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24 janeiro/fevereiro/março 2020
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numa 2.ª fase, serão avaliadas as
variedades de uma geração F1
(Touriga Nacional × Vitis vinife-
ra subsp. sylvestris) quanto à sua
tolerância ao oídio e ao míldio,
nas condições edafoclimáticas
da região de Dois Portos. Para-
lelamente, este estudo será rea-
lizado em laboratório, para con-
firmação dos resultados de cam-
po, através de inoculação dos
fungos em folhas destacadas.
Com o mesmo objetivo, estão a
ser realizados novos cruzamen-
tos utilizando variedades autóc-
tones de alto perfil enológico
e variedades de Vitis vinifera
com características poligénicas
Figura 4 – Relações genéticas evolutivas para as diferentes 236
de resistência simultânea ao oí-
variedades (vetores pretos) e plantas de Vitis vinifera sylvestris
(vetores castanhos), utilizando uma matriz de 48 SNP e aplican- dio e ao míldio. Estamos a falar
do o método de agregação Neighbor-Joining (Saitou e Nei, 1987). de variedades que possuem até
As distâncias evolutivas foram calculadas pelo método de corre- 5 genes de resistência.
ção de Poisson (Zuckerkandl e Pauling, 1965). As análises evo-
Entre 2018 e 2022, será reali-
lutivas foram realizadas pelo MEGA7 (Kumar et al., 2016). No
gráfico, a escala 5 corresponde à distância que permite identifi- zada a monitorização semanal
car as diferenças entre as variedades. para as variedades já instala-
das em campo. Em cada obser-
diversidade existente em Portu- midor e também assegurar a sus- vação, para cada variedade da
gal permite conjugar a estraté- tentabilidade dos ecossistemas população F1 considerada como
gia de melhoramento com os ob- de todos os seres vivos na Terra. tolerante e para a variedade Tou-
jetivos pretendidos: o ambiente Também outros fatores, como riga Nacional, usada como tes-
envolvente e as necessidades do a concorrência no mercado dos temunha sensível, serão regis-
homem. vinhos e a rentabilidade econó- tados: i) estados fenológicos de
A necessidade em ampliar a di- mica dos mesmos, são cada vez acordo com a escala de BBCH
versidade autóctone para obten- mais competitivos, em resultado (Coombe, 1995); ii) incidência e
ção de variedades com mecanis- do acréscimo de vinhos produ- severidade do míldio e do oídio,
mos de tolerância às doenças do zidos a partir de variedades re- e eventualmente da podridão-
oídio, míldio, podridões, entre sistentes (PIWI) e até do vinho -negra e cinzenta em folhas e
outras, está associada às nor- produzido em modo biológico. cachos, respetivamente (Molitor
mas impostas pela UE como: Assim, o estudo de adaptabi- et al., 2011).
i) limites máximos de resíduos lidade de variedades toleran- Em 2019, apesar das condições
relativamente a determinadas tes, já existentes ou em pro- edafoclimáticas terem sido fa-
substâncias ativas; ii) fim ou cesso de obtenção, é também voráveis ao desenvolvimento
prazo de utilização de produtos um dos objetivos do projeto do míldio, duas a quatro varie-
fitofarmacêuticos contendo al- PDR2020‑784‑042738, em que, dades presentes na população
gumas substâncias ativas, am- numa 1.ª fase, será avaliada a F1 mostraram-se menos infeta-
bas com o objetivo de aumentar adaptabilidade da diversidade de das, quando comparadas com as
a segurança alimentar do consu- variedades existentes na CAN e, restantes. Durante os próximos
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dois anos, serão colhidas folhas, nas quais condições edafoclimáticas das diferentes lecular Biology and Evolution, 33:1870-1874.
diferentes componentes de resistência se- regiões vitivinícolas; ii) variedades que Molitor, D.; Baus, O. e Berkelmann-Loehnertz,
rão avaliados em ambiente controlado, a satisfaçam as preferências do consumidor; B. (2011). Protective and Curative Grape
fim de se obter indicações precisas e deta- iii) sobretudo variedades menos suscetí- Black Rot Control Potential of Pyraclostro-
lhadas sobre os mecanismos de tolerância veis a stresses ambientais. bin and Myclobutanil. Journal of Plant Disea-
à doença, de forma a ser possível avaliar o ses and Protection, 118:161-67.
nível de tolerância/resistência (expressa de Agradecimentos Negrul, A.M. (1938). Evolution of Cultivated
acordo com a escala OIV 453 e OIV 455) e Trabalho financiado por: “Fundação para Forms of Grapes. Comptes Rendus (Dokla-
ou a duração do período de latência dessas a Ciência e Tecnologia” (PTDC/AGR- dy) de l’Academie Des Sciences de l’URSS,
variedades, que poderá ser consequência -PRO/4261/2014 – VitisEryNecator); Programa 18:585-588.
da presença de mecanismos específicos de de Desenvolvimento Rural, PDR 2014-2020 OIV (1983). Descriptor List for Grapevine Varie-
autodefesa. (PDR2020-7.8.4.-042738- MAFDR) e Proje- ties and Vitis Species (Organisation Internatio-
to COST (European Cooperation in the Field nale de La Vigne et Du Vin). Paris, France.
