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DIABETES

magazıne
Sensores
Edição 03
de glicose

es
Pu

et
bli

çã Eles revolucionaram a forma de

ab
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ca

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fic deD
ial
da So ilei
ra controlar e até de encarar o diabetes.
ciedade Bras
E o melhor: sem as diversas picadas
nas pontas dos dedos

Diabetes nas escolas


Como prevenir e tratar
a doença renal
É possível ser atleta
com diabetes?
Novo medicamento
retarda o aparecimento
do DM1
Dicas para cuidar
dos idosos
E muito mais!

Baixe e
compartilhe a
versão digital
da revista

Marina e Fernanda:
tecnologia como
aliada no tratamento
DIVULGAÇÃO
Expediente

Publicação oficial da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD)


Gestão 2022-2023
Presidente: Levimar Rocha Araújo
Edição 03, Volume 02, Número 01, 2023

REALIZAÇÃO
Dep. de Educação e Campanhas da SBD Palavra do
Presidente
Coordenador: André Gustavo Daher Vianna
Coordenadora: Dhiãnah Santini

Coordenação Geral: André Gustavo Daher Vianna


Gerente do Projeto: Paulo Bettio Um ano novo e muitas possibilidades
Administração: Joyce Moura

C
Comercialização: Grow Up
omeço esta terceira edição da DIABETESmagazine
Projeto Editorial: Momento Saúde Editora
registrando meus sinceros votos de que 2023 se-
Editora-chefe: Letícia Martins (MTB: 52.306)
ja um ano de muitas realizações e, claro, de plena
Projeto Gráfico: NewHaus Com&Mkt
saúde. Sem ela, aliás, não conseguimos fazer nada.
Diretor de Arte: Anderson Domenich
Mas com saúde, amor e união não só conseguimos realizar
Revisora de Texto: Marilia Salla
nossos projetos como podemos avançar em causas impor-
Foto da Capa: Ale Carnieri
tantes para o bem comum.
Distribuição e Divulgação: Bianca Fiori

Nas páginas a seguir, vamos conversar sobre algumas des-


Conselho Editorial:
sas causas, como o direito que toda criança e adolescen-
Bia Scher, Denise Reis Franco, Dhiãnah Santini,
te com diabetes têm de serem acolhidos nas escolas. Outra
Laerte Damaceno, Luciana Oncken, Maria Eloísa Malieri,
bandeira da nossa gestão: democratizar a informação para
Marlice Marques, Martha Amodio e Tom Bueno.
o autocuidado. Com mais acesso à educação em diabetes,
maiores são as chances de prevenir complicações, como a
Colaboradores desta edição:
doença renal, abordada na seção Tratamento.
Emerson Bisan, Érika Bevilaqua Rangel,
Maristela Strufaldi, Monica Gabbay e Vanessa Montanari.
Autocuidado, educação em diabetes e tratamento adequa-
do são importantes tanto para vivermos bem hoje quanto
DIABETESmagazine® é uma publicação oficial da So-
para envelhecermos com saúde. Sim, envelhecermos. Uso
ciedade Brasileira de Diabetes (SBD), produzida pela
o verbo no plural porque também tenho diabetes. Recebi o
Momento Saúde Editora, distribuída gratuitamente na
diagnóstico de diabetes tipo 1 há 41 anos e aprender sobre
versão impressa aos seus sócios e disponível na inter-
a condição me ajudou (me ajuda) a viver melhor. Por isso, eu
net para toda sociedade. É permitido citar e reproduzir
me identifico, me emociono e me animo com cada assunto
seu conteúdo desde que sejam dados os devidos crédi-
abordado nas páginas desta revista, escrita por tantas pes-
tos ao(s) autor(es) e à DIABETESmagazine.
soas que desejam o mesmo: um 2023 e um futuro repleto
A SBD e a Momento Saúde Editora não se responsabi-
de saúde para todos!
lizam pelas informações contidas em artigos assinados,
cabendo aos autores total responsabilidade por elas.
Feliz Ano Novo!

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(11) 3842-4931
Dr. Levimar Rocha Araújo | @levimar
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www.diabetes.org.br
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Momento Saúde Digital & Content Editora Ltda.
CNPJ 22.608.898/0001-18
atendimento@momentosaudeeditora.com.br
www.momentosaudeeditora.com.br SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 3
Destaques Editorial

14 Direitos e Deveres

PAULO BETTIO
Diabetes nas escolas

18 Tapete Azul
Babu Santana: mudança total depois do DM2

20 Falso ou Verdadeiro
Emagrecer ajuda a controlar o diabetes?

22 Visão SBD
Mães-pâncreas e o desafio da educação

26 Doce História Lutas, mudanças e avanços


Renata Avendano: 46 anos de vida e de DM1

O
28 Capa
Sensores de glicose: o controle nas mãos início de um novo ano renova as esperanças
de quem tem diabetes e nos leva a muitas reflexões, entre elas: se-
rá que estamos no caminho certo? A julgar pe-
36 DM2 los temas abordados nesta terceira edição da
Como cuidar do idoso com diabetes? DIABETESmagazine, acreditamos que sim! Nossa comu-
39 DM1 nidade azul do diabetes tem se unido cada vez mais pa-
T1D Index e um novo olhar sobre ra lutar pelos seus direitos, como mostra uma de nossas
o diabetes tipo 1 colaboradoras, a Maria Eloísa Malieri, nas colunas Direi-
tos e Deveres e Visão SBD.
42 Prevenção
Exames anuais importantes
Já o Dr. Laerte comenta alguns dados revelados em um
44 Conte Com recente estudo, o T1D Index, que joga luz na importância
Escola: uma parceria de sucesso do diagnóstico precoce e também do uso da tecnologia
para um melhor controle glicêmico. Por falar em tecno-
46 Tratamento logia, ela é o tema da nossa matéria de capa, que anali-
Como prevenir e tratar a doença renal
sa os benefícios dos sensores de glicose. Sem sombra
50 Em Movimento de dúvida, um grande avanço no tratamento do diabe-
Atletas com diabetes brilham tes, tanto para médicos quanto para quem convive com
no esporte e no controle a condição no dia a dia.

54 Nutrição E os avanços continuam: na seção Conexão Médica, Pau-


O papel da alimentação na terceira idade
lo Bettio e Dr. Luis Eduardo Calliari explicam um novo
60 Tecnologias medicamento capaz de atrasar a evolução do diabetes
Aplicativos úteis para o dia a dia tipo 1. Aprovado nos Estados Unidos no final do ano pas-
sado, o Tzield ainda não está disponível no Brasil, mes-
63 Conexão Médica mo assim nós comemoramos a notícia, pois reafirma que
Conheça o primeiro medicamento
a ciência e a medicina não param.
que retarda o DM1

Enquanto esperamos mais novidades como essa, segui-


Sempre aqui: mos controlando a glicemia com todos os recursos que
05 Vitrine SBD já temos à mão, cientes de que a mudança começa em
cada um, como mostram nossos entrevistados da seção
06 SBD News Tapete Azul e Doce História, cujos depoimentos de vida
10 Sig@ merecem a leitura.
12 Diabetes de A a Z Boa leitura e feliz 2023!
16 Papo com Especialistas
19 Rede de Apoio
Dr. André Vianna | @dr.andre.vianna
Coordenador geral da DIABETESmagazine

4 DIABETESmagazine · Edição 03
Vitrine SBD

Mês mundial do diabetes


Muitos eventos destacaram a importância de conscientizar a sociedade sobre a
prevenção e o controle da condição.

Por Dra. Dhiãnah Santini | @dra.dhianah_santini


Mestre e doutora em Endocrinologia pela UFRJ.
Coordenadora do Dep. de Educação e Campanhas da SBD
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

E
m 2022, a Sociedade Brasileira de Cerca de 500 pessoas participaram da cami-
Diabetes (SBD) realizou várias ações nhada e corrida no dia 19/11 no parque li-
no Novembro Diabetes Azul, além de near Bruno Covas, na capital paulista.
participar e apoiar eventos de insti-

SARAH DALTRI
tuições parceiras.
Na manhã do dia 11/11, a SBD realizou uma
ação educativa no Senado Federal para ras-
trear o diabetes e a retinopatia. Foram mais
de 100 pessoas atendidas. À tarde, uma ses-
são especial sobre diabetes foi transmitida
ao vivo na TV Senado para todo Brasil, com
a participação do presidente da SBD, Dr. Le-
vimar Rocha Araújo, e coordenadores de
departamentos da entidade.
A SBD marcou presença no Mutirão de Dia-
DIVULGAÇÃO

betes de Itabuna (BA), coordenado pelo


Dr. Rafael Andrade, médico oftalmologis-
ta e presidente da ONG Unidos pelo Diabe-
tes, que inspirou 30 outros centros no Brasil
a adotarem o mesmo modelo. Os mutirões
envolvem milhares de voluntários e promo-
vem ações de prevenção e orientação sobre
o diabetes.
DIVULGAÇÃO

No Dia Mundial do Diabetes (14/11), o can-


tor Guilherme Arantes emocionou o públi-
co, que celebrou o avanço do tratamento do
diabetes, no Rio de Janeiro (RJ). O show teve
mais de 5 mil visualizações.
DESIREE DO VALE

Mais informações sobre o


Novembro Diabetes Azul
no site da SBD.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 5


Por dentro das novidades
Por Dr. Laerte Damaceno | @laerte_damaceno
Endocrinologista e coordenador do site e das redes sociais da SBD
FOTO: RAFAEL PETROCCO

Insulina em dose semanal

ENVATO ELEMENTS
O próximo passo do tratamento diabetes se-
rá a insulina em dose semanal icodec. Em
estudo clínico, comparada à insulina de-
gludeca (Tresiba®) em dose diária, a ico-
dec mostrou superioridade no controle da
hemoglobina glicada sem aumento da fre-
quência de hipoglicemias. Outros benefícios
são a redução do número de aplicações de
365 para 52 ao ano e a maior satisfação das
pessoas com o tratamento.

Novo aliado contra a obesidade Congresso da IDF 2025


A Agência Nacional de Vigilância Sanitária A cidade do Rio de Janeiro vai sediar o pró-
(Anvisa) aprovou um novo medicamento in- ximo Congresso da Federação Internacional
jetável para tratar a obesidade e o sobrepe- de Diabetes (IDF), nos dias 21 a 27 de março
so, cujo princípio ativo é a semaglutida. A do- de 2025 e terá como presidente regional do
se mais alta disponível do medicamento é de evento o Dr. Balduino Tschiedel, ex-presiden-
2,4 mg por semana. Ele deve ser usado jun- te da SBD e diretor do Instituto da Criança
to a um plano alimentar com baixas calorias com Diabetes do Rio Grande do Sul (ICD-RS).
e prática de atividade física. Ainda não há da-
ta definida para que o medicamento chegue
às farmácias brasileiras.
DIVULGAÇÃO

Tecnologia e saúde dos olhos


Nos mutirões de diabetes por todo o país,
o Phelcom Eyer está sempre presente nas
mãos de jovens profissionais e nos olhos das
pessoas. Trata-se de um retinógrafo portátil,
desenvolvido e produzido no Brasil que, in-
tegrado ao smartphone, faz imagens de re-
tina de alta qualidade em poucos minutos,
sem necessidade de dilatação da pupila. Si-
multaneamente, disponibiliza as imagens
em um sistema na nuvem, permitindo o diag-
nóstico remoto e o resultado imediato. Tem
potencial para revolucionar o rastreamento
da doença ocular do diabetes no Brasil.

6 DIABETESmagazine · Edição 03
SBD News

Médica brasileira é eleita vice-pre-

EDSON VASCONCELOS
sidente da IDF Confira a matéria completa
Em votação consagradora, a Dra. Hermelin- no site da SBD.
da Pedrosa, ex-presidente da SBD, foi eleita
vice-presidente da Federação Internacional
de Diabetes (IDF) durante congresso realiza-
do em Lisboa, Portugal. Uma trajetória previ-
sível de sucesso! Acesse o QR Code e saiba
quais são os objetivos da Dra. Hermelinda
na IDF.

Pâncreas biônico Projeto de Lei 2.687/22


A revista médica New England Journal of No final do ano, o projeto de lei (PL)
Medicine (NEJM) anunciou o Bionic Pancreas 2.687/2022 ganhou a atenção da comuni-
(iLet®), um sistema de administração de in- dade com diabetes. Isso porque a proposta,
sulina totalmente automático. Em compa- de autoria da Deputada Federal Flávia Mo-
ração aos sistemas de administração de in- rais, considera o diabetes tipo 1 como defi-
sulina tradicionais, em 13 semanas o iLet® ciência física para efeitos legais. O tema foi
reduziu a hemoglobina glicada de 7,9% pa- amplamente discutido na internet e a SBD Confira o depoimento do
ra 7,3% com 11% a mais de tempo no al- se posicionou favorável à aprovação do PL, Dr. Levimar Araújo.
vo (TIR). A hemoglobina glicada de 7,7% que será analisado pelas comissões de De-
no grupo controle permaneceu inalterada. fesa dos Direitos das Pessoas com Deficiên-
“Uma solução simples propiciada pela tec- cia, de Seguridade Social e Família, de Cons-
nologia”, pontuou em editorial a revista mé- tituição e Justiça e de Cidadania.
dica NEJM. Confira no site da SBD o depoimento do pre-
sidente da SBD, Dr. Levimar Rocha Araújo, e
de outros representantes da entidade.

Homenagem
ARQUIVO SBD

Uma notícia que destoa de tantas positivas:


a SBD lamenta o falecimento da Dra. Renata
Noronha (1974-2022), membro do Departa-
mento de Diabetes tipo 1 (DM1). Formada
na Faculdade de Ciências Médicas de Santos
(SP), Renata fez residência de Pediatria e de
Endocrinologia Pediátrica na Santa Casa de
São Paulo. Médica dedicada e responsável,
além de ser humano ímpar. Deixa saudade e
muitas pessoas gratas por sua existência.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 7


20 a 22 de abril

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Av. Cecília Lottenberg, 130 | São Paulo - SP

EVENTO PRESENCIAL | VAGAS LIMITADAS

INSCRIÇÕES ABERTAS!
O SITEC – Simpósio Internacional de Tecnologias em Diabetes
é um dos mais importantes e tradicionais eventos da SBD e será
realizado, presencialmente, em São Paulo, nos dias 20, 21 e 22 de abril.

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na Plataforma e inscreva-se no SITEC 2023.

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ORGANIZAÇÃO E REALIZAÇÃO PRODUÇÃO COMERCIALIZAÇÃO


Sig@

6 perfis de
famílias-pâncreas
Por Bia Scher | @biabetica
Empreendedora e diabetes influencer.
Tem diabetes tipo 1 desde 2000
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

V
ocê já ouviu as expressões mãe- do filho frequentemente pois, muitas vezes,
-pâncreas ou pai-pâncreas? São a criança ainda nem sabe dizer que está se No nosso time também tem
formas carinhosas de nos referir- sentindo mal, com sintomas de hipo ou hi- mãe-pâncreas!
mos a quem tem filho com diabe- perglicemia. O desafio é diário. Tenho diabe- Em 2012, a filha caçula da
tes tipo 1 (DM1), já que a maioria dos casos tes desde os 6 anos e sei o trabalho que ele nutricionista e conselheira
de DM1 é diagnosticada na infância. Como a dá aos pais! Por isso meu reconhecimento e da DIABETESMagazine, Mar-
criança não tem a maturidade necessária pa- carinho aos anjos cuidadores que fazem o tha Amodio, foi diagnostica-
ra cuidar do próprio diabetes, os pais geral- papel do pâncreas de muitas crianças com da com DM1. A informação
mente assumem este papel. diabetes tipo 1. ajudou muito a família! No
Eles precisam aprender tudo o que for pos- A seguir, confira seis perfis no Instagram de perfil @nutrimarthaamodio,
sível sobre diabetes e monitorar a glicemia mães e pais-pâncreas. Martha compartilha dicas
nutricionais relacionadas a
condições crônicas auto-
imunes.
@meudocerafael @jack_oficialcorreia
Estudante de nutrição, Ana Jaqueline Correia é presiden-
Carolina Torelly fala sobre ali- te do Instituto Diabetes Bra-
mentação saudável e dicas que facili- sil e, ao lado de outras famílias, luta pe-
tam o dia a dia na escola. los direitos das crianças com diabetes.

@rafaelparanhospaipancreasadv @mamaeinsulina
Pai-pâncreas da Jordanna, o Mãe do Arthur, de 4 anos, Do-
advogado Rafael Paranhos minique Correia compartilha
divide um pouco do seu cotidiano e in- a rotina e reflete sobre os desafios de
formações sobre os direitos jurídicos cuidar de uma criança com DM1! Alto
da pessoa com diabetes. astral não falta no perfil dela.

@maepancreas @paipancreas
Educadora em diabetes e es- Thiago Mota trabalha com
tudante de nutrição, Chris- tecnologia e ensina como
tine Rolke criou um curso online para configurar o AndroidAPS, uma tecnolo-
ajudar mães e pais a navegarem pelas gia ainda não aprovada no Brasil, mas
turbulentas águas do início do diagnós- usada por algumas pessoas com auxílio
tico do diabetes. e aprovação dos seus médicos.

