Você está na página 1de 68

DIABETES

magazıne
Coração
Edição 04
em alerta

es
Pu

et
bli

çã Risco de doenças cardiovasculares

ab
i
ca

oo
fic deD
ial
da So ilei
ra pode ser 03 vezes maior em
ciedade Bras
pessoas com diabetes. Saiba
os cuidados que você precisa
adotar a partir de agora

Cirurgia para o diabetes:


quem pode fazer?
Diabulimia: conheça os
sinais deste transtorno
alimentar
Por que o tempo no
alvo é importante
FVL: três tipos de
alimentos poderosos
Como evitar erros
ao aplicar insulina
Confira uma entrevista
com o ChatGPT
E muito mais!

Baixe e
compartilhe a
versão digital
da revista
DIVULGAÇÃO
Expediente

Publicação oficial da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD)


Gestão 2022-2023
Presidente: Levimar Rocha Araújo
Edição 04, Volume 02, Número 02, 2023

REALIZAÇÃO
Dep. de Educação e Campanhas da SBD Palavra do
Presidente
Coordenador: André Gustavo Daher Vianna
Coordenadora: Dhiãnah Santini

Coordenação Geral: André Gustavo Daher Vianna


Gerente do Projeto: Paulo Bettio Orgulho e gratidão
Administração: Joyce Moura
Comercialização: Grow Up
Boas notícias merecem ser compartilhadas. Eu acredito
Projeto Editorial: Momento Saúde Editora
muito nessa frase e é por isso que prefiro ver o lado po-
Editora-chefe: Letícia Martins (MTB: 52.306)
sitivo das coisas. Como médico, busco focar na saúde em
Projeto Gráfico: NewHaus Com&Mkt
vez da doença. Como pessoa com diabetes, acho mais in-
Diretor de Arte: Anderson Domenich
teressante manter o controle do que lamentar o diagnósti-
Revisora de Texto: Marilia Salla
co. E como presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes
Foto da Capa: Shutterstock
(SBD) me sinto feliz em compartilhar e comemorar cada
Distribuição e Divulgação: Bianca Fiori
conquista do que relatá-las somente no final da gestão.

Conselho Editorial:
A DIABETESmagazine, esta revista que te acompanha há
Bia Scher, Denise Reis Franco, Dhiãnah Santini,
quatro edições, é uma delas. Um projeto que criamos jun-
Laerte Damaceno, Luciana Oncken, Maria Eloísa Malieri,
tos e está disponível online de graça para todos. No for-
Marlice Marques, Martha Amodio e Tom Bueno.
mato impresso, ela chega nos consultórios dos nossos
associados, autoridades e gestores de saúde, comunica-
Colaboradores desta edição:
dores, influenciadores digitais, instituições diversas, en-
Claudia Mauricio Pieper, Edson Perrotti, Letícia Fuganti
tre outros.
Campos, Márjori da Silva Marroni e Monike Lourenço
Dias Rodrigues.
Além da revista, a nossa gestão da SBD já colhe ótimos re-
sultados. Com mais autonomia, os vice-presidentes estão
DIABETESmagazine® é uma publicação oficial da So-
desenvolvendo iniciativas muito importantes nas regio-
ciedade Brasileira de Diabetes (SBD), produzida pela
nais. Criamos os departamentos de Saúde Bucal e DM1
Momento Saúde Editora, distribuída gratuitamente na
no Adulto e DM1 na Criança. Voltamos com o de farmácia,
versão impressa aos seus sócios e disponível na inter-
sobre o qual você pode ler nas páginas 44 e 45, e retoma-
net para toda sociedade. É permitido citar e reproduzir
mos a Diretriz da SBD, que já alcançou um marco históri-
seu conteúdo desde que sejam dados os devidos crédi-
co: dois milhões de acessos, como bem destacou o colega
tos ao(s) autor(es) e à DIABETESmagazine.
Laerte Damaceno na seção SBD News.
A SBD e a Momento Saúde Editora não se responsabi-
lizam pelas informações contidas em artigos assinados,
Os eventos estão cada vez melhores e mais inovadores. Pau-
cabendo aos autores total responsabilidade por elas.
lo Bettio e Denise Franco falam brilhantemente sobre eles
na seção Conexão Médica. Há muito ainda para comparti-
Fale com a SBD:
lhar e fazer. E estamos no caminho certo, fazendo a Socie-
(11) 3842-4931
dade Brasileira de Diabetes para toda a sociedade brasileira.
administrativo@diabetes.org.br
www.diabetes.org.br
Obrigado por nos acompanhar e boa leitura!
Rua Afonso Braz, 579, Salas 72/74, Vila Nova Conceição,
CEP: 04511-011, São Paulo, SP

Dr. Levimar Rocha Araújo | @levimar


Fale com a Editora:
Presidente da SBD
Momento Saúde Digital & Content Editora Ltda.
CNPJ 22.608.898/0001-18
atendimento@momentosaudeeditora.com.br SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 3
www.momentosaudeeditora.com.br
Destaques Editorial

14 Direitos e Deveres

PAULO BETTIO
Participação ativa dos pacientes

18 Tapete Azul
Lorna Whashington: a transformista com diabetes

20 Falso ou Verdadeiro
Medicamentos para controlar a glicemia viciam?

22 Visão SBD
PL quer classificar diabetes como deficiência

26 Doce História Trilha do conhecimento


Adriano Rodrigues e o diagnóstico de LADA

C
28 Capa
Por que todas as pessoas com diabetes precisam hegou o momento em que a DIABETESmagazine
cuidar do coração traz na capa um assunto que preocupa a comu-
nidade médica e é de enorme relevância: o ris-
34 Inovação co aumentado que pessoas com diabetes têm
Entrevista com o ChatGPT (inteligência artificial) de desenvolver doenças cardiovasculares. Infelizmente,
36 DM2 ainda se fala pouco sobre ele nos consultórios, na im-
Os benefícios da cirurgia metabólica prensa e entre os familiares e pacientes. Por isso, incum-
bimos ao repórter Tom Bueno, que convive com o dia-
39 DM1 betes desde 2006, a nobre tarefa de explicar que riscos
Acampamentos de férias: um divisor de águas são esses e principalmente como preveni-los.
42 Prevenção
Como evitar os erros mais comuns Nossa revista alerta para as complicações sempre no in-
na aplicação da insulina tuito de evitá-las ou diagnosticá-las o mais breve possí-
vel. Com este objetivo, convidamos a médica Dra. Cláu-
44 Conte Com dia Pieper, especialista em transtornos alimentares, para
Farmacêutico: educador em diabetes acessível
esclarecer sobre um deles, que é específico de quem
46 Tratamento usa insulina: a diabulimia.
Os sintomas da diabulimia, transtorno
alimentar grave E como estamos sempre antenados nas novidades, a
DIABETESmagazine traz, de forma inédita, uma entrevis-
50 Em Movimento ta feita com uma inteligência artificial – o ChatGPT, que
Os riscos de ficar muito tempo sentado
nos explica como essa inovação pode ajudar no trata-
54 Nutrição mento do diabetes. Nas páginas a seguir, você vai en-
Aumente o consumo de FVL: frutas, contrar várias imagens geradas por inteligência artificial,
verduras e legumes mostrando que a comunicação na área da saúde tam-
bém pode (e deve) andar de mãos dadas com o avanço
60 Tecnologias
da tecnologia.
Saiba como se manter mais tempo dentro do alvo

63 Conexão Médica Eu gostaria de ter várias páginas para comentar cada ma-
SITEC: 10 anos do maior simpósio nacional téria e seção, pois todas elas formam uma trilha do co-
de tecnologias em diabetes nhecimento fundamental para quem deseja conviver
bem com o diabetes, focando na saúde e não na doença.
Sempre aqui: Mas acho melhor você seguir a leitura na companhia dos
nossos colunistas e convidados.
05 Vitrine SBD
06 SBD News Siga a trilha e boa leitura!
10 Sig@
12 Diabetes de A a Z Dr. André Vianna | @dr.andre.vianna
16 Papo com Especialistas Coordenador geral da DIABETESmagazine

19 Rede de Apoio

4 DIABETESmagazine · Edição 04
Vitrine SBD

Os bastidores da inovação
Por Letícia Martins | @leticiamartinsjornalista
Jornalista e editora-chefe da DIABETESmagazine
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

N
a saúde, como em qualquer outro tanto, ela conta com uma equipe de parcei-
setor, inovação é imprescindível. A ros com variadas expertises.
Sociedade Brasileira de Diabetes Conheça dois profissionais corresponsáveis
(SBD) acompanha esse avanço in- pelo sucesso de vários projetos da atual
vestindo em iniciativas online e offline a fim gestão da SBD.
de atender às necessidades de todos. Para

Reginaldo Ramos Paulo Bettio


Desde 2004, o diretor da Grow Up, Reginal- O publicitário e sócio-diretor da NewHaus
do Ramos, o Reg, atua na organização e via- Com&Mkt, Paulo Bettio, iniciou sua parceria
bilização dos congressos, simpósios e fó- com a SBD em 2019, quando criou o DIA-
runs promovidos pela SBD. “Como consultor BETES INNOVATION CHALLENGE, o desafio
de ações estratégicas e comerciais, a minha de inovação em diabetes que foi sucesso
função é fazer projetos de excelência, otimi- no SITEC daquele ano. Desde então, Bettio
zando os recursos e oferecendo novas ex- tem contribuído com seu know-how em ino-
periências”, define. “Em 2005, participei pe- vação e tecnologia, produzindo eventos di-
la primeira vez do Congresso Brasileiro de gitais de grande impacto. “Na pandemia, a
Diabetes a convite da então presidente do demanda por soluções digitais e novos mo-
evento, Dra. Reine Chaves, e atuei em todas delos para se entregar conhecimento e edu-
as edições desde então. A expectativa está cação aumentou muito, pois era uma ques-
alta para o próximo, que será em outubro de tão de sobrevivência. Em 2021, tive o prazer
2023 e tem como presidente o Dr. Rodrigo de produzir para a SBD dois eventos digitais
Lamounier”, diz Reg, que fez parte também de grande impacto: o SITEC 2021 e o e.dia-
da criação do Fórum de Diabetes e do Sim- betes2021, que foi o primeiro congresso da
pósio de Tecnologia em Diabetes (SITEC). SBD 100% online e digital”, declarou.
Ele acompanhou várias gestões e afirma que Ele também é gerente da DIABETESmaga-
todos os presidentes tiveram grande impor- zine, além de ter se envolvido na produção
tância no crescimento da SBD, mas destacou da Plataforma e do App SBD Eventos e na
o diferencial desta gestão liderada pelo Dr. realização do Simpósio de Nutrição e Dia-
Levimar Rocha Araújo: “É a primeira vez que betes. Para o futuro, a certeza é uma só: “Se-
o paciente com diabetes tipo 1 é presidente guimos com o desafio de manter o alto nível
da Sociedade Brasileira de Diabetes. Os de- e as inovações apresentadas até agora”, afir-
mais cuidam e o Dr. Levimar, além de cuidar, mou Bettio.
vive o diabetes na pele”.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 5


Por dentro das novidades
Por Dr. Laerte Damaceno | @laerte_damaceno
Endocrinologista e coordenador do site e das redes sociais da SBD
FOTO: RAFAEL PETROCCO

Acampamento para jovens com DM1 re anualmente desde 1980, idealizada e


No período de 24 a 29 de janeiro, foi rea- coordenada pelo professor e endocrino-
lizada a 42ª edição do acampamento para logista Marco Antonio Vivolo, nosso gran-
jovens com diabetes tipo 1 (DM1), promo- de amigo, de liderança exemplar, dedica-
vido pela ADJ Diabetes Brasil e Univer- ção e empatia em DM1. Saiba mais sobre
sidade Federal de São Paulo (Unifesp), os acampamentos educativos nas páginas
em Sapucaí-Mirim (MG). A iniciativa ocor- 39 a 41 desta edição.

ARQUIVOS NR/ADJ

Departamento de Saúde Bucal Dois milhões de acessos!


Pessoas com diabetes têm um risco aumen- A Diretriz SBD, publicação online da Socie-
tado de desenvolver doenças periodontais, dade Brasileira de Diabetes, alcançou dois
que podem afetar negativamente o controle milhões de acessos com 12 novos capítu-
glicêmico e agravar o diabetes. Pela relevân- los e outros 07 revisados, totalizando 36 Acesse a Diretriz SBD:
cia do tema, a Sociedade Brasileira de Dia- capítulos publicados. Sob a forma de reco-
betes (SBD) criou o Departamento de Saúde mendações claras e objetivas, a Diretriz SBD
Bucal, que dará ênfase à prevenção e trata- apresenta as melhores condutas em diabe-
mento das complicações orais do diabetes tes com base em informações científicas de
por meio de hábitos saudáveis de higiene qualidade. Ela é resultado de um enorme es-
oral e a visita regular ao dentista. forço editorial feito por talentosos professo-
res e pesquisadores, coordenados pelo Prof.
Marcello Bertoluci.

6 DIABETESmagazine · Edição 04
SBD News

Um mundo sem contagem de car- Como treinar o ChatGPT


boidratos O ChatGPT é uma plataforma de intera-
No dia 22 de maio, a FDA, agência que re- ção por texto em linguagem natural media-
gula medicamentos e alimentos nos Estados da por inteligência artificial. No prompt do
Unidos, aprovou o Bionic Pancreas (iLet®) ChatGPT, digitei: qual é a sociedade cien-
para uso em pessoas com DM1 acima dos 6 tífica relacionada ao diabetes mais impor-
anos de idade. Não há previsão de comercia- tante no Brasil? A resposta estava incorreta.
lização deste sistema no Brasil. Respondi com um dislike e me foi oferecido
O Bionic Pancreas é um sistema de adminis- um formulário de interatividade. Em lingua-
tração automática de insulina que não re- gem natural, argumentei: sou Laerte Dama-
quer contagem de carboidratos nem cálculo ceno, endocrinologista e coordenador do si-
de doses de insulina. Utiliza o sensor de mo- te e mídias sociais da Sociedade Brasileira
nitorização contínua da glicose da Dexcom de Diabetes, a sociedade científica relacio-
G6 e a análise e o processamento de dados nada ao diabetes mais importante no Brasil.
da Verily, empresa subsidiária do Google. Repeti a mesma pergunta por quatro vezes
com a mesma resposta. Na quinta vez que
repeti a pergunta, a resposta foi satisfatória.
O ChatGPT estava treinado.
DIVULGAÇÃO

Confira nas páginas 34 e 35 uma en-


trevista com o ChatGPT, conduzida pe-
lo Paulo Bettio, gerente de projetos da
DIABETESmagazine.

Homenagem
Com profundo pesar comunicamos o faleci-
ARQUIVO SBD

mento do Prof. Laercio Joel Franco em 30 de


abril.
O Prof. Laercio foi um dos coordenadores
do “Estudo multicêntrico sobre a prevalên-
cia do diabetes mellitus no Brasil”, que foi
extremamente importante para o entendi-
mento e o avanço do tratamento do diabe-
tes no país. Com o apoio da Unifesp e pos-
teriormente da Faculdade de Medicina de
Ribeirão Preto da Universidade de São Pau-
lo (FMRP-USP), este grande estudo se des-
Prof. Laercio Franco entre o
dobrou em várias pesquisas e publicações
Dr. Levimar Rocha Araújo (à es-
científicas sob a forma de artigos, teses de querda) e o Dr. João Paulo Yázigi,
mestrado e doutorado que nortearam a evo- durante Congresso da ALAD, em
lução da diabetologia brasileira. Cartagena, Colômbia.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 7


Sig@

4 perfis para motivar


seus treinos
Por Bia Scher | @biabetica
Empreendedora e diabetes influencer.
Tem diabetes tipo 1 desde 2000
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

C
om certeza a sua equipe de saúde Além disso, se mexer todos os dias contribui
já te contou o quanto é importan- para o bem-estar físico e emocional. Ou se-
te a prática de atividade física para ja, só traz benefícios!
o controle do diabetes, não é? Ela Selecionei quatro perfis no Instagram de
ajuda a insulina a funcionar melhor no cor- pessoas com diabetes tipo 1 (DM1) que
po, deixando a glicemia mais estável e di- compartilham suas rotinas de atividade físi-
minuindo os riscos de complicações do dia- ca e dicas sobre os cuidados com diabetes.
betes. Bora treinar? Outro perfil que eu super
indico é o do ultramarato-
nista e professor de edu-
cação física Emerson Bisan
@dm1atleta @nutri.anacarolina (@emersonbisan), que tem
Hugo Almeida é ultramarato- Quem foi que disse que pes- DM1 há quase 30 anos e já
nista, está estudando nutri- soas com diabetes não po- completou mais de 100 ma-
ção e se especializando em nutrição, dem fazer crossfit? A nutricionista Ana ratonas. Na edição 03 da
metabologia e fisiologia do esporte. Carolina Almeida prova o contrário com DIABETESmagazine, ele es-
Nos posts do Instagram, ele mostra os vídeos inspiradores levantando peso creveu um artigo muito le-
treinos que gosta de fazer e traz várias e controlando a glicemia. Ela também gal sobre os atletas com dia-
reflexões sobre a vida. compartilha dicas de alimentação. betes. Bora ler!

@renanhora @evansoroka
No perfil do Renan Hora é pos- Evan Soroka é professora de
sível ver fotos e vídeos de lu- ioga, tem DM1 e mora em As-
ta, porque o rapaz de 33 anos é coach pen, nos Estados Unidos. Ela publica ví-
de Muay Thai e MMA. Com responsa- deos incríveis ensinando movimentos
bilidade, autocuidado e mantendo a que ajudam a melhorar a ansiedade e
“guarda alta“, ele mostra que é possí- a tensão causada pela rotina com dia-
vel praticar o esporte que quiser mes- betes. O perfil dela é em inglês, mas dá
mo tendo diabetes. para copiar as posições.

