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Coração
Edição 04
em alerta
es
Pu
et
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ab
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ca
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fic deD
ial
da So ilei
ra pode ser 03 vezes maior em
ciedade Bras
pessoas com diabetes. Saiba
os cuidados que você precisa
adotar a partir de agora
Baixe e
compartilhe a
versão digital
da revista
DIVULGAÇÃO
Expediente
REALIZAÇÃO
Dep. de Educação e Campanhas da SBD Palavra do
Presidente
Coordenador: André Gustavo Daher Vianna
Coordenadora: Dhiãnah Santini
Conselho Editorial:
A DIABETESmagazine, esta revista que te acompanha há
Bia Scher, Denise Reis Franco, Dhiãnah Santini,
quatro edições, é uma delas. Um projeto que criamos jun-
Laerte Damaceno, Luciana Oncken, Maria Eloísa Malieri,
tos e está disponível online de graça para todos. No for-
Marlice Marques, Martha Amodio e Tom Bueno.
mato impresso, ela chega nos consultórios dos nossos
associados, autoridades e gestores de saúde, comunica-
Colaboradores desta edição:
dores, influenciadores digitais, instituições diversas, en-
Claudia Mauricio Pieper, Edson Perrotti, Letícia Fuganti
tre outros.
Campos, Márjori da Silva Marroni e Monike Lourenço
Dias Rodrigues.
Além da revista, a nossa gestão da SBD já colhe ótimos re-
sultados. Com mais autonomia, os vice-presidentes estão
DIABETESmagazine® é uma publicação oficial da So-
desenvolvendo iniciativas muito importantes nas regio-
ciedade Brasileira de Diabetes (SBD), produzida pela
nais. Criamos os departamentos de Saúde Bucal e DM1
Momento Saúde Editora, distribuída gratuitamente na
no Adulto e DM1 na Criança. Voltamos com o de farmácia,
versão impressa aos seus sócios e disponível na inter-
sobre o qual você pode ler nas páginas 44 e 45, e retoma-
net para toda sociedade. É permitido citar e reproduzir
mos a Diretriz da SBD, que já alcançou um marco históri-
seu conteúdo desde que sejam dados os devidos crédi-
co: dois milhões de acessos, como bem destacou o colega
tos ao(s) autor(es) e à DIABETESmagazine.
Laerte Damaceno na seção SBD News.
A SBD e a Momento Saúde Editora não se responsabi-
lizam pelas informações contidas em artigos assinados,
Os eventos estão cada vez melhores e mais inovadores. Pau-
cabendo aos autores total responsabilidade por elas.
lo Bettio e Denise Franco falam brilhantemente sobre eles
na seção Conexão Médica. Há muito ainda para comparti-
Fale com a SBD:
lhar e fazer. E estamos no caminho certo, fazendo a Socie-
(11) 3842-4931
dade Brasileira de Diabetes para toda a sociedade brasileira.
administrativo@diabetes.org.br
www.diabetes.org.br
Obrigado por nos acompanhar e boa leitura!
Rua Afonso Braz, 579, Salas 72/74, Vila Nova Conceição,
CEP: 04511-011, São Paulo, SP
14 Direitos e Deveres
PAULO BETTIO
Participação ativa dos pacientes
18 Tapete Azul
Lorna Whashington: a transformista com diabetes
20 Falso ou Verdadeiro
Medicamentos para controlar a glicemia viciam?
22 Visão SBD
PL quer classificar diabetes como deficiência
C
28 Capa
Por que todas as pessoas com diabetes precisam hegou o momento em que a DIABETESmagazine
cuidar do coração traz na capa um assunto que preocupa a comu-
nidade médica e é de enorme relevância: o ris-
34 Inovação co aumentado que pessoas com diabetes têm
Entrevista com o ChatGPT (inteligência artificial) de desenvolver doenças cardiovasculares. Infelizmente,
36 DM2 ainda se fala pouco sobre ele nos consultórios, na im-
Os benefícios da cirurgia metabólica prensa e entre os familiares e pacientes. Por isso, incum-
bimos ao repórter Tom Bueno, que convive com o dia-
39 DM1 betes desde 2006, a nobre tarefa de explicar que riscos
Acampamentos de férias: um divisor de águas são esses e principalmente como preveni-los.
42 Prevenção
Como evitar os erros mais comuns Nossa revista alerta para as complicações sempre no in-
na aplicação da insulina tuito de evitá-las ou diagnosticá-las o mais breve possí-
vel. Com este objetivo, convidamos a médica Dra. Cláu-
44 Conte Com dia Pieper, especialista em transtornos alimentares, para
Farmacêutico: educador em diabetes acessível
esclarecer sobre um deles, que é específico de quem
46 Tratamento usa insulina: a diabulimia.
Os sintomas da diabulimia, transtorno
alimentar grave E como estamos sempre antenados nas novidades, a
DIABETESmagazine traz, de forma inédita, uma entrevis-
50 Em Movimento ta feita com uma inteligência artificial – o ChatGPT, que
Os riscos de ficar muito tempo sentado
nos explica como essa inovação pode ajudar no trata-
54 Nutrição mento do diabetes. Nas páginas a seguir, você vai en-
Aumente o consumo de FVL: frutas, contrar várias imagens geradas por inteligência artificial,
verduras e legumes mostrando que a comunicação na área da saúde tam-
bém pode (e deve) andar de mãos dadas com o avanço
60 Tecnologias
da tecnologia.
Saiba como se manter mais tempo dentro do alvo
63 Conexão Médica Eu gostaria de ter várias páginas para comentar cada ma-
SITEC: 10 anos do maior simpósio nacional téria e seção, pois todas elas formam uma trilha do co-
de tecnologias em diabetes nhecimento fundamental para quem deseja conviver
bem com o diabetes, focando na saúde e não na doença.
Sempre aqui: Mas acho melhor você seguir a leitura na companhia dos
nossos colunistas e convidados.
05 Vitrine SBD
06 SBD News Siga a trilha e boa leitura!
10 Sig@
12 Diabetes de A a Z Dr. André Vianna | @dr.andre.vianna
16 Papo com Especialistas Coordenador geral da DIABETESmagazine
19 Rede de Apoio
4 DIABETESmagazine · Edição 04
Vitrine SBD
Os bastidores da inovação
Por Letícia Martins | @leticiamartinsjornalista
Jornalista e editora-chefe da DIABETESmagazine
FOTO: ARQUIVO PESSOAL
N
a saúde, como em qualquer outro tanto, ela conta com uma equipe de parcei-
setor, inovação é imprescindível. A ros com variadas expertises.
Sociedade Brasileira de Diabetes Conheça dois profissionais corresponsáveis
(SBD) acompanha esse avanço in- pelo sucesso de vários projetos da atual
vestindo em iniciativas online e offline a fim gestão da SBD.
de atender às necessidades de todos. Para
ARQUIVOS NR/ADJ
6 DIABETESmagazine · Edição 04
SBD News
Homenagem
Com profundo pesar comunicamos o faleci-
ARQUIVO SBD
C
om certeza a sua equipe de saúde Além disso, se mexer todos os dias contribui
já te contou o quanto é importan- para o bem-estar físico e emocional. Ou se-
te a prática de atividade física para ja, só traz benefícios!
o controle do diabetes, não é? Ela Selecionei quatro perfis no Instagram de
ajuda a insulina a funcionar melhor no cor- pessoas com diabetes tipo 1 (DM1) que
po, deixando a glicemia mais estável e di- compartilham suas rotinas de atividade físi-
minuindo os riscos de complicações do dia- ca e dicas sobre os cuidados com diabetes.
betes. Bora treinar? Outro perfil que eu super
indico é o do ultramarato-
nista e professor de edu-
cação física Emerson Bisan
@dm1atleta @nutri.anacarolina (@emersonbisan), que tem
Hugo Almeida é ultramarato- Quem foi que disse que pes- DM1 há quase 30 anos e já
nista, está estudando nutri- soas com diabetes não po- completou mais de 100 ma-
ção e se especializando em nutrição, dem fazer crossfit? A nutricionista Ana ratonas. Na edição 03 da
metabologia e fisiologia do esporte. Carolina Almeida prova o contrário com DIABETESmagazine, ele es-
Nos posts do Instagram, ele mostra os vídeos inspiradores levantando peso creveu um artigo muito le-
treinos que gosta de fazer e traz várias e controlando a glicemia. Ela também gal sobre os atletas com dia-
reflexões sobre a vida. compartilha dicas de alimentação. betes. Bora ler!
@renanhora @evansoroka
No perfil do Renan Hora é pos- Evan Soroka é professora de
sível ver fotos e vídeos de lu- ioga, tem DM1 e mora em As-
ta, porque o rapaz de 33 anos é coach pen, nos Estados Unidos. Ela publica ví-
de Muay Thai e MMA. Com responsa- deos incríveis ensinando movimentos
bilidade, autocuidado e mantendo a que ajudam a melhorar a ansiedade e
“guarda alta“, ele mostra que é possí- a tensão causada pela rotina com dia-
vel praticar o esporte que quiser mes- betes. O perfil dela é em inglês, mas dá
mo tendo diabetes. para copiar as posições.
