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DIABETES

magazıne
Educação
Vo
para um
futuro melhor
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Número 2

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da So ilei
ciedade Bras
Informação é essencial para a
qualidade de vida da pessoa com
diabetes. O apoio da família e de
profissionais de saúde também

Doce pode
causar diabetes?
O fantástico mundo
das insulinas
Mudanças nos
rótulos dos alimentos
O jeito certo de
medir a glicemia
E muito mais!

Baixe e
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versão digital
da revista

Família Leite unida


no tratamento
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BR-19090 – Material destinado a todos os públicos. Produzido em julho de 2022.


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Disponível também
nas plataformas: Pacientes Profissionais de Saúde

e
DIVULGAÇÃO
Expediente

Publicação oficial da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD)


Volume 02, Número 02, 2022
Gestão 2022-2023
Presidente: Levimar Rocha Araújo

REALIZAÇÃO
Dep. de Educação & Campanhas em Diabetes da SBD Palavra do
Presidente
Coordenador: André Gustavo Daher Vianna
Coordenadora: Dhiãnah Santini

Coordenação Geral: André Gustavo Daher Vianna


Gerente do Projeto: Paulo Bettio Dia Mundial do Diabetes
Administração: Andréa Pereira e Joyce Moura

É
Comercialização: Grow Up
uma alegria imensa reencontrar você nas páginas da
Projeto Editorial: Momento Saúde Editora
segunda edição da nossa DIABETESmagazine, lan-
Editora-chefe: Letícia Martins
çada no mês em que comemoramos o Dia Mun-
Projeto Gráfico: NewHaus Com&Mkt
dial do Diabetes (14 de novembro).
Diretor de Arte: Anderson Domenich
Revisora de Texto: Marilia Salla
Na edição anterior, falamos sobre o panorama do diabe-
Foto da Capa: Karim Scharf
tes no Brasil e no mundo, destacando o número de casos
Distribuição e Divulgação: Bianca Fiori
que infelizmente só cresce. É por isso que este exem-
plar vem recheado de conteúdo para informar, educar
Conselho Editorial:
e sensibilizar.
Bia Scher, Denise Reis Franco, Dhiãnah Santini,
Laerte Damaceno, Luciana Oncken, Maria Eloísa Malieri,
Abraçamos a cor azul, que representa a união dos países
Marlice Marques, Martha Amodio, Tom Bueno.
em torno da prevenção do diabetes, e nomeamos o no-
vembro como mês para intensificar as campanhas. Mas
Colaboradores desta edição:
o cuidado com a nossa saúde não pode ser feito apenas
Dênis Paiva Ferraz, Flavio Pirozzi, Laura Cudizio,
30 dias no ano.
Marcia Camargo de Oliveira e Vanessa Montanari.

O diabetes não escolhe idade, condição social, CEP, cor


DIABETESmagazine® é uma publicação oficial da So-
nem religião. Pode aparecer com ou sem sintomas, en-
ciedade Brasileira de Diabetes (SBD), produzida pela
quanto você estiver assistindo TV, trabalhando ou via-
Momento Saúde Editora, distribuída gratuitamente na
jando com a família. Então, o que podemos fazer? Em
versão impressa aos seus sócios e disponível na inter-
primeiro lugar, tenha bons hábitos de vida. Isso ajudará
net para toda sociedade. É permitido citar e reproduzir
a prevenir o diabetes.
seu conteúdo desde que sejam dados os devidos crédi-
tos ao(s) autor(es) e à DIABETESmagazine.
Em segundo lugar, faça os exames preventivos, pois o
A SBD e a Momento Saúde Editora não se responsabi-
diagnóstico precoce é a arma que temos para evitar que
lizam pelas informações contidas em artigos assinados,
a doença, uma vez instalada, evolua. E por fim, leia a
cabendo aos autores total responsabilidade por elas.
DIABETESmagazine e compartilhe-a com seus familia-
res, amigos e colegas de trabalho.
Fale com a SBD:
(11) 3842-4931
Vamos contar para todo mundo que diabetes tem pre-
administrativo@diabetes.org.br
venção e, quando diagnosticado, tem tratamento.
www.diabetes.org.br
Rua Afonso Braz, 579, Salas 72/74, Vila Nova Conceição,
Boa leitura!
CEP: 04511-011, São Paulo, SP

Dr. Levimar Rocha Araújo | @levimar


Fale com a Editora:
Presidente da SBD
Momento Saúde Digital & Content Editora Ltda.
CNPJ 22.608.898/0001-18
atendimento@momentosaudeeditora.com.br
www.momentosaudeeditora.com.br SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 3
Destaques Editorial

12 Visão SBD

DIVULGAÇÃO
O que é rol taxativo da ANS?

20 Falso ou Verdadeiro
Doce pode causar diabetes?

22 Direitos e Deveres
Leis importantes para quem tem diabetes

24 Tapete Azul
Do nada, a atriz Fran Justus descobriu
o diabetes tipo 1
Prevenção e controle
26 Doce História
Conheça a nutricionista Taline Pinheiros

A
28 Capa segunda edição da DIABETESmagazine che-
Educação em diabetes e o Novembro Azul gou! É muito bom entrar na sua casa com este
conteúdo muito especial produzido pela nossa
36 DM2 equipe de profissionais e pessoas com diabetes.
Quais são os medicamentos orais para tratar
o diabetes tipo 2?
Por falar nisso, nosso time aumentou! Quero dar as
39 DM1 boas-vindas e apresentar a você três novos conselhei-
O fantástico mundo das insulinas ros: as nutricionistas Marlice Marques e Martha Amodio,
que fazem parte respectivamente do Dep. de Nutrição e
42 Prevenção do Dep. de Educação da SBD; e o Dr. Laerte Damaceno,
Como descartar agulhas e seringas
endocrinologista e coordenador do site e das redes so-
para evitar acidentes
ciais da SBD.
44 Conte Com
Especialistas dos pés: podólogo e podiatra Em cada edição, você vai encontrar muito uma dupla
de palavras: prevenção e controle. Em saúde, prevenir
46 Tratamento é sempre o melhor remédio, como diz o ditado popu-
O jeito certo de medir a glicemia capilar
lar. Mas quando o diabetes se instala, existe ainda o lado
50 Em Movimento positivo: é possível controlar, tratar e viver bem. É isso
Os passos iniciais para sair do sedentarismo que a Dra. Dhiãnah Santini explora na matéria de capa.

54 Nutrição Outra máxima importante é: só se controla aquilo que


Como ler o rótulo dos alimentos
se mede. Por isso, nas páginas a seguir, temos uma se-
60 Tecnologias ção que ensina como medir a glicemia corretamente, ou-
Telemedicina veio para ficar tra que explica as diferenças entre os tipos de insulina e
quais são os medicamentos orais. Há, ainda, artigos so-
63 Conexão Médica bre as leis que garantem o acesso ao tratamento do dia-
Projeto Oftalmologista Amigo
betes e um guia sobre como ler os rótulos dos alimentos.
do Jovem com Diabetes

Para inspirar, depoimentos e histórias de pessoas que


Sempre aqui: têm diabetes e superaram diversos desafios, assim co-
05 Vitrine SBD mo você. É um prazer te apresentar esta edição da
DIABETESmagazine, ainda mais prazerosa e educativa!
08 SBD News
10 Sig@ Aproveite a leitura!

15 Rede de Apoio
16 Papo com Especialistas Dr. André Vianna | @dr.andre.vianna
18 Diabetes de A a Z Coordenador geral da DIABETESmagazine

4 DIABETESmagazine · Edição 02
Vitrine SBD

Lançamento da
DIABETESmagazine
Aconteceu em São Paulo, capital, no dia 22 de agosto
o evento de lançamento da nova revista da SBD.

Por Paulo Bettio | @paulo_bettio


Publicitário e gerente da DIABETESmagazine
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

P
ara comemorar a novidade, Dr. Levi-
mar Araújo, presidente da Socieda- Para assistir ao evento de
de Brasileira de Diabetes (SBD), e Dr. lançamento da DIABETES-
André Vianna, coordenador geral da magazine na íntegra, aces-
DIABETESmagazine (DM), receberam mem- se o Canal do YouTube da
bros da diretoria, coordenadores de depar- SBD pelo QR Code abaixo:
tamentos e equipe administrativa da SBD,
além de integrantes do conselho editorial
da DM e representantes de empresas patro-
cinadoras, anunciantes e parceiras da DM.
O Dr. Domingos Malerbi, presidente da SBD,
Gestão 2020-2021, também prestigiou o
lançamento da DIABETESmagazine.
FOTOS: RAFAEL PETROCCO

Na abertura do evento, Dr. Levimar desta-


cou a importância de distribuir gratuitamen-
te um periódico que tem como foco a educa-
ção em diabetes. “É um orgulho para nós, da
Gestão 2022-2023, deixar este legado para
a comunidade do diabetes no Brasil! A DIA-
BETESmagazine foi pensada, criada e escrita
para você, que, assim como eu, convive com
o diabetes no seu dia a dia”.
Dr. André Vianna e
Dr. André fez questão de ressaltar que uma Dr. Levimar Araújo
das premissas para a criação do conselho
editorial da DM era de ter integrantes que
vivem com diabetes: “Convidamos para o
conselho editorial jornalistas, influenciado-
res digitais, médicos e profissionais de saú-
de que têm diabetes e/ou que convivem
com o diabetes para que pudéssemos mo-
dular a linguagem, acertar nas abordagens e
calibrar o nosso conteúdo”.
Após a cerimônia os presentes foram convi-
dados para confraternizar e celebrar a pri- Membros do conselho editorial
meira edição da DM. da DIABETESmagazine

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 5


Por dentro das novidades
Por Dr. Laerte Damaceno | @laerte_damaceno
Endocrinologista e coordenador do site e das redes sociais da SBD
FOTO: RAFAEL PETROCCO

Vacinação SBD na mídia


O presidente da SBD participou, no dia Comemorando O Dia da Gestante em 15/08, Confira o
14/08, de audiência pública na Câmara dos a SBD pautou a imprensa com a campanha release na
Deputados para reivindicar a retomada das Diabetes Gestacional, uma condição que íntegra no site
campanhas de vacinação em todo o país. A acomete 18% das gestações no Brasil. Foram da SBD.
reunião foi conjunta com as comissões de publicadas aproximadamente 350 matérias
Seguridade Social e Família e a de Defesa em sites e jornais de pequeno, médio e gran-
dos Direitos da Pessoa Idosa. Pela manhã, Dr. de porte, somando 4,8 milhões de acessos.
Levimar Araújo concedeu entrevista à Rádio As matérias tiveram a participação da Dra. Pa-
Câmara e enfatizou a necessidade de vaci- trícia Dualib e do Dr. Ayrton Golbert, ambos
nação especialmente para as pessoas com do Departamento de Diabetes na Gestação.
diabetes e obesidade.
ENVATO ELEMENTS

Inauguração
A inauguração da 15ª Regional da SBD do
Espírito Santo aconteceu no dia 25/08. Na
foto abaixo, a diretoria da SBEM/ES prestigia
a diretoria da SBD/ES com o presidente Dr.
Levimar Araújo.

Congresso EASD
DIVULGAÇÃO

O 58º Congresso Anual da Associação Euro-


peia para Estudo do Diabetes (EASD), reali-
zado em Estocolmo, na Suécia, foi encerrado
com a apresentação do Novo Consenso ADA/
EASD para o tratamento da hiperglicemia no
diabetes mellitus tipo 2 (DM2). Trata-se de
um documento contendo orientações para o
tratamento do DM2 com base nas melhores
evidências científicas da atualidade.

Farmácia Popular
O Ministério da Saúde aprovou a inclusão
de cinco novos medicamentos no Programa
Farmácia Popular para tratamento da hiper-
tensão arterial e diabetes. Entre eles está o
dapagliflozina 10 mg, usado no controle do
diabetes mellitus tipo 2. A portaria nº 3.677
foi publicada no dia 30 de setembro no Diá-
rio Oficial da União (DOU).

8 DIABETESmagazine · Edição 02
SBD News

Dados inéditos sobre DM1


T1D Index: ferramenta inovadora mede o impacto do diabetes tipo 1 na saúde pública
e individual.

N
o dia 21 de setembro, a Fundação Confira alguns dados: Veja todos os
de Pesquisa em Diabetes Juvenil • No Brasil 588 mil pessoas vivem com o dados no site
(JDRF na sigla em inglês), em par- DM1 e o número estimado para 2040 é da SBD.
ceria com a Sociedade Brasileira de de 1,8 milhão, um crescimento acelerado
Diabetes (SBD) e outras instituições, divul- comparado ao crescimento populacional;
gou um panorama atualizado sobre o diabe- • O número médio de anos saudáveis per-
tes tipo 1 (DM1) no Brasil e no mundo, cha- didos por pessoa com DM1 (diagnostica-
mado Type 1 Diabetes Index (T1D Index) ou do com idade de 10 anos) é de 33,2 anos;
Índice de Diabetes Tipo 1. • A cada vez que um sensor de monitoriza-
O T1D Index é uma ferramenta de simula- ção contínua da glicose é colocado recu-
ção de dados que mede e mapeia o impac- pera-se 33,9 horas de vida saudável;
to do DM1 na saúde individual e pública em • Uma criança com diagnóstico de DM1 aos
cada país. Ela utiliza informações de mais de 10 anos de idade tem uma expectativa de
400 publicações em todo o mundo e uma vida de 13 anos em país de baixa renda e
pesquisa global com mais de 500 endocri- de 65 anos em um país de alta renda.
nologistas. A Sociedade Brasileira de Diabetes está em-
O resultado deste trabalho impressiona, penhada em contribuir para a implementa-
pois além de preencher uma grande lacu- ção de políticas públicas que viabilizem o
na de dados relativos à incidência do DM1, acesso ao atendimento estruturado e a in-
revela o impacto individual por “perdas de sulinas e tecnologias necessárias ao contro-
pessoas” e “anos de vida saudáveis perdi- le do DM1, a fim de reduzir complicações e
dos”, decorrentes do DM1. melhorar a qualidade de vida das pessoas.
DIVULGAÇÃO

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 9


Sig@

10 perfis educativos
e inspiradores
Por Bia Scher | @biabetica
Empreendedora e diabetes influencer
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

F
iz uma seleção de perfis no Insta- inspirando pessoas com a condição a busca-
gram de profissionais ou estudantes rem o conhecimento em suas rotinas. Des- Siga também os perfis dos
da área da saúde que ensinam sobre ta forma, o autocuidado se torna cada vez colaboradores desta edi-
diabetes de forma leve e simplificada, mais natural. ção, pois todos geram con-
teúdos muito legais.
Ah, e claro, já deixa o seu li-
ke nas redes sociais da SBD:
@diabetestiponadaeimpossivel @educacaoemdiabetes
Dra. Talita Trevisan, Dra. Janice Supúlveda, @diabetessbd
endocrinologista endocrinologista
@SBD.Diabetes

@diabetes_sbd
@pancreasartificial @noellydantas
Maria Eduarda Dantas, Noelly Dantas, @SociedadeBrasilei-
estudante de medicina nutricionista radeDiabetes

@guriadainsulina @amigosediabetes
Marina Cavallin, Wilian Belisário,
estudante de nutrição estudante de nutrição

@educabetex @maepancreas
Lucas Xavier, Christine Rolke,
estudante de enfermagem educadora em diabetes

@jonathannicolas_jn @personaliohannapita
Jonathan Nicolas, Iohanna Pita,
personal trainer personal trainer

10 DIABETESmagazine · Edição 02
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Canais de apoio da AstraZeneca: Programa de cuidado e apoio ao paciente:

BR-20648 - Material destinado a profissionais de saúde. Produzido em setembro de 2022.


Rol taxativo da ANS:
você sabe o que é?
Nas redes sociais, pessoas com diabetes comentaram o assunto,
as instituições médicas e associações se mobilizaram e o Senado
realizou audiência para debater o tema.