10 DIABETESmagazine · Edição 04
Dicionário do diabetes
Por Letícia Martins | @leticiamartinsjornalista
Jornalista e editora-chefe da DIABETESmagazine
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

Q
uantas palavras novas você já

Q
aprendeu desde que recebeu o
diagnóstico de diabetes? Apos- ualidade do sono
to que foram muitas e espero que Diversos fatores estão relaciona-
a nossa revista esteja ajudando nesta jorna- dos com o desenvolvimento do
da de descobertas e conhecimento rumo ao diabetes tipo 2, entre eles dormir
controle do diabetes. mal. Durante o sono, nosso corpo descan-
Então prepare-se porque está na hora de am- sa e recupera o equilíbrio dos seus sistemas
pliar um pouco mais seu vocabulário. e funções. Logo, uma rotina de noites ruins
causa problemas, como cansaço constante,
baixo desempenho no trabalho, irritabilida-

J
de e alterações de humor até danos graves à
ejum saúde, como resistência à insulina, ganho de
Ficar muito tempo sem se alimentar peso e pressão arterial alta.
pode ser um perigo para quem tem Para um indivíduo adulto, a recomendação
diabetes e faz uso de insulina ou de geral é de 7 a 8 horas de sono por noite. Al-
medicamentos orais hipoglicemiantes, pois gumas dicas importantes: mantenha horá-
a taxa de açúcar no sangue pode cair mui- rios regulares de ir para a cama e evite a in-
to e causar tremedeira, tontura, suor exces- gestão de estimulantes, como café, depois
sivo, visão embaçada e, em casos mais sé- das 15h, mesmo que sejam adoçados com
rios, convulsão e até perda de consciência. xilitol.
Esses são alguns dos sintomas da hipogli-
cemia, mas eles podem variar. Há algumas
pessoas que não sentem nada quando es-
tão com hipoglicemia, o que aumenta o risco
de um acidente. Por isso, se você precisa ou
quer fazer jejum, é importante ajustar a do-
se de insulina ou de medicamento conforme
o padrão alimentar. Nesses casos, procure o
acompanhamento de um nutricionista. Isso
é fundamental tanto para não ter hipoglice-
mias durante o dia quanto à noite, o que po-
de prejudicar a qualidade do sono.

12 DIABETESmagazine · Edição 04
Diabetes de A a Z

X N
ilitol europatia diabética
Os adoçantes ou edulcorantes são Ela afeta os nervos periféricos, is-
usados como substitutos do açú- to é, as extremidades do corpo,
car para dar um gosto doce às be- como mãos e pés. No estágio ini-
bidas e preparações sem levar ao ganho de cial, a neuropatia diabética pode não cau-
peso. O que muita gente não sabe é que al- sar nenhum sintoma, mas, conforme evolui,
guns tipos possuem calorias. É o caso dos a pessoa pode sentir dor constante, baixa
poliois, como o xilitol e o eritritol. Por esta ou nenhuma sensibilidade no local, sensa-
razão, quem tem diabetes tipo 1 deve obser- ção de formigamento, queimadura e ardên-
var se a receita ou o produto possui xilitol cia. Algumas formas de prevenir são exami-
na composição (acesse artigo no site da SBD nar os pés e as pernas todos os dias, cuidar
para saber mais). Em caso positivo, pode ser das unhas regularmente evitando machucar;
necessário corrigir com insulina dependen- passar creme hidratante na pele seca, exce-
do da quantidade consumida. Isso porque o to entre os dedos, e usar calçados adequa-
pâncreas dessas pessoas não produz insuli- dos, indicados pela equipe multidisciplinar.
na, hormônio que facilita a entrada da gli- Quer saber como a neuropatia ocorre? Aces-
cose no sangue. Assim, todos os indivíduos se o site da SBD.
com DM1 precisam fazer a autoaplicação de
insulina, exceto se estiverem em lua de mel.

L
Reta final!
ua de mel Na edição nº 05 da DIABETESmagazine, com-
É uma fase do diabetes tipo 1 em pletaremos o alfabeto brasileiro, explicando
que o pâncreas da pessoa ainda con- o significado de palavras ou expressões que
ta com algumas células produtoras comecem com as letras T, V, W e Z. Até lá!
de insulina, pois o processo autoimune ain-
da não foi finalizado. Nesse período, as gli-
cemias ficam estáveis com pouca quantida-
de de insulina, o que gera uma falsa ideia
de cura no paciente ou nos pais. Porém, a
lua de mel no diabetes não dura muito. Além
disso, não são todas as pessoas que viven-
ciam esse fenômeno. Depois que a lua de
mel acaba, é preciso controlar a glicemia pa-
ra evitar complicações do diabetes, como a
neuropatia diabética.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 13


Participação ativa
dos pacientes
Como a nossa perspectiva, enquanto pessoas com diabetes,
influencia efetivamente os assuntos de saúde?

Por Maria Eloisa Malieri | @eloebete


Relações-públicas, advogada especializada em Direito à Saúde,
mentora do projeto social Elo & Bete. Tem diabetes tipo 1 desde 1985
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

A
incorporação de um novo medica- (Anvisa) e ser submetido a uma análise mi-
mento no Programa Farmácia Po- nuciosa da Comissão Nacional de Incorpo-
pular do Brasil é sempre um avan- ração de Tecnologias no Sistema Único de
ço a ser comemorado. Criado em Saúde (Conitec). Uma das maiores preo-
2004 pelo Governo Federal em parceria com A Conitec analisa o relatório com estudos cupações dos pacientes
as prefeituras, o programa disponibiliza me- apresentados pelo autor do processo para em qualquer ambiente
dicamentos gratuitos ou com descontos pa- emitir a recomendação inicial. Nessa mesma
ra a população. Desta forma, os pacientes etapa, a Perspectiva do Paciente dá espa-
de saúde é sermos vis-
podem dar continuidade aos seus tratamen- ço para que usuários do SUS participem da tos e ouvidos.
tos, evitando complicações de saúde e até reunião plenária e compartilhem experiên-
internações. Em ampla escala, as despesas cias sobre o uso da tecnologia em avaliação.
do Sistema Único de Saúde (SUS) também Por fim, emitido esse parecer inicial, o tema
diminuem. segue para consulta pública por 20 dias.
Em setembro de 2022, houve a incorporação Após o compilado de todas as contribuições
de cinco fármacos na lista da Farmácia Po- recebidas, a pauta retorna para a Conitec a
pular e um deles é destinado ao tratamento fim de que seja emitida a recomendação fi-
do diabetes tipo 2 (DM2). Trata-se da dapa- nal. A análise do plenário é baseada em evi-
gliflozina 10 mg, medicamento oral que age dências científicas, levando em considera-
eliminando o excesso de glicose através da ção aspectos como eficácia, efetividade e
urina, melhorando o controle da glicemia e segurança da tecnologia.
ajudando a prevenir nefropatia (doença dos Tendo passado pelo plenário e recebido a re-
rins) e insuficiência cardíaca. Pelo programa, comendação final, a nova tecnologia em ques-
a dapagliflozina pode ser adquirida por pes- tão segue para a decisão do secretário de
soas com DM2, com idade igual ou superior Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Es-
a 65 anos e doença cardiovascular estabele- tratégicos em Saúde do Ministério da Saúde.
cida que não obtiveram controle adequado. Se necessário, uma audiência pública sobre a
Para solicitar esta medicação, o médico de- tecnologia demandada pode ser realizada.
verá ser vinculado ao SUS. A partir da publicação da decisão de incor-
No Brasil, para que um medicamento, proce- porar tecnologia em saúde, ou protocolo clí-
dimento, equipamento ou produto seja in- nico e diretriz terapêutica, as áreas técnicas
corporado ao SUS, ele deve estar registrado terão prazo máximo de 180 dias para efeti-
na Agência Nacional de Vigilância Sanitária var a oferta ao SUS.

14 DIABETESmagazine · Edição 04
Direitos e Deveres

E qual o papel do paciente nesta dezembro de 2020.


jornada? Na ocasião, a Conitec mostrou a visão dos
Como você pode observar, a jornada de um usuários do SUS ao relatarem suas expe-
medicamento rumo à incorporação no SUS riências com a condição de saúde e/ou com O olhar participativo
é longa e criteriosa. Por isso, a participação a tecnologia em avaliação. Os relatos dos e ativo do paciente é
das pessoas com diabetes é fundamental pacientes têm a capacidade de corroborar, fundamental para que
para mostrar aos envolvidos neste proces- tensionar ou trazer novos elementos à aná-
so a importância que o fármaco, a terapia ou lise técnica previamente realizada, propor-
a incorporação de no-
a tecnologia em questão têm na sua saúde. cionando à Conitec argumentos e subsídios vos medicamentos no
Essa participação pode ocorrer de diferen- para refletir sobre as necessidades e priori- SUS seja feita de modo
tes formas. A seguir, cito três delas: dades daqueles que serão afetados direta- responsável e efetivo.
1. Consultas públicas: as pessoas com dia- mente por suas decisões.
betes, assim como seus familiares, cui- A chamada Perspectiva do Paciente deve ser
dadores e profissionais de saúde, podem motivo de muitos aplausos, pois influencia
contribuir com as consultas públicas que efetivamente na tomada de decisões, levan-
visam discutir a inclusão de novas tec- do-se em consideração, além da parte técni-
nologias no SUS, oferecendo opiniões e ca, científica e orçamentária, as experiências
sugestões baseadas em sua própria ex- de vida real que contribuem com a visão do
periência e perspectiva. É possível parti- plenário.
cipar de modo presencial ou virtual, por Isto porque “doença” é o que está aconte-
meio dos canais disponibilizados pelo cendo com o paciente. Ouça-o. Doença é o
Ministério da Saúde ou pela Agência Na- que está acontecendo com a ciência e com
cional de Saúde Suplementar (ANS); as populações. Para que a saúde ultrapasse
2. Diálogo com o médico: o paciente po- barreiras culturais e linguísticas que compli-
de ter um papel ativo por meio do diálo- cam a situação, é indispensável adotar abor-
go com o seu médico sobre as opções e dagens que reconheçam e considerem as vi-
tratamentos disponíveis, bem como pela sões e os valores do indivíduo e das culturas.
busca de informações confiáveis e aces- Não há dúvidas que uma das maiores preo-
so aos serviços apropriados; cupações dos pacientes em qualquer am-
3. Associações de pacientes: essas institui- biente de saúde é sermos vistos e ouvidos!
ções representam os interesses e as ne- E é isso que estamos vivenciando ao sermos
cessidades dos pacientes perante au- colocados no centro desta conversa e nos
toridades e órgãos de saúde e podem permitirem expressar nossos pensamentos
contribuir para ampliar a discussão e o e necessidades sem julgamento ou crítica.
acesso à medicação.
Em resumo, um olhar participativo e ativo do
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL - MIDJOURNEY

paciente é fundamental para garantir que a


incorporação de novos medicamentos no
SUS seja realizada de modo responsável e
efetivo, considerando sempre as necessida-
des e expectativas daqueles que serão be-
neficiados por essa decisão.
O mundo inteiro já percebeu a importân-
cia e a necessidade de incluir o paciente
nos processos decisórios e o Brasil faz par-
te deste movimento. “Envolver o paciente,
do ponto de vista ético, é a coisa certa a se Aguarde!
fazer”, afirmou o conselheiro sênior de en- Na próxima edição da
gajamento público do National Institute for DIABETESmagazine, vamos
Health and Care Excellence (NICE), institui- conversar mais sobre ou-
ção de avaliação de tecnologias em saúde tros direitos importantes
(ATS) do Reino Unido, durante o 3º Congres- para quem tem diabetes.
so da Rede Brasileira de Avaliação de Tec- Até lá!
nologias em Saúde (REBRATS), realizado em

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 15


Tire suas dúvidas
Selecionamos algumas perguntas recorrentes sobre diabetes e consultamos
profissionais da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) para responder.

Por Bia Scher | @biabetica


Empreendedora e diabetes influencer.
Tem diabetes tipo 1 desde 2000
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

Como reduzir os efeitos da Quais nutrientes ajudam


Leia no site da SBD um arti-
dermatite de contato tipo alér- na imunidade de quem tem
go escrito pela nutricionis-
gica ou irritativa relacionada diabetes?
ta Maristela sobre o tema:
ao uso do sensor de glicose?
A vitamina C é um deles e está presen-
Para que o sensor de glicose consiga fi- te em frutas como laranja, limão, aba-
car grudado na pele por alguns dias, ele caxi, kiwi e goiaba, e em vegetais crus
possui componentes na sua cola que em geral, como alface, rúcula, entre ou-
são reconhecidamente alergênicos. Por tros. Alimentos com zinco (castanhas,
isso, algumas pessoas podem fazer der- carnes, ovos, frutos do mar são alguns
matite de contato. Para minimizar esses deles), selênio (encontrado na casta-
efeitos, a primeira dica é ter uma pele nha-do-pará, por exemplo) e ferro, pre-
saudável e hidratada, e remover o sen- sente nas carnes, vegetais verde-escu-
sor da pele de forma gentil, com a aju- ros e leguminosas, como feijão, ervilha
da de um produto removedor de cola. e grão-de-bico, também contribuem
Nunca cole um novo sensor no mesmo para a imunidade. Existem outros nu-
local do antigo, pois a pele precisa de trientes e fatores importantes para for-
pelo menos uma semana de descan- talecer o sistema imune, como o ge-
so para conseguir restaurar a região renciamento do estresse, a prática de
que ficou em contato com a cola. Use atividade física, o sono restaurador e o
um bom creme hidratante. Há estu- controle glicêmico adequado.
dos relacionando o uso de spray nasal Maristela Strufaldi, vice-coordena-
de corticoide na pele antes da aplica- dora do Dep. de Nutrição da SBD
ção do sensor a uma melhora na rea-
ção negativa à cola. Vale a pena fazer
o teste, sempre limpando bem a pele
com álcool antes de qualquer aplica-
ção. Na dúvida, procure ajuda médica.
Dra. Talita Trevisan, coordenadora do
Dep. de DM1 no Adulto

16 DIABETESmagazine · Edição 04
Papo com Especialistas

ENVATO ELEMENTS
O que eu não posso fazer
durante uma hipoglicemia?

Hipoglicemia é quando o valor da ta-


xa de açúcar no sangue está abaixo de
70 mg/dL. Nessas condições, a pessoa
pode apresentar alguns sintomas, co-
mo fome incontrolável, formigamento
e tremores. Para reverter o quadro, um
adulto precisa consumir 15 g de car-
boidratos simples, pois possuem rá-
pida absorção. No caso de crianças, a
quantidade de carboidratos pode ser
menor. Pode ser um copo de 150-200
ml de água com 2 colheres (sobreme-
sa rasa) de açúcar ou 150 ml de suco
de laranja ou 150 ml de refrigerante
normal, ou 4-5 jujubas ou 1 sachê de
açúcar ou de mel.
Agora anote o que NÃO se deve fazer
durante uma hipoglicemia:
• Comer tudo o que vê pela frente:
é comum sentir muita fome durante
uma crise de hipoglicemia, mas co-
mida em excesso leva a um efeito
rebote, causando hiperglicemia.
• Comer chocolate: ele não é reco-
mendado para tratar a hipoglice-
mia porque contém gordura, que
dificulta a absorção do açúcar. Evite
também outros alimentos com pro-
teína ou gordura, como o leite.
• Dirigir: durante a hipoglicemia, é
possível apresentar tontura e con-
fusão mental, por isso pode ser
perigoso dirigir neste momento.
Espere a glicemia e os sentidos nor-
malizarem para assumir o volante.
Dr. André Vianna, coordenador do Dep.
de Educação e Campanhas da SBD Participe!
Na edição 01 da Envie sua pergunta para:
DIABETESmaga-
zine tem uma @diabetessbd
matéria comple-
ta sobre hipogli- @SBD.Diabetes
cemia. Acesse:
administrativo@diabetes.org.br

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 17


Tapete Azul

A vida da transformista
com diabetes
A drag queen Lorna Washington tem uma carreira marcante no universo LGBTQIA+
e uma história de vida inspiradora.

Por Tom Bueno | @umdiabetico


Jornalista e criador do canal Um Diabético na
Internet. Tem diabetes tipo 1 desde 2006
FOTO: JOÃO P. TELES

L
orna Washington é o alter ego do ar- te a pandemia, fazendo transmissões ao vi-
tista carioca Celso Maciel, que se as- vo nas redes sociais dos seus shows.
sumiu gay ainda na adolescência, Lorna também se tornou uma defensora da
quando a homofobia era ainda mais educação e da conscientização sobre o dia-
evidente na sociedade. Aos 16 anos, fre- betes dentro da comunidade LGBTQIA+. “Por
quentava as primeiras boates LGBT+ do Rio eu não ter me cuidado antes, eu tive alguns
de Janeiro, onde começou a se produzir co- problemas, mas agora reconheço a importân-
mo drag queen. Hoje, aos 61 anos de ida- cia do controle da glicemia. Uso insulina dia- Para assistir
de, Lorna Washington é um símbolo de re- riamente para ter qualidade de vida”, conta a Você pode conhecer um
sistência. transformista. “Minha mensagem para todos pouco mais da história da
Além da carreira artística, Lorna foi prota- que convivem com diabetes é: tenham amor- Lorna Washington no quar-
gonista de diversas lutas pela visibilidade e -próprio. Nós somos doces demais e nosso to episódio do WebDoc
pelos direitos da comunidade carioca LGB- pâncreas não aguentou”, brinca. “Retrato: o Brasil que de-
TQIA+ (iniciais de lésbicas, gays, bissexuais, Mesmo com dificuldades para andar, Lorna pende de insulina”.
transexuais, queer, intersexuais, assexuais e Washington segue inspirando muitas pes-
demais orientações sexuais e identidades soas e levando sempre uma mensagem de
de gênero). Em 1981, ela participou da cria- amor e inclusão.
ção do Grupo de Ação e Militância Homosse-
xual (GAM), uma das primeiras associações
MARCELO AUGE

LGBTQIA+ do Brasil.
O diagnóstico de diabetes tipo 2 veio de
maneira inesperada aos 28 anos. A artista
conta que não se preocupou em cuidar do
diabetes no início e acabou tendo uma com-
plicação em um dos pés anos mais tarde.
Na década de 1990, Lorna se tornou figu-
ra ativa na luta contra a epidemia de aids,
mesmo não convivendo com o vírus. Partici-
pou de campanhas de prevenção e ofereceu
apoio e acolhimento aos infectados e suas
famílias.
Dona de um carisma contagiante e uma voz Lorna Washington: “Uso insulina
potente, no palco Lorna Washington é uma diariamente para ter qualidade
artista completa, que se reinventou duran- de vida.”