10 DIABETESmagazine · Edição 04
Dicionário do diabetes
Por Letícia Martins | @leticiamartinsjornalista
Jornalista e editora-chefe da DIABETESmagazine
FOTO: ARQUIVO PESSOAL
Q
uantas palavras novas você já
Q
aprendeu desde que recebeu o
diagnóstico de diabetes? Apos- ualidade do sono
to que foram muitas e espero que Diversos fatores estão relaciona-
a nossa revista esteja ajudando nesta jorna- dos com o desenvolvimento do
da de descobertas e conhecimento rumo ao diabetes tipo 2, entre eles dormir
controle do diabetes. mal. Durante o sono, nosso corpo descan-
Então prepare-se porque está na hora de am- sa e recupera o equilíbrio dos seus sistemas
pliar um pouco mais seu vocabulário. e funções. Logo, uma rotina de noites ruins
causa problemas, como cansaço constante,
baixo desempenho no trabalho, irritabilida-
J
de e alterações de humor até danos graves à
ejum saúde, como resistência à insulina, ganho de
Ficar muito tempo sem se alimentar peso e pressão arterial alta.
pode ser um perigo para quem tem Para um indivíduo adulto, a recomendação
diabetes e faz uso de insulina ou de geral é de 7 a 8 horas de sono por noite. Al-
medicamentos orais hipoglicemiantes, pois gumas dicas importantes: mantenha horá-
a taxa de açúcar no sangue pode cair mui- rios regulares de ir para a cama e evite a in-
to e causar tremedeira, tontura, suor exces- gestão de estimulantes, como café, depois
sivo, visão embaçada e, em casos mais sé- das 15h, mesmo que sejam adoçados com
rios, convulsão e até perda de consciência. xilitol.
Esses são alguns dos sintomas da hipogli-
cemia, mas eles podem variar. Há algumas
pessoas que não sentem nada quando es-
tão com hipoglicemia, o que aumenta o risco
de um acidente. Por isso, se você precisa ou
quer fazer jejum, é importante ajustar a do-
se de insulina ou de medicamento conforme
o padrão alimentar. Nesses casos, procure o
acompanhamento de um nutricionista. Isso
é fundamental tanto para não ter hipoglice-
mias durante o dia quanto à noite, o que po-
de prejudicar a qualidade do sono.
12 DIABETESmagazine · Edição 04
Diabetes de A a Z
X N
ilitol europatia diabética
Os adoçantes ou edulcorantes são Ela afeta os nervos periféricos, is-
usados como substitutos do açú- to é, as extremidades do corpo,
car para dar um gosto doce às be- como mãos e pés. No estágio ini-
bidas e preparações sem levar ao ganho de cial, a neuropatia diabética pode não cau-
peso. O que muita gente não sabe é que al- sar nenhum sintoma, mas, conforme evolui,
guns tipos possuem calorias. É o caso dos a pessoa pode sentir dor constante, baixa
poliois, como o xilitol e o eritritol. Por esta ou nenhuma sensibilidade no local, sensa-
razão, quem tem diabetes tipo 1 deve obser- ção de formigamento, queimadura e ardên-
var se a receita ou o produto possui xilitol cia. Algumas formas de prevenir são exami-
na composição (acesse artigo no site da SBD nar os pés e as pernas todos os dias, cuidar
para saber mais). Em caso positivo, pode ser das unhas regularmente evitando machucar;
necessário corrigir com insulina dependen- passar creme hidratante na pele seca, exce-
do da quantidade consumida. Isso porque o to entre os dedos, e usar calçados adequa-
pâncreas dessas pessoas não produz insuli- dos, indicados pela equipe multidisciplinar.
na, hormônio que facilita a entrada da gli- Quer saber como a neuropatia ocorre? Aces-
cose no sangue. Assim, todos os indivíduos se o site da SBD.
com DM1 precisam fazer a autoaplicação de
insulina, exceto se estiverem em lua de mel.
L
Reta final!
ua de mel Na edição nº 05 da DIABETESmagazine, com-
É uma fase do diabetes tipo 1 em pletaremos o alfabeto brasileiro, explicando
que o pâncreas da pessoa ainda con- o significado de palavras ou expressões que
ta com algumas células produtoras comecem com as letras T, V, W e Z. Até lá!
de insulina, pois o processo autoimune ain-
da não foi finalizado. Nesse período, as gli-
cemias ficam estáveis com pouca quantida-
de de insulina, o que gera uma falsa ideia
de cura no paciente ou nos pais. Porém, a
lua de mel no diabetes não dura muito. Além
disso, não são todas as pessoas que viven-
ciam esse fenômeno. Depois que a lua de
mel acaba, é preciso controlar a glicemia pa-
ra evitar complicações do diabetes, como a
neuropatia diabética.
A
incorporação de um novo medica- (Anvisa) e ser submetido a uma análise mi-
mento no Programa Farmácia Po- nuciosa da Comissão Nacional de Incorpo-
pular do Brasil é sempre um avan- ração de Tecnologias no Sistema Único de
ço a ser comemorado. Criado em Saúde (Conitec). Uma das maiores preo-
2004 pelo Governo Federal em parceria com A Conitec analisa o relatório com estudos cupações dos pacientes
as prefeituras, o programa disponibiliza me- apresentados pelo autor do processo para em qualquer ambiente
dicamentos gratuitos ou com descontos pa- emitir a recomendação inicial. Nessa mesma
ra a população. Desta forma, os pacientes etapa, a Perspectiva do Paciente dá espa-
de saúde é sermos vis-
podem dar continuidade aos seus tratamen- ço para que usuários do SUS participem da tos e ouvidos.
tos, evitando complicações de saúde e até reunião plenária e compartilhem experiên-
internações. Em ampla escala, as despesas cias sobre o uso da tecnologia em avaliação.
do Sistema Único de Saúde (SUS) também Por fim, emitido esse parecer inicial, o tema
diminuem. segue para consulta pública por 20 dias.
Em setembro de 2022, houve a incorporação Após o compilado de todas as contribuições
de cinco fármacos na lista da Farmácia Po- recebidas, a pauta retorna para a Conitec a
pular e um deles é destinado ao tratamento fim de que seja emitida a recomendação fi-
do diabetes tipo 2 (DM2). Trata-se da dapa- nal. A análise do plenário é baseada em evi-
gliflozina 10 mg, medicamento oral que age dências científicas, levando em considera-
eliminando o excesso de glicose através da ção aspectos como eficácia, efetividade e
urina, melhorando o controle da glicemia e segurança da tecnologia.
ajudando a prevenir nefropatia (doença dos Tendo passado pelo plenário e recebido a re-
rins) e insuficiência cardíaca. Pelo programa, comendação final, a nova tecnologia em ques-
a dapagliflozina pode ser adquirida por pes- tão segue para a decisão do secretário de
soas com DM2, com idade igual ou superior Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Es-
a 65 anos e doença cardiovascular estabele- tratégicos em Saúde do Ministério da Saúde.
cida que não obtiveram controle adequado. Se necessário, uma audiência pública sobre a
Para solicitar esta medicação, o médico de- tecnologia demandada pode ser realizada.
verá ser vinculado ao SUS. A partir da publicação da decisão de incor-
No Brasil, para que um medicamento, proce- porar tecnologia em saúde, ou protocolo clí-
dimento, equipamento ou produto seja in- nico e diretriz terapêutica, as áreas técnicas
corporado ao SUS, ele deve estar registrado terão prazo máximo de 180 dias para efeti-
na Agência Nacional de Vigilância Sanitária var a oferta ao SUS.
14 DIABETESmagazine · Edição 04
Direitos e Deveres
16 DIABETESmagazine · Edição 04
Papo com Especialistas
ENVATO ELEMENTS
O que eu não posso fazer
durante uma hipoglicemia?
A vida da transformista
com diabetes
A drag queen Lorna Washington tem uma carreira marcante no universo LGBTQIA+
e uma história de vida inspiradora.
L
orna Washington é o alter ego do ar- te a pandemia, fazendo transmissões ao vi-
tista carioca Celso Maciel, que se as- vo nas redes sociais dos seus shows.
sumiu gay ainda na adolescência, Lorna também se tornou uma defensora da
quando a homofobia era ainda mais educação e da conscientização sobre o dia-
evidente na sociedade. Aos 16 anos, fre- betes dentro da comunidade LGBTQIA+. “Por
quentava as primeiras boates LGBT+ do Rio eu não ter me cuidado antes, eu tive alguns
de Janeiro, onde começou a se produzir co- problemas, mas agora reconheço a importân-
mo drag queen. Hoje, aos 61 anos de ida- cia do controle da glicemia. Uso insulina dia- Para assistir
de, Lorna Washington é um símbolo de re- riamente para ter qualidade de vida”, conta a Você pode conhecer um
sistência. transformista. “Minha mensagem para todos pouco mais da história da
Além da carreira artística, Lorna foi prota- que convivem com diabetes é: tenham amor- Lorna Washington no quar-
gonista de diversas lutas pela visibilidade e -próprio. Nós somos doces demais e nosso to episódio do WebDoc
pelos direitos da comunidade carioca LGB- pâncreas não aguentou”, brinca. “Retrato: o Brasil que de-
TQIA+ (iniciais de lésbicas, gays, bissexuais, Mesmo com dificuldades para andar, Lorna pende de insulina”.
transexuais, queer, intersexuais, assexuais e Washington segue inspirando muitas pes-
demais orientações sexuais e identidades soas e levando sempre uma mensagem de
de gênero). Em 1981, ela participou da cria- amor e inclusão.