Por Maria Eloisa Malieri | @eloebete


Relações-públicas, advogada especializada em Direito à saúde,
mentora do projeto social Elo & Bete. Tem diabetes tipo 1 desde 1985
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

N
os últimos meses, a questão sobre obstetrícia, referência ou odontológico”, ex-
o rol da Agência Nacional de Saú- plica Débora.
de Suplementar (ANS) ser exempli- Débora salienta: “Embora a Lei nº 9656/98
ficativo ou taxativo foi amplamente dos Planos de Saúde defina os procedimen-
abordado na imprensa, na internet e entre tos e métodos de atualização dessa lista, não
as pessoas com alguma condição crônica de deixa clara a sua natureza. Como não houve
saúde. definição pela lei determinando a natureza
Para entender o assunto, conversei com duas desta lista, atribuiu-se ao Poder Judiciário,
referências em saúde: a doutora em endo- nos casos submetidos à sua apreciação, de-
crinologia Karla Melo, coordenadora do Dep. cidir se o rol é taxativo ou exemplificativo”.
de Saúde Pública da Sociedade Brasileira de Vamos analisar o que cada um deles repre-
Diabetes (SBD), e a advogada Débora Aligie- senta, segundo as explicações de Débora:
ri, coordenadora de Advocacy da SBD. • Rol taxativo: é aquele que prevê todas
Antes de entrarmos no detalhe sobre o rol, as consultas, exames e tratamentos que o
vale a pena esclarecer que a ANS é o órgão plano deve cobrir, e nada além dessa lista
responsável pela regulação, normatização, deve ser coberto pelo plano de saúde, ou
controle e fiscalização das operadoras de seja, o rol deve ser considerado como um
saúde. A finalidade da agência é promover teto (o máximo) de cobertura de procedi-
a defesa do interesse público no que se re- mentos e eventos em saúde.
fere aos planos de saúde, contribuindo pa- • Rol exemplificativo: como o próprio no-
ra o desenvolvimento das ações de saúde me diz, traz uma lista de exemplos de con-
no país. sultas, exames e tratamentos, e ainda ou-
tros não incluídos expressamente, ou seja,
Mas afinal, o que significa ROL? trata-se de um piso (o mínimo) que os pla-
“Tecnicamente, ele é denominado como Rol nos de saúde devem oferecer aos seus as-
de Procedimentos e Eventos em Saúde, con- sociados.
forme definição da própria ANS, consistindo “Historicamente, o Superior Tribunal de Jus-
numa lista de consultas, exames e tratamen- tiça (STJ) vinha considerando o rol da ANS
tos que os planos de saúde são obrigados como uma lista exemplificativa, mas recen-
a oferecer, conforme cada tipo de plano de temente mudou esse entendimento, provo-
saúde – ambulatorial, hospitalar com ou sem cando a negativa de cobertura de consultas,

12 DIABETESmagazine · Edição 02
Visão SBD

exames e tratamentos não previstos na lis- Dra. Karla Melo e Dra. Solange Travassos, vi-
ta atualmente vigente, previstos na Resolu- ce-presidente da SBD. A reação imediata e
ção Normativa nº 465 de 24 de fevereiro de incisiva de diversos senadores somou força
2021 e seus anexos", esclareceu Débora. à essa mobilização e resultou no Projeto de
Esta discussão sobre a natureza do rol da Lei 2.033/2022 para derrubar a taxativida-
ANS foi reavivada em setembro de 2021 de do rol da ANS, aprovado pelo Senado no
pela 2ª Seção do STJ, através do julgamento final de agosto.
de dois recursos justamente para definir se Felizmente, em 21 de setembro, o Presi-
a lista de procedimentos de cobertura obri- dente da República sancionou a Lei nº
gatória para os planos de saúde, instituí- 14.454/2022, que possibilita aos planos
da pela ANS, era exemplificativa ou taxati- de saúde cobrir tratamentos que estão fora
va. Houve divergência entre as duas turmas da lista (rol), tornando-a meramente exem-
que compunham a seção, sendo o mesmo plificativa.
suspenso após pedido de vista da ministra
Nancy Andrighi.
O julgamento finalmente aconteceu no co-

ARQUIVO PESSOAL
meço de junho deste ano e os votos dos mi-
nistros Luis Felipe Salomão (relator), Villas
Boas Cueva, Raul Araújo, Marco Buzzi, Mar-
co Aurelio Bellizze e Isabel Gallotti decidi-
ram majoritariamente pela taxatividade do
rol, enquanto os votos dos ministros Nancy
Andrighi, Paulo de Tarso Sanseverino e Mou-
ra Ribeiro foram minoria em defesa da sua
natureza exemplificativa.
A decisão causou uma grande mobilização
da sociedade através de associações de pa-
Coordenadora de Advocacy da
cientes, usuários de plano de saúde e a par- SBD, Débora Aligieri explica as
ticipação ativa da SBD, representada pelas diferenças entre rol taxativo e
endocrinologistas que têm diabetes tipo 1, exemplificativo.
SHUTTERSTOCK

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 13


Visão SBD

O que essa lei reverbera no nosso logias no Sistema Único de Saúde (Co-
mundo “doce” do diabetes? nitec), ou exista recomendação de, no
Para elucidar esta pergunta contamos com mínimo, um órgão de avaliação de tec-
a ajuda da Dra. Karla Melo, que destacou al- nologias em saúde que tenha renome
guns trechos de artigos que integram a lei: internacional e seja aprovada no País.”
“A cobertura deverá ser autorizada pe- Segundo Dra. Karla, a possibilidade de dis-
la operadora de planos de assistência à ponibilização de tratamento pelas opera-
saúde, desde que: doras de saúde refere-se, no mínimo, aos
I – exista comprovação da eficácia à luz medicamentos e insumos incluídos no Pro-
das ciências da saúde, baseada em evi- tocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas do
dências científicas e plano terapêutico.” Diabetes Mellitus Tipo 1 e Tipo 2 (DM1 e
De acordo com a coordenadora do Dep. de DM2) do Ministério da Saúde. Portanto, po-
Saúde Pública da SBD, com a recente lei, dem ser citados sulfonilureias, como a gli-
mantém-se a possibilidade (embora não clazida e glibenclamida, metformina, dapa-
seja uma obrigatoriedade) de as operado- glifozina, insulinas humanas e análogos de
ras de saúde disponibilizarem tratamentos insulina de ação rápida e prolongada, auto-
e procedimentos para pessoas com diabe- monitorização da glicemia capilar e os insu-
tes, desde que todos os medicamentos, dis- mos para administração de insulina.
positivos e insumos estejam aprovados pe- Dra. Karla afirma que a expectativa trazi-
la Agência Nacional de Vigilância Sanitária da pelo Projeto de Lei se tornou realidade
(Anvisa) para comercialização no mercado com a sua promulgação, tornando-se lei, o
brasileiro, atestando a eficácia e segurança. que permitirá “uma melhora do controle gli-
A necessidade de plano terapêutico pode cêmico de brasileiros com diabetes mellitus
estar associada ao atingimento de metas de usuários de operadoras de saúde, que po-
tratamento, analisado por avaliações perió- derão se beneficiar da evolução terapêuti-
dicas, da hemoglobina glicada, do tempo de ca necessária, reduzindo o risco de eventos
glicose no alvo, das médias glicêmicas e da adversos e melhorando a adesão ao trata-
frequência de hipoglicemias. Ainda: mento, o controle glicêmico e a qualidade
“II – existam recomendações pela Comis- de vida!”
são Nacional de Incorporação de Tecno-
GERALDO MAGELA/AGÊNCIA SENADO

Dra. Karla Melo, coordenadora


do Dep. de Saúde Pública da SBD,
durante sessão no Senado em
agosto sobre rol da ANS.

14 DIABETESmagazine · Edição 02
Rede de Apoio

Nascidos de um sonho
Associações e institutos ajudam a transformar o futuro de quem tem diabetes.

Por Letícia Martins | @leticiamartinsjornalista


Jornalista e editora-chefe da DIABETESmagazine
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

Q
uando alguma criança é diagnosti- ICD-RS
cada com diabetes, nasce uma fa- Em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Contatos:
mília-pâncreas, isto é, pais, mães Sul, fica o Instituto da Criança com Diabe-
e irmãos que vão ajudar no tra- tes, que assiste gratuitamente quase 4.500 ADIFI
tamento, mudar hábitos juntos e aprender crianças, adolescentes e adultos jovens com
novos conceitos. É natural e saudável que diabetes por meio do Sistema Único de Saú- @institutoadifi
essas famílias encontrem outras para tro- de (SUS). Fundado em 1998, o ICD-RS con-
car experiências e se apoiarem. Assim, mui- ta com uma equipe interdisciplinar de saúde @adifioficial
tas vezes, nascem as associações de apoio a que atende pelo Hospital Dia, Ambulatório
pessoas com diabetes e institutos voltados de Novas Tecnologias e pela HOTLINE, uma (45) 99909-5864
para pesquisas. Conheça três deles. linha telefônica para tirar dúvidas de pes-
soas com diabetes, seus familiares e cuida- ICD-RS
ADIFI dores. Uma das atividades mais aguardada
Fundada em outubro 2001 com o apoio de do ano é a Corrida Para Vencer o Diabetes. www.icdrs.org.br
voluntários e iniciativa de funcionários com
diabetes da Itaipu Binacional da época, a As- @icdrs
sociação dos Diabéticos de Foz do Iguaçu
ampliou suas atividades e em abril de 2022 IDB
tornou-se Instituto dos Diabéticos de Foz do
Iguaçu.
Agora, além dos projetos que já realizava, @institutodiabetesbrasil
o Instituto ADIFI irá desenvolver pesquisas
avançadas em diabetes e práticas integrativas, FOTOS: DIVULGAÇÃO
a fim de subsidiar políticas públicas e promo-
ver acesso aos tratamentos mais eficazes para IDB
toda a comunidade com diabetes. Atualmente, A data oficial de fundação do Instituto de
conta com 2 mil pessoas com diabetes cadas- Diabetes de Brasília é fevereiro de 2021,
tradas, que são encaminhadas pelas Unidades mas as ações começaram mesmo em 2016,
Básicas de Saúde da Secretaria Municipal de quando algumas famílias-pâncreas se uni-
Foz do Iguaçu, por médicos ou que procuram ram para realizar piqueniques, campeonatos
espontaneamente o Instituto. de videogame para adolescentes, palestras,
além de comemorar o dia das mães e outras
datas especiais.
Apesar de ter instituto no nome, é uma as-
sociação que luta pelos direitos das pes-
soas com diabetes e realiza diversas ativida-
des junto à comunidade, como campanhas
de prevenção e diagnóstico precoce do dia-
betes, doações de insumos e alimentos.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 15


Tire suas dúvidas
Selecionamos as perguntas que surgem frequentemente nas caixinhas do nosso
Instagram e convidamos alguns profissionais da Sociedade Brasileira de Diabetes
(SBD) para responder. Acompanhe!

Por Bia Scher | @biabetica


Empreendedora e Diabetes Influencer.
Tem diabetes tipo 1 desde 2000
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

Qual a relação entre diabetes Como ajustar a dose de insuli-


e candidíase? na basal em uma viagem com
fuso horário?
Cândida sp são fungos que fazem par-
te da flora normal do trato gastrintes- Em viagens que envolvam mudança de
tinal e geniturinário do ser humano. fuso horário, o ideal é sempre adaptar
Em situações normais, esses fungos o horário da aplicação ao novo fuso.
não causam infecção. Entretanto, al- Isso pode ser feito sem grandes pro-
terações na imunidade da pessoa po- blemas com as chamadas insulinas ul-
dem proporcionar uma infecção por tralongas (glargina U300 e deglude-
esses fungos, chamada candidíase. ca), em função do tempo de ação mais
Os locais mais comuns de infecção são prolongado, que garante maior flexibi-
a mucosa da boca e da região genital. lidade no horário da aplicação.
Pessoas com o diabetes descompen- No caso da insulina humana NPH em
sado, ou seja, com elevação na glice- particular, alguma dose suplementar
mia, estão mais propensas à infecção de insulina rápida ou ultrarrápida po-
pela Cândida. Esse quadro ocorre por- de ser necessária para evitar altera-
que a hiperglicemia leva a um enfra- ções glicêmicas. E claro: especialmen-
quecimento do sistema imunológico, te nas primeiras 24h da mudança de
facilitando as infecções oportunistas. fuso horário, a monitorização glicêmi-
Além disso, a perda de glicose pela ca deve ser mais frequente, para que
urina durante as hiperglicemias torna intervenções oportunas possam ser
a região genital um local propício para realizadas caso ocorram alterações da
o crescimento desses fungos. glicemia.
Dra. Patrícia Fulgêncio, membro do Dr. Wellington Santana, membro do
Dep. de Diabetes Tipo 1 no Adulto Dep. de Diabetes Tipo 1 no Adulto

16 DIABETESmagazine · Edição 02
Papo com Especialistas

O que é o tempo no alvo?


É verdade que as metas glicêmicas mudam entre a infância e a Durante o Congresso Internacio-
terceira idade? nal de Tecnologias Avançadas
para Tratar o Diabetes (ATTD, em
Sim. Existem diversas metas de tratamen- últimos anos o tempo no alvo vem ga- inglês), realizado em 2019, na
to, entre elas a hemoglobina glicada, a gli- nhando cada vez mais importância na- Alemanha, os especialistas dis-
cemia de jejum, a glicemia pós-prandial quelas pessoas que utilizam monitoriza- cutiram amplamente o Tempo
(depois das refeições), o tempo no alvo ção contínua. Confira na tabela as metas no Alvo e chegaram a um novo
e o tempo em hipoglicemia. A mais utili- recomendadas pelas sociedades médicas conceito que visa avaliar o con-
zada é a hemoglobina glicada, média da e converse com seu médico sobre o tra- trole do diabetes. O recomenda-
glicemia dos três últimos meses, mas nos tamento. do é a pessoa com diabetes ficar
acima de 70% do tempo dentro
da faixa alvo (meta glicêmica).
Idosos com Com isso, o risco de desenvol-
Metas Adultos Crianças Idosos algum compro- ver doenças cardiovasculares,
metimento retinopatia, doença renal, entre
outras complicações, diminui.
Para entender mais este assunto,
Hemoglobina Abaixo Abaixo Abaixo Abaixo
Glicada de 7% de 7% de 7,5% de 8,5% ouça o episódio 46 do #Podcast
da SBD feito pelo Dr. Fernando Va-
lente e o influenciador Fred Prado,
do perfil @vidadediabetico.
Glicemia 70 a 80 a 90 a 90 a
de Jejum 130 mg/dL 130 mg/dL 150 mg/dL 150 mg/dL

Meta 70 a 70 a 70 a 70 a
Glicêmica 180 mg/dL 180 mg/dL 180 mg/dL 180 mg/dL

Abaixo de Abaixo de Abaixo de Abaixo de


Pós-prandial
180 mg/dL 180 mg/dL 180 mg/dL 180 mg/dL

Tempo Acima Acima Acima Acima


no Alvo de 70% de 70% de 70% de 50%

No máximo No máximo No máximo No máximo


4% de glice- 4% de glice- 4% de glice- 1% de glice-
Hipoglicemias
mias abaixo mias abaixo mias abaixo mias abaixo
de 70 mg/dL de 70 mg/dL de 70 mg/dL de 70 mg/dL

Dr. Luis Eduardo Calliari, 1º secretário da SBD

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 17


Dicionário do diabetes
Por Letícia Martins | @leticiamartinsjornalista
Jornalista e editora-chefe da DIABETESmagazine
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

N B
a primeira edição da DIABETESma- anting
gazine, a querida Elô Malieri expli- O médico canadense Frederick
cou cinco termos muito comuns na Banting descobriu a insulina duran-
rotina de quem tem diabetes: Acei- te pesquisas no laboratório da Uni-
tação, Diabetes, Hiperglicemia, Retinopatia versidade de Toronto, no Canadá. Pelo feito,
Diabética e Sensor de Glicose. que salvou e salva a vida de milhões de pes-
Nossa missão hoje é aprender um pouco soas no mundo inteiro, ele recebeu o Prêmio
mais sobre as palavras e expressões abaixo e Nobel de Medicina em 1923. Banting e seu
conhecer algumas curiosidades do tratamen- assistente Charles Best extraíram o hormô-
to. Isso também é educação em diabetes! nio do pâncreas de cachorros. Mas hoje não
se usa mais insulina de origem animal. Na
seção DM1, nas páginas 39 a 41, você pode
saber mais sobre as insulinas humanas (NPH
e Regular) e o análogos de insulina, que po-

P
dem ter início de ação rápida e ultrarrápida.
âncreas
Localizado no abdômen, atrás do es-
tômago, o pâncreas é uma glândula Em 2021, escrevi um livro
que mede de 15 a 25 cm, mais ou comemorativo sobre os
menos um palmo, mas tem uma importân- 100 Anos de Insulina, con-
cia enorme. Nele, são produzidos hormônios tando um pouco da histó-
importantes como a insulina, que reduz a ta- ria de Banting e de várias
xa de glicose no sangue, e o glucagon, que pessoas contemporâneas
faz exatamente o contrário, além da soma- que se beneficiam dessa
tostatina e amilina. Por isso, é errado dizer incrível descoberta.
que o pâncreas de quem tem diabetes tipo
1 não funciona, pois ele continua exercendo
outras funções mesmo tendo parado de fa-
bricar a insulina. Ainda bem que ela acabou
sendo descoberta em 1921 por Banting.

18 DIABETESmagazine · Edição 02
Diabetes de A a Z

U C
ltrarrápida etoacidose diabética
O análogo de insulina de ação ul- Complicação aguda do diabetes
trarrápida começa a fazer efeito no que ocorre devido à ausência de in-
organismo de 2 a 5 minutos após a sulina, que provoca o aumento da
aplicação. Por isso, é ótimo para corrigir hi- quantidade de cetonas no sangue. Ceto-
perglicemia. Também pode ser injetado an- nas? Substâncias ácidas que desequilibram
tes das refeições para evitar o aumento da o pH do sangue. A hiperglicemia não é a úni-
glicose. ca causa. Infecções (urinária, pulmonar e gri-
pe), infarto do miocárdio, desidratação agu-
da e algumas drogas também podem levar
à cetoacidose. Os principais sintomas são
náuseas, vômitos, dor abdominal, fraqueza,
hálito com cheiro de acetona e respiração

G
rápida. “Trata-se de uma emergência médica
licose e o pronto-socorro deve ser procurado ime-
Você sempre ouve falar dela, mas diatamente. Avise o médico responsável pe-
ainda não tem certeza o que sig- lo seu tratamento”, alerta Dr. André Vianna,
nifica? Glicose é uma das formas coordenador do Dep. de Educação e Campa-
mais simples de açúcar e principal fonte de nhas em Diabetes da SBD. Com diabetes, de-
energia para o organismo. Na matéria Nutri- vemos redobrar o autocuidado. Informação
ção (páginas 54 a 58), as nutricionistas ensi- salva!
nam que glucose e dextrose são sinônimos
e estão presentes em diversos alimentos. A No episódio #49 do Pod-
presença de glicose na urina recebe o nome cast da SBD, o Dr. Emerson
de glicosúria. Já a quantidade de glicose no Cestari Marino, coordena-
sangue é chamada de glicemia. Logo, exces- dor do Dep. de Complica-
so de glicose no sangue ou glicemia alta é o ções Agudas e Hospitalares,
mesmo que hiperglicemia. Esta, por sua vez, explica que a cetoacidose
se não for tratada corretamente, pode levar pode acontecer também
à cetoacidose diabética. quando a glicemia está
normal.

