resposta é conservação: manter e/ou
recuperar a qualidade de nascentes e rios,
combater o desperdício e incentivar políticas
públicas de uso consciente. Já sofremos na
crise hídrica de 2014-2015, em São Paulo
e outras cidades, e vimos o quanto essa
realidade é preocupante. Se uma crise
semelhante se estender por décadas, a
situação pode se tornar perigosíssima. Não
só pela falta d’água em si, mas por todos os
problemas econômicos, ambientais e sociais
que a sua escassez crescente acarreta.
Sem água não há vida.” José Marengo
2
MARÇO DE 2020 | ECOLÓGICO  27
1 ESPECIAL - DIA MUNDIAL DA ÁGUA
Proteção real,
só com educação
A professora-doutora da Fa-
culdade de Ciências Aplicadas
da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp), Luciana
Cordeiro, explica que diversos
fatores contribuem para a di-
minuição da vazão dos cursos
d’água no Brasil.
Mas o principal motivo é a au-
sência das matas ciliares – áreas
de preservação permanente –
que são continuamente ocupa-
das e/ou degradadas, assoreando
os rios. Como resultado, eles per-
dem o potencial de reservação de
água e suas calhas diminuem, o
que também está associado à di-
minuição de vegetação/florestas
em todo território.
Representante do Brasil no
projeto “Sistema Aquífero Gua-
rani” e doutora em Direito das
Relações Sociais, Luciana é ta-
xativa: “Sem vegetação não há
produção de água. Compreender
Mais de
2 bilhões de
pessoas vivem
em países
que já sofrem
com estresse
hídrico
28  ECOLÓGICO | MARÇO DE 2020
a simbiose existente entre água e
floresta, portanto, é essencial”.
Na dinâmica do ciclo hidro-
lógico, a água superficial exis-
tente evapora, condensando-se
e tornando-se chuva em luga-
res distantes ou produzindo
tempestades. Isso ocorre em
razão da formação das ilhas de
calor, que é motivada, sobretu-
do, pela impermeabilização do
solo e da ausência de vegetação
em áreas urbanas.
“Com isso, como temos visto
em cidades como Belo Horizon-
te e São Paulo, por exemplo, a
água de chuva escorre com mui-
ta rapidez pelo asfalto, causando
inundações. E, depois, evapora
novamente, indo para o oceano.
Já a água subterrânea vem sendo
superexplotada e também con-
taminada em diversas regiões,
resultado da má gestão no uso CANUDOS DEMAIS
do solo, o que compromete ain- E em relação aos poços artesianos:
da mais essa importante reserva eles são realmente vilões nessa
hídrica”, explica a professora. história? Segundo Luciana Cor-
FOTOS: DIVULGAÇÃO
EDUCAÇÃO AMBIENTAL é o passaporte para
nos tornarmos sujeitos da gestão da água

deiro, não há, no Brasil, um levan-
tamento exato do total de poços
existentes. Apenas estimativas.
“Embora existam poços ca-
dastrados em todo o país, acre-
dita-se que eles representem so-
mente uma fração da realidade.
E isso dificulta a gestão por meio
de outorgas, situação que é agra-
vada pela poluição e/ou conta-
minação desses mananciais.
Didática, ela usa uma metá-
fora para explicar como se dá a
superexplotação de um aquífe-
ro. “Pensem que temos um copo
com alguns canudinhos (eco-
lógicos, por favor!). Enquanto o
sistema está em equilíbrio, todos
conseguem dar um gole na bebi-
da. Mas, quando se colocam ca-
nudos demais, alguns ficam sem
sugar o líquido.”
O mesmo ocorre em um territó-
COBRAS VERDES: mesmo
desmatada até o limite da
vegetação ciliar, a natureza
dos rios responde com
sinuosas e resistentes
formas de vida
FOTO: GREENPEACE / DANIEL BELTRÁ
A PERGUNTA É...
Como avançar, assegurando a proteção
real e efetiva das nossas águas?
“Só acredito em uma saída: educação.
Sim, educação qualificada para criar
uma conscientização real nas pessoas,
desde a mais tenra idade. Só assim, todos
também se sentirão sujeitos da gestão da
água. E não apenas meros espectadores.
É necessário criar, ainda, um plano
efetivo de saneamento para o Brasil. Em
todos os rincões. Afinal, esse é um fator
decisivo para que a água represente,
verdadeiramente, vida para todos.” Luciana Cordeiro
rio ou com um aquífero, quando o muitos poços irregulares, alguns
órgão gestor contabiliza a quanti- começam a secar. Aliado a isso,
dade de água disponível e cria um temos ainda a impermeabiliza-
mapa para concessão de outorgas, ção solo, que impede a infiltra-
perfuração de poços e determina ção da água no subsolo, permi-
um limite de uso dessa água. tindo, assim, o reenchimento
“Entretanto, como existem natural dos aquíferos.”
2
MARÇO DE 2020 | ECOLÓGICO  29
1 ESPECIAL - DIA MUNDIAL DA ÁGUA

FOTO: ANA CLAUDIA JATAHY / GREENPEACE

A CULTURA da abundância
deve dar lugar a uma nova
e sustentável forma de nos
relacionarmos com a água

A crise hídrica invisível

“O primeiro fator de pressão
que tem levado à redução da
disponibilidade de água é o au-
mento de demanda por uma po-
pulação crescente. Seja para o
seu abastecimento próprio, seja
para ser usada como insumo na
produção de alimentos ou para a
produção industrial.”
É o que afirma a doutora em
Recursos Hídricos, Marília Melo,
diretora-geral do Instituto Minei-
ro de Gestão das Águas (Igam). Se-
gundo ela, a má gestão do uso do
solo é outro agravante. “Na área
rural, a não utilização de técni-
cas conservacionistas leva à ex-
posição do solo, carreando terra
Associado a tudo isso, ocor-
rem, ainda, os usos não racio-
nalizados dos recursos hídricos.
“Em parte significativa do Brasil,
vivemos a cultura da abundância
de água e isso não induz a racio-
nalização do uso. Mas o cenário
está mudando e teremos, obriga-
toriamente, de rever nossa rela-
ção com o uso da água”, salienta.
USO IRREGULAR
Marília Melo esclarece que é
preciso considerar, ainda, outro
A PERGUNTA É...
Quem é, afinal, o maior responsável pela morte
ponto de extrema atenção.
“Estamos focados na disponibi-
lidade de água, mas a qualidade
dos rios é um fator tácito de es-
cassez. Como parte significativa
dos rios no mundo tem padrões
de qualidade que restringe o uso,
estamos sobrecarregando aqueles
em que a qualidade ainda é ade-
quada. O Banco Mundial publi-
cou, ano passado, um estudo cha-
mado ‘Qualidade desconhecida: a
crise hídrica invisível’, que aborda
exatamente essa questão.”
FOTO: VALQUIRIA LOPES

para os corpos d’água e causan- das nascentes/rios: o homem ou a dinâmica da

do assoreamento.”
A construção e manutenção de
estradas rurais não pavimentadas
também é fonte de geração de só-
lidos, agravando o assoreamento
dos rios. “Na área urbana, a imper-
meabilização compromete a infil-
tração da água no solo. Ela é res-
ponsável pela recarga das águas
subterrâneas que, por sua vez, as-
seguram a vazão de base dos rios,
ou seja, a sua perenidade.”
própria natureza?
“O homem é o maior agente da alteração dos
ecossistemas e tem interferido diretamente
na dinâmica do ciclo hidrológico. Como
resposta a essas ‘perturbações’, ocorrem
alterações significativas nas nascentes e
também nas vazões dos rios. No entanto,
também é papel do homem reverter essa
realidade. Ações integradas com foco
na segurança hídrica, o aprimoramento
tecnológico e a mudança da relação humana
com água é que garantirão a sustentabilidade
dos recursos hídricos. Agora e no futuro.” Marília Melo

30  ECOLÓGICO | MARÇO DE 2020

FOTO: ANA CLAUDIA JATAHY / GREENPEACE

Quanto à realidade nacional
em relação aos poços artesia-
nos, Marília salienta: “Qualquer
utilização irregular pode acarre-
tar impacto na disponibilidade
hídrica (superficial e subterrâ-
nea). E isso não é diferente para
os poços tubulares. Segundo
estimativas do Instituto Trata
Brasil (2019), aproximadamen-
te 90% dos poços tubulares no
Brasil são irregulares”.
Além desse cenário de uso ir-
regular, o Brasil pouco avançou
no monitoramento dos seus
aquíferos para subsidiar a iden-
tificação de qual é o limite de
uso dos mesmos (tecnicamente
chamado de reserva renovável)
ou avaliar a superexplotação das
águas subterrâneas.
PEDIDOS DE OUTORGA
No caso específico de Minas
Gerais, o Estado “caixa d’água
do Brasil”, depois da Amazônia,
informa Marília, não há uma
estatística específica dos usos
irregulares. Entretanto, após o
início da crise hídrica que asso-
lou o Estado (2014-2015), hou-
ve um incremento no número
de pedidos de outorga para uti-
lização de poços tubulares.
“Em relação ao controle da
água subterrânea, a gestão é
feita por meio de diferentes ins-
trumentos. Entre eles, estão a
Outorga de Direito de Uso de
Recursos Hídricos, que avalia a
capacidade de produção de água
do poço pelo teste de vazão, para
assim deferir ou não o pedido.
Além das ações de fiscalização,
como forma de reduzir a clan-
destinidade, e também por meio
de campanhas educativas e de
orientação aos usuários.”