18 DIABETESmagazine · Edição 04
Rede de Apoio

Tipo família
O diabetes de uma pessoa também transforma a vida de quem convive com ela.

Por Letícia Martins | @leticiamartinsjornalista


Jornalista e editora-chefe da DIABETESmagazine
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

A
descoberta do diabetes marca o ADCBRA
início de muitas mudanças tanto A Associação dos Doentes Crônicos do Bra- Contatos:
para quem recebe o diagnóstico sil tem vários projetos para atender à popu-
quanto para seus familiares. Por is- lação com diabetes e à comunidade de Nova DOCE VIDA
so, muitas pessoas com a condição, parentes, Friburgo (RJ) e região. Um deles é o Projeto
amigos e quem se importa ajustam a agenda, De Olho no Diabetes, que visa à prevenção @docevidalages
superam as dificuldades e formam grupos de doenças, como retinopatia e edema ma-
para dividir experiências, dar apoio mútuo cular diabético, e o outro é o ADCBRA nas @docevidalages
e buscar melhores condições de tratamento. Ruas, que são campanhas de saúde realiza-
À medida que esses grupos crescem e rece- das nos bairros em parcerias com farmácias, ADCBRA
bem mais pessoas, é natural se formalizarem supermercados, igrejas e comércio em geral.
juridicamente. Mas o espírito de família per- A associação também faz parcerias com far- @deolhonadiabetes
manece. Conheça alguns desses grupos que mácias comunitárias locais, buscando doa-
hoje são associações tipo família. ções de medicamentos. @adcbra_

DOCE VIDA ADISGO


DIVULGAÇÃO

Localizada em Lages (SC), a Associação Do-


ce Vida foi constituída juridicamente em @adisgoadisgo
2009, mas nasceu bem antes, quando uma
mãe-pâncreas decidiu que não dava para adisgo@wgo.com.br
enfrentar a condição sozinha. Os encontros
entre amigos e familiares se tornaram regu- (64) 3441-4035
lares e hoje a associação promove eventos
que mobilizam moradores da região, além
de atividades para quem tem diabetes e ca-
pacitação para profissionais de saúde. As re-
uniões mensais acontecem na Universidade ADISGO
do Planalto Catarinense. Fundada em 1990 e com sede em Catalão
DIVULGAÇÃO

(GO), a Associação dos Diabéticos do Su-


deste Goiano promove a saúde integral da
DIVULGAÇÃO

pessoa com diabetes, oferecendo diversos


serviços, atividades práticas para controlar
melhor a glicemia, consultas com especialis-
tas e exames preventivos, até eventos sobre
como evitar complicações do diabetes e ou-
tras doenças. Na foto, por exemplo, a pales-
tra abordou a importância do rastreamento e
do diagnóstico precoce do câncer de cólon.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 19


Falso ou Verdadeiro?

Medicamentos para contro-


lar o diabetes podem viciar?
Por Tom Bueno | @umdiabetico
Jornalista e criador do canal Um Diabético na
Internet. Tem diabetes tipo 1 desde 2006
FOTO: JOÃO P. TELES

VERDADEIRO

O
diabetes afeta 537 milhões de No entanto, é fundamental que os pacien-
pessoas no mundo, segundo a tes com diabetes sigam as orientações mé-
Federação Internacional de Dia- dicas e evitem o uso inadequado ou excessi-
betes (IDF). A sua incidência tem vo de insulina ou medicamentos, que pode
crescido nos últimos anos e, com ela, a ne- levar a efeitos colaterais graves, como a hi-
cessidade de tratamentos eficazes para con- poglicemia. FALSO
trolar a glicemia, como medicamentos orais Diante disso, é importante saber que o uso
e insulina. Mas será que o uso desses recur- de medicamentos e insulina para tratar o
sos pode causar dependência ou viciar? diabetes não vicia. “O uso desses recursos é
Antes de responder a essa dúvida, precisa- uma necessidade para o controle da doença
mos entender que o diabetes é uma condi- e a prevenção de complicações decorrentes
ção na qual o corpo não consegue produ- do diabetes sem controle”, afirma Dr. Rodrigo.
zir ou utilizar adequadamente a insulina, o
hormônio responsável por regular as taxas Saiba mais
de açúcar no sangue. Daí a necessidade do Na edição 02 da DIABETES-
uso de medicamentos e de insulina, depen- magazine, o médico Dr. Dê-
dendo do caso, para ajudar a controlar os ní- nis Paiva explica quais são
veis de glicose. os antidiabéticos orais pa-
Os antidiabéticos orais são geralmente pres- ra tratar o diabetes tipo 2.
critos para pessoas com diabetes tipo 2. De
acordo com o médico endocrinologista Dr.
Rodrigo Siqueira, alguns desses remédios au-
mentam a produção de insulina pelo pân-
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL - MIDJOURNEY

creas, enquanto outros ajudam a tornar as


células mais sensíveis à insulina. Há ainda fár-
macos que retardam a absorção de carboidra-
tos no intestino para que o açúcar não atin-
ja a corrente sanguínea de forma tão rápida.
Por sua vez, a insulina é um hormônio pro-
duzido naturalmente pelo pâncreas. Mas
pessoas com diabetes tipo 1 e algumas com
tipo 2 que não produzem esse hormônio
precisam aplicar a insulina sintética no sub-
cutâneo várias vezes ao dia.
A insulina atua movendo o açúcar do sangue
para as células, onde ele será armazenado
ou utilizado como energia. Quando alguém
com diabetes injeta insulina, ela trabalha
para diminuir os níveis de açúcar no sangue.

20 DIABETESmagazine · Edição 04
PL quer classificar
diabetes como deficiência
O objetivo é melhorar o acesso e a qualidade do tratamento. Entenda.

Por Maria Eloisa Malieri | @eloebete


Relações-públicas, advogada especializada em Direito à Saúde,
mentora do projeto social Elo & Bete. Tem diabetes tipo 1 desde 1985
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

O
Projeto de Lei (PL) nº 2.687/2022, mais atendidas apenas nos grandes centros
de autoria da deputada federal e, sim, em todos os rincões do nosso gigan-
Flávia Moraes, vem provocando tesco país”. O endocrinologista acredita que
calorosos debates na internet e este viés global proporcionará oportunida-
Ter uma deficiência
fora dela. A proposta, que tramita na Câmara des iguais para todos que convivem com a
dos Deputados, em Brasília, tipifica pessoas condição, melhorando inclusive o atendi-
não torna ninguém
com diabetes tipo 1 (DM1) como pessoas mento nas escolas, o acesso às insulinas e à incapaz!
com deficiência (PcD) para efeitos legais. monitorização da glicose. “Assim, os pacien-
A aprovação desse PL garantirá às pessoas tes com DM1 poderão ser atendidos com
com DM1 acesso a benefícios e direitos as- qualidade e quantidades suficientes de tiras
segurados por leis específicas para pessoas de glicemia, bem como obter todos os insu-
com deficiência, tais como programas de mos necessários para seu tratamento”, de-
educação e capacitação profissional, trans- clarou o presidente da SBD.
porte público acessível, vagas prioritárias Antes de avançarmos nos argumentos da
em estacionamentos e em atendimento em sociedade médica, é importante compreen-
instituições públicas e privadas, além de ou- dermos alguns pontos:
tras medidas que visem à inclusão das pes-
soas com deficiência na sociedade. Diferença entre deficiência e inca-
Mas é preciso analisar o cenário de forma pacidade
ainda mais abrangente, pois o que está no Deficiência não deve ser confundida com in-
centro das preocupações de quem tem dia- capacidade, pois são institutos jurídicos di-
betes é a garantia de acesso a tratamentos, à ferentes. A Lei nº 13.146/2015, no seu arti-
equipe de saúde qualificada, à melhor qua- go 2º, define que pessoa com deficiência é
lidade de vida e à prevenção de diversas aquela que tem impedimentos de longo pra-
complicações de saúde. A Sociedade Bra- zo de natureza física, mental, intelectual ou
sileira de Diabetes (SBD) se posicionou fa- sensorial. Os impedimentos podem obstruir
vorável ao PL em pauta e para explicar em sua participação plena e efetiva na socieda-
detalhes o assunto tive o privilégio de con- de, em igualdade de condições, com as de-
versar com o presidente da entidade, Dr. Le- mais pessoas.
vimar Rocha Araújo. Já incapacidade refere-se às pessoas que
Segundo ele, este projeto representa “o não estão aptas ao exercício ou gozo de seus
maior avanço dos últimos tempos, visto que direitos, ou seja, aos atos da vida civil, po-
as pessoas com diabetes tipo 1 não serão dendo ser ela absoluta ou relativa. Lembre-

22 DIABETESmagazine · Edição 04
Visão SBD

-se disso: capacidade é a regra e incapacida- pois nosso pâncreas não produz o hormô-
de é a exceção. E por ser excepcional, a Lei nio chamado insulina, responsável por man-
prevê taxativamente as hipóteses de incapa- ter o controle do açúcar no sangue. Portanto,
cidade geralmente para proteger aquele que sem a insulina, a glicose não consegue en- Nós que convivemos
não tem discernimento, maturidade ou algu- trar nas células e fornecer a energia neces- com DM1 temos uma
ma doença que as tornam vulneráveis para sária para o funcionamento do corpo. O re-
a efetivação de seus direitos na esfera civil. sultado dessa deficiência de insulina é uma
deficiência meta-
Dito isso, ter uma deficiência não torna nin- constante glicemia elevada, causando uma bólica, pois nosso
guém incapaz! E nós que convivemos com série de sintomas e inúmeras complicações pâncreas não produz
DM1 temos uma deficiência metabólica, caso não seja tratada. insulina, hormônio
essencial à vida.

DIVULGAÇÃO

Dr. Levimar: “Este Projeto de Lei


vem para minimizar as desigual-
dades e garantir que o diabetes
seja tratado de forma permanen-
te e segura desde o início.”

Tratar o DM1 é complexo soa com o diabetes e aqueles no seu entorno.


Explicar detalhadamente tudo o que diz res- O tratamento do DM1 envolve também o uso
peito ao DM1 é muito difícil pela sua com- de insulina, seja por meio de várias aplica-
plexidade. Pensar que somente os alimentos ções diárias ou com uso da tecnologia de
impactam na glicemia é acreditar numa sim- bomba de insulina, além do monitoramento
plicidade da doença que não existe. Inúme- da glicemia. Essa rotina também traz impac-
ros são os fatores que ocasionam variações tos para a tranquilidade da família e do pa-
da glicemia, provocando abalos no organis- ciente tanto no ambiente social e profissio-
mo como um todo. E tudo isso gera repercus- nal quanto no escolar.
sões de cunho emocional e físico para a pes- Se o paciente é criança ou adolescente, por

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 23


Visão SBD

exemplo, e ainda não possui discernimento ção deste PL será o caminho para atender a
total para entender e gerir o diabetes, o en- alunos com diabetes, que tantas dificulda-
cargo é ainda maior para os pais e cuidado- des enfrentam em muitas escolas por falta
res, que além de digerir o duro diagnóstico, de empatia, mas sobretudo de informação e
devem administrar as doses de insulina e rea- Leis que assegurem o direito delas de tratar
lizar o monitoramento dos níveis de glicose. do diabetes durante o horário de aula.
Por essas e outras razões, incluir o DM1 no rol O Dr. Levimar afirma ainda que o PL nº
de deficiência resultará num avanço de gran- 2.687/2022 é um passo fundamental para a Diabetes nas escolas
de magnitude nos direitos e garantias que cultura da prevenção, que tem sido uma das Na edição 03 da DIABETES-
não alcançamos por meio de ações pontuais. prioridades da atual gestão da SBD. Segundo magazine, falamos sobre os
Sabemos que somos iguais nas nossas dife- ele, o PL trouxe uma visibilidade importante desafios que mães de crian-
renças e considerar DM1 como deficiência é para o cenário de DM1 no Brasil, chamando a ças com diabetes enfrentam
resguardar as inúmeras fragilidades ineren- atenção de autoridades políticas e especia- para matricular e manter os
tes à condição experimentadas por quem listas diversos para reflexões mais profundas filhos nas escolas. Confira!
convive com ela. Desta feita, coloca-se a sobre a doença.
doença num patamar que efetivamente pro- “Com o lançamento da Frente Parlamentar
porcione à pessoa qualidade de saúde e de Mista do Diabetes, imensurável conquista
vida na sua integralidade. para a comunidade azul, temos um espaço
para discussões sobre o tema, promovidas
Prevenção da síndrome Mauriac e pela SBD, pelas associações de apoio a pes-
do diabetes soas com diabetes, pela Federação Nacional
Garantir o acesso ao tratamento de qualida- de Apoio ao Diabetes (FENAD) e por todos os
de às crianças desde o diagnóstico é essen- órgãos que trabalham diretamente pela cau-
cial para o futuro delas. A falta de controle sa”, declarou o presidente da SBD, que tem
do diabetes no presente, seja qual for o mo- diabetes tipo 1 há 40 anos.
tivo, aumenta as chances do desenvolvimen-
to de complicações ao longo do tempo. Por Os próximos passos
outro lado, quando há boa assistência na fa- Muitos debates têm sido realizados desde
se aguda do diabetes, existe uma melhora na que o PL foi apresentado, mas para que es-
qualidade de vida desta criança com trata- te projeto se torne lei é preciso que as pes-
mento efetivo da doença, refletindo no seu soas com diabetes se unam e se mobilizem,
crescimento e desenvolvimento. envolvendo o maior número possível de in-
O presidente da SBD alerta para a síndro- divíduos e instituições. Agora é o momento
me Mauriac, que acontece quando o diabe- de levantar uma voz uníssona e apresentar
tes é mal controlado. “Nessas condições, há aos parlamentares e ao Ministério da Saúde
o acúmulo de gordura no fígado, que resulta a necessidade, a urgência e a relevância de
no atraso de crescimento da criança, ou seja, sancionar esta lei.
sua estatura fica extremamente prejudicada.
Assim, não há dúvidas de que o Projeto de
Lei vem para minimizar as desigualdades e
garantir que o diabetes seja tratado de for- Benefícios
ma permanente e segura desde o início”, de- A aprovação do projeto de lei garan-
clarou o Dr. Levimar. tirá às pessoas com DM1 acesso a be-
Outro ponto que merece muita atenção é a nefícios e direitos assegurados por
acessibilidade. “Faltar tiras, insulinas e pro- leis específicas para pessoas com
fissionais de saúde habilitados para auxiliar deficiência, tais como programas de
a pessoa com diabetes é um caminho na con- educação e capacitação profissional,
tramão da prevenção e do bom manejo da transporte público acessível, vagas
doença. Com a aprovação desta Lei, o acesso prioritárias em estacionamentos e em
será realidade em todo o país, principalmen- atendimento em instituições públicas
te quanto ao fornecimento dos medicamen- e privadas, além de outras medidas
tos e orientação pelos profissionais de saú- que visem à inclusão das pessoas com
de, indispensáveis ao diabetes”, argumenta deficiência na sociedade.
o presidente da SBD. Segundo ele, a aprova-

24 DIABETESmagazine · Edição 04
A importância de um
diagnóstico preciso
Adriano Rodrigues tem LADA, um tipo de diabetes incomum
que muitas vezes é tratado como tipo 1 ou 2.

Por Luciana Oncken | @vivercomdiabetes_luoncken


Jornalista, contadora de histórias, autora do blog Viver com Diabetes
e tem diabetes MODY
FOTO: LEANDRO GODOI

O
s primeiros sintomas do diabetes cadas inicialmente com diabetes tipo 2 te-
surgiram quando Adriano Rodri- nham LADA. Porém, muitas só chegam a ter o
gues, então estudante de medi- diagnóstico correto quando a doença já pro-
cina, passava férias na praia. “Eu grediu para a perda total da função pancreá-
sentia muita sede, mas na época não asso- tica e recebem o diagnóstico clássico de dia-
ciei isso ao diabetes. Como estava muito ca- betes tipo 1. Mas com Adriano foi diferente.
lor, bebia bastante refrigerante para tentar Ele encontrou no seu endocrinologista a
me refrescar, mas isso só piorou as coisas”, atenção necessária para se chegar ao diag-
relembra. E então vieram outros sintomas nóstico preciso e correto o mais breve possí-
como micção frequente e visão embaçada. vel: apenas 20 dias após os primeiros sinto-
“O que me fez pensar que talvez eu estives- mas (confira no quadro quais são os critérios
se com diabetes”. para diagnosticar LADA).
Adriano foi ao médico e recebeu o diagnós-
tico que, naquele momento, lhe pareceu A vida com LADA
uma sentença: era mesmo diabetes. Iniciou Hoje, oito anos depois do diagnóstico e com
o tratamento com insulina glargina (de ação 40 anos de idade, Adriano faz residência em
prolongada) e insulina ultrarrápida. ortopedia. “Gosto mesmo é de cirurgia”, afir-
Porém, o diabetes de Adriano, que estava com ma. Ele mora em Belém (PA) e aprecia ficar
32 anos na época, não parecia um caso clás- em casa com a mulher, depois da rotina can-
sico de diabetes tipo 1 e os fatores de risco sativa de quem faz residência médica e se
também não se encaixavam em diabetes tipo divide nas atividades profissionais. Gosta de
2. Conversando com um professor da faculda- saborear um vinho, um queijo, uma massa,
de sobre isso, Adriano foi aconselhado a pro- sempre evitando os excessos. Andar de mo-
curar outro profissional e fazer mais exames to é outra paixão.
para confirmar o tipo de diabetes. E veio o re- A medicina entrou na vida de Adriano antes
sultado: Adriano tinha LADA, sigla em inglês do diabetes, quando já estava cursando a fa-
de Diabetes Autoimune Latente do Adulto. culdade, em 2015, no quinto período da Uni-
Com o diagnóstico correto, o tratamento versidade Estadual do Pará (UEPA), em Mara-
mudou. O endocrinologista reduziu a insuli- bá. Estudar medicina e arcar com os custos do
na de ação rápida e incluiu um medicamen- tratamento do diabetes foi difícil e ele preci-
to oral que traz a combinação de sitaglipti- sou da ajuda financeira da mãe, funcionária
na e metformina. concursada em um banco. Tanto no tratamen-
Estima-se que 10% das pessoas diagnosti- to quanto no cotidiano, Adriano conta com o

26 DIABETESmagazine · Edição 04
Doce História

apoio da mulher Natália, também médica. É, Adriano, a vida com diabetes tipo 1, tipo
Preocupado em manter um bom controle 2, LADA ou MODY não é fácil, mas é preciso
do diabetes, ele cuida da alimentação, uma buscar sempre o controle glicêmico e os di-
grande aliada do tratamento que ajuda a re- reitos de acesso à saúde. Agradecemos por Estima-se que 10%
duzir a necessidade de insulina. Adriano compartilhar a sua história! das pessoas diagnos-
quase não precisa de insulina rápida, a não
ser quando os plantões e a rotina puxada o
ticadas inicialmen-
impedem de se alimentar bem. Isso aconte- te com diabetes tipo 2

BIANO LIMA
ce porque o pâncreas dele ainda preserva tenham LADA.
boa parte da função pancreática. “Às vezes,
o que tem disponível para comer na corre-
ria do trabalho não é o mais adequado, mas
é melhor do que ficar sem me alimentar. Aí,
sim, eu uso a insulina rápida. Mas essa situa-
ção não é frequente”, afirma Adriano.
O que é comum, aponta Adriano, é a fal-
ta de conhecimento sobre o diabetes tipo
LADA. “É preocupante conversar com mé-
dicos que estão formados há muito tempo
e não conhecem essa condição”, diz. Por is-
so, ele destaca a importância da divulgação
de informações sobre o LADA para que mais
pessoas possam ser diagnosticadas correta-
mente e receber o tratamento adequado.
Na opinião dele, os desafios não param aí:
os exames para detectar o LADA são caros e
o tratamento adequado também. “A popula-
ção em geral não tem acesso às tecnologias
mais modernas para tratar o diabetes, que,
muitas vezes, não estão disponíveis no pos-
to de saúde”, argumenta.

