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3, 3401 (2010)
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Neste artigo são discutidos aspectos relacionados à seleção e organização dos conteúdos a serem abordados
durante e após visitas a laboratórios de pesquisa em fı́sica. Utilizando como exemplo o trabalho de divulgação
realizado no acelerador de partı́culas Pelletron (Instituto de Fı́sica da Universidade de São Paulo), com alunos
do ensino médio, procuramos identificar elementos que podem orientar o desenvolvimento de propostas escolares
organizadas a partir de visitas a centros de pesquisa. Nesse sentido, destaca-se o potencial dessas visitas para a
realização de discussões sobre as relações entre Ciência-Tecnologia- Sociedade e a importância do estabelecimento
de vı́nculos com o conteúdo escolar.
Palavras-chave: acelerador de partı́culas, ensino de fı́sica, abordagem temática, CTS.
In this article, we discuss the content selection and organization of visits to physics research laboratories.
We use the visits organized for high school students at the Pelletron Laboratory, a particle accelerator from
the Instituto de Fı́sica da Universidade de São Paulo, as an example for this work. We identify elements that
can guide the development of high school activities based on visits to research laboratories. We discuss the
potential of these visits for discussions on the relations among Science-Technology-Society and the importance
of the establishment of constraints with the high school contents.
Keywords: particle accelerator, physics teaching, thematic approach, STS.
aponta para a realização de maiores discussões sobre as Nessa perspectiva, membros do Departamento de
relações entre Ciência - Tecnologia - Sociedade (CTS), Fı́sica Nuclear do Instituto de Fı́sica da Universidade
tanto no âmbito social quanto no escolar. de São Paulo têm organizado visitas monitoradas, para
A defesa por discussões sobre CTS emergiu de estu- alunos do ensino médio, ao Laboratório Aberto de
dos e movimentos mais amplos, que tiveram origem em Fı́sica Nuclear, mais especificamente, ao acelerador de
meados de 1960, em paı́ses da América do Norte e Eu- partı́culas Pelletron. Entende-se que com visitas dessa
ropa. No âmbito desses estudos e movimentos passou-se natureza, pode-se contribuir para a construção de uma
a discutir, com diferentes enfoques, a relação da ciência sociedade alfabetizada em ciência e tecnologia, capaz de
e da tecnologia com o desenvolvimento da vida social, refletir criticamente e atuar em situações vinculadas ao
reivindicando uma tomada de consciência com relação desenvolvimento cientı́fico-tecnológico. Sendo assim, o
aos problemas ambientais, éticos e de qualidade de vida objetivo das visitas não é somente introduzir uma dis-
relacionados às contribuições dos avanços cientı́ficos e cussão sobre os conteúdos cientı́ficos envolvidos no fun-
tecnológicos. Dessa forma, esses estudos em CTS po- cionamento do acelerador e nas pesquisas desenvolvi-
dem ser considerados como um reflexo de uma época em das, mas de familiarizar o público com a construção da
que se buscava exercer uma influência social e polı́tica ciência, ou seja, com o contexto de produção da ciência.
mais forte e deliberada sobre a ciência e a tecnologia [2]. A partir dessa experiência, nesse artigo, discute-
Ao repercutir para o contexto educacional, segundo se elementos a serem considerados na seleção e orga-
Santos [3, p. 17]: nização de conteúdos abordados em visitas dessa na-
tureza. Essa seleção e organização poderia ser enten-
Um objetivo central deste movimento de
dida como tarefa do cotidiano do professor da educação
reforma é o desenvolvimento de uma cidada-
básica; no entanto, devido à complexidade do tema,
nia responsável – uma cidadania individual
caso essa tarefa caiba unicamente ao professor, possivel-
e social para lidar com problemas que têm
mente os assuntos que podem enriquecer as discussões
dimensões cientı́ficas e tecnológicas, num
em sala de aula serão negligenciados.
contexto que se estende para além do la-
Sendo assim, para a discussão dessa proposta, ini-
boratório e das fronteiras das disciplinas.
cialmente apresenta-se a estrutura da visita, seguida
Tornar a ciência revestida de mais signifi-
dos elementos que podem ser considerados em sua es-
cado para o aluno, de forma a prepará-lo
truturação, o que inclui o estabelecimento de vı́nculos
melhor para lidar com as realidades da vida
com os conteúdos escolares. Pretende-se, ao apresen-
atual e para poder planejar o seu próprio
tar elementos oriundos de uma prática, contribuir para
futuro, é uma das aspirações básicas.
