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Levantamento e caracterização da
frota pesqueira na região de Bragança,
estado do Pará - Litoral Amazônico,
Brasil

Abner Dias Sales


IFAM

Ivan Furtado Júnior


UFRA

Francisco Carlos Alberto Fonteles


Holanda
UFPA

10.37885/210906079
RESUMO

Objetivo: Buscando desenvolver e oferecer subsídios para o setor pesqueiro da região


foi realizado um levantamento com vista ao conhecimento da frota pesqueira na cidade
de Bragança, sendo que o município é um dos principais polos pesqueiros do estado
do Pará. Método: Cada embarcação cadastrada foi considerada uma unidade amostral
e classificada segundo a tipificação da frota utilizada pelo IBAMA, contendo informa-
ção sobre: tamanho da embarcação, tipo de casco, número de pescadores, método
de pesca, conservação do pescado, capacidade total da urna, propulsão e potência do
motor, tipo da atividade, área de pesca e autonomia de viagem. Resultados: Neste es-
tudo foi verificado que os tipos de embarcações pesqueiras na região de Bragança são
distribuídos da seguinte forma: Canoa a Vela (CAN), Canoa Motorizada (CAM), Barco
de Pequeno Porte (BPP) e Barco de Médio Porte (BMP). No total 227 embarcações
foram cadastradas, sendo que todas possuíam o casco de madeira e utilizavam o gelo
como conservação do pescado. As principais artes de pesca utilizadas foram as redes
de emalhar e espinheis. Os principais peixes capturados foram: pescada-gó, sardinha,
bandeirado, caranguejo, uritinga, serra, xaréu, gurijuba, garoupa, cavala, peixe-pedra,
pescada-amarela e pargo. Conclusão: Pelo meio dos cadastramentos efetivados em
vários portos do município bragantino, identificou-se que a frota local não seguia inte-
gralmente os padrões adotados pelo IBAMA.

Palavras-chave: Embarcação, Pesca, Arte de Pesca.

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Engenharia de Pesca: aspectos teóricos e práticos - Volume 2
INTRODUÇÃO

O Brasil possui em sua extensão litorânea cerca de 8.500 Km e uma Zona


Economicamente Exclusiva (ZEE) de 3,5 milhões de km², apresentando uma faixa litorâ-
nea de até 200 m de profundidade, onde existe um estimado potencial anual de captura
sustentável (CEMBRA, 2012).
A produção pesqueira extrativa mundial, segundo dados da FAO (2020), em 2018 teve
um aumento de 5,4%, cerca de 96,4 milhões de toneladas, impulsionado pela pesca marinha.
Com tamanho continental o Brasil possui mais 8.500 km costa, em 2011 teve uma pro-
dução com pouco mais de 803 mil toneladas de pescado capturado (MPA, 2012). Enquanto
dados mais atuais publicados sugerem um aumento na produção cerca de 1.319 mil tone-
ladas advindos da pesca extrativa (FAO, 2020).
A produção de pescado nacional para o ano de 2011 foi de 1,4 milhão de toneladas,
sendo fortemente impulsionado pela pesca extrativa representando 56,1% da produção to-
tal. A pesca extrativa resultou na produção de 803.270 toneladas, em que a pesca marinha
e continental representou 68,9% e 31,1% respectivamente (MPA, 2012).
O Estado do Pará sempre se destacou na pesca extrativa marinha, pois, segundo o
último boletim estatístico da pesca e aquicultura no ano de 2011 das 553.670,0 t de espé-
cies marinhas capturadas na nação, o Estado paraense desembarcou 87.509,3 t, onde tal
quantidade representou 15,8% da produção pesqueira nacional em 2011 (BRASIL, 2013).
Dentre os municípios do estado do Pará com porte pesqueiro, destaca-se o de
Bragança. A produção proveniente dos desembarques que ocorrem no município, além de
abastecer a própria localidade também é direcionada para mercados em Belém, e outras
regiões dos estados do Pará, Maranhão e Ceará. Geralmente os pescados considerados mais
nobres como: pescada-amarela Cynoscion acoupa (Lacépède, 1802), lagostas Palinuridae
Panulirus sp. e pargo Latjanus purpureus (Poey, 1875) são desembarcados e imediatamente
transportados para caminhões frigoríficos e exportado para o mercado consumidor existente
principalmente na capital Belém e em mercados da região nordeste (BRAGA et al., 2006).
No último cadastramento das embarcações realizado pelo IBAMA, os municípios de
Vigia, Belém e Bragança, registraram um maior número de embarcações cadastradas com,
respectivamente, 1.110 barcos - 14,9%, 971 barcos - 13,1% e 794 barcos - 10,7% da frota do
Estado. Um menor quantitativo de embarcações foi observado no município de Marapanim,
onde havia 273 embarcações, correspondendo apenas 3,7% da frota paraense. Verificou-se
que 6.934 embarcações mediam até 12 m de comprimento, sendo que este valor representou
93,3% o que leva a concluir que a frota pesqueira paraense é constituída, principalmente,
de embarcações de pequeno a médio porte (IBAMA, 2006). Tendo em vista que o conhe-
cimento da frota pesqueira de uma comunidade, de um município, de um estado ou de um
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país, é uma condição indispensável ao planejamento e/ou desenvolvimento de projetos de
pesca, tanto pela iniciativa pública quanto privada, o presente trabalho tem como objetivo
realizar um levantamento das embarcações pesqueiras que operam nas comunidades da
região bragantina, visando auxiliar o Poder Público na tomada de decisões.

