1 EXPEDIENTE

FOTO: ALFEU TRANCOSO

Em toda Lua Cheia, uma publicação dedicada à memória de Hugo Werneck

DIRETOR-GERAL E EDITOR REPORTAGEM PROJETO GRÁFICO-EDITORIAL

Hiram Firmino
hiram@souecologico.com.br
EDITORIA-EXECUTIVA
Ecológico Comunicação
em Meio Ambiente
EDITOR DE ARTE
André Firmino
andre@souecologico.com.br
CONSELHO EDITORIAL
Fernando Gabeira, José Cláudio
Junqueira, José Fernando Coura,
Maria Dalce Ricas, Mario Mantovani,
Patrícia Boson, Paulo Maciel
e Sérgio Myssior
CONSELHO CONSULTIVO
Célio Valle, Evandro Xavier, Fabio
Feldmann, José Carlos Carvalho,
Roberto Messias Franco, Vitor
Feitosa e Willer Pos
Hiram Firmino Ecológico Comunicação em
Raíra Saloméa Meio Ambiente Ltda.
Mariana Peixoto
REDAÇÃO
COLUNISTAS (*) Avenida Getúlio Vargas, 254
Marcos Guião Funcionários - Belo Horizonte - MG
e Maria Dalce Ricas CEP 30112-020
redacao@revistaecologico.com.br
CAPA
Ecológico
EDIÇÃO DIGITAL
DEPARTAMENTO COMERCIAL www.revistaecologico.com.br
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MARKETING (*) Os artigos são de responsabilidade
marketing@souecologico.com.br de seus autores e não expressam
necessariamente a opinião da revista.
ASSINATURA
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/revistaecologico

04  ECOLÓGICO | JULHO DE 2023

 Bem-vindo, aqui
a casa é planetária.

www.revistaecologico.com.br
1 ÍNDICE

SENTENÇA DE MORTE PARA

O PLANETA E A HUMANIDADE
BRASIL JÁ DESMATOU 90% DA MATA ATLÂNTICA, 50% DO CERRADO E MAIS
DE 20% DA AMAZÔNIA, SEGUNDO OS MAIS RECENTES RELATÓRIOS
CIENTÍFICOS REUNIDOS NA MATÉRIA DE CAPA DESTA EDIÇÃO. Pág. 22
28
MUDANÇAS CLIMÁTICAS
FENÔMENO CLIMÁTICO PODE SER
E mais...
O MAIS INTENSO DOS ÚLTIMOS
70 ANOS. NO BRASIL, OS EFEITOS CARTA DOS LEITORES 10
DEVEM IMPACTAR OS PREÇOS DE
ALIMENTOS E AUMENTAR CASOS DE CARTA DO EDITOR 12
ZIKA, DENGUE E CHIKUNGUNYA.
GENTE ECOLÓGICA 14
PÁGINAS VERDES 16

30 SAÚDE ANIMAL 36
MUNDO SIDERÚRGICO 40
MINERAÇÃO PERFIL 44
A ECOLÓGICO OUVIU PESQUISADORES
ENSAIO FOTOGRÁFICO 56
QUE MONITORAM A BACIA DO RIO DOCE
DESDE O ROMPIMENTO DE FUNDÃO, NATUREZA MEDICINAL 62
EM 2015. ELES ALERTAM QUE A
CONTAMINAÇÃO AINDA NÃO PAROU. XXXXXXXXXX 56
A FUNDAÇÃO RENOVA SE POSICIONOU.
XXXXXXXXXXXX 66
54

50
64
66
MEMÓRIA ILUMINADA
VEGETARIANO CONVICTO HÁ MAIS DE 40
ANOS, LENDA DA MÚSICA ATRIBUI O SEU
ÓTIMO ESTADO FÍSICO, AOS 81 ANOS, À
ALIMENTAÇÃO DE ORIGEM VEGETAL.
O EX-BEATLE UTILIZA A SUA INFLUÊNCIA
PARA ENGAJAR MOVIMENTOS DE DIREITOS
HUMANOS, ANIMAIS E AMBIENTAIS.
1 IMAGEM DO MÊS

NATUREZA SURPREENDENTE
Esta é uma gota de água em uma folha e 12 formigas estão bebendo dela.
O surpreendente é que eles foram divididos em 4 grupos de 3 formigas cada para
equilibrar a folha para que a gota d'água não escorregue. As pequenas maravilhas
da natureza nunca param de surpreender. Este é o tipo de coordenação que
precisamos entre as pessoas para avançar como sociedade.
"Quem entender a formiga entenderá o universo".
Facundo Cabral.- Simplesmente Maravilhoso. 

08  ECOLÓGICO | JULHO DE 2023

 QUEIMADAS É CRIME
ARTE: ANDRÉ FIRMINO

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Toda Lua Cheia

1 CARTAS DOS LEITORES

l O INFERNO VEM AÍ
“Não foi por falta de alertas baseados em
pesquisas...ciência!”
Programa Conexão Ambiental, via instagram

l AS VOZES QUE NÃO FORAM OUVIDAS

“Muito triste para BH e Nova Lima. Essas pessoas
não têm compromisso com a integridade e com a
beleza. Espero eu que não fique assim...
Chora-se...”
Lídia Maria Dos Santos, via instagram

l MULHERES QUE CORREM E LUTAM POR ÁGUA

“Algo tão imprescindível.”
Amélia Valente, via instagram

l O SEGREDO VERDE DE EDNARD TOLOMEU

“Parabéns. Trabalhos feitos com amor,
responsabilidade e reconhecimento”
Elaine Moreira, via instagram

“Parabéns, conterrâneo!”
Guilherme Haruo, via instagram

“Trabalho admirável!”
Glênio Rodrigues, via instagram

“É urgente a
preservação da Serra
do Curral! Após muita
luta popular e diversas
denúncias, foi barrada
esta mineração ilegal
que destruiu uma parte
da Serra. É triste ver um
patrimônio de Minas
Gerais, tão importante
para a segurança
hídrica da nossa região
metropolitana,
sendo moído e
explodido
por mineradoras”
DUDA SALABERT, deputada
federal pelo PDT - MG

10  ECOLÓGICO | JULHO DE 2023

 1 CARTA DO EDITOR
HIRAM FIRMINO
hiram@souecologico.com

O ÚLTIMO AVISO
P
laneta Terra, 3 de julho, ano 2023 depois de
Cristo. Caros leitores, para quem achou que
a edição especial da Revista Ecológico, co-
memorativa ao “Dia Mundial do Meio Ambiente”,
pegou pesado, não se enganou. O inferno climáti-
co planetário atingiu o seu recorde. Foi o dia mais
quente do mundo, desde como o conhecemos e
não paramos mais de esquentá-lo. Seja devastan-
do suas matas, deixando-o nu perante a inclemên-
cia do sol. Seja assoreando suas nascentes d´águas,
seja explorando de forma predatória e suicida seus
recursos naturais. Não respeitando a sua natureza
auto sustentável, muito menos amando-o com o
olhar da ciência.
Conforme dados da NOAA - Administração Oce-
ânica e Atmosférica dos EUA, os termômetros mar-
caram a temperatura média de 17,01 graus Celsius,
a maior da história, em meio ao contexto das cres-
centes emissões de carbono ao redor do globo. A
medição se refere à temperatura média do ar na
superfície planetária.
Segundo declarou a cientista climática Friederi-
ke Otto, do Instituto Grantham para Mudanças Cli-
máticas e Meio Ambiente do Imperial College, no
Reino Unido, esse dia mais quente do mundo não é
um marco que deveríamos comemorar. Ele é uma
“sentença de morte” para as pessoas e os ecossiste-
mas que as mantêm vivas.
Parece que nós já vimos esse filme antes. Esta-
mos todos condenados por nossa ignorância e
agressividade contra a natureza, e continuamos
cometendo os mesmos crimes. De um lado, os
ambientalistas e cientistas, transvestidos de João
Batista, pregando em vão no deserto da economia
capitalista e sem verde.
Do outro, os políticos, empresários e o agrone-
gócio, fazendo planos ainda de monoculturas tra-
dicionais. Exatamente onde cada dia mais haverá
menos água para gotejar, onde antes a natureza
umedecia e preservava vivo.
Esses filmes catastróficos que causavam medo
sempre nos atraiam, pois sabíamos que seríamos
salvos até segundos antes do final. Bastava sair do
cinema, havia lua ou sol, de preferência, e a men-
sagem mórbida desaparecia das nossas mentes e

12  ECOLÓGICO | JULHO DE 2023

 TEMPERATURA MÁXIMA: o início de julho foi o mais infernal em toda a história do planeta
já registrada numa escala global. E os meteorologistas preveem que o recorde de calor
dever ser quebrado em breve, efeito das mudanças climáticas e do fenômeno El Niño

corações. Agora não. O aviso é real. Acabou o trei-
no civilizatório. Ainda somos os mesmos homos
sapiens descritos por Yuval Noah Rarari, em “Uma
breve história da humanidade”.
A menos que o Fórum Econômico Mundial e ou-
tras cúpulas amazônicas de poder adotem, sem
emendas, o desmatamento zero, como reportamos
nesta edição, a chapa terreste e marítima continu-
ará esquentando mortalmente.
Melhor desligá-la. Preservar, respeitar e amar de
maneira sustentável o que nos resta de natureza
exuberante, tal como a Amazônia e o Cerrado bra-
sileiro, já cercados novamente pelo fogo que go-
verno algum consegue apagar. E ter o que admirar,
agradecer e poder contar, um dia, algo meritório
e com conteúdo para os filhos dos nossos filhos,
como imortalizou Marcus Viana em “Pantanal”,
também de volta às chamas.
A realidade do Apocalipse Now pode não acon-
tecer por milagre ou ciência. Como está escrito no
cartaz do cinema imaginário, nós não temos mais
tempo nem para sermos pessimistas. Como diz a
propaganda da Unimed, que deveria também cui-
dar da saúde do planeta, é isso que nos une, em es-
perança. Tal qual o tema municipalista do próximo
Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Meio
Ambiente, três décadas depois da ECO/29: “Deve-
mos pensar globalmente e agir localmente”.
Boa leitura! 

JULHO DE 2023 | ECOLÓGICO  13

1 GENTE ECOLÓGICA
“Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade das tartarugas
mais que a dos mísseis. Tenho em
mim um atraso de nascença. Eu
fui aparelhado para gostar
de passarinhos.”
MANOEL DE BARROS, poeta
“A natureza para mim é a
infraestrutura da vida”
ZÉ CELSO CORRÊA,
dramaturgo
“Um milhão de espécies de plantas e
animais estão em risco de extinção,
principalmente devido à atividade
humana. Preservar o meio ambiente
é preservar o planeta!”
GAL COSTA, cantora
14  ECOLÓGICO | JULHO DE 2023
“O Brasil não tem que ter medo. Precisa de altivez, pois
estamos fazendo o dever de casa. Já retomamos o Fundo
Amazônia, iniciamos o plano para o cerrado equivalente
ao que temos para a Amazônia, conseguimos um aumento
de quase 200% de nossa capacidade de fiscalização e
registramos queda consistente do desmatamento de 33,6%.”
MARINA SILVA, ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas.
“O agronegócio aposta,
cada vez mais, na
sustentabilidade, por
entender que somente neste
planeta temos a dádiva mais
preciosa de todas, que é a
vida. As empresas, indústrias
e usinas vêm mudando
seus pensamentos por isso,
para preservar a natureza
e garantir o nosso futuro
comum”. E o lugar da Marina
com o Samuel Rosa”.
MÁRIO CAMPOS FILHO,
presidente da Siamig
 “BH vem sofrendo muito
com a diminuição das CRESCENDO
suas áreas verdes, fruto da
especulação imobiliária.
Da preservação do meio
ambiente depende o
nosso bem estar e o futuro
de nossos filhos. É muito
importante
a gente sensibilizar as
autoridades para isso.”
SAMUEL ROSA, cantor e O fato do Brasil ser um
compositor
país desigual, que precisa
de ajuda para superar a
pobreza não cola mais
no cenário internacional,
uma vez que está entre as
de maiores economias do
“Não existe pilar econômico mundo. O que sensibiliza
separado do social e do atualmente é a floresta
ambiental. Isso me faz lembrar em pé. Essa deverá ser a
daquela tartaruga que carrega
espinha dorsal, doravante,
o mundo nas costas. Na
realidade, fazemos parte de de todo o discurso externo
um momento da História do governo federal.
tão relevante quanto
o Renascimento e o
Iluminismo, ou mais...”
SÉRGIO BESSERMAN, economista,
coordenador estratégico do
MINGUANDO
Climate Reality Project Brasil

“Diante da crise climática,

a mudança dos pilares que
sustentam a economia
global passa por profundas
Logo da SOS Mata Atlântica alerta: estamos
transformações na relação perdendo floresta
com tudo aquilo que
produzimos e consumimos. O O Brasil, que tem o nome
que deve nos guiar é a certeza de árvore e é contra a
de que, neste planeta que internacionalização da
clama por ajuda, todo descarte Floresta Amazônica,
deve ser um novo começo.” ainda permite que sejam
PAULO HARTUNG, economista, derrubadas criminosamente
presidente da Ibá – Indústria 21 árvores por segundo,
Brasileira de Árvores e ex-
governador do Espirito Santo
nesse bioma já degradado
em 20% da sua extensão.