Conclusões of Scientific and Technical Research) Action OIV (2009). Descriptor List for Grapevine Varie-
A análise conjunta de dados morfológicos FA1003. Francisco Baeta foi suportado pelo ties and Vitis Species, 2nd Edn (Organisation
e moleculares, efetuados durante as últi- INIAV/MAFDR, através de uma bolsa de In- Internationale de La Vigne et Du Vin). Paris,
mas décadas na Coleção Ampelográfica vestigação de nível 1, Licenciado (PDR2020- France.
Nacional, têm permitido identificar sino- -7.8.4.-042738-MAFDR). Saitou, N. e Nei, M. (1987). The neighbor-
nímias e homonímias que conduziram a -joining method: A new method for recons-
uma identidade própria principal, como a Jorge Cunha, João Brazão, tructing phylogenetic trees. Molecular Biolo-
referida na Portaria n.º 380/2012, de 22 de Francisco Baeta, J.E. Eiras-Dias gy and Evolution, 4:406-425.
novembro, do Ministério da Agricultura, INIAV, I.P. Veloso, M.M.; Almandanim, M.C.; Baleiras-
do Mar, do Ambiente e do Ordenamento -Couto, M.; Pereira, H.S.; Carneiro, L.C.;
do Território (MAMAOT) e nas bases de Fevereiro P. e Eiras-Dias, J. (2010). Micro-
dados internacionais, como a do VIVC. satellite Database of Grapevine (Vitis Vinife-
Os mesmos dados têm também permitido Bibliografia ra L.) Cultivars Used for Wine Production
identificar a origem de muitas das varie- Coombe, B.G. (1995). Adoption of System for in Portugal. Ciência e Técnica Vitivinícola,
dades exclusivamente portuguesas. Identifying Grapevine Growth Stages. Aus- 25(2):53-61.
Por outro lado, estudos agronómicos e tralian Journal of Grape and Wine Research, Zinelabidine, L.H.; Cunha, J.; Eiras-Dias, J.E.;
enológicos preliminares têm contribuído 1(2):104–110. Cabello, F.; Martínez-Zapater, J.M.; e Ibáñez,
fortemente para a multiplicação de varie- Cunha, J.; Ibáñez, J.; Teixeira-Santos, M.; Bra- J. (2015). Pedigree Analysis of the Spanish
dades minoritárias que, até então, se en- zão, J.; Fevereiro, P.; Martínez-Zapater, J. M. Grapevine Cultivar ‘Hebén’. Vitis – Journal of
contravam apenas circunscritas a coleções e Eiras-Dias, J.E. (2016). Characterisation of Grapevine Research, 54:81-86.
ampelográficas. the Portuguese Grapevine Germplasm with Zohary, D. e Hopf, M. (1993). Domestication of
Relativamente ao melhoramento de varie- 48 Single-Nucleotide Polymorphisms. Aus- Of, Plants in the Old World: The Origin and
dades de videira, esta técnica deverá pri- tralian Journal of Grape and Wine Research, Spread Cultivated Plants in West Asia, Europe,
vilegiar sempre a utilização de variedades 22(3):504-16. and the Nile Valley (2nd Edn). Oxford, Oxford
autóctones como progenitoras, para que Cunha, J.; Zinelabidine, L.H.; Teixeira-Santos, University.
o património vitivinícola português con- M.; Brazão, J.; Fevereiro, P.; Martínez-Zapa- Zuckerkandl, E. e Pauling, L. (1965). Evolutiona-
tinue a ser único e perdure na tipicidade ter, J.M.; Ibáñez, J. e Eiras-Dias, J.E. (2015). ry divergence and convergence in proteins.
dos vinhos portugueses, principalmente Grapevine Cultivar ‘Alfrocheiro’ or ‘Bruñal’ Edited in Evolving Genes and Proteins by V.
no mercado internacional. Plays a Primary Role in the Relationship Bryson and H.J. Vogel, pp. 97‑166. Academic
Para os mais céticos, recordamos que among Iberian Grapevines. Vitis – Journal of Press, New York.
obter novas variedades portuguesas não Grapevine Research, 54:59-65.
implica abandonar as existentes, antigas e Kumar, S.; Stecher, G. e Tamura, K. (2016). Cofinanciado por:
tradicionais, mas sim disponibilizar ao vi- MEGA7: Molecular Evolutionary Genetics
ticultor: i) variedades melhor adaptadas às Analysis version 7.0 for bigger datasets. Mo-
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