10 DIABETESmagazine · Edição 03
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e
Dicionário do diabetes
Por Letícia Martins | @leticiamartinsjornalista
Jornalista e editora-chefe da DIABETESmagazine
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

C K
hegamos à metade da nossa viagem cal
pelo alfabeto e lanço aqui um desa- Sigla para kilocaloria, medida utili-
fio: quais palavras ou termos relacio- zada para definir o valor energético
nados ao diabetes vêm à sua mente dos alimentos. É comum encontrá-
com as letras E, I, K, V e Y? Enquanto pensa, -la nas tabelas nutricionais de produtos ou de
deixo a seguir a explicação de alguns deles receitas. O bolo de caneca sugerido pelas nu-
que provavelmente você já ouviu depois do tricionistas na edição 02 da DIABETESmaga-
diagnóstico. zine, por exemplo, tem 87 kcal. Bem levinho!
Além das calorias, é importante saber a quan-
tidade de carboidratos, proteínas e gorduras,
entre outros nutrientes, para fazer boas es-

I
colhas. Como sempre destacamos aqui na re-
MC vista, informação e conhecimento são funda-
Tão importante quanto compreender o mentais para encontrar o equilíbrio.
significado desta sigla é afastar qualquer
pré-julgamento. Índice de Massa Corporal
é a medida adotada pela Organização Mun-
dial de Saúde para avaliar se uma pessoa es-
tá acima do peso adequado. Ele é calculado

E
dividindo o peso (em kg) pela altura ao qua-
drado. A fórmula é esta: IMC = Peso ÷ (Altu- quilíbrio
ra × Altura). Se o IMC estiver entre 25 e 29,9, Você pode não ter se dado conta ain-
a pessoa está com sobrepeso. Acima de 30, da, mas esta palavra é uma das mais
classifica-se como obesidade. Em ambos os importantes no tratamento do diabe-
casos, é fundamental consultar o médico, tes! Afinal, se há pouco mais de um século
pois o excesso de peso pode desencadear quem tinha diabetes era proibido de comer
outras condições crônicas, como o diabetes diversos alimentos, hoje já é consenso na
tipo 2. Outra sigla que também tem relação medicina e na nutrição que os excessos (para
com quilo é kcal. mais ou para menos) não são benéficos. Sal-
vo algumas exceções, como no caso de quem
tem doença celíaca que não deve comer glú-
ten, por exemplo, a moderação na hora das
refeições é uma boa estratégia. Portanto, pes-
soas com diabetes podem comer alimentos
fontes de carboidratos, como a yacon.

12 DIABETESmagazine · Edição 03
Diabetes de A a Z

Y F
acon ake news
Originária da Cordilheira dos An- A expressão em inglês é bem conhe-
des, a batata yacon foi introduzida cida dos brasileiros e mais ainda das
no Brasil em 1994, por ser muito pessoas com diabetes. Por acaso al-
adaptável a diferentes condições de clima e guém já te recomendou um chá que cura dia-
solo. Há alguns anos, ela foi considerada um betes ou afirmou que você desenvolveu dia-
superalimento, por ter baixo valor calórico betes tipo 1 pois comeu muito doce? Nas
e alto valor nutricional. “Diferentemente de edições anteriores da DIABETESmagazine, o
outros tubérculos que armazenam energia na jornalista Tom Bueno foi atrás desses escla-
forma de amido, a yacon guarda carboidratos recimentos e explicou na seção Falso ou Ver-
na forma de frutooligossacarídeos: FOS pa- dadeiro que ambas as afirmações equivalem
ra os íntimos. Nós não conseguimos digerir a fake news. Na página 20 desta edição, ele
os FOS, que acabam sendo usados como ali- traz resposta para uma dúvida comum princi-
mentos pelas bactérias do nosso intestino”, palmente de quem está com o IMC acima do
explicou o endocrinologista Dr. Mateus Dor- normal: será que emagrecer ajuda a contro-
nelles Severo em texto publicado no site da lar o diabetes tipo 2? Recomendo a leitura!
SBD (acesse o artigo pelo QR Code).
O sabor adocicado e a textura da yacon são
parecidos com os da pera, o que a fez ficar
ainda mais famosinha no passado, receben-
do a alcunha de “batata dos diabéticos” por
algumas pessoas. Mas apesar de tantos be-
nefícios a yacon não poder ser consumida à
vontade e ela não substitui nenhum medica-
mento prescrito pelo seu médico. Se alguém
afirmar que um único alimento é capaz de
proporcionar isso, corra porque é fake news.

Até a próxima!
Na edição nº 04 da DIABETESmagazine, va-
mos trazer outros conceitos e curiosidades
sobre o universo do diabetes.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 13


Diabetes nas escolas
O que diz a lei sobre a responsabilidade das instituições de ensino
em relação ao aluno com diabetes?

Por Maria Eloisa Malieri | @eloebete


Relações-públicas, advogada especializada em Direito à saúde,
mentora do projeto social Elo & Bete. Tem diabetes tipo 1 desde 1985
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

O
ano letivo já começou e há uma nal de saúde à disposição no período esco-
matéria que todos deveriam de- lar, interpreta-se, pelo que diz a lei, que tudo Acesse a íntegra da Lei
bater: a falta de legislação que que acontecer enquanto exerce o dever “in nº Lei 13.722/2018:
regulamente os direitos e deve- vigilando” – segurança em relação ao alu-
res das instituições de ensino em relação ao no decorrente da guarda da criança duran-
aluno com diabetes. Este é um assunto con- te aquele determinado intervalo de tempo
trovertido, polêmico e que impacta de forma – faz com que ela responda civil e criminal-
avassaladora as famílias de crianças e ado- mente pelos seus atos (incluindo a omissão).
lescentes com diabetes. Isso significa que, no contexto do diabetes,
Vamos começar nossa conversa clareando um aluno que passe mal dentro da institui-
um ponto: o fato de o Brasil não possuir nor- ção deve ser assistido, pois é dever da es-
mas específicas sobre este tema não signi- cola utilizar todos os meios possíveis para
fica que não exista amparo nas leis atuais, lidar com a urgência, inclusive chaman-
apesar de este respaldo ser muito frágil, do por socorro. É importante reiterar que o
conforme verificaremos nesta coluna. aluno dentro da escola é responsabilidade
Está previsto na Constituição Federal que é da escola. Para “guardar e vigiar”, a institui-
dever da escola receber todos. Portanto, a ção precisa agir, ou seja, não deve aguardar
criança ou o adolescente que tenha alguma ocorrer prejuízos, mas sim atuar na preven-
condição crônica, como diabetes, tem direi- ção de acidentes, e atendendo ao aluno
to a ser matriculado e permanecer na insti- imediatamente no momento da ocorrência.
tuição de ensino, seja ela pública ou priva- Não prestar socorro é crime previsto no arti-
da. É proibido qualquer impedimento em go 135 do Código Penal.
matricular ou manter a pessoa em razão da Neste sentido, a Lei nº 13.722/2018 tornou
condição de saúde que ela tenha. obrigatória a capacitação em noções bási-
A escola tem o dever de zelar pela segu- cas de primeiros socorros para professores e
rança e integridade física, moral e mental funcionários de estabelecimentos de ensino
dos alunos, possuindo total responsabilida- públicos e privados de educação básica e de
de em relação a tudo aquilo que aconteça recreação infantil.
no período educacional. A responsabilida-
de objetiva da escola em relação aos alu- Mas será que isso é, de fato, uma
nos tem base prevista os artigos 932 e 933 realidade?
do Código Civil e ainda como prestadora de Como mencionei, a escola não é obrigada a
serviços, conforme o artigo 14 do Código de possuir um profissional de saúde dentro do
Defesa do Consumidor. seu estabelecimento. E no que diz respeito
Apesar da inexistência de obrigação legal ao diabetes, não é seu dever medir a glice-
que imponha à instituição ter um profissio- mia ou aplicar a insulina.

14 DIABETESmagazine · Edição 03
Direitos e Deveres

Por outro lado, a escola não pode proibir centes que convivem com o diabetes.
que o aluno use tudo aquilo que é indispen- É comum educadores se depararem com Nesta edição da DIABETES-
sável para o controle da condição, mediante alunos que tenham alguma condição espe- magazine, há outras duas
receita elaborada pelo médico. cial de saúde e é um desafio atender a es- colunas – Visão SBD e Con-
Logo, é preciso separar a lei daquilo que sas necessidades, principalmente no que te Com – que desdobram o
realmente acontece. São inúmeros os obstá- diz respeito às doenças crônicas e suas es- tema do diabetes nas esco-
culos para fazer valer estes direitos. pecificidades, como o diabetes. Mas é tam- las. Vale a pena ler!
Há muitos relatos de famílias que são im- bém evidente a importância de identificar
pedidas de matricular o filho com a descul- tais necessidades desses alunos, dos seus
pa de que não há mais vagas ou mesmo de familiares e dos profissionais envolvidos.
mantê-lo na escola por não haver pessoas Sem isso há um quadro cujo pano de fun-
dispostas a auxiliar nos cuidados em relação do estampa a bem conhecida falta de pre-
ao diabetes durante o período de aula. paro dos professores, a falta de apoio de ou-
Não é raro que a instituição de ensino impe- tros profissionais da saúde, em particular
ça a entrada de qualquer aparelho ou me- do enfermeiro escolar, da falta de inclusão
dicamento necessário para o tratamento do e de uma legislação pouco clara, que deixa
diabetes, mesmo que a receita médica seja de tratar aspectos específicos essenciais ao
apresentada. A alegação das escolas geral- pleno exercício da vida!
mente é que materiais como seringa e agu- A condição inclui a interação entre suscetibi-
lhas, por exemplo, são um perigo para ou- lidade biológica, tratamento e outros fatores
tros alunos. Há ainda casos de escolas que ambientais. Por meio disso, haverá diminui-
impedem o acesso dos responsáveis pa- ção das angústias causadas pelo diagnósti-
ra monitorar a glicemia do filho, corrigir hi- co e convívio com a condição, melhorando a
perglicemia ou hipoglicemia e aplicar insuli- qualidade de saúde e de vida destas crian-
na. Um absurdo, pois a presença dos pais ou ças, principalmente pela percepção de per-
cuidadores é a garantia da saúde e manu- tencimento.
tenção da vida daquela criança, já que le- A luta para que isso se transforme em reali-
galmente a escola não tem obrigação de dade continua e de forma incansável!
ter dentro da instituição um profissional
de saúde que a ampare.
E vou além: mesmo se houvesse a obrigação
ENVATO ELEMENTS

da presença de um profissional de saúde, is-


to não significa que estará capacitado para
assistir um aluno que tem diabetes! Defen-
do que sempre deve existir uma relação de
parceria entre a escola e a família que pos-
sibilite a real inclusão desta criança no am-
biente escolar.

Outro problema corriqueiro


Alunos com diabetes são alvos de bullying,
sem que haja intervenção da instituição. Ao
abster-se de interceder (o que consubstan-
cia crime), permite a marginalização daquele
aluno e, consequentemente, pelo ambiente
prejudicial que se cria, obriga a família a re-
tirar seu filho da escola. Aguarde!
Estas são algumas das inúmeras arestas Na próxima edição da
(cruéis, diga-se de passagem) que devem DIABETESmagazine, vamos
ser aparadas quando o tema envolve diabe- conversar mais sobre ou-
tes nas escolas. Elas demonstram a fragili- tros direitos importantes
dade da legislação existente e a omissão de para quem tem diabetes.
regras que configurem a seriedade de tudo Até lá!
que envolve o dia a dia de crianças e adoles-

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 15


Tire suas dúvidas
Selecionamos as perguntas que surgem frequentemente nas redes sociais
e convidamos alguns profissionais da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD)
para responder. Acompanhe!

Por Bia Scher | @biabetica


Empreendedora e diabetes influencer.
Tem diabetes tipo 1 desde 2000
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

Como o sono pode afetar no Pré-diabetes


controle glicêmico? tem reversão?

Dormir com qualidade é tão impor- Consideramos que a pessoa tem pré-
tante para a saúde quanto se alimen- -diabetes quando a hemoglobina gli-
tar bem e manter uma prática regular cada, exame de sangue que mostra a
de atividade física. Isso vale para to- média dos três últimos meses de gli-
das as pessoas, mas quem tem diabe- cemia, está entre 5,7% e 6,4%. Sem
tes precisa redobrar a atenção, já que tratamento, o risco de desenvolver
uma noite mal dormida pode afetar a complicações é alto. Por isso, algu-
produção da insulina, da melatonina, mas medidas são emergenciais, en-
de hormônios gastrointestinais, entre tre elas melhorar a alimentação. Evitar
outros aspectos fisiológicos. Por is- o consumo em excesso de carboidra-
so, é fundamental definir uma rotina tos, açúcar e gordura é fundamental.
diária de sono e segui-la. No caso de Atenção redobrada para quem tem
crianças e jovens, essa tarefa pode ser circunferência abdominal aumenta-
um pouco mais difícil, principalmen- da. Nesses casos, emagrecer faz parte
te na volta das férias escolares, mas do tratamento e, conforme a situação,
os pais precisam exercer papel mais o médico pode indicar medicamen-
assertivo, pelo menos na primeira in- tos para ajudar na perda de peso e no
fância, fase em que até o crescimen- controle glicêmico. Ou seja, é possível
to corporal pode ser influenciado por evitar que o pré-diabetes evolua para
noites irregulares. o diabetes tipo 2. Tudo começa com
Dra. Monica Gabbay, coordenadora mudanças de hábitos e adoção de um
do Dep. de DM1 Pediátrico da SBD estilo de vida saudável.
Dr. Levimar Rocha Araújo, presiden-
te da SBD

16 DIABETESmagazine · Edição 03
Papo com Especialistas

Participe!
Caroço na região da barriga Todas as pessoas com diabe- Envie sua pergunta para:
tem relação com insulina? tes podem fazer cirurgia bariá-
trica? @diabetessbd
Uma condição comum em pessoas que
aplicam injeções de insulina frequen- Essa é uma pergunta muito comum nos @SBD.Diabetes
temente no mesmo local é a lipohiper- consultórios e a resposta é não. A cirur-
trofia, caracterizada por um acúmulo de gia metabólica é indicada para pessoas administrativo@diabetes.org.br
gordura nessa região do corpo. O teci- com diabetes tipo 2, com índice de mas-
do da pele com lipohipertrofia sofre le- sa corporal (IMC) acima de 35 que ten-
sões fibrosas e fica endurecido porque taram o tratamento convencional, mas
não recebe sangue suficiente. Esse qua- não tiveram resultado adequado. Levan-
dro nem sempre causa dor, mas o pro- do em consideração que qualquer cirur-
blema é que prejudica a ação da insu- gia tem risco envolvido, o médico pre-
lina. Muitas vezes, a pessoa aumenta a cisa avaliar caso a caso. Assim, quando
dose de insulina, porque acha que ela os benefícios superam os riscos, a cirur-
não está agindo adequadamente, mas, gia metabólica se torna uma boa alter-
na realidade, o tempo de absorção do nativa para pessoas com os critérios ci-
hormônio é que foi alterado devido à li- tados acima.
pohipertrofia. Com isso, a glicemia po- Dr. André Vianna, coordenador do Dep.
de ficar descompensada. Por essa razão de Educação e Campanhas da SBD
é importante realizar o rodízio dos lo-
cais de aplicação de insulina, bem como
trocar a agulha da seringa ou da cane-
ta após o uso. Já quem utiliza bomba de
insulina deve substituir o cateter a ca-
da três dias. ENVATO ELEMENTS

Gabriela Cavicchioli, coordenadora do


Dep. de Enfermagem da SBD

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 17


Tapete Azul

A nova versão de
Babu Santana
Ator que interpretou Tim Maia no cinema recebeu o diagnóstico de diabetes tipo 2
depois da suspeita de Covid-19.

Por Tom Bueno | @umdiabetico


Jornalista e criador do canal Um Diabético na
Internet. Tem diabetes tipo 1 desde 2006
FOTO: JOÃO P. TELES

B
abu Santana é daqueles artistas tade, mas busca sempre o equilíbrio, princi-
completos: é ator, cantor e ex-par- palmente em relação aos alimentos, “Eu era
ticipante do maior reality show do um cara viciado em refrigerante, tomava de
Brasil, o Big Brother. Com 43 anos 2 a 4 litros por refeição”, revelou Babu.
de idade e mais de 20 de carreira, Babu fi- Nas redes sociais, Babu compartilha sua his-
cou conhecido nacionalmente em 2014 de- tória, mostrando a importância da prevenção
pois de interpretar um dos principais nomes e dos cuidados que a pessoa com diabetes
da música brasileira, Tim Maia. Sua atuação precisa ter: “O negócio é não ficar parado”.
no filme rendeu duas vezes o Grande Otelo,
maior prêmio do cinema brasileiro.
DIVULGAÇÃO

O artista carismático, talentoso e muito


transparente conta com milhões de fãs nas
redes sociais.
Em junho de 2021, em um momento críti-
co da pandemia, ele foi internado na Uni-
dade de Terapia Intensiva (UTI) com suspei-
ta de Covid-19. Mas o problema não era a
contaminação pelo coronavírus. O ator apre-
sentava um quadro de diabetes tipo 2 des-
compensado, ou seja, o nível de glicose no
sangue estava alto. “Quando eu tive uma
crise de cetoacidose, logo percebi que eram
problemas associados à obesidade e ao dia-
betes. Meu corpo estava entrando em colap-
so”, disse.
Depois do susto, Babu buscou informação
sobre diabetes e obesidade e aderiu a novos
hábitos alimentares, estilo de vida mais sau-
dável, tratamento adequado e acompanha-
mento médico frequente. Nascia, então, um
Babu Santana preocupado com a saúde físi-
ca e mental. Foi assim que o ator conseguiu
perder peso e melhorar o controle glicêmico. Babu Santana: “O negócio é não
Hoje, ele não deixa de fazer o que tem von- ficar parado."

18 DIABETESmagazine · Edição 03
Rede de Apoio

Lugar de acolhida
Associações apoiam quem recebe o diagnóstico de uma condição crônica de saúde.