ção do Grupo de Ação e Militância Homosse-
xual (GAM), uma das primeiras associações
MARCELO AUGE
LGBTQIA+ do Brasil.
O diagnóstico de diabetes tipo 2 veio de
maneira inesperada aos 28 anos. A artista
conta que não se preocupou em cuidar do
diabetes no início e acabou tendo uma com-
plicação em um dos pés anos mais tarde.
Na década de 1990, Lorna se tornou figu-
ra ativa na luta contra a epidemia de aids,
mesmo não convivendo com o vírus. Partici-
pou de campanhas de prevenção e ofereceu
apoio e acolhimento aos infectados e suas
famílias.
Dona de um carisma contagiante e uma voz Lorna Washington: “Uso insulina
potente, no palco Lorna Washington é uma diariamente para ter qualidade
artista completa, que se reinventou duran- de vida.”
18 DIABETESmagazine · Edição 04
Rede de Apoio
Tipo família
O diabetes de uma pessoa também transforma a vida de quem convive com ela.
A
descoberta do diabetes marca o ADCBRA
início de muitas mudanças tanto A Associação dos Doentes Crônicos do Bra- Contatos:
para quem recebe o diagnóstico sil tem vários projetos para atender à popu-
quanto para seus familiares. Por is- lação com diabetes e à comunidade de Nova DOCE VIDA
so, muitas pessoas com a condição, parentes, Friburgo (RJ) e região. Um deles é o Projeto
amigos e quem se importa ajustam a agenda, De Olho no Diabetes, que visa à prevenção @docevidalages
superam as dificuldades e formam grupos de doenças, como retinopatia e edema ma-
para dividir experiências, dar apoio mútuo cular diabético, e o outro é o ADCBRA nas @docevidalages
e buscar melhores condições de tratamento. Ruas, que são campanhas de saúde realiza-
À medida que esses grupos crescem e rece- das nos bairros em parcerias com farmácias, ADCBRA
bem mais pessoas, é natural se formalizarem supermercados, igrejas e comércio em geral.
juridicamente. Mas o espírito de família per- A associação também faz parcerias com far- @deolhonadiabetes
manece. Conheça alguns desses grupos que mácias comunitárias locais, buscando doa-
hoje são associações tipo família. ções de medicamentos. @adcbra_
VERDADEIRO
O
diabetes afeta 537 milhões de No entanto, é fundamental que os pacien-
pessoas no mundo, segundo a tes com diabetes sigam as orientações mé-
Federação Internacional de Dia- dicas e evitem o uso inadequado ou excessi-
betes (IDF). A sua incidência tem vo de insulina ou medicamentos, que pode
crescido nos últimos anos e, com ela, a ne- levar a efeitos colaterais graves, como a hi-
cessidade de tratamentos eficazes para con- poglicemia. FALSO
trolar a glicemia, como medicamentos orais Diante disso, é importante saber que o uso
e insulina. Mas será que o uso desses recur- de medicamentos e insulina para tratar o
sos pode causar dependência ou viciar? diabetes não vicia. “O uso desses recursos é
Antes de responder a essa dúvida, precisa- uma necessidade para o controle da doença
mos entender que o diabetes é uma condi- e a prevenção de complicações decorrentes
ção na qual o corpo não consegue produ- do diabetes sem controle”, afirma Dr. Rodrigo.
zir ou utilizar adequadamente a insulina, o
hormônio responsável por regular as taxas Saiba mais
de açúcar no sangue. Daí a necessidade do Na edição 02 da DIABETES-
uso de medicamentos e de insulina, depen- magazine, o médico Dr. Dê-
dendo do caso, para ajudar a controlar os ní- nis Paiva explica quais são
veis de glicose. os antidiabéticos orais pa-
Os antidiabéticos orais são geralmente pres- ra tratar o diabetes tipo 2.
critos para pessoas com diabetes tipo 2. De
acordo com o médico endocrinologista Dr.
Rodrigo Siqueira, alguns desses remédios au-
mentam a produção de insulina pelo pân-
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL - MIDJOURNEY
20 DIABETESmagazine · Edição 04
PL quer classificar
diabetes como deficiência
O objetivo é melhorar o acesso e a qualidade do tratamento. Entenda.
O
Projeto de Lei (PL) nº 2.687/2022, mais atendidas apenas nos grandes centros
de autoria da deputada federal e, sim, em todos os rincões do nosso gigan-
Flávia Moraes, vem provocando tesco país”. O endocrinologista acredita que
calorosos debates na internet e este viés global proporcionará oportunida-
Ter uma deficiência
fora dela. A proposta, que tramita na Câmara des iguais para todos que convivem com a
dos Deputados, em Brasília, tipifica pessoas condição, melhorando inclusive o atendi-
não torna ninguém
com diabetes tipo 1 (DM1) como pessoas mento nas escolas, o acesso às insulinas e à incapaz!
com deficiência (PcD) para efeitos legais. monitorização da glicose. “Assim, os pacien-
A aprovação desse PL garantirá às pessoas tes com DM1 poderão ser atendidos com
com DM1 acesso a benefícios e direitos as- qualidade e quantidades suficientes de tiras
segurados por leis específicas para pessoas de glicemia, bem como obter todos os insu-
com deficiência, tais como programas de mos necessários para seu tratamento”, de-
educação e capacitação profissional, trans- clarou o presidente da SBD.
porte público acessível, vagas prioritárias Antes de avançarmos nos argumentos da
em estacionamentos e em atendimento em sociedade médica, é importante compreen-
instituições públicas e privadas, além de ou- dermos alguns pontos:
tras medidas que visem à inclusão das pes-
soas com deficiência na sociedade. Diferença entre deficiência e inca-
Mas é preciso analisar o cenário de forma pacidade
ainda mais abrangente, pois o que está no Deficiência não deve ser confundida com in-
centro das preocupações de quem tem dia- capacidade, pois são institutos jurídicos di-
betes é a garantia de acesso a tratamentos, à ferentes. A Lei nº 13.146/2015, no seu arti-
equipe de saúde qualificada, à melhor qua- go 2º, define que pessoa com deficiência é
lidade de vida e à prevenção de diversas aquela que tem impedimentos de longo pra-
complicações de saúde. A Sociedade Bra- zo de natureza física, mental, intelectual ou
sileira de Diabetes (SBD) se posicionou fa- sensorial. Os impedimentos podem obstruir
vorável ao PL em pauta e para explicar em sua participação plena e efetiva na socieda-
detalhes o assunto tive o privilégio de con- de, em igualdade de condições, com as de-
versar com o presidente da entidade, Dr. Le- mais pessoas.
vimar Rocha Araújo. Já incapacidade refere-se às pessoas que
Segundo ele, este projeto representa “o não estão aptas ao exercício ou gozo de seus
maior avanço dos últimos tempos, visto que direitos, ou seja, aos atos da vida civil, po-
as pessoas com diabetes tipo 1 não serão dendo ser ela absoluta ou relativa. Lembre-
22 DIABETESmagazine · Edição 04
Visão SBD
-se disso: capacidade é a regra e incapacida- pois nosso pâncreas não produz o hormô-
de é a exceção. E por ser excepcional, a Lei nio chamado insulina, responsável por man-
prevê taxativamente as hipóteses de incapa- ter o controle do açúcar no sangue. Portanto,
cidade geralmente para proteger aquele que sem a insulina, a glicose não consegue en- Nós que convivemos
não tem discernimento, maturidade ou algu- trar nas células e fornecer a energia neces- com DM1 temos uma
ma doença que as tornam vulneráveis para sária para o funcionamento do corpo. O re-
a efetivação de seus direitos na esfera civil. sultado dessa deficiência de insulina é uma
deficiência meta-
Dito isso, ter uma deficiência não torna nin- constante glicemia elevada, causando uma bólica, pois nosso
guém incapaz! E nós que convivemos com série de sintomas e inúmeras complicações pâncreas não produz
DM1 temos uma deficiência metabólica, caso não seja tratada. insulina, hormônio
essencial à vida.
DIVULGAÇÃO
exemplo, e ainda não possui discernimento ção deste PL será o caminho para atender a
total para entender e gerir o diabetes, o en- alunos com diabetes, que tantas dificulda-
cargo é ainda maior para os pais e cuidado- des enfrentam em muitas escolas por falta
res, que além de digerir o duro diagnóstico, de empatia, mas sobretudo de informação e
devem administrar as doses de insulina e rea- Leis que assegurem o direito delas de tratar
lizar o monitoramento dos níveis de glicose. do diabetes durante o horário de aula.