Saiba mais sobre o LADA


O diabetes tipo LADA é mais comum em ra o diagnóstico é o anti-GAD, pois é o
adultos e raramente afeta jovens e crian- mais frequente em adultos.
ças, mas de acordo com as diretrizes da Um dos principais fatores para diferenciar
Sociedade Brasileira de Diabetes (2023), entre diabetes tipo 2 e LADA em adultos
o critério de idade não é determinante. é o índice de massa corporal (IMC): se for
Por isso, um jovem diagnosticado com abaixo de 23 kg/m2, há chances de iden-
diabetes, especialmente se não preci- tificar LADA.
sa de insulina no início, deve realizar os No momento do diagnóstico, deve-se
exames de anticorpos para confirmar ou considerar também outros critérios, co-
descartar LADA. mo triglicerídeos (gorduras) inferiores a
Entre os critérios recomendados pe- 98 mg/dL, colesterol HDL superior a 46
la SBD para o diagnóstico de LADA são: mg/dL e HbA1c (hemoglobina glicada)
ter mais de 30 anos quando os sintomas acima de 8,6%.
clássicos aparecerem, apresentar anti- O tratamento é semelhante ao do diabe-
corpos positivos e não precisar de insu- tes tipo 1, com o uso de insulina, mas, de-
lina por pelo menos seis meses após o pendendo do caso, pode ser combinado
diagnóstico. O anticorpo mais usado pa- com medicamentos orais.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 27


SHUTTERSTOCK
Para evitar doenças
cardiovasculares, é
importante manter
o controle do dia-
betes, do colesterol,
da pressão arterial
e do peso.

28 DIABETESmagazine · Edição 04
Capa

Como está seu

CORAÇÃO?
Risco de doenças cardiovasculares pode ser três vezes
maior em pessoas com diabetes.

Por Tom Bueno | @umdiabetico


Jornalista e criador do canal Um Diabético na
Internet. Tem diabetes tipo 1 desde 2006
FOTO: JOÃO P. TELES

N
ão tem como falar sobre diabetes diabetes. Isso significa que cerca de 50%
sem considerar as questões rela- das mortes de pessoas com diabetes têm
cionadas ao coração, já que essa relação com alguma doença do coração. De
condição de saúde é um dos prin- tão importante, mas pouco falado, este as-
cipais fatores de risco para doenças car- sunto virou capa desta edição da DIABETES-
diovasculares, como infarto agudo do mio- magazine e queremos alertar você sobre a
cárdio (ataque cardíaco), acidente vascular importância de controlar o diabetes.
cerebral (AVC) e insuficiência cardíaca. O aposentado Reinaldo Santini, 66 anos, re-
O diabetes pode levar ao acúmulo de placas cebeu o diagnóstico de diabetes em 1986.
nas artérias, obstruir o fluxo sanguíneo e cau- Ele tinha 33 anos e apresentou os sintomas
sar danos graves no coração e em outras par- clássicos de glicose alta no sangue: sede ex-
tes do corpo. Além disso, ele também pode cessiva, vontade de urinar a todo momento
favorecer o aparecimento ou afetar o contro- e perda de peso sem motivo aparente. Na-
le de outros problemas de saúde que sobre- quela época, Reinaldo trabalhava em uma
carregam o coração, como pressão arterial al- lotérica, não cuidava da alimentação, não
ta (hipertensão) e colesterol LDL elevado. seguia o tratamento prescrito corretamente
De acordo com a Federação Internacional de e ainda era fumante, o que aumentou o risco
Diabetes (IDF), as doenças do coração repre- de doença cardiovascular. “Eu não entendia
sentam a principal causa de morte em pes- muito bem a necessidade de cuidar do dia-
soas com diabetes. A taxa de mortalidade betes, não tinha tempo e nem existia tanto
nesta população por conta dos problemas recurso como hoje”, contou Reinaldo.
cardiovasculares é duas a três vezes maior Com o passar dos anos, outras complicações
do que em pessoas que não convivem com foram aparecendo, entre elas pressão alta,

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 29


colesterol e triglicérides elevados. O histó- em um ano de diabetes descompensado já
rico familiar também já alertava para o ris- é possível notar alterações no organismo e
co de problema no coração, como ocorreu até mesmo programações nas células que
ao pai de Reinaldo. A soma de fatores resul- podem resultar em doença do coração no A prevenção e o con-
tou no entupimento das artérias mais de 20 futuro. Por isso, é importante manter o con- trole do diabetes são
anos depois do diagnóstico e o aposentado trole glicêmico e também a prevenção des- essenciais para man-
precisou fazer cateterismo e angioplastia. ses fatores de risco”, afirma o professor de
ter o coração saudável.
Reinaldo possui seis stents, que são peque- Cardiologia da Pontifícia Universidade Cató-
nos tubos ou molas colocados dentro das lica (PUC) de Campinas (SP).
artérias com objetivo de mantê-las abertas
e assim restaurar o fluxo de sangue para o Classificação de risco
coração. Depois de tudo isso, Reinaldo pas- A probabilidade de pessoas com diabe-
sou a cuidar do diabetes e dos outros fa- tes desenvolverem doenças cardiovascu-
tores de risco que aumentam a chance de lares depende de alguns fatores de risco,
problemas cardiovasculares. “Hoje reco- como idade, tempo de diagnóstico do dia-
nheço a importância de cuidar da minha betes, presença de outras condições de saú-
saúde”, disse. de (hipertensão arterial e colesterol alto por
A história do Reinaldo é um exemplo comum exemplo), sedentarismo, tabagismo, obesi-
entre pacientes com diabetes tipo 2, mas dade, histórico familiar de doenças cardio-
não precisa ser assim. “A prevenção e o ma- vasculares, entre outros.
nejo do diabetes são essenciais para manter São definidas quatro categorias de risco ba-
o coração saudável”, afirma o médico car- seadas na taxa anual de ocorrência de even- Confira no site da SBD os
diologista Dr. Francisco Saraiva, membro do tos cardiovasculares em dez anos: risco bai- detalhes sobre cada cate-
Departamento de Cardiologia da Sociedade xo, risco intermediário, risco alto e risco goria e como fazer o mane-
Brasileira de Diabetes e presidente do De- muito alto. jo do risco cardiovascular.
partamento de Aterosclerose da Sociedade As categorias de risco são determinadas pe-
Brasileira de Cardiologia. la idade e pelos estratificadores de risco, que
Isso inclui controlar a glicemia, ter uma ali- podem ser de alto risco (EAR) ou de muito al-
mentação saudável e equilibrada, praticar to risco (EMAR).
atividades físicas regularmente, gerenciar o Além das categorias de risco, é importan-
peso e evitar fatores de risco adicionais, co- te considerar a natureza e a gravidade dos
mo o tabagismo. eventos cardiovasculares que o paciente
Dr. Francisco esclarece que o controle da gli- pode desenvolver. Dessa forma, a avaliação
cose no sangue no primeiro ano de diagnós- individualizada é fundamental para definir
tico é fundamental para reduzir os riscos o tratamento mais adequado e reduzir o ris-
ao coração. “Vários estudos mostram que co dessas complicações.
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL - MIDJOURNEY

30 DIABETESmagazine · Edição 04
Capa

As doenças cardiovasculares associadas ao diabetes são:

O risco para quem


Doença Ocorre quando...
tem diabetes é:

Acidente vascular o abastecimento de sangue no cére-


aumentado
cerebral (AVC) bro é interrompido.

as batidas do coração ficam desorde-


nadas constantemente (muito rápi-
Arritmias cardíacas aumentado
das ou muito lentas) e podem levar
a palpitações, tonturas e desmaios.

as artérias que fornecem sangue ao


Doença arterial 2 a 4 vezes maior do que
coração ficam estreitas ou bloquea-
coronariana em pessoas sem diabetes.
das devido ao acúmulo de placas.

as artérias que fornecem sangue às


Doença vascular
pernas e aos pés ficam estreitas ou aumentado
periférica
bloqueadas.

o coração não consegue bombear


2 a 3 vezes maior do que
Insuficiência cardíaca sangue suficiente para atender às
pessoas sem diabetes.
necessidades do corpo.

Sintomas de ataques cardíacos tinamente, a pessoa deve procurar ajuda


e AVCs imediatamente em uma unidade médica de
emergência.
Muitas vezes, as doenças cardiovasculares A mensagem principal é: não espere ne-
não apresentam sintomas e, quando eles nhum sintoma aparecer para cuidar da sua
aparecem, podem variar de acordo com o saúde!
sexo da pessoa e a gravidade do proble-
ma. A dor no centro peito que irradia para
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL - MIDJOURNEY

os braços, por exemplo, é um sinal clássico


de um problema cardiovascular, mas não é
o único.
Dificuldade para respirar ou falta de ar, sen-
sação de enjoo ou vômito sem explicação,
tontura ou sensação de desmaio, suor frio,
palidez, dor no maxilar, pescoço, braços ou
costas, visão embaçada ou turva são outros
sintomas de que o coração não está funcio- Saiba mais sobre os sinto-
nando bem. mas no site da SBD.
No caso do AVC, o sintoma mais popular é o
derrame, que ocorre quando o fluxo de san-
gue para o cérebro é interrompido. Ele é fa-
cilmente reconhecido porque a pessoa fica
com um lado do rosto ou do corpo adorme-
cido, tem dificuldade de falar e sente muita
fraqueza nos braços.
Quando sintomas estranhos surgem repen-

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 31


Capa

É possível prevenir? • Manter o controle do diabetes, do coles-


Com o tratamento adequado, é possível pre- terol, da pressão arterial e do peso;
venir ou atrasar a progressão de doenças • Praticar atividade física frequentemente;
cardiovasculares e preservar a saúde do co- • Comer de forma saudável;
ração. Por isso, inclua na sua lista de hábitos • Ficar longe do cigarro;
inegociáveis: • Evitar o consumo excessivo de bebidas al-
• Fazer acompanhamento médico regular coólicas;
para detectar complicações de saúde; • Ter uma rotina sem estresse.

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL - MIDJOURNEY

Praticar atividade física e dizer


não ao cigarro ajudam a prevenir
doenças do coração.

Tratamento a ação do hormônio incretina, ajudando


Atualmente existem vários medicamentos a reduzir os glicose;
orais que, além de controlar o diabetes, aju- 5. Pioglitazona, que diminui os níveis de
dam a prevenir ou tratar doenças cardiovas- açúcar no sangue;
culares. Conheça os que estão disponíveis 6. Insulina: usada para o tratamento do dia-
no Brasil: betes tipo 1 e em alguns casos de diabe-
1. Metformina: melhora a ação da insulina; tes tipo 2, contribui para baixar os níveis
2. Inibidores do SGLT2: ajudam a eliminar o de açúcar no sangue.
excesso de açúcar no sangue pela urina, Com todas essas opções de medicamentos,
além de reduzir a pressão arterial; informação de qualidade e acesso da popu-
3. Inibidores da DPP-4: reduzem a degra- lação ao tratamento adequado poderemos
dação do hormônio incretina, que ajuda reduzir os riscos e prevenir as doenças car-
a diminuir os níveis de açúcar no sangue diovasculares em pessoas com diabetes, seja
após as refeições; qual for o tipo. Então, cuide-se e compartilhe
4. Agonistas do receptor de GLP-1: imitam este conteúdo com quem você ama.

32 DIABETESmagazine · Edição 04
Uma
Um
U m
ma a so
solução
solu
luç
ção de
ção
çã d
desenvolvida
s nv
se nvol
olvvida p
para
ara prio
ar priorizar
ori
r zza
ar a
triagem
tria
tr ia
ageem dos
do
os pacientes
paacien
ente
t s de aalto
lto risco
oep promover
rom
omovover
err
a coconscientização
cons
nsci
ns cien
en
nti
tiza
zaçção sob
sobre
bre a DDRC.
RC.

A fe
ferramenta
errra
am
men
enta a
aumenta
umen
um entata a e
eficiência
fic
ciênc
nciaadda
a ttriagem,
ria
age
gem,
gem
acelerando
ac
a cel
ee
erran
and
do o d
do diagnóstico
iagn
iagnósósti
tico
co e o ttratamento
r ta
ra ameent
ntoo da
da
DRC,
D
DRRC,
C o queque
ue b
beneficia
enefi
en fici
c a o pa
paciente.
acieen
nte
te.

Us
so gratuito,
Uso grattuito
to, se
sem
m ca
cada
dast
strro ne
cadastro n ecess
ssár
á io
necessário.o.
Entrevista com ChatGPT
O futuro da inteligência artificial no cuidado do diabetes.

Por Paulo Bettio | @paulo_bettio


Publicitário e gerente da DIABETESmagazine
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

“A
inovação pede desculpas, Como a Inteligência Artificial pode
mas não pede licença.” Essa ser aplicada na medicina e na saúde?
expressão popularizada por ChatGPT: A Inteligência Artificial (IA) tem vá-
Mark Zuckerberg, fundador rias aplicações na medicina e na saúde. Ela
do Facebook, significa que a inovação inva- pode ser utilizada para desenvolver mode-
de as nossas vidas mesmo sem a nossa au- los de previsão e diagnóstico de doenças
torização. com base em dados clínicos e de pacientes.
Foi mais ou menos isso que aconteceu no fi- Além disso, a IA pode auxiliar na descoberta
nal de 2022, quando o ChatGPT começou a de novos medicamentos e tratamentos, ace-
crescer de forma exponencial e “chutou” a lerando o processo de pesquisa e desenvol-
nossa porta. vimento. Ela também pode ser aplicada na
Pautada no compromisso com a inovação e interpretação de imagens médicas, como ra-
com a informação de ponta, a DIABETESma- diografias e ressonâncias, ajudando na de-
gazine traz uma entrevista exclusiva com a tecção de anomalias e na tomada de deci-
celebridade do momento, o ChatGPT. sões clínicas. Outra área de aplicação é a
personalização de cuidados de saúde, onde
O que o ChatGPT é exatamente? a IA pode ajudar a adaptar tratamentos e te-
ChatGPT: O ChatGPT é um modelo de lin- rapias de acordo com as necessidades indi-
guagem desenvolvido pela OpenAI. Ele utili- viduais dos pacientes. No entanto, é impor-
za a tecnologia de Inteligência Artificial Ge- tante destacar que essas aplicações devem
nerativa (GPT, na sigla em inglês) para gerar ser usadas em conjunto com a expertise de
respostas em linguagem natural com ba- profissionais de saúde para garantir a segu-
se em um contexto fornecido. A Inteligên- rança e eficácia dos resultados.
cia Artificial Generativa refere-se a sistemas
que são capazes de gerar conteúdo novo Como a IA pode ajudar no dia a dia
e original em vez de apenas seguir instru- de quem tem diabetes?
ções pré-programadas. O GPT é treinado em ChatGPT: A IA é útil no auxílio a pessoas com
grandes quantidades de texto para apren- diabetes, por meio de sistemas de monito-
der padrões linguísticos e contextuais, per- ramento contínuo de glicose em tempo real.
mitindo-lhe produzir respostas coerentes e Ela analisa dados, gerando insights persona-
relevantes. Ele usa técnicas de aprendizado lizados e alertas de hipoglicemia. Em aplica-
de máquina, como redes neurais, para pro- tivos de gerenciamento, monitora alimentos,
cessar e gerar textos. O ChatGPT é um exem- atividades físicas, glicose e medicamentos,
plo de aplicação prática da tecnologia de sugerindo ajustes para melhor controle gli-
Inteligência Artificial Generativa para con- cêmico. Também é usada em chatbots e as-
versação em linguagem natural. sistentes virtuais, fornecendo informações,