JULHO DE 2023 | ECOLÓGICO  15

1 PÁGINAS VERDES

“OS NOVOS CIENTISTAS

DO BRASIL ESTÃO
CHEGANDO”
Raíra Saloméa
redacao@revistaecologico.com.br

N
o sertão do Ceará, o reservatório de água
que abastece a cidade de Pedra Branca está
há 15 anos sem encher. A falta d’água que
atinge os mais de 45 mil habitantes do município,
em grande parte pequenos produtores rurais, há
anos envolve o poder público, empresas de forne-
cimento de água e muita gente poderosa. Sem che-
gar a uma solução.
Enquanto isso, em uma escola pública local,
duas estudantes do ensino médio – Kalyne Falcão
e Lauanda Vitoriano, de 17 anos - decidiram re-
solver o problema por conta própria. Elas criaram
um filtro para tratar água a partir de carvão ativa-
do. Mas não é qualquer carvão. Pensando em uma
solução barata e fácil de ser utilizada, as adoles-
centes decidiram fazer o carvão ativado utilizando
plantas abundantes na região. Bananeira, cana de
açúcar e jurema, plantas típicas da caatinga brasi-
leira, foram testadas no laboratório simples da es-
cola. Descobriram, assim, que a jurema preta era
eficiente para o tratamento de água.
O filtro feito de garrafa pet e algumas camadas de
pedra, areia e carvão de jurema, criado pelas alu-
nas, passou em todos os testes físico-químicos do
Ministério da Saúde. A água filtrada atingiu os pa-
râmetros que garantem a qualidade para o consu-
mo humano. Assim, com uma solução para a falta
de água potável e para os resíduos da jurema, que
eram quase sempre incendiados nos quintais da
cidade, as estudantes partiram do interior do Cea-
rá para a cidade de São Paulo.
Lá, Kalyne e Lauanda foram premiadas em pri-
meiro lugar na maior feira de ciências do país. Mas
THIAGO: A ciência não era só isso. A busca de uma alternativa sus-
como alavanca para
tentável levou as meninas da escola estadual para
a sustentabilidade
a maior feira de ciências do mundo, a Regeneron
Isef, em Dallas, no Texas (EUA). Elas ganharam a
FOTOS: DIVULGAÇÃO

16  ECOLÓGICO | AGOSTO DE 2023

 T H I A G O R A FA L S K I
Professor e coordenador Mostra
Nacional de Feiras de Ciências

1ª colocação no prêmio oferecido pela Agência dos

Estados Unidos para o Desenvolvimento Interna-
cional (USAID), na categoria Proteção Climática e
Ambiental, e receberam 5 mil dólares.
Pode parecer um caso em um milhão, mas não
é. Todos os anos, centenas de projetos como esse
são apresentados em feiras de ciências por todo o
Brasil. Estudantes do ensino fundamental, médio
e técnico de escolas públicas e particulares apre-
sentam propostas inovadoras em todas as áreas do
conhecimento. E a sustentabilidade está presente
em boa parte delas.

TEMA CRESCENTE
Na Mostra Nacional de Feiras de Ciências, realizada
anualmente pelo Ministério da Ciência, Tecnologia
e Inovação, mais de 95% dos projetos selecionados
em 2023 abordaram ao menos um dos 17 Objetivos
do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.

KALYNE FALCÃO E LAUANDA VITORIANO: Premiadas na

maior feira de ciências do mundo, a Regeneron Isef, nos EUA

Entre eles, o tema mais comum é o ODS 12, que tra-

Filtro com carvão de jurema preta atendeu todos
os parâmetros para água potável de qualidade
ta do consumo e produção responsáveis no planeta.
Mais de 80% das ideias apresentadas, vindas de
norte a sul, propõem soluções para o desenvolvi-
mento sustentável, e não apenas econômico. Se-
gundo o coordenador da Mostra Nacional, profes-
sor Thiago Rafalski, esse padrão se repete em todo
o movimento de feiras científicas do país. E eviden-
cia o quanto uma parcela da juventude brasileira
pode realmente contribuir com um presente e um
futuro mais ecológico e sustentável para todos.
Em entrevista exclusiva para a Revista Ecológi-
co, Thiago conta como as feiras de ciências são um
caldeirão de ideias e soluções aplicáveis para diver-
sos problemas reais no país. A maioria dos projetos
são “economicamente viáveis, socialmente justos e
ambientalmente corretos”. E, apesar de ainda esta-
rem no ensino básico, os estudantes dão uma aula
de sustentabilidade para muita gente grande.
2
AGOSTO DE 2023 | ECOLÓGICO  17
1 PÁGINAS VERDES
Thiago e parte da delegação brasileira de professores na Regeneron Isef,
no Texas (EUA): mentes brilhantes e professores corajosos
REVISTA ECOLÓGICO - Qual é a estratégia e
importância das feiras de ciências
do ensino básico?
THIAGO RAFALSKI - Feira de ciência é um ambiente
cheio de jovens brilhantes, que acreditam e divulgam
a ciência. E que vão ser - e muitos já são - os novos
cientistas do Brasil. Elas reúnem projetos de estu-
dantes que buscam a resolução de dos problemas
reais que a sociedade enfrenta. Permitem aos alunos
serem inovadores, criativos, testar e experimentar
com a estrutura do método científico. São alunos e
alunas desafiados que querem aprender e melhorar
a vida de outras pessoas por meio da ciência.
ECOLÓGICO - Como assim? Sustentabilidade
nas escolas?
THIAGO - Quando as feiras estimulam os projetos a
serem desenvolvidos pensando nos 17 Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável, a gente está fazendo
20  ECOLÓGICO | DEZ
18 AGOSTO
2019DE
/ JAN
20232020
com que os alunos pensem sim em sustentabilida-
de. Esse é um caminho fundamental para promover
soluções ambientais na educação básica. Todo pro-
jeto, de qualquer tema, que participa de uma feira
de ciências já começa a participar de um processo
de sustentabilidade. No Nordeste, por exemplo, a
gente tem uma riqueza de estudos relacionados à
biodiversidade, ecossistemas costeiros, recursos
naturais e energias renováveis. Na região Norte, os
projetos têm características próprias. Fazem abor-
dagens específicas do contexto local, como o trata-
mento e abastecimento de água. Utilizam estraté-
gias muito criativas para investigar em localidades
muito remotas. As feiras formam pessoas para um
conhecimento mais próximo da sustentabilidade.
ECOLÓGICO - Quais exemplos dessas feiras
científicas você têm visto pelo país?
THIAGO - Eles são muitos. Conheci um projeto
esse ano com grande impacto no Pantanal do Mato

Grosso do Sul. Por ser uma região que alaga nas
cheias, lá existem muitos sensores para analisar e
avisar qual o nível de elevação dos rios. O proble-
ma é que eles não dão conta de fazer isso em tempo
hábil. As comunidades nem sempre conseguem se
preparar para a próxima elevação das águas. Pen-
sando nisso, alunas do ensino médio utilizaram
dados públicos de imagens de satélite da NASA. E
conseguiram desenvolver um algoritmo que faz a
previsão do aumento do nível das águas. Esse mé-
todo dos alunos é mais rápido do que os sensores
que o governo usa. E elas fizeram tudo com coisas
que estão gratuitamente disponíveis na internet e
que qualquer um pode usar. Elas criaram, na es-
cola, de forma simples e barata, uma solução que
traz mais qualidade de vida para toda comunidade.
ECOLÓGICO - Como projetos assim podem virar
soluções a tempo para problemas ambientais
cada dia mais urgentes do planeta?
THIAGO - Para que um projeto de sustentabilida-
T H I A G O R A FA L S K I
Professor e coordenador Mostra
Nacional de Feiras de Ciências
QUEM É ELE
Thiago Maduro é professor de química do
IFES - Campus São Matheus, no norte do ES.
Coordena a Fecinc, maior feira de ciências do
ensino básico do Espírito Santo, e também a
Mostra Nacional de Feiras de Ciências, além
de colaborar com várias outras ações de
popularização da ciência no Brasil e no exterior.
de seja aplicável e possa realmente surtir efeito na
sociedade, seja numa comunidade, num país ou
globalmente, essa ideia começa também pelas fei-
ras de ciências. Todos os projetos demonstrados
em feiras assim têm alto potencial de promover a
sustentabilidade no planeta, porque a gente está
tratando da formação de pessoas para isso.
ECOLÓGICO - E a questão de serem
aplicados ou não?
THIAGO - Na maioria dos casos, nós sabemos disso,
as ideias não serão aplicáveis. Mas, aí, os alunos já fi-
zeram um ensaio que muitas pessoas do mestrado,
doutorado e graduação não fizeram. Esses jovens vão
conseguir produzir ensaios muitos mais concretos,
com mais possibilidade de acertar. Vão entender e
pensar em soluções sustentáveis muito mais do que
outros jovens que não tiveram oportunidade de expe-
rimentar a iniciação científica nessa idade.
ECOLÓGICO - O que falta para essas ideias
novas e incríveis chegarem até o
mercado e à sociedade?
THIAGO - Uma superideia de um estudante, às ve-
zes, nunca vai se tornar algo efetivo, se concretizar
em um produto. Só no ensino básico é difícil ter es-
trutura, recurso e tempo para que uma grande ideia
se torne algo real. Não é característica das escolas
do ensino básico torne isso uma realidade, mas é
característica da universidade fazer isso. Esse am-
biente tem que começar a se preparar pra receber
esses alunos. O movimento de feiras do Brasil já
mostrou claramente que temos alunos preparados
para isso. A grande lacuna está na falta de conexão
do processo de ensino-aprendizado. A gente não
pode desconectar o ensino fundamental do médio,
muito menos o ensino médio do superior.
ECOLÓGICO - Como encurtar essa lacuna?
2
AGOSTO DE 2023 | ECOLÓGICO  19
1 PÁGINAS VERDES

THIAGO - Ainda há sim, uma lacuna enorme entre

o ensino médio e as universidades e seus centros
de pesquisa. Temos vários alunos que foram pre-
miados nacional e internacionalmente nas feiras de
ciências. Alguns deles com artigos publicados e pro-
cessos de patente em andamento. Mas quando en-
tram na universidade, são tratados como mais um.
Não que eles sejam especiais, mas porque vence-
ram uma etapa de preparação e estão aptos, prontos
para seguir com as pesquisas que faziam antes.

ECOLÓGICO - Mas a universidade consegue

acolher todos eles?

THIAGO - Ainda não. As universidades no Brasil não

estão prontas para receber essas ideias e esses alu-
nos. Elas não dão espaço específico para esses seus
projetos e ideias inovadoras. Enquanto não enten-
dermos que o processo de evidenciação de mentes
brilhantes para as ciências, para a tecnologia, para a
inovação e o desenvolvimento sustentável tem que
ser um processo continuado, teremos sempre uma
lacuna. E isso impossibilita que grandes ideias se
tornem soluções para o país e o mundo hoje amea-
çados, tal como prevê as mudanças climáticas.
ECOLÓGICO - Como desenvolver essas ideias de
sustentabilidade nas escolas pelo país?
THIAGO - Os alunos que criam essas ideias são
simplesmente alunos curiosos. Isso independe
do gosto, da condição financeira, da cultura deles.
Mas têm tudo a ver com escolas e, sobretudo, com
os professores que valorizam e lhes possibilitam
desenvolver as suas ideias. Esses talentos podem
e devem ser evidenciados no primeiro momento
da vida escolar, ou seja, no ensino básico. Muitos
atletas de modalidades diferentes despontaram no
mundo dos esportes porque antes tiveram os jogos
escolares e ali foram percebidos. Quando a gente
tem no ambiente escolar um conjunto de ativida-
des culturais em que as turmas apresentam peças
de teatro, por exemplo, nós começamos a desco-
brir artistas fantásticos. Jovens que vão perceben-
do seus outros talentos na escola. Cada vez mais
precisamos descobrir talentos na área de ciências
para nos fazer pensar em sustentabilidade.
Felipe Ribeiro (RN), Thiago (ES)
e Ivo Leite (MS): lideranças do ecossistema
de feiras de ciências do Brasil
THIAGO – Sim. Estamos vivendo um momento
muito favorável para as feiras de ciências no Bra-
sil e no mundo, como nunca tivemos antes. A Base
Nacional Comum Curricular (BNCC) tem muitas
coisas a serem corrigidas e adequadas, mas eu
nunca vi na estrutura política nacional de educa-
ção algo que favorecesse tanto a promoção de ati-
vidades interdisciplinares educativas nas escolas
como agora. Eu destaco ainda outras ações, como
o Ciência para Todos (RN), que tem materiais on-
line gratuitos para orientar todo o processo, desde
a construção na sala de aula até a feira de ciência.
E o Prêmio da Samsung, Solve for Tomorrow - Res-
postas para o Amanhã - que orienta e premia es-
tudantes e professores com projetos relacionados
aos 17 ODS. O ecossistema de feiras do Brasil co-
necta escolas, estudantes e professores para opor-
tunidades no Brasil e no exterior. E mais do que
isso, evidencia mentes
brilhantes para a susten-
tabilidade, que poderão
um dia, salvar o planeta
e a humanidade juntos. 

