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Michel Mott Machado1, Rosália Maria Netto Prados2; Mariluci Alves Martino3
Introdução
A cultura da prática da extensão no ensino superior tecnológico, pela
relevância científica e social na formação integral do educando, é o objeto
desta discussão. Este estudo fundamenta-se em discussões sobre o ensino
superior e nos marcos legais sobre a educação profissional e tecnológica
(EPT). O objetivo é realizar uma reflexão sobre a prática extensionista, ou de
responsabilidade social universitária, no contexto da EPT do Centro Estadual
de Educação Tecnológica Paula Souza (Ceeteps), ora simplesmente
denominado de Centro Paula Souza (CPS).
Com base no Parecer 29/2002, sobre as Diretrizes Curriculares
Nacionais Gerais para a Educação Profissional de Nível Tecnológico,
consonante aos princípios norteadores do ensino, constantes no art. 3º. da Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDBEN nº 9.394, de 20 de
dezembro de 1996, pode-se depreender que a educação superior que se
vislumbra é aquela que se desenvolve com base na articulação ensino-
pesquisa-extensão, com vistas à cultura do desenvolvimento integral do
educando.
Os Cursos Superiores de Tecnologia (CSTs) oferecidos pelo CPS, por
meio de suas Faculdades de Tecnologia, Fatecs, têm procurado se pautar por
uma concepção curricular em que se busca articular componentes,
interdisciplinarmente, tendo em vista a conexão ensino-pesquisa-extensão.
Dentro dessa perspectiva, e por meio da articulação de várias
atividades curriculares, entende-se que uma Instituição de Ensino Superior
(IES) pode vir a articular as esferas do ensino, da pesquisa e da extensão, esta
última também compreendida como responsabilidade social universitária, de
modo a contribuir, entre outras questões, à inclusão social e ao
desenvolvimento econômico e social em sua região de atuação, conforme
recomendado pela Lei 10.861, de 14 de abril de 2004, em seu Art. 3º., Inciso
III.
A prática de extensão é prevista na carta constitucional, como uma
atividade voltada ao fazer acadêmico, devendo a mesma ser exercida
indissociavelmente do ensino e da pesquisa (BRASIL, 1988). Além disso, na
LDBEN nº 9394, em seu Artigo 46, Inciso 7, pronuncia que uma das finalidades
da educação superior é a de “promover a extensão, aberta à participação da
1
Doutor em Administração de Empresas pelo PPGA-Mackenzie. Coordenador de Projetos
Educacionais, Pesquisa e Extensão, na Unidade do Ensino Superior de Graduação (CESU-
CPS). Professor na Fatec Itaquaquecetuba e na UMC. E-mail: michel.machado@cps.sp.gov.br;
michel.machado@umc.br.
2
Doutora em Semiótica e Linguística Geral pela USP. Coordenadora de Projetos na Unidade
do Ensino Superior de Graduação (CESU-CPS). Professora na Fatec Itaquaquecetuba e na
UMC. E-mail: rosalia.prados@cps.sp.gov.br; rosalia.prados@umc.br.
3
Doutora em Educação e Currículo pela PUC-SP. Diretora da Fatec Guarulhos. E-mail:
mariluci.martino@cps.sp.gov.br.
população, visando a difusão das conquistas e benefícios resultantes da
criação cultural e da pesquisa científica e tecnológica geradas na instituição”
(BRASIL, 1996).
Ao se observar a diversidade de cursos oferecidos pelas Fatecs,
distribuídos, segundo vários eixos tecnológicos, constantes no Catálogo
Nacional de Cursos Superiores de Tecnologia (CNCST, 2016), bem como pela
abrangência geográfica da ação educativa do Ceeteps, no estado de São
Paulo, entende-se que a prática de responsabilidade social universitária faz
parte das obrigações legais de toda e qualquer IES no país, e que, portanto, as
Fatecs devem se organizar a fim de cumprir esta missão.
Nesse sentido, este artigo tem por objetivo realizar uma reflexão sobre a
prática extensionista no contexto da EPT do Ceeteps. Para tanto, propõe-se
analisar a atuação de uma determinada regional das Fatecs4, no que tange,
especificamente, às suas práticas de responsabilidade social universitária.
Trata-se de uma aproximação da Unidade do Ensino Superior de Graduação
sobre tema relevante, tanto por seu teor legal, quanto pelo impacto social
esperado das ações sociais empreendidas pelas Fatecs.