Por Letícia Martins | @leticiamartinsjornalista


Jornalista e editora-chefe da DIABETESmagazine
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

E
spaços onde pessoas com dúvidas, projetos de conscientização da sociedade
medos e dificuldades semelhantes se em geral; e na capacitação de pessoas com Contatos:
reúnem para encontrar conforto, divi- diabetes, familiares e profissionais de saú-
dir preocupações e buscar melhores de, promovendo cursos de contagem de car- ACEDH
condições de tratamento. boidratos e palestras.
Assim são as associações de apoio a pessoas @acedh_diabetes
com diabetes e hipertensão. A seguir, apre- DIVULGAÇÃO

sentamos três delas, que realizam um im- @acedh_diabetes


portante trabalho de prevenção, educação
e orientação. (85) 98790-6312

ACEDH ADIES
Fundada em 2006, a Associação Cearense
de Diabéticos e Hipertensos (ACEDH) realiza @adiesdiabeticoses
encaminhamento para exame de fundo de
olho, grupo de atividade física, treinamen- ADIP (27) 99251-7220
to funcional, orientação nutricional e rodas As dificuldades e aprendizados adquiridos
de conversa com psicóloga. Com os muti- depois de receber o diagnóstico de diabetes www.adies.com.br
rões de saúde, a equipe da ACEDH percorre tipo 1 do filho Enzo, então com nove meses
vários bairros de Fortaleza realizando testes de vida, foram combustíveis para a jornalista ADIP
de glicemia, aferição da pressão arterial e do Jeane Mello fundar em 2011, com o apoio de
índice de massa corporal. outras pessoas, a Associação dos Diabéticos @adipiaui2011
do Piauí (ADIP). A instituição acolhe diversas
famílias e hoje é presidida pela mãe-pân- @adipiaui
DIVULGAÇÃO

creas Márcia Letícia de Sousa Ramalho, que


descobriu o diabetes da filha recentemen- adipiaui@gmail.com
te. O ciclo se renova enquanto os círculos de
amizade e apoio mútuo se expandem.
VALDETE MARTINS

ADIES
Em Vitória, a Associação de Diabéticos do
Espírito Santo e Amigos (ADIES) atua há qua-
se 10 anos em duas frentes: na prevenção
das complicações do diabetes, por meio de

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 19


Falso ou Verdadeiro?

Emagrecer ajuda a
controlar o diabetes?
Por Tom Bueno | @umdiabetico
Jornalista e criador do canal Um Diabético na
Internet. Tem diabetes tipo 1 desde 2006
FOTO: JOÃO P. TELES

O
sobrepeso e a obesidade são fa- gravidade da doença, é possível alcançar a
tores de risco para o desenvol- “remissão” da condição crônica. Na prática, é
vimento do diabetes tipo 2, que como se o diabetes ficasse adormecido en-
afeta em média 9 em cada 10 pes- quanto o peso e os hábitos saudáveis forem
soas com diagnóstico da doença no Brasil. mantidos. “Os estudos mostram que quan-
Diante disso, será que emagrecer ajuda a to mais cedo essas mudanças acontece- VERDADEIRO
controlar o diabetes? rem, maior a chance de remissão do diabe-
Vale reforçar que o diabetes é uma doen- tes”, reforça a Dra. Denise Franco. Portanto,
ça crônica que altera a forma como o corpo é verdade que perder peso ajuda a contro-
processa o açúcar no sangue. Quando uma lar o diabetes e, dependendo do caso, pode
pessoa tem diabetes, o corpo dela não con- ocorrer a remissão da doença crônica.
segue produzir ou usar a insulina de manei- FALSO
ra eficiente, o que pode levar a níveis eleva-
dos de açúcar no sangue. Saiba mais
Existem dois tipos principais de diabetes: ti- Gravei um vídeo para o
po 1 e tipo 2. O diabetes tipo 1 é uma doen- meu canal do YouTube ex-
ça autoimune em que o sistema imunológi- plicando como o excesso
co do corpo ataca as células responsáveis de gordura age no corpo e
pela produção de insulina. O diabetes tipo entrevistei o endocrinolo-
2, por outro lado, é o tipo mais comum e ge- gista Dr. Rodrigo Siqueira,
ralmente ocorre quando o corpo não conse- que falou um pouco mais
gue usar a insulina de maneira eficiente. sobre este assunto.
Quando as pessoas com diabetes emagre-
cem, com hábitos saudáveis e tratamento
ENVATO ELEMENTS

adequado, seus corpos ficam menos resis-


tentes à insulina e seus níveis de açúcar no
sangue podem diminuir. Além disso, a per-
da de peso pode melhorar outros proble-
mas de saúde relacionados ao diabetes, co-
mo hipertensão e colesterol alto. Por isso, é
importante contar com o acompanhamento
de um médico e nutricionista para garantir
que a perda de peso seja feita de maneira
saudável e que o corpo receba todos os nu-
trientes necessários.
A médica endocrinologista Dra. Denise Fran-
co explica que perder peso pode ser tão
benéfico para quem tem diabetes que, de-
pendendo do tempo de diagnóstico e da

20 DIABETESmagazine · Edição 03
Mães-pâncreas e o
desafio da educação
Conheça a história de três mães comprometidas com a causa do diabetes.

Por Maria Eloisa Malieri | @eloebete


Relações-públicas, advogada especializada em Direito à saúde,
mentora do projeto social Elo & Bete. Tem diabetes tipo 1 desde 1985
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

N
a coluna Direitos e Deveres, con- temente confundido com o diabetes tipo
versamos sobre a ausência de uma 2. Por isso, ela decidiu formar uma roda de
legislação específica quando o as- conversa com os profissionais das escolas
sunto é diabetes nas escolas. Além para orientar sobre o diabetes.
disso, há outro problema que não é da ma- Assim surgiu o projeto @doceinfanciatipo1,
temática, mas da sociedade em geral: a falta que conta com um perfil no Instagram e já
de informação sobre diabetes tipo 1 (DM1)
nos ambientes escolares. É indiscutível a lu-
ta de milhares de mães que defendem a vi-
ARQUIVO PESSOAL

da e o direito de seus filhos de fazer parte


de qualquer meio em que estejam. Conver-
sei com três mulheres e mães maravilhosas,
que encontraram fórmulas diferentes para
lidar com essa questão.

Um problema que virou lei


Mãe de duas meninas, a pedagoga Clí-
cia Moraes, de Maricá (RJ), relata que teve
poucos problemas nas escolas, tanto públi-
ca quanto privada, em que a filha mais ve-
lha, Ana Luísa, de 14 anos, diagnosticada
com diabetes tipo 1 em 2013, estudou, pois
sempre levou informações sobre o DM1 pa-
ra as instituições.
Contudo, há cerca de 5 anos, Clícia passou
a receber relatos de outras mães sobre es-
colas que impediam os alunos de entrarem
com glicosímetros sob a esdrúxula alegação
de se tratar de objeto cortante, que coloca-
ria a vida de outros em risco.
A pedagoga disse que não julga tal compor-
tamento, por se tratar, na maioria das vezes, Clícia Moraes: projeto de edu-
de falta de informação, já que o diabetes ti- cação em diabetes nas escolas
po 1 ainda é pouco conhecido e constan- inspirou lei em Maricá (RJ).

22 DIABETESmagazine · Edição 03
Visão SBD

extrapolou os limites da internet. O projeto Janice Sepúlveda para fazer parte do Proje-
serviu de base para a aprovação da Lei nº to Diabetes nas Escolas, intensificando ain-
3.236/22 de Maricá (RJ), que garante a obri- da mais a divulgação de informações corre-
gatoriedade de formação de educação em tas em prol da causa”.
diabetes nas escolas do município, além de A estudante de nutrição Luciana Mourão,
uma parceria com a Secretaria Municipal de que também mora na capital mineira, criou o
Saúde para identificação e encaminhamen- perfil @ananoseudiabetes no Instagram pa-
to dos casos de DM1 para tratamento. ra formar uma rede de apoio e compartilhar
Mas a lei por si só não mudará a realidade. experiências através do seu olhar, bem como
Provavelmente iremos nos deparar com pro- através do olhar da filha adolescente Ana.
blemas que ultrapassam regras impostas pe- Assim como Clícia, Juliana e tantas outras fa-
la legislação, como a resistência de pessoas mílias, Luciana trava uma batalha para ter
em aprender sobre algo que não faz parte condições e tranquilidade de deixar a filha
do seu cotidiano e usar a falta de conheci- na escola com segurança. A rotina com dia-
mento para justificar atos que confrontam betes se torna pesada com tantos obstácu-
direitos constitucionais, como a dignidade los ao longo do caminho, quando, na ver-
humana, saúde e vida. dade, o que deveria existir é a união de
Para que a lei seja respeitada e cumprida, esforços para que a normalidade da vida
será necessário conscientizar a população seja uma realidade e que as expectativas
para abraçar a coletividade em toda a diver- sejam norteadas pelo desenvolvimento da
sidade que ela representa: julgar menos, criança e não pelo diagnóstico do diabetes
ouvir mais, aprender e se mobilizar sobre e seu tratamento.
algo que nem sempre integra a sua vida,
mas atinge a do próximo, marginalizando-
-o do convívio social e saudável.
ARQUIVO PESSOAL

Dividir para multiplicar


Por tudo que viveu e ainda tem vivencia-
do como mãe-pâncreas do Davi, de 9 anos,
diagnosticado com diabetes tipo 1 em
2018, a relações-públicas e locutora Juliana
Gandolfo, moradora de Belo Horizonte (MG),
relata que muitas escolas estão desprepa-
radas para atender a crianças com a condi-
ção. “Faltam inclusão, empatia e acolhimen-
to”, afirma. A opinião foi formada a partir da
experiência própria. “Muitas vezes me sinto
sozinha e parece que meu dialeto é pouco
compreendido ou até ignorado. Sou taxada
como a mãe mais exagerada ou aquela cha-
ta da escola”, disse Juliana.
Ela explica que a falta de parceria das es-
colas coloca em risco a segurança da crian-
ça que, para gozar da sua saúde, precisa de
cuidados especiais na gestão do seu tra-
tamento. Em vez de se acanhar ou deixar
para lá, Juliana criou o perfil no Instagram
@o_diario_de_uma_mãe_pancreas_ para
dividir suas experiências, informações e car-
tilhas sobre diabetes, quebrando mitos e
preconceitos. “Depois de muitas lives, cria-
ção de conteúdos relevantes e participa- Juliana Gandolfo: empatia é a
ção em várias discussões sobre o assunto, grande lição que precisamos
fui convidada pela equipe de saúde da Dra. aprender enquanto sociedade.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 23


Visão SBD

Juntos na formação escolar

ARQUIVO PESSOAL
É fundamental compreender a importância
do período escolar no crescimento da crian-
ça e como a escola pode contribuir para o
avanço cognitivo do aluno. Luciana aponta
um viés essencial nesta estrutura comple-
xa e que precisa ser alinhada e conectada:
o papel da equipe médica para proporcio-
nar que a criança incorpore o diabetes na
sua vida com a leveza que deve existir.
O médico que a acompanha deve utilizar to-
do o seu conhecimento para adequar o tra-
tamento ao período de horas que o aluno
permanecerá na escola, prescrevendo insu-
linas que possam evitar hipo ou hiperglice-
mia, facilitando a ingerência no controle da
glicemia, a interferência do pai ou da mãe
de forma presencial e auxiliando a escola na
importante função de cuidar desta criança. Luciana Mourão: experiências de
Assim, além de legislação, empatia e infor- mãe e filha compartilhadas na
mação, fica evidente que este tema ma- internet ajudam outras famílias.
cro “diabetes nas escolas” também envolve
um trabalho multidisciplinar. Sabemos que tos aumentem e a adesão ao tratamento não
o controle do diabetes ultrapassa a gestão ocorra. No entanto, esse impacto depende-
da glicemia, pois outros fatores impactam os rá da percepção da pessoa com diabetes e
níveis de açúcar, como qualidade do sono, de sua família, do modo como lidam com o
apetite, ansiedade e irritabilidade, que in- autocuidado da condição e o funcionamen-
terferem na capacidade do automanejo do to da família como um todo.
diabetes. Em resumo, a luta se dá em diferentes fren-
Não podemos ainda desprezar que crianças tes, todas muito importantes e associadas.
com DM1 são mais frágeis ao lidar com algu- Caso uma fraqueje, a outra não se desenvol-
mas situações, pois podem apresentar senti- ve e, consequentemente, não se fortalece.
mentos de inferioridade, insegurança e alie- Então, como diz o ditado, a união faz a força
nação. Nesse estágio de vulnerabilidade, se e a soma de tantas vozes conseguirá ecoar!
os requisitos do tratamento excluem a crian- Continuemos persistindo, lutando e acredi-
ça da vida social ou a fazem se sentir dife- tando que o amor e a solidariedade poderão
rente do grupo, a tendência é que os confli- mudar tudo!
ENVATO ELEMENTS

24 DIABETESmagazine · Edição 03
46 anos de vida,
46 anos de diabetes tipo 1
Renata Avendano foi capa de revista nos anos 1970, como um caso raro de bebê
com diabetes. Hoje, ela coleciona histórias de uma “diabética raiz”.

Por Luciana Oncken | @vivercomdiabetes_luoncken


Jornalista, contadora de histórias e autora do blog Viver com Diabetes.
Tem diabetes MODY
FOTO: LEANDRO GODOI

E
la era uma bebê de oito meses quan- “Diabetes no bebê: um caso raro”.
do começou a apontar para o filtro Em busca de mais informações, o pai assinou
pedindo água. Esse seria o primei- uma revista americana sobre diabetes. “Mi-
ro sintoma da condição crônica que nha mãe conta que, apesar de ter sido mui- A forma como a fa-
acompanha Renata Moraes Oliveira Aven- to difícil cuidar de mim com diabetes, conse-
mília cuida, entende
dano praticamente a vida toda. Certo dia, a guimos superar as adversidades”. Uma delas
pequena Renata começou a chorar sem pa- foi viajar de Brasília até Belo Horizonte para e enxerga o diabetes
rar. Os pais a levaram ao pediatra que deu o consultas com o pediatra, que tinha certa ex- terá impactos positi-
diagnóstico de otite e a orientação de ofere- periência atendendo a crianças com diabe- vos ou negativos para
cer bastante refrigerante porque estava de- tes. O pai a levou, inclusive, até Washington, toda a vida da pessoa.
sidratada. Mas o estado geral de saúde pio- nos Estados Unidos, para ouvir a opinião de
rou muito e teve que ser levada ao hospital. especialistas.
Veio, então, o diagnóstico de diabetes tipo 1. Para Renata, o envolvimento da família é de
Como era incomum bebês com essa condi- fundamental importância. “A forma como a fa-
ção, não se sabia a quantidade de insulina a mília cuida, entende e enxerga o diabetes te-
ser administrada e Renata recebeu uma do- rá impactos positivos ou negativos para toda
se excessiva. O resultado foi um coma hipo- a vida da pessoa com o diagnóstico”, conside-
glicêmico que durou 24 horas. “Hoje estou ra. “No meu caso, fez total diferença ter uma
aqui, para a glória de Deus, contando a mi- mãe que estava sempre presente, me apoian-
nha história. Sou cristã. Deus é fundamental do e incentivando, e a forma como ela enca-
na minha vida e sem Ele eu não estaria on- rava a situação, com positividade e leveza.”
de estou”. Além do esforço dos pais, Renata reconhece
Nascida em Brasília (DF) e a mais velha de o papel importante do padrasto José Carlos e
três irmãos, Renata desbravaria um mundo dos irmãos Flávia, Juliana e João Paulo.
até então desconhecido para seus pais, Ana A infância com diabetes foi restritiva na
Cristina e Diógenes, que nunca tinham ouvi- questão alimentar. “Eu ia em festas de crian-
do falar de diabetes em criança. O tratamen- ça e não comia praticamente nada. As pes-
to na época não contava com muitos recur- soas sentiam pena por eu não poder comer
sos. Certo dia, Ana Cristina resolveu escrever doce e por ter que usar insulina”, conta Re-
para a revista Pais & Filhos pedindo orienta- nata. Apesar de toda desinformação, ela não
ção sobre alimentação de crianças com dia- se lembra de ter sofrido bullying ou algum ti-
betes. E lá estava Renata, um tempo depois, po de preconceito.
estampando a capa da revista sob o título Na adolescência, ela só queria poder ter a li-

26 DIABETESmagazine · Edição 03
Doce História

GABI AINE
Deram 12 anos de
expectativa de vida
para ela, que hoje
acumula quase meio
século de histórias
de superação.

berdade de comer tudo sem restrição. “Aca- toda minha experiência e tantos recursos
bava comendo muito escondido. Também tecnológicos que temos de tratamento, ima-
sentia vergonha de expor a doença e não gino como deve ter sido difícil para mim e
contava para quase ninguém”. Mas ela diz para meus pais.
nunca ter se revoltado ou deixado de seguir As histórias ao longo desses 46 anos de vi-
o tratamento proposto. da são muitas. Em algumas delas, o diabetes
está no centro. Em outras, o diabetes vira de-
“Nasci para cuidar” talhe, como sua história com o marido, José
A menina que praticamente não conheceu Rômulo, com quem está casada há sete anos.
a vida sem diabetes queria ser médica. Não Ela o conheceu em uma festa, quando já usa-
passou no vestibular e acabou optando pe- va bomba de insulina. “Como eu estava de
la enfermagem. “Quando iniciei o curso de vestido, a bomba estava presa no meu sutiã
enfermagem, vi que era exatamente o que e logo pensei: ‘se ele me abraçar vai sentir a
eu queria: eu nasci para ser enfermeira, pa- bomba e vai perguntar o que é. Vou mostrar
ra cuidar”, ressalta. Começou a trabalhar com logo e dizer que sou diabética. Se ele não
diabetes em um hospital pediátrico no ano quiser, melhor já saber logo’. Então, do nada,
2000. O caminho foi se construindo aos pou- tirei a bomba do sutiã e falei, “olha, uso uma
cos, com muita pesquisa e estudo e acabou bomba e sou diabética”. A reação dele foi
se especializando na área. Para ela, ter dia- muito tranquila, segundo Renata. “Ele sim-
betes e trabalhar com a condição faz toda di- plesmente me disse que o pai também era e
ferença. “É a empatia de se colocar no lugar pronto. Começamos a namorar e o diabetes
do outro. E, ao me ver e conhecer a minha é um detalhe no nosso casamento. Meu ma-
história, as pessoas com diabetes sentem alí- rido deu sorte de ter me conhecido numa fa-
vio, conforto, consolo e esperança”, destaca. se de mais maturidade e de bons controles”.
Renata se considera uma “diabética raiz” Como toda pessoa com diabetes, Renata so-
que enfrentou muitas adversidades e dificul- nha com a cura, mas se ela não vier, que ve-
dades numa época sem informações e sem nha a possibilidade de melhores tratamen-
muitas possibilidades de tratamento. “De- tos, mais automatizados e tecnológicos, e
ram-me 12 anos de expectativa de vida. Eu mais acesso. O desejo é de um futuro sem
não percebia as dificuldades, mas hoje, com complicações da doença.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 27


Marina Cavalin (à esquerda)
e Fernanda Claudino: melhor
controle glicêmico com a
tecnologia.