ECOLÓGICO - Alguma dica para educadores e SAIBA MAIS

escolas que querem participar Mire a câmera do seu
desse movimento? celular e veja o vídeo

20  ECOLÓGICO | DEZ
AGOSTO
2019DE
/ JAN
20232020
 Aqui a natureza cuida de sua saúde!
Nossa linha de chás possui cerca de 100 tipos diferentes de plantas medicinais,
com produção orgânica ou coletadas diretamente na natureza, dentro dos
princípios de manejo sustentável. Venha conhecer nosso trabalho!

Ervanaria Marcos Guião ervanariamarcosguiao

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1 DESMATAMENTO

SENTENÇA DE MORTE PARA O

PLANETA E A HUMANIDADE
Brasil já desmatou 90% da Mata Atlântica, 50% do
Cerrado e mais de 20% da Amazônia. Somente no bioma
amazônico, 21 árvores são cortadas por segundo

Raíra Saloméa
redacao@revistaecologico.com.br

“A
ecologia tem sido fre- Dia Mundial do Meio Ambiente,
quentemente negli- a humanidade é lembrada que
genciada em relação à sem natureza e ecologia não há
economia. Diariamente, a mí- economia que sustente a vida
dia divulga os indicadores do na Terra .”
FOTO: DIVULGAÇÃO

crescimento econômico. Todo É o que afirma o sociólogo José

dia é dia de economia e não de
meio ambiente. Somente uma
vez ao ano, no dia 5 de junho,
22  ECOLÓGICO | JULHO DE 2023
Eustáquio Diniz Alves, em artigo
publicado pelo #Colabora, um
projeto de jornalismo sustentá-
JOSÉ DINIZ: “Sem ecologia
não há economia sustentável”
 “De 2 bilhões de toneladas nos
anos 1900 para 37 bilhões em 2022:
esse é o aumento do calor infernal

FOTO: CHRISTIAN BRAGA / GREENPEACE

provocado pelas emissões de
gases de efeito estufa no planeta,
agravado pelo desmatamento.”

vel, no ar desde 2015.
A reflexão sobre o debate am-
biental na imprensa é inversa-
mente proporcional à relação
cada vez mais próxima entre os
dois temas. Estamos caminhan-
do para o momento - ou já che-
gamos a ele - em que economia
e ecologia não podem mais ser
tratados separadamente, se tor-
naram um assunto só. A explo-
são das estratégias ESG (sigla em
inglês para Environmental, So-
cial and Governance) no mundo
corporativo são um exemplo dis-
so. Até a cúpula do G20 já abriu
os olhos para as práticas falsas
de sustentabilidade (Leia mais
aqui), conhecidas como green-
washing, que grandes empresas
têm aplicado para não ficarem
de fora da cobrança por uma
economia mais ecológica.
CONSUMINDO O PLANETA
De acordo com Diniz, à medida
que a humanidade prospera, o
2
JULHO DE 2023 | ECOLÓGICO  23
1 DESMATAMENTO
CLIMA PAULISTANO: mais de 2.300 ambientalistas e moradores marcham na Avenida Paulista, no Dia
da Mobilização Mundial pelo Clima. O mesmo protesto aconteceu em mais de 170 países
meio ambiente sofre retrocessos
significativos. “O aumento da po-
pulação humana e do consumo
per capita resulta na diminuição
da biodiversidade, na exploração
desenfreada dos recursos natu-
rais, na degradação dos ecossis-
temas e na aceleração das emis-
sões de CO2.”. E ele não diz isso
sozinho. O último relatório “The
Economics of Biodiversity: The
Dasgupta Review”, de 2021, mos-
tra a situação disfuncional na
qual o planeta e a Humanidade
se encontram.
Enquanto o capital econômico
cresce exponencialmente e o ca-
pital humano também aumenta,
o capital natural está em declí-
nio. O déficit fica maior a cada
ano e o modelo de prosperidade
que temos, que depende da ex-
tração de recursos do capital na-
tural, está ameaçado.
O modelo econômico “extrai-
-produz-descarta” transforma
24  ECOLÓGICO | JULHO DE 2023
os recursos inevitavelmente em
dejetos, que não podem ser rea-
proveitados, em uma lógica de
consumo que fica cada vez mais
insustentável. O levantamento
da ONU aponta que a humani-
dade gera cerca de 2,24 bilhões
de toneladas de resíduos sóli-
dos anualmente. São cerca de
LUIZ FERNANDO: “Ainda
derrubamos matas nativas
para pasto e eucalipto”.
FOTO: ZÉ GABRIEL / GREENPEACE
931 milhões de toneladas de ali-
mentos perdidos e 14 milhões de
toneladas de plásticos em rios e
mares.
É como se a cada minuto um
caminhão de lixo cheio de plásti-
co fosse despejado nos oceanos.
“O crescimento da população e
da economia requer um aumen-
to contínuo das quantidades de
energia e materiais físicos forne-
cidos pela natureza.”, explica Di-
niz. Estamos sugando do planeta
como filhotes mamando em suas
mães. Mas na velocidade da nos-
sa fome, a mãe exausta não con-
segue suprir a todos.
O relatório “Sustainable Trade
in Resources: Global Material
Flows, Circularity and Trade”
(UNEP/IRP, 2020) mostrou gra-
ficamente o quanto de recursos
nós extraímos da natureza. Em
1970 a demanda era de 27 bi-
lhões de toneladas, em 2017 pas-
sou para 92 bilhões. E em 2060

Morador do Norte de Minas: “Isso aqui era tudo verde. Hoje nem brejo existe mais”.
deve alcançar 190 bilhões de to-
neladas de recursos naturais ex-
traídos sem retorno.
Se essa conta fosse dividida
por cada habitante do plane-
ta, isso significa dizer que cada
pessoa na Terra deve consumir
20 toneladas de recursos natu-
rais em 2060. O consumo atual
já ultrapassou as 12 toneladas
por pessoa em 2017. “Sem dú-
vida, a natureza continua sendo
saqueada impiedosamente. A
humanidade já ultrapassou a ca-
pacidade de suporte da Terra, no
entanto, a exploração dos recur-
sos ecossistêmicos persiste em
expandir-se”, afirma Diniz.
ACORDO DE PARIS
VIROU FUMAÇA
A despeito do recomendado pela
ciência para evitar um possível
aquecimento global catastrófico
e de todos os acordos firmados
para redução de emissões, em
maio de 2023 a concentração de
CO2 chegou a 424 ppm, muito
acima do nível máximo de 360
ppm. Do Acordo de Paris, em
2015, até aqui, a concentração de
carbono só aumenta.
As emissões precisam cair pela
metade até 2030 e chegarem a
zero até 2050. Esse é o desafio do
planeta. “Se os governos conti-
nuarem com as mesmas políti-
cas ambientais atualmente em
vigor, o mundo ficará 2,8°C mais
quente até o final do século, o
que seria uma sentença de mor-
te para a vida na Terra.”, afirmou
o secretário-geral da ONU, Antó-
nio Guterres.
Para Diniz, ainda dá tempo de
o mundo planejar o abandono
dos combustíveis fósseis e correr
para alcançar a meta. Resta sa-
ber se os habitantes do planeta
querem fazer isso, ou se vão con-
SENTENÇA DE MORTE
FOTOS: DIVULGAÇÃO
tinuar pisando fundo no acelera-
dor rumo ao inferno, como afir-
mou o Guterres.
E O BRASIL, O MAIS
DEVASTADOR DO MUNDO?
Apesar de ter o maior superávit
de natureza, grande biocapaci-
dade e pegada ecológica menor
em relação a outros países, o
Brasil segue líder no ranking de
perda de florestas tropicais, com
quase metade do desmatamen-
to tropical no mundo. As maio-
res porções desmatadas no país
correspondem a terras indígenas
invadidas, segundo o último re-
latório WRI divulgado em junho
de 2023.
A região do MATOPIBA (acrô-
nimo dos estados do Maranhão,
Tocantins, Piauí e Bahia), no
Norte e Nordeste, concentrou o
maior desmatamento no país,
conforme o Relatório Anual do
JULHO DE 2023 | ECOLÓGICO  25
1 DESMATAMENTO
Área queimada em polígono com
desmatamento recente, identificado
pelo Deter 2021 e Prodes 2019, em
Aripuanã, Mato Grosso.
Desmatamento do MAPBiomas.
Nos últimos 20 anos, essa região
tem sido o principal foco da ex-
pansão do monocultivo de soja.
A expansão da fronteira agríco-
la se deu majoritariamente sobre
áreas de vegetação nativa. Quase
80% de toda produção de soja
nos últimos cinco anos no MA-
TOPIBA precisou desmatar áreas
de floresta em pé. Os monocul-
tivos de soja já correspondem a
4,3% de todo o território brasilei-
ro, conforme dados do MapBio-
mas divulgados em maio.
Empresas de soja como SLC,
Insolo, BrasilAgro, Dahma, Ra-
dar/Tellus e Bunge dominam a
produção de soja na região do
26  ECOLÓGICO | JULHO DE 2023
MATOPIBA. Elas divulgam políti-
cas de desmatamento zero, mas,
na realidade, se beneficiam do
processo violento de destruição
ambiental e grilagem de terras,
conforme investigação do MAP-
Biomas,
O INFERNO DA SECA
NO PÓS-ÁRVORES
Não à toa, uma informação cien-
tífica vinda do Relatório Anual
de Desmatamento (RAD2022)
do MapBiomas chocou a opinião
pública internacional esse ano: a
de que o Brasil derruba a marca
recorde de 21 árvores por segun-
do na Amazônia. São cerca de 19
mil árvores no chão enquanto
FOTO: CHRISTIAN BRAGA / GREENPEACE
FIQUE POR DENTRO
OS DONOS DA TERRA
A população humana e
os animais para nossa
alimentação ou consumo
já correspondem a 95%
de todos os vertebrados
do planeta. Animais
selvagens são só 5% do
contingente da Terra.
Ocupamos todo o espaço e
estamos consumindo todo
o recurso natural e suas
fontes, renováveis ou não.
Com tanta gente vivendo e
consumindo, as emissões
de carbono só aumentam.
 SENTENÇA DE MORTE

você lê esse texto.
Minas Gerais lidera o ranking
nacional de desmatamento da
Mata Atlântica, onde vivem a
maioria dos brasileiros. Foram
mais de 7 mil hectares derru-
bados no último ano no bioma,
apontam os dados divulgados
em maio pela Fundação SOS
Mata Atlântica e INPE. Só de
Mata Atlântica foram mais de dez
mil campos de futebol destruí-
dos no estado. O diretor execu-
tivo da Fundação, Luís Fernando
Guedes Pinto, disse com todas
as letras em entrevista ao jornal
Estado de Minas: “A gente está
derrubando mata para pasto e
eucalipto”. A área total desmata-
da no estado em um ano, con-
siderando Cerrado, Caatinga e
Mata Atlântica, ultrapassa os 50
mil hectares, aponta o MapBio-
mas.
“O POP DO AGRO
E O BURACO DA
NÃO-NATUREZA”
Os dados não mentem. Para os
ambientalistas, o chamado “Pop
do Agro” é quem financia a velo-
cidade e intensidade da derruba-
da crescente de florestas nativas.
Como o avanço da agropecuária
predatória, o Brasil já desmatou
90% da Mata Atlântica, 50% do
Cerrado e mais de 20% da Amazô-
nia. A chamada insustentável de
“floresta no chão” continua sendo
o principal vetor de destruição dos
biomas. A “indústria que gera ri-
queza do Brasil”, como se refere o
Agro, correspondeu a 96% do total
desmatado no último ano.
Os dados e relatórios se mul-
tiplicam, repetindo os núme-
ros catastróficos que nunca di-
minuem, só aumentam. Mas
enquanto forem apenas infor-
mações e pesquisas, e não se
converterem em políticas e exi-
gências que envolvam a econo-
mia, no jogo das grandes em-
presas, os avisos continuarão
anunciando o buraco a frente,
sem desviarmos dele. Para os
principais ecologistas e ambien-
talistas do mundo, mudanças so-
ciais em escala global ainda po-
dem evitar um futuro desastroso.
Se não as fizermos, todo o esfor-
ço de agora, seja econômico, seja
ecológico, terá sido inútil. 
SAIBA MAIS
www.revistaecologico.com.br

Lobo Guará.

Evite queimadas. Não deixe

a vida desaparecer na fumaça
Todos nós sabemos que as queimadas destroem nossas matas, matam
animais silvestres, poluem o ar que respiramos e causam prejuízos
enormes à nossas cidades. E mesmo assim, sempre que chega a
época de seca, o fogo aparece. Por isso, prevenir incêndios é uma das
maiores prioridades da Anglo American. E você pode nos ajudar a
fazer a diferença e proteger a vida. Denuncie queimadas ilegais! Ligue
para os órgãos competentes assim que identificar um incêndio. Juntos,
podemos criar uma rede de proteção ambiental, garantindo que os
responsáveis sejam responsabilizados e que nossas florestas e animais
sejam preservados.

