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Anais do Encontro Internacional Trabalho e Perspectivas de
ISSN 2448-4210
Formação dosTrabalhadores
Introdução
O
Ensino Médio Integrado (EMI) está vinculado diretamente a Lei
5.154/2004 que estabelece no Artigo 4o, § 1o, que a articulação entre
a educação profissional técnica de nível médio e o ensino médio dar-
-se-á, entre outras, de forma integrada, ou seja, reservada aos concludentes
do Ensino Fundamental que ingressarão no Ensino Médio, planejado de
modo a conduzir o aluno à habilitação profissional técnica de nível médio,
na mesma instituição de ensino, contando com matrícula única para cada
aluno. A partir dessa Lei abriu-se caminho para formação integrada e integral
dos futuros trabalhadores do Brasil, nessa perspectiva busca-se a supera-
ção da dicotomia entre trabalho manual e intelectual.
No contexto do Ensino Médio Integrado, busca-se uma aproximação
das concepções de educação politécnica, nesse sentido, Saviani (2007, p.
140) diz que: “[...] trata-se de propiciar-lhe um desenvolvimento multilateral,
um desenvolvimento que abarca todos os ângulos da prática produtiva na
medida em que ele domina aqueles princípios que estão na base da organiza-
ção da produção moderna”. A politecnia, gestada a partir das contribuições
de Marx, para a educação da classe trabalhadora, e de autores marxista,
confluem para uma prática laboral ontológica ou ontocriativo. Nessa dire-
ção, pensar o trabalho como resultado da ação humana e como essência
da humanidade, requer compreender o trabalho como atividade essencial-
mente humana, ou seja, como parte de si e inerente à humanidade.
Ao pensar a formação do futuro trabalhador, o EMI procura utilizar prá-
ticas pedagógicas interdisciplinares que reforcem a formação ominilateral
e a superação do indivíduo – fragmento. Nesse sentido, busca-se fomen-
tar ações pedagógicas que possam contribuir para uma formação inteira
do futuro trabalhador, entre essas ações pedagógicas destacamos o núcleo
politécnico comum como elemento curricular transversal, interdisciplinar e
significativo tanto para alunos e professores da educação profissional téc-
nica de nível.
A Resolução CNE/CEB 6/2012, descreve que a estruturação dos cursos
da Educação Profissional Técnica de Nível Médio, orientada pela concep-
ção de eixo tecnológico, deve considerar o Núcleo Politécnico Comum, que
devem compreender os fundamentos científicos, sociais, organizacionais,
econômicos, políticos, culturais, ambientais, estéticos e éticos que alicer-
çam as tecnologias e a contextualização do mesmo no sistema de produção
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social. A partir da mesma resolução observamos que os itinerários formati-
vos compreendem ao conjunto das etapas que compõem a organização da
oferta da Educação Profissional pela instituição de Educação Profissional e
Tecnológica, no âmbito de um determinado eixo tecnológico, possibilitando
contínuo e articulado aproveitamento de estudos e de experiências profis-
sionais devidamente certificadas por instituições educacionais legalizadas.
Essa pesquisa justifica-se pela busca de uma práxis pedagógica que con-
substanciem o núcleo politécnico comum e itinerários formativos para além
do capital, desse modo, estes devem ser pensados numa perspectiva poli-
técnica de base unitária3 humanística, nessa direção, torna-se claro que, o
objetivo central é desenvolver formas pedagógicas proativas para uma edu-
cação profissional de nível médio integral, integrada e interdisciplinar, capaz
de superar o indivíduo – fragmento por um sujeito histórico integralmente
desenvolvido, crítico, ativo e transformador na comunidade a qual pertence.
O método utilizado nesse trabalho é o dialético, pois entendemos que a
práxis pedagógica é uma totalidade dinâmica que ao longo do tempo e do
espaço passado por mudanças refletindo em si as condições sociais, políti-
cas e econômicas daquele momento histórico e daquela sociedade. No que
tange ao objetivo de estudo, optamos por ser exploratória, tendo em vista que
esse trabalho pretende buscar maior familiaridade com o problema. Para tal,
buscamos entre os procedimentos técnicos a pesquisa bibliográfica e docu-
mental, baseadas na educação profissional técnica de nível médio de autores
que tiveram suas obras publicadas a partir da publicação da Lei 5.154/2004
e que tratam da educação profissional de nível médio ofertada na forma arti-
culada integrada ao ensino médio, que tenham seus esforços direcionados
para o ensino médio integrado, núcleo politécnico comum e itinerários for-
mativos, numa perspectiva de formação humana omnilateral. Desta maneira,
buscaremos uma abordagem qualitativa do fenômeno estudado.
As discussões feitas apontam que o núcleo politécnico comum poderá
ser um componente curricular transversal pontencializador de práticas peda-
gógicas interdisciplinares e que, por extensão, favorece a formação humana
omnilateral, assim como os itinerários formativos pensados e materializados
num currículo integrado garantem uma formação para futuro trabalhador para
3 MOURA, LIMA FILHO e RAMOS (2015) nos ensinam que as concepções de escola unitária, de
Gramsci, e de politecnia, proveniente de Marx e de Engels, não colidem. Ao contrário, compreen-
demos que são complementares e que Gramsci aprofunda um aspecto da politecnia não muito
explorado por Marx e Engels: sua dimensão intelectual, cultural e humanística.
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além de uma perspectiva mercadológica. Entretanto, o ensino médio integrado,
tal como é ofertado hoje e nesta sociedade, não correspondem uma educa-
ção politécnica, numa concepção marxista e nem uma escola unitária, numa
concepção gramscista, mas muitos autores apontam essa oferta de educação
profissional como uma “travessia”, que na atual conjuntura política obscuran-
tista e com a imposição do chamado “Novo Ensino Médio” a partir da aprovação
da Lei 13.415/2017, pode colaborar para uma travessia longa e tortuosa.