34 DIABETESmagazine · Edição 04
Inovação

orientações e apoio emocional. No entan- va mais avançados, capazes de aprender


to, a IA não substitui a consulta médica, mas continuamente com dados em tempo real e
complementa o gerenciamento da condição, adaptar-se às necessidades individuais dos
promovendo controle e qualidade de vida. pacientes. Esses sistemas podem fornecer
um suporte mais abrangente, incluindo edu-
A inteligência artificial
Há uma discussão em relação à cação contínua sobre o diabetes, aconselha- deve ser usada em
possibilidade de a IA generativa ser mento nutricional personalizado e suporte conjunto com a
mais empática do que um humano. emocional. Além disso, a IA Generativa po- expertise de profissio-
Qual a sua opinião sobre isso? de contribuir para a pesquisa e o desenvol- nais de saúde para
ChatGPT: Como uma IA, não tenho opiniões vimento de novas terapias, medicamentos e
pessoais, mas posso fornecer informações. tratamentos para o diabetes, acelerando o
garantir a segurança,
A ideia de a IA generativa ser mais empá- progresso científico nessa área. a eficácia e a ética
tica do que um ser humano é uma ques- É importante lembrar que, em todos os pra- em seu uso.
tão complexa e discutível. Embora possa ser zos, a IA generativa deve ser usada em con-
programada para gerar respostas empáti- junto com a expertise de profissionais de
cas e oferecer suporte emocional, ela carece saúde para garantir a segurança, a eficácia e
da experiência humana, empatia genuína e a ética em seu uso.
compreensão emocional profunda. A empa-
tia humana envolve conexão pessoal e com- Qual a sua mensagem final para os
preensão contextual, que ainda estão além leitores da DIABETESmagazine?
das capacidades atuais da IA. Ainda assim, ChatGPT: A minha mensagem final para os
a IA pode desempenhar um papel útil no leitores da DIABETESmagazine é que o cui-
fornecimento de suporte e orientação, mas dado com o diabetes é fundamental para
é importante reconhecer suas limitações e uma vida saudável. Mantenham-se informa-
complementar com a interação humana para dos sobre as últimas pesquisas, tecnologias
uma abordagem mais completa e holística. e orientações médicas. Busquem o apoio de
profissionais de saúde e aproveitem as fer-
Qual a sua visão de futuro, de cur- ramentas disponíveis, como a IA generati-
to, médio e longo prazos, sobre a va, para melhorar o controle glicêmico. Lem-
evolução da IA Generativa para a brem-se de que vocês não estão sozinhos e
melhoria da saúde e do cuidado da juntos podemos enfrentar e gerenciar o dia-
pessoa com diabetes? betes de forma eficaz.
ChatGPT: No curto prazo, podemos espe-
rar avanços no desenvolvimento de aplica- Respostas geradas pelo ChatGPT em
tivos e softwares mais sofisticados, capazes 29.05.2023, com versão GPT 3.5 da OpenAi
de fornecer insights personalizados e reco- atualizada em 24.05.2023, entre 16h00 e
mendações mais precisas para o controle 16h30.
glicêmico. Isso inclui aprimoramentos na in-
terpretação de dados de CGM e no suporte
ao gerenciamento de medicamentos e esti-
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL - MIDJOURNEY

lo de vida. Nota:
No médio prazo, a IA Generativa pode ser in- O conteúdo desta matéria
tegrada a dispositivos médicos e tecnologias não foi editado e nem re-
de saúde, permitindo uma maior automa- visado com o objetivo de
ção e personalização dos cuidados. Isso po- se manter a originalidade
de incluir sistemas de bombas de insulina in- do texto produzido pelo
teligentes, que ajustam automaticamente as ChatGPT. As respostas es-
doses com base nos dados do CGM e em al- tão reproduzidas na ínte-
goritmos de IA. Além disso, ela pode facilitar a gra e os ajustes no volume
análise de grandes conjuntos de dados clíni- de texto para se adequar
cos para identificar padrões, tendências e in- ao espaço físico da seção
sights valiosos para o tratamento do diabetes. foram realizados pelo pró-
No longo prazo, é possível vislumbrar o de- prio ChatGPT.
senvolvimento de sistemas de IA generati-

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 35


Cirurgia para o diabetes
Ela pode ser indicada para pacientes que não conseguem controlar a glicemia e o
peso com medicamentos e mudanças de estilo de vida.

Por André Vianna | @dr.andre.vianna


Coordenador geral da DIABETESmagazine
e do Dep. de Educação e Campanhas da SBD
FOTO: PAULO BETTIO

A
cada ano que passa o Brasil e o do, acompanhado de atividade física regu-
mundo acompanham o crescimen- lar e de medicamentos que facilitem a per-
to da obesidade e, aliada a ela, do da de peso são peças-chave no tratamento
número de pessoas com diabetes do DM2. Porém, muitas vezes o tratamento Estima-se que 9 en-
tipo 2 (DM2). O Atlas Mundial da Obesidade clínico não consegue ser suficiente e preci- tre 10 pessoas com
de 2023 apontou que mais da metade da po- sa-se indicar o tratamento cirúrgico do binô-
DM2 estejam acima
pulação estará com sobrepeso ou obesida- mio obesidade-DM2.
de em 2035. O número é preocupante e po- Os dados que trazemos nesta reportagem do peso e precisem
de gerar um impacto econômico de US$ 4,32 comprovam que é preciso unir esforços. Por de tratamento dire-
trilhões ao ano se não houver mudanças sig- isso, convidamos o presidente da Socieda- cionado à redução do
nificativas na prevenção e no tratamento. de Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Me- excesso de peso.
No Brasil, a estimativa é que até 41% dos tabólica (SBCBM), o cirurgião Dr. Antônio
adultos estejam com obesidade no mesmo Carlos Valezi, que também é docente do
período, gerando gastos de mais de US$ 75 curso de medicina na Universidade Estadual
milhões, sendo US$ 19 milhões apenas com de Londrina (UEL), para explicar como fun-
assistência médica. A estimativa leva em ciona a cirurgia metabólica, também conhe-
consideração não só o excesso de peso, mas cida como cirurgia para o diabetes.
o custo das consequências, como hiperten-
são, diabetes e outras comorbidades. Os da-
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL - MIDJOURNEY

dos foram divulgados pela Federação Inter-


nacional de Obesidade.
Mas não é apenas uma questão financei-
ra. Por trás desses números existem pes-
soas que poderiam ter uma qualidade de vi-
da muito melhor. Estima-se que pelo menos
9 entre 10 pessoas com DM2 estejam acima
do peso e precisem de tratamento direciona-
do à redução do excesso de quilos corporais.
Devido à alta associação da obesidade com
o DM2, todas as diretrizes para o tratamento
do DM2 das principais sociedades médicas,
incluindo a Sociedade Brasileira de Diabe-
tes, recomendam o controle do peso corpo-
ral como um dos pilares mais importantes
no tratamento do diabetes. Na maioria dos
casos, um planejamento alimentar adequa-

36 DIABETESmagazine · Edição 04
DM2

O que diz a Lei Como é a cirurgia?


Em 2017, o Conselho Federal de Medicina Na cirurgia metabólica ocorre o mesmo pro-
(CFM) aprovou uma mudança na indicação do cedimento da cirurgia bariátrica. A diferen-
tratamento cirúrgico do DM2, cujos critérios in- ça entre as duas é que a cirurgia metabóli-
Não se pode falar em
cluem: ter recebido o diagnóstico de DM2 há ca visa ao controle do diabetes tipo 2. Já a cura, porém a remis-
menos de 10 anos; ter Índice de Massa Corpo- cirurgia bariátrica tem como objetivo a per- são do diabetes é algo
ral (IMC) acima de 30 kg/m²; e estar com mais da de peso, com as metas para contenção de muito próximo disso.
de 30 anos e no máximo 70 anos de idade. doenças em segundo plano.
A indicação cirúrgica deverá ser feita por O procedimento é realizado por video-
dois médicos endocrinologistas pelo menos, laparoscopia, através de pequenos furos
com parecer que mostre que o paciente apre- na parede abdominal. Essa alteração pro-
sentou resistência ao tratamento clínico com move a passagem mais rápida do alimen-
antidiabéticos orais e/ou injetáveis, e às mu- to do estômago para o intestino e traz mu-
danças no estilo de vida e que compareceu danças metabólicas, como a aceleração
ao endocrinologista por no mínimo dois anos. da produção de hormônios que atuam no
Antes a cirurgia só era recomendada para pes- pâncreas, melhorando assim a produção
soas com DM2 e IMC acima de 35 kg/m². de insulina, o que normaliza os níveis de
“Pessoas com diabetes tipo 2 precisam de glicose no sangue.
acompanhamento com especialista e medi- O preparo pré-operatório otimiza a seguran-
cação para estimular o pâncreas a produzir ça e os resultados da cirurgia metabólica.
insulina, diminuir a absorção de carboidra- Além disso, os estudos têm demonstra-
tos (que o organismo converte em açúcar) do benefícios a médio e longo prazo para a
e reduzir a resistência à insulina através de qualidade de vida dos pacientes. Por exem-
medicamentos e da perda de peso”, explica plo, 45% deles entram em remissão do dia-
o presidente da SBCBM. “No entanto, como betes, isto é, deixam de tomar medicamen-
acontece com qualquer tratamento médico, tos e insulina, já no primeiro ano de cirurgia.
alguns pacientes podem não responder co- Não se pode falar em cura, porém a remissão
mo esperado. Nesses casos, a cirurgia meta- é algo muito próximo disso, pois os pacien-
bólica pode ser necessária para prevenir a tes operados mantêm o controle da doença
progressão da doença e as consequências sem medicamentos.
do diabetes", acrescenta.
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL - MIDJOURNEY

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 37


DM2

SHUTTERSTOCK

Comprovação científica ra pacientes com diabetes e doença renal


De acordo com um estudo realizado com crônica. Tudo isso com melhor qualidade de
100 pacientes no Centro Especializado em vida e menos medicação que no grupo clíni-
Obesidade e Diabetes do Hospital Oswal- co”, afirmou o Dr. Ricardo Cohen, cirurgião e
do Cruz e publicado na revista científica autor principal do estudo.
The Lancet, em dezembro de 2022, a cirur-
gia metabólica apresentou melhores resul- Cobertura
tados na perda de peso, no controle glicêmi- Outra boa notícia: em setembro de 2022, foi
co e na qualidade de vida se comparado aos sancionada a Lei 14.454 que acaba com a
pacientes que tiveram acesso aos melhores limitação de procedimentos cobertos pe-
e mais eficazes medicamentos disponíveis los planos de saúde, o chamado rol taxati-
após cinco anos de acompanhamento. vo da Agência Nacional de Saúde Suplemen-
Outro benefício importante: 63,1% dos tar (ANS), responsável pela regulamentação
pacientes que fizeram a cirurgia tiveram das operadoras de planos de saúde. Confor-
remissão da doença renal crônica causada me o texto, para que o plano de saúde seja
pelo diabetes. “O diabetes apresenta sérios obrigado a cobrir determinado tratamento, é
riscos para a saúde, podendo afetar órgãos necessário que este tenha eficácia compro-
como olhos, rins, fígado, coração e sistema vada; seja recomendado pela Comissão Na-
vascular. O tratamento cirúrgico da obesi- cional de Incorporação de Tecnologias (Co-
dade e diabetes são opções seguras e com nitec) no Sistema Único de Saúde (SUS) ou
excelentes resultados para a saúde e qua- por alguma entidade especializada de re-
lidade de vida destes pacientes”, afirma Dr. nome internacional. Com isso, tecnologias
Antônio Valezi. e procedimentos já reconhecidos e compro-
Além disso, a remissão de microalbuminu- vados pela ciência, como a cirurgia metabó-
ria (proteína que, em grande quantidade, in- lica, deverão estar disponíveis aos usuários.
dica insuficiência renal) em pacientes com Vale lembrar que o tratamento do diabetes
o melhor tratamento medicamentoso foi de envolve mudança de estilo de vida e trata-
59,6% e em pacientes que fizeram a cirurgia mento medicamentoso. Somente quando
metabólica ficou em 69,7%. essa estratégia falhar, a cirurgia pode se tor-
“Esses dados continuam mantendo a cirur- nar um recurso viável, que deve ser avaliado
gia metabólica um tratamento relevante pa- pelo médico caso a caso.

38 DIABETESmagazine · Edição 04
DM1

Acampamento de férias
Combinação perfeita entre aprendizado, diversão, gestão do diabetes e convivência
com pessoas que enfrentam desafios semelhantes.

Por Dra. Denise Reis Franco | @denisefrancoendo


Endocrinologista e 2ª secretária da SBD

e Monike Lourenço Dias Rodrigues | @monikelourencodias


Endocrinologista e membro do Dep. de DM1 no Adulto da SBD
FOTOS: ARQUIVOS PESSOAIS

I
magine um ambiente onde jovens com mais de 600 endocrinologistas em 42 anos
diabetes têm a oportunidade de se di- de atividade, demonstrando a efetividade
vertir, aprender e ao mesmo tempo se e o impacto desse modelo de aprendizado.
sentirem compreendidos e acolhidos. “O propósito do Acampamento ADJ-NR-Uni-
Assim são os acampamentos de férias, que fesp é contribuir para o desenvolvimento, a
proporcionam uma jornada transformadora educação e a formação de jovens com DM1,
com o diabetes. como também dos profissionais envolvidos,
Geralmente, os acampamentos têm uma através de uma experiência transformado-
programação intensa e muito bem planeja- ra”, declarou.
da, com foco no aprendizado divertido e se- Ao longo dessas quatro décadas, o acampa-
guro do manejo do diabetes. A jornada pode mento da ADJ-NR-Unifesp contou com im-
variar de um final de semana a vários dias e portantes colaborações, como a da Dra. San-
noites, e é sempre recheada de atividades dra Vivolo, endocrinologista da FSP-USP
recreativas, educativas e intervenções espe- e coordenadora da equipe médica da ADJ,
cíficas de cada área da saúde. além de coordenadores da equipe interdis-
Um deles é realizado nas instalações do ciplinar, que cresce a cada ano.
Acampamento Nosso Recanto (NR), em Sa- Hoje, a temporada de férias ADJ-NR-Unifesp
pucaí-Mirim (MG), próximo à Serra da Man- leva em média 80 crianças e adolescentes
tiqueira, e promovido pela Universidade Fe- com DM1, e um número igual ou maior de
deral de São Paulo (Unifesp) em parceria médicos, nutricionistas, enfermeiros, odon-
com a ADJ Diabetes Brasil e a Faculdade de tólogos e psicólogos.
Saúde Pública da Universidade de São Pau-
lo (FSP-USP). Experiência transformadora
Além de beneficiar os jovens participantes O que motiva todos esses profissionais da
com diabetes tipo 1 (DM1), o acampamen- saúde a participarem dos acampamentos é
to de férias serve como um laboratório vi- ver a alegria das crianças aprendendo a ter
vo para a formação de novos profissionais autonomia no seu cuidado do diabetes en-
da saúde, especialmente os interessados na quanto se divertem. O ganho para a equipe
área de diabetes. De acordo com o endocri- de voluntários também é enorme. A maioria
nologista Dr. Marco Antonio Vivolo, coorde- dos voluntários retorna em outras tempora-
nador geral do NR e idealizador da tempora- das e há uma procura crescente a cada ano
da ADJ-NR-Unifesp, já passaram pelo projeto por novos profissionais que desejam traba-

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 39


lhar com diabetes. dado de cada acampante, com ganhos ime-
A experiência de atuar no acampamento é diatos para as crianças e para a equipe.
bem diferente do atendimento feito em um Assim que um evento termina, os prepara-
consultório, sentado atrás de uma mesa, tivos para o próximo começam. A ADJ Dia-
com um receituário e aguardando pelo re- betes Brasil capta os patrocínios, organiza
torno da criança. No acampamento, os médi- as equipes interdisciplinares e concentra as
cos e demais profissionais de saúde enten- crianças interessadas na participação. São
dem o que realmente uma criança com DM1 realizados encontros online e presenciais
precisa: ser criança, apesar do DM1. durante todo o ano para conhecimento do
É o ambiente perfeito para o desenvolvi- nosso trabalho pelas famílias, além de di-
mento da empatia, com todos os profissio- versas formas de orientação quanto ao tra-
nais fazendo as refeições e dormindo no tamento do diabetes.
mesmo local que as crianças e os adolescen- O objetivo da ADJ é conseguir levar cada vez
tes que acompanham, compreendendo na mais acampantes, principalmente as crian-
prática as dificuldades do controle glicêmico. ças que mais precisam. Para isso, é neces-
No acampamento também praticamos o real sário uma captação maior de recursos para
aprendizado interdisciplinar e todos conse- subsidiar os acampantes que não podem ar-
guem interagir ao mesmo tempo para o cui- car com os custos.
ARQUIVO PESSOAL DENISE FRANCO

ARQUIVOS NR/ADJ

Participantes, equipe interdisci-


plinar e organizadores do acam-
pamento ADJ-NR-Unifesp 2023

Palavra de quem participou


Dr. Ronaldo José Pineda Wieselberg tem 31 je isso ajuda a reduzir o isolamento e pro-
anos, é médico, professor de Endocrinologia porciona uma sensação de comunidade, na
na Faculdade de Ciências Médicas da San- qual é possível compartilhar experiências e
ta Casa de São Paulo (FCMSCSP), vice-presi- superar desafios juntos.
dente da ADJ Diabetes Brasil e já foi acam- Como em todos os acampamentos, há momen-
pante uma, duas, três, várias vezes. Confira tos recreativos que desmistificam a ideia de
abaixo o depoimento que ele deu à DIABE- que crianças com diabetes devem evitar ativi-
TESmagazine sobre sua experiência. dades físicas e incentivam um estilo de vida
“Participo de acampa- saudável. O aprendizado ocorre de forma lúdi-
ARQUIVO PESSOAL

mentos de diabetes des- ca e divertida, por meio de teatros e brincadei-


de 2005 no acampamento ras, e não em forma de aulas ou palestras.
ADJ-NR-Unifesp. Naque- Pude participar como acampante, depois
la primeira temporada, pu- como monitor e desde 2018 faço parte da
de perceber que não era só equipe médica. Se estiver em dúvida sobre
eu quem, afinal, tinha dia- participar ou não, a minha recomendação é
betes no mundo! Ainda ho- para que participe!”