Pratique atitudes conscientes: Em caso de incêndio, ligue:

■ Faça o descarte do lixo no lugar certo e evite queimá-lo. Corpo de Bombeiros 193
■ Jogue cigarros apenas em local adequado. Polícia Militar 190
■ Faça aceiros nas propriedades rurais. Defesa Civil:
■ Soltar balão que possa causar incêndio é crime. Conceição do Mato Dentro (31) 3868-1390
■ Proteja o meio ambiente, não faça fogueira Alvorada de Minas (31) 3862-1248
em áreas verdes. Estado de Goiás (62) 3201-2000
 1 MUDANÇAS CLIMÁTICAS

ma

A CHEGADA DO EL NIÑO
Fenômeno climático pode ser o mais intenso dos
últimos 70 anos e durar até o fim de 2023

Raíra Saloméa
redacao@revistaecologico.com.br

28  ECOLÓGICO | JULHO DE 2023


O
último dia 3 de julho foi o mais quente do
planeta desde que os seres humanos co-
meçaram a medir a temperatura da Terra.
O recorde, não por coincidência, chega junto ao El
Niño, o fenômeno climático de aquecimento anor-
mal e persistente do Oceano Pacífico. Quando ele
chega, as águas do mar ficam, pelo menos, 0,5°C
acima da média por um longo período de tempo,
alterando o clima em todo o planeta.
Deke Arndt, diretor do Centro Nacional de Infor-
mação Ambiental NOAA (EUA), declarou no início
de julho que em 2023 o El Niño terá uma das ocor-
rências mais intensas dos últimos 70 anos. O fenô-
meno começa a se formar no segundo semestre do
ano e tende a se intensificar nos seis meses seguin-
tes. O oceano Atlântico Norte registra desde março
temperaturas da superfície do mar em níveis recor-
des, segundo a MetSul Meteorologia.
Em entrevista para o Canal 8 da tv norte-ame-
ricana WFLA, o meteorologista Jeff Beradelli, deu
uma declaração preocupante sobre a chegada do
El Niño: “Em minha carreira de três décadas como
meteorologista e especialista em clima, nunca ob-
FOTO: DANIEL BELTRÁ / GREENPEACE
servei tantos sinais vitais da Terra piscando em ver-
melho. Estamos assustados com os recordes ‘fora
da curva’ sendo quebrados.”
No Brasil, o El Niño chegou trazendo um inver-
no atípico. Apesar das temperaturas mais baixas
em Belo Horizonte e em outras regiões do Brasil,
as temperaturas devem ficar acima da média em
outras regiões do país, segundo o Inmet/INPE. O
aumento da temperatura nos oceanos durante o
El Niño altera o clima no continente, deixando o
tempo mais seco no Norte e Nordeste do Brasil e
trazendo chuvas excessivas no Sul e Sudeste, como
o ciclone extratropical que atingiu os estados do
Sul e São Paulo esse mês.
Os efeitos do El Niño devem impactar a econo-
mia e os preços de alimentos no país. Agropecuá-
ria, pesca e geração de energia são alguns dos se-
tores mais afetados. Segundo a OMS, entre 2023 e
2024, o El Niño pode aumentar a transmissão de
dengue, Zika e chikungunya, as chamadas arbovi-
roses, que atingem mais de 2 milhões de pessoas
todos os anos só no Brasil. 
SAIBA MAIS
www.revistaecologico.com.br
JULHO DE 2023 | ECOLÓGICO  29
1 MINERAÇÃO

FOTO: TODD SOUTHGATE / GREENPEACE

“O estuário se tornou uma
bomba relógio desses
contaminantes.”

“É COMO UMA BARRAGEM

ROMPENDO DE NOVO"
Chuvas fortes continuam agitando a lama no fundo do Rio Doce,
desde Mariana até o Oceano Atlântico, no Espírito Santo.
A contaminação aumenta a cada ano.

Raíra Saloméa
redacao@revistaecologico.com.br

O
impacto da lama da bar-
ragem de Fundão está
aumentando em área e
intensidade quase uma década
depois. Os 60 milhões de m³ de
lama com rejeitos despejados
sobre o rio Doce em 2015 conti-
nuam se propagando. A conta-
minação já foi identificada em
animais há mais de mil quilôme-
tros da costa do Espírito Santo. A
cada nova cheia nos rios, a lama
volta à tona e os peixes voltam a
morrer com quase a mesma in-
tensidade de oito anos atrás.
“Os impactos são muito maio-
res e duradouros do que a gente
imaginava”, afirma o pesquisa-

30  ECOLÓGICO | JULHO DE 2023

 FEVEREIRO DE 2014

FOTO: GOOGLE EARTH

FEVEREIRO DE 2016

JANEIRO DE 2022

A COR do Rio Doce em fevereiro de 2014, antes e após o rompimento em fevereiro

de 2016 e em janeiro de 2022. Mesmo sete anos depois, a água ainda possui
características alaranjadas semelhantes à época do ocorrido

dor e biólogo da UFMG, Fernan-
do Goulart, que trabalha desde
2016 com síntese ecológica dos
impactos na biodiversidade do
Rio Doce. Os especialistas acre-
ditavam que quanto mais longe
do local do rompimento, menor
seria a proporção do impacto.
Achavam que o rejeito seria la-
vado ou absorvido pelo rio, mas
isso não aconteceu. A 650 km
de Mariana, na região estuarina,
onde a água doce começa a se
misturar à água do mar, os se-
dimentos estão se acumulando
ano após ano. O lençol freático já
foi contaminado.
A cada evento de chuvas e
2
JULHO DE 2023 | ECOLÓGICO  31
1 MINERAÇÃO
“A contaminação
continua acontecendo
ao longo de todo o
ano. A área impactada
aumenta a cada dia.”
Rio Gualaxo do Norte atingido pela lama no distrito
de Paracatu de Baixo em Mariana (MG): lembrança trágica
cheias, ou de frentes frias no
oceano, há uma remobilização
desses rejeitos e a contaminação
aumenta. A qualidade da água
piora e a quantidade de metais
acumulados nos peixes aumen-
ta. “Pra quem está analisando
isso de perto, parece que está
rompendo uma nova barragem.
Os indicadores chegam quase no
mesmo nível que estavam nos
momentos iniciais do rompi-
mento”, explica Goulart.
Cheias como as de 2020 e 2022,
entre as maiores da série históri-
ca, levaram a uma piora dos in-
dicadores de impacto. No mar, o
problema aumenta no inverno.
32  ECOLÓGICO | JULHO DE 2023
As frentes frias movimentam o
oceano, aumentam as ondas e
remobilizam todos os sedimen-
tos e contaminantes que estão
FERNANDO GOULART:
biólogo, doutor em Ecologia
FOTO: VICTOR MORIYAMA / GREENPEACE
no fundo do mar.
“UMA CATÁSTROFE
CONTINENTAL”
Mais de um milhão de pessoas
foram afetadas pelo rompimen-
to da barragem. Pelo menos 300
mil tiveram o acesso à água po-
tável prejudicado e a abrangên-
cia dos impactos, mesmo sete
anos após o rompimento, está
aumentando. A lama já viajou
180 km ao sul e 200 km a norte
do oceano. Chegou ao Arqui-
pélago de Abrolhos, maior ban-
co de corais e mais importante
berçário das baleias jubartes do
Atlântico Sul.

FOTO: VICTOR MORIYAMA / GREENPEACE
TONINHA MORTA: espécie de pequeno golfinho ameaçada de extinção
Pelas características tóxicas
do rejeito, a contaminação já
foi identificada no organismo
de peixes, crustáceos, plâncton,
mamíferos, aves marinhas e cos-
teiras e nas populações ribeiri-
nhas. Pesquisas publicadas em
2022 mostram como a alteração
do leito e margens do rio levou
ao aumento de casos de dengue
em toda região impactada.
O impacto chegou a áreas de
extrema importância para a con-
servação da biodiversidade de
diversas regiões do Brasil, prio-
ritárias para a conservação de
mamíferos, peixes, plantas raras,
répteis e anfíbios. Apenas 0,8%
da vegetação do rio Doce foi res-
SAIBA MAIS
ESTOQUES HISTÓRICOS DE
PESTICIDAS REVOLVIDOS
As toninhas, espécie de
golfinho ameaçada de extinção,
passaram a registrar, desde
2016, contaminação por
organobromados, compostos
letais para a maioria dos
organismos. Há quase 1000
km de distância da costa, os
pesticidas encontrados nas
toninhas estão diretamente
ligados ao rompimento. A
força mecânica do tsunami de
lama revolveu contaminantes
estocados por anos no fundo
do rio, como o pesticida DDT,
hoje proibido no Brasil, mas
amplamente utilizados
no passado.
RETIRAR A LAMA DO RIO
PODE SER PIOR
FOTO: REPRODUÇÃO
Os sedimentos nas margens
do rio Doce chegam a mais de
dois metros de altura em algu-
mas áreas. No leito, o rejeito já
formou crostas impermeáveis.
Dragar tudo isso causaria um
impacto ainda pior, afirma João
Hebert Viana, pesquisador da
taurada até agora, afirmam os Embrapa que conduziu estudos
pesquisadores. “Uma quantidade do solo da bacia do Doce. “Reti-
insignificante perto da proporção rar a lama não é solução. A in-
do impacto”, comenta Goulart. serção de tratores e caminhões,
a raspagem e, posteriormente, o
depósito desse material: em que
lugar? uma nova barragem? O
custo benefício disso seria mui-
to questionável.”
Para Fernando Goulart, reti-
rar a lama em alguns pontos,
FOTOS: ARQUIVO PESSOAL
como em Candonga ou mais
próximo à Mariana, é justifi-
cável pela deposição maior de
rejeito. Mas não é uma solução
para toda a área afetada. “Re-
JOÃO HEBERT VIANA: volver e trazer tudo aquilo de
pesquisador da Embrapa, volta pra coluna d’água pode
doutor em Agronomia (Solos) ter efeitos incalculáveis”.
2
JULHO DE 2023 | ECOLÓGICO  33
1 MINERAÇÃO

Resposta da Fundação Renova

A Fundação Renova esclarece que não teve acesso comportamento natural típico desse tipo de estuá-
às pesquisas citadas na reportagem. Acerca das di- rio, refletindo os períodos de chuvas que ocorrem
versas temáticas trazidas na matéria, ela informou sazonalmente.”
que os rejeitos no Rio Doce afetado contêm minerais Sobre a dinâmica dos rios ao longo da bacia do Rio
e elementos naturais presentes em rochas e solos da Doce, a Fundação Renova ressaltou que os materiais
região (rico em ferro, manganês e alumínio), areia transportados por esses rios refletem as caracterís-
(sílica) e água. Esses materiais foram caracterizados ticas dos solos da própria bacia hidrográfica: “Mi-
como “não perigosos” em todas as amostras, segun- lhões de toneladas de sedimentos são produzidos
do critérios da norma brasileira de classificação de naturalmente e, durante as chuvas, chegam aos rios
resíduos sólidos. e planícies. Essa contribuição é potencializada pelos
A presença deles não é impeditivo para a realiza- processos erosivos e de degradação históricos.”
ção de diversas atividades econômicas e produtivas. E continua: “Relatórios da Agência Nacional de
Não há limitações para o cultivo direto nos rejei- Águas (ANA) e do Serviço Geológico do Brasil (CPRM)
tos. Pesquisas conduzidas pelo professor Dr. Carlos demonstram, desde 2016, que o rompimento não
Schaefer, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), teve o potencial de alterar os efeitos de inundações
especialista em solos, monitoram o solo diretamente na região. Durante as chuvas ocorridas em janeiro
atingido pelos rejeitos desde 2015: “Elas mostraram de 2020 e 2022, foram realizadas coletas de materiais
que não há riscos para o plantio”. carreados pelas enchentes. E os resultados não indi-
Já a retirada dos rejeitos, até o momento, ocorreu cam impactos associados aos rejeitos ou alterações
em dois locais e em atendimento aos pedidos das nas concentrações de metais em relação a legisla-
próprias comunidades de Bar- ção e estudos realizados antes do
ra Longa (MG), município com rompimento.”
área urbana atingida direta-
“Não é necessária a
mente pela lama, e cachoeira de remoção do material ARQUIPÉLAGO DE ABR0LHOS
Camargos, distrito de Mariana ainda remanescente, em Em relação aos bancos de corais
(MG), com a limpeza da área do de Abrolhos, a Fundação infor-
lago. Segundo a Renova, “não é especial, à jusante de mou que realiza monitoramen-
necessária a remoção do ma- Candonga, considerando to na região, desde setembro de
terial ainda remanescente, em 2018: “Estudo realizado pela CO-
especial, à jusante de Candonga,
todas as análises já PPETEC - UFRJ apontou que, no
considerando todas as análises realizadas e os impactos período em que a presença de
já realizadas e os impactos que que isto causaria.” rejeitos aportada na foz do Rio
isto causaria.” Doce ao mar foi considerada sig-
Na zona costeira marinha, nificativa até meados de março
foram desenvolvidos estudos com a área de Enge- de 2016, não houve transporte hidrodinâmico para
nharia Costeira & Oceanográfica da Universidade o norte suficientemente persistente para alcançar
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Coordenação de Abrolhos. As ocorrências de maior transporte para
Projetos, Pesquisas e Estudos Tecnológicos (COPPE- o norte ocorrem no outono e no inverno, quando as
TEC), sob a coordenação do professor e pesquisador concentrações de sedimentos no Rio Doce são muito
Paulo César Colonna Rosman, Ph.D. baixas. Além disso, é importante também considerar
As avaliações quantitativas sobre o espalhamen- a contribuição das fozes adjacentes ao Rio Doce, es-
to e deposição de sedimentos finos na zona costeira pecialmente os rios São Mateus e Itaúnas (ao norte),
adjacente à foz do Rio Doce, após o rompimento da que aportam grande quantidade de sedimentos na
barragem em 2015, apontaram que “a contribuição zona costeira e se misturam aos do Rio Doce.”
e a extensão da pluma de rejeitos foram temporá-
rias e pouco significativas.” RESTAURAÇÃO
Constatou-se que a contribuição de rejeitos foi sig- A Fundação Renova também disse já ter concluido,
nificativa até meados de março de 2016: “Já a partir no primeiro trimestre de 2021, a implantação da
de abril seguinte, as concentrações de sedimentos restauração de 550 hectares de florestas e áreas de
registradas passaram a se mostrar equivalentes ao preservação permanente em Mariana, Barra Longa,