Até a próxima!
Na edição nº 03 da DIABETESmagazine, va-
mos trazer outras palavras ou expressões pa-
ra você aumentar seu vocabulário. Aos pou-
cos, completaremos o alfabeto brasileiro.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 19


Falso ou Verdadeiro?

Doce pode causar diabetes?


Por Tom Bueno | @umdiabetico
Jornalista e criador do canal Um Diabético na
Internet. Tem diabetes tipo 1 desde 2006
FOTO: JOÃO P. TELES

VERDADEIRO

Q
uando se fala em diabetes, a de peso. Somado ao sedentarismo e outros
maioria das pessoas pensa no do- fatores, é possível desenvolver o diabetes
ce como a causa do diagnóstico. tipo 2”.
Foi exatamente isso que aconte- No caso do diabetes tipo 1, trata-se de uma
ceu com o motorista de aplicativo Juarez Al- doença autoimune e o diagnóstico não está FALSO
buquerque, 49 anos. Ao receber a notícia relacionado com a alimentação e estilo de
que estava com diabetes tipo 2, em 2015, vida.
ele se sentiu culpado: “a única coisa que me
veio na cabeça é que eu tinha comido mui- Para assistir
to doce e por isso estava com a glicose al- No meu canal no YouTube,
ta”. Mas será que apenas o consumo de do- esclareci outra dúvida co-
ce pode causar diabetes? mum que surge principal-
Para responder a essa pergunta, precisamos mente durante as festas:
entender o que de fato é o diabetes. Uma con- quem tem diabetes pode
dição de saúde que afeta a produção de insu- comer doce? Espero que
lina no nosso corpo, seja ela parcial no caso goste das dicas!
do diabetes tipo 2 ou total no caso do diabe-
tes tipo 1, além da incapacidade de o orga-
ENVATO ELEMENTS

nismo usar esse hormônio de forma correta.


A insulina produzida pelo pâncreas tem a
função de controlar a quantidade de açú-
car no sangue, captando essa substância e
facilitando a sua entrada na célula. A nutri-
cionista do Departamento de Nutrição da
SBD Tarcila Beatriz Ferraz de Campos expli-
ca que, quando uma pessoa tem diabetes,
os níveis de açúcares no sangue tornam-
-se elevados (hiperglicemia), pois a insuli-
na não está atuando de maneira adequada.
Ainda segundo a educadora em diabetes, o
que existe é uma relação entre estilo de vi-
da e diabetes:
Portanto, não é correto afirmar que ape-
nas o consumo de doce pode fazer a pes-
soa desenvolver diabetes. Tarcila destaca
que o diabetes tipo 2 ocorre em resposta a
vários fatores: “Uma alimentação com pouca
qualidade nutricional, rica em alimentos in-
dustrializados que possuem alta quantidade
de gorduras e açúcares pode levar ao ganho

20 DIABETESmagazine · Edição 02
milhoes de pessoas vivendo
com diabetes com o CGM

112@

E provado que uso do sistema


FreeStyle Libre resulta em
melhores resultados
Leis a nosso favor
Conhecer nossos direitos é o primeiro passo para diminuir
as barreiras enfrentadas no acesso pleno à saúde.

Por Maria Eloisa Malieri | @eloebete


Relações-públicas, advogada especializada em Direito à saúde,
mentora do projeto social Elo & Bete. Tem diabetes tipo 1 desde 1985
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

N
o dia 14 de novembro temos uma Esta lei determina que as pessoas com dia-
celebração importante: o Dia Mun- betes recebam do Sistema Único de Saúde Acesse a íntegra da Lei
dial do Diabetes, criado pela Fe- (SUS), de forma gratuita, os medicamentos nº 11.347/2006:
deração Internacional do Diabetes e materiais necessários para o tratamento
(IDF) e pela Organização Mundial de Saúde e monitoramento da glicemia capilar (pon-
(OMS) em 1991, tornando-se uma data ofi- ta de dedo). Como previsto na nossa Consti-
cial pela Organização das Nações Unidas tuição Federal, artigo 196: “A saúde é direito
(ONU) em 2006. de todos e dever do Estado, garantido me-
Dados da IDF mostram que o Brasil é o 6º diante políticas sociais e econômicas que
país em incidência de diabetes no mundo visem à redução do risco de doença e de
e o primeiro na América Latina. São mais de outros agravos e ao acesso universal e igua-
16 milhões de pessoas com esta condição litário às ações e serviços para sua promo-
e a estimativa é que, até 2045, ela alcance ção, proteção e recuperação.”
23,2 milhões de brasileiros. Para recebimento do medicamento pelo SUS
Mas este desafio não é só nosso. A previsão é preciso que a pessoa com diabetes esteja
é que o número de adultos com diabetes no inscrita no Programa de Educação para Dia-
planeta aumente de 537 milhões para 643 béticos, com a finalidade de desenvolver a
milhões em 2030, chegando a 784 milhões autonomia para o autocuidado, controlar a
em 2045. doença e promover qualidade de vida. É ne-
Por isso é fundamental conhecermos, além cessário haver acompanhamento clínico e
das formas de prevenção e tratamento, as seguimento terapêutico, com os devidos re-
leis que estabelecem os direitos de quem gistros em prontuário.
convive com diabetes. Com o acesso ao tra- Porém, nesta mesma lei, o Ministério da Saú-
tamento adequado, é possível prevenir com- de seleciona uma lista de medicamentos e
plicações e ter mais qualidade de vida. materiais para fornecimento gratuito, resul-
A seguir, destaco duas leis brasileiras que tando numa relação predeterminada dos
refletem o esforço no combate e prevenção itens a serem fornecidos ao paciente.
ao diabetes no Brasil: Desta forma, municípios ou estados, por ini-
ciativa própria, podem ampliar tal listagem,
Lei nº 11.347, de 27 de setembro de fornecendo insumos além daqueles estabe-
2006 lecidos pelo Ministério da Saúde, tudo gra-
Dispõe sobre a distribuição gratuita de me- ças às normas regionais e programas esta-
dicamentos e materiais necessários à aplica- duais de dispensação de medicamentos.
ção e à monitoração da glicemia capilar às Mas existem casos que não respondem aos
pessoas com diabetes inscritas em progra- tratamentos disponibilizados, necessitan-
mas de educação. do de drogas ou insumos diferenciados.

22 DIABETESmagazine · Edição 02
Direitos e Deveres

Neste cenário há garantia legal prevista Lei, as pessoas com diabetes passam a ter
na Constituição Federal de acesso ao trata- direito a cirurgias, como a bariátrica, e remé- Acesse a íntegra da Lei
mento necessário, com base no que estabe- dios para o tratamento, como a insulina, gra- nº 13.895/2019:
lece o já mencionado artigo 196, abrangen- tuitamente.
do as excepcionalidades, em consonância Relativamente à legislação como um todo
com o Protocolo Clínico de Diretrizes Tera- é importante salientar que existem diferen-
pêuticas (PCDTs). ças num Brasil de inúmeros “Brasis”, ou se-
ja, não há uniformidade de fornecimento de
Lei nº 13.895, de 30 de outubro de insumos pelo país e muito menos conheci-
2019 mento do que é devido como tratamento e
Institui a Política Nacional de Prevenção do insumos a quem convive com a condição.
Diabetes e de Assistência Integral à Pessoa O conhecimento dos direitos pelas pessoas
Diabética. com diabetes é essencial para o desenvol-
Esta lei representa um grande avanço, pois vimento de uma consciência democrática,
prevê a realização de campanhas de divul- responsável e reflexiva do cidadão. Portan-
gação e conscientização acerca da doença e to, conhecer os direitos é o primeiro passo
as normas sobre o tratamento pelo SUS, do para diminuir as barreiras enfrentadas para
diabetes e suas complicações, além de des- o acesso pleno aos seus direitos de cidadão.
tacar a importância e necessidade de medir A existência de leis não configura a sua pra-
e controlar regularmente os níveis de açú- ticidade e execução no âmbito da saúde.
car no sangue. Elas são fundamentais no sentido de bali-
Desta forma, o SUS é responsável pelo tra- zarem a consciência humana. No entanto,
tamento do diabetes e também pelos pro- é preciso proteger os direitos e criar condi-
blemas causados pela enfermidade, que é ções para que eles sejam exercidos.
silenciosa e resulta em complicações que Para isso, a informação é indispensável
oneram o Estado quanto ao tratamento, mas neste processo de construção da cidadania,
que acima de tudo, prejudicam a qualida- principalmente quando o assunto é a saúde,
de de vida e saúde de quem convive com já que o acesso à informação proporciona
a doença. a efetivação dos direitos das pessoas com
Neste progresso trazido pela mencionada diabetes.
ENVATO ELEMENTS

Aguarde!
Na próxima edição da
DIABETESmagazine, vamos
conversar mais sobre ou-
tras leis importantes para
quem tem diabetes. Até lá.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 23


Tapete Azul

Atriz DM1 inspira pessoas


com sua história
Sem apresentar sintomas, Fran Justus descobriu, por acaso, durante exames de
rotina, ter diabetes tipo 1.

Por Tom Bueno | @umdiabetico


Jornalista e criador do canal Um Diabético na
Internet. Tem diabetes tipo 1 desde 2006
FOTO: JOÃO P. TELES

U
ma mulher autêntica. Voz firme e licadas, não por causa do diabetes, mas por
sotaque que não esconde suas ori- outras intercorrências que refletiam de algu- O papo continua
gens sulistas. Tem pinta de mode- ma forma no controle glicêmico. A história da Fran Justus é
lo e simpatia de quem sabe se co- Hoje, a atriz sabe que informação é parte tão inspiradora que grava-
municar. Estou falando da atriz Fran Fischer importante do tratamento e tenta ajudar ou- mos uma conversa no meu
Justus, que deu vida à personagem Namnu, tras pessoas com a sua história. “O que mais canal no YouTube. Assista!
da novela bíblica “O Rico e Lázaro”, da Re- me dá orgulho é receber mensagens de pes-
cord TV. Aos 39 anos de idade, ela se dedica soas falando que descobriram que podiam
à carreira e à família. Nas redes sociais, on- engravidar tendo diabetes depois que co-
de tem milhares de seguidores, compartilha meçaram a me seguir”.
fotos e vídeos dos trabalhos que faz, rotina
com os filhos e também informação sobre
diabetes, condição que apareceu de repen-
DIVULGAÇÂO

te na vida dela.
Fran recebeu o diagnóstico de diabetes tipo
1 há 11 anos, por acaso, ao fazer exames de
rotina. “Nunca apresentei nenhum sintoma,
não tinha ninguém na família com diabetes,
nem conhecia alguém que tivesse”, conta.
Para Fran, a “ficha só caiu” quando ficou sa-
bendo que teria que tomar insulina.
Ela revela que, no primeiro momento, pas-
sou pelas fases da vergonha, negação e re-
volta. “Sempre achei que seria algo tempo-
rário. Foi bem difícil pensar que teria que
viver com diabetes para sempre”. A aceita-
ção veio com o tempo e o entendimento de
que a desinformação era algo limitante.
Apesar de ter escutado de um médico, logo
depois do diagnóstico, que não poderia en-
gravidar, o sonho de ser mãe aconteceu. Tu- Fran Justus: informação é parte
do foi planejado. Foram duas gestações de- importante do tratamento.

24 DIABETESmagazine · Edição 02
DIABETES E CORAÇÃO:
ENTENDER ESTA RELAÇÃO
É UMA QUESTÃO DE VIDA.
O diabetes está mais próximo do coração do que você imagina. Quem tem diabetes tem até quatro vezes
mais chances de ter um ataque cardíaco ou um derrame do que pessoas sem diabetes. Aproximadamente
66% das mortes de pessoas com diabetes são de causas cardiovasculares e, somente no Brasil, quatro
em cada dez pessoas com diabetes apresentam doenças do coração.1-4

Você pode saber mais sobre essa relação na página da campanha Quem vê
Diabetes vê Coração, criada pela Novo Nordisk em 2019. Acesse e confira:

Mitos e verdades
Os sintomas
da relação
Como reduzir os
riscos cardiovasculares
? ! sobre diabetes
e coração

Teste rápido para Notícias e matérias Newsletter mensal


verificar riscos sobre o tema com dicas de saúde
cardiovasculares

Diabetes Sintomas Como reduzir


e coração os riscos

Acesse o site e saiba mais


quemvediabetesvecoracao.com.br

Siga a campanha nas redes sociais: @quemvediabetesvecoracao

Referências: 1. https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/nejmoa1800256 2. https://www.knowdiabetesbyheart.org/wp-content/uplo-


ads/2019/12/DS-15561-KDBH_TakeCare.pdf 3. Low Wang CC, et al. Circulation 2016,133:2459-2502. 4. Mosenzon O, Alguwaihes A, Arenas Leon J.L., et al.
CAPTURE: a cross-sectional study of the contemporary (2019) prevalence of cardiovascular disease in adults with type 2 diabetes across 13 countries.

Marca registrada Novo Nordisk A/S 2022. Novo Nordisk Farmacêutica do Brasil Ltda.
SAC 0800 014 44 88 - www.novonordisk.com.br
BR22DI00176 - Setembro/2022 - Material destinado ao público leigo.
“Fazer do limão uma limonada
suíça diet. Foi o que eu fiz com
o meu diagnóstico”
Taline Pinheiro, nutricionista de 35 anos, é a personagem da nossa Doce
História de hoje. Ela foi diagnosticada com diabetes tipo 2 há um ano e já
tem muito a nos ensinar.

Por Luciana Oncken | @vivercomdiabetes_luoncken


Jornalista, contadora de histórias, autora do blog Viver com Diabetes
e tem diabetes MODY
FOTO: LEANDRO GODOI

N
ão que seja simples. Não é! Receber do o investimento nos estudos.
o diagnóstico de uma condição crô- Difícil também foi entrar no clima de mu-
nica, que nos acompanhará por to- dança, de recomeço. “E se não dava para fi-
da vida, sem pedir licença, sem dar car pior? Dava! Ainda sem me recuperar, re- O impedimento para a
descanso, nunca é fácil. Para a nutricionista cebi o diagnóstico de diabetes mellitus tipo
Taline Pinheiro da Silva, 35 anos, não foi di- 2”. E esse foi o ponto de virada de Taline. Ela
ação avança a ação. O
ferente. No meio da pandemia, em meados decidiu que deveria viver. “Foi ali que a cha- que existe no caminho
de 2021, ela recebeu o diagnóstico de dia- ve definitivamente virou. Eu precisava agir. se torna o caminho.
betes tipo 2. Por mais dolorido que fosse, por mais que eu
Em 2020, antes da pandemia, ela viveria não tivesse vontade, eu precisava agir. E foi MARCO AURÉLIO, filósofo estoico

momentos difíceis. “O ano tinha começa- duro. Foi duro enfrentar sozinha a vida e o
do bem, mas, no prazo de um mês, eu perdi diagnóstico”, relembra.
as duas bases da minha vida: a família (che- As manhãs após o diagnóstico ficaram pe-
gava ao fim um casamento de 10 anos) e o sadas, era difícil conseguir levantar. “Tantos
emprego”. dias que quis chorar, mas não dava tempo,
Sem saber por onde recomeçar, Taline leu porque eu precisava viver”, relata. Para vi-
um texto de uma autora que ela segue nas ver, Taline precisava entender o que estava
redes sociais, a Iara Dupont. “E foi nesse tur- acontecendo com o próprio corpo e enten-
bilhão que decidi que voltaria a estudar e se- der como deveria se cuidar. Ela iniciava, ali,
ria o primeiro passo do recomeço. Na mesma uma corrida pela vida.
noite, já vi quando seria o período de inscri- A nova condição a obrigou a se colocar como
ção para a seleção do doutorado. Fui e pas- prioridade. “Foi o diagnóstico de diabetes ti-
sei”. Durante o casamento, Taline, que tem po 2 que me fez mudar em todos os sentidos.
depressão desde 2017, havia deixado de la- Foi difícil, mas aos poucos voltei”, ressalta.

26 DIABETESmagazine · Edição 02
Doce História

Taline voltava a existir.