ENTENDA MELHOR

CICLO DA ÁGUA

Precipitação Condensação

Escoamento Evaporação

 A água, em suas fases líquida, sólida e gasosa,
encontra-se em constante movimentação em um ciclo
fechado, denominado ciclo hidrológico. Os fatores de
interferência direta, nesse ciclo são: a energia térmica
solar, a força dos ventos, a gravidade e as caracterís-
ticas físicas (relevo, solo, florestas, etc.) do planeta.
Assim, quaisquer alterações nesses fatores interferem
diretamente na dinâmica hídrica, o que pode gerar uma
redistribuição das chuvas no planeta.
 Em seu incessante movimento na atmosfera e
camadas mais superficiais da crosta, a água percorre
diferentes caminhos. Quando chove, parte dela se infil-
tra no solo e nas rochas. A que não se infiltra, escorre
sobre a superfície em direção às áreas mais baixas,
alimentando riachos, rios, lagos, mares e oceanos.
 O conceito de segurança hídrica se baseia no provimen-
to de água para os usos múltiplos, na redução dos riscos
associados a eventos hidrológicos extremos (cheias e
estiagem) e no equilíbrio do ecossistema aquático.
 No que se refere ao provimento do uso, seja ele an-
trópico ou não, as ações de segurança hídrica devem
se pautar em duas linhas: a gestão da oferta, ou seja,
a quantidade de água disponível; e a gestão da de-
manda, do uso propriamente dito. A regularização dos
usos também é crucial. Em um cenário que grande
parte dos usos são irregulares, a gestão fica prejudi-
cada, pois não alcança as pessoas.
SAIBA MAIS
Que tal conhecer o “Somos Todos Água”,
programa estratégico de revitalização de bacias
hidrográficas do governo de Minas?
portalinfohidro.igam.mg.gov.br
tratabrasil.org.br

2
MARÇO DE 2020 | ECOLÓGICO  31
1 ESPECIAL - DIA MUNDIAL DA ÁGUA

FOTO: ANNA CLÁUDIA PINHEIRO

RIO DAS VELHAS: descaso histórico é prova de como a sociedade está
degradando e virando as costas para os rios que lhe dão vida

O morrer sistêmico dos rios

As chuvas que marcaram o início de 2020 não significam que os rios estão
revividos. Quando a seca voltar, eles estarão mais agonizantes do que antes
Para Marcus Vinícius Poligna- uma exclusividade de Minas, e sim
FOTO: DIVULGAÇÃO

no, presidente do Comitê da Bacia um sinal claro de crise civilizatória.

Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH
Velhas) e integrante do Projeto Ma-
nuelzão, da Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG), grande parte
do desequilíbrio hídrico, incluindo
inundações e secas jamais vistas, é
fruto da falta de respeito e compreen-
são das pessoas em relação à água.
“Nossos rios estão morrendo de
sede e poluição, e, consequente-
mente, desencadeando uma morte
sistêmica. As crises hídricas não são
Mais de 800 crianças, com menos de
cinco anos, morrem todos os dias de
diarreia associada à falta de água e
saneamento.” Até quando?
É o que a Ecológico recorda aqui,
com os principais – e ainda atuais –
trechos da entrevista de Polignano,
“As águas não mentem”, publicada
em março de 2018, durante a emble-
mática realização, em Brasília, do
MARCUS POLIGNANO: Fórum Mundial da Água.
“As águas não mentem” Confira:

32  ECOLÓGICO | MARÇO DE 2020

 CRISE CIVILIZATÓRIA que vivemos nelas em períodos de chuvas.”
“Estamos hoje numa crise civilizatória. Fizemos “Isso tudo está sendo trocado por um modelo de
uma desconexão com a natureza. A nossa crise compreensão e respeito à natureza das águas, uma
é de rios. Doce, Jequitinhonha, São Francisco, vez que temos de respeitar a sua força e não encai-
Velhas, Paraopeba, Paracatu e Araguari são xotar córregos e rios. Essa lógica tem prevalecido
alguns dos cursos d’água que têm a ver com a na União Europeia, em especial na Alemanha.”
nossa história, nossa economia. O Velho Chico “Outro exemplo fantástico é o caso da Coreia
e o Doce, por exemplo, já não têm forças para do Sul, onde retiraram uma via expressa e re-
chegar ao mar. E essa é a razão de as águas tornaram o rio à sua condição natural, fazendo
salgadas estarem invadindo as doces. O Rio das com que a população retomasse o contato dire-
Velhas está entregando cianobactérias para o to com as suas águas. E, para não falar que são
São Francisco. Nossos rios, enfim, experiências somente de primeiro
estão morrendo de sede e polui- mundo, há também o exemplo
ção, e, consequentemente, desen- “Uma civilização de Medellín, na Colômbia, antes
cadeando uma morte sistêmica.” que mata as suas conhecida internacionalmente
“Não há como discutir as ques-
tões relativas às águas sem discutir
águas está matando pelo narcotráfico e pela violência,
e hoje pacificada, está fazendo um
território. E o território geoambien- a si mesma” projeto de recuperação ambiental
tal das águas são as bacias hidro- do seu rio homônimo, que corta a
gráficas. São elas, de rios do mundo inteiro, que parte central da cidade.”
alimentam as populações humanas das cidades
e do campo, e permitem unir ambiente, ações CONSELHO MORAL
antrópicas, políticas e econômicas. São as intera- “A humanidade, ao longo de sua história, em
ções desses fatores que, em última instância, vão especial após a Revolução Industrial e o avanço
definir a disponibilidade e os usos das águas.” do capitalismo – que promove hábitos e pa-
drões de consumo altamente destrutivos e pre-
ESPERANÇA EM CURSO datórios ao ambiente –, veio se desligando da
“Temos experiências internacionais bastante natureza, e passou a explorá-la, salvos alguns
significativas e um novo olhar em relação à gestão povos, comunidades e seres que ainda vivem
das águas. O antigo paradigma de dominação da em harmonia com ela.”
natureza, que moldou os processos de canalização “A água passou a ser vista como recurso subordi-
e retificação de cursos d’água fomentou a cons- nado à produção, aos interesses dos que a domi-
trução de cidades com rios invisíveis e que, em nam, comandam, monopolizam e que conspiram
grande parte, é responsável pelos alagamentos para subjugar o seu papel para a vida planetária.
FOTO: ALBERTO CESAR ARAÚJO / GREENPEACE

QUEDA NA QUALIDADE e
quantidade de água dos
nossos rios representa
a nossa mentalidade
desecológica

2
MARÇO DE 2020 | ECOLÓGICO  33
1 ESPECIAL - DIA MUNDIAL DA ÁGUA
Isso leva, cada vez mais, a disputas contínuas e
graves conflitos socioambientais.”
“Segundo a ONU, dois terços da população
planetária, cerca de cinco bilhões de pessoas,
vivem atualmente em áreas de escassez hídrica ao
menos durante um mês por ano. Por sua vez, cer-
ca de 500 milhões de pessoas vivem em áreas nas
quais o consumo de água excede em duas vezes os
recursos hídricos renováveis localmente.”
“As populações de países e regiões mais pobres
são mais afetadas e têm maior dificuldade de
acesso à água para seu uso econômico, cultural
e recreativo. O Fundo das Nações Unidas para a
Infância (Unicef) alerta que mais de 800 crianças,
com menos de cinco anos, morrem todos os dias
34  ECOLÓGICO | MARÇO DE 2020
de diarreia associada à falta de água e saneamento.”
“A água contaminada mata mais de meio milhão
de pessoas por ano. As populações rurais e urba-
nas em condições de vulnerabilidade socioam-
biental, quilombos, povos indígenas e comunida-
des tradicionais são habitualmente excluídos dos
processos decisórios de acesso à água e ao sanea-
mento básico em países como o Brasil.”
VELHAS ESPERANÇAS
“O nosso Rio das Velhas está tentando refazer a
sua história. São 300 anos de degradação do solo,
desmatamento e poluição das águas. Pelo Velhas
tivemos o ciclo do ouro, do diamante, do minério
de ferro, da urbanização e da industrialização.”
 FOTO: ALBERTO CESAR ARAÚJO / GREENPEACE
ainda é ruim e não permite nadar.”
“Estamos cobrando do governo mais tratamento
de esgoto e o tratamento terciário, para melhorar
o que está sendo tratado. A revitalização não é
uma opção, mas uma necessidade e uma obriga-
ção de todos para manter o rio vivo.”