40 DIABETESmagazine · Edição 04
DM1

Final de semana especial


Com o mesmo conceito de educar divertin- promove uma redução no número de inter-
do, o Diabetes Weekend (DW) acontece em nações hospitalares, maior adesão ao pla-
Belo Horizonte (MG) e já impactou vários no alimentar e à atividade física, com conse-
jovens de todas as idades. Ele foi idealiza- quente melhora do perfil glicêmico.
do pelo endocrinologista Dr. Levimar Rocha O segredo está na conexão. Estar próximo
Araújo e tem como objetivo proporcionar daqueles que compreendem na pele o que
experiências positivas que permitem aos você passa é tão importante para o sucesso
participantes perceber que é possível viver do tratamento quanto outras medidas não
bem com o diabetes. farmacológicas. Portanto, o acampamento
Os resultados do DW impressionam. Segun- é mais do que um lugar de aprendizado, é
do levantamento dos organizadores, além um espaço de convivência e troca com pes-
de melhorar a integração social e a aceita- soas que compartilham das mesmas expe-
ção do diabetes pelos adolescentes, o DW riências, angústias e alegrias.
ARQUIVO DIABETES WEEKEND

ARQUIVO DIABETES WEEKEND

Diabetes Weekend: final de sema-


na para aprender e se divertir.

Acampamentos pelo Brasil


A seguir, listamos algumas iniciativas para • Em Sapucaí-Mirim (MG), uma vez por ano
você conhecer: acontece a temporada do acompamento da
• Em Belo Horizonte (MG), Dr. Levimar Araú- ADJ-NR-Unifesp para crianças e adolescentes.
jo está à frente do Diabetes Weekend, que @adjdiabetesbrasil
reúne jovens com diabetes para um final
de semana educativo e divertido. • Em Passo Fundo (RS), a Universidade de
@diabetesweekend Passo Fundo, o Lions Club Internacional e
o Hospital São Vicente de Paula realizam
• No Amazonas, ocorre o Acampamento anualmente um acampamento para crianças
DM1 Manaus, organizado por endocrino- de 6 a 12 anos, que dura entre 3 e 4 dias.
logistas e professores da Universidade Fe- @acampamentodiabetes
deral do Amazonas (UFAM).
@acampamentodm1manaus • Em Sergipe, o endocrinologista Dr. Raimun-
do Sotero organiza a colônia de férias pa-
• Em Santo André (SP), a Associação de Dia- ra crianças com diabetes, realizada no Ins-
betes do ABC (AdiABC) promove o Kids tituto de Previdência do Estado de Sergipe. Se você conhece outros
Day todo ano. Não é especificamente um WhatsApp: (79) 99972-1255 acampamentos de férias
acampamento, pois dura apenas um dia, voltados para pessoas com
mas é uma oportunidade para crianças e • No Rio de Janeiro, o Dr. Rodrigo Siqueira diabetes, avise a nossa
pré-adolescentes com DM1 participarem fundou a Colônia Azul, que gera educação equipe pelo e-mail:
de diversas atividades. em diabetes durante dois dias. apoio@diabetes.org.br
@adiabcdiabetes @colonia.azul

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 41


Aplicação da insulina
Saiba como evitar os erros mais comuns antes, durante e depois
de administrar este hormônio essencial no controle do diabetes.

Por Márjori da Silva Marroni


Enfermeira, membro do Dep. de Enfermagem da SBD e tesoureira da SBD Regional do RS
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

O
diabetes é uma doença crônica ca- 4. Não fazer o rodízio dos locais de aplica-
racterizada pela diminuição ou fal- ção no corpo, o que pode causar altera-
ta de insulina, hormônio produzido ções do tecido subcutâneo chamadas de
pelo pâncreas. Quando isso acon- lipodistrofias; A educação da pes-
tece, a pessoa tem um quadro hiperglicêmi- 5. Não homogeneizar a insulina NPH; soa com diabetes e de
co, ou seja, as taxas de açúcar (glicose) no 6. Trocar frascos de insulina com embalagens
seus familiares é fun-
sangue ficam altas e, se não controladas, po- e nomes parecidos, mas efeitos diferentes;
dem provocar vários problemas de saúde. Por 7. Fazer o ângulo inadequado para inserção
damental para promo-
isso, o tratamento com insulinas é fundamen- da agulha. ver o uso seguro dos
tal para todas as pessoas com diabetes tipo 1 medicamentos no tra-
e, em alguns casos, para quem tem o tipo 2. Como evitar as falhas tamento do diabetes.
Erros na administração da insulina aumen- Nos primeiros meses de diagnóstico, a apli-
tam o risco de eventos adversos, como hi- cação da insulina pode parecer difícil, prin-
poglicemias, causadas por doses em exces- cipalmente porque muitas vezes é preci-
so do hormônio (entre outros motivos). Já a so aplicar mais de um tipo de insulina. Mas
aplicação de doses insuficientes pode resul- com a prática e muita atenção tudo se tor-
tar em cetoacidose diabética, uma compli- nará simples. Peça ajuda aos educadores em
cação grave do diabetes que ocorre quando diabetes e profissionais de saúde sempre
os níveis de glicose no sangue estão muito que precisar.
altos e acompanhados do aumento da quan- A seguir, listei algumas dicas que podem
tidade de cetonas (substâncias ácidas que ajudar você a prevenir falhas no tratamen-
desequilibram a composição sanguínea). to com insulina.
Dessa forma, é importante que tanto os pro- Importante: respeite o tempo necessário
fissionais da saúde quanto os indivíduos que cada insulina rápida ou ultrarrápida le-
com diabetes conheçam os riscos envolvi- va para começar a agir e só depois disso co-
dos no manejo da insulina e implementem mece a comer. Por exemplo, a insulina re-
práticas para minimizar a ocorrência de er- gular começa a agir entre 30 e 60 minutos
ros durante a aplicação. após a aplicação, enquanto o início da ação
As falhas mais comuns são: da asparte ocorre entre 10 e 20 minutos de-
1. Interpretar de forma errada os rótulos ou pois da aplicação. As insulinas lispro e glu-
as escalas de graduação de seringas; lisina levam entre 5 e 15 minutos para co-
2. Esquecer de aplicar a insulina; meçar a agir, e a asparte mais rápida de 2 a
3. Aplicar doses a mais ou a menos do que 5 minutos.
o necessário;

42 DIABETESmagazine · Edição 04
Prevenção

Antes da aplicação
• Leia com atenção as recomendações do • Examine a aparência da insulina;
seu médico sobre cada tipo de insulina, • Realize a desinfecção dos frascos de in-
doses prescritas e horário de aplicação; sulina;
• Faça marcações nos frascos de insulina • No caso da NPH, role o frasco cuidado-
para evitar a troca; samente entre as mãos até que o con- Descarte consciente
• Coloque alarmes no seu celular ou re- teúdo fique totalmente misturado (ao A edição 02 da DIABETES-
lógio para lembrar sobre o horário das menos 20 vezes); magazine traz um guia so-
aplicações até você se acostumar; • Puxe a dose prescrita de insulina na serin- bre o descarte de medica-
• Lave as mãos; ga, retirando as bolhas de ar da seringa; mentos e acessórios usados
• Se a insulina estiver na geladeira, reti- • Em caso de mistura de insulina, puxe a no tratamento do diabetes.
re-a minutos antes do uso para evitar insulina de ação ação curta, rápida ou Vale a pena conferir!
desconforto na aplicação; ultrarrápida na seringa antes da NPH;
• Leia o rótulo com atenção, identifican- • Proteja a agulha até o momento da
do e diferenciando o tipo de insulina; aplicação.

Durante a aplicação
• Faça a assepsia (limpeza) da pele onde 90º. Em algumas situações, o ângulo
a insulina será aplicada; de 45º pode ser utilizado, mas somente
• Realize o rodízio dos locais de aplica- com indicação profissional. Garanta que
ção, esgotando bem toda a área; a insulina seja administrada no tecido
• Faça a prega subcutânea para aplicação subcutâneo;
da insulina sempre que utilizar agulhas • Administre toda a dose de insulina len-
com comprimento igual ou superior a 6 tamente;
milímetros (mm); • Aguarde alguns segundos para retirar a
• Introduza a agulha em um ângulo de agulha da pele.

Após a aplicação
• Não é recomendado massagear o local • Realize as refeições conforme planeja-
de aplicação; do para evitar hipoglicemia grave.

Orientações gerais
• Registre a data de abertura do frasco ou ringas adequadamente;
da caneta de insulina e observe o pra- • Meça a glicemia regularmente;
zo de validade recomendado pelo fa- • Conheça os sinais e sintomas de hipo-
bricante. A validade do produto depois glicemia, assim como medidas para re-
de aberto é menor do que da embala- verter o quadro e compartilhe as in-
gem lacrada; formações com seus familiares e/ou
• Não reutilize seringas nem agulhas pa- cuidadores;
ra canetas de aplicação; • Realize as refeições conforme planeja-
• Descarte os materiais contaminados e do para evitar hipoglicemia grave.
cortantes, como agulhas, lancetas e se-

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 43


Farmacêutico
Considerado o profissional de saúde mais acessível à população,
ele também pode ser um importante educador em diabetes.

Por Maria Eloisa Malieri | @eloebete


Relações-públicas, advogada especializada em Direito à Saúde,
mentora do projeto social Elo & Bete. Tem diabetes tipo 1 desde 1985
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

P
ense rápido: onde tem uma farmá- moção da saúde e no cuidado de pacien-
cia? Provavelmente você lembrou tes com diabetes, incluindo educação, mo-
de um ou mais estabelecimentos nitoramento de medicamentos, prevenção e
desses perto da sua casa ou do seu educação em saúde”, afirma a farmacêutica
local de trabalho. As drogarias estão espa- Monica Lenzi, que também integra o Dep. de
lhadas por todo o Brasil e nelas trabalham Farmácia. De acordo com ela, o farmacêuti-
70% dos 220 mil farmacêuticos do país. Es- co pode, inclusive, orientar as pessoas com
ses profissionais de saúde são responsáveis diabetes sobre a importância de adotar os 7
pela dispensação dos medicamentos padro- comportamentos de autocuidado:
nizados em conformidade com os protoco- 1. Alimentação equilibrada;
los clínicos e as diretrizes farmacêuticas. 2. Prática de atividade física;
Mas além disso eles podem realizar ações 3. Automonitoramento da glicose no sangue;
de educação em saúde, incluindo orienta- 4. Uso da medicação prescrita pelo médico;
ção a pessoas com diabetes. 5. Adaptação saudável;
O papel desses profissionais é tão impor- 6. Resolução de problemas;
tante que a gestão atual da Sociedade Brasi- 7. Redução de riscos de complicações.
leira de Diabetes (SBD) reativou o Departa-
mento de Farmácia. Segundo o farmacêutico Capacitação em diabetes
e coordenador do departamento, José Va- Monica revela que a SBD, em parceria com
nilton de Almeida, o objetivo é levar infor- a Sociedade Brasileira de Farmácia Clíni-
mação sobre diabetes para dois públicos: os ca (SBFC) e o Conselho Federal de Farmá-
farmacêuticos, que precisam conhecer mais cia (CFF), está elaborando um curso de capa-
sobre esta condição de saúde; e as pessoas citação em diabetes para os farmacêuticos,
com diabetes para que procurem pelo far- que deve ensinar desde princípios básicos
macêutico e, se for o caso, o estimulem a se da condição até condutas práticas.
tornar um especialista no cuidado e na edu- Como educador em diabetes, o farmacêuti-
cação em diabetes. co deve partir do princípio de que a pessoa
Os benefícios do atendimento especializa- que procura sua orientação já tem o diag-
do em diabetes são muitos. Para o pacien- nóstico de diabetes e um médico respon-
te, pode significar maior adesão ao trata- sável. “Portanto, cabe ao farmacêutico es-
mento e melhor qualidade de vida. Para o tabelecer contato com outros profissionais
farmacêutico, um cliente fidelizado e o ple- da equipe para combinar quais são as me-
no exercício da profissão. E para o siste- tas estabelecidas para aquele paciente”, ex-
ma de saúde, menos custos a longo prazo, plica José Vanilton.
já que a pessoa com diabetes bem orienta- Um exemplo sempre útil é que o farmacêutico,
da tem menos complicações de saúde. “Ou mesmo numa simples dispensação de medi-
seja, o farmacêutico é fundamental na pro- camentos, repasse com a pessoa os principais

44 DIABETESmagazine · Edição 04
Conte Com

aspectos de seu tratamento, particularmente co responsável. Entretanto, por ser conhe-


medicamentoso, quando inclui aplicação de cedor das propriedades farmacológicas e
insulina. Esse cuidado é crucial, porque doses do estágio em que as pessoas diagnostica-
extras de insulina podem levar à hipoglicemia das se encontram, o farmacêutico pode su-
(baixo nível de açúcar no sangue) e colocar a gerir ao médico que faça adequação na te-
segurança do paciente em risco. rapia medicamentosa, bem como auxiliar os
Por outro lado, é muito comum o farmacêu- profissionais de saúde na elaboração de es-
tico ser o primeiro profissional de saúde a tratégias que visem aumentar a adesão do
atender a uma pessoa com sintomas de dia- paciente ao tratamento. Qual meu risco de
betes que ainda não passou por uma consul- Embora não possa prescrever remédios, Mo- desenvolver diabetes?
ta médica, seja por falta de vaga ou de espe- nica esclarece que o farmacêutico pode ex- Acesse o questionário
cialista no posto próximo a sua casa. plicar aos pacientes como um medicamento FINDRISC disponível
Nesses casos, o farmacêutico pode aplicar age no controle do diabetes, como interage no site da SBD:
o questionário Finnish Diabetes Risk Score com outros fármacos, quais são seus efei-
(FINDRISC). Com base nas respostas de oito tos colaterais e os riscos do uso inadequa-
perguntas, esta ferramenta online, super fá- do, e pode indicar quais são os Medicamen-
cil de usar, permite saber qual o risco que a tos Isentos de Prescrição (MIPs).
pessoa corre de desenvolver diabetes tipo 2 Ela acrescenta ainda que o farmacêutico e
(DM2) e se é recomendado procurar auxílio nenhum outro profissional podem receitar
médico e fazer o exame de sangue para che- dieta ou plano alimentar, pois esta é uma
car a glicemia. atribuição do nutricionista, mas deve sem-
José Vanilton destaca que o farmacêutico pre incentivar o paciente a se alimentar
possui um papel de agente de prevenção. bem, pois isso contribui para o controle gli-
Sendo assim, se a pessoa apresentar ris- cêmico.
co alto para DM2, é fundamental que o far- Diante de tudo isso é imprescindível a im-
macêutico a oriente sobre a necessidade de portância do farmacêutico como membro da
adotar um estilo de vida saudável para evi- equipe multidisciplinar de saúde que acom-
tar o aparecimento da doença. panha e cuida da pessoa com diabetes. Es-
Ele ressalta que, dentro dos limites éti- peramos que todos reconheçam esse pro-
cos do exercício da profissão, o farmacêuti- fissional como educador em diabetes e que
co não pode mudar a dose nem o tipo de cada vez mais farmacêuticos se capacitem
medicamento sem autorização do médi- no cuidado a esta população.
ARQUIVO PESSOAL

ARQUIVO PESSOAL

Monica Lenzi: “O farmacêutico é fun- José Vanilton: “O farmacêutico não po-


damental na promoção da saúde e no de prescrever medicamentos, mas po-
cuidado de pacientes com diabetes.” de orientar sobre o melhor uso deles.”

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 45


Diabetes e transtornos
alimentares
Entenda os riscos dessa combinação perigosa e conheça os sinais
de alerta da diabulimia, distúrbio específico de quem usa insulina.

Por Claudia Mauricio Pieper | @claudia.pieper.79


Coordenadora do Dep. de Psiquiatria, Psicologia
e Transtornos Alimentares da SBD
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

E
ste é um assunto que precisa ser fa- pratica nenhum comportamento purga-
lado nos consultórios, em casa, na in- tivo. Este transtorno é muito comum em
ternet, na imprensa e em todos os pessoas com diabetes tipo 2, o que difi-
lugares possíveis, pois é muito sé- culta o controle da glicemia.
rio. Anote: transtornos alimentares são al- No diabetes tipo 1 (DM1), a presença de um
terações no comportamento alimentar que distúrbio alimentar é de 2,5 a 3 vezes mais
ocorrem devido a algum distúrbio psicológi- frequente, sobretudo nos pré-adolescen-
co e psiquiátrico. tes e adolescentes, quando comparado com
Pessoas com transtorno alimentar desenvol- uma população da mesma faixa etária sem
vem uma preocupação doentia com a comi- diabetes. E existe um distúrbio alimentar es-
da e uma insatisfação com o próprio peso e pecífico de quem tem diabetes e usa insuli-
imagem corporal. Cerca de 90% desses dis- na: a diabulimia.
túrbios começam com algum tipo de dieta e
muitas vezes são difíceis de serem diagnos- Diabulimia: atenção redobrada
ticados, pois o indivíduo não tem consciên- Diferentemente do que o nome sugere, dia-
cia do que realmente está acontecendo com bulimia não está relacionada a diabetes e
ele e quais são os riscos para a sua saúde. bulimia, mas especificamente a pessoas
Os principais transtornos alimentares são: com DM1 que restringem, pulam ou deixam
• Anorexia nervosa: a pessoa restringe a de tomar suas doses de insulina com o obje-
quantidade de comida que vai consumir tivo de perder peso.
para perder peso; Mas qual a relação da insulina com o peso
• Bulimia nervosa: é quando a pessoa co- corporal? A insulina é um hormônio que aju-
me uma grande quantidade de alimentos da a manter os níveis de glicose no sangue
e em seguida provoca vômitos, usa laxan- estáveis, permitindo que as células do corpo
tes e/ou diuréticos ou faz exercício físico absorvam a glicose dos alimentos ingeridos.
exageradamente, tentando eliminar o que Se a pessoa com DM1 não estiver aplicando
comeu. Esses comportamentos são cha- insulina de forma adequada, haverá aumen-
mados de purgativos; to da glicose no sangue (hiperglicemia). Co-
• Transtorno da compulsão alimentar: mo consequência, o açúcar em excesso no
mesmo se sentindo cheia, a pessoa inge- corpo é eliminado pela urina (glicosúria), le-
re uma grande quantidade de comida em vando à perda de calorias e de peso.
um pequeno intervalo de tempo, mas não Quem tem diabetes precisa de uma alimen-

46 DIABETESmagazine · Edição 04
Tratamento

tação balanceada para ajudar a equilibrar os ternações de emergência e aumentando o


níveis de glicose no sangue, mas muitos não risco de morte.
conseguem basear suas escolhas apenas em A diabulimia também faz a hemoglobina gli-
sinais e desejos convencionais de fome. Es- cada (média das glicemias nos últimos dois
A diabulimia é mais
ses fatores podem causar uma insatisfação a três meses) subir para 9% a 10%, quan-
com o próprio corpo. Com o objetivo de que- do o recomendado é entre 6,5% e 7%. Com
comum nos pré-ado-
rer perder peso de alguma forma, a pessoa o passar de poucos anos, podem aparecer lescentes, adolescen-
acha que manipular a dose de insulina será complicações crônicas precoces, sobretudo tes e adultos jovens.
a solução. O emagrecimento de fato ocorre, as microvasculares, como retinopatia (alte-
porém de forma perigosa. rações na retina e visão), nefropatia (altera-
ção na função dos rins) e neuropatia dia-
Riscos à saúde bética, problemas nos nervos periféricos,
Deixar de aplicar insulina pode causar uma como pernas e pés, e autonômicos, que fun-
descompensação aguda da glicose chamada cionam de maneira involuntária, como os do
de cetoacidose diabética, resultando em in- coração.