MATERIAL E MÉTODOS

A cidade de Bragança fica aproximadamente a 220 km da capital do Estado, fazendo


parte do nordeste paraense, limitando-se com os municípios de Santa Luzia do Pará, Viseu,
Augusto Corrêa e Tracuateua.
Para o desenvolvimento das pesquisas foram visitadas as seguintes localidades: Vila
dos Pescadores, Bacuriteua, Treme, Caratateua, Portinho, Castelo, Taperaçu Porto e na
sede de Bragança, todas fazendo parte da região bragantina.
Entre o período de março de 2007 a maio de 2009, realizaram-se visitas semanalmente
de campo para cadastrar e caracterizar as embarcações que atuam na região bragantina.
Foram utilizadas fichas cadastrais similares as utilizadas pela Capitânia dos Portos
da Amazônia Oriental, que absorviam dados como: idade da embarcação, tamanho da em-
barcação (comprimento, largura e pontal), tipo de casco, número de tripulantes, método de
pesca, tipo de apetrecho, conservação do pescado, capacidade total da urna, equipamentos
auxiliares à pesca, tipo da atividade, área de pesca, autonomia de viagem, propulsão, potên-
cia do motor e marca do motor. As marcas dos motores mais utilizadas foram identificadas
pelas letras: A (Yanmar), B (Tobata), C (Yamaha), D (MWM), E (Scania) e F (Mercedes).
Previamente as embarcações foram classificadas de acordo com suas características,
conforme a descrição do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis - IBAMA (Tabela 1).

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Engenharia de Pesca: aspectos teóricos e práticos - Volume 2
Tabela 1. Classificação das embarcações conforme o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis - IBAMA.