Metodologia
Desenvolvimento
4 - Esse termo será utilizado ao longo do artigo para designar a unidade do Ensino Médio regular e a
Educação Profissional Técnica de Nível Médio na forma integrada conforme o Decreto 5.154/2004.
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Decreto 2.208/1997, pelo Decreto 5.154/2004, que reabre a possibilidade
de integração entre ensino médio e educação profissional, anteriormente
impossibilitada.
Nessa direção, Ramos (2008) ao tratar dessa temática nos orienta a (re)
pensar novas práticas pedagógicas pautadas numa concepção de Ensino
Médio Integrado numa perspectiva que busca a totalidade da educação dos
futuros trabalhadores, ou seja, a superação do indivíduo fragmentado, ora
marcado por uma educação propedêutica, ora marcado por uma educação
profissional, nesse sentido temos um Ensino Médio Integrado, no qual a
educação propedêutica e o ensino técnico são indissociáveis:
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Médio Integrado no que concerne às concepções de educação politécnica e
escola unitária, os autores destacam que:
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significa dizer que os conteúdos desse núcleo também podem
ser interpretados na sua função de eixo estruturador (MACHADO,
2010, p. 103).
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as relações entre tecnologia e sociedade, tecnologia e desen-
volvimento social, impacto social e ambiental da tecnologia,
tecnologia e consumo, necessidades humanas de tecnologia, a
transformação da natureza pela atividade tecnológica, o desen-
volvimento tecnocientífico e as transformações na organização
social e do trabalho humano, o controle social democrático do
conhecimento científico e tecnológico (MACHADO, 2010, p. 103).
3. Itinerários Formativos
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formativo, por sua vez, indica algo que forma ou serve para for-
mar, que contribui para a formação ou para a educação de algo
ou alguém (LEÃO e TEIXEIRA, 2015, p. 6843).
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cursos de Graduação e Pós-Graduação. A ampla abrangência em
relação às formas de oferta e níveis de ensino exige ampla dis-
cussão da organização pedagógica e administrativa nos campi
dos Institutos Federais (LEÃO E TEIXEIRA, 2015, p. 6845 – 6846).
Ramos (2009) faz uma crítica ferrenha no que diz respeito à função da
educação profissional como suprimento das demandas do mercado de tra-
balho. Ao tratar dos itinerários formativos, a autora desaprova os esforços
que instituições e sistemas de ensino direcionam as qualificações profissio-
nais que servem ao propósito imediatista do modo de produção capitalista,
materializada no preenchimento de postos de emprego, que surgem de
forma incontinente e desta mesma maneira devam ser tomados, estando
à escola e o processo educativo a dispor do temperamento do mercado e
suas exigências, desta forma:
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Resultados e discussão
Considerações finais
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que, por sua vez, deve se sobrepor as mais diversas e sedutoras promessas
do trabalho neoliberal e globalizado, entendido como fábula, como assim
dizia o grande nome da geografia nacional e internacional, Milton Santos.
Nesse sentido, “Do ponto de vista do capital, a dimensão ontológica do
trabalho é subsumida à dimensão produtiva, pois, nas relações capitalistas,
o sujeito é o capital e o homem é o objeto” (RAMOS, 2011, p. 137).
Um esforço direcionado para uma educação profissional técnica de
nível médio para além do capital, deve ser pensada numa perspectiva do
Ensino Médio Integrado, a partir de um currículo integrado que seja capaz
de responder a uma formação humana omnilateral, ou seja, um ser humano
completo. Desta maneira, como foi discutido neste artigo o núcleo politéc-
nico comum, como componente transversal e interdisciplinar pode conduzir
a uma prática pedagógica coletiva e com a construção de um conhecimento
significativo para o aluno, para tanto, faz-se necessário que os professores
busquem quebrar as barreiras do conhecimento disciplinar ministrados em
sala, no que Santomé (1998, p. 103) nos ensina que: “Assim, alunos e alunas
são ensinados e vão aprendendo, de maneira mais ou menos inconsciente,
formas de identificação de problemas da realidade [...]”. Desejamos que o
conhecimento disciplinar seja superado por um conhecimento interdiscipli-
nar, contextualizado, politécnico, consciente e significativo.
Para uma formação de um trabalhador técnico de nível médio pensado
numa perspectiva para além do capital, é necessário de que seu caminho,
percurso ou itinerário formativo seja projetado para a formação de sujeitos
que percebam a importância do seu papel social e coletivo na comunidade
em que faz parte, atuando como agente transformador daquela realidade.
Desse modo, os professores ao escolherem os conteúdos a serem traba-
lhados em suas ementar disciplinares manifestem preferências à prática
docentes que privilegiem resoluções de problemas em que os sujeitos do
processo educativo busquem sempre o apoio na coletividade, desenvolvam
um sentimento de pertencimento e identidade com a classe trabalhadora
e que fortaleçam a práxis e dialética do processo educativo. Os itinerários
formativos não podem ser pensados para responder a uma demanda do
mercado, responder uma carência de um determinado profissional, abso-
lutamente. Os itinerários formativos devem conduzir a uma aprendizagem
capaz de responder para além das demandas do mercado, uma aprendiza-
gem que seja capaz de responder as demandas do trabalhador em vários
momentos e aspectos da sua vida enquanto ser humano, e por extensão,
ser do trabalho.
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Referências
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SãoPaulo: Cortez, 2011.
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