VERDADE VITAL
“Toda a água consumida pela população de Belo
Horizonte, por exemplo, não é produzida na capi-
tal e vem de fontes que se encontram em outros
municípios. De toda a água de chuva que cai na
Como os peixes, cidade, nenhuma gota fica aqui ou é armazenada.
633 milhões As chuvas renovam o estoque das águas, mas é o
solo que as mantém e armazena. Sem cuidar dos
de pessoas solos, sem preservar as nascentes e sem áreas de
no mundo não matas protegidas, não há como se pensar num
têm mais acesso futuro promissor para a gente.”
a uma fonte de “Não tem sentido separar gestão das águas de
gestão do território. Se quisermos ter água de
água potável
qualidade e em quantidade, teremos que fazer
uma gestão ambiental muito mais responsável
e sustentável. De nada adiantaram propagan-
das midiáticas falando que estamos salvando
rios, pois as águas não mentem. A qualidade e a
quantidade de água dos nossos rios representam a
nossa mentalidade civilizatória.”
A NATUREZA morta já não
comove as pessoas, que terão RECURSO SAGRADO
o mesmo futuro comum “A água é um bem comum planetário e fonte
inesgotável de vida, imprescindível para a manu-
tenção dos ecossistemas e dinâmicas naturais. E
também para a existência da humanidade. Para
diferentes povos e crenças, esse recurso natural é
“Todos esses ciclos se somaram e deixaram sagrado e simbolicamente incorporado a rituais
marcas profundas no leito do rio, na quantidade e milenares e em constante reinvenção. As águas
qualidade das suas águas. E, ainda assim, o Velhas são naturalmente sistêmicas e límpidas.”
vem abastecendo a capital das Minas Gerais. Des- “Saciam a sede de todos os seres vivos. São
de que iniciamos o Projeto Manuelzão, em 1997, ambientes de reprodução e evolução de diferentes
tínhamos a dimensão do problema e do desafio.
espécies. Irrigam o solo e abastecem o subsolo. São
Na época, nem comitê de bacia tínhamos. A pro-
fonte de prazer no contato com ela ou contempla-
posta de revitalização é a grande meta.”
ção e também inspiram poetas e planos de futuro.
“Construímos, dentro do comitê de bacia, a
Meta 2010-2014. E, mais recentemente, o Revitali- As águas são fontes de vida e saúde. E, por tudo isso,
za Rio das Velhas. Já conseguimos vitórias impor- são patrimônio do planeta Terra e de todos os seres.
tantes, como o tratamento de 70% dos esgotos É um direito de todos e não pode ser poluída, degra-
de Belo Horizonte e construção de Estações de dada ou mercantilizada. As águas e os rios são os
Tratamento de Esgoto (ETEs). Os peixes voltaram patrimônios maiores de um povo. Uma civilização
para mais perto de BH, mas a qualidade das águas que mata as suas águas está matando a si mesma.” 

MARÇO DE 2020 | ECOLÓGICO  35

 1 ARTIGO
SERGIO MYSSIOR E THIAGO METZKER*
redacao@revistaecologico.com.br
CORONACITY: DESAFIOS
PARA A SAÚDE URBANA
O
século XXI consolida as megalópoles e uma
forma de vida predominantemente urba-
na. Diversos desafios contemporâneos sus-
citam reflexões cotidianas sobre a saúde urbana:
mudanças climáticas, enchentes e inundações, se-
cas prolongadas, lixo, surtos de dengue, poluição
atmosférica, trânsito, estresse e, agora, o COVID-19.
Confinados em casa, trabalhando na modalida-
de de home office, medida relevante para achatar
a curva de contaminação, refletimos agora sobre
a cidade que temos e aquela que queremos.
Atônitos pela crise global imposta pelo coro-
navírus, somos bombardeados com orientações
relativas às medidas básicas de higiene, que pre-
cisam alcançar quase 210 milhões de brasileiros.
Em um país com mais de 100 milhões de pessoas
sem coleta de esgotos e cerca de 35 milhões sem
acesso à água potável, a temática do saneamento
básico ganha maior relevância nesse contexto. So-
mam-se ainda mais de 6 milhões de famílias sem
moradia, além de 11,4 milhões de brasileiros mo-
rando em favelas, segundo o Censo 2010.
Mesmo em áreas com infraestrutura consolida-
da, novos e reluzentes edifícios são erguidos com
fachadas de vidros importados, completamente de-
pendentes de sistemas de refrigeração central, sem
possibilidade de ventilação e iluminação naturais.
As ruas, praças e parques se renderam à sedução
dos centros de compras e entretenimento, comple-
tamente impermeáveis ao entorno. A natureza, os
rios e a paisagem foram rapidamente substituídos
por concreto, asfalto e poluição, até pouco tempo
sinônimos de progresso e desenvolvimento.
DOIS CENÁRIOS
Conforme as análises, em artigo publicado em
17/03/2020 na revista Nature Medicine, o CO-
VID-19 definitivamente não é oriundo de laborató-
rio ou propositadamente manipulado. Eliminada
essa possibilidade, o artigo apresenta dois cenários
para explicar a origem do vírus: evolução por sele-
ção natural no ambiente selvagem ou evolução por
36  ECOLÓGICO | MARÇO DE 2020
seleção natural em humanos, após a transferência
do vírus por algum animal. Suspeitam do morcego
ou do pangolim, que são usados na alimentação
dos chineses. Conclusão clara: o modo como te-
mos lidado com o meio ambiente traz riscos ainda
inimagináveis para a humanidade.
O cientista britânico James Lovelock, com quase
100 anos de idade, postula há tempos a “Hipóte-
se Gaia”, da Terra Viva, uma espécie de organismo
biológico capaz de se reequilibrar em benefício
da manutenção da vida (não necessariamente da
vida humana).
Em uma livre e criativa interpretação dessa
hipótese, poderíamos supor que o COVID-19 se-
ria uma espécie de reação imunológica da Terra
a um patógeno (sim, nós humanos). Gaia está
nos alertando. Ou evoluímos em uma relação de
simbiose mutualmente vantajosa ou teremos de
eliminar esse patógeno.
Por outro lado, essa crise tem despertado um
espírito coletivo, comunitário e colaborativo sem
precedentes. E isso nos parece alentador. Admitir
as carências estruturais que afetam a maior parte
dos brasileiros deve ser prioridade para a garantia
da saúde urbana e a reconstrução de uma socie-
dade mais equilibrada, inclusiva e sustentável.
Com a ascendente resiliência humana, espera-
mos chegar a um “novo normal” que incorpore
uma abordagem coletiva e colaborativa, permi-
tindo o desenvolvimento urbano conectado à na-
tureza e às pessoas.
Uma sociedade, enfim, que demonstre aprendi-
zado com os fracassos da história e que não pro-
voque uma nova reação sistêmica de Gaia. É pre-
ciso aprender com a cidade que temos e assumir
novos compromissos e responsabilidades para
construir a cidade que queremos. 
(*) Sergio Myssior, arquiteto e urbanista, diretor da
MYR Projetos Sustentáveis e conselheiro da Revista Eco-
lógico / Thiago Metzker, doutor em Biologia, diretor da
MYR e integrante do Conselho Regional de Biologia.
CONTEÚDO DE MARCA

As ações da Usiminas já
beneficiam 1,3 milhão
de pessoas

USIMINAS AMPLIA ATUAÇÃO DO

CAMINHOS DO VALE
Iniciativa chegará a 30 novas cidades mineiras em 2020 e já
contribuiu para a revitalização de 4 mil nascentes

O
sucesso das ações do programa “Usiminas

FOTOS: DIVULGAÇÃO USIMINAS

Mobiliza pelos Caminhos do Vale” tem atraído
cada vez mais municípios interessados. Para o
ano de 2020, o quinto de atuação, a empresa levará a
iniciativa para 30 novas cidades da Região Leste de Mi-
nas Gerais, totalizando 84 cidades beneficiadas.
Desde a sua criação, a iniciativa é responsável pela recu-
peração de mais de 2,3 mil quilômetros de estradas rurais.
E, em conjunto com o programa “Mobiliza Todos pela
Água”, assegurou a revitalização de mais de 4 mil nascen-
tes. Já são cerca de 2,8 milhões de toneladas de agregado
siderúrgico aplicado, evitando o depósito do material em
aterros, e 1,3 milhão de pessoas beneficiadas.
“Para este ano, a tendência é termos um salto nesses nú-
meros com a chegada a novas cidades. Esse interesse dos
municípios em participar mostra que as iniciativas trazem
benefícios efetivos para a população e contribuem para o
desenvolvimento sustentável em Minas”, avalia Henrique
Helcio, coordenador dos programas na Usiminas.
De acordo com Helcio, um resultado relevante do
programa para os atuais participantes chama a atenção
das prefeituras. “Nesse período com chuvas acima da
média, as estradas rurais recuperadas se mantiveram
transitáveis, evitando o isolamento das comunidades,
situação muito comum anos atrás.”
Tijolo intertravado e sustentável
gens de rios e proteção de matas ciliares entre outros fins.
Menos compacto, o material permite a passagem da
água, evitando seu acúmulo e também danos aos ter-
renos. O teste da Usiminas mostra que o agregado de
maior granulometria pode substituir a brita nesse tipo
de muro, evitando a retirada de rochas da natureza e
reduzindo o custo da construção.
Na mesma linha de atuação, a Usiminas vem doando,
desde setembro do no ano passado, agregado siderúr-
gico – um coproduto do processo industrial – ao Pre-
sídio de Timóteo. O material vem sendo usado pelos
apenados na fabricação de blocos intertravados, mani-
lhas, mourões e outras peças pré-moldadas destinadas
a obras realizadas pelo Poder Público no município.