ENVATO ELEMENTS

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 47


Tratamento

Sinais de alerta cionista e um psiquiatra.


São alguns dos sinais de alerta de diabuli- As consultas com endocrinologista deverão
mia quando a pessoa: ser em intervalos menores para aumentar a
• apresenta quadros constantes de hiper- adesão ao tratamento e garantir que a moni-
glicemia e/ou hipoglicemias graves; torização da glicemia esteja sendo realizada,
• ganha ou perde peso de forma significa- assim como a aplicação das doses recomen-
tiva; dadas de insulina.
• não consegue manter o controle metabó- Já o acompanhamento nutricional por um Para saber mais sobre os
lico estável e está sempre com níveis al- especialista tem como objetivo evitar que a sensores de glicose, leia a
tos de hemoglobina glicada; pessoa pule refeições ou que tenha episó- matéria de capa da edição
• evita que os pais, familiares ou cuidado- dios de compulsão alimentar. Muitas vezes 03 da DIABETESmagazine.
res observem a autoaplicação de insulina; o uso do sistema de monitorização contínua
• não faz os testes de glicemia na frente de glicose subcutânea (sensores de glicose)
dos familiares; é de grande valia no tratamento.
• adota dietas frequentemente e demons- É importante que o jovem com diabetes ex-
tra preocupação excessiva com o planeja- presse os seus sentimentos e fale das suas
mento das refeições e a composição dos insatisfações e dificuldades para que a equi-
alimentos; pe de saúde possa ajudar. Recomenda-se
• pratica atividades físicas em excesso. também a psicoterapia cognitivo comporta-
Por isso, familiares, profissionais de saúde e mental e individual.
cuidadores de pessoas com DM1, principal- Outro ponto essencial para o sucesso do tra-
mente jovens, devem ficar alertas em rela- tamento é o apoio da família, que também
ção a esses sinais e comportamentos. deve ser orientada com psicoeducação.
O tratamento da diabulimia demanda per-
Tratamento sistência e reuniões periódicas dos profis-
Na pessoa com diabetes, o tratamento do sionais de saúde com o paciente e a famí-
transtorno alimentar é desafiador, principal- lia. É preciso que os jovens entendam que
mente quando se trata da diabulimia, pois deixar de aplicar insulina com o objetivo de
muitas vezes os sinais passam desapercebi- perder peso não é a melhor opção. Portan-
dos ou são confundidos com um quadro de to, se você tem diabetes e está nesta bus-
revolta ou não aceitação do diabetes. ca, converse com o seu médico para que ele
Por esse motivo, é fundamental que o pa- possa te ajudar a alcançar os seus objetivos
ciente com transtorno alimentar seja acom- da melhor forma possível. Peça ajuda para
panhado por uma equipe interdisciplinar sua família ou para alguém que você confie
especializada, formada por pelo menos um e seja o primeiro a defender essa campanha:
endocrinologista, um psicólogo, um nutri- diabulimia não!
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL - MIDJOURNEY

Deixar de aplicar in-


sulina com o objetivo
de perder peso não é
uma boa opção e pode
trazer sérios riscos à
saúde.

48 DIABETESmagazine · Edição 04
Ei, você, levante-se!
Movimentar-se ao longo do dia é tão importante para a saúde quanto ter uma
alimentação equilibrada, não fumar, dormir bem, entre outros cuidados.

Por Dra. Dhiãnah Santini | @dra.dhianah_santini


Mestre e doutora em Endocrinologia pela UFRJ.
Coordenadora do Dep. de Educação e Campanhas da SBD
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

“F
icar sentado é o novo fumar”. Eu li benefícios?
Você já ouviu esta frase? Ela Sim! Para quem tem diabetes, os movimen-
tem sido comentada fre- tos diários ajudam a diminuir a resistência
quentemente entre médicos à insulina e melhoram o controle da glico-
e cientistas, pois várias pesquisas demons- se no sangue. Em relação aos ganhos para a
tram que passar muito tempo sentado au- saúde, não existe muita diferença entre an-
menta os riscos de desenvolver problemas dar 4 km durante 40 minutos direto ou in-
de saúde, como doenças cardiovasculares. tercalar 20 minutos de caminhada 3 vezes
Os estudos também mostram que perma- ao dia. Mas a ideia é que esses 4 km sejam
necer sedentário por longas horas, todos os divididos ao longo do dia para evitar o se-
dias, está associado à hospitalização, mor- dentarismo.
tes por todas as causas, diabetes e câncer Ou seja, mesmo que você faça atividades fí-
em adultos. Ou seja, estamos falando de um sicas durante a semana, como natação, cor-
assassino silencioso que ganhou força com rida ou ciclismo, não está isento de se mexer
o avanço da tecnologia e a pandemia. Hoje, bastante ao longo do dia. Continue fazendo
é bastante comum trabalhar de casa (home os exercícios programados com intensida-
office), ficar muito tempo sentado em fren- de, volume e duração individualizados para
te ao computador ou usando o celular. As- melhorar o condicionamento cardiovascular,
sim, muitas pessoas passam a maior parte aumentar a força, ter mais equilíbrio, entre
do tempo inativas, o que está se tornando outros benefícios.
um sério problema de saúde.
Há alguns anos, a Organização Mundial da Contando os passos
Saúde (OMS) recomendou que uma pessoa Em uma revisão sistemática da literatura
adulta deveria dar pelo menos 10 mil passos médica, o uso de um pedômetro (contador
diários para ser considerada fisicamente ati- de passos) foi associado ao aumento da ati-
va, o que equivale a 8 quilômetros (km). Es- vidade física e a reduções do índice de mas-
sa recomendação ainda prevalece. Uma me- sa corporal (ICM) e da pressão arterial.
ta razoável para começar é andar no mínimo Portanto, essa é uma dica valiosa tanto pa-
5 mil passos diários (4 km). ra os médicos orientarem seus pacientes,
Mas, calma! Você não precisa andar tudo is- como para os pacientes tentarem começar
so de uma vez só! O ideal é se movimen- suas mudanças por aí. No mercado, existem
tar ao longo do dia e não ficar sentado ou vários modelos de smartphone, relógios e
deitado mais do que 30 minutos consecu- pulseiras capazes de contabilizar os passos
tivos (exceto, claro, durante o sono!). O sim- que damos ao longo do dia.
ples fato de ficar em pé, esticar as pernas e
se mexer durante o dia trará grandes benefí-
cios para a saúde.

50 DIABETESmagazine · Edição 04
Em Movimento

ENVATO ELEMENTS
A OMS recomenda 10
mil passos diários.
Mas a meta inicial
pode ser menor. Saiba
mais no texto.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 51


Em Movimento

Mude seus hábitos no escritório, você pode adotar o hábi-


A seguir destacamos alguns exemplos de ati- to de ir à cozinha tomar água e fazer uma
vidades que você pode adotar no seu cotidia- breve caminhada. São alguns minutos que,
no para sair da inércia: além de não atrapalhar sua rotina de tra-
• Trocar o elevador pelas escadas: se vo- balho, ainda vão contribuir para sua saúde.
cê mora ou trabalha em andares altos, co- • Dar uma volta na rua: esta atividade re-
mece subindo dois ou três lances de esca- quer mais tempo do que as outras, mas é
da pelo menos e depois vai aumentando uma ótima opção para sair do sedentaris- A edição 02 da DIABETES-
a quantidade de degraus. É uma troca bas- mo. Você pode escolher os horários do al- magazine tem várias dicas
tante simples no dia a dia, mas que entre- moço, por exemplo, ou então descer do para você começar a fazer
ga muito resultado ao longo do mês. ônibus um ponto antes do seu para andar exercícios físicos com segu-
• Andar pelos cômodos: levantar-se da ca- um pouco mais. Se vai de carro para o tra- rança. Confira.
deira a cada meia hora e dar algumas vol- balho ou para a faculdade, experimente
tas pela casa ou pela empresa durante o estacionar o veículo em um lugar mais dis-
expediente é fundamental para quem tra- tante para te obrigar a andar. Poucos minu-
balha muito tempo na frente do compu- tos de caminhada todos os dias vão somar
tador. O simples fato de se levantar e dar muitos benefícios lá na frente. Acredite!
alguns passos te obriga a utilizar a muscu- • Caminhar ou pedalar: ir a pé ou de bici-
latura das pernas e acelera o coração. cleta para o trabalho ou à escola também
• Varrer a casa: hoje com vários robôs aju- podem ser algumas alternativas interes-
dando nas tarefas domésticas, muitas ve- santes e econômicas. Com um pouqui-
zes deixamos de fazer uma atividade bá- nho de boa vontade, interesse, discipli-
sica que auxilia no movimento do corpo. na e criatividade podemos atingir nossas
Se você não tem problema na coluna, op- metas de movimento, de ficar em pé e se
te por varrer a casa e garanta algumas do- exercitar para ganhar mais saúde e pre-
ses de saúde a mais. venir as doenças! Fica a dica, pois eu vou
• Ir até a cozinha tomar água: em casa ou sempre de bike!
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL - MIDJOURNEY

52 DIABETESmagazine · Edição 04
ON DEMAND

PERDEU O
SITEC 2023?
Não tem problema!

O mais importante simpósio


sobre tecnologias em diabetes do
Brasil já está disponível para você.

• Conteúdo na íntegra
• 03 dias de evento
• Na palma da sua mão - APP SBD Eventos
• No seu desktop - Plataforma SBD Eventos
• Assista onde e quando quiser

Acesse agora pelos QR Codes abaixo


e aproveite o que há de melhor sobre
tecnologias em diabetes!

APP PLATAFORMA
SBD EVENTOS SBD EVENTOS
Três tipos de
alimentos poderosos
Chamados de FVL, eles ajudam a evitar uma série de doenças e são ótimos
para o controle do diabetes. O problema é que muitas pessoas não consomem
a quantidade ideal.

Por Leticia Fuganti Campos | @leticiafuganticampos


Nutricionista e membro do Dep. de Nutrição da SBD
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

S
e existisse um combo de nutrientes cionamento do organismo e ainda afasta
capaz de potencializar a sua saúde diversos problemas de saúde. Conheça al-
contra diversas doenças que levam guns desses nutrientes e seus benefícios:
à morte precoce e que ainda tives-
se o poder de auxiliar no equilíbrio da gli- Fibras
cemia, você consumiria todos os dias? E se São carboidratos não digeríveis, mas meta-
esse combo ainda fosse livre de substân- bolizados no intestino por bactérias bené-
A matéria de capa da edi-
cias que causam intolerância e alergias, vo- ficas e fundamentais para a saúde. Médicos,
ção 01 da DIABETESmagazi-
cê consumiria todos os dias? nutricionistas e pesquisadores têm reco-
ne ensina como montar um
Pois este combo de alimentos existe e o me- nhecido o papel das fibras no controle gli-
prato saudável, saboroso e
lhor: é acessível. Estou falando do trio FVL, cêmico e na redução de complicações crôni-
amigo do controle glicêmi-
iniciais de frutas, verduras e legumes. Ele é cas do diabetes.
co. Confira!
tão poderoso que a Organização Mundial da Comer fibras diariamente evita picos de gli-
Saúde (OMS) recomenda comer pelo menos cose no sangue após as refeições, ou seja, re-
400 gramas por dia no mínimo cinco vezes duz a glicemia pós-prandial, além de fazer o
na semana. Entretanto, menos de 25% dos organismo absorver menos colesterol ruim.
brasileiros atinge esta meta. Outro ponto positivo das fibras é que aju-
O baixo consumo de FVL está associado com dam a regular o tempo de trânsito intesti-
a piora da saúde e o aumento da mortalida- nal, aumentando a saciedade e prevenindo
de. Em 2017, a FAO, organização para a ali- a constipação.
mentação e agricultura, estimou que 3,9 mi- Para quem tem diabetes, recomenda-se o
lhões de mortes em todo o mundo foram consumo diário de no mínimo 25 g de fibras,
atribuídas à falta do hábito de ingerir FVL. distribuídos ao longo do dia, com diferentes
Um número muito alto, você não acha? Des- fontes do nutriente: frutas, verduras, folhas,
tas mortes, 14% foram por câncer no apare- grãos integrais e sementes, por exemplo.
lho digestivo, 11% por doenças do coração e
9% por acidentes vasculares cerebrais (AVC). Compostos bioativos
Comer frutas, verduras e legumes regular- Possuem ação metabólica e fisiológica espe-
mente nas quantidades citadas acima ga- cífica, como redução do colesterol, ação an-
rante nutrientes essenciais para o bom fun- tioxidante, atividade anti-inflamatória, en-

54 DIABETESmagazine · Edição 04
Nutrição

tre outras. Estima-se que há mais de dez mil os polifenóis, os flavonoides, os carotenoi-
compostos bioativos que podem ter origem des e os fitosteróis, encontrados nas frutas,
animal, como o ômega 3, ou vegetal, como verduras e legumes.

KARIM SCHARF

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 55


Micronutrientes te no fortalecimento dos ossos, músculos e
São vitaminas e minerais que o organismo dentes. Alguns estudos apontam que o mag- Outras vitaminas
necessita em pequenas quantidades diárias nésio e o cromo melhoram o controle da gli- A vitamina D e a vitamina
para funcionar bem. As vitaminas, por exem- cemia, embora ainda sem evidência sufi- B12 também estão entre
plo, colaboram para a saúde da pele, do ca- ciente para uso rotineiro como tratamento os micronutrientes impor-
belo, da mucosa e do sistema imunológico, do diabetes. tantes para as pessoas com
enquanto os minerais atuam principalmen- Veja alguns exemplos: diabetes, porém não são
encontradas nas frutas, ver-
duras e legumes. A primeira
é obtida por meio da expo-
Micronutrientes Fontes sição ao sol e do consumo
de alguns alimentos, como
Cenoura, pimentão, abóbora, manga, mamão, tomate, espinafre, ovo, peixes e carnes, que
Vitamina A
agrião, brócolis, batata-doce. também fornecem vitamina
Acerola, laranja, mexerica, limão, caju, goiaba, morango, kiwi e folhas B12.
Vitamina C
verdes em geral.

Vitamina E Folhas verdes e legumes em geral.

Vitamina K Couve-de-bruxelas, brócolis, couve-flor, entre outros.

Ferro Vegetais verde-escuros em geral.

Magnésio Abacate, espinafre, acelga, banana, entre outros.

Frutas, como uva, maçã e laranja, e vegetais, como espinafre,


Cromo
brócolis, alho e tomate.
KARIM SCHARF

56 DIABETESmagazine · Edição 04
Nutrição

Pessoas com diabetes podem uma boa quantidade de nutrientes. Faça isso
tomar suplementos? todos os dias e o seu corpo vai te agradecer.
Considerando a importância dos micronu- Para quem tem uma alimentação pouco co-
trientes, muitas pessoas optam por consu- lorida, as dicas abaixo são simples e ajudam:
mi-los na forma de suplementos, muitas ve-
zes sem orientação profissional adequada. • Inclua legumes no preparo das refeições.
No entanto, as cápsulas de vitaminas e mi- Por exemplo, acrescente ervilha e cenou-
nerais não oferecem os mesmos benefícios ra cortada ou ralada na água durante o co-
que os alimentos in natura. zimento do arroz;
Além disso, as sociedades médicas nacio- • Varie no preparo. Na segunda-feira, faça
nais e internacionais não recomendam a uma couve refogada, na terça-feira, coma
suplementação rotineira de micronutrien- salada crua e assim por diante;
tes em pacientes com diabetes. A indicação • Utilize opções congeladas também para
deve ser feita de maneira individualizada e aumentar a praticidade e adesão no dia
orientada pelo médico e/ou nutricionista. a dia;
• Opte pelas frutas da estação que, além de
O segredo está no prato mais baratas, são mais frescas;
Uma estratégia simples para saber se você • Busque por produtos de pequenos agri-
está consumindo variedade de frutas, legu- cultores e programas do governo como
mes e verduras é observar as cores dos ali- sacolão para deixar sua compra mais aces-
mentos no seu prato. Se houver um arco- sível ao bolso.
-íris nele, parabéns! Você está ingerindo
KARIM SCHARF

As cápsulas de vita-
minas e minerais não
oferecem os mesmos
benefícios que os
alimentos in natura.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 57


Nutrição

FVL e três mitos do diabetes Não. Nenhum alimento sozinho tem o


Quando o assunto é alimentação da pessoa poder de reduzir a glicemia e jamais de-
com diabetes, muitos mitos ainda assustam. ve substituir a medicação ou insulina
Vamos esclarecer alguns deles: prescrita pelo médico. Mas a boa notícia
1) Pessoas com diabetes podem comer é que o consumo de fibras contribui para
beterraba? redução da glicemia pós-prandial (após
Sim e por que não? Alimentos que nas- as refeições).
cem embaixo da terra podem fazer parte
do plano alimentar de todas as pessoas. Conclusão
Ao contrário do que muita gente pensa, A orientações nutricionais devem ser indivi-
o teor de carboidratos da beterraba e da dualizadas. O ideal é consultar um nutricio-
cenoura é baixo. Mas mesmo que fosse nista para que ele possa montar um plano
alto, a regra é consumir com moderação. alimentar que atenda às suas necessidades,
2) Pessoas com diabetes podem comer indicando as quantidades adequadas de
manga e jabuticaba? FVL e dos demais grupos alimentares.
Sim, inclusive manga com leite! Nenhu- As combinações de nutrientes e os horários
ma combinação de alimentos é proibi- para consumi-los dependem de fatores indi-
da para quem tem diabetes, mas avalie viduais, como o controle glicêmico, o estado
se o consumo total de carboidratos está nutricional, as medicações utilizadas, a práti-
dentro do previsto no seu plano alimen- ca de atividade física, a saúde da microbio-
tar. Sempre que possível, associe o con- ta intestinal, se há intolerância ou alergia a
sumo de frutas com fontes de proteína, algum alimento, além das preferências, há-
gordura ou fibras. Salpicar sementes, co- bitos e objetivos de cada paciente. Por isso,
mo chia e linhaça, também é vantajoso conte com um expert em ciência da nutrição!
para a saúde. Comer é uma necessidade básica, mas co-
3) É verdade que algumas frutas, como ja- mer de forma saudável é uma estratégia po-
melão, podem reduzir a glicemia? derosa.
KARIM SCHARF

58 DIABETESmagazine · Edição 04
Tempo no alvo:
já ouviu falar sobre ele?
Além da hemoglobina glicada e de outras medidas, há uma nova forma
de controlar o diabetes com vantagens importantes para o tratamento.