o universo de pesquisas que possui como foco o desen-
Compartilhando desses ideais de democratização volvimento de uma sociedade alfabetizada em ciência-
das decisões envolvendo C&T, vem sendo defendido a tecnologia.
importância de se integrar a ciência na cultura, instau-
rando uma polı́tica de abertura da ciência para a so- 2. A visita ao Pelletron
ciedade [4]. Como apontado por Levy-Leblond apud
Japiassu [4, p. 237-238]: O Laboratório Aberto de Fı́sica Nuclear do Instituto
de Fı́sica da Universidade de São Paulo foi fundado em
Precisamos colocar a ciência em cultura,
1972 sob a coordenação do professor Oscar Sala. Nesse
para que nossos filhos e netos não per-
espaço está localizado o acelerador de partı́culas ele-
maneçam tão passivos e desarmados quanto
trostático Pelletron do tipo Tandem. Basicamente, um
nossa geração e as precedentes. (. . . ) A cul-
acelerador desse tipo tem a capacidade de aumentar a
tura de nossa época é completamente mar-
velocidade de partı́culas carregadas através de campos
cada pela ciência mas de modo passivo. Não
elétricos.
a reconhece, não reflete sobre ela. Não pos-
sui nenhum controle sobre ela. Para aumentar a velocidade das partı́culas nesse
tipo de acelerador, num primeiro momento, os átomos
Como ponto de partida, torna-se necessário aumen- neutros são ionizados. Uma amostra contendo os ele-
tar o interesse da sociedade pela ciência, buscando com mentos quı́micos que se deseja estudar é inicialmente
isso, diminuir a distância que as separa. Assim, é colocada em uma fonte de ı́ons. Este equipamento ioni-
imprescindı́vel conhecer, a partir da atividade real da za negativamente os átomos para que eles possam “sen-
ciência, de que forma ela é construı́da, suas incertezas, tir” o campo elétrico no acelerador. Os ı́ons são ex-
seus limites e possı́veis consequências para a sociedade. traı́dos da fonte utilizando-se uma diferença de poten-
É importante que a sociedade tenha clareza de que cial em torno de 70 kV. Logo em seguida, esse feixe de
a ciência é, acima de tudo, uma produção social, rea- átomos é acelerado através de um campo ainda mais in-
lizada por seres humanos, que reflete os interesses e ide- tenso que é produzido no terminal do acelerador, cujo
ologias de determinadas classes sociais, e que, embora potencial elétrico pode atingir 8 MV. Como esse poten-
internamente estruturada, apresenta divergências. cial é positivo, o feixe precisa trocar de carga ao passar
Articulação Centro de Pesquisa - Escola Básica: contribuições para a alfabetização cientı́fica e tecnológica 3401-3
por ele. Para isso, uma fina folha de carbono que tem foi desenvolvido junto aos engenheiros e técnicos do la-
como intuito “roubar” elétrons desses ı́ons é colocada boratório de eletrônica e mecânica do departamento de
na trajetória do feixe, deixando-os ionizados positiva- fı́sica nuclear.
mente e dando continuidade ao processo de aceleração. Cabe destacar, que essas visitas se encontram em
Quando este feixe chega à sala experimental através da reestruturação. Desde seu inı́cio, já foram realizadas
canalização do acelerador, diversos detectores estão dis- diversas visitas com alunos de escolas técnica e pública,
postos ao redor de um alvo constituı́do do material que professores da rede estadual e alunos de graduação. Es-
se pretende estudar. O feixe então colide com este ma- sas experiências, bem como a opinião dos visitantes,
terial, a uma velocidade em torno de 10% da velocidade vêm sendo utilizadas em sua reorganização. Nesse sen-
da luz, a radiação e partı́culas emitidas por esse choque tido, um dos aspectos a considerar é a elaboração de
podem ser medidas pelos detectores. Essas informações atividades a serem desenvolvidas em sala da aula, antes
são transmitidas através de pulsos eletromagnéticos aos ou depois da visita, e associada a elas, um curso de
computadores do laboratório e depois estudados pelos formação para os professores responsáveis pelos alunos.