NOVAS POSSIBILIDADES SAIBA MAIS

Para conhecer as cidades participantes do “Usiminas
Além do uso nas estradas – já consolidado –, a Usiminas
Mobiliza pelos Caminhos do Vale” em 2020, acesse:
está trabalhando em outra forma de aproveitamento bit.ly/2Tlwzv3
do agregado siderúrgico. O material está sendo aplica-
do na construção de muros de gabião, em uma obra de Conteúdo de marca:
grande porte na Usina de Ipatinga.
Esse tipo de muro usa brita ou outras rochas, presas em
uma caixa de arame, para a contenção de encostas, mar-

MARÇO DE 2020 | ECOLÓGICO  37

 1 ESTADO DE ALERTA
MARIA DALCE RICAS (*)
redacao@revistaecologico.com.br
FOTO: PBH / ASSCOM
AS CHUVAS NÃO TÊM CULPA
A
té agora, as áreas de risco, com poucas ex-
ceções, estavam nas periferias urbanas mar-
cadas por construções caóticas e frágeis,
ocupação de encostas e margens de cursos d´água.
Mas, quem diria, tudo mudou. O Bairro de Lour-
des, na região nobre de Belo Horizonte, agora tam-
bém é área de risco.
O Córrego do Leitão não teve outra saída a não
ser espalhar suas águas pela Praça Marília de Dir-
ceu, invadir lojas e detonar o asfalto. Drástico avi-
so de que temos de respeitar os limites impostos
pela natureza e que, dificilmente, a tecnologia hu-
mana mudará.
Desocupar as margens do córrego é possível em
termos de engenharia, mas os custos econômicos
são estratosféricos. Imaginem o valor da indeni-
zação! Então, o negócio é segurar a água mais em
cima, construindo mais barragens com nome de
santos para ver se nos ajudam. A do Bairro Santa
Lúcia sozinha não deu conta.
Um projeto de lei na Câmara de Vereadores pro-
põe instalação de bueiros “inteligentes”, que não
deixam lixo passar. Em diversas cidades, jogar lixo
na rua resulta em multa e até prisão, como aconte-
ce na Cidade do Cabo, na África do Sul.
Afinal, não é por falta de informação que as pes-
soas fazem isso. Antes mesmo de a Avenida Pru-
dente de Morais ser limpa, após a tempestade, já
tinha gente varrendo lixo para os bueiros.
38  ECOLÓGICO | MARÇO DE 2020
AVENIDA PRUDENTE
de Morais: área rica de BH,
onde a resposta da natureza
também chegou este ano
Não há como fugir do fato de que o poder pú-
blico é pra lá de relapso. Multas são importantes
como medida emergencial, mas não são a solução.
MAIS EDUCAÇÃO
Se queremos uma sociedade mais educada e cons-
ciente de seu papel, esse problema precisa ser leva-
do para as salas de aula. Tem de haver campanhas
de massa, repetidas até a exaustão. As empresas
que fabricam produtos embalados em garrafas
plásticas têm de ser cobradas e punidas, se neces-
sário, em relação à sua responsabilidade de desti-
nação das mesmas.
A prefeitura de Londres oferece água potável em
toda a cidade para diminuir o consumo em gar-
rafas que, por aqui, se tornaram verdadeira peste
ambiental. A Coca-Cola gasta montanhas de di-
nheiro em propagandas idiotas para manter o con-
sumo de seu produtos. E pouco faz pela destinação
correta das garrafas.
Pouco se falou também dos benefícios de tanta
água “caída do céu” em 2020. Córregos que há anos
não corriam renasceram, escoando a água dos
lençóis freáticos encharcados. E o verde há muito
tempo não exibia tanta exuberância. Mortes, de-
sabrigados e prejuízos são consequências tristes e
lamentáveis. Mas não são culpa da chuva.
Viva o “Dia Mundial da Água” que, há tempos,
não tinha tanta água! 
(*) Superintendente-executiva da
Associação Mineira de Defesa do Ambiente.
 O QUE OS OLHOS
NÃO VEEM,
A NATUREZA SENTE
Imagem criada digitalmente

anuncio greenpeace 202x275mm olhos nao vem.indd 1 1/21/19 4:39 PM

 1 OPINIÃO PÚBLICA
ANDRESSA DE OLIVEIRA LANCHOTTI*
redacao@revistaecologico.com.br
VACA ATOLADA na lama, em
Brumadinho: acordos com
mineradoras garantiram
socorro e resgate a animais
atingidos pelo desastre
ATUAÇÃO ESPECIALIZADA
NA DEFESA DA FAUNA
A
proteção dos animais tornou-se uma exi-
gência na atual realidade social, na qual há
mais animais de companhia nas residências
brasileiras do que crianças. Sob todos os aspectos,
a questão animal nunca apresentou tantos desafios.
A preservação e proteção da fauna estão previstas
na Constituição Federal de 1988 como dever do Es-
tado e da coletividade. No entanto, os animais con-
tinuam sendo perseguidos em seu habitat, explora-
dos em confinamentos, em trabalhos forçados, no
entretenimento, na moda e na ciência, entre outras
situações que lhes causam dor e sofrimento.
O tráfico de animais silvestres só perde para o
tráfico de drogas e de armas na escala dos delitos
mais rentáveis (IBGE). Na indústria e em empreen-
dimentos minerários, são imensuráveis os impac-
tos negativos sobre a fauna.
A partir de diagnósticos regionais dos principais
problemas e dificuldades relacionados à proteção
e gestão da fauna silvestre e doméstica no Estado,
o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) tem
priorizado a questão animal e buscado atender às
especificidades próprias do problema.
A criação da Coordenadoria Especializada de
Defesa da Fauna (Cedef), no fim de 2017, de forma
40  ECOLÓGICO | MARÇO DE 2020
FOTO: NILMAR LAGE / GREENPEACE
pioneira entre os Ministérios Públicos do país, veio
atender à crescente demanda de maior efetividade
na defesa dos animais. E, por meio da cooperação
com as Promotorias de Justiça de todo o estado,
visa à adoção de medidas legais, judiciais e extraju-
diciais necessárias à proteção da fauna.
COMPENSAÇÃO ECOLÓGICA
Nos desastres ambientais provocados pelo rompi-
mento de barragens de mineração da Samarco, em
Mariana (2015), e da Vale, em Brumadinho (2019),
a atuação da coordenadoria garantiu, por meio de
acordos assinados com as mineradoras, a adoção de
medidas emergenciais de localização, resgate e cui-
dado dos animais atingidos pelo derramamento da
lama. Além ainda do monitoramento das águas do
Rio Paraopeba, da proibição da pesca e do forneci-
mento de água para animais isolados na região.
Em outros Termos de Compromisso firmados
entre o MPMG e a Vale, estão previstas medidas de
proteção integral dos animais domésticos e silves-
tres que se encontrem nas manchas de inundação
de todas as barragens da empresa, com risco de
rompimento em Minas.
Os acordos garantem ainda a continuidade da pro-
 “Na indústria e em empreendimentos minerários, são
imensuráveis os impactos negativos sobre a fauna”
teção dos animais domésticos e silvestres que já fo-
ram resgatados ou que ainda se encontrem nas áreas
de autossalvamento de barragens em risco e estabele-
cem compensação ecológica pelos impactos à fauna.
O Programa Regional em Defesa da Vida Animal
(Prodevida), desenvolvido pela Cedef em parceria
com o Conselho Regional de Medicina Veterinária
e entidades da sociedade civil, tem por finalidade
a implementação por parte dos municípios de po-
líticas públicas de controle populacional de cães e
gatos em área urbana, de forma ética e sustentável,
conforme previsto pela Lei Estadual 21.970/16.
Com adesão voluntária por meio de termos de
compromisso, o Prodevida já inclui 87 municípios
de várias regiões do estado e vem fortalecendo o
papel institucional do MPMG como agente de
transformação social local.
No combate aos maus-tratos de animais, des-
taca-se o resgate de grande número de animais
usados em combates (rinhas), entre galos e cães
da raça pit bull, mantidos em condições precárias,
muitos com lesões e até mutilados. A parceria com
Sustentabilidade
é a nossa pauta!
Toda Lua Cheia
universidades e entidades protetoras de animais
oferece tratamento de saúde, ressocialização e rea-
daptação para que os galos sejam doados a produ-
tores rurais e, os cães, adotados.
Nos últimos dois anos, eventos tradicionais como
rodeios e vaquejadas foram proibidos pela Justiça
em vários municípios de Minas, como resultado da
atuação da Cedef e das promotorias de Justiças de
Defesa do Meio Ambiente.
Desde 2013, a Cedef promove ainda, anualmente,
seminários que abordam os avanços e discutem os
desafios da proteção animal no estado e no Brasil.
Os resultados expressivos nas diversas frentes de
atuação da Cedef demonstram que a especializa-
ção é o melhor caminho para assegurar a eficiência
das ações institucionais do MPMG, uma vez que
promove a interlocução dos vários atores envolvi-
dos na defesa da fauna e contribui para uma atua-
ção mais uniforme eficaz em todo o Estado. 
(*) Promotora de Justiça do
Ministério Público de Minas Gerais (MPMG).
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1 COMPORTAMENTO

O RECADO DA ABELHA-RAINHA
Musa do Carnaval brasileiro, a cantora Anitta tematizou
a defesa do mundo animal em suas apresentações. Confira
os bichos que a inspiraram em postagens no Instagram

FOTOS: REPRODUÇÃO INSTAGRAM

ANITTA ECOLÓGICA:
folia com causa

AS ABELHAS planeta. Isso acarretaria danos irreversíveis,

“Nós, humanos, nos achamos superiores
e bem mais importantes do que todos
os outros animais. Mas a realidade é que
somos todos conectados. Segundo a FAO,
as abelhas, insetos polinizadores, são
responsáveis por 75% de toda a produção de
alimentos do mundo. Alimentos para a nossa
sobrevivência e de todo o ecossistema.
Além disto, elas são fundamentais para a
sobrevivência das florestas tropicais. Sem
a polinização desses insetos, teríamos uma
alteração de todo o ecossistema e do clima do
ameaçando a sobrevivência na Terra.
Nós desconhecemos isso e matamos as
abelhas de diversas formas. Desmatando,
tirando delas locais de moradia e de
alimento. Produzindo e consumindo
mel, enquanto muitas morrem durante o
processo de produção desse alimento. E
usando venenos em excesso na indústria
agrícola. Infelizmente, o Brasil liberou ainda
mais o uso de agrotóxicos, que colocam
as abelhas em risco de morte e extinção.
Elas estão seriamente ameaçadas e,
consequentemente, nós também.”