Denominação Abreviatura Descrição


Embarcação movida a remo, casco de pequeno porte, conhecida vulgarmente
Montaria MON
como bote a remo casquinho ou montaria.
Capacidade de até 3 t, material do casco é madeira o tipo de propulsão: vela,
remo ou a remo e vela, comprimento: até 12 metros, tripulação: 1 a 6 pescadores,
Canoa a vela CAN
autonomia: até dois dias de mar. Conservação do pescado: “in natura” ou
conservado em pequenas caixas isotérmicas com gelo.
Capacidade de até 5 t, material do casco: madeira, propulsão: motor, potência: de
11 a 22 HP, comprimento: menor que 8,00 metros, tripulação: de 2 a 6 pescadores,
Canoa motorizada CAM
autonomia: até 5 dias de mar, conservação do pescado: em caixas ou urnas
isotérmicas com gelo, denominações: bote motorizado, bastardo ou lancha.
Capacidade: até 8 t, material do casco: madeira propulsão: motor, potência: de 11
Barco de Pequeno a 69 HP comprimento: entre 8,00 e 11,99 metros, tripulação: de 3 a 8 pescadores
BPP
Porte autonomia: para até 10 dias de mar, conservação do pescado: em urnas isotérmicas
com gelo denominações: iate motorizado, barco ou lancha.
Capacidade: até 18 t, material do casco: madeira, propulsão: motor potência: de
36 a 114 HP, comprimento: igual ou maior que 12,00 metros, tripulação: de 5 a
Barco de Médio
BMP 17 pescadores dependendo do tipo de pescaria, autonomia: até 25 dias de mar,
Porte
conservação do pescado: em urnas isotérmicas com gelo, denominações: barco
ou lancha.
Capacidade: até 80 t, material do casco: aço, comprimento: de 17 a 26 metros,
propulsão: motor, potência: de 236 a 425 hp, dotada de equipamentos de apoio
Barco Industrial BIN a navegação, tripulação: de 5 a 22 pescadores, dependendo do tipo de pescaria;
Conservação de pescado: em urnas isotérmicas com gelo ou frigorífico, autonomia:
até 70 dias, conhecida vulgarmente como barca ou barco de ferro.
Fonte: Brito et al., 2002.

Para as verificações estatísticas aplicou-se a correlação de Pearson, onde inicialmente


os dados foram organizados em planilhas no programa Excel, sendo depois transferidos e
analisados estatisticamente no programa BioEstat 5.0. Foram realizados testes de Lilliefors
e Shapiro - Wilk para se avaliar a normalidade das variáveis testadas. Também foram reali-
zados tratamento estatísticos utilizando-se a ANOVA (P < 0,05) com intuito de se constatar
o grau de significância das variáveis analisadas, o teste de Kruskal - Wallis ou teste H para
as variáveis (autonomia de mar, pontal e urna), para dados não-paramétricos, nas catego-
rias CAM, BMP e BPP.
Para verificação do grau de correlação entre as variáveis utilizou-se a análise de cor-
relação linear de Pearson, obedecendo ao critério estabelecido por Vieira (2008) de r: 0,0
a 0,25 ou - 0,25 a 0,0 (correlação pequena ou nula); r: 0,26 a 0,50 ou - 0,50 a - 0,26 (cor-
relação fraca); r: 0,51 a 0,75 ou - 0,75 a - 0,51 (correlação moderada); r: 0,76 a 1 ou - 1
a - 0,76 (correlação forte ou perfeita); r: 1 ou r: -1 (correlação perfeita), sendo relacionadas
nas categorias Canoa Motorizada (CAM), Barco de Pequeno Porte (BPP) e Barco de Médio
Porte (BMP) os seguintes pares de variáveis: a) Largura/Comprimento; b) Urna/Largura; c)
Urna/Comprimento; d) Pontal/Comprimento; e) Pontal/Largura; f) Pontal/Urna.

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Engenharia de Pesca: aspectos teóricos e práticos - Volume 2
RESULTADOS E DISCUSSÃO

No total 227 (duzentas e vinte e sete) embarcações foram cadastradas e caracteriza-


das, sendo sua distribuição feita da seguinte forma:
Canoa a vela (CAN): Foram descritas três embarcações com tamanho máximo não
ultrapassando 5,50 m, sendo que essas embarcações não apresentam urnas, no entanto
os pescadores utilizam caixas isotérmicas com capacidade de estocagem de 0,2 t. A média
de tripulante por embarcação chegou a um, sendo utilizada como arte de pesca a rede de
emalhar (Figura 1) para capturar espécies como: pescada-gó Macrodon ancylodon (Bloch
& Schneider, 1801) e sardinha Anchovia clupeoides (Swainson, 1839). Sua autonomia é
de um dia de mar e atua na área conhecida como mar territorial (0 a 12 milhas). Esta em-
barcação ocorre principalmente na Vila dos Pescadores e praia de Ajuruteua, sendo que o
cais municipal da vila dos Pescadores é o local onde acontece o desembarque do pescado.