A vontade de estudar voltou, o prazer em tratamento adequado. Ser considerada res-
trabalhar também. Taline tem mestrado em ponsável pelo desenvolvimento da própria
bioquímica e o doutorado segue na mesma condição é uma visão deturpada que pes-
linha. Tanto a graduação quanto o mestrado soas com excesso de peso, obesidade e dia- O obstáculo no cami-
e o doutorado (em curso) são pela Universi- betes tipo 2 sofrem. Esta também é uma
dade Federal do Paraná (UFPR). luta que Taline abraçou, derrubar os este-
nho se torna o cami-
Taline usou os obstáculos da vida para cres- reótipos, afinal são doenças crônicas mul- nho. Nunca esqueça
cer e se perceber. Se antes do diagnóstico tifatoriais. “Não te contam que é possível o que dentro de todo
de diabetes tipo 2 ela nunca havia pensa- controle do diabetes antes mesmo de você obstáculo existe uma
do em atender a pacientes como nutricio- perder peso”, destaca.
oportunidade de me-
nista, agora começaria a considerar o aten- Hoje, Taline não abre mão da academia, em
dimento, a nutrição clínica. E isso aconteceu especial, da musculação. Já perdeu nove
lhorar nossa condição.
depois que Taline procurou informações so- quilos e trabalha para manter o peso perdi-
bre diabetes nas redes sociais e se depa- do, mas longe de dietas restritivas e sacri- MARCO AURÉLIO

rou com o Instagram da Sociedade Brasileira fícios. Por querer que as pessoas entendes-
de Diabetes (SBD) e de outras pessoas com sem essa forma de tratamento, da aceitação
diabetes, mas foi o Instagram da Dra. Janice e do acolhimento que Taline passou a se de-
Sepúlveda, vice-presidente da SBD (2018- dicar ao atendimento clínico e à educação
2019) que abriu os horizontes de Taline pa- em diabetes, levando a ferramenta da con-
ra atuar na área clínica. Hoje, Taline mantém tagem de carboidrato como uma abordagem
o seu próprio Instagram (@meudiabetes- possível no manejo do diabetes tipo 2.
tipo2), onde conta sua experiência pessoal “Fazer do limão uma limonada suíça diet. Foi O que é viver de forma leve
e dá dicas para viver com diabetes, preen- o que eu fiz com o meu diagnóstico”, desta- com diabetes?
chendo uma lacuna nas redes sociais, sen- ca. E a intenção de Taline, daqui em diante, é Dia desses, refleti sobre is-
do uma voz de pessoas com diabetes tipo 2. romper rótulos e preconceitos, viver melhor so. Acredito que não seja
Taline tem obesidade e lembra do precon- e ajudar as pessoas a viver cada vez mais somente aceitar o diabetes,
ceito que sofreu nas primeiras consultas até plenamente, mesmo com diabetes. “Vamos mas ter consciência de que
conseguir ser aceita e acolhida e receber o cuidar juntos do nosso diabetes!”, finaliza. passaremos por fases mais
difíceis e outras tranquilas.
E o que você acha? Comen-
ta lá no meu perfil. Gravei
SÔNIA VIANNA

um vídeo sobre isso.

Taline Pinheiro: “Não te contam


que é possível o controle do
diabetes antes mesmo de você
perder peso.”

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 27


Família unida no tratamento:
Sophia e o pai Fabio têm diabe-
tes tipo 1. A mãe Vanessa está
cursando nutrição.
KARIM SCHARF
Capa

EDUCAÇÃO
para proteger o amanhã
Novembro é o mês dedicado às campanhas de conscientização
sobre a importância de prevenir, diagnosticar e tratar o diabetes.
Mas os cuidados devem permanecer o ano inteiro.

Por Dra. Dhiãnah Santini | @dra.dhianah_santini


Mestre e doutora em Endocrinologia pela UFRJ.
Coordenadora do Dep. de Educação em Diabetes e Campanhas da SBD
e Letícia Martins | @leticiamartinsjornalista
Jornalista e editora-chefe da DIABETESmagazine
FOTOS: ARQUIVOS PESSOAIS

J
á parou para pensar como a informa- bomba de infusão de insulina e a menina lo-
ção certa pode fazer uma diferença go percebeu a mudança na rotina: “Antes eu
enorme na nossa vida? Quando So- tomava injeção todo dia e agora não preci-
phia Gonçalves Leite, 10 anos, rece- so mais, porque uso a bomba de insulina”. A
beu o diagnóstico de diabetes tipo 1 no fi- tecnologia está ajudando Sophia a se adap-
nal de janeiro de 2022, “o mundo caiu na tar à nova condição de saúde, mas sem dei-
cabeça” de Vanessa Fernanda Gonçalves xar de fazer o que ama no dia a dia. “Gosto
Leite, a mãe. “Juntos vieram o medo, as in- de conversar com minhas amigas e de jogar
certezas e a revolta”, conta. O desespero só online com elas. Isso é muito legal e me dis-
não foi maior porque ela recebeu o apoio do trai um pouco da relação com o diabetes.
marido e de uma equipe de saúde, compos- Gosto de esportes e ginástica, de ir para a
ta por endocrinologista, nutricionista e psi- escola e estudar”, diz Sophia.
cólogo. “São eles que me ajudam a ver que O pai, Fabio Leite Figueiredo, respira mais
essa doença crônica não precisa ser o vilão aliviado sabendo que a filha não passará pe-
das nossas vidas.” la insegurança que ele mesmo sentiu quan-
Sophia começou o tratamento no hospital, do descobriu o diabetes tipo 1 em 1996, aos
usando caneta para aplicar insulina. Algum 20 anos de idade, época em que estudava
tempo depois, a família foi apresentada à para se tornar oficial da polícia militar. “Foi

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 29


um susto! Eu fazia muitas aulas que deman- consciência da doença e dos seus tratamen-
davam bastante esforço físico. Aplicar insu- tos diários”, relata.
lina e me preocupar com o diabetes não es- O diagnóstico do Danton foi aos 44 anos e
tavam nos meus planos. Cheguei a pensar ele ficou em choque. “O pré-julgamento e a
que seria obrigado a abandonar a profissão”. falta de informação fazem a gente ter rea-
Mas Fabio também encontrou profissionais ções do tipo: ‘Minha vida acabou. E agora?’
de saúde que o ajudaram a entender melhor Mas não é assim. Não podemos ser radicais.
o diabetes. Na época, uma endocrinologis- O entendimento vem com tempo, por isso,
ta explicou que a condição não seria motivo informação e entrevistas como essas são
para desistir da carreira. Assim, ele se man- muito importantes para a sociedade”, diz o
teve na área de educação física e mais tar- protagonista do filme “Predestinado: Arigó
de se formou bombeiro. Hoje é especialis- e o Espírito do Dr. Fritz” que está em cartaz
ta em salvamento em alturas, acumula mais nos cinemas.
de 25 anos de diabetes sem nenhuma com- Prestes a lançar sua nova série “Inexplicável
plicação de saúde. “É o que desejo para mi- – América Latina”, pelo canal History, Dan-
nha filha, que ela seja feliz no caminho que ton concilia vida pessoal, profissional e os
escolher”. Não é comum pessoas com dia- cuidados com o diabetes com bom humor e
betes tipo 1 terem filhos com diabetes, mas otimismo. A saúde está sempre no foco da
isso ajudou Fabio a olhar com mais cuidado sua atenção, mesmo quando precisa ganhar
ainda para o próprio tratamento. peso para interpretar um personagem, como
Ele entendeu que educação em diabetes é o foi o caso de Arigó. “Tenho bastante cuida-
caminho para uma vida mais saudável após o do, sempre estou de olho e fazendo o acom-
diagnóstico. Isso é tão importante que a Fe- panhamento médico. Isso é imprescindível.
deração Internacional de Diabetes (IDF na Não praticava atividade física antes, mas ho-
sigla em inglês) elegeu como tema para a je tenho a educação e a consciência de que
campanha do Dia Mundial do Diabetes a me- o exercício ajuda, por isso faço aula de boxe,
lhoria do acesso à educação em diabetes, caminhadas matinais e academia. Não tenho
tanto para as pessoas que vivem com a con- uma atividade preferida, todas me fazem li-
dição quanto para os profissionais de saúde. berar endorfina e me sentir bem, do tipo: de-
ver cumprido.”
Os benefícios da educação Tanto Sophia quanto Danton já compreen-
em diabetes deram que “educação em diabetes não faz
Atualmente, 1 em cada 10 adultos em todo o parte do tratamento, mas é o próprio trata-
mundo vive com diabetes, ou seja, cerca de mento”. Esta frase é de Elliott P. Joslin, pri-
537 milhões de pessoas, segundo a IDF. Um meiro médico nos Estados Unidos a se espe-
dos desafios é o diagnóstico precoce, pois o cializar em diabetes.
diabetes tipo 2 é uma doença silenciosa, ou Então, educação em diabetes é aprender so-
seja, costuma se instalar sem apresentar sin- bre a condição?
tomas. Assim, a IDF estima que quase meta- Exatamente. Uma pessoa educada em dia-
de dessa população ainda não foi diagnosti- betes pode exercer o autocuidado, isto é,
cada e está perdendo um tempo precioso de ela passa a conhecer tanto sobre o próprio
começar o tratamento e evitar problemas de diabetes que o controle fica cada vez melhor.
saúde, como perda da visão (saiba mais na É fundamental que todos saibam que a pes-
seção Conexão Médica, da página 63). soa com diabetes pode ter uma vida total-
O ator e dublador Danton Mello, por exem- mente normal, sem restrições. Para isso, ela O pré-julgamento e a
plo, descobriu o diabetes durante consul- precisa adotar alguns cuidados diários. O tra- falta de informação
tas e exames de rotina. “Temos um médico tamento é dinâmico, envolve muitas vezes
fazem a gente ter
da família que nos acompanha há bastante escolhas do paciente, requer monitorização
tempo. Ele solicitou uma bateria de exames da glicose, bem como alimentação adequa- reação do tipo: ‘Minha
e, quando o resultado saiu, eu não queria da e exercícios, manejo da insulina nas situa- vida acabou. E agora?’
acreditar. Fui pego de surpresa, pois nun- ções de alta e baixa da glicose, dentre outras Mas não é assim.
ca havia passado pela minha cabeça que eu ações. Algumas medicações, como a insulina
poderia ter diabetes. Após o resultado tive- e a classe das sulfonilureias, podem dar hi-
mos conversas longas e comecei a ter a real poglicemia e o paciente precisa saber reco-

30 DIABETESmagazine · Edição 02
Capa

nhecer esses sintomas e como conduzir a si- sem mitos ou tabus, de forma que a pessoa
tuação, caso aconteça. com diabetes se sinta segura e confortável
Mas isso não é papel do médico? para tirar todas as dúvidas.
O médico é um grande parceiro do tratamen- Para Vanessa, as dúvidas sobre alimenta-
O diabetes é uma
to do diabetes, mas ele não consegue estar ção são mais comuns e frequentes. “En-
24 horas por dia, 7 dias por semana ao la- tender como os alimentos impactam no condição silenciosa
do do paciente, orientando-o sobre cada de- controle glicêmico da Sophia é meu maior e nossa postura deve
cisão. Por esta razão, quanto mais a pessoa desafio, tendo em vista que não devemos ser sempre preventiva
souber sobre o seu próprio diabetes, mais cortar nada da alimentação dela, principal- em vez de reativa.
segurança terá no dia a dia. Algumas deci- mente nesta fase da vida em que ela está
sões continuarão sendo tomadas em con- em crescimento. Por isso, comecei um cur-
junto com o médico, por exemplo, prescri- so de nutrição. Aprender nunca é demais”,
ção do medicamento, ajustes na terapia etc. declara a mãe, que finaliza dizendo como
É possível também contar com outros pro- imagina o futuro da filha: “Acredito e espe-
fissionais de saúde, que são educadores em ro que a Sophia aprenda a se cuidar e nun-
diabetes, para aprender mais sobre a condi- ca desista do tratamento, pois assim ela
ção. Aliás, o diálogo com os profissionais de poderá ter uma vida normal e saudável, a
saúde deve ser aberto, o mais claro possível, exemplo do pai”.

DIVULGAÇÃO

O ator e dublador Danton Mello


descobriu o diabetes tipo 2 du-
rante exames de rotina: “Fui pego
de surpresa, pois nunca havia
passado pela minha cabeça que
eu poderia ter diabetes.”

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 31


Capa

Novembro Diabetes Azul


Em todo o planeta, 14 de novembro é o Dia o diabetes firmemente no centro das aten-
Mundial do Diabetes. A data foi escolhi- ções públicas e políticas, bem como des-
da pela IDF e pela Organização Mundial da tacar a necessidade de melhor acesso à
Saúde (OMS) em 1991 em homenagem ao educação em diabetes de qualidade para
aniversário do médico canadense Frederick profissionais de saúde e pessoas que vivem
Banting, que descobriu a insulina em 1921. com a condição.
A IDF lidera a campanha mundial, que abran- Essas ações são organizadas pelo Dep. de
ge mais de 230 associações de diabetes em Educação e Campanhas em Diabetes da
170 países e territórios. SBD, coordenado pela Dra. Dhiãnah e pe-
Em 2006, diante da necessidade de preven- lo Dr. André Vianna. Juntos, organizam uma Acesse o portal Novembro
ção e controle do diabetes, a Organização programação específica do Novembro Dia- Diabetes Azul e fique por
das Nações Unidas (ONU) reconheceu a da- betes Azul em em parceria com Regionais da dentro de toda a progra-
ta como World Diabetes Day ou Dia Mundial SBD, a Sociedade Brasileira de Endocrinolo- mação!
de Diabetes, e elegeu o círculo azul como gia e Metabologia (SBEM) e outras entidades
símbolo da campanha por representar o céu médicas apoiadoras, como a de cardiologia,
que une todas as nações e também por ser a de nefrologia, de oftalmologia e de cirurgia
cor da bandeira da ONU. vascular.
No Brasil, desde 2009, a Sociedade Brasilei- Em 2018, o nome Novembro Diabetes Azul
ra de Diabetes (SBD) realiza campanhas em foi protocolado no Ministério da Saúde e ga-
todo o país a fim de orientar a população a nhou um site próprio:
respeito da prevenção do diabetes, manter www.novembrodiabetesazul.com.br

Imagens da campanha da Fede-


ração Internacional do Diabetes.
Acesse:
https://worlddiabetesday.org/

Programação 2022
A campanha Novembro Diabetes Azul se- • 19/11: corrida e caminhada em São
rá repleta de ações especiais. Confira al- Paulo, largada às 7h30 no Parque Bru-
gumas delas abaixo e acompanhe o site no Covas, em parceria com o Departa-
da SBD para não perder nada! mento de Exercício e Esporte da SBD.

• 01/11: live para lançamento da cam- Além dessas ações, a SBD também disse-
panha e ações nas mídias da SBD no mina conteúdo na imprensa, com entrevis-
www.diabetesplay.com.br; tas e participações em programas de TV,
• 08/11: ação “Jogando contra o diabe- rádio e outros veículos de comunicação.
tes” no estádio de futebol do Morum- Acreditamos que a informação e a educa-
bi, durante partida entre São Paulo e ção correta são a melhor forma de cons-
Botafogo, a fim de aumentar a cons- cientizar as pessoas sobre os fatores de
cientização sobre os riscos de desen- risco para o diabetes e suas complicações.
volver diabetes e chamar atenção pa- O diabetes é uma condição silenciosa e
ra a importância do acompanhamento nossa postura deve ser sempre preven-
médico; tiva em vez de reativa! Falar sobre o dia-
• 11/11: sessão solene no Senado Fede- betes é fundamental para mudarmos a
ral com ações de prevenção pela Re- história natural da doença. Queremos
gional SDB-DF; contar uma história diferente: de saúde,
• 14/11: musical educativo sobre diabe- qualidade de vida, sem complicações!
tes e premiações no Rio de Janeiro;

32 DIABETESmagazine · Edição 02
Programa FazBem
uma iniciativa da AstraZeneca buscando oferecer
apoio para pacientes e cuidadores no tratamento.

• Informações sobre sua patologia


• Dicas de saúde e bem-estar
• Mais acesso e descontos exclusivos
para o seu tratamento

Acompanhe o nosso blog e fique por


dentro de tudo que temos de melhor!

@FazBem_AstraZeneca

FazBem AstraZeneca

BR-20646 Material destinado a todos os públicos set/2022


Tratamento oral
para diabetes tipo 2
A evolução nos medicamentos e a busca pelo melhor controle metabólico.