pesquisadores. Entende-se que visitas dessa natureza podem ser
Atualmente, cerca de cem pesquisadores, tanto do utilizadas como potencializadoras de discussões que en-
Instituto de Fı́sica da Universidade de São Paulo como volvem a trı́ade CTS, como explicitado anteriormente.
de outros centros de pesquisas nacional e internacional, Contudo, as visitas em si, por concentrarem-se em um
utilizam o laboratório para obtenção de dados e reali- curto espaço de tempo, não permitem a realização de
zação de diversas pesquisas, que envolvem tanto estu- discussões mais amplas; para isso, defende-se que tais
dos de aspectos fundamentais sobre a natureza e pro- discussões precisam estar vinculadas ao contexto esco-
priedade dos núcleos atômicos, como da aplicação de lar, para que os alunos tenham espaço para discutir o
técnicas desenvolvidas na fı́sica nuclear em outras áreas fazer cientı́fico enquanto produção humana e para refle-
do conhecimento, como ciências dos materiais, biologia, tir e aprofundar os fenômenos fı́sicos evidenciados du-
artes e arqueologia. rante a visita. Acredita-se que é a partir de iniciati-
Com o intuito de divulgar aos alunos e profes- vas como essas que as escolas poderão contribuir com a
sores do Ensino Médio as pesquisas realizadas no Pel- formação de cidadãos mais crı́ticos, capazes de analisar
letron foi estruturada uma visita de duas horas que e se posicionar perante situações que envolvem aspec-
é conduzida pelos próprios pesquisadores (professores, tos sociais, polı́ticos, ambientais e econômicos de uma
alunos de pós-graduação e técnicos) do acelerador. O nação.
roteiro dessas visitas inicia-se com uma apresentação Assim, considerando a importância do papel da es-
multimı́dia de aproximadamente trinta minutos sobre cola na formação crı́tica de seus alunos, na sequência
os conceitos básicos de fı́sica nuclear (por exemplo, o desse artigo é apresentada uma proposta de articulação
núcleo atômico), incluindo diversas animações que re- entre essas visitas e os conteúdos escolares, fruto de uma
presentam os fenômenos fı́sicos relacionados aos proce- investigação que inclui referenciais ligados ao movi-
dimentos de funcionamento e coleta de dados realizados mento CTS e alguns pressupostos considerados em
no laboratório. Além disso, nesse primeiro momento, abordagens temáticas.
são apresentadas as diversas linhas de pesquisa do Pel-
letron, visando elucidar ao visitante parte do trabalho
que é realizado num laboratório cientı́fico. 3. Subsı́dios para uma abordagem te-
Ao longo dos espaços visitados planeja-se a dis- mática dos conteúdos
tribuição de painéis que mostram tanto os aspectos
técnicos do acelerador quanto os conceituais, relaciona- As propostas de implementação da abordagem CTS na
dos à pesquisa e ao seu funcionamento. Esses painéis educação básica organizam-se em torno de temas cen-
terão como função explicitar os conceitos fı́sicos em- trais. Santos e Schnetzler [5], referindo-se a uma revisão
pregados em cada componente do acelerador. Vale bibliográfica sobre o movimento, concluem que todos os
ressaltar que neles haverá textos de aprofundamento, artigos revisados recomendam a estruturação de abor-
anexados no rodapé, além de fotos dos componentes dagens CTS a partir de temas, principalmente pela po-
do acelerador. Esses painéis darão ao visitante a opor- tencialidade que os mesmos oferecem para discussões
tunidade de obter explicações sobre o material técnico sobre as inter-relações entre CTS e para o desenvolvi-
enquanto os observa efetivamente no laboratório. mento de atitudes de tomada de decisão.
A visita é finalizada com a visualização do protótipo Nessa perspectiva, a compreensão dos temas passa
0,33 UD2 que é uma máquina de porte menor que o a ser a finalidade do processo de ensino-aprendizagem.