Figura 1. Rede de emalhar.

Fonte: pesquisa de campo (2010).

Canoa motorizada (CAM): Trinta e oito embarcações foram identificadas, possuindo


uma capacidade de urna variando de 1,2 t. a 5 t., com média de três tripulantes por embar-
cação. A cidade de Bragança com doze embarcações e a vila do Treme com onze embarca-
ções, possuíram o maior número de barcos nesta categoria. Por sua vez a vila de Bacuriteua
e Taperaçu obtiveram o menor valor, com uma embarcação cada (Figura 2).

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Engenharia de Pesca: aspectos teóricos e práticos - Volume 2
Figura 2. Distribuição da embarcação CAM, por localidade.

12

10 Bra ga n ça

N ú m e ro d e e m b a rca çõ e s
8 Ba cu rite u a
V ila d o s Pe sca d o re s
6
Tre m e
4 Ca ste lo

2 Tap e ra çu
Ca ra ta te u a
0
CAM

Fonte: pesquisa de campo (2010).

Os tipos de artes de pesca empregados eram os mais variados como: espinhel (ho-
rizontal, vertical, meia-água e fundo), rede de espera (deriva e meia-água, fixa e fundo),
rede de caída, cerco (estacada), curral de fora, linha e tarrafa. Essas embarcações atuam
nas áreas do estuário, mar territorial e ZEE (Zona Econômica Exclusiva - até 200 milhas da
costa) ocasionando uma autonomia de até 16 dias de mar. As formas de atividades dessas
embarcações eram captura e coleta, sendo capturadas as seguintes espécies: pescada-gó,
bandeirado Bagre bagre (Linnaeus,1766), caranguejo, uritinga Arius proops (Valenciennes,
1839), serra Scomberomorus brasiliensis, (Collete, Russo & Zavala, 1978), xaréu Caranx
lugubris, (Poey, 1860) camarão. O motor é o tipo de propulsão nestas embarcações, obten-
do uma potência mínima de 7,5 HP (Hourse Power) e máxima de 22 HP (Figura 3). Nesta
categoria o motor (A) obteve 19 unidades seguida da marca (B) com 16 unidade e três da
marca (C). Nesta categoria houve uma variação de localidades para o desembarque do
pescado, estando presente em quase todos os locais onde ocorreram as coletas.

Figura 3. Motores de menor propulsão utilizados pela categoria CAM.

Fonte: pesquisa de campo (2010).

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Barco de pequeno porte (BPP): Cento e vinte e seis embarcações foram cadastradas
(Figura 4), sendo que, o comprimento das mesmas variou entre 8 e 11,99 metros.

Figura 4. Barco de pequeno porte (BPP) na área de estudo.

Fonte: pesquisa de campo (2010).

Em relação a este tipo de embarcação, Bragança (49 embarcações) foi o local em que
ocorreu a maior participação desta categoria, sendo Taperaçu, Portinho e Caratateua (3 em-
barcações respectivamente) as comunidades que apresentaram menor ocorrência (Figura 5).

Figura 5. Distribuição da embarcação BPP, por localidade.

Fonte: pesquisa de campo (2010).