Por essas e outras razões, incluir o DM1 no rol O Dr. Levimar afirma ainda que o PL nº
de deficiência resultará num avanço de gran- 2.687/2022 é um passo fundamental para a Diabetes nas escolas
de magnitude nos direitos e garantias que cultura da prevenção, que tem sido uma das Na edição 03 da DIABETES-
não alcançamos por meio de ações pontuais. prioridades da atual gestão da SBD. Segundo magazine, falamos sobre os
Sabemos que somos iguais nas nossas dife- ele, o PL trouxe uma visibilidade importante desafios que mães de crian-
renças e considerar DM1 como deficiência é para o cenário de DM1 no Brasil, chamando a ças com diabetes enfrentam
resguardar as inúmeras fragilidades ineren- atenção de autoridades políticas e especia- para matricular e manter os
tes à condição experimentadas por quem listas diversos para reflexões mais profundas filhos nas escolas. Confira!
convive com ela. Desta feita, coloca-se a sobre a doença.
doença num patamar que efetivamente pro- “Com o lançamento da Frente Parlamentar
porcione à pessoa qualidade de saúde e de Mista do Diabetes, imensurável conquista
vida na sua integralidade. para a comunidade azul, temos um espaço
para discussões sobre o tema, promovidas
Prevenção da síndrome Mauriac e pela SBD, pelas associações de apoio a pes-
do diabetes soas com diabetes, pela Federação Nacional
Garantir o acesso ao tratamento de qualida- de Apoio ao Diabetes (FENAD) e por todos os
de às crianças desde o diagnóstico é essen- órgãos que trabalham diretamente pela cau-
cial para o futuro delas. A falta de controle sa”, declarou o presidente da SBD, que tem
do diabetes no presente, seja qual for o mo- diabetes tipo 1 há 40 anos.
tivo, aumenta as chances do desenvolvimen-
to de complicações ao longo do tempo. Por Os próximos passos
outro lado, quando há boa assistência na fa- Muitos debates têm sido realizados desde
se aguda do diabetes, existe uma melhora na que o PL foi apresentado, mas para que es-
qualidade de vida desta criança com trata- te projeto se torne lei é preciso que as pes-
mento efetivo da doença, refletindo no seu soas com diabetes se unam e se mobilizem,
crescimento e desenvolvimento. envolvendo o maior número possível de in-
O presidente da SBD alerta para a síndro- divíduos e instituições. Agora é o momento
me Mauriac, que acontece quando o diabe- de levantar uma voz uníssona e apresentar
tes é mal controlado. “Nessas condições, há aos parlamentares e ao Ministério da Saúde
o acúmulo de gordura no fígado, que resulta a necessidade, a urgência e a relevância de
no atraso de crescimento da criança, ou seja, sancionar esta lei.
sua estatura fica extremamente prejudicada.
Assim, não há dúvidas de que o Projeto de
Lei vem para minimizar as desigualdades e
garantir que o diabetes seja tratado de for- Benefícios
ma permanente e segura desde o início”, de- A aprovação do projeto de lei garan-
clarou o Dr. Levimar. tirá às pessoas com DM1 acesso a be-
Outro ponto que merece muita atenção é a nefícios e direitos assegurados por
acessibilidade. “Faltar tiras, insulinas e pro- leis específicas para pessoas com
fissionais de saúde habilitados para auxiliar deficiência, tais como programas de
a pessoa com diabetes é um caminho na con- educação e capacitação profissional,
tramão da prevenção e do bom manejo da transporte público acessível, vagas
doença. Com a aprovação desta Lei, o acesso prioritárias em estacionamentos e em
será realidade em todo o país, principalmen- atendimento em instituições públicas
te quanto ao fornecimento dos medicamen- e privadas, além de outras medidas
tos e orientação pelos profissionais de saú- que visem à inclusão das pessoas com
de, indispensáveis ao diabetes”, argumenta deficiência na sociedade.
o presidente da SBD. Segundo ele, a aprova-
24 DIABETESmagazine · Edição 04
A importância de um
diagnóstico preciso
Adriano Rodrigues tem LADA, um tipo de diabetes incomum
que muitas vezes é tratado como tipo 1 ou 2.
O
s primeiros sintomas do diabetes cadas inicialmente com diabetes tipo 2 te-
surgiram quando Adriano Rodri- nham LADA. Porém, muitas só chegam a ter o
gues, então estudante de medi- diagnóstico correto quando a doença já pro-
cina, passava férias na praia. “Eu grediu para a perda total da função pancreá-
sentia muita sede, mas na época não asso- tica e recebem o diagnóstico clássico de dia-
ciei isso ao diabetes. Como estava muito ca- betes tipo 1. Mas com Adriano foi diferente.
lor, bebia bastante refrigerante para tentar Ele encontrou no seu endocrinologista a
me refrescar, mas isso só piorou as coisas”, atenção necessária para se chegar ao diag-
relembra. E então vieram outros sintomas nóstico preciso e correto o mais breve possí-
como micção frequente e visão embaçada. vel: apenas 20 dias após os primeiros sinto-
“O que me fez pensar que talvez eu estives- mas (confira no quadro quais são os critérios
se com diabetes”. para diagnosticar LADA).
Adriano foi ao médico e recebeu o diagnós-
tico que, naquele momento, lhe pareceu A vida com LADA
uma sentença: era mesmo diabetes. Iniciou Hoje, oito anos depois do diagnóstico e com
o tratamento com insulina glargina (de ação 40 anos de idade, Adriano faz residência em
prolongada) e insulina ultrarrápida. ortopedia. “Gosto mesmo é de cirurgia”, afir-
Porém, o diabetes de Adriano, que estava com ma. Ele mora em Belém (PA) e aprecia ficar
32 anos na época, não parecia um caso clás- em casa com a mulher, depois da rotina can-
sico de diabetes tipo 1 e os fatores de risco sativa de quem faz residência médica e se
também não se encaixavam em diabetes tipo divide nas atividades profissionais. Gosta de
2. Conversando com um professor da faculda- saborear um vinho, um queijo, uma massa,
de sobre isso, Adriano foi aconselhado a pro- sempre evitando os excessos. Andar de mo-
curar outro profissional e fazer mais exames to é outra paixão.
para confirmar o tipo de diabetes. E veio o re- A medicina entrou na vida de Adriano antes
sultado: Adriano tinha LADA, sigla em inglês do diabetes, quando já estava cursando a fa-
de Diabetes Autoimune Latente do Adulto. culdade, em 2015, no quinto período da Uni-
Com o diagnóstico correto, o tratamento versidade Estadual do Pará (UEPA), em Mara-
mudou. O endocrinologista reduziu a insuli- bá. Estudar medicina e arcar com os custos do
na de ação rápida e incluiu um medicamen- tratamento do diabetes foi difícil e ele preci-
to oral que traz a combinação de sitaglipti- sou da ajuda financeira da mãe, funcionária
na e metformina. concursada em um banco. Tanto no tratamen-
Estima-se que 10% das pessoas diagnosti- to quanto no cotidiano, Adriano conta com o
26 DIABETESmagazine · Edição 04
Doce História
apoio da mulher Natália, também médica. É, Adriano, a vida com diabetes tipo 1, tipo
Preocupado em manter um bom controle 2, LADA ou MODY não é fácil, mas é preciso
do diabetes, ele cuida da alimentação, uma buscar sempre o controle glicêmico e os di-
grande aliada do tratamento que ajuda a re- reitos de acesso à saúde. Agradecemos por Estima-se que 10%
duzir a necessidade de insulina. Adriano compartilhar a sua história! das pessoas diagnos-
quase não precisa de insulina rápida, a não
ser quando os plantões e a rotina puxada o
ticadas inicialmen-
impedem de se alimentar bem. Isso aconte- te com diabetes tipo 2
BIANO LIMA
ce porque o pâncreas dele ainda preserva tenham LADA.
boa parte da função pancreática. “Às vezes,
o que tem disponível para comer na corre-
ria do trabalho não é o mais adequado, mas
é melhor do que ficar sem me alimentar. Aí,
sim, eu uso a insulina rápida. Mas essa situa-
ção não é frequente”, afirma Adriano.
O que é comum, aponta Adriano, é a fal-
ta de conhecimento sobre o diabetes tipo
LADA. “É preocupante conversar com mé-
dicos que estão formados há muito tempo
e não conhecem essa condição”, diz. Por is-
so, ele destaca a importância da divulgação
de informações sobre o LADA para que mais
pessoas possam ser diagnosticadas correta-
mente e receber o tratamento adequado.
Na opinião dele, os desafios não param aí:
os exames para detectar o LADA são caros e
o tratamento adequado também. “A popula-
ção em geral não tem acesso às tecnologias
mais modernas para tratar o diabetes, que,
muitas vezes, não estão disponíveis no pos-
to de saúde”, argumenta.
28 DIABETESmagazine · Edição 04
Capa
CORAÇÃO?
Risco de doenças cardiovasculares pode ser três vezes
maior em pessoas com diabetes.
