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Sistema de Gestão segundo a OHSAS 18.

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Pedro Augusto Junqueira Pradez (*)

No rastro dos sistemas de gestão da qualidade e ambiental, certificáveis em conformidade com


as normas ISO 9001 e ISO 14001, implementar e certificar um sistema de gestão da segurança
e saúde ocupacional (SGSSO) também tem se confirmado uma questão estratégica para as
empresas. É sabido que o passivo trabalhista, do qual fazem parte os acidentados do trabalho
e as doenças ocupacionais, afeta também o custo do produto ou serviço, a motivação dos
empregados, o valor patrimonial e a imagem das empresas.

A necessidade de as empresas demonstrarem compromissos por meio de certificação, seja por


questões de imagem, de vantagem competitiva, para transpor barreiras não-tarifárias, ou por
pressão de clientes, tem sido assumida como um processo irreversível dos tempos modernos.
Some-se a essa lista, com a introdução da norma ISO 14001 em 1996, a preocupação
adicional em demonstrar conduta "correta" com uma certificação ambiental, em resposta a
pressões externas outras. Mas a percepção que se seguiu com a introdução da variável
ambiental no planejamento estratégico das empresas e com a proclamação de sistemas de
gestão integrados foi de um conjunto incompleto: os temas qualidade e ambiental por si sós
não garantiam consistência e robustez às atividades sob o guarda-chuva da gestão
sistematizada. A preservação da segurança e saúde ocupacional (SSO) dos trabalhadores é
um dos componentes básicos e complementar, para se assegurar a qualidade total, com
processos produtivos seguros e competitividade.

Historicamente, a visão arcaica de parte das empresas no Brasil para temas como "segurança",
"medicina do trabalho" e "saúde ocupacional", no comum tem sido limitada à coleta de dados
estatísticos, a ações reativas em cima de acidentes do trabalho, a respostas a causas
trabalhistas e, quando muito, ao seu cumprimento legal pleno. As preocupações com SSO
começam agora a ser tratadas sob a forma de sistema de gestão, utilizando-se a norma
OHSAS 18001 (Occupational Health and Safety Assessment Series), estruturada no método
PDCA (Plan-Do-Check-Act), isto é, uma forma organizada e sistemática de perseguir a
melhoria contínua.

Apesar da identidade estrutural com a norma ISO 14001, a OHSAS 18001 não tem a chancela
ISO - International Organisation for Standardisation. Elaborada por um "pool" de certificadoras
e credenciadoras, visa suprir a demanda de empresas que buscam certificação, normalmente
complementar a ambiental e a qualidade. Cabe observar que alguns programas de SSO se
basearam na norma britânica BS 8800, editada em 1996. Ao contrário da BS 8800,
reconhecida apenas como uma diretriz de procedimentos, a norma OHSAS 18001, editada em
1999, possui requisitos mandatórios, podendo ser auditados objetivamente, o que permite a
certificação por organizações de terceira parte.

A implementação de um SGSSO tende a ser facilitada no item legislação. As normas


regulamentadoras da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) encontram-se em manual em
qualquer livraria. Tradição e fácil acesso a esses requisitos legais tendem a facilitar a gestão de
SSO em face da gestão ambiental, esta apoiada em legislação muito mais recente e ainda em
formação, nem sempre tão acessível no seu conjunto, seja física ou financeiramente.

Na contramão, a cultura tradicional ligada ao tema SSO quanto à sua visão arcaica, já
mencionada, tende a ser uma barreira à OHSAS 18001 em algumas empresas. A resistência
por parte de empresários que visualizam a norma como "munição para causas trabalhistas"
referindo-se ao item "identificação de perigos e avaliação de riscos" é prova disto. Um SGSSO
é construído de forma pró-ativa em cima desse levantamento. Não é novidade, entretanto, que
tal levantamento é um requisito legal previsto na NR-9 "PPRA - Programa de Prevenção de
Riscos Ambientais". Esse temor por parte do empresariado é questionável posto que um PPRA
elaborado de forma abrangente e criteriosa em cumprimento ao requisito legal, atende ao item
normativo. Essa mudança de cultura a ser promovida pelo gestor do sistema, com o apoio da
direção da empresa, conferindo-lhe uma abordagem moderna em cima de conceitos e práticas,
vai demandar habilidades e esforços nem sempre desprezíveis ou imediatos.
O grande trunfo da norma OHSAS 18001 está justamente na oportunidade de vir a preencher
uma lacuna vital no contexto dos sistemas de gestão integrados. Os esforços para
implementação de um SGSSO certamente serão recompensados pelo potencial de sinergia a
ser auferido em planejamento estratégico, eficácia, consistência e robustez da busca pela
melhoria contínua global. Afinal, as pessoas são a essência de qualquer organização. Com
trabalhadores doentes não se vai muito longe. Sem trabalhadores não se vai a lugar algum.

(*) Engenheiro Químico com Mestrado em Engenharia Química pela COPPE/UFRJ (1983). Auditor e instrutor
para sistemas de gestão da qualidade (ISO 9001), ambiental (ISO 14001) e de segurança e saúde ocupacional
(OHSAS 18001) pelo Lloyd´s Register Quality Assurance. Registrado no IBAMA e no IRCA/Inglaterra.

Fonte: site http://www.gerenciamentoverde.com.br

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