ALE CARNIERI
Capa

SENSORES de glicose
Eles revolucionaram a forma de controlar o diabetes e aumentaram
o conhecimento sobre a ação da insulina e dos alimentos no corpo.
E o melhor: sem as inúmeras picadas nas pontas dos dedos.

Por Letícia Martins | @leticiamartinsjornalista


Jornalista e editora-chefe da DIABETESmagazine
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

O
s sensores de glicose mudaram o dirigindo e fico com dúvida sobre a glicemia,
jeito de controlar e até de encarar peço ajuda dos meus filhos para fazerem a
o diabetes. Que o diga a nutricio- leitura do sensor. É rapidinho! Em compro-
nista Marina Cavalin, de 22 anos, missos profissionais, ele permite a aferição
que mora em Curitiba (PR) e foi diagnosti- mais discreta também e nas atividades físi-
cada com diabetes mellitus tipo 1 (DM1) em cas proporciona o acompanhamento sem ter
2011. Na época, ela sentia um pouco de ver- a necessidade de parar os treinos”, diz a ad-
gonha de medir a glicemia em público, prin- vogada Fernanda Claudino, de 44 anos, que
cipalmente por não conhecer ninguém com também mora na capital paranaense e tem
a mesma condição de saúde. “Uma das mi- DM1 desde 2004.
nhas maiores dificuldades após o diagnós- Ao trocarem as múltiplas picadas diárias do
tico foi achar que eu era a única que tinha glicosímetro por um sensor de glicose, Mari-
diabetes no mundo e que teria que lutar es- na e Fernanda ganharam também em infor-
sa batalha sozinha. Quando conheci outras mação. “Com ele, consigo acompanhar a va-
pessoas com diabetes e que eram saudá- riabilidade glicêmica e saber como a minha
veis, me senti representada e quebrou es- glicemia se comporta de acordo com os ali-
se paradigma da vergonha”, conta. “Hoje, ao mentos que consumo. Por exemplo, se eu
ver alguém com o sensor no braço, logo me comer um pão puro, a resposta glicêmica vai
identifico e puxo conversa.” ser totalmente diferente do que se eu op-
A referência ao sensor de glicose indica que tar por um pão com ovo. Acompanhar isso no
a tecnologia aproxima as pessoas e ela tam- sensor é muito interessante”, afirma Marina.
bém traz vários benefícios, como maior ade- “O sensor me dá calma e paz pois tenho in-
são ao tratamento e facilidade de controlar formações da minha glicemia disponíveis o
a taxa de açúcar no sangue. “Quando estou tempo todo”, completa Fernanda.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 29


Outro grande benefício dos sensores são as

ALE CARNIERI
setas de tendência que ajudam a entender
se a taxa de açúcar no sangue está estável,
subindo ou descendo. “Há muitas publica-
ções científicas demonstrando que a pessoa
com diabetes consegue prevenir hipoglice-
mias lendo esse movimento de tendência da
glicose”, ressalta o médico endocrinopedia-
tra Dr. Mauro Scharf, vice-presidente da So-
ciedade Brasileira de Diabetes (SBD).
Mas o que é exatamente um sensor de gli-
cose? É um aparelho pequeno, que fica ade-
sivado na superfície da pele, sendo ligado
à camada subcutânea por meio de um fila- Marina Cavalin: “Com o sensor,
mento flexível. Ele mede a glicose no líquido consigo acompanhar a variabi-
do interstício (que fica entre as células), for- lidade glicêmica e saber como
a minha glicemia se comporta
necendo dados em tempo real. “Esses dados
de acordo com os alimentos que
ficam salvos e geram gráficos, que o médico consumo.”
pode analisar e fazer os ajustes necessários
no tratamento. Com os gráficos, é possível

ALE CARNIERI
saber quanto tempo a pessoa ficou na meta.
O tempo na meta ideal é acima de 70%, ou
seja, de cada cem medidas que o sensor fi-
zer, o ideal é que 70 delas estejam entre 70
mg/dL e 180 mg/dL”, explica o médico en-
docrinologista de Campinas (SP), Dr. Walter
Minicucci, que foi presidente da SBD no biê-
nio 2014-2015 e, atualmente, é membro do
Dep. de Saúde Digital, Telemedicina e Ino-
vação da SBD.

Tipos de sensores
O Dr. Mauro explica que, no Brasil, exis-
tem dois tipos de sensores: o isCGM
Fernanda Claudino: “O sensor
(intermittently scanned Continous Glucose
me dá calma e paz pois tenho as
Monitoring) e o rtCGM (real-time Continous informações da minha glicemia
Glucose Monitoring). Ambos têm uma acu- disponíveis o tempo todo."
rácia muito boa e permitem saber como a
glicose está antes, durante e depois das re-
feições, de dormir, de fazer uma atividade fí- dispositivos médicos que conseguem enviar
sica, ou seja, a qualquer momento. O isCGM as informações do sensor Libre, por exem-
é o sistema flash FreeStyle Libre, produzi- plo, para o relógio (smartwatch) ou para o ce-
do pelo Abbott e lançado no país em 2016. lular do usuário, possibilitando que, além do
Para obter os valores glicêmicos, o usuário usuário, a família ou responsável pela crian-
precisa escanear a glicose de tempos em ça, por exemplo, receba alertas de hipogli-
tempos, usando um leitor específico ou um cemia ou hiperglicemia. O modelo existente
smartphone. O Dr. Walter recomenda fazer a no Brasil não permite configurar tais alertas,
leitura da glicose pelo menos a cada quatro mas, segundo o fabricante, o FreeStyle Libre
horas, mas é muito comum a pessoa esca- 2 terá esse recurso. Ele ainda não tem data
neá-la várias vezes ao dia. O sensor é insta- oficial para lançamento no país, mas já esta-
lado preferencialmente no braço (indicação mos na expectativa.
do fabricante), dura 14 dias e foi aprovado Já o rtCGM é um sistema de monitorização
para uso em crianças a partir de 4 anos. contínua da glicose, que não precisa da lei-
O Dr. Walter comenta que há ainda outros tura ativa do usuário. Lançado no ano 2000

30 DIABETESmagazine · Edição 03
Capa

pela Medtronic, ele passou a ser integra- tal que sejam considerados os cuidados com
do com a bomba de infusão de insulina em a calibração e a troca regular desses senso-
2008. “Em contato com a glicose no líquido res, uma vez que eles têm vida máxima de
intersticial, o sensor converte esse estímulo 170 horas (sete dias)”, alerta o endocrinolo- Gosto de dizer que o
em um sinal eletrônico, que poderá ser mais gista do Maranhão. A pessoa precisa avaliar sensor é um educador
ou menos intenso, a depender da quantida- ainda os custos mensais envolvidos no tra- portátil, pois possibi-
de de glicose disponível. Quando integrado tamento, pois eles são maiores nos modelos
lita que a pessoa com
à bomba de insulina, o sensor permite que de bomba associados ao sensor.
esse aparelho execute algumas ações auto- diabetes tenha uma
máticas, como a suspensão da infusão de in- Mais conhecimento, percepção das atitu-
sulina se forem detectados baixos níveis de maior autonomia des que ela toma.
glicose, prevenindo assim hipoglicemias”, O sensor de glicose foi uma mudança muito
explica o médico endocrinologista Dr. Wel- nítida e fundamental no tratamento do dia-
lington Santana da Silva Júnior, membro do betes. “Além de melhorar a qualidade de vi-
Dep. de DM1 no Adulto da SBD. “Modelos de da dos pacientes, também facilitou muito
bomba mais modernos são capazes ainda de os ajustes de terapias feitos pelo médico”,
ajustar a dose basal de insulina para corrigir afirmou o Dr. Mauro. Com o sensor, o médi-
eventuais elevações da glicose. Além disso, co pode, por exemplo, identificar excesso ou
podem ser configurados alarmes para auxi- falta de insulina basal ou ultrarrápida, por-
liar o paciente a tomar atitudes no sentido que ele fornece dados de todas as formas e
de evitar variações extremas de glicose (hi- compara terapias anteriores com as atuais.
poglicemias ou hiperglicemias)”, completa o “Gosto de dizer que o sensor é um educador
Dr. Wellington. portátil, pois possibilita que a pessoa com
Os sensores que interagem com as bombas diabetes tenha uma percepção das atitudes
precisam ser calibrados de três a quatro ve- que ela toma. O sensor é uma grande ferra-
zes ao dia com os valores obtidos nos testes menta de educação em diabetes”, declarou
de glicemia capilar. “As bombas de insulina o Dr. Mauro.
com sensor são recomendadas para pessoas Mais uma vantagem: como os dados ficam ar-
com diabetes tipo 1 motivadas, que saibam mazenados em nuvem, é possível acessá-los
contar carboidratos”, destaca o Dr. Welling- à distância, sem necessidade de paciente e
ton. O modelo mais moderno que se encon- médico estarem no mesmo espaço físico.
tra disponível no Brasil (sistema MiniMed™ Além disso, com mais dados disponíveis, é
780G) está aprovado para pessoas com ida- possível que a pessoa tenha mais autono-
de a partir de 7 anos. “Antes de colocar uma mia sobre o próprio tratamento desde que
bomba de insulina com sensor é fundamen- possua conhecimento sobre o que fazer com
SHUTTERSTOCK

“As bombas de insulina com


sensor são recomendadas para
pessoas com diabetes tipo 1
motivadas, que saibam contar
carboidratos.”

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 31


Capa

essas informações. “Sou favorável a que a da vez mais, o conhecimento é descentraliza- Outro grande benefí-
pessoa com diabetes conheça tudo e adqui- do do médico e dos profissionais de saúde e
cio dos sensores são
ra autonomia no tratamento. É muito me- passa para as mãos da pessoa com diabetes.
lhor, por exemplo, que ela saiba como agir Apesar de o custo dos sensores de glico-
as setas de tendência,
se estiver com hiperglicemia, sem precisar se ainda não ser acessível para grande par- que ajudam a enten-
ligar para o médico e perguntar o que tem te da população e de eles não estarem dis- der se a glicose está
que fazer”, expõe o Dr. Walter, que continua: poníveis no sistema público de saúde, o Dr. estável, subindo ou
“Eu também coloco o sensor de glicose em Mauro destaca: “Tendo evidência científica
descendo.
quem tem diabetes tipo 2, principalmente de que usar um sensor melhora a qualidade
se estiver usando insulina, e oriento a voltar de vida da pessoa, diminui hipoglicemias e é
depois de uma semana. Sabe o que aconte- uma ferramenta terapêutica, é fundamental

DIVULGAÇÃO
ce? A pessoa se surpreende com os alimen- o médico orientar todos os seus pacientes.
tos que ingere, pois não imaginava que al- Além disso, é papel dele fornecer às entida-
guns aumentavam tanto a glicemia. Mas aí des públicas e privadas subsídios para aju-
entra a educação em diabetes. Na próxima dá-las a entender que é melhor investir na
vez, ele vai comer uma porção menor, apli- base do tratamento do que ter que lidar com
car mais insulina ou trocar o tipo de alimen- alguma complicação crônica depois”. Ou se-
to e chegará ao consultório com outra visão. ja, educação em diabetes, tecnologias e tra-
A ideia é a tecnologia ensinar o paciente so- tamento adequado formam o tripé que leva
bre diabetes: ele aprende fazendo”. Assim, ca- à melhor qualidade de vida.

Apps para quem usa sensor cose do momento, gráficos e tendência


Na seção Tecnologias (páginas 60 a 62), das variações da glicose. Mostra tam-
a Dra. Monica Gabbay e a Dra. Vanessa bém o estado do sistema de bomba de
Montanari apresentam vários aplicati- infusão de insulina.
vos que facilitam a gestão do diabetes e
a busca por hábitos saudáveis. A seguir, MiniMed™ Mobile
as médicas trazem os aplicativos para Também da Medtronic, é utilizado pelo
quem usa sensor. próprio usuário do sistema MiniMed™
780G para observar dados de sua bom-
LibreLink ba e entender a tendência da glicose em
App oficial do sensor FreeStyle Libre. tempo real na tela do celular, sem ne-
Com ele, o usuário afere a glicose utili- cessidade de mexer na bomba. Permi-
zando seu próprio smartphone. Pode ser te o envio automático de dados para o
utilizado para observar a leitura da gli- software CareLink™ para posterior com-
cose em tempo real, setas de tendência partilhamento de dados via web.
e histórico de nível de glicose. É possí-
vel adicionar notas para monitorar as re- xDRIP
feições e seus horários, aplicação de in- App não oficial que recebe dados de gli-
sulina e exercícios. Apresenta relatórios cose do sensor FreeStyle Libre por meio
de tempo no alvo e padrões diários dire- do dispositivo MiaoMiao, podendo ser
tamente na tela do celular. instalado em smartphone Android via
conexão bluetooth. O xDrip possui a
CareLink™ Connect interoperabilidade entre sistemas An-
App oficial da Medtronic para comparti- droid APS e Nightscout e pode ser utili-
lhamento de dados entre o usuário do zado também em smartwatch tanto para
sistema MiniMed™ 780G, seus cuida- controle dos sistemas, quanto para es-
dores e equipe de profissionais de saú- pelhamento dos dados.
de em tempo real. Oferece dados de gli-

32 DIABETESmagazine · Edição 03
milhoes de pessoas vivendo
com diabetes com o CGM

112@

E provado que uso do sistema


FreeStyle Libre resulta em
melhores resultados
Diabetes na
terceira idade
Não basta viver mais, é preciso viver bem. Por isso, destacamos
alguns cuidados importantes para quem já completou 60 anos.

Por Dra. Dhiãnah Santini | @dra.dhianah_santini


Mestre e doutora em Endocrinologia pela UFRJ.
Coordenadora do Dep. de Educação e Campanhas da SBD
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

N
o Brasil, a pessoa é considerada soas com diabetes, esses problemas podem A expectativa de vida
idosa quando sua idade é igual ou aparecer precocemente, assim como altera-
dos brasileiros ao
superior a 60 anos. A partir dessa ções na retina. E todos sabemos a importân-
faixa etária ela tem alguns direitos cia que a boa visão tem na nossa vida. Logo, nascer era, em média,
específicos garantidos por lei, como atendi- o seu comprometimento leva à insegurança de 77 anos em 2021,
mento preferencial e individualizado em ór- nas atividades habituais, alto risco de queda segundo o Instituto
gãos públicos e privados. e de lesões, o que vai limitando e afastando Brasileiro de Geografia
Por outro lado, algumas dificuldades ou li- a pessoa de suas práticas diárias.
mitações começam a surgir e a pessoa ido-
e Estatística (IBGE).
sa pode precisar de uma atenção maior da E o controle glicêmico?
família no cuidado com o diabetes. Mas isso Ele também pode se tornar mais desafia-
varia de acordo com as condições gerais de dor. Com o avançar da idade, a tendência é
saúde, do grau de autonomia e independên- a pessoa ficar menos ativa. O sedentarismo
cia. Por exemplo, duas pessoas com 72 anos não é bom em nenhuma faixa etária, pois le-
podem apresentar riscos de adoecer e até de va à perda de massa muscular e ao acúmu-
ficar internadas completamente diferentes. lo de gordura, o que piora ainda mais o con-
Uma delas pode estar limitada à cadeira de trole do diabetes.
rodas e com alterações cognitivas, enquanto Uma tendência comum após os 60 anos é
a outra pode ser completamente ativa, capaz a pessoa acordar com a glicemia mais bai-
de andar sozinha, dirigir, fazer atividade físi- xa (hipoglicemia de manhã) devido a uma
ca, entre outras tarefas rotineiras. produção deficiente de glicose no fígado
Por isso, não devemos classificar ou colocar em jejum. A resposta à produção de insuli-
todas as pessoas com mais de 60 anos nu- na também fica mais lenta. Dessa forma, uma
ma mesma categoria de risco em relação à situação frequente é a pessoa acordar com a
saúde. O mais adequado é dividi-las confor- glicose baixa e ter um pico na glicemia após
me a fragilidade da sua saúde no momento. tomar um café da manhã relativamente sim-
É válido destacar que o envelhecimen- ples. Assim, é importante conversar com o
to predispõe algumas questões comuns de médico e ajustar o tratamento, se for o caso.
saúde, como o comprometimento da visão. Além disso, após os 60 anos a pessoa pode
Catarata e alterações de refração ocular, co- apresentar piora da visão, do equilíbrio, da
mo visão turva ou dificuldades para enxer- força, da coordenação e da função renal e
gar de perto, são bastante frequentes após corre maior risco de desenvolver problemas
os 60 anos na população em geral. Em pes- cardíacos. Por todas essas razões, envelhecer