Pelletron. Sua função é a de mostrar aos visitantes Porém, cabe destacar que não ocorre a supressão dos
o funcionamento do terminal acelerador, que normal- conhecimentos cientı́ficos, pois os mesmos são enten-
mente não estaria acessı́vel ao público. Esse protótipo didos como meios necessários para a compreensão dos
2 O protótipo 0,33 UD, possui tal nomenclatura devido à sua relação proporcional ao terminal do acelerador Pelletron, sendo 33% do
temas. Dessa forma, a apreensão ou apropriação de uma proposta clara quanto às relações que podem ser
conteúdos coloca-se na perspectiva de instrumentalizar estabelecidas entre os aspectos conceituais, os aspectos
o aluno para uma melhor compreensão dos temas e para de âmbito mais social e o conteúdo escolar, serão utiliza-
sua atuação na sociedade contemporânea [6]. dos os pressupostos do espanhol Jose Eduardo Garcı́a,
Além dos conhecimentos cientı́ficos, são destacados ainda que os mesmos tenham sido pensados para a dis-
nove aspectos que devem ser considerados quando pre- cussão de temas que emergem do cotidiano.
tendemos levar o enfoque CTS para sala de aula. Quais Para Garcı́a [8] o conhecimento escolar não pode
sejam: natureza da ciência, natureza da tecnologia, na- se pautar apenas numa redução ou simplificação de
tureza da sociedade, efeitos da ciência sobre a tecnolo- uma disciplina cientı́fica, mas deve estar vinculado com
gia, efeitos da tecnologia sobre a sociedade, efeitos da aspectos mais amplos que envolvem, por exemplo, as
sociedade sobre a ciência, efeito da ciência sobre a so- relações com o meio e as implicações sociais, polı́ticas
ciedade, efeito da sociedade sobre a tecnologia, efeito e econômicas. Além disso, esse conhecimento não é
da tecnologia sobre a ciência [5]. uma transposição direta de um conhecimento cientı́fico,
Considerar esses aspectos ao abordar determinado isento de outras contribuições, sejam elas sociais ou
tema implica em buscar esclarecer, dentre outras coisas, provenientes da comunidade cientı́fica (pesquisadores,
que a ciência é uma construção social; que a sociedade cientistas etc.).
sofre mudanças devido ao desenvolvimento cientı́fico e Assim, o conhecimento escolar, embora com carac-
tecnológico; que a produção de novos conhecimentos terı́sticas epistemológicas próprias, é influenciado pelos
tem estimulado mudanças tecnológicas; que a tecnolo- conhecimentos cientı́fico e cotidiano, podendo represen-
gia disponı́vel a um grupo humano influencia grande- tar um enriquecimento do cotidiano em função de con-
mente o estilo de vida do grupo; que por meio de in- tribuições oriundas, por exemplo, da esfera cientı́fica e
vestimentos e outras pressões, a sociedade influencia a cultural.
direção da pesquisa cientı́fica e que a disponibilidade No conhecimento cotidiano são produzidas ex-
dos recursos tecnológicos limitará ou ampliará os pro- plicações sem embasamento cientı́fico, mas que são su-
gressos cientı́ficos [5]. ficientes para justificar determinadas situações. Esse
Contudo, não há um consenso no que diz respeito conhecimento refere-se aos saberes (muitas vezes com-
aos elementos e conteúdos que precisam ser conside- plexos) que são produzidos nas relações que se esta-
rados e/ou priorizados na organização dos temas e belecem na interação com o meio (colegas, familiares,
dos conhecimentos necessários para compreendê-los [7]. sociedade etc.). Já o conhecimento cientı́fico é aquele
Nesse sentido, apenas é ressaltada a natureza interdis- produzido pela academia, passando pelo crivo de um
ciplinar e a abordagem contextualizada dos conceitos grupo de pesquisadores. Esses diferentes conhecimentos
cientı́ficos. (cotidiano e cientı́fico) estão estritamente relacionados
O caráter interdisciplinar é enfatizado no sentido em com o conhecimento escolar, o que significa dizer que as
que discussões sobre CTS devem abarcar, por exemplo, escolhas feitas em quaisquer dos três âmbitos implicam
questões de natureza filosófica, histórica e sociológica. em diferentes recortes nos outros.