Por Edson Perrotti | @edson.perrotti


Delegado da SBD para Alagoas
FOTO: XXX

O
tratamento do diabetes visa sem- Avançados para o Diabetes (ATTD), um grupo
pre ao bom controle, mas o que de experts em diabetes, entre eles o vice-
isso significa exatamente? A res- -presidente da Sociedade Brasileira de Dia-
posta varia bastante e evolui a ca- betes (SBD), Dr. Mauro Scharf, determinou
A busca pelo maior
da dia conforme o nosso conhecimento e as quais valores e percentuais seriam adota-
tecnologias avançam. dos como padrão na avaliação do TIR. TIR ou TITR possível
Em princípio, o parâmetro de controle do Em dezembro daquele ano, o TIR passou en- minimiza imensamen-
diabetes era baseado nos níveis de glicemia tão a ser mundial e oficialmente utilizado te os riscos de compli-
sanguínea e urinária (glicosúria). Depois, o após a publicação do Consenso Internacio- cações crônicas do
exame de sangue chamado hemoglobina nal sobre o Uso de Monitoramento Contínuo
glicada (Hb1Ac) virou referência por apre- de Glicose. Basicamente isso ocorreu por-
diabetes.
sentar informações acerca dos valores mé- que a hemoglobina glicada fornece apenas
dios de glicemias dos últimos dois meses. a média das glicemias no período de dois
Recentemente, passamos a usar também o meses, mas não tem a capacidade de visua-
tempo no alvo, cuja sigla do inglês é TIR (ti- lizar as flutuações diárias das glicemias, o
me in range). que é possível com a monitorização contí-
O tempo no alvo é uma métrica que serve nua da glicose.
para avaliar se o controle do diabetes es- Assim sendo, essas duas métricas não com-
tá adequado e em quais pontos é necessá- petem entre si, tampouco se excluem, mas
rio agir para melhorá-lo. Uma das vantagens podem complementar-se, uma vez que a he-
desta métrica é que ela demonstra quanto moglobina glicada demonstra o nível médio
tempo a pessoa com diabetes se mantém de glicemias nos últimos meses e o TIR deta-
com a glicemia dentro do desejável e quan- lha quanto tempo a glicemia esteve dentro,
to tempo ficou acima e abaixo desse alvo. acima ou abaixo da faixa-alvo desejada.
O TIR é expresso em percentuais, refletin-
do a quantidade de horas e minutos por dia Como calcular o TIR na prática
dentro ou fora da faixa-alvo. O tempo no alvo é calculado pela medida
das glicemias, preferencialmente através do
Como o TIR foi definido? uso de sensor de glicose, por um período de
Em fevereiro de 2017, durante o Congresso 14 dias. O sensor de glicose gera um relató-
Internacional de Tecnologias e Tratamentos rio denominado AGP (Ambulatory Glucose

60 DIABETESmagazine · Edição 04
Tecnologias

ENVATO ELEMENTS

Profile ou Perfil Glicêmico Ambulatorial). Os 70% do tempo no alvo. Ou seja, a glicemia


parâmetros de glicose são subdivididos em deve ficar entre 70 e 180 mg/dL durante 16
categorias e dentro dessas categorias existem horas e 48 minutos por dia ou mais.
os percentuais definidos como adequados. Confira na tabela abaixo quais são os valores
Em geral, para adultos com diabetes tipo 1 e e percentuais comumente aceitos para dia-
tipo 2, o recomendado é passar no mínimo betes tipo 1 e tipo 2 na maioria dos casos:
Meta
>250 mg/dL <5%
Situação da glicemia Intervalo-alvo Tempo no alvo (TIR) Tempo em horas
>180 mg/dL <25%
Menos de 1 hora e
Muito alta Acima de 250 mg/dL Menos de 5%
12 minutos por dia
Menos de
Alta Entre 180 e 250 mg/dL Menos de 25%
6 horas por dia
Mais de 16 horas e Intervalo-alvo
No alvo Entre 70 e 180 mg/dL 70% ou mais
48 minutos por dia 70-180 mg/dL >70%
Menos de
Baixa Abaixo de 70 mg/dL Menos de 4%
1 hora por dia
Menos de 15
Muito baixa Abaixo de 54 mg/dL Menos de 1% 70 mg/dL <4%
minutos por dia
54 mg/dL <1%

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 61


Tecnologias

No entanto, esses percentuais variam. Por versidade de Liubliana (Eslovênia), e o Dr.


exemplo, gestantes que já tinham diabetes Thomas Danne, diretor do Dep. de Pediatria Diretriz 2023
antes de engravidar podem ter metas dife- Geral, Endocrinologia, Diabetes e Pesquisa Confira no site da SBD as
rentes de uma mulher com diabetes gestacio- Clínica no Hospital Auf der Bult para Crian- metas no tratamento do
nal, que surge durante a gestação. Idosos com ças e Adolescentes, na Alemanha, afirmam diabetes em diferentes si-
tuações.
alguma complicação também podem ter ou- que o risco de complicações causadas pe-
tro tempo no alvo, geralmente menos rígido. lo diabetes pode ser minimizado ainda mais
O objetivo de ficar o maior tempo possível se esses níveis estreitos de glicemias forem
com as glicemias no intervalo-alvo é ter o alcançados.
mínimo de hipoglicemias. Isso é possível Um exemplo dessas tecnologias são os dis-
com diversas formas de tratamento, mesmo positivos para administração automatizada
sem o uso de tecnologias avançadas, como de insulina (AID), popularmente conhecidos
bombas de insulina. como pâncreas artificiais, sejam eles distri-
buídos oficialmente pelos laboratórios ou
Tempo no alvo estreito construídos pelos próprios usuários.
Com o passar dos anos e o desenvolvimen- Concluindo, é importante entender que o
to de novas tecnologias tornou-se cada vez diabetes mal controlado causa as tão te-
mais viável reduzir os valores de glicemia midas complicações crônicas e que a bus-
sem aumentar o risco de hipoglicemias, o ca pelo maior TIR ou TITR possível minimiza
que levou ao surgimento de uma nova ten- imensamente os riscos, embora não os eli-
dência nos alvos glicêmicos, o chamado mine totalmente.
tempo no alvo estreito (time in tight range Assim sendo, é extremamente interessan-
ou TITR). te que a pessoa com diabetes compreenda
O TITR significa manter as glicemias na que buscar manter-se maior tempo possível
maior parte do tempo dentro da faixa de 70 dentro do alvo estreito é fundamental para
a 140 mg/dL. uma vida plena, capaz, feliz e produtiva.
Diversos experts em diabetes, entre eles o A tecnologia só é válida quando associada
Dr. Tadej Battelino, chefe do Dep. de Endo- ao entendimento e ao ato de humanização
crinologia, Diabetes e Metabolismo da Uni- dela. Pense nisso!
SHUTTERSTOCK

62 DIABETESmagazine · Edição 04
CONEXÃO
MÉDICA
A tecnologia em diabetes avança rapidamen-
te e nos últimos 10 a 15 anos passou por uma
transformação significativa, mudando comple-
tamente a rotina das pessoas que convivem
com essa condição.
Para atualizar os médicos, demais profissionais
de saúde e as pessoas com diabetes, a Socie-
dade Brasileira de Diabetes realiza a cada dois
anos um evento dinâmico e necessário que
traz as novidades do universo tecnológico no
tratamento desta condição crônica.

O tema desta edição é:

SITEC
Simpósio Internacional de
Tecnologias em Diabetes.
ENVATO ELEMENTS

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 63


SITEC 2023
A edição atual do Simpósio Internacional de Tecnologias em Diabetes trouxe as
inovações no tratamento da condição, palestrantes internacionais e o prestígio
do público.

Por Paulo Bettio | @paulo_bettio


Publicitário e gerente da DIABETESmagazine
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

A
tualmente, é impossível disso-

ARQUIVO SBD
ciar o tratamento do diabetes do
uso de tecnologias que permitem
uma gestão mais eficaz dos níveis
de glicose, reduzindo o impacto do controle
inadequado no médio e longo prazo.
Essa jornada de inovação no tratamento do
diabetes começou com o desenvolvimento
de dispositivos (hardwares), como glicosí-
metros, os primeiros sistemas de monitori-
zação contínua de glicose (CGM) e as bom-
bas de insulina.
Agora, estamos testemunhando o rápido
avanço dos "softwares" (aplicativos, siste-
mas e plataformas) que aprimoram a efetivi-
dade dos dispositivos e permitem a integra-
ção e interoperabilidade entre dispositivos
de diferentes fabricantes.
Hiperconectividade, predição e insights per-
sonalizados são termos que já fazem parte
do dia a dia de médicos e pessoas com dia-
betes.
A chegada do ChatGPT (confira a entrevista
nas páginas 34 e 35 desta edição) traz um
recurso altamente sofisticado para a aten-
ção e o cuidado do diabetes.
Mas como se manter atualizado com essa
evolução que ocorre de forma cada vez mais
acelerada?
A DIABETESmagazine entrevistou a endocri-
nologista Dra. Denise Franco, presidente do
SITEC 2023, sobre o evento mais importante
em tecnologias em diabetes do Brasil, que Dra. Denise Franco é a primeira
ocorreu na capital paulista, entre os dias 20 mulher a presidir o SITEC em uma
e 22 de abril. década de evento.

64 DIABETESmagazine · Edição 04
Conexão Médica

O que é o SITEC e qual a sua história? Nesta edição, optamos novamente pela ver-
O SITEC é o Simpósio Internacional de Tec- são presencial, o que permitiu uma intera-
nologias em Diabetes, um evento de des- ção maior, porém com apresentações online.
taque no Brasil, organizado pela Sociedade Isso proporcionou a enriquecedora partici- Não há nada melhor
Brasileira de Diabetes (SBD), que reúne pro- pação de colegas internacionais, contribuin- do que aproveitar o
fissionais da saúde, pesquisadores e des- do para a qualidade do evento. Foi idealiza- potencial das tecno-
de 2021 inclui pessoas com diabetes para do o compartilhamento de todo o conteúdo
logias para superar as
discutir as inovações tecnológicas no trata- na Plataforma e no App SBD Eventos, garan-
mento da doença. O evento ocorre a cada tindo uma maior acessibilidade e possibili- barreiras do tratamen-
2 anos e possui uma trajetória de sucesso, tando que um número maior de pessoas ti- to do diabetes.
completando 10 anos em 2023. vesse acesso às informações

Qual o papel e a importância do Quantos palestrantes internacio-


SITEC no ecossistema de eventos nais tivemos na edição 2023 e
sobre diabetes no Brasil? quais foram os temas abordados
O SITEC proporciona um espaço de atuali- por esses convidados?
zação e intercâmbio de conhecimentos so- A programação do SITEC 2023 contou com a
bre as mais recentes tecnologias aplicadas participação de quatro palestrantes interna-
ao cuidado do diabetes. Por meio de pales- cionais. Esses especialistas abordaram uma
tras, simpósios internacionais, discussões e variedade de temas relevantes, como inova-
compartilhamento de experiências, o SITEC ções no monitoramento contínuo de glicose,
contribui para a disseminação de informa- avanços na insulinoterapia, uso de tecnolo-
ções e práticas inovadoras que podem me- gia na gestão do diabetes durante diferen-
lhorar a qualidade de vida das pessoas com tes fases da vida e discussões sobre desa-
diabetes e auxiliar os profissionais no cuida- fios e soluções relacionados ao tratamento
do desses pacientes. do diabetes. A participação desses pales-
trantes internacionais, como a Dra. Chantal
Pela primeira vez o SITEC teve uma Mathieu, presidente da Associação Europeia
mulher como presidente. Qual o para o Estudo da Diabetes (EASD), trouxe
significado disso? uma visão global e abrangente do futuro do
Ter uma mulher como presidente do SITEC tratamento. O Dr. Bruno Grassi, chefe da Es-
pela primeira vez foi mais um marco nesses pecialidade e Subespecialidade em Diabe-
10 anos. Representou a busca pela conquis- tologia e Nutrição Clínica de Adultos e coor-
ta da igualdade de gênero e incentivou a denador do Programa de Diabetes Tipo 1 da
participação e liderança feminina em even- Universidade Católica do Chile (UC), contri-
tos científicos. Além disso, ter uma perspec- buiu com a apresentação da experiência da
tiva diversificada na organização do SITEC, América Latina no uso de sistemas integra-
que já contava com a participação feminina dos de tecnologia. O Dr. Mahmood Kazemi,
anteriormente, possibilitou a ampliação das vice-presidente global de assuntos médi-
discussões e resultou em um aumento signi- cos e científicos da Divisão de Cuidados em
ficativo do número de participantes do se- Diabetes da Abbott, apresentou o futuro da
xo feminino e de profissionais mais jovens monitorização além da glicemia e, por fim, o
atuantes no mundo da tecnologia em com- nosso querido amigo Dr. Ralph Ziegler, pio-
paração às edições anteriores. neiro no uso de bombas de insulina e tecno-
logia digital no tratamento pediátrico e dia-
Em 2021, o SITEC teve uma edição betólogo pediátrico no Hospital da Criança
100% online. Qual foi o formato de St. Franziskus-Hospital, na Alemanha,
adotado pelo SITEC 2023 e quais fo- trouxe dados sobre a nova bomba de insuli-
ram os principais destaques dessa na patch que em breve será lançada no país.
edição?
A edição anterior ocorreu em meio à pande- O que houve de novo na abertura
mia e apresentou um evento completamen- do SITEC 2023?
te diferente em termos de formato, devi- A abertura do SITEC 2023 apresentou, de
do às necessidades impostas pela situação. forma dinâmica e estimulante, um resumo

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 65


Conexão Médica

dos últimos 10 anos e a evolução da tecno- nicas digitais no futuro do tratamento do


logia ao longo desse período. A apresenta- diabetes. Esses tópicos discutiram avanços Perdeu o evento presen-
ção envolveu a plateia e a preparou para o recentes e oportunidades de melhoria no cial?
evento que se seguiria. cuidado do diabetes, especialmente no que Não se preocupe! Todo o
se refere ao uso de tecnologias. conteúdo do SITEC 2023
Quais foram os principais desta- está disponível na Platafor-
ques do segundo dia do evento? Qual é a sua mensagem final pa- ma da SBD Eventos. Leia o
No segundo dia do evento, tivemos discus- ra os leitores da DIABETESmagazi- QR Code abaixo para assis-
sões de destaque sobre tecnologia na esco- ne em relação à tecnologia em dia- tir na íntegra. Você também
la para auxiliar no cuidado com o diabetes, betes? pode baixar o App SBD
manejo da atividade física em pessoas com A tecnologia desempenha um papel cada Eventos na loja de aplicati-
diabetes tipo 1, impacto das novas tecnolo- vez mais relevante no tratamento e convi- vos do seu celular.
gias no tratamento do diabetes, como siste- vência com o diabetes, proporcionando uma
mas avançados de loop fechado e canetas in- gestão mais eficaz da condição e melhor
teligentes, além de uma atualização sobre o qualidade de vida para as pessoas afetadas.
acesso à tecnologia para diabetes ao redor do É essencial que os profissionais de saúde e
mundo. Esses temas abordaram avanços rele- os indivíduos com diabetes se mantenham
vantes e os desafios enfrentados no campo atualizados sobre as inovações tecnológicas
da tecnologia em diabetes. Vale ressaltar que disponíveis e sua aplicação no tratamento. A
o tópico sobre acesso e descartes recebeu tecnologia oferece recursos como monitora-
atenção especial, uma vez que não era am- mento contínuo da glicose, sistemas avan-
plamente abordado em eventos anteriores. çados de administração de insulina, aplica-
tivos e plataformas digitais que facilitam o
E o que foi abordado no terceiro dia? autocuidado e a interação com a equipe de
No terceiro dia do evento, os temas de des- saúde. Não há nada melhor do que explo-
taque foram a evolução da insulinoterapia rar esse mundo e aproveitar o potencial das
e o uso de sensores no reconhecimento e tecnologias para superar as barreiras do tra- Palestrantes, equipe organiza-
na prevenção de hipoglicemia. Tivemos ain- tamento e melhorar a qualidade de vida das dora e participantes do SITEC
da painel sobre as atualizações na monitori- pessoas com diabetes. 2023: troca de conhecimento e
zação contínua de glicose e o papel das clí- experiências.

ARQUIVO SBD

66 DIABETESmagazine · Edição 04

Você também pode gostar