A média de tripulante por embarcação foi próxima a quatro. A autonomia de mar chegou
até 40 dias, sendo xaréu, cação, gurijuba Arius parkeri (Traill, 1832), serra, garoupa Serranus
Phoebe (Poey, 1852), pargo, cavala Acanthocybium solanderi, (Cuvier, 1830), peixe-pedra
Genyatremus luteus, (Bloch, 1795), bandeirado e lagosta as principais espécies capturadas
para comercialização. A capacidade da urna variou entre 1,5 a 16,3 t, os apetrechos utiliza-
dos para a pesca foram: espinhel (horizontal, vertical, meia-água e fundo), rede de espera
(deriva e meia-água, fixa e fundo), rede de caída, curral de fora, linha, tarrafa, manzuá e
bicicleta e o caíque como um método de pesca.

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Engenharia de Pesca: aspectos teóricos e práticos - Volume 2
Essas embarcações atuam em áreas do estuário, mar territorial e ZEE, desembarcando
o pescado em cais privados e municipal, sendo que a sede de Bragança (68 embarcações)
é o principal local de desembarque (Figura 6).

Figura 6. Porto preferencial de desembarque (BPP).


Lo ca l d e d e se m b a rq u e

Po rtin h o
Ca ste lo
V ila d o s Pe sca d o re s
Tre m e
Ba cu rite u a
Bra ga n ça

0 10 20 30 40 50 60 70
BPP

Fonte: pesquisa de campo (2010).

A potência do motor variou de 14 a 219 HP, onde nesta categoria as marcas dos mo-
tores mais utilizados foram: a marca (A) com 47 unidades seguidas da marca (D) com 36,
(B) com 29 e (C) com 14 unidades.
Barco de médio porte (BMP): Esses barcos contêm o comprimento igual ou maior a
doze metros, sendo sessenta embarcações cadastradas, onde o comprimento total variou
de 12,00 a 19,30 metros (Figura 7).

Figura 6. Porto preferencial de desembarque (BPP).

Fonte: pesquisa de campo (2010).

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Engenharia de Pesca: aspectos teóricos e práticos - Volume 2
O tamanho do pontal nesta categoria obteve seu valor mínimo de 1,00 m e máximo de
2,5 metros. Em relação à boca ou largura das embarcações, os valores variaram de 3,00
a 5,56 metros. Essas embarcações são dotadas de equipamentos de apoio a navegação
como: bússola, rádio VHF, sonda, rádio amador, GPS e sonda colorida. A capacidade
da urna variou entre 6 a 48 t, tendo média de tripulante por embarcação próxima a sete.
Cerca de 30% das embarcações desta categoria dividiam sua área de atuação entre mar
territorial e ZEE. 70% somente atuam na ZEE, promovendo a pesca de espécies como:
pargo, garoupa, bijupirá, serra, cavala, gurijuba, piranga. Várias embarcações possuem
atividades com beneficiadoras e algumas eram arrendadas. Em relação a distribuição
das embarcações, somente a sede de municipal (40 embarcações) e a vila de Bacuriteua
(20 embarcações) possuíam barcos nesta categoria no ato das entrevistas (Figura 8).

Figura 8. Distribuição da embarcação BMP, por localidade.

Fonte: pesquisa de campo (2010).

Os apetrechos e os métodos de pesca mais utilizados eram: bicicleta, caíque, linha,


espinhel (meia-água), rede de espera (deriva e meia-água). Sua autonomia de mar chegou
até trinta dias, sendo os principais pontos de desembarques são os portos privados da re-
gião. A principal localidade de desembarques dos barcos de médio porte foi à sede da cidade
de Bragança. A categoria BMP possuiu motores com maior potência, onde o valor oscilou
de 69 HP a 380 HP, sendo os motores mais utilizados por essas embarcações: marca (D),
com 44 unidades, seguidas da marca (E), com 12 unidades, marca (F), com três e marca
(C), com uma unidade apenas. Em relação aos valores totais e percentuais de embarcações
que possuem inscrição na Marinha do Brasil, observamos que a maior parte das mesmas
cadastradas se encontra na cidade de Bragança (Tabela 2).