36 DIABETESmagazine · Edição 03
DM2

requer um combo de cuidados necessários. la o diabetes pode causar hiperglicemia,


O primeiro deles é a pessoa idosa passar ao passo que aplicar insulina mais de uma
anualmente na consulta médica com o ob- vez ou em doses altas pode provocar des-
jetivo de identificar precocemente algum maios ou convulsão por hipoglicemia. Esse é
comprometimento cognitivo leve ou de- um aspecto altamente relevante porque as
mência, depressão, incontinência urinária, pessoas mais velhas têm maior risco de de-
dor persistente e fragilidade. Também é fun- senvolver hipoglicemia e de não perceber
damental saber se ela faz uso de múltiplos quando a glicose está baixa ou caindo. As-
medicamentos, o que chamamos de polifar- sim, elas podem passar muito mal ou ficar
mácia. Tudo isso será útil para que a família inconscientes de repente!
e/ou cuidadores possam dar apoio e assis- Algumas dicas para evitar situações de es-
tência à pessoa idosa. quecimento em relação aos remédios são:
• ter uma receita simplificada do seu
Esquecimentos x medicamentos médico;
Outro vilão da idade avançada é o esque- • adotar uma rotina diária em relação aos
cimento. Episódios recorrentes demandam remédios. Por exemplo, tomá-los sempre
atenção especial pois podem ser sinal de no mesmo horário e local;
demência, hipoglicemia ou alterações neu- • deixar perto dos remédios um caderno ou
rológicas do diabetes. bloco de anotações com data e horário de
É muito comum pessoas idosas se esquece- cada medicamento;
rem de tomar o medicamento ou confundir • toda vez que tomar a medicação, colocar
os tipos ou dose do remédio. Dependendo um OK no caderno para saber depois se já
da situação, isso pode ser muito perigoso. tomou a dose certa;
Por exemplo, deixar de tomar o medicamen- • outra opção é o cuidador ou responsá-
to certo pode levar a um pico de pressão ar- vel pela pessoa idosa separar antecipa-
terial, com possibilidade de consequências damente todos os remédios por dia da
agudas emergentes. semana e horário e colocar em um porta-
Esquecer de tomar o remédio que contro- -comprimidos.
ENVATO ELEMENTS

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 37


DM2
ENVATO ELEMENTS

Insulina • hepatite B;
Para os idosos que usam insulina são ne- • Haemophilus influenzae tipo b;
cessários atenção e cuidados especiais pa- • varicela e herpes-zóster.
ra evitar episódios de hipoglicemia e hiper-
glicemia. A ideia é não ser tão rigoroso no Atividade física
controle glicêmico, mas fundamentalmen- Ela também é fundamental na terceira idade!
te evitar as hipoglicemias e manter a glicose Os exercícios regulares, incluindo ativida-
numa faixa segura, mesmo que se tolere va- des aeróbicas, exercícios de levantamen-
lores um pouco mais altos. to de peso e/ou treinamento de resistência,
Recomenda-se considerar o uso do monito- devem ser encorajados a todas as pessoas
ramento contínuo da glicose (veja matéria idosas que podem se envolver com seguran-
de capa) para avaliar o risco de hipoglicemia ça em tais atividades.
em idosos tratados com sulfonilureias ou in- Já para aqueles idosos com diabetes tipo 2,
sulina. Os sensores ajudam a melhorar os re- sobrepeso ou obesidade e capacidade de se
sultados glicêmicos e diminuir a variabilida- exercitar com segurança, deve-se considerar
de da glicose. mudanças na alimentação, no tipo de ativi-
dade física e na perda de peso modesta (por
Imunidade exemplo, de 5% a 7%), a fim de proporcio-
Com o avanço da idade, a imunidade e a ca- nar diversos benefícios na qualidade de vi-
pacidade do organismo reagir às ameaças da, mobilidade, função física e controle dos
de micro-organismos estão mais debilita- fatores de risco cardiometabólicos.
das, o que torna essa população mais sus- Mas atenção: é necessário cuidado para man-
cetível a infeções virais e bacterianas, parti- ter as ingestões calórica, nutricional e pro-
cularmente respiratórias, urinárias e de pele. teica adequadas para manutenção da saú-
Desta forma, a Sociedade Brasileira de Dia- de dos ossos e músculos. Acompanhamento
betes e a Sociedade Brasileira de Imuniza- médico e nutricional são indispensáveis.
ção (SBim) recomendam as seguintes vaci- Por fim, ressalto a importância da educação Segue a dica
nas para as pessoas com diabetes: continuada em diabetes para toda a equipe Nas páginas 54 a 58, a nutri-
• influenza (gripe); de cuidadores, além de instalações de reabi- cionista Maristela Strufaldi
• pneumocócica conjugada 13-valente litação para melhorar o tratamento dos ido- traz várias informações so-
(VPC13); sos com diabetes. Dessa forma, podemos bre o papel da alimentação
• pneumocócica polissacarídica 23-valen- garantir um envelhecimento saudável, com na terceira idade.
te (VPP23); qualidade de vida, segurança e conforto.

38 DIABETESmagazine · Edição 03
DM1

T1D Index e o início


de uma nova era
Estudo lançado recentemente propõe reflexões
e abordagens diferentes no tratamento do diabetes.

Por Dr. Laerte Damaceno | @laerte_damaceno


Endocrinologista e coordenador do site e das redes sociais da SBD
FOTO: RAFAEL PETROCCO

O
diabetes mellitus tipo 1 (DM1) é dável se tivesse sido diagnosticada corre-
uma doença crônica autoimune, tamente.
resultante da destruição de célu- 3. Uma criança com diagnóstico de DM1 aos
las beta pancreáticas produtoras 10 anos de idade tem uma “expectativa
de insulina sob a influência de fatores ge- de vida” variável dependendo da quali-
néticos e ambientais. No estágio clínico da dade de cuidados, sendo 13 anos em um
condição, os sintomas comumente observa- país de baixa renda e 65 anos em um país
dos são: urina em excesso, muita vontade de de alta renda. No Brasil, há uma perda de
beber água, emagrecimento e cansaço. expectativa de vida da ordem de 25.4
Já nas formas mais graves, os sintomas po- anos.
dem evoluir para coma e, se não houver 4. “Anos de vida saudável perdidos” vem
atendimento imediato, a pessoa pode mor- a ser o tempo de vida perdido devido à
rer. Algumas vezes, isso acontece sem que o doença, incapacidade ou morte precoce.
diagnóstico de DM1 tenha sido estabeleci- O número médio de “anos de vida saudá-
do, como demonstra a seguir o T1D Index, o vel perdidos” por pessoa com DM1 é de
que parece inacreditável. 33.2 anos, quando diagnosticado à idade
No segundo semestre de 2022, a Fundação de 10 anos.
de Pesquisa em Diabetes Juvenil (JDRF, na 5. No Brasil, 1 em cada 3 pessoas “sem aces-
sigla em inglês), divulgou o T1D Index (Índi- so estável à insulina e tiras para testes”
ce DM1), uma ferramenta inédita de simula- não ultrapassa a idade de 55 anos.
ção de dados que mede e mapeia o impacto 6. Para cada teste de tira extra usado no tra-
do DM1 na vida das pessoas. tamento do DM1, 1.3 hora de “tempo de
O T1D Index introduziu na diabetologia al- vida saudável” é restituído.
guns conceitos importantes com os quais 7. Se cada pessoa tivesse acesso a sistemas
necessitamos estar familiarizados. de infusão contínua de insulina e moni-
Vejamos, alguns desses conceitos. torização contínua da glicose (CGM), 6.9
1. “Incidência de não diagnóstico”: é o nú- “anos de vida saudável” seriam “resti-
mero de pessoas que desenvolve DM1 e tuídos” por pessoa.
nunca são diagnosticadas. 8. Na terapia por infusão contínua de insuli-
2. No Brasil, 1 em cada 9 pessoas com DM1 na, a cada vez que um sensor de monitori-
“morre sem diagnóstico” e estaria viva zação contínua é substituído, 33.9 “horas
com restituição de 4.1 anos de vida sau- de vida saudável” são restituídas.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 39


Em versões futuras, o T1D Index será am- contagem de carboidratos.
pliado, incluindo o impacto do DM1 em cus- Neste cenário, uma evolução equivalente é
tos econômicos, saúde mental e qualidade a recente publicação do T1D Index, que dá
de vida. visibilidade à extrema diversidade do DM1, São informações mui-
Disparidades à parte responsáveis por essa o que permite sua abordagem com equida- to convincentes e não
realidade, vivemos um novo cenário na pre- de e inclusão. Ele traz informações muito
venção e controle do DM1, resultante do convincentes e não há como ficar indiferen-
há como ficar indife-
desenvolvimento da biotecnologia e da tec- te e não agir. rente e não agir.
nologia da informação: novos análogos de Para o gestor de saúde, o T1D Index reco-
insulina mais eficazes e seguros, monitoriza- menda avaliar os custos e os benefícios em
ção contínua da glicose (CGM) e canetas in- viabilizar os tratamentos mais modernos,
teligentes integradas aos sensores, que pre- como análogos de insulina, sensores de gli-
veem as doses subsequentes de insulinas cose e sistemas de infusão de insulina, a
ultrarrápidas, além de sistemas híbridos de grupos minoritários e mais vulneráveis de
infusão contínua de insulina com bolus au- pessoas com DM1. No Brasil, há 588 mil pes-
tomáticos. soas com DM1, das quais aproximadamente
Recentemente, a agência reguladora de me- 100 mil são crianças e adolescentes, ou se-
dicamentos e alimentos dos Estados Uni- ja, pode não ser um grupo tão grande para
dos (FDA) aprovou o Tzield (teplizumab) pa- oferecer essas tecnologias, especialmente
ra o tratamento do DM1 em estágio 2, por porque elas ajudam a reduzir complicações
ser eficaz em retardar o surgimento clínico do diabetes. Eventualmente, esses custos
da doença em 4 anos, em média. Isso abre podem caber no orçamento.
inúmeras possibilidades futuras de preser- Para o médico, o T1D Index traz a percepção
vação da função da célula beta, postergar, de que a prescrição com base nas melhores
evitar e até mesmo tratar o DM1. Saiba mais práticas resultantes dos avanços da tecnolo-
sobre o primeiro tratamento capaz de atra- gia e da biotecnologia restituem anos de vi-
sar a progressão do DM1, na seção Conexão da saudável e com qualidade. O acesso às
Médica, nas páginas 63 a 66 desta edição. melhores práticas começa com uma prescri-
No dia 29 de novembro de 2022, a revista ção correta e oportuna.
médica New England Journal of Medicine Para pessoas com diabetes, o T1D Index re-
(NEJM) anunciou o pâncreas biônico força a importância de buscar sempre o co-
(iLet-Bionic Pancreas), um sistema de infu- nhecimento, a fim de desenvolver cada dia
são contínua de insulina, automático, basal mais a capacidade em tomar boas decisões
e bolus com base no peso da pessoa, sem no tratamento da condição.

COMO O T1D INDEX PODE MUDAR VIDAS

Simulações do T1D Index mostraram qua- de glicemia capilar;


tro intervenções principais que podem • Bombas de insulina e monitoriza-
mudar a atual trajetória do DM1 e seu im- ção contínua (CGM): assegurar a ca-
pacto nas pessoas em todo o mundo. da pessoa com DM1 a possibilidade
• Diagnóstico oportuno: investir em de acesso a tecnologias de monitori-
educação continuada e treinamento zação contínua de glicose e de infu-
de equipes de saúde para diagnosti- são de insulina;
car com maior precisão o DM1; • Prevenção e cura: aumentar os inves-
• Insulinas e tiras: criar facilidades de timentos e pesquisas em prevenção,
acesso a insulinas e tiras para testes tratamento e cura.

40 DIABETESmagazine · Edição 03
DM1
ENVATO ELEMENTS

O acesso às melhores
práticas começa com
uma prescrição corre-
ta e oportuna.

A SBD é parceira oficial de


divulgação do T1D Index e
disponibiliza os dados com-
pletos do índice no site.
Acesse, conheça e compar-
tilhe.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 41


Exames de rotina
É possível prevenir complicações do diabetes com alguns exames
importantes. Saiba quais são eles e solicite a guia para o seu médico.

Por Dra. Denise Reis Franco | @denisefrancoendo


Endocrinologista e 2ª secretária da SBD
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

O
diabetes é uma doença crônica res. Os exames de prevenção que verificam
que afeta a maneira como o cor- como está a saúde do coração e dos vasos E as vacinas?
po usa o açúcar (glicose) para ob- sanguíneos são: Tão importante quanto os
ter energia. Quando não tratado exames de rotina para con-
adequadamente, pode levar a complicações • Dosagem de colesterol e triglicérides: de- trolar o diabetes é manter
graves, como doença cardiovascular, proble- ve ser feita a cada 6 meses. a caderneta de vacinação
mas nos rins e nervos, cegueira e amputação • Monitorização da pressão arterial: deve atualizada. Verifique se vo-
de membros. Por isso, é fundamental realizar ser realizada pelo médico em toda con- cê tomou as doses necessá-
exames de rotina para monitorar o controle sulta. rias para proteger sua saú-
do diabetes e prevenir essas complicações. • Eletrocardiograma: deve ser feito anual- de contra diversos vírus e
mente. bactérias. Na edição 01 da
Hemoglobina glicada DIABETESmagazine, citamos
Também chamado de A1c ou HbA1c, este Fundo de olho quais são elas.
exame de sangue mostra a média dos níveis Este exame avalia o nervo óptico e a retina
de glicose no sangue nos últimos três me- – parte do olho responsável por captar ima-
ses, sendo um dos mais importantes indica- gens – e é indispensável para prevenir a reti-
dores de como o diabetes está sendo con- nopatia diabética, uma complicação que po-
trolado. Em geral, pessoas com hemoglobina de levar à cegueira. O ideal é realizá-lo ao
abaixo de 7% têm menor risco de desen- menos uma vez por ano.
volver complicações relacionadas ao diabe-
tes. É recomendado fazer a A1c a cada 3 ou
6 meses. Atenção: este exame não identifi-
ENVATO ELEMENTS

ca glicemias altas nem baixas, por isso, é im-


portante que cada pessoa tenha sua meta
individualizada e faça o controle diário, seja
por meio do teste com o medidor de glice-
mia ou usando o sensor de glicose.

Combo do coração
A incidência de doença cardiovascular e de
acidente vascular isquêmico em pessoas
com diabetes é de duas a quatro vezes maior
do que em pessoas que não têm a condição.
Além disso, o diabetes também aumenta o
risco de insuficiência cardíaca, doença arte-
rial periférica e complicações microvascula-

42 DIABETESmagazine · Edição 03
Prevenção

Cuidado com os rins

ENVATO ELEMENTS
Na seção Tratamento desta edição, a Dra.
Érika Bevilaqua Rangel explica que os rins
também podem ser afetados pelo diabetes.
Logo, toda pessoa com diabetes deve reali-
zar uma vez por ano os exames de função re-
nal, como a dosagem de creatinina e o exa-
me de albumina na urina.

Avaliação dos pés


Em cada consulta, solicite ao médico para exa-
minar os seus pés quanto à presença de feri-
das e alterações de pulsos e de sensibilida-
de. Esse exame pode detectar precocemente
o que chamamos de pé de risco, uma das com-
plicações mais frequentes do diabetes que
prejudica a qualidade de vida do indivíduo,
causando desde feridas crônicas e infecções,
até amputações de membros inferiores.

Saúde da boca

ENVATO ELEMENTS
As visitas regulares ao dentista também são
importantes para diagnosticar uma compli-
cação frequente que é a doença periodon-
tal. Essa doença pode ser definida como um
processo de infecção e inflamação que des-
trói os tecidos de proteção e sustentação
dos dentes.
O diabetes tem sido considerado como um
importante fator de risco para doenças pe-
riodontais. Por sua vez, a periodontite difi-
culta o controle do diabetes, sendo conside-
rada a complicação oral mais importante da
condição. Seu dentista pode diagnosticar e
orientar quanto às medidas preventivas des-
sa complicação.

Mensagem final:
Além de seguir as recomendações do
seu médico e realizar os exames de ro-
tina, mantenha uma alimentação sau-
dável, faça exercícios físicos regular-
mente e evite o estresse. Lembre-se:
você tem o poder de cuidar da sua
saúde e de prevenir complicações.
Não se sinta desanimado ou desmo-
tivado, pois com um pouco de esfor-
ço e determinação você pode manter
o diabetes sob controle e viver uma vi-
da saudável e ativa. Conte com o nosso
time de educadores nessa jornada!

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 43


A escola como parceira
Projeto KiDS ajuda na inclusão e adaptação de crianças e adolescentes
com diabetes nas instituições de ensino.