42  ECOLÓGICO | MARÇO DE 2020

SAPO
“A maioria das pessoas não é muito fã de sapo. Mas
a presença dele é indicador de um meio ambiente
saudável. Grandes devoradores de insetos e pragas,
são nossos aliados.
Mas esses anfíbios, que vivem desde a época dos
dinossauros, e que resistiram ao que dizimou os répteis
gigantes, estão seriamente ameaçados de extinção.
A culpa é da ação humana. O desaparecimento de
sapos, rãs e pererecas coloca em risco todo o equilíbrio
ecológico. Vamos sempre lembrar: o planeta Terra não
é só dos humanos, estamos aqui dividindo nossa casa
com várias outras espécies de animais.”

PANDA
“Vocês sabiam que mesmo após a proibição
da caça aos pandas-gigantes, na China, eles
ainda correm risco de extinção? Dessa vez, pelas
mudanças climáticas causadas e pela poluição.
Sensíveis a essas mudanças, estima-se que 35%
das florestas de bambu irão sumir do planeta
nos próximos 80 anos. E, com elas, os pandas,
que só se alimentam desse vegetal. É preciso que
cada um de nós tente fazer sua parte, seja ela do
tamanho que for, para que essa e outras espécies
não desapareçam.”

PANTERA-NEGRA
“A onça-negra é um animal raríssimo de ser
avistado. Durante 100 anos, esse grande felino
foi considerado extinto na África (Quênia). Até
ser fotografado, em 2018, por pesquisadores. No
mesmo ano, coincidentemente, uma pantera-
negra foi vista no cerrado brasileiro, enchendo de
esperança os biólogos. Mas ela ainda está na lista de
animais vulneráveis e precisa de proteção. Seu único
predador é o ser humano, que a mata para vender
sua pele rara. É o ser humano também que destrói
o lugar onde elas vivem, fazendo com que a pantera
não tenha o que caçar e causando a sua morte.” 

SAIBA MAIS
bit.ly/39DoNCL

MARÇO DE 2020 | ECOLÓGICO  43

1 EDUCAÇÃO AMBIENTAL
"ECOLÓGICO" FAZ UM ANO
NAS ESCOLAS DE IPATINGA...
Iniciativa educacional e apoio empresarial mantêm a distribuição
lunar e gratuita da publicação aos professores municipais
J
á faz quase um ano – e sem-
pre na lua cheia, quando
circula a Revista Ecológico –
que os 420 educadores de Ensino
Fundamental II, do 5º ao 9º Ano,
das escolas de Ipatinga, no Vale
do Aço, recebem gratuitamente a
revista e compartilham com seus
alunos os conteúdos publicados.
Diferentes temas, desde a
questão do lixo até a crise hídri-
ca, são abordados em linguagem
jornalística e didática, pela mais
especializada publicação sobre
sustentabilidade, meio ambiente
e educação ambiental hoje na mí-
dia impressa e digital brasileira.
Os professores usam a revista
primeiro para se informar. E, de-
pois, para trabalharem o conteú-
do com os seus alunos tanto nas
salas de aula quando online.
Essa ferramenta estratégica
de conscientização ambiental,
publicada na forma de encartes
temáticos a cada nova edição, faz
parte do projeto “Ecológico nas
Escolas”, via patrocínio parceiro
da Usiminas.
PARCERIA SUSTENTÁVEL
Na opinião da secretária de Edu-
cação de Ipatinga, Eva Rodrigues
Silva, contar com esse apoio faz
toda a diferença. “É um privilé-
gio podermos interagir com uma
publicação do nível da Ecológi-
co, que apresenta valores conso-
nantes com o desenvolvimento
da educação em tempo integral
da nossa Rede Municipal de En-
sino, com a educação ambiental
e o empreendedorismo social.”
“Juntos, e com esse conteúdo
44  ECOLÓGICO | MARÇO DE 2020
em mãos, estamos formando meio dos diversos mecanismos
alunos mais conscientes e cida- oficiais de controle em sua ope-
dãos para atuarem na constru- ração quanto por atividades que
ção de um mundo futuro mais envolvem e beneficiam estudan-
sustentável”, finaliza a secretária. tes e as comunidades vizinhas.
HISTÓRIA PREMIADA
O projeto “Ecológico nas Escolas”
teve sua primeira edição em 2010,
por meio da Secretaria Estadual
de Educação, que iniciou a distri-
buição gratuita da Ecológico para
todas as 3.600 escolas públicas de
ensino fundamental do Estado.
Naquela época, fruto de uma
pesquisa de opinião, 100% dos
professores ouvidos disseram ler
não apenas as páginas do encar-
te de educação ambiental da pu-
blicação. Mas que usavam “toda
a Revista” como fonte de leitura,
pesquisa e trabalho escolar.
A parceria para a distribuição
da Revista Ecológico nas esco-
las de Ipatinga é o exemplo mais
recente de um compromisso
firmado há décadas na história
e vida da empresa. Desde a sua
fundação, a Usiminas desenvol-
ve ações em prol do meio am-
biente, reconhecidas tanto por
“100% dos
professores
disseram usar
toda a Revista
como fonte de
pesquisa para
seus alunos”
FOTO: DIVULGAÇÃO
EVA RODRIGUES
e a Revista Ecológico:
diferencial educativo
2
SE NÃO PODEMOS MUDAR O PASSADO,
PODEMOS COMEÇAR UM NOVO FUTURO

2
MARÇO DE 2020 | ECOLÓGICO  45
1 EDUCAÇÃO AMBIENTAL
...E TAMBÉM ENRIQUECE
O ENSINO EM NOVA LIMA
No município mais verde e hídrico da Grande BH,
projeto "Ecológico nas Escolas" já envolve 600 professores
Por meio do projeto “Ecológico
nas Escolas”, patrocinado pela
Vale, a Revista Ecológico tam-
bém enriquece, há mais de um
ano, a proposta pedagógica da
Rede Municipal de Ensino de
Nova Lima, na Grande BH. A
atual administração apoia e acre-
dita no papel da educação como
disseminadora de informações
relativas ao meio ambiente e à
educação ambiental.
“Apesar do debate e da cons-
cientização sobre a preservação
da natureza terem aumentado
nas últimas décadas, ainda faltam
mudanças de atitude. Para isso,
as pessoas têm de ser formadas
desde pequenas, e não apenas in-
formadas sobre como se dá o pro-
cesso de sustentabilidade do pla-
neta. Elas precisam ficar cientes
de que pequenas atitudes, como
não jogar lixo na rua, podem evi-
tar catástrofes”, pondera a secre-
tária de Educação, Viviane Matos.
A questão ambiental, acredita
Viviane, precisa ser trabalhada
com toda a sociedade, principal-
mente nas escolas, e com as crian-
ças. “Ao transmitirem os conheci-
mentos que obtiveram e as ações
simples que ajudam na sustenta-
bilidade do planeta, dos colegas,
das famílias e da vizinhança, elas
podem influenciar o comporta-
mento geral da sociedade”.
FORMAÇÃO CONTINUADA
Os conteúdos de educação am-
biental veiculados a cada edição
da Ecológico, incluindo artigos,
depoimentos e opiniões dos leito-
res, bem como iniciativas dentro
46  ECOLÓGICO | MARÇO DE 2020
e fora do âmbito escolar, servem
de incentivo para a valorização
FOTO: DIVULGAÇÃO
das atitudes sustentáveis nos di-
versos segmentos da sociedade.
“Além do projeto ‘Ecológico nas
Escolas’, outras iniciativas ligadas
à Revista, como o Prêmio Hugo
Werneck de Sustentabilidade &
Amor à Natureza, também acres-
centam bastante ao nosso traba-
lho. E contribuem, assim, para a
formação continuada dos nossos
profissionais, que são os media-
dores da educação sustentável
nos municípios.”
Para Viviane, os professores,
enquanto mediadores da apren-
dizagem, têm papel fundamen-
tal em todo o processo. Afinal,
são capazes de transformar a
teoria em prática. “Em sala de
aula, os professores mostram aos
alunos atitudes e exemplos que
incentivam a reflexão crítica, ca-
pacitando-os sobre as questões
ambientais. Com isso, os ajudam
a adotar, em suas realidades lo-
cais, atitudes mais sustentáveis
para o planeta e a humanidade”,
conclui a secretária. 
"As pessoas
precisam ficar
cientes de que
pequenas atitutes,
como não jogar VIVIANE MATOS:
professores como
lixo na rua, podem mediadores da educação
evitar catástrofes" sustentável
SE NÃO PODEMOS MUDAR O PASSADO,
PODEMOS COMEÇAR UM NOVO FUTURO

MARÇO DE 2020 | ECOLÓGICO  47

 BEM-VINDO AO MELHOR PORTAL
DE NOTÍCIAS SOBRE MEIO AMBIENTE

PODE ENTRAR. AQUI A CASA É PLANETÁRIA.