34  ECOLÓGICO | JULHO DE 2023


TRECHO DA Foz do Rio Doce, em 2020, no mar de Regência, em Linhares, ES: a Renova afirma que a
qualidade da água retornou aos parâmetros anteriores do rompimento da Barragem de Fundão
Rio Doce, Santa Cruz do Escalvado e Ponte Nova: “O
trabalho foi realizado em mais de 200 proprieda-
des rurais afetadas diretamente pelos rejeitos, onde
foram plantadas cerca de 350 mil mudas de 176
espécies nativas. As áreas foram protegidas por cer-
camento ou pela própria vegetação nativa existente
no local. Mais de 17 mil hectares de Áreas de Pre-
servação Permanente e de recarga hídrica estão sen-
do restaurados em Minas e no Espírito Santo. Mais
de 1.100 propriedades rurais são parceiras nestas
ações de reflorestamento, incluindo a recuperação
de 1.800 nascentes de água.”
A Fundação Renova afirmou já mobilizar produ-
tores e produtoras rurais de 65 municípios da Bacia
do Rio Doce por meio do edital de adesão aos pro-
gramas de restauração florestal, voltado para ações
compensatórias de reflorestamento.
QUALIDADE DA ÁGUA
Em dezembro de 2022, a Renova concluiu a elabo-
ração do Plano de Ação para Recuperação e Con-
servação da Biodiversidade Aquática, que prevê 16
estratégias de recuperação e conservação; e 50 ações,
muitas delas já em andamento
FOTO: DIVULGAÇÃO / FUNDAÇÃO RENOVA
Especificamente sobre os cetáceos, o Monitora-
mento da Biodiversidade Aquática, em atuação
pela Renova desde 2018, apontou que as taxas de
encalhe das toninhas permanecem semelhantes ao
observado nos dados anteriores ao rompimento,
em comparação aos mesmos períodos: “O principal
diagnóstico para a causa mortis dos indivíduos é a
interação com a pesca, que pode levar ao emalhe
acidental dos golfinhos nas redes de captura.”
Para a Fundação o monitoramento hídrico da
Bacia do Rio Doce também demonstra que a qua-
lidade da água retornou aos parâmetros similares
anteriores ao rompimento da barragem de Fundão:
“O Rio Doce é enquadrado na classe 2 pela legislação
brasileira (Resolução do Conselho Nacional de Meio
Ambiente – CONAMA – 357) e sua água pode ser
consumida pela população após tratamento con-
vencional nos sistemas públicos de abastecimento.
Bem como ser usada para dessedentação animal e
irrigação, entre outros usos previstos na legislação.”,
garante a instituição. 
SAIBA MAIS
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JULHO DE 2023 | ECOLÓGICO  35
1 SAÚDE ANIMAL

ADIÊ, FÍGADO GORDO!

O projeto que proíbe foie gras é esperança
contra a crueldade animal também no Brasil

Denise Menezes
redacao@revistaecologico.com.br

A
provado no Senado Federal
e na Comissão de Defesa
do Consumidor da Câmara
dos Deputados, o Projeto de Lei
90/2020 é uma esperança para
quem luta contra a crueldade ani-
mal. De autoria do senador Eduar-
do Girão (Podemos), a medida
propõe a proibição da fabricação
e comercialização de produtos
alimentícios obtidos por meio do
método de alimentação forçada
de animais, como o famoso patê
foie gras (pronuncia-se “fuagrá”).
A sua produção submete gansos
e patos à grande tortura, antes da
morte, para a retirada de seu fíga-
do – base da iguaria francesa.

36  ECOLÓGICO | JULHO DE 2023

 Foie gras é o termo francês
para fígado gorduroso. Para que
o fígado de patos e gansos seja
considerado assim, esses ani-
mais são alimentados à força.
Apenas os machos são rentáveis
para a indústria, então as fêmeas
são sacrificadas assim que nas-
cem. A partir da quarta semana
de vida, eles começam a passar
por racionamento de alimentos.
Como estão sentindo fome, os
animais começam a engolir vo-
razmente o pouco de alimento
que lhes é ofertado, o objetivo
final é fazer com que o estômago
comece a dilatar.
Com quatro meses é iniciada a
JULHO DE 2023 | ECOLÓGICO  37
1 SAÚDE ANIMAL
FIQUE POR DENTRO

FOIE GRAS JAMAIS!

No Palácio de Buckingham, no
Reino Unido, o rei Charles III
proibiu que o foie gras (patê de
ganso) fosse servido durante
as refeições da família. Para
se chegar ao suculento prato,
uma iguaria francesa, os gansos
passam por uma cruel rotina
alimentar: são forçados a ingerir
alimentos seis vezes ao dia,
através de tubo de metal colocado
no esôfago. Com isso, há um
acúmulo excessivo e cancerígeno
de gordura no fígado, que fica
PRÁTICA INSUSTENTÁVEL: Fórum Animal defende 50% maior que o tamanho
a proibição no Brasil, a exemplo de outros países original. As aves passam a
sofrer de vários problemas de
saúde, como disfunção cardíaca
e rompimento de membranas
celulares, que posteriormente
as levam à morte.

alimentação forçada. Os animais

são trancados em gaiolas indivi-
duais ou em grupo e alimentados
através de um tubo de metal de
30 cm, enfiado mecanicamente
garganta adentro. Por duas se-
manas, a dose é aumentada gra-
dualmente até atingir dois quilos
de pasta de milho por dia. Para se
ter uma ideia do volume de ali-
FOIE GRAS: uma das maiores iguarias da culinária francesa. mento literalmente jogado goela
Possui consistência amanteigada e sabor mais suave em abaixo dos animais, ele é equiva-
relação ao fígado normal de ganso ou pato lente a um ser humano ingerir 12
quilos de comida por refeição.
Om
Muitos animais sofrem feri- hist
mentos esofágicos, infecções e Ger
falta de ar, podendo morrer an- rec

tes mesmo de serem enviados As

ao abatedouro. A alimentação de
de
forçada converte o fígado em um algu
órgão completamente doente, Aut
como um tumor cancerígeno, ma
ap
que atinge até 10 vezes o peso do
órgão saudável. Se não fossem Um
abatidos, morreriam de qual- com
Gru
quer forma, pois com a condição
FOTOS: REPRODUÇÃO

Hai
dos seus corpos já não poderiam fave
290
mais suportar as complicações

XX  ECOLÓGICO | AGOSTO DE 2023

 causadas por esse processo ex-
tremamente cruel.
PROPOSTA BRASILEIRA
Após aprovado pelo Senado, o PL
90/2020 foi encaminhado à Câ-
mara dos Deputados para revi-
são, conforme estabelece o artigo
65 da Constituição Federal. Leva-
do à Comissão de Defesa do Con-
sumidor da casa, recebeu parecer
favorável do relator da proposta,
o deputado Aureo Ribeiro (Soli-
dariedade) e segue para aprova-
ção dos demais integrantes.
Se o texto for aprovado sem
modificações, segue para sanção
presidencial. Caso haja mudan-
ça no texto, o projeto de lei volta
para o Senado. O PL está em tra-
mitação desde 2020 e ainda não
há previsão para votação em 2023.
Aprovado na
comissão de Defesa
do Consumidor
da Câmara dos
Deputados, PL
avança para a
sanção presidencial
A fabricação e a venda de pro-
dutos alimentícios frutos da ali-
mentação forçada de animais já
estão proibidas em mais de 20
países, como a Argentina, Dina-
marca, Alemanha, Israel, Norue-
ga, Reino Unido e Polônia.
No Brasil, algumas cidades
aprovaram leis para banir a prá-
tica, como São Paulo, Sorocaba,
Florianópolis e Blumenau. Belo
Horizonte aprovou proibição se-
melhante, mas o Tribunal de Jus-
tiça de Minas Gerais alegou que
o município não tem competên-
cia para disciplinar o assunto, ao
acatar pedido da Associação Bra-
sileira de Bares e Restaurantes.
ELIMINAR O CONSUMO
Para a ambientalista Maria Dalce
Ricas, superintendente-executiva
da Associação Mineira de Defesa
do Meio Ambiente (Amda), proibir
a fabricação e a venda é importan-
te. “Mas se não houver consumo,
a crueldade acaba. Assim como
outros problemas, como tráfico de
animais, desmatamento, poluição
dos rios e oceanos. O que muda o
presente e o futuro é ação. Preocu-
par somente não resolve”, avisa. 

GERDAU. O AÇO
OFICIAL DO
THE TOWN 2023.

O maior festival de música, cultura e arte da

história de São Paulo, o The Town, utilizará aço
Gerdau, um produto 100% e infinitamente
reciclável.

As toneladas de aço Gerdau, que carregam a força

de mais de 1 milhão de catadores e cooperativas
de reciclagem de sucata metálica, agora compõem
algumas estruturas da Cidade da Música, no
Autódromo de Interlagos, que vai receber alguns dos
maiores artistas do planeta, num evento que celebra
a pluralidade da maior cidade do Brasil.

Uma união que vai além dos palcos e soma forças

com a ONG Gerando Falcões e com a Fundação
Grupo Volkswagen para transformar a Favela do
Haiti, em São Paulo, que receberá a tecnologia da
favela 3D, moldando um novo futuro para mais de
290 famílias.

Siga a Gerdau nas redes sociais:

JUNHO DE 2023 | ECOLÓGICO  XX
1 MUNDO SIDERÚRGICO
Minas será o primeiro lugar no planeta a receber uma unidade
produtiva de ferroligas, utilizando a tecnologia da Boston Metal
O SONHO DO “AÇO VERDE”
COMEÇA A VIRAR REALIDADE
A
empresa Boston Metal,
startup que desenvolve
uma tecnologia revolucio-
nária capaz de descarbonizar a
siderurgia e mineração mundiais
- ainda responsáveis pela emis-
são de 8% de CO2 na atmosfera
terrestre - irá festejar o início da
fase 1 do sonhado “aço verde” -
100% sustentável - do planeta.
Trata-se da implantação no
pequeno município de Coronel
Xavier Chaves (MG), na região do
Campo das Vertentes, da primei-
40  ECOLÓGICO | JULHO DE 2023
Hiram Firmino
redacao@revistaecologico.com.br
ra planta produtora de ferroligas
usando a tecnologia da Boston
Metal com energia elétrica pro-
veniente de fontes limpas.
As instalações físicas da plan-
ta industrial em construção irão
ocupar três hectares da natureza
local e proteger outros 17 hecta-
res de áreas verdes à sua volta, o
que equivale a 17 mil campos de
futebol.
BOA COMPANHIA
A subsidiária Boston Metal do
Brasil, teve início no Instituto
de Tecnologia de Massachusetts
(MIT), nos Estados Unidos, e
hoje tem sede em Woburn, Mas-
sachusetts.
O investimento fabril de R$ 500
milhões para começar a eliminar
as emissões de CO2 pelo setor
conta com o apoio de gigantes
como Bill Gates, Vale, BHP, BMW
e Arcelor Mittal. Sob a liderança
e entusiasmo do ex-presidente
da Companhia Brasileira de Me-
talurgia e Mineração (CBMM),