N
ão tem como falar sobre diabetes diabetes. Isso significa que cerca de 50%
sem considerar as questões rela- das mortes de pessoas com diabetes têm
cionadas ao coração, já que essa relação com alguma doença do coração. De
condição de saúde é um dos prin- tão importante, mas pouco falado, este as-
cipais fatores de risco para doenças car- sunto virou capa desta edição da DIABETES-
diovasculares, como infarto agudo do mio- magazine e queremos alertar você sobre a
cárdio (ataque cardíaco), acidente vascular importância de controlar o diabetes.
cerebral (AVC) e insuficiência cardíaca. O aposentado Reinaldo Santini, 66 anos, re-
O diabetes pode levar ao acúmulo de placas cebeu o diagnóstico de diabetes em 1986.
nas artérias, obstruir o fluxo sanguíneo e cau- Ele tinha 33 anos e apresentou os sintomas
sar danos graves no coração e em outras par- clássicos de glicose alta no sangue: sede ex-
tes do corpo. Além disso, ele também pode cessiva, vontade de urinar a todo momento
favorecer o aparecimento ou afetar o contro- e perda de peso sem motivo aparente. Na-
le de outros problemas de saúde que sobre- quela época, Reinaldo trabalhava em uma
carregam o coração, como pressão arterial al- lotérica, não cuidava da alimentação, não
ta (hipertensão) e colesterol LDL elevado. seguia o tratamento prescrito corretamente
De acordo com a Federação Internacional de e ainda era fumante, o que aumentou o risco
Diabetes (IDF), as doenças do coração repre- de doença cardiovascular. “Eu não entendia
sentam a principal causa de morte em pes- muito bem a necessidade de cuidar do dia-
soas com diabetes. A taxa de mortalidade betes, não tinha tempo e nem existia tanto
nesta população por conta dos problemas recurso como hoje”, contou Reinaldo.
cardiovasculares é duas a três vezes maior Com o passar dos anos, outras complicações
do que em pessoas que não convivem com foram aparecendo, entre elas pressão alta,
30 DIABETESmagazine · Edição 04
Capa
32 DIABETESmagazine · Edição 04
Uma
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necessário.o.
Entrevista com ChatGPT
O futuro da inteligência artificial no cuidado do diabetes.
“A
inovação pede desculpas, Como a Inteligência Artificial pode
mas não pede licença.” Essa ser aplicada na medicina e na saúde?
expressão popularizada por ChatGPT: A Inteligência Artificial (IA) tem vá-
Mark Zuckerberg, fundador rias aplicações na medicina e na saúde. Ela
do Facebook, significa que a inovação inva- pode ser utilizada para desenvolver mode-
de as nossas vidas mesmo sem a nossa au- los de previsão e diagnóstico de doenças
torização. com base em dados clínicos e de pacientes.
Foi mais ou menos isso que aconteceu no fi- Além disso, a IA pode auxiliar na descoberta
nal de 2022, quando o ChatGPT começou a de novos medicamentos e tratamentos, ace-
crescer de forma exponencial e “chutou” a lerando o processo de pesquisa e desenvol-
nossa porta. vimento. Ela também pode ser aplicada na
Pautada no compromisso com a inovação e interpretação de imagens médicas, como ra-
com a informação de ponta, a DIABETESma- diografias e ressonâncias, ajudando na de-
gazine traz uma entrevista exclusiva com a tecção de anomalias e na tomada de deci-
celebridade do momento, o ChatGPT. sões clínicas. Outra área de aplicação é a
personalização de cuidados de saúde, onde
O que o ChatGPT é exatamente? a IA pode ajudar a adaptar tratamentos e te-
ChatGPT: O ChatGPT é um modelo de lin- rapias de acordo com as necessidades indi-
guagem desenvolvido pela OpenAI. Ele utili- viduais dos pacientes. No entanto, é impor-
za a tecnologia de Inteligência Artificial Ge- tante destacar que essas aplicações devem
nerativa (GPT, na sigla em inglês) para gerar ser usadas em conjunto com a expertise de
respostas em linguagem natural com ba- profissionais de saúde para garantir a segu-
se em um contexto fornecido. A Inteligên- rança e eficácia dos resultados.
cia Artificial Generativa refere-se a sistemas
que são capazes de gerar conteúdo novo Como a IA pode ajudar no dia a dia
e original em vez de apenas seguir instru- de quem tem diabetes?
ções pré-programadas. O GPT é treinado em ChatGPT: A IA é útil no auxílio a pessoas com
grandes quantidades de texto para apren- diabetes, por meio de sistemas de monito-
der padrões linguísticos e contextuais, per- ramento contínuo de glicose em tempo real.
mitindo-lhe produzir respostas coerentes e Ela analisa dados, gerando insights persona-
relevantes. Ele usa técnicas de aprendizado lizados e alertas de hipoglicemia. Em aplica-
de máquina, como redes neurais, para pro- tivos de gerenciamento, monitora alimentos,
cessar e gerar textos. O ChatGPT é um exem- atividades físicas, glicose e medicamentos,
plo de aplicação prática da tecnologia de sugerindo ajustes para melhor controle gli-
Inteligência Artificial Generativa para con- cêmico. Também é usada em chatbots e as-
versação em linguagem natural. sistentes virtuais, fornecendo informações,
34 DIABETESmagazine · Edição 04
Inovação
lo de vida. Nota:
No médio prazo, a IA Generativa pode ser in- O conteúdo desta matéria
tegrada a dispositivos médicos e tecnologias não foi editado e nem re-
de saúde, permitindo uma maior automa- visado com o objetivo de
ção e personalização dos cuidados. Isso po- se manter a originalidade
de incluir sistemas de bombas de insulina in- do texto produzido pelo
teligentes, que ajustam automaticamente as ChatGPT. As respostas es-
doses com base nos dados do CGM e em al- tão reproduzidas na ínte-
goritmos de IA. Além disso, ela pode facilitar a gra e os ajustes no volume
análise de grandes conjuntos de dados clíni- de texto para se adequar
cos para identificar padrões, tendências e in- ao espaço físico da seção
sights valiosos para o tratamento do diabetes. foram realizados pelo pró-
No longo prazo, é possível vislumbrar o de- prio ChatGPT.
senvolvimento de sistemas de IA generati-
A
cada ano que passa o Brasil e o do, acompanhado de atividade física regu-
mundo acompanham o crescimen- lar e de medicamentos que facilitem a per-
to da obesidade e, aliada a ela, do da de peso são peças-chave no tratamento
número de pessoas com diabetes do DM2. Porém, muitas vezes o tratamento Estima-se que 9 en-
tipo 2 (DM2). O Atlas Mundial da Obesidade clínico não consegue ser suficiente e preci- tre 10 pessoas com
de 2023 apontou que mais da metade da po- sa-se indicar o tratamento cirúrgico do binô-
DM2 estejam acima
pulação estará com sobrepeso ou obesida- mio obesidade-DM2.
de em 2035. O número é preocupante e po- Os dados que trazemos nesta reportagem do peso e precisem
de gerar um impacto econômico de US$ 4,32 comprovam que é preciso unir esforços. Por de tratamento dire-
trilhões ao ano se não houver mudanças sig- isso, convidamos o presidente da Socieda- cionado à redução do
nificativas na prevenção e no tratamento. de Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Me- excesso de peso.
No Brasil, a estimativa é que até 41% dos tabólica (SBCBM), o cirurgião Dr. Antônio
adultos estejam com obesidade no mesmo Carlos Valezi, que também é docente do
período, gerando gastos de mais de US$ 75 curso de medicina na Universidade Estadual
milhões, sendo US$ 19 milhões apenas com de Londrina (UEL), para explicar como fun-
assistência médica. A estimativa leva em ciona a cirurgia metabólica, também conhe-
consideração não só o excesso de peso, mas cida como cirurgia para o diabetes.
o custo das consequências, como hiperten-
são, diabetes e outras comorbidades. Os da-
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL - MIDJOURNEY
36 DIABETESmagazine · Edição 04
DM2
SHUTTERSTOCK
38 DIABETESmagazine · Edição 04
DM1
Acampamento de férias
Combinação perfeita entre aprendizado, diversão, gestão do diabetes e convivência
com pessoas que enfrentam desafios semelhantes.
I
magine um ambiente onde jovens com mais de 600 endocrinologistas em 42 anos
diabetes têm a oportunidade de se di- de atividade, demonstrando a efetividade
vertir, aprender e ao mesmo tempo se e o impacto desse modelo de aprendizado.
sentirem compreendidos e acolhidos. “O propósito do Acampamento ADJ-NR-Uni-
Assim são os acampamentos de férias, que fesp é contribuir para o desenvolvimento, a
proporcionam uma jornada transformadora educação e a formação de jovens com DM1,
com o diabetes. como também dos profissionais envolvidos,
Geralmente, os acampamentos têm uma através de uma experiência transformado-
programação intensa e muito bem planeja- ra”, declarou.
da, com foco no aprendizado divertido e se- Ao longo dessas quatro décadas, o acampa-
guro do manejo do diabetes. A jornada pode mento da ADJ-NR-Unifesp contou com im-
variar de um final de semana a vários dias e portantes colaborações, como a da Dra. San-
noites, e é sempre recheada de atividades dra Vivolo, endocrinologista da FSP-USP
recreativas, educativas e intervenções espe- e coordenadora da equipe médica da ADJ,
cíficas de cada área da saúde. além de coordenadores da equipe interdis-
Um deles é realizado nas instalações do ciplinar, que cresce a cada ano.
Acampamento Nosso Recanto (NR), em Sa- Hoje, a temporada de férias ADJ-NR-Unifesp
pucaí-Mirim (MG), próximo à Serra da Man- leva em média 80 crianças e adolescentes
tiqueira, e promovido pela Universidade Fe- com DM1, e um número igual ou maior de
deral de São Paulo (Unifesp) em parceria médicos, nutricionistas, enfermeiros, odon-
com a ADJ Diabetes Brasil e a Faculdade de tólogos e psicólogos.