Por Dr. Dênis Paiva Ferraz | @drdenispaiva


Endocrinologista e membro da diretoria da SBD
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

O
s medicamentos orais para tratar com obesidade que, após uma perda signi-
o diabetes tipo 2 (DM2) recebem ficativa de peso, conseguem reduzir inicial-
várias designações, desde anti- mente os ADO. Ora, se o paciente usava um
diabéticos orais, a mais famosa, ou dois ADO, depois de emagrecer, pode ser
até anti-hiperglicemiantes orais. Acompa- que fique sem usar e se mantenha bem com
O leque de opções de
nhando a tendência da maioria dos autores, medidas não farmacológicas. No entanto, medicamentos torna
vamos nos referir a eles como ADO, que sig- aqueles que necessitam de muitos ADO, ou o tratamento mais
nifica AntiDiabéticos Orais. ADO de altas dosagens, devem ter em men- eficaz, seguro e indivi-
Mas antes de conhecermos os grupos de te que a interrupção não é regra e pode cau-
dualizado do que era
ADO, precisamos destacar algo muito impor- sar severos riscos à saúde. Em resumo, dis-
tante: tratamento oral vai além da ingestão cuta sua situação com o profissional que o anos atrás.
de comprimidos, que deve ser restrita a casos acompanha.
em que a terapia não medicamentosa (práti-
ca de atividade física, alimentação equilibra- Grupos de antidiabéticos orais
da e saudável e saúde emocional) não atinja Hoje temos um enorme arsenal terapêuti-
os alvos adequados de controle. Os ADO tam- co para cuidar da pessoa com diabetes. Vá-
bém são necessários quando o nível de des- rias classes de medicamentos com diversos
controle é tão severo que a probabilidade de representantes, cada um deles agindo em
fracasso em atingir esses alvos sem o uso de pontos diferentes para controlar melhor a
medicamentos se torna altíssima. glicemia. Esse leque de opções torna o tra-
A maioria dos pacientes que precisa dos tamento muito mais eficaz, seguro e indivi-
ADO para atingir alvos seguros de controle dualizado do que era anos atrás.
possui a necessidade de usá-los por tempo Podemos dividir os ADO em grupos segundo
indeterminado. Todavia, em alguns casos, é seus mecanismos de ação. São eles:
possível que o uso seja temporário e a medi-
cação possa ser suspensa. Por exemplo, uma Secretagogos: estimulam o pâncreas a pro-
mulher que engravida. No início da gestação duzir insulina. Nesse grupo, estão as sulfo-
pode ser preciso que ela interrompa alguns nilureias, representadas pela gliclazida, gli-
ADO, volte a usá-los em uma quantidade mepirida, glibenclamida e clorpropramida
maior no final e, depois do parto, reduza no- (as últimas em desuso gradualmente); e as
vamente. Por isso, reforçamos sempre que o glinidas, compostas pela repaglinida.
tratamento é individualizado. Uma curiosidade sobre as sulfonilureias é
Outra situação comum ocorre com pessoas que seu efeito de baixar a glicose foi per-

36 DIABETESmagazine · Edição 02
DM2

cebido durante a Segunda Guerra Mundial, GLP-1: ele aumenta a produção de insulina
quando o uso do antibiótico sulfametoxazol e reduz a do glucagon. São vários represen- Glucagon é um hormônio
entre soldados era muito difundido. tantes dessa classe, que aumentam os níveis produzido pelo pâncreas
naturais do GLP-1. Entre eles, destacamos os que age aumentando a taxa
Sensibilizadores de insulina: melhoram a iDPP-4 (inibidores de DPP-4), a linagliptina, de glicose. Sabe qual é o ou-
ação da insulina e têm como principais re- a sitagliptina, a alogliptina e a evogliptina. tro hormônio também fabri-
presentantes a metformina e a pioglitazona. cado pelo pâncreas? Confira
A metformina é considerada a mais antiga Nessa mesma linha, temos substâncias que na página 18.
classe de medicação para tratar o diabetes funcionam como GLP-1 artificiais, a exemplo
tipo 2 e é derivada de uma planta chamada da semaglutida, única representante oral
Galega officinalis, que foi amplamente utili- dessa classe por enquanto.
zada no passado para melhorar os níveis de Há também medicamentos híbridos, nos
glicose no sangue. Porém, devido à sua toxi- quais se encontram mais de um produto em
dade, a planta acabou sendo substituída por um mesmo comprimido. Por fim, existem
seus extratos purificados, que apresentam ADO que retardam a absorção da glicose no
melhor tolerância. Desses extratos surgiu a intestino, como a acarbose.
metformina, que é muito usada até hoje. Por esses diversos mecanismos de ação,
existem fármacos que podem ser tomados
Inibidores de SLGT-2: ajudam a eliminar o a qualquer horário do dia, outros que devem
excesso da glicose pelos rins, ao mesmo tem- ser dados de preferência à noite, enquanto
po que os protege. Nesse grupo estão a cana- alguns têm que ser administrados antes das
glifozina, a dapaglifozina e a empaglizozina. refeições. Por isso, é importante seguir cor-

ENVATO ELEMENTS

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 37


DM2

retamente a prescrição de seu médico. Além uma vasta gama de opções se tornou clinica-
disso, converse com ele sobre o melhor ho- mente viável, como a semaglutida oral e os
rário para usar a medicação e o que fazer em inibidores da SGLT-2 e muitos outros estão
caso de esquecimento. em fase final de estudo e aprovações, como
O uso de medicamen-
novos análogos do GLP-1 e GIP, inibidores
Nem tudo são flores duplos SGLT-1 e SGLT-2 e vários ADO híbri- tos deve ser sempre
Apesar do maior rigor no desenvolvimento e dos com ações combinadas. Medicamentos feito sob orientação
na segurança dos novos ADO, todo medica- que expandiram sua ação para além do con- de um médico.
mento apresenta riscos, efeitos colaterais e trole da glicemia, agindo na proteção cardio-
possíveis reações adversas. Mais comum em vascular, renal, controle do peso etc.
medicamentos antigos, efeitos como diar- Todavia é importante que não tenhamos
reia, hipoglicemia, entre outros, não são tão preconceito quanto ao uso de insulina, fár-
comuns atualmente com os novos ADO, mas maco mais potente e rápido no controle gli-
ainda existem efeitos como alergias, cálculo cêmico. Muitos pacientes precisam ou se
biliar etc. Isso acontece dependendo do me- beneficiam do seu uso, mesmo que por um
canismo de ação do medicamento, da sus- tempo limitado, em situações como inten-
ceptibilidade individual, além de casos que so descontrole glicêmico com sintomas se-
simplesmente ocorrem, mas ainda não sa- veros, cirurgias e internações várias, durante
bemos o porquê. a gestação etc. Nesses momentos, o mais sá-
Por essas e outras razões, o uso de medica- bio é recorrer à terapia insulínica.
mentos deve ser sempre feito sob orienta- Finalizando, basta um simples olhar para a
ção de um médico que, a partir de então, se história recente dos ADO para que nos tor-
torna responsável pela prescrição, devendo nemos fartos de esperança pelo rápido e
orientar ao paciente o que fazer em situa- eficaz avanço na terapia oral do diabetes
ções de efeitos adversos. tipo 2 que, como citado, hoje já contempla
um controle glicêmico melhor e mais segu-
Avanços no tratamento ro, juntamente com auxílios em setores que
Poucas doenças tiveram um avanço tão gran- tanto angustiavam os pacientes, como o ex-
de em termos de variedade de tratamento cesso de peso e o risco cardiovascular.
quanto o diabetes. Nos últimos dois anos,
ENVATO ELEMENTS

38 DIABETESmagazine · Edição 02
DM1

O fantástico mundo
das insulinas
Há diversos tipos de insulina e análogos disponíveis para tratar o
diabetes. Eles variam conforme o tempo de início, pico e duração.

Por Dra. Denise Reis Franco | @denisefrancoendo


Endocrinologista e membro da diretoria da SBD
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

É
impossível tratar o diabetes tipo 1 je pessoas com diabetes tipo 1 podem fazer
(DM1) sem insulina. Isso porque o pân- várias aplicações durante o dia e obter um
creas de quem tem esta condição de melhor controle glicêmico. “Insulina é vida.
saúde não produz naturalmente o hor- Precisamos conservar bem, aplicar de for-
mônio. Logo, cabe à própria pessoa aplicar a ma correta, seguindo as orientações do mé-
insulina diariamente, várias vezes, de acordo dico. Assim, podemos ter uma vida saudável.
com as recomendações do seu médico. Eu aplico há 36 anos e sou muito grata”, dis-
Até 1920, não existia insulina. Durante sé- se Juliana.
culos, cientistas pesquisaram uma forma de Classificadas em insulinas humanas ou
tratar o diabetes. Em julho de 1921, médi- análogos de insulinas humanas, elas se di-
cos canadenses conseguiram, de fato, ex- ferenciam por 03 fatores:
trair a insulina do pâncreas de um cachorro • Início da ação: velocidade com que a in-
e, depois de muitos ajustes, ela foi aplicada sulina começa a agir;
no primeiro ser humano em 1922. Portanto, • Pico da ação: é o período de atividade da
há 100 anos! O nome dos médicos? Você já insulina na corrente sanguínea;
deve ter descoberto ao ter lido a seção Dia- • Duração: o tempo em que a insulina age
betes de A a Z e a matéria de capa. no organismo.
De lá para cá, houve muitos avanços. Por As insulinas humanas são desenvolvidas em
exemplo, não há mais insulinas de origem laboratório e assemelham-se àquela produ-
animal, como aquelas usadas pela nutricio- zida no pâncreas de uma pessoa que não
nista Juliana Baptista na época do diagnós- tem diabetes. Já os análogos são prepara-
tico, em 1987. “Eu usava insulina de origem ções de insulina alterando algumas partes
bovina e me lembro que a agulha era bem da cadeia da insulina.
grande, de 12 milímetros e meio. Aplicava
de manhã a mistura da insulina rápida e len- Você sabia?
ta e depois à noite”, conta a educadora em O Brasil produz análogos de ação rápida, in-
diabetes. sulinas Regular e NPH. Nas tabelas a seguir,
Com os diversos tipos de insulina disponí- você pode conferir todas as insulinas dispo-
veis no mercado (veja tabela a seguir), ho- níveis no país até o momento.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 39


Entendendo as diferenças
As insulinas e os análogos de insulina podem
ser classificados em dois tipos: basal e bolus.

BASAL
Responsável por manter os níveis de glicose estáveis no sangue entre as refeições e enquanto dormimos.
Tipo Nome Comercial Apresentação Início da Ação Pico da Ação Duração
Novolin N
®
Frasco (10 ml)
Insulina
NPH Humulin® N Caneta / Refil 2 a 4 horas 4 a 10 horas 10 a 18 horas
intermediária
Insunorm N
® (3 ml)

Análogos Frasco (10 ml)


de ação Detemir Levemir® Caneta / Refil 1 a 3 horas 6 a 8 horas 18 a 22 horas
intermediária (3 ml)
Lantus® Frasco (10 ml)
Análogos de
Glargina U100 Glargilin® Caneta / Refil 2 a 4 horas Não possui 20 a 24 horas
ação longa
Basaglar ® (3 ml)

Análogos Degludeca Tresiba® Frasco (10 ml) <4 horas Não possui 42 horas
de ação Caneta / Refil
ultralonga Glargina U300 Toujeo® (3 ml) 6 horas Não possui 36 horas

BOLUS
Usada para evitar a elevação da glicemia durante a refeição e corrigir as glicemias altas.
Tipo Nome Comercial Apresentação Início da Ação Pico da Ação Duração
Novolin® R Frasco (10 ml)
Insulina 30 minutos
Regular Humulin® R Caneta / Refil 2 a 3 horas 5 a 8 horas
rápida a 1 hora
Insunorm® R (3 ml)

Asparte Novorapid® 10 a 20 minutos


Análogos Lispro Humalog® Frasco (10 ml)
5 a 15 minutos
de ação Glulisina Apidra® Caneta / Refil 1 a 3 horas 3 a 5 horas
ultrarrápida (3 ml)
Asparte
Fiasp® 2 a 5 minutos
mais rápida
ENVATO ELEMENTS

Caneta descartável para


aplicação de insulina.

40 DIABETESmagazine · Edição 02
DM1

Pré-misturas: também chamadas de bifási- trações variadas de insulina humana ou de


cas, elas são úteis para pessoas que têm di- análogos, de ação rápida e intermediária ou
ficuldade para elaborar a insulina em dois prolongada. Confira:
frascos diferentes. Elas possuem concen-

PRÉ-MISTURAS
Tipo Nome Comercial Apresentação Início da Ação Pico da Ação Duração
Insulina Frasco (10 ml)
NPH 70% + 30 minutos a
(intermediária + Humulin® 70/30 Caneta / Refil 3 a 12 horas 10 a 16 horas
Regular 30% 1 hora
rápida) (3 ml)
NPL 75% +
Humalog® Mix 25
Lispro 25%
Análogos
NPL 50% + Caneta / Refil
(intermediária + Humalog® Mix 50 5 a 15 minutos 1 a 4 horas 10 a 16 horas
Lispro 50% (3 ml)
ultrarrápida)
NPA 70% +
NovoMix® 70/30
Asparte 30%

Quais são os cuidados na aplica- utilizados até 28 dias após aberto. Consul-
ção da insulina? te sempre as orientações do fabricante, pois
Em primeiro lugar, faça sempre a assepsia alguns tipos de insulina, como a Degludeca,
do local com álcool 70% para eliminar qual- têm prazo maior de validade. De qualquer
quer sujeira. Confira na receita médica qual forma, depois de vencida, descarte a insuli-
é a quantidade de insulina que você preci- na, pois ela pode perder o efeito.
sa aplicar. Se necessário, faça a prega sub-
cutânea. Insulina faz mal?
Importante: provavelmente você já ouviu Um dos mitos mais frequentes no consul-
alguém falar que vai “tomar insulina”. Mas tório é que usar insulina pode provocar al-
atenção: não é para beber. A insulina deve guma complicação, pois muitas pessoas co-
ser injetada no subcutâneo, nunca no mús- nhecem alguém que teve problema após
culo ou na superfície da pele. Para a apli- iniciar o tratamento com insulina. A expli- O bate-papo continua
cação, deve-se utilizar uma seringa, cane- cação mais provável é que esse paciente já Juliana Baptista e eu gra-
ta de aplicação de insulina ou bomba de estava com o diabetes descontrolado há al- vamos uma conversa mui-
insulina. gum tempo e desenvolveu uma complica- to divertida sobre a expe-
ção quando começou a usar insulina, mas riência dela com a insulina
Onde aplicar a insulina? não foi por causa da insulina, pois ela não e mostramos alguns tipos
As regiões recomendadas são: abdômen, faz mal! Pelo contrário, como disse a Juliana, de seringa, canetas e ou-
parte posterior dos braços, exterior das co- insulina é vida. tros materiais usados pa-
xas e nádegas. Faça o rodízio entre os lo- ra controlar o diabetes no
cais de aplicação da insulina. Ou seja, evite passado. É muito legal ver
aplicar a insulina sempre na mesma região a evolução do tratamento.
SHUTTERSTOCK

do corpo, porque pode lesionar o local e Assista ao vídeo!


causar uma complicação chamada lipohi-
pertrofia.

Como conservar a insulina?


A insulina lacrada deve ser mantida sob re-
frigeração, entre 2 ºC e 8 ºC, e jamais po-
de ser congelada. Já os frascos ou refis em
uso podem ficar fora da geladeira, em tem-
peratura ambiente até 30 ºC e precisam ser

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 41


No lixo comum, não!
O descarte de seringas, agulhas e medicamentos usados no tratamento
do diabetes deve ser feito de forma segura. Saiba como.

Por Marcia Camargo de Oliveira


Enfermeira e membro do Dep. de Enfermagem da SBD
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

O
s dispositivos usados para apli- manejo seguro desses resíduos nos serviços
car insulina e monitorar a glicose de saúde, desde a sua produção até o des-
são importantes fontes geradoras tino final, mas o mesmo não acontece sobre
de resíduos perfurocortantes, bio- o descarte desse tipo de lixo gerado em ca-
O descarte seguro é
lógicos e químicos. Se não forem descarta- sa. Em breve, diretrizes e normas específicas
dos corretamente, podem causar ferimen- serão disponibilizadas. Enquanto isso, as re- um ato de cidadania.
tos, transmitir doenças, como hepatite, além comendações sobre o descarte seguro têm Faça a sua parte!
de contaminar o meio ambiente. como base as diretrizes reservadas aos ser-
Existem diretrizes técnicas e legais sobre o viços de saúde. Confira:
ARQUIVO SBD

Caneta descartável

Cateter
Compartilhe
No site da SBD está disponí-
vel um folder ilustrativo so-
bre descarte correto de li-
xo gerado no tratamento do
Coletor específico para material perfurocortante Tira reagente diabetes.

Lanceta Seringa Agulhas Materiais com sangue

42 DIABETESmagazine · Edição 02
Prevenção

Perigo das mãos sem tocá-lo; tampa e alça para ga-


Materiais com sangue, como tiras usadas rantir o manuseio e o transporte seguro.
nos testes de glicemia, seringas, agulhas, Na ausência desse coletor próprio em do-
lancetas, canetas e insumos da bomba de micílio, recomenda-se providenciar um re-
insulina (cateter, cânula e agulha guia) de- cipiente com características semelhantes:
vem ser descartados em coletores especí- material inquebrável (não use potes de vi-
ficos para perfurocortantes, como aqueles dro, por exemplo), paredes duras e resisten-
utilizados nos serviços de saúde. Eles pos- tes a furos, com abertura larga (o suficiente
suem cor amarela, são identificados com para colocar o material dentro do recipiente
símbolo de material infectante e têm uma sem causar acidentes), tampa e, de preferên-
linha pontilhada que determina o limite de cia, alça. Por fim, identifique o recipiente com
preenchimento. a mensagem: atenção: material perigoso.
Esses coletores devem ser rígidos, resisten- Não é recomendado o descarte em garrafa
tes à perfuração, ruptura e vazamento. Além plástica (PET), pois as agulhas frequentemen-
disso, devem ter bocal com abertura sufi- te ultrapassam a parede devido à fragilidade
ciente para permitir o descarte com uma do material, e por ter a boca muito estreita.

ENVATO ELEMENTS

Exemplos de recipientes que po-


dem ser usados para descartar
seringas de insulina e agulhas
para canetas.