“O MOE também pode
ser aplicado para
converter todos os
tipos de minério de
ferro em aço, sem
emissões.”
ITAMAR RESENDE,
presidente da
Boston Metal
FOTOS: DICULGAÇÃO
Tadeu Carneiro, atual CEO da
Boston Metal, trata-se de uma
mudança tecnológica radical e
inteligente, enfim, pela sustenta-
“O MOE permite que
empresas de mineração
recuperem metais de
alto valor, a partir
de seus resíduos.”
TADEU CARNEIRO,
CEO da Boston Metal
“Será uma oportunidade
para a empresa “atuar
por um longo período,
retirando do meio
ambiente o que se
achava que não
tinha valor.”
ROMEU ZEMA,
governador de Minas
bilidade de todo o processo mí-
nero-siderúrgico.
Segundo ele, “o setor hoje ainda
produz ferro gusa e aço, e elimina
FIQUE POR DENTRO
MOE: A REVOLUÇÃO DA
ELETRÓLISE DE ÓXIDO
FUNDIDO.
Itamar Resende (*)
“A tecnologia MOE da Boston
Metal oferece uma abordagem
para a produção de aço que não
envolve emissões de carbono.
Por um século, a eletrólise
tem sido o principal método
de produção de alumínio. O
Boston Metal está aplicando
uma variante da técnica ao
ferro. Na célula MOE, um
ânodo inerte é imerso em um
eletrólito contendo minério de
ferro. Uma corrente elétrica é
aplicada ao eletrólito. Quando
a célula atinge 1600C, o ferro
é reduzido, produzindo ferro
líquido. A plataforma MOE
difere da siderurgia tradicional
porque pode ser alimentada por
eletricidade renovável e elimina
muitas etapas no processo de
produção, incluindo o uso de
carvão/coque.
A tecnologia também pode
ser aplicada para extrair
metais valiosos de materiais
de baixa concentração
convencionalmente
considerados resíduos,
reduzindo impactos financeiros
e ambientais.
(*) presidente da Boston
Metal do Brasil
o CO2 como antigamente, há mais
de três mil anos.” Assim, responde
por 8% de toda poluição atmosfé-
rica que suja os céus do planeta,
agride e também adoece a nossa
natureza.
TUDO PROMETE
Segundo o engenheiro metalúr-
gico Itamar Resende, presidente
da Boston Metal do Brasil, nessa
primeira fase, o empreendimen-
2
JULHO DE 2023 | ECOLÓGICO  41
1 MUNDO SIDERÚRGICO

VISTA GERAL de Coronel Xavier: a 18 quilômetros e 16 minutos de São João Del Rey

to irá gerar 200 empregos diretos

e mais mil indiretos. AS CÉLULAS DE ELETRÓLISE DE ÓXIDO FUNDIDO PRODUZEM
Quanto ao porquê da esco- FERROLIGAS A PARTIR DE REJEITOS E ESCÓRIAS MINERAIS
lha por Coronel Xavier, distante
180km da capital mineira, ele
explicou. Primeiro, por já estar
dentro de uma região com vo-
cação natural para mineração e
metalurgia. Segundo, por fazer
companhia às grandes indús-
trias ali presentes, como a AMG.
Terceiro, por mão de obra qua-
lificada disponível. Quarto, por
atender ao critério de busca pela
área que proporcionasse o me-
nor impacto ambiental na cons-
trução. E por último, energia em
abundância e limpa para o pro-
cesso de eletrólise (*).
Tinha de ser em Minas. Há um
mês atrás, Tadeu e Itamar vieram
a Belo Horizonte, acompanhando
dois investidores do fundo lidera-
do por Bill Gates, maior acionista
da Boston Metal. Eles estiveram,
pela segunda vez, com o gover-
nador Romeu Zema. Visitaram as
obras e confirmaram esse sonho
possível, reportado desde sempre capaz de mudar e ecologizar o estação das flores. A cerimônia de
pela Revista Ecológico. mundo minero-siderúrgico, vem inauguração será em meados de
Tal como dizem os franceses, aí, mineiramente. Da pacata e outubro. 
“os grandes perfumes estão em revolucionária Minas Gerais. No SAIBA MAIS
pequenos frascos”, o aço verde campo das vertentes. E em plena www.revistaecologico.com.br

42  ECOLÓGICO | JULHO DE 2023

#JuntosÉpossível
doe.wwf.org.br
O WWF-Brasil desenvolve, há mais de 23 anos, projetos e iniciativas de SIGA NOSSAS REDES
conservação do meio ambiente para que a sociedade brasileira conviva em
WWF-Brasil
harmonia com a natureza, em benefício das gerações atual e futura.

wwf.org.br
1 PERFIL
O REI É VERDE. E DIZ QUE O
BRASIL É FUNDAMENTAL
“
O
Brasil é fundamental!”
Essa afirmação foi fei-
ta pelo Rei Charles III,
dias antes do início da COP 27,
realizada em novembro de 2022,
ao referir-se a questões ambien-
tais e de sustentabilidade. Im-
possibilitado de comparecer ao
Encontro da Cúpula do Clima
no Egito, por razões protocola-
res, o rei inglês e entusiasta da
44  ECOLÓGICO | JULHO DE 2023
Luciano Lopes
redacao@revistaecologico.com.br
causa ambiental realizou uma
prévia em Londres, no Palácio
de Bukingham, com a presença
de mais de 200 líderes políticos e
econômicos, ativistas e CEOS de
empresas de todo o mundo.
Entres eles, estava Fausto Ri-
beiro, presidente do Banco do
Brasil, que ouviu de Rei Charles
III a afirmação de que o “Brasil é
fundamental no combate à crise
climática que, hoje, incomoda e
preocupa todo o planeta.
Não chegou a ser uma surpresa
para os súditos fiéis da causa da
sustentabilidade e da ecologia,
que se acostumaram a ver sempre
em Charles, ao longo de seus 73
anos de vida, um defensor da cau-
sa da sustentabilidade e do meio
ambiente. Razão pela qual cele-
braram, com entusiasmo, a sua
FOTO: ARQUIVO REDE GAZETA

Rei Charlles III em 1991,

plantando uma árvore,
atualmente crescida (foto
ao lado), no Jardim Botânico
do Rio de Janeiro e com a
Coroa Real ao lado

proclamação em maio de 2023,

por ocasião do falecimento de sua
mãe, a Rainha Elizabeth II, após
70 anos de reinado.
De fato, Charles foi sempre um
defensor de causas ambientais.

FOTO: DIVULGAÇÃO GOVERNO DO ESPÍRITO SANTO

Durante visita ao parlamenteoa-
lemão em 2020, declarou que
nenhum país é uma ilha e, enfa-
ticamente, cobrou a colaboração
da Alemanha com o Reino Unido
na questão ambiental.
Em 2021, na COP 26, em Glas-
gow, Escócia, na presença de
chefes de estado de quase 200
países, cobrou iniciativas con-
tra as mudanças climáticas e o
aquecimento global. Recorren-
temente, Charles III patrocina sentando a Inglaterra e a Famí- tras duas vezes – em 2002 e 2009,
iniciativas no campo da sus- lia Real. A primeira vez foi em nesta última já em companhia de
tentabilidade, como, por exem- 1978. A mais emblemática de sua atual mulher, Camila Parker
plo, na defesa do planejamento suas visitas foi a de 1991. Ele veio Bowles, hoje rainha Consorte do
urbano e agricultura orgânica. tratar dos preparativos da ECO Reino Unido.
Essa, aliás, uma de suas grandes 92, a primeira Conferência das O casal veio, dessa vez, com o
paixões, como atestam veículos Nações Unidas sobre Meio Am- objetivo de estimular o desenvol-
oficiais de comunicação da Fa- biente e Desenvolvimento, que vimento sustentável e envolver
mília Real. aconteceu no ano seguinte, no crianças, jovens e o setor privado
O agora Rei Charles III esteve Rio de Janeiro. brasileiro no combate às mudan-
quatro vezes no Brasil, repre- Charles voltou ao Brasil ou- ças climáticas.
2
JULHO DE 2023 | ECOLÓGICO  45
1 PERFIL

O Chico Mendes inglês?

Ainda que a iniciativa tenha
sido positiva, é de se estranhar o
interesse do herdeiro da coroa in-
glesa em relação às questões eco-
lógicas. Até porque, há algumas
décadas, ele era lembrado mais
pelo seu casamento com Lady Di
e os telefonemas sensuais troca-
dos com Camilla, na época sua
amante, do que pela sua atuação
diplomática.
Mas como chega o tempo em
que a vida é uma ordem (e para
a natureza o tempo é urgente),
conforme poetizou Drummond,
a luta ambiental ganha muito
com a adesão do príncipe Charles
à causa maior da humanidade.

Nascido em berço mais que
esplêndido – a revista americana
Forbes estimou que só a fortuna
pessoal da Rainha Elizabeth II
está avaliada em R$ 1,2 bilhão -,
ele é o filho mais velho da rainha
com Philippos Schleswig-Hols-
teinm, duque de Edimburgo. E
seus dois únicos filhos, Willian
e Harry, são do casamento com
Lady Di, que se tornou mundial-
mente mais famosa e amada que
a própria Família Real, frente a
seu ativismo socioambiental e
carisma incomparáveis. Ela e o
namorado, Dodi Al-Fayed, mor-
reram em um acidente de carro
há 12 anos.
Desde a morte de Lady Di, o
príncipe Charles passa por um
grande período de popularidade.
O fato de ter criado um funeral
digno da alta realeza para ela, que
já não mais possuía o título real
quando faleceu, foi muito bem
visto pelos britânicos. Soma-se
a isso a forma positiva como ele
lidou com os filhos – o príncipe
Harry, por exemplo, teve proble-
mas com drogas e saiu deles com
O herdeiro da coroa inglesa dançando carimbó com
comunidade em Santarém, no Pará.
a ajuda do pai – e, mais recente-
mente, sua vocação para Chico
Mendes made in England.
EXEMPLO VERDE
Foi na onda ambientalista que
tomou conta do mundo, após
a virada do milênio, e, mais tar-
de, com os relatórios do Painel
Governamental de Mudanças
Climáticas (IPCC), que a Famí-
lia Real e o Parlamento Britânico
começaram a visualizar a impor-
tância de uma posição estratégi-
ca frente às questões relaciona-
das ao meio ambiente. Em 2002,
por exemplo, ao contrário dos
Estados Unidos, a Inglaterra saiu
na frente e ratificou o Protocolo
de Kyoto, se comprometendo a
reduzir 60% de suas emissões de
gás carbônico.
FOTO: REPRODUÇÃO
Na sequência, o príncipe Char-
les foi manchete mundial ao
lançar um fundo imobiliário de
quase US$ 2 bilhões para inves-
tir em projetos compatíveis com
a preservação ambiental. Esses
projetos seriam parecidos com
o utilizado para erguer a Vila de
Poundbury, construída há 16
anos no Condado de Dorset, re-
gião sul da Inglaterra, cujas as
terras são do próprio príncipe.
As casas da ecovila têm água rea-
proveitada, alimentos orgânicos,
aquecimento e iluminação por
energia eólica e lenha advinda de
floresta de manejo sustentável.
VISITAS AO BRASIL
No início de março de 2009, o en-
tão príncipe Charles realizou uma
turnê por vários países latino-

46  ECOLÓGICO | JULHO DE 2023

FOTO: REPRODUÇÃO

Ex-caçador convertido em ambientalista, o rei Charles foi capa da

revista JB Ecológico, que circulou durante 10 anos no Jornal do Brasil

-americanos, incluindo o Brasil. ambiente. marca de um milhão de assina-

Durante os quatro dias de estada
em terras tupiniquins, ele e Ca-
milla passaram por Brasília (DF),
onde foram recebidos pelo pre-
sidente Lula; pelo Rio de Janeiro
(RJ), por Manaus (AM) e Santa-
rém (PA). Em todas as visitas, o
discurso real foi o mesmo: meio
Na Cidade Maravilhosa,
Charles passou pelo Jardim Bo-
tânico e foi recebido por autori-
dades e vários alunos de escolas
públicas. Também recebeu, das
mãos do ator Victor Fasano, um
manifesto pela preservação da
Amazônia, que ultrapassou a
turas. Acompanhado por Camil-
la, o príncipe Charles plantou
uma muda de árvore na imensa
área verde de 200 anos, com seus
137 hectares e mais de 5.500 ár-
vores e arbustos. Por lá, também
já passaram gente como Albert
Einstein e a rainha Elizabeth II,
2
JULHO DE 2023 | ECOLÓGICO  47
1 PERFIL

mãe de Charles.
Do Rio de Janeiro, ele foi dire-
to para a região amazônica (leia
mais na matéria “O Amazonas
Profundo III”, publicada na revis-
ta JB Ecológico, do JORNAL DO
BRASIL. Na quarta visita ao Bra-
sil, Charles mostrou-se bem in-
formado quanto às questões am-
bientais locais e ainda lembrou,
acanhado, de quando dançou
ao lado de uma linda paraense
em uma dessas visitas. “Somos
também unidos pelo esporte e
a grande paixão pelo futebol”,
frisou ele, em um dos discursos
oficiais Brasil afora.