Saúde Pública da Universidade de São Pau-
lo (FSP-USP). Experiência transformadora
Além de beneficiar os jovens participantes O que motiva todos esses profissionais da
com diabetes tipo 1 (DM1), o acampamen- saúde a participarem dos acampamentos é
to de férias serve como um laboratório vi- ver a alegria das crianças aprendendo a ter
vo para a formação de novos profissionais autonomia no seu cuidado do diabetes en-
da saúde, especialmente os interessados na quanto se divertem. O ganho para a equipe
área de diabetes. De acordo com o endocri- de voluntários também é enorme. A maioria
nologista Dr. Marco Antonio Vivolo, coorde- dos voluntários retorna em outras tempora-
nador geral do NR e idealizador da tempora- das e há uma procura crescente a cada ano
da ADJ-NR-Unifesp, já passaram pelo projeto por novos profissionais que desejam traba-
ARQUIVOS NR/ADJ
40 DIABETESmagazine · Edição 04
DM1
O
diabetes é uma doença crônica ca- 4. Não fazer o rodízio dos locais de aplica-
racterizada pela diminuição ou fal- ção no corpo, o que pode causar altera-
ta de insulina, hormônio produzido ções do tecido subcutâneo chamadas de
pelo pâncreas. Quando isso acon- lipodistrofias; A educação da pes-
tece, a pessoa tem um quadro hiperglicêmi- 5. Não homogeneizar a insulina NPH; soa com diabetes e de
co, ou seja, as taxas de açúcar (glicose) no 6. Trocar frascos de insulina com embalagens
seus familiares é fun-
sangue ficam altas e, se não controladas, po- e nomes parecidos, mas efeitos diferentes;
dem provocar vários problemas de saúde. Por 7. Fazer o ângulo inadequado para inserção
damental para promo-
isso, o tratamento com insulinas é fundamen- da agulha. ver o uso seguro dos
tal para todas as pessoas com diabetes tipo 1 medicamentos no tra-
e, em alguns casos, para quem tem o tipo 2. Como evitar as falhas tamento do diabetes.
Erros na administração da insulina aumen- Nos primeiros meses de diagnóstico, a apli-
tam o risco de eventos adversos, como hi- cação da insulina pode parecer difícil, prin-
poglicemias, causadas por doses em exces- cipalmente porque muitas vezes é preci-
so do hormônio (entre outros motivos). Já a so aplicar mais de um tipo de insulina. Mas
aplicação de doses insuficientes pode resul- com a prática e muita atenção tudo se tor-
tar em cetoacidose diabética, uma compli- nará simples. Peça ajuda aos educadores em
cação grave do diabetes que ocorre quando diabetes e profissionais de saúde sempre
os níveis de glicose no sangue estão muito que precisar.
altos e acompanhados do aumento da quan- A seguir, listei algumas dicas que podem
tidade de cetonas (substâncias ácidas que ajudar você a prevenir falhas no tratamen-
desequilibram a composição sanguínea). to com insulina.
Dessa forma, é importante que tanto os pro- Importante: respeite o tempo necessário
fissionais da saúde quanto os indivíduos que cada insulina rápida ou ultrarrápida le-
com diabetes conheçam os riscos envolvi- va para começar a agir e só depois disso co-
dos no manejo da insulina e implementem mece a comer. Por exemplo, a insulina re-
práticas para minimizar a ocorrência de er- gular começa a agir entre 30 e 60 minutos
ros durante a aplicação. após a aplicação, enquanto o início da ação
As falhas mais comuns são: da asparte ocorre entre 10 e 20 minutos de-
1. Interpretar de forma errada os rótulos ou pois da aplicação. As insulinas lispro e glu-
as escalas de graduação de seringas; lisina levam entre 5 e 15 minutos para co-
2. Esquecer de aplicar a insulina; meçar a agir, e a asparte mais rápida de 2 a
3. Aplicar doses a mais ou a menos do que 5 minutos.
o necessário;
42 DIABETESmagazine · Edição 04
Prevenção
Antes da aplicação
• Leia com atenção as recomendações do • Examine a aparência da insulina;
seu médico sobre cada tipo de insulina, • Realize a desinfecção dos frascos de in-
doses prescritas e horário de aplicação; sulina;
• Faça marcações nos frascos de insulina • No caso da NPH, role o frasco cuidado-
para evitar a troca; samente entre as mãos até que o con- Descarte consciente
• Coloque alarmes no seu celular ou re- teúdo fique totalmente misturado (ao A edição 02 da DIABETES-
lógio para lembrar sobre o horário das menos 20 vezes); magazine traz um guia so-
aplicações até você se acostumar; • Puxe a dose prescrita de insulina na serin- bre o descarte de medica-
• Lave as mãos; ga, retirando as bolhas de ar da seringa; mentos e acessórios usados
• Se a insulina estiver na geladeira, reti- • Em caso de mistura de insulina, puxe a no tratamento do diabetes.
re-a minutos antes do uso para evitar insulina de ação ação curta, rápida ou Vale a pena conferir!
desconforto na aplicação; ultrarrápida na seringa antes da NPH;
• Leia o rótulo com atenção, identifican- • Proteja a agulha até o momento da
do e diferenciando o tipo de insulina; aplicação.
Durante a aplicação
• Faça a assepsia (limpeza) da pele onde 90º. Em algumas situações, o ângulo
a insulina será aplicada; de 45º pode ser utilizado, mas somente
• Realize o rodízio dos locais de aplica- com indicação profissional. Garanta que
ção, esgotando bem toda a área; a insulina seja administrada no tecido
• Faça a prega subcutânea para aplicação subcutâneo;
da insulina sempre que utilizar agulhas • Administre toda a dose de insulina len-
com comprimento igual ou superior a 6 tamente;
milímetros (mm); • Aguarde alguns segundos para retirar a
• Introduza a agulha em um ângulo de agulha da pele.
Após a aplicação
• Não é recomendado massagear o local • Realize as refeições conforme planeja-
de aplicação; do para evitar hipoglicemia grave.
Orientações gerais
• Registre a data de abertura do frasco ou ringas adequadamente;
da caneta de insulina e observe o pra- • Meça a glicemia regularmente;
zo de validade recomendado pelo fa- • Conheça os sinais e sintomas de hipo-
bricante. A validade do produto depois glicemia, assim como medidas para re-
de aberto é menor do que da embala- verter o quadro e compartilhe as in-
gem lacrada; formações com seus familiares e/ou
• Não reutilize seringas nem agulhas pa- cuidadores;
ra canetas de aplicação; • Realize as refeições conforme planeja-
• Descarte os materiais contaminados e do para evitar hipoglicemia grave.
cortantes, como agulhas, lancetas e se-
P
ense rápido: onde tem uma farmá- moção da saúde e no cuidado de pacien-
cia? Provavelmente você lembrou tes com diabetes, incluindo educação, mo-
de um ou mais estabelecimentos nitoramento de medicamentos, prevenção e
desses perto da sua casa ou do seu educação em saúde”, afirma a farmacêutica
local de trabalho. As drogarias estão espa- Monica Lenzi, que também integra o Dep. de
lhadas por todo o Brasil e nelas trabalham Farmácia. De acordo com ela, o farmacêuti-
70% dos 220 mil farmacêuticos do país. Es- co pode, inclusive, orientar as pessoas com
ses profissionais de saúde são responsáveis diabetes sobre a importância de adotar os 7
pela dispensação dos medicamentos padro- comportamentos de autocuidado:
nizados em conformidade com os protoco- 1. Alimentação equilibrada;
los clínicos e as diretrizes farmacêuticas. 2. Prática de atividade física;
Mas além disso eles podem realizar ações 3. Automonitoramento da glicose no sangue;
de educação em saúde, incluindo orienta- 4. Uso da medicação prescrita pelo médico;
ção a pessoas com diabetes. 5. Adaptação saudável;
O papel desses profissionais é tão impor- 6. Resolução de problemas;
tante que a gestão atual da Sociedade Brasi- 7. Redução de riscos de complicações.
leira de Diabetes (SBD) reativou o Departa-
mento de Farmácia. Segundo o farmacêutico Capacitação em diabetes
e coordenador do departamento, José Va- Monica revela que a SBD, em parceria com
nilton de Almeida, o objetivo é levar infor- a Sociedade Brasileira de Farmácia Clíni-
mação sobre diabetes para dois públicos: os ca (SBFC) e o Conselho Federal de Farmá-
farmacêuticos, que precisam conhecer mais cia (CFF), está elaborando um curso de capa-
sobre esta condição de saúde; e as pessoas citação em diabetes para os farmacêuticos,
com diabetes para que procurem pelo far- que deve ensinar desde princípios básicos
macêutico e, se for o caso, o estimulem a se da condição até condutas práticas.