Por Letícia Martins | @leticiamartinsjornalista


Jornalista e editora-chefe da DIABETESmagazine
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

N
as colunas Visão SBD e Direitos e educar sobre a importância da nutrição e da
Deveres desta edição, a colabora- alimentação balanceada para o manejo de
dora Maria Eloisa Malieri mostrou todos os tipos de diabetes e a prevenção do
as dificuldades de várias famílias diabetes tipo 2”, explicou Bruno.
em encontrar uma escola que acolha crian- De acordo com ele, até o momento, o pro-
ças e adolescentes com diabetes. Por sorte, grama já foi implementado de forma estru-
ou melhor, por força da necessidade, há vá- turada em dez países, impactando mais de
rios grupos de pais, associações e institui- 340 mil estudantes e 19.800 professores de
ções se mobilizando para encontrar e im- 2.100 escolas. Além disso, sessões do KiDS
plantar soluções para esse desafio. foram aplicadas em outros 35 países.
Um exemplo de programa bem-sucedido é
o KiDS, sigla em inglês de Kids and Diabetes Experiência transformadora
in Schools (Crianças e Diabetes nas Escolas), Quem participou do projeto piloto em 2013
criado pela Federação Internacional de Dia- guarda boas recordações. É o caso da coor-
betes (IDF). Ele foi implementado em 2013 denadora pedagógica Lisandra Paes, de 49
na Índia e no Brasil e contou com a parceria anos, que mora na capital paulista e tem uma
da ADJ Diabetes Brasil na condução do pro- filha de 26 anos, diagnosticada com diabe-
grama em escolas de São Paulo e Ceará. O tes tipo 1 no primeiro ano de vida. “Quando
coordenador do KiDS na IDF, Bruno Helman, a Stella completou dois anos e meio, procu-
explica que o foco do programa é a inclusão rei uma escola para ela porque a pessoa que
de estudantes com diabetes no ambiente me ajudava a cuidar dela havia pedido de-
escolar. Para isso, foi desenvolvido o Infor- missão. Encontrei muita resistência das ins-
mation Pack, um pacote com quatro carti- tituições públicas e várias dificuldades. Por
lhas informativas que contam o dia a dia do exemplo, naquele tempo ainda não existia
Tomás, um menino com DM1, e abordam te- contagem de carboidratos. Por isso, eu en-
mas como sintomas e tratamento do diabe- viava lanche específico para ela não comer a
tes, alimentação e atividade física. merenda dos amiguinhos e a isolavam na sa-
“O documento possui versões personaliza- la da direção durante o recreio. Diversas ve-
das para cada audiência-chave: estudantes, zes esqueceram da condição da minha filha
pais de crianças com diabetes, pais de to- e não prepararam nenhuma opção de comi-
dos os estudantes e professores”, esclarece da sem açúcar nos eventos festivos. Eu tinha
Bruno. "Com o passar do tempo, entendemos que sair correndo e providenciar alguma
que promover ambientes saudáveis, que fa- coisa que a Stella pudesse comer. Não re-
voreçam a prevenção dos fatores de risco re- cebi nenhum apoio da escola”, relata a mãe.
lacionados ao diabetes tipo 2, também deve- Alguns anos depois, Lisandra assumiu a
ria ser o nosso foco. Assim desenvolvemos coordenação pedagógica de uma escola pú-
o Nutritional Guide, que tem como objetivo blica e conseguiu vaga para a filha cursar o

44 DIABETESmagazine · Edição 03
Conte Com

ensino médio na mesma unidade. “Comecei, guimos adequar o conteúdo para ser usado
então, a ensinar os professores sobre hipo- no país”, disse a nutricionista Fernanda Cas- Para baixar
glicemia, alimentação e outros cuidados e, telo Branco, que era coordenadora nacional Os materiais educativos do
para nossa surpresa, descobrimos que exis- do programa KiDS na ADJ na época. “Usa- KiDS podem ser baixados
tia outro aluno com diabetes que nunca ha- mos o pacote educativo em algumas escolas de forma gratuita, tanto
via revelado isso a ninguém. A partir daí ini- selecionadas. A partir das atividades desen- pelo site da IDF (www.kids.
ciamos um trabalho de orientação também volvidas com os alunos, familiares e pro- idf.org) quanto no portal da
para as famílias”. fessores, conseguimos melhorar o conheci- SBD, onde também estão
A experiência pessoal de Lisandra a aproxi- mento deles sobre diabetes e dar suporte à disponíveis os vídeos edu-
mou da ADJ, dando início a uma bela parce- equipe da escola para lidar com as necessi- cativos e um quiz para você
ria. “A ADJ sempre recebeu diversas solicita- dades do aluno com diabetes”, completou. testar seus conhecimentos
ções de apoio de escolas. Assim que surgiu Lisandra confirma: “Tivemos resultados mui- sobre diabetes. Acesse:
a oportunidade de implementar um grande to positivos e, pela minha experiência, pos-
projeto de educação nas escolas, encontra- so afirmar: o projeto KiDS faz a diferença na
mos suporte da IDF com o material educati- vida das famílias e da escola.”
vo. Coletamos várias informações e conse-

ARQUIVO PESSOAL

A coordenadora pedagógica
Lisandra Paes (à esquerda) com a
filha Stella: “O projeto KiDS faz a
diferença na vida das famílias e
da escola.”

Vídeos educativos
Também fazem parte do programa KiDS oito cluímos informações sobre a importância da
vídeos educativos, divididos nos seguintes alimentação saudável, da qualidade do so-
temas: noções sobre o diabetes, monitoriza- no, entre outras questões para auxiliar no
ção da glicemia, insulinas, alimentação, hi- estilo de vida, e apresentamos dicas práti-
poglicemia e hiperglicemia, atividade física, cas e lúdicas para planejar refeições equi-
atividades extracurriculares e uma apresen- libradas e inserir verduras, legumes e frutas Aperta o play
tação do projeto. “Os vídeos foram desen- no dia a dia”, explica. Para assistir aos oito vídeos
volvidos com a ajuda de uma equipe multi- Além das nutricionistas aqui citadas, parti- educativos, acesse a playlist
disciplinar de saúde e aprofundam os temas. ciparam da construção do programa KiDS da ADJ Diabetes Brasil no
Por exemplo, a cartilha fala sobre insuliniza- os médicos endocrinologistas Dra. Denise YouTube.
ção de uma forma geral, enquanto no vídeo Franco e Dr. Luis Eduardo Calliari, as psicó-
o especialista explica como fazer a correção logas Graça Câmara e Glaucia Bechara, en-
e evitar uma hiperglicemia”, esclarece o ge- tre outros profissionais. "Os vídeos e as
rente de marketing da ADJ, Luiz Kitamura. cartilhas do KiDS estão disponíveis em por-
A nutricionista Tarcila Ferraz Campos parti- tuguês para que qualquer escola possa bai-
cipou da terceira etapa do programa e, junto xar e usar. Eles são recursos muito importan-
com nutricionistas de outros países, montou tes para promover a inclusão do aluno com
um guia especial sobre diabetes e nutrição diabetes e orientar os professores", finalizou
nas escolas. “Além dos pontos básicos, in- Dra. Denise. Parceria boa é assim!

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 45


Você cuida bem
dos seus rins?
Quatro em cada dez pessoas com diabetes podem apresentar
doença renal crônica. Saiba como prevenir essa complicação.

Por Érika Bevilaqua Rangel


Professora Adjunta de Nefrologia da Escola Paulista de Medicina (Unifesp)
e membro do Dep. de Doenças Renais da SBD
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

Q
uando os rins não estão funcio- so não é uma regra: o aparecimento de le-
Uma das funções dos
nando bem, sua capacidade de fil- sões nesse importante órgão do nosso cor-
trar várias substâncias nocivas ao po vai depender do controle do diabetes e rins é filtrar o sangue
organismo fica prejudicada. As- da pressão arterial ao longo dos anos. Vale para eliminar subs-
sim, o corpo retém líquidos e começa a so- destacar que o uso de algumas medicações, tâncias nocivas ao
frer uma série de consequências, como o como anti-inflamatórios, antibióticos, con- organismo.
surgimento de edema ou inchaço nas per- traste e drogas ilícitas, pode afetar o funcio-
nas, cansaço, fraqueza, coceira, alterações namento dos rins antes desse período.
do sono e da função sexual. A má notícia é que as lesões nos rins são
A pessoa pode ainda desenvolver anemia, irreversíveis, isto é, não existe cura para a
uma vez que o rim também é responsável doença renal crônica. Felizmente há alguns
por produzir um hormônio chamado eritro- cuidados que diminuem o risco de desen-
poetina, que ajuda na formação dos glóbu- volvê-la e também de evitar a sua progres-
los vermelhos. são, uma vez instalada.
Outro sintoma de que os rins estão compro-
metidos é a perda de proteína na urina, que Prevenção
se manifesta pelo aparecimento de espuma Manter o nível de açúcar no sangue e a pres-
ao usar o banheiro. Se houver infecção uri- são arterial sob controle é essencial, assim
nária, a pessoa pode apresentar alteração como mudanças no estilo de vida, como per-
do aspecto da urina (como coloração mais der peso, praticar atividade física regular-
escura e/ou com mau cheiro), dor ao urinar e mente e evitar o fumo.
vontade de urinar muitas vezes, além de dor Também é preciso comparecer às consul-
lombar e febre. tas médicas de rotina e realizar exames pa-
Essas alterações são identificadas como ra avaliar o funcionamento dos rins através
doença renal crônica (DRC) ou nefropatia da medida da creatinina no sangue e esti-
diabética e têm como principal causa o dia- mativa da taxa de filtração dos rins, além de
betes não controlado. fazer o exame de urina para avaliar a quan-
Cerca de 40% das pessoas com diabetes tidade de proteína que está sendo elimina-
podem apresentar algum comprometimento da por eles.
da função dos rins. Geralmente a DRC acon- No caso do paciente com diabetes tipo 1
tece de forma progressiva, entre 15 e 20 (DM1), essas medidas devem ser adotadas
anos após o diagnóstico de diabetes. Mas is- 5 anos após o diagnóstico de diabetes, ini-

46 DIABETESmagazine · Edição 03
Tratamento

ciando a partir dos 11 anos de idade. Já pa- lado. Contudo, vale salientar que pacientes
ra os pacientes com diabetes tipo 2 (DM2), com DM2 podem apresentar maior risco de Infecção urinária
a avaliação do funcionamento dos rins de- progressão da doença renal até as fases fi- Pessoas com diabetes têm
ve ser feita assim que o diabetes for diag- nais, quando precisam fazer diálise ou trans- risco aumentado para in-
nosticado, uma vez que o DM2 é silencioso plante, pois costumam ter mais idade que fecções urinárias, seja pelo
e o tempo de início pode ser desconhecido. pessoas com DM1. A idade por si só já é um excesso de açúcar na urina,
Agora que já sabemos como evitar, vamos fator de risco para a doença renal crônica. seja pelo mau funciona-
conhecer um pouco mais sobre a doença Além disso, pessoas com DM2 podem ter mento da bexiga decorrente
renal crônica e compartilhar esse conheci- outras comorbidades, como obesidade, hi- da neuropatia, outra compli-
mento com outras pessoas pois, como vi- pertensão arterial, gota e dores ósseas as- cação do diabetes não con-
mos, a informação pode prevenir complica- sociadas ao uso de anti-inflamatórios que, trolado.
ções graves. muitas vezes, aceleram a evolução da doen-
ça renal.
Diagnóstico de doença renal crôni-
ca (DRC) Tratamento
A doença renal crônica é diagnosticada O tratamento da DRC pode ser dividido em
quando a taxa de filtração dos rins fica me- medidas não-farmacológicas e farmacológicas.
nor do que 60 ml/min/1,73 m2 por mais de
três meses consecutivos ou quando há da- Medidas não-farmacológicas: incluem con-
no na estrutura dos rins, como a presença de trolar o peso, praticar atividade física pelo
cistos hereditários, alteração do aspecto dos menos 150 minutos por semana, parar de
órgãos no exame de ultrassom, além de pro- fumar (se for fumante) e adotar uma alimen-
teína e sangue na urina. tação saudável.
Se a taxa de filtração do rim diminuir mui-
Riscos envolvidos to, pode ser necessário reduzir o consumo
O risco de desenvolver DRC é semelhante de proteína, o que deverá acontecer sempre
para pessoas com DM1 e DM2 não contro- com orientação do médico e do nutricionista.
ENVATO ELEMENTS

O bom funcionamento
do coração ajuda o
rim a funcionar me-
lhor e vice-versa.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 47


Tratamento

Medidas farmacológicas: o controle do dia- tamento da DRC, que inclui ainda medica-
O diabetes é a princi-
betes pode envolver insulina e medicamen- ções que ajudam a preservar a taxa de filtra-
tos de uso oral, buscando-se atingir uma ção dos rins e reduzir a perda de proteína na pal causa de doença
hemoglobina glicada menor do que 7%. Va- urina. Outros medicamentos podem ser ne- renal crônica no mun-
lores de hemoglobina glicada superiores cessários para controle da pressão arterial e do. A boa notícia é que
a 8% estão associados a maiores taxas de do inchaço/edema, como os diuréticos, blo- tem prevenção.
complicações, sendo fundamental uma ava- queadores dos canais de cálcio, vasodilata-
liação médica. dores, entre outros.
Um novo grupo de medicações que estão
associadas ao controle da glicemia e à redu- Atenção
ção da progressão da DRC são as gliflozinas Todo paciente com DRC deve informar este
(inibidores de SLGT-2). Elas também ajudam diagnóstico quando for atendido no consul-
no bom funcionamento do coração, princi- tório, na unidade básica de saúde, no pron-
palmente em pessoas com insuficiência car- to atendimento ou se precisar de interna-
díaca. Desta forma, as medicações usadas ção no hospital, pois alguns medicamentos
para o tratamento da insuficiência cardíaca, requerem cautela, como antibióticos e con-
como betabloqueadores e o sacubitril, aju- trastes radiológicos.
dam indiretamente o rim a funcionar me- Apesar dos desafios, vale destacar que pes-
lhor e vice-versa, ou seja, o melhor funcio- soas com diabetes podem viver por mui-
namento renal também protege o coração. tos anos e de forma saudável, mesmo com a
No entanto, as gliflozinas estão indicadas, doença renal. Portanto, não desista de seus
até o momento, somente para pessoas com objetivos e continue trabalhando em conjun-
diabetes tipo 2. to com sua equipe de saúde para gerenciar a
Manter a pressão arterial abaixo de 130 x DRC e outras condições que surgirem.
80 mmHg também é importante para o tra-
ENVATO ELEMENTS

48 DIABETESmagazine · Edição 03
Atletas com diabetes
O diagnóstico não precisa colocar um ponto final na sua paixão pelo esporte.
Mas alguns cuidados são fundamentais para a prática esportiva.

Por Emerson Bisan | @emersonbisan


Treinador físico, membro do Dep. de Exercício e Esportes da SBD.
Tem diabetes tipo 1 desde 1995 e é ultramaratonista
FOTO: ALAN TEIXEIRA

A
conteceu comigo: eu cursava a fa- to importantes para qualquer atleta e para
culdade de Educação Física quan- o atleta com diabetes mais ainda pois, além
do recebi o diagnóstico de diabe- de tudo isso, precisa gerenciar a administra-
tes tipo 1. No consultório, fui logo ção da insulina”.
perguntando para o médico: “Doutor, nun- Ou seja, esportes nas alturas, na água e em
ca mais vou poder correr ou trabalhar com alta velocidade também podem ser pratica-
esportes?” Em vez de me responder sim ou dos por quem tem diabetes desde que to-
não, ele se levantou, foi até a parede e pe- mem todos os cuidados em relação à segu-
gou um quadro com a foto do americano rança pertinentes a essas modalidades. Na
Mark Spitz, que havia conquistado sete me- DIABETESmagazine nº 02, a Dra. Dhiãnah
dalhas de ouro em uma mesma olímpiada, explicou quais são eles. “Nesses casos, se-
quebrando o recorde mundial da época. O rá necessária uma adaptação em relação ao
detalhe: ele tem diabetes tipo 1. uso das insulinas e à tecnologia. Algumas Em 2022, lancei o livro 100
Ali tive a certeza de que eu poderia ser o bombas de insulina, por exemplo, não são Maratonas, que conta mi-
que quisesse, com esforço e dedicação, cla- à prova d’água e precisam ser retiradas du- nha trajetória de vida e es-
ro, mas não seria o diabetes a me impedir. rante o mergulho. Por isso, é necessário se porte desde a descoberta
Assim, no ano seguinte ao meu diagnóstico, planejar para o período do exercício”, des- do diabetes.
corri as três primeiras maratonas da minha tacou a médica.
vida e em 2022 completei a centésima!
Maratona é uma corrida de 42,195 km de 05 perguntas essenciais
percurso, com duração média de 4 a 5 ho- Antes de começar qualquer modalidade es-
ras para iniciantes. Em quase três décadas portiva é importante fazer um check-up ge-
de diabetes, já corri várias ultramaratonas, ral, incluindo uma avaliação cardíaca para
que superam essa distância e tempo. A mais determinar a intensidade segura dos treinos.
recente foi no deserto do Atacama, com 250 Na minha assessoria esportiva, criamos um
km. E acredite: o diabetes não me prejudi- protocolo de conduta que qualquer pessoa
cou na prova. Para isso, no entanto, tive que com diabetes, iniciante ou profissional,
me preparar. que vai correr ou praticar outra atividade
A Dra. Dhiãnah Santini, endocrinologista e física, deve seguir. Esse protocolo consiste
coordenadora do Dep. de Educação e Cam- em responder a cinco perguntas:
panhas da SBD, esclarece: “A princípio, a
presença do diabetes não contraindica ou 1. Qual a sua glicemia?
limita nenhum esporte. Só precisa de ajus- 2. Quando foi sua última refeição?
tes na alimentação, doses e horários das in- 3. Você tem insulina ativa no seu corpo?
sulinas. Educação em diabetes é estratégia 4. Quanto tempo vai durar a atividade física?
fundamental para essa flexibilidade. A roti- 5. O que você tem nas mãos para corrigir
na de treinos, alimentação e sono são mui- uma possível hipoglicemia?