Nesse sentido, Santos [3] aponta que a educação CTS, Desse modo, os conteúdos compartimentados que
insere-se numa proposta de alteração disciplinar, de em geral são levados para a sala de aula podem ser
sentido humanista e cultural, já que inclui juı́zos, re- substituı́dos por aqueles capazes de trazer os proble-
flexões e ações sobre o exercı́cio da cidadania perme- mas à realidade educativa, abrindo-a para a exploração
ando o ensino das disciplinas. do nosso mundo. Compreender o mundo sob esses as-
Já a abordagem contextualizada dos conteúdos diz pectos só é possı́vel se houver a transição de uma forma
respeito à necessidade de relacionar a ciência, o co- simples a outra mais complexa do conhecimento. Isso
nhecimento cientı́fico, com a tecnologia e situar ambas aponta para a necessidade de complexificar o conheci-
no contexto social, polı́tico e econômico em que se en- mento.
contram ou foram desenvolvidas. Em outras palavras, Ainda que os elementos propostos por Garcı́a [8]
podemos afirmar que abordar as relações CTS implica possam ser importantes ao propor uma abordagem
no estudo do conhecimento cientı́fico articulado com a temática que leva em conta a complexidade, na medida
discussão de aspectos ambientais, econômicos, polı́ticos, em que podem ajudar a organizar o planejamento das
sociais, históricos, tecnológicos e éticos. atividades por meio das tramas e mapas conceituais a
Sendo assim, um tema quando levado à sala de aula serem propostos em sala de aula, a questão da abor-
não pode deixar de evidenciar as relações mais com- dagem de um tema é muito mais ampla. Precisam ser
plexas, tanto no que se refere aos aspectos conceitu- considerados aspectos que vão desde a definição dos as-
ais quanto aos sociais, polı́ticos e econômicos. Nesse suntos que compõem a problemática social, econômica
sentido, torna-se necessário vincular os aspectos de e polı́tica, até a seleção dos conteúdos relevantes para
âmbito mais cientı́fico, relacionados ao Pelletron, com trabalhar o tema escolhido, além da identificação dos
discussões de natureza mais social. conhecimentos cientı́ficos envolvidos.
Considerando que o movimento CTS não possui Assim, considerando a importância do estabeleci-
Articulação Centro de Pesquisa - Escola Básica: contribuições para a alfabetização cientı́fica e tecnológica 3401-5
que compõem o currı́culo de fı́sica do ensino médio, A partir dessas referências, foi construı́do um
baseamo-nos em livros didáticos.3 Buscou-se identificar quadro geral que formaliza as diversas questões, orga-
nesses livros conceitos da fı́sica moderna, mais especifi- nizadas segundo os próprios critérios envolvidos. Tais
camente aqueles que compõem as discussões sobre fı́sica critérios consideram aspectos relacionados ao desen-
nuclear. Vale ressaltar que o material encontrado limi- volvimento cientı́fico e tecnológico, suas aplicações e im-
tou as possı́veis relações com conteúdos abordados nas plicações sociais, pois as relações focadas nesses âmbitos
visitas ao acelerador. De qualquer forma, foi possı́vel
podem ampliar o interesse dos alunos pela ciência, além
estabelecer algumas relações entre os conceitos tratados
de dar subsı́dios para que eles possam ser crı́ticos pe-
no ensino médio e aqueles discutidos no Pelletron, como
exemplo, a ionização de átomos neutros, as interações rante situações relacionadas aos assuntos abordados.
fundamentais e conservação de momento. A organização temática representa apenas, de forma
Influenciados por esses dois aspectos – potenciais as- sistematizada, os aspectos e idéias relativas ao tema
suntos que surgiram nas entrevistas e conceitos de fı́sica do ponto de vista de um enfoque global, a partir
nuclear presentes no currı́culo de fı́sica do ensino médio do reconhecimento desse tema em diferentes espaços.
- foram organizados os temas e conteúdos relaciona-
Nesse sentido, essa organização está relacionada às
dos à visita ao Pelletron. Para a discussão que segue,
questões sociais, polı́ticas e econômicas que permeiam
foram definidos dois momentos distintos. No primeiro,
são tratadas questões referentes à organização temática as pesquisas desenvolvidas nos laboratórios.
e, no segundo momento, questões relacionadas à orga- Como em toda organização desse tipo, não existe
nização conceitual. Vale ressaltar que ambas as orga- certamente uma forma de representação única. Vale
nizações estão pautadas nos conteúdos e assuntos trata- ressaltar que o objetivo dessa organização temática
dos na visita ao acelerador Pelletron. Contudo, con- (Fig. 1) é apenas elencar alguns assuntos que po-
siderando que defendemos a necessidade de aprofundar dem servir de vı́nculo entre os interesses dos professores
as discussões realizadas no acelerador, nas organizações
pesquisadores e dos alunos e professores em questão.
estão evidenciados outros elementos que podem ser po-
tencializados nas discussões em sala de aula. Nessa organização são destacados quatro grupos que
permeiam o tema. No primeiro deles, Aspectos Tec-
4.1. Organização temática nológicos, estão organizados assuntos que relacionam
a pesquisa no laboratório com questões tecnológicas.