tornar um especialista no cuidado e na edu- Como educador em diabetes, o farmacêuti-
cação em diabetes. co deve partir do princípio de que a pessoa
Os benefícios do atendimento especializa- que procura sua orientação já tem o diag-
do em diabetes são muitos. Para o pacien- nóstico de diabetes e um médico respon-
te, pode significar maior adesão ao trata- sável. “Portanto, cabe ao farmacêutico es-
mento e melhor qualidade de vida. Para o tabelecer contato com outros profissionais
farmacêutico, um cliente fidelizado e o ple- da equipe para combinar quais são as me-
no exercício da profissão. E para o siste- tas estabelecidas para aquele paciente”, ex-
ma de saúde, menos custos a longo prazo, plica José Vanilton.
já que a pessoa com diabetes bem orienta- Um exemplo sempre útil é que o farmacêutico,
da tem menos complicações de saúde. “Ou mesmo numa simples dispensação de medi-
seja, o farmacêutico é fundamental na pro- camentos, repasse com a pessoa os principais
44 DIABETESmagazine · Edição 04
Conte Com
ARQUIVO PESSOAL
E
ste é um assunto que precisa ser fa- pratica nenhum comportamento purga-
lado nos consultórios, em casa, na in- tivo. Este transtorno é muito comum em
ternet, na imprensa e em todos os pessoas com diabetes tipo 2, o que difi-
lugares possíveis, pois é muito sé- culta o controle da glicemia.
rio. Anote: transtornos alimentares são al- No diabetes tipo 1 (DM1), a presença de um
terações no comportamento alimentar que distúrbio alimentar é de 2,5 a 3 vezes mais
ocorrem devido a algum distúrbio psicológi- frequente, sobretudo nos pré-adolescen-
co e psiquiátrico. tes e adolescentes, quando comparado com
Pessoas com transtorno alimentar desenvol- uma população da mesma faixa etária sem
vem uma preocupação doentia com a comi- diabetes. E existe um distúrbio alimentar es-
da e uma insatisfação com o próprio peso e pecífico de quem tem diabetes e usa insuli-
imagem corporal. Cerca de 90% desses dis- na: a diabulimia.
túrbios começam com algum tipo de dieta e
muitas vezes são difíceis de serem diagnos- Diabulimia: atenção redobrada
ticados, pois o indivíduo não tem consciên- Diferentemente do que o nome sugere, dia-
cia do que realmente está acontecendo com bulimia não está relacionada a diabetes e
ele e quais são os riscos para a sua saúde. bulimia, mas especificamente a pessoas
Os principais transtornos alimentares são: com DM1 que restringem, pulam ou deixam
• Anorexia nervosa: a pessoa restringe a de tomar suas doses de insulina com o obje-
quantidade de comida que vai consumir tivo de perder peso.
para perder peso; Mas qual a relação da insulina com o peso
• Bulimia nervosa: é quando a pessoa co- corporal? A insulina é um hormônio que aju-
me uma grande quantidade de alimentos da a manter os níveis de glicose no sangue
e em seguida provoca vômitos, usa laxan- estáveis, permitindo que as células do corpo
tes e/ou diuréticos ou faz exercício físico absorvam a glicose dos alimentos ingeridos.
exageradamente, tentando eliminar o que Se a pessoa com DM1 não estiver aplicando
comeu. Esses comportamentos são cha- insulina de forma adequada, haverá aumen-
mados de purgativos; to da glicose no sangue (hiperglicemia). Co-
• Transtorno da compulsão alimentar: mo consequência, o açúcar em excesso no
mesmo se sentindo cheia, a pessoa inge- corpo é eliminado pela urina (glicosúria), le-
re uma grande quantidade de comida em vando à perda de calorias e de peso.
um pequeno intervalo de tempo, mas não Quem tem diabetes precisa de uma alimen-
46 DIABETESmagazine · Edição 04
Tratamento
ENVATO ELEMENTS
48 DIABETESmagazine · Edição 04
Ei, você, levante-se!
Movimentar-se ao longo do dia é tão importante para a saúde quanto ter uma
alimentação equilibrada, não fumar, dormir bem, entre outros cuidados.
“F
icar sentado é o novo fumar”. Eu li benefícios?
Você já ouviu esta frase? Ela Sim! Para quem tem diabetes, os movimen-
tem sido comentada fre- tos diários ajudam a diminuir a resistência
quentemente entre médicos à insulina e melhoram o controle da glico-
e cientistas, pois várias pesquisas demons- se no sangue. Em relação aos ganhos para a
tram que passar muito tempo sentado au- saúde, não existe muita diferença entre an-
menta os riscos de desenvolver problemas dar 4 km durante 40 minutos direto ou in-
de saúde, como doenças cardiovasculares. tercalar 20 minutos de caminhada 3 vezes
Os estudos também mostram que perma- ao dia. Mas a ideia é que esses 4 km sejam
necer sedentário por longas horas, todos os divididos ao longo do dia para evitar o se-
dias, está associado à hospitalização, mor- dentarismo.
tes por todas as causas, diabetes e câncer Ou seja, mesmo que você faça atividades fí-
em adultos. Ou seja, estamos falando de um sicas durante a semana, como natação, cor-
assassino silencioso que ganhou força com rida ou ciclismo, não está isento de se mexer
o avanço da tecnologia e a pandemia. Hoje, bastante ao longo do dia. Continue fazendo
é bastante comum trabalhar de casa (home os exercícios programados com intensida-
office), ficar muito tempo sentado em fren- de, volume e duração individualizados para
te ao computador ou usando o celular. As- melhorar o condicionamento cardiovascular,
sim, muitas pessoas passam a maior parte aumentar a força, ter mais equilíbrio, entre
do tempo inativas, o que está se tornando outros benefícios.
um sério problema de saúde.
Há alguns anos, a Organização Mundial da Contando os passos
Saúde (OMS) recomendou que uma pessoa Em uma revisão sistemática da literatura
adulta deveria dar pelo menos 10 mil passos médica, o uso de um pedômetro (contador
diários para ser considerada fisicamente ati- de passos) foi associado ao aumento da ati-
va, o que equivale a 8 quilômetros (km). Es- vidade física e a reduções do índice de mas-
sa recomendação ainda prevalece. Uma me- sa corporal (ICM) e da pressão arterial.
ta razoável para começar é andar no mínimo Portanto, essa é uma dica valiosa tanto pa-
5 mil passos diários (4 km). ra os médicos orientarem seus pacientes,
Mas, calma! Você não precisa andar tudo is- como para os pacientes tentarem começar
so de uma vez só! O ideal é se movimen- suas mudanças por aí. No mercado, existem
tar ao longo do dia e não ficar sentado ou vários modelos de smartphone, relógios e
deitado mais do que 30 minutos consecu- pulseiras capazes de contabilizar os passos
tivos (exceto, claro, durante o sono!). O sim- que damos ao longo do dia.
ples fato de ficar em pé, esticar as pernas e
se mexer durante o dia trará grandes benefí-
cios para a saúde.
50 DIABETESmagazine · Edição 04
Em Movimento
ENVATO ELEMENTS
A OMS recomenda 10
mil passos diários.
Mas a meta inicial
pode ser menor. Saiba
mais no texto.
52 DIABETESmagazine · Edição 04
ON DEMAND
PERDEU O
SITEC 2023?
Não tem problema!
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Três tipos de
alimentos poderosos
Chamados de FVL, eles ajudam a evitar uma série de doenças e são ótimos
para o controle do diabetes. O problema é que muitas pessoas não consomem
a quantidade ideal.
S
e existisse um combo de nutrientes cionamento do organismo e ainda afasta
capaz de potencializar a sua saúde diversos problemas de saúde. Conheça al-
contra diversas doenças que levam guns desses nutrientes e seus benefícios:
à morte precoce e que ainda tives-
se o poder de auxiliar no equilíbrio da gli- Fibras
cemia, você consumiria todos os dias? E se São carboidratos não digeríveis, mas meta-
esse combo ainda fosse livre de substân- bolizados no intestino por bactérias bené-
A matéria de capa da edi-
cias que causam intolerância e alergias, vo- ficas e fundamentais para a saúde. Médicos,
ção 01 da DIABETESmagazi-
cê consumiria todos os dias? nutricionistas e pesquisadores têm reco-
ne ensina como montar um
Pois este combo de alimentos existe e o me- nhecido o papel das fibras no controle gli-
prato saudável, saboroso e
lhor: é acessível. Estou falando do trio FVL, cêmico e na redução de complicações crôni-
amigo do controle glicêmi-
iniciais de frutas, verduras e legumes. Ele é cas do diabetes.
co. Confira!
tão poderoso que a Organização Mundial da Comer fibras diariamente evita picos de gli-
Saúde (OMS) recomenda comer pelo menos cose no sangue após as refeições, ou seja, re-
400 gramas por dia no mínimo cinco vezes duz a glicemia pós-prandial, além de fazer o
na semana. Entretanto, menos de 25% dos organismo absorver menos colesterol ruim.
brasileiros atinge esta meta. Outro ponto positivo das fibras é que aju-
O baixo consumo de FVL está associado com dam a regular o tempo de trânsito intesti-
a piora da saúde e o aumento da mortalida- nal, aumentando a saciedade e prevenindo
de. Em 2017, a FAO, organização para a ali- a constipação.
mentação e agricultura, estimou que 3,9 mi- Para quem tem diabetes, recomenda-se o
lhões de mortes em todo o mundo foram consumo diário de no mínimo 25 g de fibras,
atribuídas à falta do hábito de ingerir FVL. distribuídos ao longo do dia, com diferentes
Um número muito alto, você não acha? Des- fontes do nutriente: frutas, verduras, folhas,
tas mortes, 14% foram por câncer no apare- grãos integrais e sementes, por exemplo.
lho digestivo, 11% por doenças do coração e
9% por acidentes vasculares cerebrais (AVC). Compostos bioativos
Comer frutas, verduras e legumes regular- Possuem ação metabólica e fisiológica espe-
mente nas quantidades citadas acima ga- cífica, como redução do colesterol, ação an-
rante nutrientes essenciais para o bom fun- tioxidante, atividade anti-inflamatória, en-
54 DIABETESmagazine · Edição 04
Nutrição
tre outras. Estima-se que há mais de dez mil os polifenóis, os flavonoides, os carotenoi-
compostos bioativos que podem ter origem des e os fitosteróis, encontrados nas frutas,
animal, como o ômega 3, ou vegetal, como verduras e legumes.