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Tabela 2. Número e percentual total de embarcações cadastradas na marinha do Brasil.

Local do embarque CAN CAM BPP BMP TOTAL %


Bragança - - 21 39 60 59,5
Bacuriteua - - 16 19 35 34,5
Treme - - 3 3 3
Vila dos Pescadores - 1 2 3 3
Castelo - - -
Taperaçu - - -
Caratateua - - -
Portinho - - -
Total - 1 42 58 101 100%
Fonte: pesquisa de campo (2010).

Foi observado que das duzentos e vinte e sete embarcações cadastradas somente
cento e uma possuíam inscrição na Marinha do Brasil. Quanto à autonomia em dias de mar
das embarcações, elas mostraram valores expressivos, podendo chegar até 40 dias de mar
(Tabela 3), com exceção da categoria CAN.

Tabela 3. Autonomia de mar (dias) da frota pesqueira do município de Bragança, por tipo de embarcação e comprimento.

Faixas de comprimento (m)


Tipos de embarcações Autonomia de Mar Total
<=4 4--|6 6--|8 8--|12 12--|18 >18
CAN 1--|10 dias 3 3
Total 3 3
1--|10 dias 25 25
CAM 10--|25 dias 10 10
Sem registro 3 3
Total 38 38
1--|10 dias 37 37
10--|25 dias 70 70
BPP
≥ 25 dias 9 9
Sem registro 10 10
Total 126 126
10--|25 dias 34 34
BMP ≥ 25 dias 18 2 20
Sem registro 3 3 6
Total 55 5 60
Fonte: IBAMA (2004), adaptado pelo autor.

No que diz respeito ao total de tripulantes por embarcação em todas as categorias


(Tabela 4), observamos um maior número de tripulantes na frota de barcos de pequeno e
médio porte, onde as embarcações operavam com 4 a 18 pessoas por viagem.

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Engenharia de Pesca: aspectos teóricos e práticos - Volume 2
Tabela 4. Total de tripulantes da frota pesqueira marinha do município de Bragança, por tipo de embarcação e comprimento.

Faixas de comprimento (m)


Tipos de embarcações Tripulantes Total
<=4 4--|6 6--|8 8--|12 12--|18 >18

CAN 1--| 8 3 3

Total 3 3
1--| 8 31 31
CAM ≥8 1 1
Sem registro 6 6
Total 38 38
1--| 8 109 109
BPP ≥8 7 7
Sem registro 10 10
Total 126 126
1--| 8 24 1 25
BMP ≥8 24 1 25
Sem registro 7 3 10
Total 55 5 60
Fonte: IBAMA (2004), adaptado pelo autor.

Em relação ao coeficiente de Pearson foram analisadas correlações entre Largura/


Comprimento; Urna/Largura; Urna/Comprimento; Pontal/Comprimento; Pontal/Urna e Pontal/
Largura, realizados nas categorias já descritas.
Na categoria CAM é mostrado que valor r variou entre 0,27 a 0,56 nas variáveis es-
tudadas. Isso mostra que a correlação encontrada é fraca. Diferentemente da categoria
CAM, os barcos de pequeno porte (BPP) mostraram valores de forte correlação nas variá-
veis Largura/Comprimento; Urna/Comprimento; Urna/Largura; (r= 0.83; r= 0.83 e r= 0.85)
respectivamente e baixa correlação nas categorias Pontal/Comprimento, Pontal/Largura e
Pontal/Urna (r = 0,58 e r = 0,48 r = 0,49).Os barcos de médio porte (BMP) obtiveram valores
moderados de r nas variáveis: Largura/Comprimento (r = 0.61) e Urna/Largura (r = 0.67).
Urna/Comprimento (r = 0.71) (Figura 9).

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Engenharia de Pesca: aspectos teóricos e práticos - Volume 2
Figura 9. Pares de variáveis utilizadas a correlação de Pearson – CAM; BPP e BMP. Fonte: pesquisa de campo (2010).