DISCURSO SUSTENTÁVEL
Confira alguns de seus pensa-
mentos verdes de quem já foi
príncipe e é hoje, um dos mais
conhecidos reis do planeta:

l BRASIL
“Entre os países visitados, o Brasil
é o mais importante em termos
políticos e econômicos. E um
parceiro vital para o Reino Unido.
Ele é a casa da Amazônia, a maior
floresta tropical do mundo.”

l MUDANÇA
“Temos que mudar a arquitetura
e transformar o caos em qualida-
de de vida”.
l TRANSGÊNICOS
“Se as pessoas acham que, de um
modo ou de outro, isso vai fun-
cionar porque eles vão ter uma
nova forma de técnica genética
engenhosa, então não contem
comigo. Isso vai ser a maior ca-
tástrofe ambiental de todos os
tempos.”
l AMAZÔNIA
“Meu papel será viabilizar as
doações e mobilizar recursos
para o fundo Amazônia, cujo di-
nheiro será gerenciado por enti-
dades locais.”
FOTO: REPRODUÇÃO
Charles a rigor, plantando árvores no Reino Unido:
"Somos unidos também pela paixão do futebol"
l DESAFIO a proteção ambiental não pode
“O maior desafio da humanida- ser um luxo.”
de é encontrar meios de, simul-
taneamente, procurar benefícios l CLIMA
econômicos e proteger a nature- “As melhores projeções dizem
za, que no final das contas será a que nós temos pouco tempo
segurança para toda a nossa ati- para mudar de comportamento,
vidade econômica.” antes que enfrentemos uma ca-
tastrófica mudança de clima e os
l ECO-92 horrores que isso possa trazer.” 
“Lembro do discurso que fiz para
líderes empresariais no ano an-
terior à conferência do Rio. Lem- SAIBA MAIS
bro que em tempos de recessão, www.revistaecologico.com.br

48  ECOLÓGICO | JULHO DE 2023

1 MEMÓRIA ILUMINADA - PAUL MCCARTNEY

PAUL E LINDA
MCCARTNEY:
em paz com
as ovelhas

SE OS MATADOUROS TIVESSEM
PAREDES DE VIDRO TODOS NÓS
SERÍAMOS VEGETARIANOS
50  ECOLÓGICO | JULHO DE 2023
A
lém de vegetariano convicto há mais de 40
anos, Sir James Paul McCartney a maior len-
da viva da música mundial – é um ativista
sincero na defesa do meio ambiente e dos animais.
Sua história ecológica começou no final dos anos
1970. Era um domingo, e ele estava com sua famí-
lia para o almoço em sua propriedade inglesa em
High Park. Esperavam ansiosos para degustar um
suculento carneiro assado, quando olharam pela
janela e viram ovelhas pastando.
Conversa vai, conversa vem, a discussão cresceu
e chegaram à conclusão que comer aquelas cria-
-turas pacíficas era errado. “Simplesmente olha-
mos para aquele pernil de carneiro e nos demos
conta de onde ele viera. Não conseguimos mais
comer”, relatou, à época, Linda McCartney, sua
primeira mulher.
Mas há outra versão: Paul diz que estava pescan-
do num lago, quando sentiu que havia pegado um
peixe: “Enquanto puxava o pobre peixe, entendi
que eu o estava matando, pelo simples pra-
-zer que isso me dava. Alguma coisa fez um
clique dentro de mim. Entendi, enquanto
olhava o peixe se debater para respirar,
que a vida dele era tão importante para
ele quanto a minha é para mim.”
O interessante é que ambas as ver-
sões têm relatos registrados em ví-
deos pelo próprio Paul, que nunca
se sentiu “um peixe fora dágua”,
quando o assunto é comida ve-
getariana. Não importa. O ex-
-beatle admitiu que, quando
criança, olhava as pessoas
vegetarianas como fracotes,
mas que hoje, com seu es-
tilo de vida, atribui o ótimo
estado físico, demonstrado
em shows com até três horas
de duração, à sua condição
de vegetariano.

A INFLUÊNCIA DE LINDA
A primeira esposa teve papel
fundamental na carreira mu-
sical do ex-beatle e também
no seu envolvimento com a
FOTOS: DIVULGAÇÃO

causa animal. Ambos se tor-

naram ícones da alimenta- O ex-Beatle e hoje
ção vegetariana e da defesa ativista da P.E.T.A.:
dos direitos dos animais. Ela "Eu não consigo mais
comer carne"

2
JULHO DE 2023 | ECOLÓGICO  51
1 MEMÓRIA ILUMINADA - PAUL MCCARTNEY
escreveu vários livros de cozinha vegetariana e ini-
ciou a Linda McCartney Foods, empresa especia-
lizada em alimentos vegetarianos e veganos. “Eu
não conseguiria imaginar ninguém com menos
tendência para ser uma mulher de negócios e, no
entanto, ela trabalhou incansavelmente pelos di-
reitos dos animais e se tornou um magnata da in-
dústria alimentícia. Quando lhe disseram que um
concorrente copiara um dos produtos, tudo que
Linda disse foi: ‘Ótimo, agora posso me aposentar’.
Não era pelo dinheiro que fazia aquilo”, relata Paul
no texto que distribuiu para imprensa, quatro dias
depois da morte da esposa, em 21 de abril de 1998.
MUITAS E BOAS CAUSAS
Cantor, compositor, baixista, guitarrista, pianista,
baterista, empresário, produtor musical e cinema-
tográfico, pintor e escritor, Paul continua usando
a sua música como uma poderosa ferramenta de
conscientização. Atualmente, está engajado em
campanhas contra o uso de minas terrestres e ex-
ploração de petróleo no Ártico, além de dissemi-
nar pelo mundo os seguintes movimentos: “Meat
Free Monday” (Segunda sem Carne); One Voice
(Uma voz), em favor da paz entre israelenses e pa-
lestinos; Nordoff Robbins, projeto de terapia por
52  ECOLÓGICO | JULHO DE 2023
meio da música; P.E.T.A. (Pessoas pelo Tratamento
Ético dos Animais); L.I.P.A. (Liverpool Instituto de
Performance e Artes), que patrocina a educação
musical; e Cruelty Internacional Free (Crueldade
Gratuita Internacional), que trabalha para garantir
a proibição de testes em animais para cosméticos
na União Europeia. Além disso, ele contribui ano-
nimamente com diversos projetos e realiza gran-
-diosos concertos beneficentes.
Mas essa preocupação com os problemas mun-
diais não é de hoje. Em 1989, Paul lançou o disco
“Flowers In The Dirt” ( Flores na Sujeira) em que
dedica a música a “How Many People” (Quantas
Pessoas) ao seringueiro e ativista Chico Mendes.
Ele ficou sabendo do assassinato do ambientalista
por meio de um documentário da BBC e de tele-
jornais da TV inglesa, que deram grande destaque
ao homicídio e fizeram reportagens contando sua
trajetória como sindicalista e ambientalista. “Fi-
-quei impressionado com a luta de Chico Mendes
pela floresta Amazônica. Como não lamentar sua
perda? Trabalhava sozinho, era casado...Teria sido
mais fácil tocar sua vida e não se preocupar com a
floresta,” disse Paul à época.
FOTO: DIVULGAÇÃO
 SHOWS BATERAM RECORDE
Um ano depois, o ex-beatle se apresentou pela pri-
meira vez no Brasil com dois shows no Maracanã,
sendo que, no último, estabeleceu um recorde de
público no Guiness Book of Record – ainda não
superado – de mais de 184 mil pessoas pagantes
em um show de artista solo. Depois, Paul voltou
ao país mais quatro vezes, em 1993, 2010, 2012 e
2013, quando iniciou a turnê mundial “Out There”
no dia quatro de maio no estádio Mineirão, em BH.
Depois se apresentou no dia seis no Serra Doura-
da, em Goiânia (GO), e encerrou a excursão bra-
sileira no estádio Castelão, em Fortaleza (CE). Na
apresentação na capital de Goiás, aconteceu uma
inusitada manifestação – que pode ser interpreta-
da como uma reverência holística da natureza ao
seu protetor internacional: houve uma invasão de
esperanças (ou Louva-a-Deus, como preferem al-
guns), quando Paul começou a tocar a canção “My
Valentine”. O músico se surpreendeu, mas com
muito humor e, brincando o tempo todo, deu até
um nome para o inseto: “Harold”.
Após o show em Goiânia, Paul foi para um resort
em Itacaré (BA), onde conheceu projetos sociais e
ambientais. Entre eles, o Txaitaruga, que trata da
conservação de 10 mil tartarugas marinhas. Tam-
bém plantou uma muda da espécie Juerana, amea-
çada de extinção.
Aos 81 anos, Paul McCartney não para. O último
disco, “McCartney III”, lançado em 2020, foi pro-
duzido durante a pandemia e promoveu a vacina
da Covid-19. Decorridos mais de meio século do
surgimento dos Beatles, ele ainda reina. Absoluto
e ecológico.

Que tal segunda sem carne?

“Olá, meu nome é Paul McCart-ney. A ideia me
ocorreu originalmente quando li o relatório da
ONU, lançado em 2006 chamado “Livestock’s long
shadow”(A Enorme Sombra do Gado). O estudo afir-
ma que a indústria da pecuária é responsável por
FOTO: DIVULGAÇÃO

18% dos gases de efeito estufa que experimentamos.

Então, comecei a pensar o que poderíamos fazer em
relação a isso. Passei a escrever cartas para pessoas,
como chefes de Estado e a quem eu achava que teria
influência sobre os jovens.
Quando ouvi falar sobre o movimento “Segunda
sem Carne”, que estava crescendo em diversas par-
tes do mundo, pensei: ‘esta é a maneira perfeita,
porque não diz às pessoas que devem virar vegeta-
rianas’. Isso é difícil e, talvez , até as deixasse mais
resistentes à ideia.
O que essa campanha sugere é que, só por um dia na
semana, você considere não comer carne. Acho que
todos estão cientes sobre as mudanças climáticas no
planeta, e algo precisa ser feito em relação a isso. E
essa é uma ideia acessível. Temos indicado às pes-
soas que não sabem o que cozinhar para substituir a
carne o site “www.meatfree-mondays.com” e o livro
de receitas “The Meat Free Monday Cook Book”, es- disso.
crito por mim e minhas filhas Stella e Mary. É também uma forma de fazermos algo pelas nossas
Talvez não ficar loucamente fissurado em carne e crianças e semelhantes. Eles vão herdar o que dei-
olhar para uma mudança na dieta aqui e ali vai xarmos para eles. Apelo a todos. Ajudem-nos a es-
ajudar as pessoas, tanto quanto o planeta. Eu que palhar essa ideia e faça uma diferença considerável
tenho sido vegetariano por tantos anos, vejo o valor para o futuro deste planeta. Obrigado.”
2
JULHO DE 2023 | ECOLÓGICO  53
1 MEMÓRIA ILUMINADA - PAUL MCCARTNEY

PROJETOS QUE PAUL MCCARTNEY APOIA

NORDOFF-ROBBINS VEGETARIAN
MUSIC THERAPY SOCIETY
Baseia-se no A Sociedade
conhecimento de Vegetariana
que todos - não trabalha para
importa o quão reduzir o
doentes, deficientes sofrimento e
ou traumatizados ajudar a criar
estejam - podem responder à música. Assim, um mundo mais
musicoterapeutas usam a arte para ajudar as pessoas. compassivo,
www.nordoff-robbins.org.uk incentivando, apoiando e persuadindo as pessoas a
tornarem-se e manterem-se vegetarianoas. Além
disso, destaca os benefícios de uma dieta vegetariana
para o meio ambiente, o bem-estar humano e o dos
P.E.T.A animais. www.vegsoc.org
Pessoas pelo Tratamento
Ético dos Animais Com mais
de 1,8 milhão de membros LIVERPOOL
e simpatizantes, é a maior INSTITUTE OF
organização pelos direitos PERFORMING
dos animais no mundo. A ARTS
PETA centra sua atenção LIPA é uma
em quatro áreas: na mesa, universidade
em laboratórios, no comércio de vestuário e no de alto
entretenimento. www.peta.org nível de desempenho, que combina inovação
técnica, consciência do negócio, compreensão e
desenvolvimento intelectual. O objetivo é treinar as
pessoas apaixonadas pelas artes e entretenimento
MOVIMENTO ONEVOICE para uma carreira sustentada. Os alunos são
Movimento popular de qualificados em diferentes áreas e, ao mesmo tempo,
cidadãos israelenses, tornam-se especialistas na disciplina escolhida.
palestinos e apoiadores www.lipa.ac.uk
internacionais que estão
fartos com o conflito no
Oriente Médio. O que torna o
movimento OneVoice único é "No futuro, o
que ele não pede para cada natal vegetariano
lado gostar um do outro, mas para reconhecerem será considerado
a natureza e a necessidade de abordarem as normal"
preocupações de ambos. Saiba mais sobre o OneVoice
em: www.onevoicemovement.org

MEAT FREE MONDAY

Meat Free Monday destaca
como ficar sem carne pelo
menos um dia por semana
pode fazer uma enorme
FOTOS: DIVULGAÇÃO

diferença para o planeta, a

nossa saúde e até mesmo
para nossos bolsos. www.
meatfreemondays.com

54  ECOLÓGICO | JULHO DE 2023

 Pensamentos verdes
 “Chico Mendes me pareceu um
bom homem, um chefe de família,
e nós sentimos muita simpatia.
Quando alguém que estava
tentando fazer o bem é morto,
assassinado, isso é um choque para
todos nós.”
 “Chico, pode me ouvir? Esta
canção é para você, por tudo o
que fez”. Paul, durante a gravação
de “How many people”, em
homenagem ao ativista

 “Eu ainda sou um sonhador –

não na política, onde você tem que
ser muito prático. E um sonhador
para escrever canções e imaginar
que o mundo poderia ser um
bom planeta e não uma esfera
irradiadora de resíduos nocivos.”