KARIM SCHARF
56 DIABETESmagazine · Edição 04
Nutrição
Pessoas com diabetes podem uma boa quantidade de nutrientes. Faça isso
tomar suplementos? todos os dias e o seu corpo vai te agradecer.
Considerando a importância dos micronu- Para quem tem uma alimentação pouco co-
trientes, muitas pessoas optam por consu- lorida, as dicas abaixo são simples e ajudam:
mi-los na forma de suplementos, muitas ve-
zes sem orientação profissional adequada. • Inclua legumes no preparo das refeições.
No entanto, as cápsulas de vitaminas e mi- Por exemplo, acrescente ervilha e cenou-
nerais não oferecem os mesmos benefícios ra cortada ou ralada na água durante o co-
que os alimentos in natura. zimento do arroz;
Além disso, as sociedades médicas nacio- • Varie no preparo. Na segunda-feira, faça
nais e internacionais não recomendam a uma couve refogada, na terça-feira, coma
suplementação rotineira de micronutrien- salada crua e assim por diante;
tes em pacientes com diabetes. A indicação • Utilize opções congeladas também para
deve ser feita de maneira individualizada e aumentar a praticidade e adesão no dia
orientada pelo médico e/ou nutricionista. a dia;
• Opte pelas frutas da estação que, além de
O segredo está no prato mais baratas, são mais frescas;
Uma estratégia simples para saber se você • Busque por produtos de pequenos agri-
está consumindo variedade de frutas, legu- cultores e programas do governo como
mes e verduras é observar as cores dos ali- sacolão para deixar sua compra mais aces-
mentos no seu prato. Se houver um arco- sível ao bolso.
-íris nele, parabéns! Você está ingerindo
KARIM SCHARF
As cápsulas de vita-
minas e minerais não
oferecem os mesmos
benefícios que os
alimentos in natura.
58 DIABETESmagazine · Edição 04
Tempo no alvo:
já ouviu falar sobre ele?
Além da hemoglobina glicada e de outras medidas, há uma nova forma
de controlar o diabetes com vantagens importantes para o tratamento.
O
tratamento do diabetes visa sem- Avançados para o Diabetes (ATTD), um grupo
pre ao bom controle, mas o que de experts em diabetes, entre eles o vice-
isso significa exatamente? A res- -presidente da Sociedade Brasileira de Dia-
posta varia bastante e evolui a ca- betes (SBD), Dr. Mauro Scharf, determinou
A busca pelo maior
da dia conforme o nosso conhecimento e as quais valores e percentuais seriam adota-
tecnologias avançam. dos como padrão na avaliação do TIR. TIR ou TITR possível
Em princípio, o parâmetro de controle do Em dezembro daquele ano, o TIR passou en- minimiza imensamen-
diabetes era baseado nos níveis de glicemia tão a ser mundial e oficialmente utilizado te os riscos de compli-
sanguínea e urinária (glicosúria). Depois, o após a publicação do Consenso Internacio- cações crônicas do
exame de sangue chamado hemoglobina nal sobre o Uso de Monitoramento Contínuo
glicada (Hb1Ac) virou referência por apre- de Glicose. Basicamente isso ocorreu por-
diabetes.
sentar informações acerca dos valores mé- que a hemoglobina glicada fornece apenas
dios de glicemias dos últimos dois meses. a média das glicemias no período de dois
Recentemente, passamos a usar também o meses, mas não tem a capacidade de visua-
tempo no alvo, cuja sigla do inglês é TIR (ti- lizar as flutuações diárias das glicemias, o
me in range). que é possível com a monitorização contí-
O tempo no alvo é uma métrica que serve nua da glicose.
para avaliar se o controle do diabetes es- Assim sendo, essas duas métricas não com-
tá adequado e em quais pontos é necessá- petem entre si, tampouco se excluem, mas
rio agir para melhorá-lo. Uma das vantagens podem complementar-se, uma vez que a he-
desta métrica é que ela demonstra quanto moglobina glicada demonstra o nível médio
tempo a pessoa com diabetes se mantém de glicemias nos últimos meses e o TIR deta-
com a glicemia dentro do desejável e quan- lha quanto tempo a glicemia esteve dentro,
to tempo ficou acima e abaixo desse alvo. acima ou abaixo da faixa-alvo desejada.
O TIR é expresso em percentuais, refletin-
do a quantidade de horas e minutos por dia Como calcular o TIR na prática
dentro ou fora da faixa-alvo. O tempo no alvo é calculado pela medida
das glicemias, preferencialmente através do
Como o TIR foi definido? uso de sensor de glicose, por um período de
Em fevereiro de 2017, durante o Congresso 14 dias. O sensor de glicose gera um relató-
Internacional de Tecnologias e Tratamentos rio denominado AGP (Ambulatory Glucose
60 DIABETESmagazine · Edição 04
Tecnologias
ENVATO ELEMENTS
62 DIABETESmagazine · Edição 04
CONEXÃO
MÉDICA
A tecnologia em diabetes avança rapidamen-
te e nos últimos 10 a 15 anos passou por uma
transformação significativa, mudando comple-
tamente a rotina das pessoas que convivem
com essa condição.
Para atualizar os médicos, demais profissionais
de saúde e as pessoas com diabetes, a Socie-
dade Brasileira de Diabetes realiza a cada dois
anos um evento dinâmico e necessário que
traz as novidades do universo tecnológico no
tratamento desta condição crônica.
SITEC
Simpósio Internacional de
Tecnologias em Diabetes.
ENVATO ELEMENTS
A
tualmente, é impossível disso-
ARQUIVO SBD
ciar o tratamento do diabetes do
uso de tecnologias que permitem
uma gestão mais eficaz dos níveis
de glicose, reduzindo o impacto do controle
inadequado no médio e longo prazo.
Essa jornada de inovação no tratamento do
diabetes começou com o desenvolvimento
de dispositivos (hardwares), como glicosí-
metros, os primeiros sistemas de monitori-
zação contínua de glicose (CGM) e as bom-
bas de insulina.
Agora, estamos testemunhando o rápido
avanço dos "softwares" (aplicativos, siste-
mas e plataformas) que aprimoram a efetivi-
dade dos dispositivos e permitem a integra-
ção e interoperabilidade entre dispositivos
de diferentes fabricantes.
Hiperconectividade, predição e insights per-
sonalizados são termos que já fazem parte
do dia a dia de médicos e pessoas com dia-
betes.
A chegada do ChatGPT (confira a entrevista
nas páginas 34 e 35 desta edição) traz um
recurso altamente sofisticado para a aten-
ção e o cuidado do diabetes.
Mas como se manter atualizado com essa
evolução que ocorre de forma cada vez mais
acelerada?
A DIABETESmagazine entrevistou a endocri-
nologista Dra. Denise Franco, presidente do
SITEC 2023, sobre o evento mais importante
em tecnologias em diabetes do Brasil, que Dra. Denise Franco é a primeira
ocorreu na capital paulista, entre os dias 20 mulher a presidir o SITEC em uma
e 22 de abril. década de evento.
64 DIABETESmagazine · Edição 04
Conexão Médica
O que é o SITEC e qual a sua história? Nesta edição, optamos novamente pela ver-
O SITEC é o Simpósio Internacional de Tec- são presencial, o que permitiu uma intera-
nologias em Diabetes, um evento de des- ção maior, porém com apresentações online.
taque no Brasil, organizado pela Sociedade Isso proporcionou a enriquecedora partici- Não há nada melhor
Brasileira de Diabetes (SBD), que reúne pro- pação de colegas internacionais, contribuin- do que aproveitar o
fissionais da saúde, pesquisadores e des- do para a qualidade do evento. Foi idealiza- potencial das tecno-
de 2021 inclui pessoas com diabetes para do o compartilhamento de todo o conteúdo
logias para superar as
discutir as inovações tecnológicas no trata- na Plataforma e no App SBD Eventos, garan-
mento da doença. O evento ocorre a cada tindo uma maior acessibilidade e possibili- barreiras do tratamen-
2 anos e possui uma trajetória de sucesso, tando que um número maior de pessoas ti- to do diabetes.
completando 10 anos em 2023. vesse acesso às informações
ARQUIVO SBD
66 DIABETESmagazine · Edição 04