Agulhas e lancetas resíduos perigosos e possuem potencial


Acidentes graves podem acontecer ao ten- de contaminação do meio ambiente quan-
tar entortar ou quebrar as agulhas antes do do descartados incorretamente. Sendo as-
descarte. Por isso, as agulhas devem ser re- sim, a melhor orientação é levá-los no posto
movidas das canetas utilizando o protetor de saúde. Algumas farmácias possuem reci-
externo da própria agulha. Remova também pientes coletores para os clientes descarta-
a lanceta do lancetador de forma segura, rem medicamentos vencidos. Informe-se na
sem o toque manual. Em ambos os casos, sua região ou acesse o site:
leia as orientações do fabricante. www.descarteconsciente.com.br.

Injetáveis Onde guardar


Até que novas recomendações sejam di- Em casa, o recipiente com esses materiais
vulgadas e implementadas, e na ausên- descartados deve ser mantido em local seco, Educar para proteger
cia de outra orientação das Unidades Bási- de fácil acesso, porém seguro para evitar aci- A SBD também preparou
cas de Saúde (UBS), os frascos de insulina dentes com adultos, crianças e animais de es- um vídeo sobre o descarte
que estejam vazios, vencidos ou em desu- timação. E jamais tente retirar algo do coletor. consciente desses insumos.
so também podem ser descartados no cole- Assista e divulgue!
tor destinado aos materiais perfurocortan- Onde levar
tes e contaminantes. Isso vale também para Depois de preenchido, o coletor deve ser
as canetas descartáveis de insulina e de ou- entregue em uma UBS ou estabelecimento
tros injetáveis e para os reservatórios de in- de saúde de referência no município, onde
sulina das bombas de infusão. será encaminhado para tratamento e desti-
no adequados. Importante: devido ao risco
Medicamentos vencidos de acidente, evite transitar com este coletor.
ou em desuso Recomenda-se levá-lo à unidade mais próxi-
Eles são genericamente classificados como ma de você.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 43


Especialistas dos pés
Conheça dois profissionais de saúde que podem nos ajudar
a cuidar melhor dessa parte tão importante do nosso corpo.

Por Maria Eloisa Malieri | @eloebete


Relações-públicas, advogada especializada em Direito à saúde,
mentora do projeto social Elo & Bete. Tem diabetes tipo 1 desde 1985
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

V
ocê “paquera” seus pés todos os profissional”, esclarece.
dias? Sabe quais são os cuidados Já deu para perceber que nossos pés mere-
que devemos ter em relação a es- cem um cuidado integral, não é? Perguntei
ses membros que nos sustentam e para a Andrea quais procedimentos o podó-
permitem a nossa liberdade de ir e vir? logo pode fazer numa consulta e ela citou al-
Nós, docinhos, precisamos dedicar mais guns deles: “Na parte plantar, o podólogo vai
atenção aos pés, porque o diabetes pode remover as calosidades, os calos e as fissu-
causar insensibilidade na parte extrema do ras, usando várias técnicas de desbaste. Nas
nosso corpo. Além disso, as altas taxas de unhas, é feito o corte (onicotomia) correto e
açúcar no sangue afetam a capacidade do adequado para sua anatomia”.
organismo de combater uma eventual infec- Mas visto que o diabetes necessita de acom-
ção e de cicatrizar um ferimento. panhamento por toda a vida, a interação en-
A boa notícia é que podemos contar com tre o podólogo e outros profissionais de
dois profissionais que convergem nestes saúde é muito importante: “O trabalho em
cuidados especiais com os pés de pessoas
que têm diabetes: o podólogo e o podiatra.
Para saber sobre a PODOLOGIA, conversei
ARQUIVO PESSOAL

com a podologista especialista em pé dia-


bético Andrea Costa, que me explicou o se-
guinte: “Podologia é a ciência dedicada a
diagnosticar, prevenir, estudar, investigar,
tratar as patologias dos pés e educar o pa-
ciente. Esta atividade especializada nos pés
das pessoas com diabetes requer atenção e
cuidados específicos, visando sempre à saú-
de e à qualidade de vida”.
Andrea, que é mestranda em Gerontologia,
reforça a importância do podólogo ser qua-
lificado para atender a pessoas com diabe-
tes. “Os podólogos devem escolher sempre
instrumentos adequados e ficar atentos às
necessidades e especificidades de cada pa-
ciente, desenvolvendo os protocolos cor-
retos, desde a podoprofilaxia, que é o pro-
cedimento completo para tratar todas as Andrea Costa: “Podologia se re-
alterações superficiais nos pés até aquelas sume em: humanização, consci-
que requerem maior atenção e perícia do entização, prevenção e ciência!”

44 DIABETESmagazine · Edição 02
Conte Com

equipe é fundamental para o sucesso no

ARQUIVO PESSOAL
atendimento à pessoa com pé diabético, ob-
jetivando a atuação e respeitando o espaço
de cada integrante. Ele deve ser realizado de
forma contínua, persistente e em parceria
com o paciente e a família, o que proporcio-
nará minimizar as complicações decorrentes
da falta de cuidado que surgem ao longo do
tempo”, completou Andrea.

Você conhece o PODIATRA?


Muitas pessoas que conheço nunca ouvi-
ram falar deste profissional. Por isso, con-
versei com a querida enfermeira Maria Lu-
coveis, especialista nos cuidados dos pés de
pessoas com diabetes e membro do Depar-
tamento de Enfermagem da Sociedade Bra-
sileira de Diabetes: “Podiatria é uma espe-
cialidade da enfermagem que se dedica à
prevenção, tratamento e reabilitação da saú-
Maria Lucoveis: “O meu desejo é
de dos pés. Possui papel importante na vida
que a cultura atual se modifique
das pessoas com diabetes, uma vez que elas e que passemos a enxergar a pre-
apresentam elevado risco de problemas nos venção sob outra ótica. É melhor
pés decorrentes da falta de informações e prevenir do que remediar.”
de cuidados preventivos.”
A neuropatia diabética é uma das complica-
ções mais temidas, pois afeta principalmen- prevenir”. Por isso, não há dúvidas de que
te pernas e pés. A neuropatia periférica leva o melhor caminho para garantir a qualidade
à perda da sensibilidade protetora dos pés, de vida de quem tem diabetes é a educação
expondo estes membros a traumas e feridas e a prevenção.
de difícil cicatrização. Desta conversa tão rica com duas profissio-
Ainda neste contexto, Maria Lucoveis ressal- nais engajadas e comprometidas com a “cau-
ta que a podiatria atua no diagnóstico pre- sa azul”, podemos compreender que, embo-
coce, educando o indivíduo para exercer o ra pareçam ser duas profissões semelhantes,
autocuidado e permitindo que o tratamen- elas são diferentes e se complementam.
to seja feito em tempo hábil. “Nesse proces- A podologia é uma ciência voltada para a
so educativo, o podiatra ensina sobre a im- prevenção, o cuidado e o tratamento de
portância do uso de calçados adequados, doenças dos pés e é extremamente impor-
compartilha os cuidados de caráter preven- tante que o profissional seja especializado
tivo das lesões pré-ulcerativas e das úlceras no atendimento a pessoas com diabetes. Já
já presentes. Assim, é possível evitar ou mi- a podiatria é uma especialidade médica e da 12 mandamentos do pé
nimizar as complicações”, completa a enfer- enfermagem voltada para o diagnóstico e o Fiz um vídeo para o meu Ins-
meira podiatra da SBD. tratamento de problemas relacionados aos tagram com dicas básicas,
pés e tornozelos. mas muito importantes pa-
Prevenção: reparou como as duas Agora que conhecemos essas duas especia- ra você cuidar dos seus pés.
profissionais falaram sobre isso? lidades essenciais nos cuidados dos nossos Confira:
Tanto a podologia quanto a podiatria são ati- pés, fica claro que todas as pessoas com dia-
vidades indispensáveis na promoção, pre- betes precisam ter acesso a esses profissio-
venção e cuidados dos nossos pés. “Desta nais. Portanto, nosso desejo é que mais pro-
forma asseguramos que esforços específi- fissionais sejam capacitados e inseridos na
cos reduzam o desenvolvimento e a gravi- equipe interdisciplinar de saúde, para que
dade desta doença e suas complicações. In- cada um exerça a sua função, trabalhando
felizmente, como bem disse Maria Lucovies, em conjunto em prol do paciente, como cen-
“a nossa cultura ainda é a de tratar e não de tro das atenções que nós somos!

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 45


Monitorar a
glicemia capilar
Como, quando e por quê? Esclareça suas principais dúvidas
sobre este cuidado importante no tratamento do diabetes.

Por Tom Bueno | @umdiabetico


Jornalista e criador do canal Um Diabético na
Internet. Tem diabetes tipo 1 desde 2006
FOTO: JOÃO P. TELES

P
opularmente conhecido como teste fique se a data e o horário estão devidamen-
da ponta de dedo, o exame que ava- te atualizados para que tenha um histórico
lia a glicemia capilar é fundamental cronológico correto. Não se esqueça de que
na rotina de quem convive com dia- é para seu uso exclusivo, pois os resultados
betes, mas ainda é motivo de muitas dúvi- ficam registrados na memória do aparelho.
das: por que de fato preciso fazer esse tes- Por essa razão, você não deve emprestá-lo
te? Qual a frequência? Ele serve para avaliar para ninguém, mesmo sendo da família.
os fios do cabelo? Agora confira as recomendações para fazer
A enfermeira Magda Tiemi Yamamoto, mem- uma boa glicemia capilar:
bro do Departamento de Educação e de En-
fermagem da Sociedade Brasileira de Diabe- 1. Limpe as mãos
tes (SBD), nos conta que já ouviu várias vezes Lave-as com água e sabonete ou realize a
essa última pergunta. Para algumas pessoas, antissepsia com álcool a 70%, removendo
pode parecer algo óbvio, mas a grande par- quaisquer produtos e/ou sujeiras das mãos,
cela da população não está acostumada a es- como alimentos, hidratantes e maquiagens.
ta expressão. Por isso, a enfermeira esclare- “Isso é importante, pois tais produtos po-
ce: “A glicemia está relacionada ao sangue e dem interferir no resultado de forma nega-
capilar se refere ao vaso que fica entre as tiva”, explica Magda.
arteríolas e as vênulas e possuem finas pa- Atenção: o uso do álcool em gel é contraindi-
redes que permitem trocas nutritivas en- cado, pois possui hidratante na composição.
tre sangue e células. Esse vaso tem 5 mícro- Importante: em ambiente hospitalar, a reco-
nes de diâmetro, ou seja, é muito, muito fino mendação é usar álcool a 70%, deixando-o
mesmo. Tão fino que comparamos a um fio evaporar espontânea e totalmente (sem as-
de cabelo. Daí vem o nome capilar”. soprar o local).
O exame ou monitorização da glicemia ca-
pilar pode ser feito em casa, de forma sim- 2. Prepare o material
ples e rápida, com aparelhos portáteis cha- Você vai precisar do glicosímetro, lance-
mados de glicosímetros. Esses monitores de tador e lanceta. Esses dois últimos são im-
glicemia capilar devem ser reconhecidos e portantes para fazer a punção do sangue da
liberados pela Agência Nacional de Vigilân- ponta do dedo.
cia Sanitária (Anvisa). Atenção: a cada teste, uma nova lanceta tem
Caso o aparelho de glicemia seja novo, veri- que ser usada. Não reutilize!

46 DIABETESmagazine · Edição 02
Tratamento

ENVATO ELEMENTS
Glicosímetro Tiras
reagentes

Lancetas

Lancetador

3. Hora de medir cação em diabetes durante as consultas.


• Com o lancetador armado, cheque o ajus- Sempre que um resultado não estiver compa-
te da profundidade: quanto maior o núme- tível com sua percepção no momento, refaça
ro, maior será a profundidade da punção; o exame. Por exemplo, se o resultado do tes-
• Coloque a tira reagente no glicosímetro, te foi muito alto, mas você não está com ne-
que ligará automaticamente; nhum sintoma de hiperglicemia nem acabou
• Seu braço deve ficar abaixo da altura do de comer, em vez de aplicar a insulina imedia-
seu coração, e, antes da punção, faça no tamente, refaça o teste para confirmar o re-
máximo 3 ordenhas do dedo da base pa- sultado, mas antes certifique-se de que suas
ra a ponta; mãos estejam limpas, a tira reagente seja no-
• Puncione a face lateral do dedo, nunca va e a gota de sangue tenha sido o suficiente.
a polpa digital (é uma região dolorida) e Caso o valor da glicemia capilar continue au-
pressione gentilmente para formar a go- mentando, procure seu médico especialista
ta de sangue; e/ou a equipe de educação em diabetes pa-
• Aproxime a tira teste desta gota de san- ra uma análise.
gue, preenchendo totalmente o espaço Valores menores que 55 mg/dL merecem
do reagente conforme orientação do guia muita atenção. Faça a correção desta hipo-
de utilização do glicosímetro. O preenchi- glicemia para que não se potencialize e evo-
mento inadequado gera erro de leitura ou lua para desmaio e convulsão. A melhor for-
resultados falsos; ma de corrigir a hipoglicemia é consumir
• Aguarde o resultado sobre a concentra- 15 g de carboidratos simples, que podem A edição 01 da DIABETES-
ção da glicose (açúcar) nos vasos capila- ser um copo tipo americano (180 a 200 ml) magazine tem uma matéria
res. Ele deve sair em aproximadamente 5 de suco de laranja ou de refrigerante não completa sobre hipoglice-
segundos. diet nem light. Ou se não tiver essas bebidas mia. Confira!
à mão, pode ingerir 3 a 4 sachês de açúcar
4. Analise os resultados ou mel ou consumir 3 balas.
Medir por medir não resolve nada. É preciso
saber o que fazer com o resultado que apa- Resultado estranho?
rece no visor do aparelho. Magda afirma que Se após o teste de glicemia aparecer no vi-
é muito importante ter clareza dos objetivos sor do aparelho a mensagem “HI”, atenção!
das aferições das glicemias capilares e dis- Essas duas letras indicam HIGH, que em in-
cutir os resultados com sua equipe de edu- glês quer dizer “altíssimo”, ou seja, a glice-

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 47


Tratamento

mia deve estar acima de 500 mg/dL. vezes ao dia: antes do café, do almoço e do
Situação de emergência também se o resul- jantar, ao deitar e 2 horas após uma refeição,
tado for “LO”, pois significa que a glicemia es- variável a cada dia.
tá LOW, muito baixa, abaixo do limite indica-
do no aparelho. Em ambos os casos, procure Diabetes pré-gestacional
ajuda médica rapidamente. Toda mulher com diabetes, tanto tipo 1 co-
mo tipo 2, que deseja engravidar deve ser
Quem e quando medir a glicemia? alertada sobre a importância de um controle
A frequência da monitorização está asso- glicêmico estreito antes da concepção. Re-
ciada à melhora da hemoglobina glicada comenda-se uma hemoglobina glicada me-
(HbA1c), exame de sangue que avalia a mé- nor de 6,5% antes da gravidez, visando ao
dia dos últimos três meses. Segundo a Di- menor risco de anomalias congênitas.
retriz da SBD 2019-2020, nas páginas 25 a Após a concepção, aconselha-se monitoriza-
33, as metas glicêmicas para adultos, ges- ção das glicemias capilares pré e pós-pran-
tantes e crianças variam, conforme explica- diais em todas as refeições (em média, sete
mos a seguir: vezes ao dia).
Para adultos com diabetes tipo 2 (DM2): Na gestação, a monitorização mais comum é:
• Em uso de insulina basal ou de antidia- • 1 hora pós-prandial: relacionado com
béticos orais não há evidência científi- melhor controle glicêmico e menor risco
ca sobre a quantidade de testes, por isso, de pré-eclâmpsia;
consulte seu médico para individualizar o • Teste pré-prandial: para ajustes na insuli-
tratamento. De forma geral, recomenda-se na rápida ou ultrarrápida.
quatro medidas ao dia, sempre antes das
refeições principais e antes de ir dormir; Diabetes gestacional
• Em uso de insulina bolus, faça o teste an- No caso da mulher que não tem diabetes,
tes das principais refeições e 2 horas de- engravida e desenvolve o diabetes gestacio-
pois para ajuste da insulina bolus, por- nal, recomenda-se a monitorização quatro
tanto, um total de seis vezes ao dia. Pelo vezes ao dia: em jejum e após as três prin-
menos uma vez por mês, meça de madru- cipais refeições (desjejum, almoço e jantar).
gada (entre 3 e 4 horas). Segundo a Diretriz da SBD, as metas glicêmi-
• Importante: medir em situações espe- cas na gestante são:
ciais, por exemplo, antes e depois de um • Em jejum, igual ou menor que 95 mg/dL;
exercício intenso (para ajustes da insulina • 1 hora após as refeições, igual ou menor
e da ingestão de carboidratos). Se estiver que 140 mg/dL ou
doente, aumente a frequência dos testes • 2 horas após as refeições, igual ou menor
para prevenir crises hiperglicêmicas. que 120 mg/dL.
Para paciente com diabetes tipo 1 (DM1): A seção Conexão Médica da DIABETESma-
a recomendação do Centro de Referência gazine edição 01 trouxe todas as informa-
e Diabetes da Universidade Federal de São ções atualizadas para o diagnóstico e con-
Paulo (Unifesp) é monitorar a glicemia cinco trole do diabetes gestacional.
ENVATO ELEMENTS

48 DIABETESmagazine · Edição 02
Quero começar a fazer
exercícios, mas e aí?
Existe uma avaliação inicial necessária ou alguma restrição para
quem tem diabetes?