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Para fins de análise circunscrita no artigo, o termo Universidade, no nosso caso, pode ser lido
como Instituição de Ensino Superior (IES), uma vez que a educação superior, no Brasil, não é
uma atribuição exclusiva das Universidades.
A extensão é uma das práticas que permite que a IES se relacione para
além de si mesma, que se abra ao seu entorno, à sociedade mais ampla,
preferencialmente numa via de mão dupla, isto é, sem estabelecer-se uma
relação de subordinação, mas sim de compartilhamento de saberes (SANTOS,
2011).
Calderón (2007, p. 49), por sua vez, considera que “a extensão é uma
categoria ética que permanentemente deve nortear o ensino e a pesquisa,
possibilitando que as IES cumpram sua responsabilidade social”.
No âmbito dos aspectos regulatórios e avaliativos da educação superior,
no Brasil, é possível afirmar, em termos oficiais, que a avaliação da extensão
passou a se tornar concreta somente com o advento do SINAES, possuindo
seus fundamentos em princípios e objetivos que estariam vinculados à
dimensão pública da educação superior. A responsabilidade social da IES
figura, portanto, como uma das dimensões do referido SINAES, possuindo um
peso não desprezível no processo avaliativo (CALDERÓN, 2007).
Com a operacionalização do Sistema Nacional de Avaliação da
Educação Superior (SINAES), instituído pela Lei 10.861, de 14 de abril de
2004, posteriormente regulamentado pela Portaria 2.051, de 9 de julho de
2004, passou-se a considerar o termo “responsabilidade social” no âmbito da
normatização da educação superior no Brasil (IDEM).
Como a relevância da prática extensionista se revela até mesmo nas
políticas educacionais nacionais, pensa-se que a criação de sistemas de
desenvolvimento e de gestão da extensão se fazem pertinentes e oportunos,
não devendo os mesmos se tornarem secundarizados a outras dimensões
educativas (CORRÊA, 2003).
Dessa maneira, de um ponto de vista prático, um dos parâmetros de tais
práticas são as recomendações das áreas temáticas definidas pelo Plano
Nacional de Extensão Universitária, FORPROEX (2001). Segundo Calderón
(2007), essas áreas podem ser consideradas como grandes guarda-chuvas
que abrangem uma série de tópicos, sendo as mesmas: 1. Comunicação; 2.
Cultura; 3. Direitos Humanos e Justiça; 4. Educação; 5. Meio Ambiente; 6.
Saúde; 7. Tecnologia e Produção; 8. Trabalho.
Em edital lançado em 2015, o Programa de Apoio à Extensão
Universitária – Edital PROEXT 2016, definia-se, em seu preâmbulo, item 1.1,
como
Método
A extensão e as Fatecs
Ao se analisar os dados da Região x, verificou-se que houve algum tipo
de atividade extensionista em seis Fatecs, sendo que apenas uma não havia
desenvolvido ação alguma, pois se tratava de uma unidade recente. Ao todo,
verificou-se sessenta e três (63) ações que poderiam ser consideras, de
alguma maneira, como de extensão.
Os tipos de operações por meio das quais as ações extensionistas foram
desenvolvidas, podem ser observados na tabela 1. Acrescente-se, neste ponto,
que por dificuldade de enquadramento nos tipos operacionais utilizados nesta
pesquisa, criou-se o “tipo” denominado “Outro”.
Considerações finais
No presente artigo, teve-se por objetivo refletir sobre a extensão no
âmbito da EPT do Ceeteps, a partir de uma análise sobre as Fatecs da Região
x. Nesta direção, foi possível verificar que a referida região tem desenvolvido
uma considerável quantidade de ações de caráter extensionista, o que sugere,
portanto, compromisso com essa instância educativa.
Além disso, a diversidade de públicos e de interesses sociais abrangidos,
podem dar uma mostra do potencial das Fatecs para tais práticas, bem como
da relevância que as mesmas apresentam para além da sala de aula.
No aspecto educativo, em si, acredita-se que o(a) estudante, ao envolver-
se diretamente na prática extensionista, poderá vir a ter uma significativa
oportunidade para desenvolver competências pessoais e profissionais. Não se
deveria desprezar, ademais, a busca de uma estreita relação entre a extensão,
o ensino e à pesquisa, principalmente em sua função de aplicação.
Quanto aos tipos operacionais desenvolvidos desde as ações praticadas,
nota-se a predominância de cursos e de projetos, sendo que sobre estes
últimos, provavelmente a maioria se tratava da modalidade “projetos não-
vinculados a um programa”. Neste ponto, pensa-se que Unidade mais maduras
em seu desenvolvimento acadêmico, processos pedagógicos, de formação
continuada docente etc., possuem maior chance à proposição e execução de
programas extensionistas mais abrangentes.