O teste Kruskal - Wallis mostrou que há uma diferença estatística em todas as catego-
rias com as variáveis: autonomia, pontal e urna.
Em relação à autonomia de mar nas categorias, o valor é significativo (H = 96,88 p
< 0,0001), ou seja, todas as categorias apresentaram dias de mar diferentes, tendo como
exemplo as canoas motorizadas que obtiveram o menor valor de autonomia entre as demais
embarcações (Figura 10).

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Engenharia de Pesca: aspectos teóricos e práticos - Volume 2
Figura 10. Pares de variáveis utilizadas a correlação de Pearson – CAM; BPP e BMP.

3
5

3
0

2
5

2
0
Autonomia (dias)

1
5

1
0

Media
n
-5 2
5% -7
5%
C
AM B
PP B
M P
Non
-Outlie
rRa
nge
C
ate
goria
s

Fonte: pesquisa de campo (2010).

Houve diferença nos comprimentos do pontal das embarcações, sendo mostrados


valores significativos (H = 98,88 p < 0,0001) (Figura 11). Em relação à urna, o teste Kruskal
- Wallis mostrou também valor significativo (H = 119,00 - p < 0,0001), indicando uma grande
diferença na capacidade da urna estudada entre as categorias.

Figura 11. Diferença de pontal (m) nas categorias em Bragança.

2
.4

2
.2

2
.0

1
.8

1
.6
Pontal (m)

1
.4

1
.2

1
.0

0
.8

0
.6

Media
n
0
.4 2
5% -7
5%
C
AM B
PP B
M P
Non
-Outlie
rRa
nge
C
ate
goria
s

Fonte: pesquisa de campo (2010).

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Engenharia de Pesca: aspectos teóricos e práticos - Volume 2
Segundo Braga (2002) a frota pesqueira na região de Bragança é caracterizada de
larga escala, sendo que na época do estudo treze embarcações foram categorizadas como
industriais e setenta e oito de médio porte. Em relação à autonomia de mar deste mesmo
trabalho, as embarcações de larga escala obtiveram os seguintes resultados: mínimo 4 dias
e máximo 44 dias de mar, a média de tripulantes nos barcos foi de 8 pessoas. A vila de
Bacuriteua e a cidade de Bragança tiveram os maiores valores de desembarques realizados.
As artes de pesca encontradas por Braga (2002) foram linhas (espinhel e espinhel com
bicicleta), redes (malhadeira e serreira) e alguns variados.
De acordo com Espírito Santo (2002) que também realizou um trabalho na mesma
região, caracterizou a frota pesqueira da região de pequena escala ou pesca artesanal
onde as categorias que se enquadram neste conceito são: Montaria (MON), Canoa (CAN),
Canoa Motorizada (CAM), Barco de Pequeno Porte (BPP) e Geleiro (GEL) ficando de fora
as embarcações de médio porte (BMP) e os barcos industriais (BIN).
Foram encontradas vinte e sete formas de captura utilizada pela pesca de pequena esca-
la, sendo agrupadas em cinco categorias: armadilhas fixas e móvel, linhas, rede e rede fixas.
Os dois trabalhos citados acima mostraram similaridades e diferenças a este traba-
lho. Em relação aos apetrechos, local preferencial de desembarque, número de tripulantes
os resultados foram parecidos, porém a maior diferença encontrada está em relação ao
conceito ou caracterização das embarcações artesanais e industriais.
Diegues (1983) sugere a separação da pesca em duas categorias principais: a de
subsistência (praticada para consumo próprio e, portanto, não faz parte da economia de
mercado) e a pesca comercial (comercialmente orientada). Esta última ainda estaria dividida
em artesanal (ou de pequena escala), semi-industrial (ou de média escala) e industrial (ou
de larga escala).