Por Dra. Dhiãnah Santini | @dra.dhianah_santini


Mestre e doutora em Endocrinologia pela UFRJ. Coordenadora
do Dep. de Educação em Diabetes e Campanhas da SBD
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

E
m primeiro lugar, parabéns pela deci- • Crianças e adolescentes com diabetes ti-
são. Atividade física traz diversos be- po 1, tipo 2 ou pré-diabetes devem pra-
nefícios para a saúde, como a melho- ticar diariamente 60 minutos ou mais de
ra do controle da glicemia, a redução atividade aeróbica de intensidade mode- A cada 30 minutos
dos fatores de risco cardiovascular, como rada ou vigorosa, além de exercícios para sentado, levante-se
colesterol e hipertensão, e a perda de peso, fortalecimento muscular e ósseo pelo me-
e movimente-se. Isso
além de aumentar a sensação de bem-estar nos 3 dias por semana. Não há necessida-
e promover mais qualidade de vida. des de fazer avaliações específicas. faz muito bem para a
Apesar de todas essas vantagens, infeliz- • Todos os adultos com diabetes devem glicemia.
mente, menos de 45% dos adultos atingem praticar pelo menos 150 minutos por se-
a meta recomendada de andar pelo menos mana de atividades aeróbicas (como ca-
150 minutos por semana. Por isso, se você minhada, corrida, natação) de intensidade
decidiu que é hora de sair do sedentarismo, moderada a vigorosa. É possível distri-
está no caminho certo. buir esse tempo da seguinte forma: 50
Em relação às perguntas, depende. Depen- minutos por dia 3 vezes na semana ou
de da idade, da presença de outras doenças, 30 minutos por dia 5 vezes na semana.
como obesidade e hipertensão, da existên- Só não fique mais do que 2 dias seguidos
cia de sintomas e até mesmo do tipo e in- sem atividade física para não comprome-
tensidade de exercício que você se propõe a ter o controle do diabetes. Além disso, é
fazer. Algumas orientações, no entanto, ser- importante fazer exercícios de resistên-
vem para todos. cia (treinos com peso para fortalecimento
A primeira delas é marcar uma consulta dos músculos). O ideal são sessões de 30
com o médico para ele fazer uma avaliação minutos ou mais por dia.
individualizada e indicar os exames espe- • Adultos capazes de correr a 9,7 km/hora
cíficos para você. Alguns são básicos e fun- por pelo menos 25 minutos podem se be-
damentais para pessoas com diabetes, como neficiar bastante de atividades mais cur-
glicemia, hemoglobina glicada, avaliação da tas com maior intensidade (75 minutos
função renal, eletrocardiograma de repouso, por semana).
fundo de olho e exame dos pés. • Ao longo do tempo, as atividades devem
A seguir, destaco as recomendações da As- progredir em intensidade, frequência e/ou
sociação Americana de Diabetes (2022): duração para pelo menos 150 minutos

50 DIABETESmagazine · Edição 02
Em Movimento

por semana de exercício de intensidade contraindicação, elas devem ser incentiva-


moderada. das a fazer pelo menos duas sessões sema-
• Mulheres com diabetes preexistente, nais de exercícios resistidos.
particularmente diabetes tipo 2, e aque- Quem tem diabetes tipo 1 também se be-
las em risco ou com diabetes gestacional neficia desta combinação de aeróbicos e re-
devem ser aconselhadas a praticar ativi- sistidos, mas deve-se ficar atento quanto à
dade física moderada regular antes e du- resposta glicêmica, que varia conforme o
rante a gravidez, conforme tolerado. Isso exercício. Tanto o planejamento dos exercí- Para todas as idades
é superimportante para a saúde da mãe cios quanto os ajustes de insulina e de car- No canal DiabetesPlay da
e do bebê! boidratos devem ser feitos pelo médico para SBD você pode assistir a um
• Idosos com diabetes podem fazer treinos sua segurança e melhor controle da glicose. bate-papo que conduzi com
de flexibilidade e de equilíbrio de 2 a 3 dois jovens que têm diabe-
vezes por semana. Yoga, tai chi, pilates e Exercício na presença de compli- tes tipo 1 e são adeptos da
alongamentos são ótimas opções. cações microvasculares atividade física: Bruno Hel-
man e Daniela Olmos.
Não fique parado! Retinopatia
Evidências recentes sustentam que todos Os exercícios aeróbicos ou de resistência de
os indivíduos, incluindo aqueles com diabe- intensidade vigorosa podem ser contraindi-
tes, devem reduzir a quantidade de tempo cados para pessoas com retinopatia diabéti-
sedentário, por exemplo, sentado na fren- ca devido ao risco de desencadear hemorra-
te do computador ou assistindo televisão. A gia vítrea ou descolamento de retina. Nesses
cada meia hora, levante-se e fique um bre- casos, é fundamental consultar um oftalmo-
ve tempo em pé, caminhe pelo escritório ou logista antes de iniciar os exercícios.
pela casa, nem que seja para buscar água
na cozinha. Neuropatia periférica
Exercícios de resistência, isto é, aqueles com A sensação de dor diminuída e um início de
pesos livres ou feitos em aparelhos de mus- dor mais intensa nas extremidades dos pés
culação, são recomendados para melhorar a podem resultar em um risco aumentado de
força, o equilíbrio e o controle glicêmico. Es- ruptura da pele, infecção e destruição da ar-
tudos já demonstraram que a combinação ticulação de Charcot com algumas formas de
deles com exercícios aeróbicos é ideal para exercício.
pessoas com diabetes tipo 2. Se não houver Por isso, uma avaliação minuciosa deve ser
ENVATO ELEMENTS

A combinação de
exercícios aeróbicos e
de resistência é ideal
para pessoas com
diabetes.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 51


Em Movimento

feita para garantir que a neuropatia não al- meio da diminuição da resposta cardíaca ao

ANDRÉ VIEIRA
tere a sensação cinestésica durante a ativi- exercício, queda excessiva da pressão arte-
dade física, principalmente naqueles com rial (hipotensão postural) e visão noturna
neuropatia mais grave. prejudicada.
Estudos mostraram que caminhadas de in- Por sua vez, a neuropatia autonômica car-
tensidade moderada podem não levar a diovascular também é um fator de risco in-
um risco aumentado de úlceras nos pés dependente para morte cardiovascular e
em pessoas com neuropatia periférica que isquemia miocárdica silenciosa. Portanto, in-
usam calçados adequados. Além disso, 150 divíduos com neuropatia autonômica diabé-
minutos por semana de exercício moderado tica devem passar por investigação cardíaca
já melhora os resultados em pacientes com antes de iniciar atividade física mais inten-
neuropatia diabética. Portanto, todos os in- sa do que aquela a que estão acostumados.
divíduos com diabetes devem usar calçado
adequado e examinar os pés diariamente Doença Renal Diabética (DRD)
para detectar lesões precocemente. A atividade física pode aumentar aguda-
Já pessoas com qualquer lesão no pé ou fe- mente a excreção urinária de albumina. No Assim como o Igor, também
rida aberta devem ser restritas a atividades entanto, não há evidências de que exercí- amo pedalar! Por isso, re-
que não suportem peso. cios de intensidade vigorosa acelerem a ta- comendo o esporte para
xa de progressão da DRD, e parece não ha- meus pacientes e leitores
Neuropatia autonômica ver necessidade de restrições específicas de da DIABETESmagazine!
Ela pode aumentar o risco de lesão induzi- exercícios para pessoas com DRD em geral.
da pelo exercício ou eventos adversos por

A vida sobre duas rodas


Fazer exercícios físicos é parte fundamen- go que até então era por lazer, virou roti-
tal do tratamento do diabetes, mas nem na, e hoje meus dias giram em torno dos
todo mundo faz por obrigação. O segredo treinos no ciclismo, o que me ajuda a man-
é escolher uma atividade ou esporte que ter o controle do diabetes e o corpo sau-
você goste. Assim, será mais fácil afastar o dável”, conta.
sedentarismo.
Corrida, futebol, natação e ciclismo são al-
ARQUIVO PESSOAL

gumas opções. O engenheiro de produção


Igor Frem Siggelkow, de 31 anos, diagnos-
ticado com diabetes tipo 1 em 2017, já
praticou todas essas modalidades e esco-
lheu a bike como mais uma aliada do con-
trole glicêmico.
“O ciclismo surgiu na minha vida um pou-
co antes da pandemia, de maneira recrea-
tiva. Com as academias fechadas, senti a
necessidade de fazer um esporte ao ar li-
vre e comprei minha primeira bicicleta de
estrada com alguns amigos", explica Igor.
"Com o passar dos dias, esses amigos di-
minuíram a frequência com que pratica-
vam o esporte, ao contrário de mim, que
me envolvi cada vez mais. Foi então que
outro amigo me levou para treinar com o
grupo dele, do qual faço parte até hoje. Al-

52 DIABETESmagazine · Edição 02
Você costuma ler os
rótulos dos alimentos?
Saiba como este hábito pode ajudar no controle glicêmico e na sua saúde.

Por Marlice Marques | @nutrimarlicemarques


Nutricionista e membro do Dep. de Nutrição da SBD
e Martha Amodio | @nutrimarthaamodio
Nutricionista e membro do Dep. de Educação da SBD
FOTOS: DIVULGAÇÃO

C
hamar alguém de diabético porque principal objetivo dessa atualização é permi-
ele foi diagnosticado com essa con- tir que os consumidores possam fazer esco-
dição não é adequado. De acordo lhas mais conscientes do que estão compran-
com um consenso das instituições do, tornando a rotulagem nutricional de mais
da área, a linguagem importa e o mais em- fácil entendimento e usabilidade.
pático é dizer que a pessoa tem ou convive
com diabetes em vez de pregar-lhe um ró- Conheça a nova rotulagem nutri-
tulo. Mas existem rótulos que são muito po- cional:
sitivos e devemos usar. É o caso dos rótulos
dos alimentos, que indicam quais ingredien- 1) Rotulagem nutricional frontal: esta é a
tes foram utilizados para fazer aquele pro- maior novidade das novas regras. Cada pro-
duto, o quanto ele tem de nutrientes e se duto deve trazer na parte da frente do rótulo
ele é contraindicado a alérgicos devido a al- um símbolo informando se ele tem alto teor
gum componente, por exemplo. de açúcar adicionado, gordura saturada e/ou
Ou seja, os rótulos dos produtos servem pa- sódio. Essa informação deve vir acompanha-
ra auxiliar na escolha do que comprar, assim da de uma lupa, assim:
podemos priorizar alimentos industrializa-
dos de melhor qualidade na composição. No
entanto, os atuais rótulos apresentam uma
série de dificuldades de leitura e interpreta-
ção por parte do consumidor.
A grande e esperada mudança regulatória
do ano de 2022 será com a entrada das le-
gislações RDC nº 429 e IN nº 75, ambas de
2020, que dispõem sobre a nova rotulagem
nutricional de alimentos no Brasil.
Produtos lançados a partir de 9 de outubro
de 2022 devem estar com os rótulos adequa-
dos às novas regras. Para os itens que já es-
tavam no mercado, as empresas terão prazos
variáveis de até 36 meses para se adequar. O

54 DIABETESmagazine · Edição 02
Nutrição

2) O símbolo da lupa deverá ser aplicado na 3) Será obrigatória a veiculação da lupa com
frente da embalagem, na parte superior, por indicação de um ou mais nutrientes, confor-
ser uma área facilmente capturada pelo nos- me o caso, quando os alimentos apresenta-
so olhar. rem as seguintes quantidades de nutrientes:

Alimentos sólidos
Alto conteúdo de Alimentos líquidos
e semissólidos
15 g ou mais por 7,5 g ou mais por
Açúcar adicionado
100 g de alimento 100 ml de alimento
6 g ou mais por 3 g ou mais por
Gordura saturada
100 g de alimento 100 ml de alimento
600 mg ou mais por 300 mg ou mais por
Sódio
100 g de alimento 100 ml de alimento
Fonte: https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/noticias-anvisa/2022

4) A tabela de informação nutricional pas- 6) A tabela deverá estar localizada, em geral,


sa a ter apenas letras pretas e fundo branco. próxima à lista de ingredientes e em super-
O objetivo é afastar a possibilidade de uso fície contínua, não sendo aceita divisão. Ela
de contrastes que atrapalhem a legibilidade não poderá ser apresentada em áreas enco-
das informações. bertas, locais deformados ou regiões de di-
fícil visualização. A exceção só se aplica aos
5) Será obrigatório constar a declaração produtos em embalagens pequenas (área de
de açúcares totais e adicionados (letra A rotulagem inferior a 100 cm²), nos quais a
na figura), valor de nutrientes por 100 g ou tabela poderá ser apresentada em áreas en-
100 ml (letra B), percentual de valor ener- cobertas, desde que acessíveis.
gético por dia (letra C), bem como o número
de porções por embalagem (letra D). Tudo is- 7) Alegação nutricional: é qualquer infor-
so para ajudar na comparação de produtos. mação que o fabricante coloca no rótulo pa-
ra destacar uma propriedade específica ou
diferencial do alimento. Exemplo: não con-
INFORMAÇÃO NUTRICIONAL tém açúcares, sem gorduras trans, baixo em
Porções por embalagem: 000 porções calorias, fonte de cálcio, alto teor de fibras e
D Porção: 000 g (medida caseira)
rico em ferro.
100 g 000 g %VD* A nova regra não permite fazer alegação so-
bre um ingrediente que seja rotulado com a
Valor energético (kcal)
lupa frontal. Exemplo: alimentos com rotula-
Carboidratos totais (g) gem frontal de gordura saturada não pode
B ter alegações para gorduras totais, gorduras
Açúcares totais (g)
A trans, colesterol.
Açúcares adicionados (g)
Proteínas (g)
SHUTTERSOTCK

Gorduras totais (g)


Gorduras saturadas (g)
Gorduras trans (g)
Fibra alimentar (g)
Sódio (mg)
*Percentual de valores diários fornecidos pela porção.
C

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 55


Saiba escolher dade em primeiro lugar e o de menor quan-
Preparamos algumas dicas que vão ajudar tidade em último.
você na escolha de um alimento industria- Atenção: quanto MENOR a lista, melhor.
lizado. Evite: produtos que contenham açúcar, glu-
tamato monossódico, corante caramelo e
Lista de ingredientes outros corantes artificiais, além de aditivos
A lista de ingredientes deve estar em ordem químicos.
decrescente, com aquele de maior quanti-
KARIM SCHARF

Quanto mais simples, melhor! ção melhor do quanto há de açúcar, óleo ou


Se o produto possui uma lista enorme de in- farinha refinada no alimento.
gredientes ou nomes muitos estranhos, isso
não é um bom sinal. Nomes estranhos são, Na prática: ao comparar duas geleias com
na sua maioria, aditivos químicos ou compo- ingredientes semelhantes pelo valor calóri-
nentes adicionados pela indústria para au- co ou pela quantidade de carboidratos, você
mentar o sabor, a durabilidade, dar cor e não saberá qual tem mais açúcar.
são benéficos à saúde. Ao comparar dois pães que usam farinha in-
tegral e refinada, é possível saber qual tem
Olhe sempre a tabela nutricional mais da farinha integral pelo teor de fibra.
(aquela com os números).
Às vezes os números não significam mui- De olho no sódio
to, pois a qualidade do produto é principal- Você já deve saber que o excesso de sódio
mente identificada na lista de ingredientes. precisa ser evitado, mas o que seria excesso?
Mas a tabela pode ajudar no caso de produ- Para ter um parâmetro existe uma dica bem
tos semelhantes ou mesmo para ter a noção fácil: a quantidade de sódio não pode ser
da quantidade de sal, açúcar e fibras. maior que o valor calórico, ou seja, deve ha-
ver no máximo 1 mg de sódio por kcal.
Compare!
Se você possui produtos com lista de ingre- Atenção: sódio não é sinônimo de alimen-
dientes semelhantes, faça comparações nu- to salgado. Muitos alimentos doces também
méricas das informações nutricionais. Por têm alto teor de sódio.
exemplo, o valor calórico pode dar uma no-

56 DIABETESmagazine · Edição 02
Nutrição

É rico em fibras mesmo? Diferença entre diet, light e zero KARIM SCHARF

O teor de fibra é mais importante nos ali- Nutriente pode ser açúcar, gordura, caloria,
mentos que levam farinha (bolos, pães, bis- sódio, proteína, entre outros. Tendo isso em
coitos), naqueles à base de cereais (grano- mente, lembre-se:
la ou barra de cereal) e nos produtos à base • Light: quando há redução de pelo menos
de frutas. 25% de algum nutriente presente no ali-
Para analisar, quanto mais carboidrato, mais mento original.
fibra ele precisa ter. • Diet: quando o alimento não tem um de-
A relação ideal é de, pelo menos, 5:1. terminado nutriente.
Ou seja, para cada 5 g de carboidrato, deve • Zero: quando há redução de calorias e
haver 1 g de fibra. não há algum nutriente. Ou seja, produtos
Você vai notar que são poucos os que atin- zero nem sempre são zero açúcar.
gem o ideal. Escolha o menos ruim, com pe-
lo menos 3 g de fibra por porção. Atenção: produtos que trazem a informação
sem açúcar, diet, zero não estão liberados
Procure o T na embalagem para pessoas com diabetes. Você precisa se-
A presença do T em um triângulo amare- guir as dicas que aprendeu aqui para poder
lo significa que há na fórmula ingredientes entender se realmente vale a pena investir
transgênicos. Convém evitar sempre que nesse alimento.
possível!
Cuidado
Diferença entre Produtos com a mensagem “não possui açú-
Declarado x Real car adicionado” podem ter açúcar em algum
A lei admite o fabricante ter uma variação de componente da fórmula, como a maltodex- Acesse o perfil no Instagram
20% para mais ou para menos em caloria e trina, por exemplo. Fique atento! @ desrotulandoapp
nutrientes declarados no rótulo.
Isto significa que, se uma porção é declara- Baixe este app
da como tendo 10 g de carboidrato, ela po- Quer tornar a análise prática e divertida? Tes-
de ter entre 8 g e 12 g, na realidade uma te o aplicativo Desrotulando e acompanhe o
variação de até 50% a mais entre uma e perfil deles no Instagram (@desrotulandoapp),
outra. É absurdo, mas está de acordo com pois trazem muitos comparativos de produ-
a legislação. tos e pegadinhas da indústria.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 57


Nutrição

Receita
Para finalizar, segue uma receita simples e saborosa que você pode fazer em casa.