50 DIABETESmagazine · Edição 03
Em Movimento

A partir dessas respostas, você e seu treina- so, nunca saia para treinar se não tiver no
dor poderão definir o melhor planejamento seu bolso carboidrato suficiente para dar a
para o treino ou prova a fim de atingir seu volta ao mundo!
objetivo com o máximo de autonomia e sem
Não há nenhum
hipoglicemias. Hidratação
A glicemia ideal para começar qualquer ati- Outro cuidado necessário é com a hidrata-
esporte contraindica-
vidade física com segurança deve estar en- ção. Tomar água durante os treinos tem que do para pessoas com
tre 120 mg/dL e 150 mg/dL. Portanto, medir ser hábito, mesmo quando não sentimos se- diabetes. O que existe
a glicemia antes da atividade física é indis- de, pois durante uma corrida gastamos 75% é que cada pessoa
pensável. Se ela estiver acima de 150 mg/dL da energia tentando equilibrar a temperatu-
precisa de uma ava-
e abaixo de 200 mg/dL, não há necessidade ra corporal. Portanto, se fizermos essa repo-
de corrigir com insulina, pois durante a prá- sição de água e sais minerais de forma es- liação individual e
tica de atividade a glicose será consumida e tratégica, não vamos sofrer no final da prova cada esporte tem uma
a glicemia vai cair. Mas vale destacar que o com a desidratação. Consequentemente, te- demanda diferente.
tratamento do diabetes é individualizado, remos menos câimbras. Esse é um dos se-
por isso você deve seguir a recomendação gredos de uma boa preparação física.
do médico que te acompanha.
Também é importante verificar a glicemia Aplicação da insulina
durante os treinos e registrar tudo para vo- Na hora de aplicar insulina, leve em conside-
cê entender o seu comportamento glicêmi- ração o tipo de treino que será feito. A Dra.
co, pois no dia da competição não vai ser na- Dhiãnah explica que a absorção de insulina
da diferente disso. pode mudar se ela for aplicada numa área
do corpo que terá a circulação aumentada
Hipoglicemias por conta do esforço na região. “Por exem-
Se você tiver algum sintoma de hipoglice- plo, a absorção da insulina pode ocorrer de
mia durante o treino ou prova, meça a gli- forma mais rápida se ela for aplicada na co-
cemia imediatamente. Se ela estiver abai- xa antes de uma corrida ou pedal do que se
xo de 70 mg/dL, a recomendação da SBD é ela for injetada no braço ou abdômen. De
consumir 15 g de carboidratos, esperar 15 qualquer forma, independentemente do ti-
minutos e monitorar novamente. Mas vale po de esporte ou exercício, é sempre impor-
destacar que esta recomendação é para si- tante o rodízio das aplicações de insulina
tuações comuns do dia a dia. Quando fala- para evitar a lipodistrofia, um desequilíbrio
mos de um treino ou competição, nos quais na distribuição de gordura que pode com-
o gasto energético é altíssimo, orientamos o prometer seriamente a absorção e a eficá-
consumo de 25 a 30 g de carboidratos e se- cia da insulina”, completou a Dra. Dhiãnah.
guir monitorando a cada 10 minutos. Por is-

Palavra de quem pratica


Pilates
A carioca Priscilla Dornelles dos Santos Pa-
ARQUIVO PESSOAL

derni, 34 anos, conheceu o pilates em 2011


durante o curso de fisioterapia. Em 2014,
descobriu o diabetes e seguiu firme. “O pi-
lates me ajuda na parte física e mental. Ele
me ensinou a importância da respiração, do
controle, da consciência corporal e me le-
vou a melhorar meu desempenho em ou-
tras atividades, como o crossfit e a muscula-
ção. Além disso, alivia o estresse e trabalha
a musculatura do corpo todo, sendo um óti-
mo aliado no tratamento do diabetes”, disse.
Siga: @pripaderni

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 51


Em Movimento

Atletismo

ARQUIVO PESSOAL
O diagnóstico recente, em setembro de 2022,
não fez a paranaense Gabriela de Freitas Tar-
divo, de 18 anos, parar de correr. "O atletismo
superajuda a controlar a glicemia. Como meus
treinos são de alta intensidade, acabo usan-
do pouca insulina de ação rápida. Duas ho-
ras antes e depois de cada exercício eu aplico
só metade da insulina que teria que usar nas
minhas refeições. Isso é ótimo, porque minha
caneta dura mais e não preciso restringir tan-
to a alimentação”, conta a bicampeã sul-ame-
ricana de cross country na categoria sub-20.
Siga: @gabrieladefreitastardivo

Golfe
ARQUIVO PESSOAL

A paulista e ultramaratonista Gabriela Aran-


tes, de 40 anos, não se empolgava muito
com o golfe. Até que experimentou, influen-
ciada pela irmã gêmea. “O golfe precisa de
muita concentração e jamais posso ter hipo-
glicemia, pois a falta de açúcar no sistema
nervoso central me impede de tomar as de-
cisões que necessito para executar a tacada
com precisão. Então o básico funciona: mo-
nitorização e suplementos”, relata Gabriela.
“Acho que a atividade física é algo obrigató-
rio para o ser humano, ainda mais nos dias
ARQUIVO PESSOAL

de hoje que temos tudo nas mãos por apli-


cativos. Para a população com diabetes é
fundamental porque ajuda muito no contro-
le da glicemia e do peso, além de trazer sen-
sação de bem-estar. Não imagino minha vida
sem movimento”, completa Daniela Arantes,
que assim como a irmã, tem diabetes tipo 1.
Siga: @tirocertogolfe e @dnarantes

Triatlo
ARQUIVO PESSOAL

O coordenador de logística Alexandre Pai- Para assistir


va foi diagnosticado com diabetes tipo 1 No YouTube da SBD, Dra.
em 2009, aos 19 anos. Em 2017, ele se en- Dhiãnah e Alexandre Pai-
controu no trialo, que é a junção de três es- va conversam sobre a roti-
portes: natação, ciclismo e corrida. “Come- na de treinos de um atleta
cei no triatlo para trazer uma resposta para de alta performance.
os meus pais, que se sentiam culpados pelo
diagnóstico. Em uma das chegadas, afirmei
para eles: o diabetes só me faz mais forte”,
disse. Aos 32 anos, ele já concluiu duas ve-
zes o Ironman Brasil, que compreende 3.860
metros de natação, 180 km de ciclismo e
uma maratona.
Siga: @atletacomdiabetes

52 DIABETESmagazine · Edição 03
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O papel da nutrição
na terceira idade
Com o tempo, nosso corpo e mente passam por várias mudanças. Ajustes
na alimentação e no estilo de vida são necessários. Saiba quais.

Por Maristela Strufaldi | @maristela.nutri


Nutricionista e membro dos Deps. de Nutrição e de Educação da SBD
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

E
m todas as fases da vida, os cuidados ingestão de água, deve ser nosso objetivo.
O intestino já é con-
com a saúde requerem uma boa ali- E quando o assunto é intestino, é fundamen-
mentação e outros bons hábitos, co- tal destacar o quão importante ele é para a siderado o nosso 2º
mo a prática regular de exercícios, saúde global, especialmente na terceira ida- cérebro, pois nele é
adequada qualidade do sono e gerenciamen- de. Isso porque o intestino está diretamente produzida cerca de
to do estresse. Durante o envelhecimento, relacionado à imunidade, à saúde cerebral e 90% da serotonina,
uma série de mudanças fisiológicas ocorrem à absorção de inúmeras vitaminas e minerais.
e exigem um olhar especial quando o assun- A má alimentação, deficiente em fibras, ri-
um neurotransmissor
to é nutrição. ca em alimentos ultraprocessados e em gor- associado ao bem-
É comum, por exemplo, ocorrer redução do duras de baixa qualidade, como frituras e estar. Por isso, cuide
paladar, menor percepção da sede, mudança gorduras saturadas presentes em biscoitos das suas escolhas
na dentição e, muitas vezes, surgir alguma di- recheados, fast food, embutidos, carne ver-
alimentares para ter
ficuldade no processo de mastigação e/ou di- melha, entre outros, tende a desequilibrar
gestão de certos alimentos. Com o passar dos a microbiota intestinal. Esse desequilíbrio é
saúde mental!
anos, é natural ocorrer a diminuição da massa chamado de disbiose e trata-se da irregula-
muscular e, por isso, o consumo adequado de ridade entre as boas e as más bactérias do
alimentos ricos em proteínas é fundamental intestino, podendo gerar sintomas indesejá-
para a proteção e a regeneração dos múscu- veis, como excesso de gases, distensão ab-
los e tecidos. A seguir, falaremos mais sobre dominal, má absorção de nutrientes, além de
os alimentos fontes de proteína, como ovos e ser gatilho para muitas doenças.
carnes em geral. Portanto, a manutenção de
hábitos saudáveis e o controle glicêmico fa- Você é o que você absorve!
zem toda a diferença para a promoção de um Envelhecer é um processo natural, univer-
envelhecimento ativo e bem-sucedido! sal e heterogêneo, ou seja, cada pessoa irá
Para garantir saúde à mesa, equilíbrio é a pa- vivenciá-lo de uma maneira. Mas a premis-
lavra-chave. Além de promover mais vitali- sa que vale para todo mundo é esta: a manu-
dade para o dia a dia, uma rotina alimentar tenção da integridade gastrintestinal é im-
variada, colorida e balanceada ajuda a preve- portante para uma boa nutrição ao longo da
nir e tratar doenças como obesidade, pressão vida. Em outras palavras, você é o que você
alta, osteoporose, colesterol e triglicerídeos absorve. Esta afirmação substitui uma frase
elevados e, claro, o diabetes. O consumo muito citada: você é o que você come. Desta
equilibrado de todos os grupos alimentares, forma, dicas simples, como mastigar bem os
com adequada proporção de nutrientes e a alimentos, adequar a consistência deles con-

54 DIABETESmagazine · Edição 03
Nutrição

forme as características de dentição e deglu- Grupo 1: carboidratos


tição do idoso, tal como a forma de preparo Benefícios: fornecem energia para o orga-
das refeições, são ótimas estratégias. nismo.
Além disso, é essencial uma alimentação Presentes em: arroz, pães, massas, milho,
saudável rica em fibras, vitaminas, minerais, aveia, batata-inglesa, batata-doce, quinoa,
antioxidantes e compostos bioativos, com a mandioca e mandioquinha.
inclusão da chamada comida de verdade e Como consumir: prefira versões integrais
uma boa hidratação. Outras estratégias co- desses alimentos. Por exemplo, opte pelo
mo o uso de probióticos, alimentos fermen- arroz integral em vez do branco e consuma
tados e fontes de gorduras de boa qualida- pães e torradas multigrãos, pois eles favo-
de, como abacate, azeite de oliva, castanhas recem a absorção gradativa de carboidrato,
e semente de chia, também são positivas! evitam picos de açúcar no sangue e atuam
no bom funcionamento do intestino. Além
Confira os quatro grupos alimenta- disso, cereais integrais são fontes de vita-
res, seus nutrientes e ações no or- minas do complexo B, essenciais para o de-
ganismo: sempenho cognitivo e bem-estar geral.

ENVATO ELEMENTS

Grupo 2: proteínas padrão de mastigação e/ou deglutição,


Benefícios: preservação e fortalecimento da é essencial que seja feita uma adapta-
saúde dos músculos e dos tecidos do corpo. ção da consistência para carne moída ou
Presentes em: desfiada, por exemplo. Em alguns casos,
a) alimentos de origem animal, como: a orientação de um fonoaudiólogo pode
carnes, aves, peixes e ovos. Fornecem vi- ser necessária. A recomendação é manter
taminas do complexo B, ferro e zinco, im- o consumo diário de proteínas, conside-
portantes para o a memória e a vitalida- rando a importância desse macronutrien-
de. Caso haja dificuldade ou alteração do te para os músculos;

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 55


ENVATO ELEMENTS
leite, queijos, iogurtes e outros deriva- b) alimentos de origem vegetal, como:
dos que, além de proteína, são excelen- leguminosas: feijão, ervilha, lentinha,
tes fontes de cálcio, mineral essencial pa- grão-de-bico e soja;
ra o tecido ósseo. Versões com menor teor oleaginosas: castanhas, amêndoas e
de gordura, como leite desnatado, iogur- nozes. Essas últimas, além de serem ricas
te light e queijo branco são interessan- em fibras, possuem alto teor de gordu-
tes, considerando a resistência à insulina ras saudáveis como as monoinsaturadas
e saúde cardiovascular. e poli-insaturadas, benéficas ao controle
metabólico.
ENVATO ELEMENTS

56 DIABETESmagazine · Edição 03
Nutrição

Grupo 3: vitaminas, minerais e fibras duras e legumes! Eles fornecem alta quan- Moderação no con-
Benefícios: são essenciais para o sistema tidade de vitaminas, minerais e fibras e não
sumo alimentar é
imunológico, vitalidade e bom funciona- comprometem a glicemia. Já as frutas de-
mento do intestino. vem ser consumidas com moderação, pois recomendada para
Presentes em: frutas, verduras e legumes. elas possuem frutose, um açúcar natural que todas as pessoas que
Como consumir: coma em abundância ver- aumenta a glicemia. desejam ter mais saú-
de e prevenir doenças.

ENVATO ELEMENTS

Grupo 4: gorduras e açúcares ção e do desempenho cognitivo.


Benefícios: gorduras saudáveis contribuem Evite: frituras e gorduras saturadas presen-
para a saúde cerebral e cardiovascular. tes nas carnes vermelhas, queijos amare-
Presentes em: azeite de oliva, castanhas, los e guloseimas, como chocolates e salga-
peixes, sementes de linhaça, chia, entre ou- dinhos.
tros. Vale a pena investir nesses alimentos, Açúcares e doces em geral: apesar de não
pois são ricos em ômega 3, gordura do bem serem proibidos para quem tem diabetes,
associada ao controle dos níveis de coleste- devem ser consumidos esporadicamente e
rol e à melhora da memória, da concentra- com moderação.
ENVATO ELEMENTS

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 57


Nutrição

Para envelhecer bem


e viver de forma saudável
Substitua o sal e os temperos prontos por dos, especialmente de água e chás sem adi-
ervas e especiarias, pois o consumo exces- ção de açúcar, traz diversos benefícios para
sivo do sódio está associado a doenças car- a saúde intestinal, balanço hídrico e elimi-
diovasculares e renais. nação de toxinas.

Capriche no consumo de vitamina B12! En- Mantenha um bom controle glicêmico. Mo-
contrada nos lácteos, ovos e carnes, a vita- nitore a glicemia e realize os exames com re- Na edição nº 01 da DIABE-
mina B12 é importante para a manutenção gularidade. Controlar os níveis de açúcar do TESmagazine, as coordena-
de um sistema nervoso saudável. A deficiên- sangue auxilia na prevenção de complica- doras do Dep. de Nutrição
cia dessa vitamina é comum em idosos de- ções agudas e crônicas, na manutenção da da SBD ensinam como
vido à diminuição do ácido clorídrico e do massa muscular e na longevidade! montar um prato saudável
suco gástrico que, por sua vez, faz com que e evitar picos na glicemia.
o organismo não absorva essa vitamina. Es- Consulte um nutricionista! O olhar indivi- Acesse o QR Code.
se efeito também é provocado pela polifar- dualizado do profissional, respeitando as
mácia, já que o uso frequente de algumas preferências alimentares, particularidades
medicações potencializa a perda da vitami- clínicas e aspectos socioeconômicos faz to-
na B12 pelo organismo, como a metformina. da a diferença para a organização e planeja-
mento alimentar.
Vitamina D e cálcio: vitais para a manuten-
ção dos ossos e músculos, auxiliam na pre-
venção da osteoporose e no controle me-
tabólico. Para a adequação dos níveis de
vitamina D, a exposição solar é essencial.
Conforme prescrição médica e nutricional,
o uso de suplemento pode ser necessário.

Mastigue bem os alimentos. Além de con-


tribuir para a sensação de saciedade, a boa
mastigação auxilia na deglutição e absor-
ção de nutrientes. A digestão começa com
a mastigação, não apenas por triturar os ali-
mentos, mas porque nessa fase produzimos
enzimas que atuam diretamente no proces-
so digestivo.

Exercite-se! O nosso corpo é como uma má-


quina e deve ser estimulado não só com ali-
mentos, mas também com exercícios físicos.
Escolha uma atividade prazerosa e aos pou-
ENVATO ELEMENTS

cos sinta os benefícios da prática regular.

Mantenha uma boa hidratação. O consumo


de aproximadamente 1,5 a 2 litros (o equi-
valente a cerca de 8 copos) por dia de líqui-

58 DIABETESmagazine · Edição 03
Aplicativos de saúde
Há uma variedade deles para ajudar na tarefa diária de contar carboidratos,
calcular dose de insulina e monitorar o exercício físico, a alimentação e o peso.