CONCLUSÃO

Através dos cadastramentos realizados em vários portos da região de Bragança, cons-


tatou-se que a frota amostrada não seguia integralmente os padrões adotados pelo IBAMA
como por exemplo a potência do motor (HP), autonomia de mar e capacidade da urna
(t). As embarcações caracterizadas pelo IBAMA como barcos de pequeno porte (BPP)
possuíam valores de autonomia de mar , potência do motor (HP) e capacidade da urna (t)
muito maior do que a descrita pelo orgão, onde os valores chegaram a 40 dias, 219 HP e
16,9 t respectivamente. Os barcos de médio porte, obtiveram também valores além do que
é afirmado pelo IBAMA em sua caracterização para a região, sendo que a autonomia de
mar chegou a trinta dias, potência do motor em 380 HP e capacidade da urna em 48 t. Não
foram catalogadas embarcações das categorias Montaria (MON) e Barcos Industriais (BIN),
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Engenharia de Pesca: aspectos teóricos e práticos - Volume 2
pois nenhuma das embarcações catalogadas apresentaram as características destas cate-
gorias. Algo que pode ter contribuído para esse ocorrido no caso da categoria (MON) foi à
ausência dos donos das mesmas no momento do cadastramento. Neste período de estudo
foi observado que todas as embarcações cadastradas possuíam madeira como o material do
casco e também utilizavam o gelo em caixas isotérmicas ou em urnas para a conservação
do pescado, sendo todas classificadas como embarcações artesanais. A sede da cidade
de Bragança é o local onde há o maior número de embarcações, cento e uma no total,
seguida da localidade de Bacuriteua com quarenta e um barcos e Treme com trinta e nove
embarcações. As baixas correlações nas variáveis da categoria CAM mostram que nestas
embarcações, não há um aprofundamento em relação aos parâmetros da engenharia naval
no momento da construção nos estaleiros, esses baixos valores de correlação nos pares
das variáveis Largura/Comprimento; Urna/Comprimento; Urna/Largura; Pontal/Comprimento,
Pontal/Largura e Pontal/Urna, apontam que pode haver alguma perda para a embarcação
na sua funcionalidade, como por exemplo: um maior consumo de combustível, estabilidade
na navegação ou perda na capacidade da urna. Para as categorias BPP e BMP, apesar
de os valores de correlação mostrarem uma significância alta principalmente nas variáveis
Largura/Comprimento; Urna/Comprimento; Urna/Largura, é necessário também, bases da
engenharia naval nestas embarcações para que ocorra um melhor aperfeiçoamento na
construção das mesmas. A necessidade de instalação, bem como o dimensionamento de
unidades frigoríficas, de fábricas de gelo, de entrepostos de pescado ou de qualquer outra
estrutura que venha a apoiar a atividade pesqueira, depende do conhecimento da frota exis-
tente, não só no que tange ao seu aspecto qualitativo, mas, sobretudo quantitativo. Para uma
nova caracterização da frota pesqueira na região de Bragança é de suma importância que
seja levado em consideração à potência do motor, autonomia do mar e capacidade da urna,
pois estas variáveis mostraram valores bastante diferentes nas embarcações em relação às
categorias há qual pertencem a categorização adotada pelo IBAMA.

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Engenharia de Pesca: aspectos teóricos e práticos - Volume 2
REFERÊNCIAS
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ário do rio Caeté, Bragança - PA. 2002. 60 f. Dissertação (Mestrado). Universidade Federal
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4. BRITO, C. S. F.; FURTADO-JUNIOR, I. 2003. Boletim estatístico da pesca marítima e es-


tuarina do Brasil - 1997 - 2003. Belém, CEPNOR/IBAMA. 56 p.

5. CEMBRA - Centro de Excelência para o Mar Brasileiro. O Brasil e o mar no século XXI:
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T-PAUL, U. Peixes e camarões do estuário do litoral bragantino, Pará, Brasil. Belém:
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9. IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Relatório
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Engenharia de Pesca: aspectos teóricos e práticos - Volume 2

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