SOUECOLOGICO.COM
 ECOLÓGICO
NAS ESCOLAS
No 70

COMO APROVEITAR
A ÁGUA DE CHUVA
CONHEÇA BOAS PRÁTICAS DE APROVEITAMENTO E
FAÇA DELA UMA ALIADA, SEGURA E ECOLÓGICA, NA
COMPLEMENTAÇÃO DO ABASTECIMENTO DOMÉSTICO
1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - COMO APROVEITAR A ÁGUA DE CHUVA

Tradicionalmente adotados em regiões semiáridas, a coleta e o armazenamento

da água de chuva exigem cuidados. Medidas simples evitam a proliferação de
doenças, como a dengue, e também o risco de acidentes com crianças
Luciana Morais
redacao@revistaecologico.com.br

A
manutenção de áreas per-
meáveis é essencial para
a melhoria do manejo das
águas urbanas. Em qualquer ci-
dade grande, é comum as pessoas
colocarem piso e impermeabili-
zar todo o quintal. E impermea-
bilização excessiva do solo, sobre-
tudo de áreas que poderiam, por
exemplo, ser gramadas, desenca-
deia duas situações bastante co-
muns nos centros urbanos.
A primeira é a redução da
quantidade de água que infiltra
no subsolo, alterando uma par-
te importante do ciclo hídrico
natural. A segunda é provocar
o aumento do volume de água
que escoa para fora das constru-
ções, favorecendo a formação
de pontos de alagamentos e a
ocorrência de enchentes.
Há tempos, essa impermeabi-
lização excessiva vem se tornan-
do uma das causas de mortes,
estragos e muita destruição, vide
as recentes e volumosas chuvas
ocorridas em Belo Horizonte, Es-
pírito Santo e São Paulo.
Daí, portanto, a importância –
e a oportunidade – de oferecer à
população orientações corretas
e confiáveis para o aproveita-
mento da água de chuva, deta-
lhando boas práticas destinadas
à sua captação, armazenamento
e uso doméstico.
O Instituto de Pesquisa Tecno-
lógica (IPT), com sede em São
Paulo, tem como uma de suas
áreas de atuação o aproveitamen-
to e reúso de água em edificações,
com destaque para a água de
chuva. Sobre esse tema são de-
senvolvidas pesquisas há mais de
20 anos. Foi criado, inclusive, um
manual específico, cujas orienta-
ções serão listadas a seguir.
O passo a passo se refere so-
mente a soluções emergenciais e
caseiras para uso de água de chu-
va, e não a sistemas projetados
de forma integrada e definitiva à
edificação. Viável, relativamente
fácil e barato, o aproveitamento
dessa água deve ser, no entan-
to, sempre planejado e executa-
do com base em palavras como:
cautela e segurança.
Um dos motivos é simples: a
água de chuva contém poluentes.
Partículas e substâncias encon-
tradas na poeira existente natu-

50  ECOLÓGICO | MARÇO DE 2020

 ENTENDA MELHOR

 Para captar água de chuva de melhor qualida-

de, alguns cuidados são essenciais, sobretudo
em sua coleta e armazenamento. Um sistema
emergencial de captação deve considerar as se-
guintes etapas:

1 Filtragem: a chuva que escorre pelo telhado

e pela calha arrasta muita sujeira. O primei-
ro passo é usar um filtro simples. Isso removerá
sujeiras como folhas, insetos e outras partículas.

2 Descarte: após a filtragem, ainda sobram

sujeiras mais finas que podem contaminar a
água. Como a primeira chuva é a mais suja, é pre-
ciso separar e descartar um certo volume dela.

3 Armazenamento: deve ser feito em reser-

vatórios tampados e protegidos do mosquito
da dengue (Aedes aegypti). A água estocada deve
ser periodicamente higienizada.
 Os materiais indicados para filtragem são
as telas de nylon ou de polipropileno (como as
usadas em coadores de café ou peneiras de
chá). É possível usar, ainda, telas mosquiteiro
com abertura bem fina e até mesmo meia de
seda (meia-calça). Não use tecidos de algodão.
Eles retêm sujeira nas fibras e desenvolvem
fungos e bactérias, apodrecendo facilmente
quando expostos ao tempo.
 Apesar de a filtragem reter as partículas maio-
res, a água de chuva ainda traz consigo sujeira
bem fina que consegue passar pela tela. E quanto
mais tempo sem chuva, mais sujo será o primeiro
volume de água.
 Depois de três dias de estiagem, os telhados
ficam sujos, prejudicando a qualidade da água
coletada e armazenada. Portanto, é muito im-
portante descartar a água de primeira chuva. É
preciso, ainda, limpar as calhas regularmente,
principalmente durante a estiagem.

ralmente no ambiente, poluição USOS MAIS INDICADOS e plantações, lavagem de veículos

gerada por fábricas e veículos
automotores. Além de terra leva-
da pelo vento e restos de vegetais,
bem como fezes e restos de ani-
mais presentes nos telhados.
A chuva é formada quando o
vapor d’água da atmosfera se
condensa, produzindo pequenas
gotas que precipitam em direção
à terra. Em áreas urbanas, a água
entra em contato com poluentes,
tanto no ar (poluição atmosférica)
como nas superfícies onde a chuva
cai (nos telhados, no piso e até nas
folhas das árvores). Quando cai,
a chuva arrasta consigo esses po-
luentes. Por isso, o primeiro volu-
me de água de chuva é o mais sujo.
Por lei, a água fornecida pelo
serviço de abastecimento deve
seguir o padrão de potabilidade,
ou seja, atender a certos requisi-
tos para que não ofereça risco no
seu uso mais nobre: ser ingerida,
matar a sede.
A água de chuva coletada em
casa não é avaliada segundo esse
padrão. Ela não é, portanto, po-
tável. Mesmo que pareça limpa,
não tem qualidade garantida.
Por isso, para beber e cozinhar, é
mais seguro usar a água forneci-
da pela rede de abastecimento.
Os usos mais indicados para a
água de chuva são aqueles não
potáveis, tais como rega de jardins
e fachadas, descargas em bacias
sanitárias e limpeza de pisos.
Para outros usos, a opção deve
ser sempre a água tratada forne-
cida pela rede de abastecimen-
to. Ainda assim, em condições
anormais de distribuição, é pos-
sível usar a água de chuva tam-
bém para tomar banho e lavar
louças e roupas.
Confira, a seguir, como cole-
tar, tratar e armazenar a água de
chuva corretamente. E evite, as-
sim, que o seu armazenamento
se torne fonte de riscos, por meio
da ação do mosquito transmis-
sor da dengue ou da ocorrência
de acidentes com crianças.
2
MARÇO DE 2020 | ECOLÓGICO  51
1 ECOLÓGICO NAS ESCOLAS - COMO APROVEITAR A ÁGUA DE CHUVA
CUIDADOS AO ARMAZENAR
Mantenha o reservatório longe
do alcance de crianças: elas
podem subir para ver a água e
acabar caindo dentro dele.
 Se for colocar o reservatório
sobre uma laje, telhado ou
estrutura, verifique se a mesma
vai suportar a carga extra.
Lembre-se: cada litro d’água
pesa 1 kg. Um reservatório
de 1.000 litros, quando cheio,
portanto, pesará uma tonelada!
O reservatório ocupa espaço. Antes
de colocá-lo em uma passagem
ou área de serviço, verifique se ele
não sofrerá impactos, esbarrões e
batidas ou causará acidentes.
 Por fim: nunca colete água de chuva
diretamente de pisos ou alagamentos. Nunca
beba dela sem antes tratá-la. E nunca a coloque
no reservatório destinado à água potável.
52  ECOLÓGICO | MARÇO DE 2020
 Apoie totalmente a base do reservatório
em superfície plana e nivelada, para
que ele não vire ou se rompa.
 Evite expor o reservatório à luz
e ao calor, para que algas não se
desenvolvam em meio à água.
 Tampe com tela os ladrões (furos
laterais da caixa d’água por onde o
excesso escoa), impedindo, assim,
o acesso do mosquito da dengue.
FIQUE POR DENTRO
 Em um sistema
emergencial, o volume de
água a armazenar deve ser
decidido em função do espaço
disponível na residência e de
quanto a família pode gastar
com sua instalação. A partir
daí, deve se adaptar os usos
ao volume de água disponível,
e não o contrário.
 Quanto mais limpa a água
captada, mais tempo ela
poderá ser armazenada sem
perder a qualidade.
 A higienização da água de
chuva no reservatório diminui
a presença de bactérias e a
velocidade de sua degradação.
Porém, essa prática não
garante a desinfecção total,
ou seja, a água ainda terá
microrganismos.
 A água sanitária melhora a
qualidade biológica da água
armazenada. Recomenda-se
usar: 10 ml (uma colher de
sobremesa) para cada 100l
d’água. Não use cloro de
piscina ou produtos clorados
mais fortes (do tipo
limpa-pedras).
 O cloro age sobre a água
por, no máximo, dois dias. Se
a água for estocada por mais
tempo, a higienização deve
ser periodicamente repetida.
Fonte/Pesquisa bibliográfica:
Manual para Captação Emergencial e
Uso Doméstico de Água de Chuva (IPT).
Para baixar o arquivo, acesse:
bit.ly/2SY0mbW
 TRÊS PERGUNTAS PARA...
FOTO: ASCOM IPT