 “Pode parecer um pouco estranho

para alguns, mas no futuro o natal
vegetariano será considerado
normal. Vai se tornar uma nova
tradição. Muitas pessoas estão
mudando seus hábitos alimentares
por compaixão e outras por causa
da saúde. Com tantas ‘carnes’
vegetarianas no mercado hoje em CHICO MENDES: o aviso que o Brasil ainda não ouviu
dia, não há necessidade de comer
peru. Pode-se comer coisas com a
mesma aparência no prato sem
matar animais. Hoje isso é mais
fácil do que nunca.”

 “O ato individual mais eficaz

que uma pessoa pode realizar para
reduzir os efeitos do aquecimento
global é tornar-se vegetariana.”

 “Eu não iria me apresentar na

China, depois de assistir a sua
matança de cães e gatos para tirar Animal capturado para o “Festival de Comida de Cachorro”, na China
peles, da mesma forma que jamais
iria a um país que apoiasse o
Apartheid.”  SAIBA MAIS
www.revistaecologico.com.br

JULHO DE 2023 | ECOLÓGICO  55

1 ENSAIO FOTOGRÁFICO - GUALTER NAVES

"Futebol se joga
no estádio? Futebol se
joga na praia, futebol se
joga na rua, futebol se
joga na alma."

FUTEBOL DOURADO
No Aglomerado da Serra, em BH, o registro de um momento
simples e belo do cotidiano da comunidade

56  ECOLÓGICO | JULHO DE 2023

 E
m uma partida de futebol improvisada, al-
guns jovens dividem a bola e a poeira en-
quanto fazem os dribles. Uns descalços,
outros de tênis. Do alto do morro, a vista panorâ-
mica de Belo Horizonte rouba o fôlego enquanto
o pôr do sol deixa o campo dourado. O jogo, re-
gistrado pelo fotógrafo Gualter Naves, aconteceu
há algum tempo e fez parte da mostra “Brasil Fu-
tebol Clube” do Memorial Vale, Circuito Cultural
Praça da Liberdade.
O Aglomerado da Serra, na capital mineira, foi
o cenário das belas fotografias, e o brilho do sol
transformou a simplicidade do momento em algo
grandioso. Os craques eram adolescentes de 10
a 20 anos, moradores da comunidade. O pedido
para o registro das fotos veio da agência britâni-
ca Reuters, que encomendou a Gualter imagens
para divulgar a Copa do
Mundo 2014 planeta afo-
ra. Como já participa dos
projetos “Hip Hop: Educa-
ção para a Vida” e “Os So-
breviventes”, ambos idea-
lizados pelo amigo rapper
Hudson Ice Band, 44, não
foi difícil “subir o morro”
e fazer o trabalho. As fotos
mostram um lugar com
pouca infraestrutura, bem
diferente dos estádios lu-
xuosos que são mostrados
na televisão. “Crítica so-
cial sempre tem. Em uma
das imagens, dá pra ver
um dos garotos com chinelo na mão e outro jo-
gando de meia. É o único lazer que eles têm. O
futebol é um momento de encontro e eles jogam
do jeito que estiverem”, documenta o fotógrafo.
Apesar de ter divulgado o esporte com seu tra-
balho, Gualter manteve uma posição contrária à
realização da Copa do Mundo no Brasil. “É um
absurdo. Um país que nem oferece saneamen-
to básico para todos fazer esse evento. Não vejo
benefício nenhum. E os torcedores daqui, que
deveriam participar, não vão conseguir. Ficarão
assistindo ao evento pela tevê.” E completa: “No
fim, a gente acaba torcendo também. Não tem
jeito, está no sangue. Mas que eu fico revoltado,
eu fico”.
Confira o ensaio fotográfico a seguir.
FOTO: GUALTER NAVES

2
JULHO DE 2023 | ECOLÓGICO  57
1 ENSAIO FOTOGRÁFICO - GUALTER NAVES

"São voos de estátuas súbitas,

desenhos feéricos, bailados de pés
e troncos entrançados. Instantes
lúdicos: flutua jogador, gravado no
ar - afinal, o corpo triunfante
da triste lei da gravidade."

"A bola é a mesma: forma sacra

para craques e pernas-de-pau.
Mesma a volúpia de chutar a
delirante copa-mundo ou no
árido espaço do morro."

58  ECOLÓGICO | JULHO DE 2023

 QUEM É ELE

Gualter Naves nasceu em

Boa Esperança, sudoeste
de Minas. Formou-se
em Publicidade na PUC
Minas, em 1982, e em
Psicologia na Fumec, em
1997. Autodidata, começou
a trabalhar com fotografia
no estúdio Foton e, depois
disso, deslanchou na
carreira, passando pelos
jornais Hoje em Dia e Estado
de Minas. Atualmente,
é sócio da agência Light
Press, que presta serviços
para várias empresas de
comunicação, como Reuters
e Folha de São Paulo.
www.gualternaves.com

FOTOS: GUALTER NAVES

*As legendas são trechos do poema "Futebol",

de Carlos Drummond de Andrade

JULHO DE 2023 | ECOLÓGICO  59

PUBLIEDITORIAL
SEIVAS DA AMAZÔNIA
Perfumaria Alquímica lança nova linha de perfumes botânicos e
personalizados inspirados na natureza do maior bioma brasileiro.
S
ementes, cascas, entrecascas e
folhas da Amazônia entram na
composição do perfume Seivas
da Amazônia, criação de Ana Eliza-
beth Diniz. A jornalista que mora em
BH fundou a Perfumaria Alquímica
em 2019 para trabalhar na criação
de perfumes botânicos e personali-
zados. “A proposta é despertar em
cada pessoa emoções primordiais
que estão guardadas em sua memó-
ria olfativa. Estabelecer links com
momentos inesquecíveis e afetos.
Cada perfume carrega a energia mais
essencial da pessoa, óleos essenciais
que vão despertar potenciais e tra-
balhar em algumas limitações.”, diz a
jornalista e terapeuta integrativa.
60  ECOLÓGICO | JULHO DE 2023
e o óleo essencial tem sido feito com
suas folhas.”, ressalta a perfumista.
“Seivas da Amazônia” traz a potên-
cia da enviratáia, da preciosa, da fava
tonka, da priprioca e do pau-rosa.
Nele, as notas de base, coração e ca-
beça interagem, dialogam, resultan-
do em uma fragrância fresca, meio
balsâmica, atabacada, mágica. l
Ela revela que o processo alquímico
do novo perfume Seivas da Amazônia
veio a partir da percepção de que a
floresta, com seu bioma único, tem
uma potência energética imensa e ANA DINIZ
que várias partes dela podem entrar
numa composição única e marcante.
E para quem se perguntou se a Conteúdo de Marca
extração do reino vegetal gera de-
gradação, Ana alerta: “Hoje as co-
munidades amazônicas sabem da im-
portância da preservação e adotam
práticas sustentáveis. Por exemplo, o
pau-rosa usado nesta fragrância qua-
se foi extinto. Usado na composição
do Chanel nº 5, ele foi muito procu- SAIBA MAIS
rado por perfumistas de todo o mun- @perfumariaalquimicabh
do. Hoje, sua extração é controlada (31) 99163-3240
 Sustentabilidade
SUSTENTABILIDADE
é a nossa pauta
É A NOSSA PAUTA

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 1 NATUREZA MEDICINAL
MARCOS GUIÃO (*)
redacao@revistaecologico.com.br
ROSMANINHO
P
assava da meia-noite quando o celular
tocou. Acordei esbaforido tentando dis-
tinguir o que estava acontecendo e custei
a associar aquele barulho alucinante com o te-
lefone. Já ligado na possibilidade de ser alguma
notícia maligna, atendi com os pelos do pescoço
eriçados. Num primeiro momento, não consegui
identificar quem seria o insano que ligava naque-
la hora prum morador da roça. Mas aos poucos
deu ponto de clareza ao ouvir a voz anasalada do
outro lado da linha.
- Aqui é a Madalena de Honório. Tá lembrado
de mim? Depois que respondi com um gruni-
do, ela continuou:
- Pois é, tô com uma insônia danada, num dru-
mo por nada deste mundo. Já tem semana que
num prego os zóios. Cê podia me indicá uma
pranta, que desse jeito nessa situação... Já tomei
muita cidreira mas num deu jeito.
Madalena é uma mulher muito simples, mora-
ROSMANINHO
Lippia rotundifolia
FOTO: DIVULGAÇÃO
62  ECOLÓGICO | JULHO DE 2023
dora lá na comunidade das Abóboras, lavradora e
mãe de uma penca de filhos. Certamente, ela tava
descabeceada por demais pra tá me ligando na-
quele horário reclamando de insônia. Trouxe-me à
memória a casa onde ela morava e as plantas que
havia visto lá na última visita, que ainda num tinha
se passado um mês. Estiquei um pouco o proseio
na buscação de uma solução, perguntando se ha-
via acontecido algo diferente que pudesse ter de-
tonado essa crise de insônia. Daí passei a ouvir os
soluços entrecortados por algumas palavras soltas:
- É Manuel que se foi... Tá na capital... Diz que
quer fazer vida lá... Mas ele só tem 16 ano... Se foi
com Josias meu irmão... Ele mora lá... Honório
num deu ligança... Mas ele é só um menino...
Tava explicada a razão de tanto alvoroço. Pacien-
temente fui dando corda e a fazendo ver que tava
tudo bem, este é o ritmo da vida. Cria-se os filhos
e eles se vão na primeira oportunidade. Mas e a
insônia? O que fazer naquela altura da madruga-
da? Depois de confortar e ouvir suas preocupações
maternas, dei de achar solução pro problema.
- Madalena, você vai lá pra baixo dos últimos
canteiros de sua horta e busque um maço de ros-
maninho (Lippia rotundifolia) na entrada da-
quela matinha e faça um chá das folhas. Você vai
dormir como criança.
- É o “pedestre”?
Depois de confirmar, ela agradeceu muito, se
desculpou pela hora, justificou os motivos nova-
mente e finalmente desligou. Daí quem não con-
seguiu conciliar o sono novamente fui eu... Os dias
se passaram e, quando penso que não, dei-me com
Madalena lá na venda de Mariquinha. Perguntei
pela insônia e ela se desmanchou em agradeci-
mentos e na exaltação do chá de “pedestre”.
- Pois olha que a gente tem o remédio ali na pa-
reia do quintal e num se dá por ele. Foi só tumar o
chá, que deu precisão de Honório me sacudir pra
acordar. Também deu notícias de Manuel, que já
tava fichado numa firma e muito feliz, deixando
ela mais confortada. Pois é... a vida é assim.
Inté a próxima lua! 
(*) Jornalista e consultor em plantas medicinais.
Saiba mais em: ervanariamarcosguiao.com
Reinventar o
futuro todos os dias
é isso que move
a ArcelorMittal
Para a ArcelorMittal, inovação
é matéria-prima essencial.

Hoje, somos referência na criação

de novos produtos e soluções para a
indústria, além de sermos pioneiros em
iniciativas como o Açolab, primeiro hub
de inovação no setor do aço no mundo,
e o Programa de Inovação iNO.VC,
laboratório que busca o desenvolvimento
de novas tecnologias digitais.

Por meio de parcerias, ações

de relacionamento com startups e
universidades, bem como investimentos
em pesquisa e desenvolvimento,
buscamos desenvolver produtos cada
vez mais inovadores.

É assim que transformamos e inspiramos

o mercado, trazendo as melhores soluções
em aço, com qualidade, segurança
e sustentabilidade.

Seguimos juntos na construção

de um futuro mais inovador.

Descubra como,
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ArcelorMittal. um futuro inovador.
Aços inteligentes para
as pessoas e o planeta.

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@ArcelorMittalBrasilOficial brasil.arcelormittal.com
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NOVOS
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DA GERDAU EM
MINAS GERAIS
SEGUIMOS JUNTOS COM OS MINEIROS MOLDANDO
UM FUTURO MAIS PRÓSPERO E SUSTENTÁVEL.
Colaboradora Mayra Mendes da Silva e
colaborador Pedro Henrique Pampola de
Magalhães, da Unidade Gerdau Miguel Burnier, MG.
Siga a Gerdau nas redes sociais:
Aos 122 anos, a Gerdau anuncia o investimento de
R$ 3,2 bilhões entre 2023 e 2026 em mineração
sustentável em Minas Gerais, com a geração de mais
de 5 mil empregos durante sua implementação.
O investimento em uma nova nova plataforma de
mineração sustentável em Minas Gerais compreende
equipamentos e processos com as tecnologias mais
modernas disponíveis, seguirá as melhores práticas de
mineração e contará com o método de empilhamento
a seco para disposição de 100% dos rejeitos de
mineração, eliminando a necessidade do uso de
barragem. O uso do mineroduto para o transporte do
minério de ferro também reforça o compromisso com
uma mineração sustentável.
Essa iniciativa de investimento também permitirá à
Gerdau ampliar seus aportes sociais no estado, por
meio de projetos voltadas à educação, esporte e
cultura reafirmando o nosso compromisso em impactar
positivamente as regiões em que estamos presentes.
Gerdau. Brasileira de Nascimento.
Mineira de Coração.