Por Dra. Monica Gabbay | @monicagabbay


Membro do Dep. de Saúde Digital, Telemedicina e Inovação em Diabetes da SBD

e Dra. Vanessa Montanari | @medicaendocrino


Membro do Dep. de Saúde Digital, Telemedicina e Inovação em Diabetes da SBD
FOTOS: ARQUIVOS PESSOAIS

A
digitalização é uma ferramenta po- APP COM CALCULADORA DE BOLUS Bolus é um tipo de
derosa nas tomadas de decisão em
insulina que deve ser
vários setores da vida, sobretudo Glic
nos cuidados com a saúde. De 2019 Realiza cálculo de insuli-
aplicada antes das
a 2022, o número de startups de saúde no na a partir da seleção do refeições ou quando
país cresceu 16% em 35 categorias, desde usuário em um banco de for necessário fazer
agendamento de serviços, gestão de doenças dados com mais de 3 mil uma correção rápida
crônicas e mentais e uso de aplicativos para alimentos com todas suas informações nutri-
de glicemia alta.
auxílio à saúde, segundo levantamento da Li- cionais, que são inseridos para a devida con-
ga Ventures em parceria com PwC Brasil. São tagem de carboidratos e sugestão de dose. O
mais 16 mil apps de saúde em uso! cálculo é feito de acordo com a glicemia ca-
Essa é uma boa notícia, já que gerenciar uma pilar inserida, facilitando a contagem de car-
condição crônica, como o diabetes, demanda boidratos e adesão dos bolus de refeição.
muitas ações no dia a dia, algumas delas muito Foi o primeiro aplicativo brasileiro direcio-
exigentes. Estudos demonstram que 63% das nado para pessoas com diabetes e, portan-
pessoas com diabetes tipo 1 erram o cálculo to, recomendado pela Sociedade Brasileira
da dose de insulina da refeição, o que acarre- de Diabetes (SBD). Fornece diário de glice-
ta em hipoglicemia em ¼ das pessoas e hiper- mia e gráficos para facilitar a equipe mul-
glicemia em quase metade destas. Por essa e tiprofissional na tomada de decisões, além
outras, a tecnologia é muito bem-vinda. Uma de contar com uma plataforma de prescri-
recente revisão de estudos demonstrou que ção médica de tipo de insulina, meta glicê-
o uso de aplicativos de saúde para manejo do mica, relação insulina/carboidratos e alerta
diabetes tipo 1 e tipo 2 (DM1 e DM2) permitiu para não esquecer de tomar a medicação no
a redução da hemoglobina glicada e foi efeti- horário predefinido.
vo em engajar as pessoas em seu tratamento. Gratuito para iOS e Android.
Diante de tanta oferta, qual escolher? Sele-
cionamos alguns aplicativos que podem ser iGlicho
bastante úteis, mas é claro você pode optar App brasileiro que calcu-
por aquele com o qual mais se identifica. Pe- la a dose de insulina por
ça auxílio ao seu médico para colocar os pa- meio de uma plataforma
râmetros que vão sugerir a dose de insulina médica para prescrição
às refeições e deixe o app te ajudar a obter à distância, utilizando setas de tendência,
melhor qualidade de vida, oferecendo mais modificadores de bolus (exercício aeróbi-
tempo para você fazer o que gosta! co, resistido, corticoide, menstruação, doen-

60 DIABETESmagazine · Edição 03
Tecnologias

ça) e uma base de dados para a realização APP DE CONTAGEM DE CARBOIDRATOS No Brasil há mais de
de contagem de carboidratos. Tem integra- 16 mil aplicativos de
ção com uma plataforma voltada a profissio- SBD saúde em uso.
nais de saúde, o que possibilita o monitora- Desenvolvido pelo Departamento de Nu-
mento em tempo real dos usuários. trição da Sociedade Brasileira de Diabe-
Em breve, devem ser liberados outros recur- tes (SBD), o aplicativo possui amplo banco
sos, como contagem de proteína e gordura, de dados com informações nutricionais de
marcação de local de aplicação de insulina 1.300 alimentos. A versão 2.0 foi atualizada
para estímulo do rodízio, geração de relató- com novas funcionalidades, como controle
rio com identificação de padrões e maior in- de glicemia, visualização gráfica, exporta-
teratividade com o público sênior com DM2. ção de relatórios, inserção de dados de da-
Gratuito para iOS e Android. tas anteriores, entre outras.

mySugr
Funciona como um diário
para pessoas com DM1,
DM2 ou diabetes gesta-
cional (DMG), com cone-
xão via bluetooth com alguns monitores de
glicemia, registrando automaticamente os
valores aferidos. Auxilia na adesão aos pla-
nos alimentar e médico, pois emite alertas e
apresenta gráficos, com hemoglobina glica-
da e relatórios diários, semanais e mensais,
que podem ser facilmente compartilhados
com a equipe de saúde. É o único dispositi-
vo do gênero no Brasil aprovado pela Agên-
cia Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Gratuito para iOS e Android, mas algumas
funções estão disponíveis apenas para os
usuários dos glicosímetros da Roche.

GlucoTrends
Outro app criado no Bra-
sil e que possui uma plata-
forma digital para controle
remoto de dados de glice-
mia com sugestão de doses de insulina, mo-
nitoramento das refeições, medicamentos e
exercícios físicos. Faz link com dados de dis- FatSecret
positivos médicos (glicosímetros, sensores, Auxilia na perda do peso
bombas), gerando análises dos dados e rela- corporal, pois apresenta
tório para auxiliar o médico na consulta. contador de calorias com
Recentemente, o aplicativo se aliou à plata- diário alimentar. Usando a
forma Rita Saúde, do grupo Sabin, para ges- câmera do celular, é possível fotografar os
tão e monitoramento do diabetes de seus alimentos e refeições e até escanear o có-
usuários. Gratuito para iOS e Android. digo de barras dos rótulos, facilitando o pla-
nejamento e o acompanhamento do que é
ingerido. O aplicativo ainda possui um ca-
dastro de alimentos de vários restaurantes
e usuários premium têm acesso a planos nu-
tricionais e contador de água. Gratuito para
iOS e Android.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 61


Tecnologias

APP PARA EXERCÍCIO FÍSICO


Dupla com os sensores
Além dessas sugestões,
MyfitnessPal Gympass existem ainda os aplicati-
Além de contar calorias e Por meio de parceria com vos associados à monitori-
registrar as refeições, este diversas empresas, o app zação contínua de glicose:
aplicativo monitora as ati- oferece acesso a uma rede Libre Link, Carelink Connect
vidades físicas, o peso e mundial de academias de e Minimed Mobile e XDRIP.
até o humor do usuário no dia! Fornece uma musculação, crossfit, pilates, funcional e até Saiba mais sobre eles na
biblioteca com o número de calorias de di- de meditação, localizando a mais próxima matéria de capa nas pági-
nas 28 a 32.
versos alimentos, que podem ser inseridos do usuário. Disponibiliza personal trainer
tanto manualmente quanto via código de online, com aulas ao vivo ou gravadas. Assi-
barras. Disponível para iOS e Android com natura mensal geralmente mais baixa que a
versões gratuita e Premium, que é paga. de outras academias particulares.

Exercício em casa Strava


Tem treinos para abdô- Reúne a vida esportiva da
men, peito, pernas, braços pessoa em um único lugar,
e glúteos, bem como exer- gravando corridas, pedala-
cícios para o corpo inteiro, das, trilhas e mais de 30 ti-
projetados por especialistas, sem necessi- pos de esportes que podem ser comparti-
dade de equipamentos, portanto não pre- lhados com o personal ou com os amigos.
cisa ir para a academia. Assinatura mensal. Exibe desafios mensais com novas metas e
medalhas digitais para manter a motivação.
Runtastic
Podômetro e contador de Zwift
passos de corrida e de- App utilizado para ciclis-
graus, sincronizado pelo mo e corrida indoor, com
Apple Watch. Oferece cál- espelhamento em tela de
culo de passos diários, calorias gastas no TV com a sensação de es-
dia e distância percorrida. Conexão wireless tar fazendo ciclismo em vários países e ce-
por fones de ouvido. Tem versões gratuita e nários diferentes do mundo.
Premium.
ENVATO ELEMENTS

62 DIABETESmagazine · Edição 03
CONEXÃO
MÉDICA
A ciência evolui a passos largos e consistentes.
O curso do tratamento do diabetes foi dra-
maticamente alterado em 1921 com a des-
coberta da insulina, por Frederick Banting e
Charles Best.
Ao longo de 10 décadas, presenciamos avan-
ços sequenciais e acelerados no tratamento
do diabetes, que hoje não se limita às insuli-
nas. Vivemos a era da tecnologia, dos hardwa-
res, dos softwares, das plataformas de teleme-
dicina, das clínicas digitais e dos aplicativos
com inteligência artificial embarcada e com
algoritmos preditivos que facilitam a tomada
de decisões para médicos e pacientes.
Os avanços na terapia medicamentosa, com
o desenvolvimento de novas insulinas e de
novas classes terapêuticas, continuam a tra-
zer novidades e esperança a quem convi-
ve com o diabetes, sejam eles médicos, pro-
fissionais de saúde, pessoas com diabetes,
seus familiares e cuidadores.
A Conexão Médica desta edição apresenta
a mais recente inovação no tratamento do
diabetes tipo 1.

O tema desta edição é:

TEPLIZUMAB
(Tzield™): o primeiro e único tratamento pa-
ra retardar o aparecimento do DM1 é apro-
vado pelo FDA.
ENVATO ELEMENTS

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 63


Teplizumab
Aprovado recentemente pelo FDA, medicamento retarda o aparecimento
do diabetes tipo 1. Será mais um passo importante rumo à cura?

Por Paulo Bettio | @paulo_bettio


Publicitário e gerente da DIABETESmagazine
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

E
m 17 de novembro de 2022, mea- o teplizumab, cujo nome comercial é
dos do mês dedicado às campa- TZIELD™ e foi desenvolvido pela empresa
nhas de prevenção e conscientiza- farmacêutica Provention Bio.
ção do diabetes no mundo inteiro, Para entendermos um pouco mais sobre es-
a comunidade foi “abalada” com o anúncio te novo medicamento, a DIABETESmagazine
de que a agência americana Food and Drug conversou com o Dr. Luis Eduardo Calliari,
Administration (FDA) aprovou a primeira endocrinologista pediátrico, 1º Secretário
droga de uma nova classe terapêutica que da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD)
se mostrou eficaz para retardar o apareci- e coordenador do Ambulatório de Diabetes
mento do diabetes mellitus tipo 1 (DM1): Pediátrico da Santa Casa de São Paulo.
PAULO BETTIO

“Estamos vivendo um momento


único. Pela primeira vez na
história temos a aprovação de
um medicamento que atua no
processo que leva ao diabetes,
retardando seu aparecimento”,
afirmou Dr. Luis Eduardo Calliari.

64 DIABETESmagazine · Edição 03
Conexão Médica

O teplizumab é o 1º medicamento de disglicemia, e que não tenham apresen-


que consegue interferir na história tado ainda sintomas clínicos.
natural do DM1. Qual a importância Os anticorpos contra as células beta são:
disso? • anti GAD;
A descoberta da in-
Desde o aparecimento da insulina, o trata- • anti-ilhota (ICA); sulina trouxe trata-
mento do diabetes vem avançando muito a • anti-insulina (IAA); mento para o DM1.
partir da evolução do conhecimento sobre a • ICA-512 (anti tirosina fosfatase); Já o teplizumab abre
necessidade de se tentar mimetizar a fisio- • anti-ZnT8 (anti transportador de zinco).
as portas para que
logia para redução de complicações agudas
(principalmente hipoglicemia) e crônicas, e Veja na tabela a seguir os três Estágios do DM1:
possamos começar a
melhorar a qualidade de vida. Esse conheci- pensar em uma cura
mento trouxe o desenvolvimento de novas Estágio 1 Presença de dois ou mais an- para esta condição.
moléculas de insulina, sistemas de aplica- ticorpos contra o pâncreas, Mas temos que ter
ção e métodos que possibilitaram essa me- sem alterações na glicemia.
calma, pois ainda é o
lhora. Apesar de toda evolução no tratamen-
to e de inúmeras tentativas de se modular o Estágio 2 Presença de dois ou mais an- primeiro passo.
processo autoimune que leva à redução da ticorpos contra o pâncreas,
produção de insulina, nenhuma medicação com alguma alteração glicê-
havia apresentado resultados positivos em mica e sem sintoma do dia-
retardar o aparecimento do diabetes clínico. betes.
Logo, a importância pode ser entendida tan-
to pelo benefício individual dos pacientes Estágio 3 Presença de dois ou mais an-
em risco, quanto pela expectativa de que a ticorpos contra o pâncreas,
partir de agora outros medicamentos pos- com alterações significativas
sam ser desenvolvidos e utilizados com o na glicemia e sintomas típi-
mesmo objetivo: o da cura do DM1. cos do diabetes, como poliú-
ria (excesso de urina) e poli-
Quem pode se beneficiar com o dipsia (sede intensa).
teplizumab?
Os pacientes que podem ser beneficiados
são aqueles que estão no Estágio 2 do DM1, Como é feita a triagem para identi-
ou seja, que apresentam mais de um anti- ficar os pacientes que têm risco de
corpo positivo contra o pâncreas, que já te- desenvolver DM1?
nham alguma alteração glicêmica, chamada Geralmente a triagem é realizada em paren-
tes de primeiro grau de pessoas com DM1,
assintomáticas, mas já há propostas sérias
DIVULGAÇÃO

na Europa e nos Estados Unidos para a rea-


lização de triagens populacionais para DM1.
O risco desses parentes desenvolverem dia-
betes é aproximadamente 15 vezes maior
que na população geral, tendo sua preva-
lência variando entre 6 e 10%. Nestes pa-
cientes são mensurados anticorpos contra
as células beta. Se mais de um anticorpo for
positivo, faz-se a avaliação glicêmica, atra-
vés de glicemia de jejum, glicemia pós-pran-
dial, HbA1c ou glicose intersticial (monitori-
zação contínua de glicose).
Quando houver disglicemia, ou seja, valores
de glicemia de jejum acima de 100 mg/dL
e abaixo de 125 mg/dL ou valores 2 horas
após refeições ou teste de tolerância oral a
glicose (TTOG) entre 140 e 200 mg/dL, sem

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 65


Conexão Médica

descompensação clínica, o paciente encon- plizumab é de uma aplicação endovenosa


tra-se em Estágio 2 do diabetes tipo 1 e é ao dia, em no máximo 30 minutos, por 14
elegível para receber o medicamento. dias consecutivos, feita em hospital-dia.

Como o teplizumab atua? O que precisamos saber sobre os


O teplizumab é uma medicação anti-CD3, efeitos adversos e segurança des-
ou seja, se liga a esse antígeno de superfície te medicamento?
celular presente em linfócitos T. Sua ação vi- Os efeitos colaterais mais importantes fo-
sa a bloquear ou limitar o processo autoimu- ram a síndrome de liberação de citocinas
ne que destrói as células beta do pâncreas (resposta imunológica exagerada, com alta
e leva ao DM1. O mecanismo de ação dele morbidade) e a redução dos linfócitos, que
está envolvido em sinalização e desativação ocorreu em 73% dos pacientes durante o
parcial da autorreatividade linfocitária con- tratamento. Outros efeitos adversos foram
tra as células beta. O teplizumab leva a um rash cutâneo, isto é, vermelhidão no local da
aumento na proporção de células T regula- aplicação (36%), leucopenia, que é a redu-
trórias e redução das células T CD8+ no san- ção dos glóbulos brancos (21%) e dor de ca-
gue periférico. beça (11%).
A imunomodulação reduz o grau de lesão Antes e durante o tratamento deve-se co-
das ilhotas e permite que o pâncreas pos- lher hemograma, enzimas hepáticas e outros
sa manter por um tempo mais prolongado a exames para avaliar evolução. Existem situa-
sua produção de insulina. Assim, o teplizu- ções, como infecções e reações de hipersen-
mab consegue retardar a evolução do Está- sibilidade, que podem exigir a suspensão da
gio 3 do DM1 em pacientes pediátricos com medicação. Cabe ressaltar que apenas dois
8 anos ou mais que estejam no Estágio 2. pacientes foram excluídos do estudo devido
a eventos adversos, sendo um do grupo te-
É possível retardar em quanto tempo plizumab e outro do grupo placebo.
o desenvolvimento para o Estágio 3?
O estudo avaliou 76 participantes acima de Quais seriam os benefícios reais de
8 anos de idade. Os principais achados fo- se atrasar o diagnóstico do DM1?
ram relacionados ao atraso médio de 2 a 3 São vários benefícios. Os mais importantes,
anos para o desenvolvimento do diabetes a meu ver, são reduzir o risco de cetoacidose
clinicamente manifesto, sendo o tempo mé- ao diagnóstico e diminuir ou retardar o apa-
dio de 59,6 meses no grupo que recebeu o recimento de complicações crônicas, devido
teplizumab (TPZ) e 27,1 meses para o grupo à menor variabilidade da glicemia e manu-
placebo (PLC). tenção da função das células beta. Além dis-
No grupo TPZ, 50% continuavam sem diabe- so, considerando a rapidez com que a tecno-
tes contra apenas 22% no grupo PLC. As ta- logia vem avançando, novas terapias para o
xas anualizadas de diagnóstico de diabetes DM1 devem ser desenvolvidas nesse perío-
foram de 14,9% no grupo TPZ e de 35,9% do. E, logicamente, atrasar o uso de insuli-
por ano no grupo PLC. A medicação reverteu na (e monitorização) é um enorme benefício No vídeo disponível no Ins-
a queda na função de célula beta através da para a pessoa com diabetes, pois significa tagram do G7diabetes, os
avaliação de peptídeo C (proteína secretada mais tempo sem picadas e menor risco de médicos Dr. Luis Eduardo
com insulina pela célula B pancreática e uti- hipoglicemia. Calliari e Dr. Mauro Scharf
lizada para avaliar a capacidade do pâncreas trazem mais detalhes so-
de produzir insulina). Em quais mercados o medicamen- bre esta inovação. Assista!
to já está disponível comercial-
Quais são as apresentações e as mente?
formas de administração do te- O teplizumab foi aprovado apenas nos Esta-
plizumab? dos Unidos, mas já está sendo avaliado por
O teplizumab (Tzield™) é uma solução esté- agências reguladoras em vários outros paí-
ril clara, incolor, em uma concentração de 2 ses. Acredito que este processo será acele-
mg / 2 ml), em frasco para uso único intrave- rado após a aprovação pela agência ameri-
noso. O protocolo utilizado para uso do te- cana (FDA).

66 DIABETESmagazine · Edição 03
Programa FazBem
uma iniciativa da AstraZeneca buscando oferecer
apoio para pacientes e cuidadores no tratamento.

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BR-20646 Material destinado a todos os públicos set/2022

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