LUCIANO ZANELLA, pesquisador do

Laboratório de Instalações Prediais e Saneamento
(LIP/IPT) e doutor em engenharia civil pela Unicamp

PROJETO MERECE ATENÇÃO

O que a pessoa deve considerar antes de instalar
um sistema definitivo para captação de água de
chuva em ambiente doméstico?
Ela deve prever os gastos com energia
elétrica, manutenção de bombas, de filtros e
reservatórios. Bem como o custo de testes para
verificação da qualidade da água obtida. É
fundamental considerar, ainda, as características
da construção, além de respeitar os critérios
de engenharia e as normas técnicas, para que
se tenha um projeto eficiente, econômico e
ambientalmente vantajoso.
Em relação aos critérios de engenharia, que
ações ou precauções recomenda?
Um sistema definitivo de aproveitamento de
água de chuva deve ser pensado de forma
conjunta com o restante do projeto da
edificação. Afinal, se juntará aos sistemas de:
distribuição de água potável, coleta de esgotos
e distribuição de energia elétrica. Como se trata
de uma obra de engenharia e para que seja
adequadamente feito, o recomendado é que
seja projetado e construído por profissionais
capacitados. O projeto de dimensionamento
do sistema deve prever, entre outros aspectos,
quanto de água poderá ser conseguido a
partir da área de telhado. Uma precaução:
sinalize os pontos de uso que receberão a
água de chuva. Assim, você evita que ela seja
usada como água potável.
Pode dar algum conselho extra de segurança e
manutenção do sistema?
É crucial que todas as etapas sejam respeitadas.
Cada uma tem sua função e assegura que o
conjunto seja adequado ao uso. Qualquer etapa
negligenciada pode ocasionar problemas. Por
exemplo: um reservatório sem tampa pode servir
de criadouro de mosquito. Um sistema que não
tenha o descarte da água de primeira chuva
pode levar água suja para dentro do reservatório.
Outra medida essencial: não basta ter um projeto
adequado. Ele também deve ser guardado pelo
usuário da edificação. Com isso, se um dia for
preciso fazer algum reparo ou modificação, tudo
será executado de acordo com as recomendações
originalmente projetadas. 

Nós apoiamos essa ideia!

MARÇO DE 2020 | ECOLÓGICO  53

1 MEMÓRIA ILUMINADA - DANTE ALIGHIERI

FOTO: ANDREA DEL CASTAGNO

O SUMO POETA:
“O amor me move:
só por ele eu falo”

A CONDIÇÃO HUMANA
SEGUNDO DANTE Alexandre Salum
redacao@revistaecologico.com.br

I
l sommo poeta (“O sumo poeta”). Assim é cha-
mado o prosador, teórico literário, filósofo e
pensador político italiano Dante Alighieri.
Considerado uma das figuras mais marcantes da
literatura mundial, admirado por sua espiritua-
lidade e profundidade intelectual, ele nasceu em
Florença, nos idos de 1265. Foi iniciado na litera-
tura por seu professor e filósofo Brunetto Latini,
que o incentivou a ler grandes clássicos romanos
de Vírgilio, Estácio e Ovídio.

54  ECOLÓGICO | MARÇO DE 2020


FOTO: GUSTAVO DOR’E
Na juventude, conheceu Beatriz Portinari, uma
paixão platônica e que mais tarde se tornou a prin-
cipal personagem de sua obra, exaltada como sím-
bolo supremo da graça divina.
Aos 12 anos, sua família impôs o casamento com
Gemma, prática comum na época, tanto no “ar-
ranjo” quanto na idade. No entanto, um ano após o
matrimônio, Beatriz morreu.
Abalado, Dante procurou refúgio espiritual na
filosofia e entregou-se ao estudo de autores como
Santo Agostinho, São Tomás de Aquino, Aristóte-
les e Lucano.
Frequentador assíduo das rodas literárias, tomou
parte nas lutas políticas da cidade, principalmen-
te contra as ambições do papa Bonifácio VIII, que
pretendia dominar a cidade, apoiado no partido
Guelfo Negro, contrário ao de Dante (Guelfo Bran-
co). Com a derrota de seu partido, ele foi condena-
do ao exílio por dois anos e a pagar uma elevada
multa em dinheiro.
Dante exilou-se e, apesar das tentativas, nunca
mais voltou à sua cidade natal. Foi a sua maior tris-
teza. Nesse período, escreveu duas grandes obras:
O Banquete e De Vulgari Eloquentia. Cinco anos
depois, Dante tentou, em vão, negociar seu perdão
com os políticos.
A carreira literária, entretanto, seguiu forte: foi
nesse período que ele começou a escrever sua
obra-prima: La Divina Commedia (A Divina Comé-
dia), poema constituído por 100 cantos e dividido
em três livros – Inferno, Purgatório e Paraíso.
A Divina Comédia tornou-se um clássico da lite-
“No inferno, os lugares mais
quentes são reservados àqueles
que escolheram a neutralidade
em tempo de crise”
ratura mundial e base da língua italiana moderna,
mostrando-nos uma visão medieval de se enten-
der o mundo. Ao lado do legado filosófico de Dan-
te, que morreu vítima de malária em Ravena, em
1318, a sua obra atingiu grandiosidade de concep-
ção, universalidade poética e influência artística.
O escritor francês Victor Hugo afirmou que o
pensamento humano atinge, em certos homens, a
sua completa intensidade, e cita Alighieri como um
dos que “marcam os cem graus de genialidade”. Em
homenagem a esse grande artista italiano, a Eco-
lógico selecionou alguns pensamentos de Dante
Alighieri e trechos de A Divina Comédia para re-
fletirmos sobre a natureza e a condição humana.
Confira:
● RAZÃO
“A razão vos é dada para discernir o bem do mal.”
“Vês que a razão, seguindo o caminho indicado
pelos sentimentos, tem asas curtas.”
● INFERNO
“No inferno, os lugares mais quentes são reservados
àqueles que escolheram a neutralidade
em tempo de crise.”
“Vós que viveis e sempre atribuís tudo o que ocorre
na Terra aos movimentos celestes, como se tal
movimento imprimisse em todas as coisas uma
necessidade, se assim fosse, em vós seria destruído o
livre arbítrio, e não seria justo que o homem tivesse
2
MARÇO DE 2020 | ECOLÓGICO  55
1 MEMÓRIA ILUMINADA - DANTE ALIGHIERI

COM ELE, NO INFERNO

Segundo a Divina Comédia e sempre acompa-

nhado do poeta Virgílio, Dante chega ao vestíbulo
do inferno, que tem nove círculos. O limbo é o pri-
meiro deles. No segundo círculo começa o infer-
no propriamente dito. Nele ficam os luxuriosos,
que sofrem com uma tempestade de vento. No
terceiro círculo estão os gulosos, flagelados por
uma chuva putrefata e vigiados por um mitológi-
co cão de três cabeças. No quarto círculo desfi-
lam os avarentos, empurrando pesos enormes.
No quinto círculo ficam os iracundos, imersos na
lama ardente de um pântano. Os insolentes e so-

FOTO: MUSÉE D’ORSAY

berbos também.
No sexto círculo, Dante e Virgílio veem os here-
ges, que eram queimados em fogueiras quando
estavam vivos, em túmulos de fogo. Já em rios de
fogo estão os assassinos e violentos com o pró-
ximo. Eles ficam constantemente atingidos por
flechas disparadas por centauros. Os violentos
contra si mesmos são transformados em árvo-
res. Os esbanjadores são perseguidos e devora-
dos por cadelas ferozes e famintas.
A viagem continua. No sétimo círculo estão os
violentos com Deus e contra a natureza. Eles es-
tão deitados, recebendo chuvas de fogo. Os usu-
rários, leia-se agiotas, também estão sentados
sob as mesmas chuvas de águas ardentes.
Já o oitavo círculo é dividido por dez fossos in-
terligados por pontes. Ali as torturas só pioram
e os pecados também. No nono e último círculo
Dante e Virgílio, de William Bouguereau,
no Museu D’Orsay, em Paris
infernal não há fogo, e sim frio. Muito frio. É lá
que eles veem os traidores.
A viagem pelo inferno termina. Dante e Virgílio
começam a sair do centro da Terra. Na busca de
uma saída, vislumbram quatro estrelas no céu.
É um sinal de que o paraíso deve ficar ao sul do
Equador. Mas, para chegar ao paraíso é preciso
passar antes pelo purgatório.
O inferno só não basta. E nos faz refletir sobre o
que devemos ser e fazer de melhor aqui na Terra,
enquanto vivos.