No que tange às ações de responsabilidade social desenvolvidas, vis-à-
vis às áreas temáticas recomendadas pelo PNE (2001), pode-se notar que
várias atividades se dirigiram às áreas que possuem estreita relação com a
identidade das Fatecs. Neste tocante, seria interessante que se
compreendesse como nasceram essas ações. Seriam as mesmas pensadas e
concebidas, desde uma preocupação com a imagem da IES perante a
sociedade, bem como pela sua autoimagem? Tais ações reforçariam, de fato, a
identidade da IES? Essas e outras questões poderiam ser investigadas em
futuros estudos.
Notou-se a ausência de ações voltadas ao tema de direitos humanos e
justiça. Além disso, a relativa dificuldade de classificação das atividades nas
áreas temáticas, sugere uma ação nem sempre orientada pela política nacional
ora tomada como parâmetro de análise.
O protagonismo docente às ações de responsabilidade social também é
algo a se ressaltar, principalmente se for verificado o interesse apresentado
pelo tema, juntamente à prática científica, em um levantamento de necessidade
de treinamento recentemente realizado pela CESU6.
Por outro lado, causa preocupação a percepção que se tem, a partir dos
resultados deste estudo, que é a ausência de um plano institucional alinhado
ao PNE (BRASIL, 2001), e em termos mais atualizados, ao PROEXT 2016. A
isso, poder-se-ia acrescentar uma outra inquietação, que é a necessidade de
definição de mecanismos de avaliação das atividades, preferencialmente, a
partir de um olhar sobre o impacto social esperado e alcançado. Em outras
palavras, é preciso realizar uma gestão da extensão, bem como orientações
metodológicas.
Alguns passos têm sido dados pelo CPS, a fim de avançar,
institucionalmente, a busca do entrelaçamento do ensino, da pesquisa e da
extensão. Um exemplo do que se está a dizer, é a faculdade das Fatecs
criarem as suas CEPEs – Câmaras de Ensino, Pesquisa e Extensão, como
relevante órgão colegiado (SÃO PAULO, 2016).
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Foi realizada na CESU, no primeiro semestre de 2016, uma Pesquisa Docente-LNT, a fim de
identificar o seu perfil e necessidades/interesses de aperfeiçoamento e desenvolvimento.
Nessa linha, pensa-se que se poderia refletir sobre um possível “comitê
de fomento às atividades de cultura e extensão”, em termos institucionais, de
modo a apreciar as propostas de projetos/programas das Unidades de Ensino,
bem como deliberar sobre as mesmas, entre outras atribuições.
Outra potencialidade do CPS, ao mesmo tempo que um desafio, seria o
de pensar-se sobre uma possível extensão tecnológica, com vistas a
desenvolver, prioritariamente, atividades de produção técnica ou pesquisa
aplicada, em diversas áreas de interesse, além de oferecer programas de
capacitação profissional e tecnológica continuadas, entre outras ações
possíveis.
Acredita-se que a maior abrangência de interesses temáticos
proporcionada pelo PROEXT 2016, possa trazer uma ampliação de
oportunidades à participação das Fatecs nas atividades de extensão. Além
disso, acrescente-se que tais atividades deveriam ser vistas como um meio
para o desenvolvimento de competências pessoais e profissionais para
estudantes e demais participantes do programas e/ou projetos.
Para finalizar, enxerga-se a necessidade de fomentar a prática de
extensão nas Fatecs, porém de modo planejado e organizado, a partir da
preocupação com a questão do seu impacto social e na busca do
entrelaçamento com a pesquisa e o ensino. Deste modo, pensa-se que a
prática de extensão, para além da mera filantropia e da sala de aula, pode
contribuir com o potencial criativo da escola e da sociedade no
encaminhamento de possíveis soluções à inovação social e tecnológica.
Referências
ALMEIDA, A. S. A contribuição da extensão universitária para o
desenvolvimento de Tecnologias Sociais. In REDE DE TECNOLOGIA SOCIAL
– RTS (Brasil) (Org.). Tecnologia social e desenvolvimento sustentável:
contribuições da RTS para a formulação de uma Política de Estado de Ciência,
Tecnologia e Inovação. Brasília-DF: Secretaria Executiva da Rede de
Tecnologia Social (RTS), 2010.