Como mencionado anteriormente, para tratar os assun-
Nesse grupo estão dispostos aspectos como a metodolo-
tos temáticos que emergem nos laboratórios de pesquisa
procurou-se algumas referências no próprio currı́culo da gia e técnicas aplicadas no próprio espaço do labo-
fı́sica, mais especificamente, nos textos presentes nos ratório, incluindo a organização e estrutura para a
livros didáticos. Além disso, durante as entrevistas re- manutenção do mesmo. Além disso, as implicações
alizadas com os professores pesquisadores foram identi- tecnológicas das pesquisas desenvolvidas no laboratório
ficados alguns assuntos que se mostraram importantes podem estabelecer potenciais discussões sobre questões
para uma discussão no âmbito escolar. sociais relevantes.
as visões de mundo estabelecidas e os problemas so- editado por M. Medina y J. Sanmartı́n, (Anthropos,
ciais que circundam a questão. Isso implica enrique- Barcelona, 1990).
cer o conhecimento escolar pelo cientifico e cotidiano, [3] M.E. Santos, A Cidadania na Voz dos Manuais Esco-
tal como evidencia Garcı́a [8]. Evidentemente, essas lares (Livros Horizonte, Lisboa, 2001).
considerações influenciam diretamente as escolhas que [4] H. Japiassu, Um Desafio à Educação: Repensar a Pe-
serão feitas nas organizações temática e conceitual. Em dagogia Cientı́fica (Editora Letras & Letras, São Paulo,
outras palavras, as intenções e interesses dos alunos e 1999).
professores vão influenciar os trabalhos que serão reali-
[5] W.L.P. Santos e R.P. Schnetzler, Educação em Quı́-
zados em sala de aula, considerando tanto os assuntos mica: Compromisso com a Cidadania (Editora da
quanto os conceitos de maior interesse presentes nas UNIJUÍ, Ijuı́, 2003).
organizações temática e conceitual.
[6] D. Auler, Interações entre Ciência-Tecnologia-
Por fim, ainda que as discussões aqui apresentadas Sociedade no Contexto da Formação de Professores
refiram-se a um contexto e tema particular, o acelerador de Ciências. Tese de Doutorado, CED/UFSC, Flo-
Pelletron, podem contribuir para outras experiências rianópolis, 2002.
da mesma natureza, que utilizam visitas aos centros
[7] S.M.S. Cruz, Aprendizagem Centrada em Eventos:
de pesquisa como instrumento potencializador de dis- Uma Experiência com Enfoque Ciência, Tecnologia e
cussões sobre as relações entre CTS. Sociedade no Ensino Fundamental. Tese de Doutorado,
CED/UFSC, Florianópolis, 2001.
Referências [8] J.E. Garcı́a, Hacia una Teorı́a Alternativa sobre los
Contenidos Escolares (Dı́ada Editora S.L., Espanha,
[1] M. Valério e W. Bazzo, Revista Iberoamerica- 1998).
na de Ciencia, Tecnologı́a, Sociedad e Innova- [9] G. Watanabe e M.R.D. Kawamura, In: X Encontro de
ción 7, Septiembre-Diciembre (2006), disponı́vel Pesquisa em Ensino de Fı́sica, Londrina, 2006.
em http://www.oei.es/revistactsi/numero7/
[10] G. Watanabe, Elementos para uma Abordagem
articulo02b.htm.
Temática: A Questão das Águas e sua Complexidade.
[2] S. Cutcliffe, in: Estudios Interdisciplinares en la Uni- Dissertação em Ensino de Ciências, Universidade de
versidad, en la Educación y en la Gestión Pública, São Paulo, São Paulo, 2008.