por bem a alegria e por mal, a dor.” ● AMOR

“Portanto, para teu bem, penso e externo que tu me
sigas, e eu te irei guiando. Levar-te-ei para lugar
eterno, de condenados que ouvirás bradando, de
antigas almas que verás, dolentes, uma segunda
morte em vão rogando.”
● HOMEM
“Quem és tu que queres julgar com vista que só
alcança um palmo, coisas que estão a mil milhas?”
“O homem sábio sempre evita dizer a verdade
quando ela possa parecer mentira, a fim de não ser
injustamente tido por mentiroso.”
“Muita cautela e igual prudência devem ter os homens
quando lidam com os que enxergam não somente as
coisas, mas percebem também o que se pensa.”
56  ECOLÓGICO | MARÇO DE 2020
“Muito pouco ama quem com palavras pode
expressar quanto muito ama.”
“Pelo exemplo de Beatriz, compreende-se
facilmente como o amor feminino dura pouco, se
não for conservado aceso pelo olhar e pelo tato
do homem amado.”
“Amor e alma gentil estão ligados, como nos diz
o sábio na canção. Só pode um sem o outro ser
pensado se à alma racional falta razão.”
● PECADO
“A Justiça Divina pesa em balanças diferentes:
os pecados dos homens dissimulados
e os dos sinceros.”
b
“A contradição não consente o arrependimento e o
b
b
 pecado ao mesmo tempo.”
● AMIZADE
“Não deve o homem, pelo maior amigo, esquecer os
favores recebidos do menor.”
● MEDO
“Não se deve temer senão aquilo que ao próximo
prejudica.”
● MUNDO
“O mundo é cego, e tu vens exatamente dele.”
● DEUS
“Contentai-vos em conhecer as obras de Deus; pois,
se os homens tivessem podido conhecer todas as
coisas, teria sido inútil o parto de Maria; e os vistes
desejar, sem resultado, conhecer a causa das coisas,
tanto que a insatisfação de seu desejo constitui,
eternamente, a sua pena.”
“Não há maior dor do que a de nos recordarmos
dos dias felizes, quando estamos na miséria.”
● VINGANÇA
“Trazes turbado o espírito, não conseguindo
entender como é possível que uma vingança justa
tenha sido mais tarde justamente punida...”
● VONTADE
“À vontade, se não quer, não cede, é como a chama
ardente, que se eleva com mais força quanto mais
se tenta abafá-la.”
“Uma vontade, mesmo se é boa, deve ceder
a uma melhor.”
● JULGAMENTO
“E vós, mortais, guardai-vos de julgar.”

● VIDA
“Em vida, eu jamais teria sido tão cortês, tal era o
meu desejo de sobressair.”
“Toda erva se conhece pela semente.”
● FAMA
“A fama que se adquire no mundo não passa de
um sopro de vento, que ora vem de uma parte, ora
de outra, e assume um nome diferente segundo a
direção de onde sopra.” 

DESENVOLVENDO OPORTUNIDADES

MINERAIS
DESENVOLVENDO OPORTUNIDADES

MINERAIS
DESENVOLVENDO OPORTUNIDADES

NO BRASIL
NO BRASIL
NO BRASIL
11 Projetos 373 Colaboradores 7 Estados
Desde 2007, o Grupo Bemisa vem cumprindo sua missão de
explorar,
Desde desenvolver
2007, o GrupoeBemisa
operar vem
oportunidades
cumprindominerais
sua missãono Brasil.
de
Desde 2007, o Grupo Bemisa vem cumprindo sua missão
explorar, desenvolver e operar oportunidades minerais no Brasil. de
A mineração
explorar, é a atividade
desenvolver que fornece
e operar as matérias-primas
oportunidades para
minerais no Brasil.
o desenvolvimento
A mineração global.que
é a atividade Maisfornece
do queas
contribuir para o para
matérias-primas
crescimento
o desenvolvimento global. Mais do que contribuir para odepara
A mineração econômico,
é a atividade isso
que significa
fornece ter
as a capacidade
matérias-primas
melhorar
o
crescimentoa qualidade
desenvolvimento
econômico,de vida
global. da
Mais
isso população.
do queter
significa Por isso,
contribuir para
a capacidade temos
ode
como pilares
crescimento a busca
econômico,por soluções
isso inovadoras
significa ter a e excelência
capacidade
melhorar a qualidade de vida da população. Por isso, temos de
operacional,
melhorar a fazendo
qualidade uso
de das
vida melhores
da práticas
população. Por de mercado
isso,
como pilares a busca por soluções inovadoras e excelência temos
para
como toda nossa
pilares
operacional, cadeia
a busca
fazendo produtiva.
por
uso soluções inovadoras
das melhores práticasede excelência
mercado
operacional, fazendo uso das
para toda nossa cadeia produtiva. melhores práticas de mercado
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e segura. MARÇOdeDEativos
2020 |minerais
ECOLÓGICOde XX
forma sustentável e segura.
 1 NATUREZA MEDICINAL
MARCOS GUIÃO (*)
redacao@revistaecologico.com.br

ALECRIM-DO-CAMPO
D
urante retorno pra casa do amigo e raizeiro de varrer as brasas pra fora do forno a lenha com uma
Chico da Mata, eu tava dano reparo na ne- bassourinha amarrada de ramos de alecrim-do-cam-
gritude da noite desmanchando o dia nos po (Baccharis dracunculifolia). Pois era esse luxo que
costados da Serra da Maravilha. Uma tanteira de tava soltando o cheiro de mel por tudo que é lado.
passarim zoava infinito no alarde do fim do dia e a Daí, ‘garramos’ numa prosa por ali mesmo, com
marcha macia da mula dava o compassado carecido Chico ajudando a lida de dona Linda por e tirar os
naquela hora em que a cisma ronda tabuleiros de biscoitos de goma,
o juízo na ruminação dos ocorridos rosquinhas de nata e pãezinhos ca-
ainda debaixo da luz do sol. “ Nóis usa o alecrim seiros. Demos de trocar saberes en-
Pois foi bem nessa horinha que quando é caso de quanto saboreávamos as quitandas
se demos de ver, ainda no longe, acompanhadas de um cafezinho
a fumacinha subindo, dano sinal
gripe, bronquite e passado na horinha. Nos indagos,
que dona Linda tava na berola do inté limpação de Chico quis saber desse “tal própolis
tirado de alecrim-do-campo, coisa
fogão nos apreparados da janta. ferimento” muito procurada por aqui”.
Vixe! Só de pensar, o oco da barri-
ga estrilava na fome. Expliquei que é a partir das resi-
Apeamos já na coberta do curral pra dar o trato nas retiradas do alecrim que as abelhas produzem
necessário nos animais, ritual merecido e cumpri- uma própolis de cor verde, utilizada por elas pra
do no zelo. Foi quando um cheiro adocicado assal- vedar todas as frestas onde a colmeia tá arrancha-
tou minhas narinas, trazendo memórias lá da chá- da. Isso isola e regula a temperatura do ambiente
cara de minha vó Joana... interno, protegendo de chuva, vento, além de agir
Rodeei a casa caçando entrar pelos fundos, mas no na eliminação de vírus, bactérias e fungos que po-
puxado da cozinha se dei com dona Linda acabando dem colocar em risco a vida do enxame.
Daí, se tirou a indicação do uso da própolis pra
aumentar as defesa do nosso corpo e também no
FOTO: MARCOS GUIÃO

O ALECRIM é aliado natural trato das inflamações em geral, principalmente

na defesa do organismo dor de garganta.
__ Pois deve de sê derivado disso que aqui nóis usa
o alecrim-do-campo quando é caso de gripe, bron-
quite e inté limpação de ferimento. Mas ele é bão
tamém quando o cabra reclama de queimação no
bucho, num é Linda? Falou Chico, caçando reforço
da companheira, que dentro de seu movimento de
vaivém, completou: é sim, mas tamém tomo o chá
dele quando tenho alguma dor, aliveia sem base...
No alongado da prosa, me alembrei de que ele atua
também em casos de “sapinho” nos pequenos, pro-
tegendo a mucosa da boca de fungos. Pra isso, tem
de se fazer um chá das folhas e flores e usar pra bo-
checho. Mas nos miudinhos encharca-se uma gaze
e passa por dentro da boquinha deles. Mas o mais
inesquecível mesmo de toda essa história foram as
quitandas. E só de me alembrar fico salivando.
Inté a próxima lua! 

(*) Jornalista e consultor em plantas medicinais.

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58  ECOLÓGICO | MARÇO DE 2020

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E é pensando nisso que cuidamos do bem mais precioso do nosso planeta: a
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lavagem dos equipamentos, poupamos mais de 3 milhões de litros de água só em
2019. E se pensar no bem comum faz bem, tomar a atitude certa, na hora certa, faz
ainda melhor para o futuro de todos.

22 de março. Dia Mundial da Água.

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