BOLO DE CANECA
Rendimento: 02 porções

Ingredientes: Informações nutricionais por porção:


1 banana média (40 g) Calorias: 87 Kcal DICA:
1 ovo de galinha cru (50 g) Carboidratos: 12 g Para mais receitas, acesse
1 colher (sopa) cheia de aveia (15 g) Fibras: 0,8 g a área de Nutrição no site
1 colher (café) cheia de canela em pó (4 g) Proteínas: 4,2 g da SBD.
1 colher (chá) cheia de fermento em pó (3 g) Gorduras totais: 2,7 g
Gorduras saturadas: 0,8 g
Modo de preparo: Sódio: 179 mg
Em uma tigela, misture a banana amassada,
o ovo e a aveia. Por último, adicione o fer-
mento. Unte a caneca e coloque a massa.
Leve ao micro-ondas por 1 minuto.

SHUTTERSOTCK

58 DIABETESmagazine · Edição 02
Consultas médicas
à distância
Regulamentada definitivamente no Brasil em maio de 2022,
a telemedicina traz muitas vantagens para médicos e pacientes.

Por Dr. Marcio Krakauer | @marciokrakauer


Coordenador do Dep. de Saúde Digital, Telemedicina
e Inovação em Diabetes da SBD
FOTO: KARIM SCHARF

N
a edição passada da DIABETESma- Isso é uma ótima notícia, pois significa que
gazine, o Dr. André Vianna apresen- todos nós podemos seguir usando o smart- Colaboradores desta seção
tou as tecnologias usadas no dia a phone, o computador e outros dispositivos e membros do Dep. de Saú-
dia do tratamento, como canetas de eletrônicos para cuidar melhor da saúde. de Digital, Telemedicina e
aplicação de insulina, bomba de infusão de No entanto, algumas dúvidas ainda ficam no Inovação em Diabetes da
insulina, glicosímetros e sensores de glicose. ar. Será que é mesmo seguro fazer uma con- SBD:
Hoje vamos falar sobre os benefícios da te- sulta médica pelo smartphone? Como pode-
lemedicina e como ela vem encurtando dis- mos ter certeza de que os dados não serão
tâncias, ajudando a melhorar a saúde das vazados?
pessoas e facilitando o dia a dia. Eu digo “va- Em primeiro lugar, é importante saber que
mos” porque não escrevi este texto sozinho. a teleconsulta, quando médico e paciente Dr. Flavio Pirozzi
Contei com a ajuda dos colegas Dr. Flavio Pi- estão em lugares geográficos diferentes, é @fpirozzi.endocrino
rozzi, Dra. Laura Cudizio e Dra. Vanessa Mon- apenas uma das possibilidades da TM. Exis- FOTO: ARQUIVO PESSOAL
tanari, do Dep. de Saúde Digital, Telemedici- tem ainda a teleinterconsulta (entre profis-
na e Inovação em Diabetes. sionais), a teleorientação e teletriagem, o te-
Vamos lá então: telemedicina (TM) é o exer- lemonitoramento, o telediagnóstico e até a
cício da medicina mediado por tecnologias telecirurgia, feita por robôs.
para fins de assistência, educação, pesqui- A relação médico-paciente e a postura do
sa, prevenção de doenças, lesões e promo- médico perante à TM são fatores essenciais Dra. Laura Cudizio
ção de saúde. Devido à crise provocada pela para que haja sucesso nesta modalidade de @lauracudizio
pandemia de Sars-Cov-2 (Covid-19), a tele- serviço. A telemedicina é segura quando vá- FOTO: ARQUIVO PESSOAL
medicina teve sua regulamentação tempo- rios requisitos são providenciados pelo mé-
rária por meio da Lei 13.989, de 15 de abril dico com antecedência. São eles: Termo de
de 2020. Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE);
O Conselho Federal de Medicina (CFM) apro- consulta de triagem e pré-consulta pela In-
vou e, em 05 de maio de 2022, foi publicada ternet, que pode ser realizada pela secretá-
a resolução nº 2.314/2022, que define e re- ria; e software e hardware adequados e com Dra. Vanessa Montanari
gulamenta definitivamente a telemedicina senha para o invite – convite enviado por @medicaendocrino
no Brasil como forma de serviços médicos e-mail para o paciente. FOTO: ARQUIVO PESSOAL
mediados por tecnologias da comunicação. Para fazer uma consulta on-line, o médico

60 DIABETESmagazine · Edição 02
Tecnologias

deve ter o Registro de Qualificação de Espe- de telecomunicação. Existe também a pos-


cialista (RQE) e o Certificado Digital (ICP-Bra- sibilidade de compartilhamento de exames
sil) para documentação de dados do pacien- laboratoriais pelo paciente ou pelo médico.
te, do médico e da consulta em prontuário No caso de diabetes, podemos compartilhar O sigilo e a privacida-
eletrônico. Atenção: os dados devem ser re- dados de glicose e parâmetros de sensores de de dados devem
gistrados também em prontuário físico co- e bombas de infusão de insulina disponíveis
mo uma consulta presencial. em tempo real para tomada de decisão so-
ser mantidos na tele-
Quem vai passar na consulta também deve bre adesão e comportamento da pessoa com medicina da mesma
se preparar. É recomendado se conectar pe- diabetes perante o tratamento proposto. forma que em uma
lo menos 10 minutos antes da hora marca- consulta presencial.
da, checar se o computador ou telefone es- Quais ferramentas são usadas ho-
tão com baterias carregadas e se a conexão je para teleconsulta?
está boa. Na consulta à distância, o paciente Durante a pandemia, diversas plataformas
pode e deve tirar todas as dúvidas, afinal, o fáceis de usar e bastante intuitivas ficaram
médico estará lá do outro lado à disposição. conhecidas. De forma gratuita, utilizamos o
Microsoft Teams, o Google Meets, o Zoom, o
Como é feita uma consulta on-line? Skype e uma ampla gama de aplicativos es-
Na TM, o médico deve seguir o roteiro de pecializados em prontuário eletrônico que
uma boa anamnese, perguntar sobre a quei- oferecem a plataforma de telemedicina, po-
xa principal da pessoa, histórico familiar, se rém de forma paga pelo médico.
pratica atividade física, se usa tabaco, subs-
tâncias ilícitas e outras informações relevan- Fazer uma consulta usando aplica-
tes para o caso do paciente. A balança do- tivos de conversa pelo celular, co-
miciliar e os aparelhos para aferir glicemia mo WhatsApp, é telemedicina?
capilar e pressão arterial são ótimos alia- Conforme o Artigo 2º da regulamentação da
dos da teleconsulta. TM pelo CFM, descrita anteriormente, a te-
lemedicina é permitida em multimeios de
É possível avaliar bem o paciente tecnologia digital e de informação, sem res-
mesmo à distância? trições, devendo-se manter o sigilo e a pri-
Sim! Conseguimos avaliar cor da pele, fala, vacidade de dados da mesma forma que em
orientação tempo-espaço (cognição) e até uma consulta presencial.
respiração do paciente com um bom meio Porém, estudos realizados para a Lei Geral
ENVATO ELEMENTS

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 61


Tecnologias

de Proteção de Dados (LGPD) mostraram controle glicêmico.


que dados de WhatsApp, apesar de serem De forma geral, a TM aproxima o profissio-
criptografados, são muito fáceis de terem nal de saúde do paciente, reduz custos, pois
vazamentos e dificuldade de sigilo, e, por- não há necessidade de deslocamentos, au- Durante a pandemia,
tanto, esses tipos de aplicativos deveriam xilia melhores resultados, levando medicina
diversas plataformas
ser evitados. para lugares distantes onde não há especia-
listas em saúde. fáceis de usar e bas-
Tem como emitir receita médica tante intuitivas fica-
ou atestado pela teleconsulta? E os desafios? ram conhecidas.
Sim, desde que o médico tenha RQE, certifi- Eles existem, claro, afinal a telemedicina
cado e assinatura digital (ICP-Brasil), muito tem limitações, como a impossibilidade de
fácil de ser adquirida e com desconto pelo avaliar a linguagem corporal via telefone ou
site do Conselho Federal de Medicina. outra forma digital. Além disso, algumas pes-
soas preferem o atendimento presencial, so-
Só vi vantagens bretudo em situações específicas, como na
De fato, são inúmeros os benefícios da TM. introdução de insulina, por exemplo. Por is-
Em diabetes, por exemplo, facilita o auto- so, é sempre bom avaliar cada caso, saben-
manejo, auxilia no processo educativo, fa- do que na dificuldade ou impossibilidade de
vorecendo à pessoa com diabetes maior a pessoa ir até o médico e vice-versa, há a
empoderamento em relação ao próprio tra- opção de se encontrarem on-line e ao vivo.
tamento. Com isso, ela se sentirá mais segu- A saúde agradece!
ra, menos ansiosa e estressada, ajudando no
ENVATO ELEMENTS

E você?
Já passou por uma tele-
consulta? Envie uma men-
sagem para o Instagram
(@diabetessbd) ou Face-
book (@SBD.Diabetes) con-
tando sua experiência. Ela
pode ser publicada em edi-
ções futuras da DIABETES-
magazine.

62 DIABETESmagazine · Edição 02
CONEXÃO
MÉDICA
Os conhecimentos acadêmico e científico
são elementares para qualquer profissional
de saúde. No entanto, em um país com um
dos sistemas de saúde pública mais abran-
gentes do mundo, mas que possui inúmeras
deficiências, principalmente em relação a
tratamentos especializados, atender aos pa-
cientes de forma efetiva nem sempre é su-
ficiente para gerar o impacto necessário na
sociedade e alterar o curso de prognósticos
desfavoráveis de doenças crônicas, como o
diabetes.
A empatia, a visão empreendedora, a criati-
vidade e, sobretudo, o senso de responsa-
bilidade social são competências socioe-
mocionais (soft skills) que podem ser tão
importantes quanto as competências técni-
co-científicas (hard skills), quer sejam para
médicos especialistas ou generalistas.
A Conexão Médica desta edição vai mostrar
um desses projetos que têm potencial para
transformar vidas.

O tema desta edição é:

Retinopatia
Diabética
ENVATO ELEMENTS

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 63


Retinopatia diabética
Conheça o Projeto Oftalmologista Amigo do Jovem com Diabetes e
ajude a prevenir uma das complicações mais graves da condição.

Por Paulo Bettio | @paulo_bettio


Publicitário e gerente da DIABETESmagazine
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

N
a maioria dos países, a retinopatia uma amostra de 824 pessoas com diabetes
diabética (RD) está entre as princi- tipo 2 (DM2) na população brasileira foi de Confira o capítulo da Dire-
pais causas de cegueira na popu- 37,3%. Esses números mostram que o atra- triz Oficial da SBD sobre o
lação em idade ativa, sendo con- so no diagnóstico da RD constitui a princi- manejo da Retinopatia Dia-
siderada uma complicação microvascular pal causa de perda visual evitável na popu- bética.
comum e específica do diabetes mellitus. lação economicamente ativa. Como se não
Para se ter uma ideia do cenário preocu- bastasse, a RD está consistentemente asso-
pante, uma meta-análise de 35 estudos com ciada a outras complicações do diabetes, co-
mais de 20 mil pacientes, estimou as preva- mo doença renal, acidente vascular cerebral
lências de RD, edema macular (EMD) e RD (AVC) e doença cardiovascular.
com risco de perda de visão respectivamen- Existem dois tipos de RD: a não proliferati-
te em 34,6%, 6,8% e 10%. va, que é o estágio inicial e menos grave da
Outro estudo com 1.644 pessoas com dia- doença; e a proliferativa, com risco de com-
betes tipo 1 (DM1) e mau controle glicêmico prometimento visual, além de ser forte pre-
(HbA1c média de 9%) encontrou prevalên- ditora para doença arterial periférica, que
cia de 35,7% de RD, 12% de quadros graves pode levar à ulceração e à amputação dos
e 2,7% de EMD. Já a prevalência de RD em membros inferiores.
ENVATO ELEMENTS

Imagens comparam a visão nor-


mal e a visão de uma pessoa com
retinopatia diabética (à direita).

64 DIABETESmagazine · Edição 02
Conexão Médica

A boa notícia é que o diagnóstico e o trata- Idealizado pela endocrinologista Dra. Solan-
mento precoces melhoram o prognóstico e ge Travassos, vice-presidente da Sociedade
reduzem o risco de dano visual irreversível. Brasileira de Diabetes, o projeto conta com
Mas para conscientizar a população sobre as a colaboração de vários médicos oftalmo- Nunca é demais falar
formas de prevenção da RD e minimizar os logistas, entre eles o Dr. Fernando Malerbi, sobre prevenção.
impactos dela é preciso ir além do que está coordenador do Departamento de Doenças
disponível nos canais e nos modelos tradi- Oculares da SBD.
cionais de assistência à saúde. A DIABETESmagazine conversou com a Dra.
Para isso foi criado o Projeto Oftalmologis- Solange Travassos e com o Dr. Fernando Ma-
ta Amigo do Jovem com Diabetes, que pre- lerbi para entender melhor o Projeto.
tende mudar a trajetória de muitas vidas.
ARQUIVO PESSOAL

ARQUIVO PESSOAL

“É inadmissível um jovem perder a vi- “Metade das pessoas com diabetes


são por causa do diabetes. Quanto não sabe que a retina pode estar aco-
mais precoce o diagnóstico for, me- metida. Vamos contar para elas que
lhor será o resultado do tratamento”, em 95% dos casos é possível tratar”,
diz a Dra. Solange Travassos, idealiza- declara Dr. Fernando Malerbi, coorde-
dora do Projeto. nador do Dep. de Doenças Oculares
da SBD.

Perdeu o evento de lan-


çamento do Projeto? Você
pode assistir agora no Dia-
O que é o Projeto Oftalmologista cegueira em pacientes jovens. É muito triste betes PLAY.
Amigo do Jovem com Diabetes? ver uma pessoa na segunda ou terceira dé-
É um projeto assistencial, gratuito, que ofe- cada de vida já com uma deficiência visual
rece rastreamento da retinopatia diabética grave em consequência de um tratamento
para jovens com diabetes que estejam com inadequado e da falta de acesso ao diagnós-
dificuldades de acesso ao oftalmologista. tico precoce da retinopatia.

Qual é o principal objetivo dele? Como o Projeto funciona na prática?


É prevenir a retinopatia grave com risco de Criamos o site www.oftalmoediabetes.com.br

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 65


Conexão Médica

para cadastrar pessoas com diabetes e oftal- Quem são os parceiros?


mologistas voluntários. A SBD, o Conselho Brasileiro de Oftalmologia Acesse o site do Projeto
Além do cadastro direto no site, os jovens (CBO), a Sociedade Brasileira de Oftalmologia Oftalmologista Amigo do
de 10 a 24 anos com diabetes podem ser (SOB), a Sociedade Brasileira de Retina e Ví- Jovem com Diabetes e par-
encaminhados ao Projeto pelos médicos ou treo (SBRV) e a Associação de Pacientes com ticipe!
por associações. Ao recebermos o cadastro, Diabetes do Rio de Janeiro (Adila). A ideia é
entramos em contato para validar os dados. ampliar as parcerias e engajar mais pessoas,
Depois disso, o jovem está liberado para a fim de gerar um grande impacto social. Para
agendar uma consulta com um oftalmolo- isso precisamos de apoio financeiro.
gista parceiro e realizar exames gratuitos de
rastreamento da retinopatia através do ma- Como os oftalmologistas podem
peamento da retina ou de uma foto do fun- aderir?
do de olho. Além do cadastro direto no site, os oftalmo-
logistas podem ingressar no Projeto através
Esse acompanhamento dura quan- das entidades parceiras: CBO, SOB e SBRV.
to tempo?
O paciente continua no Projeto até comple- Qual a visão de médio e longo pra-
tar 24 anos de idade, realizando anualmen- zos para o Projeto? Depoimento
te o rastreamento da retinopatia e receben- Os objetivos do Projeto transcendem o “Quero agradecer ao Proje-
do educação em diabetes. atendimento especializado, pilar fundamen- to, pois possibilitou que o
O Projeto não envolve o tratamento da reti- tal a ser alcançado no curto prazo. Ao pro- meu filho, Matheus, fizes-
nopatia, mas caso algum problema seja de- porcionar o acesso de jovens com diabetes se o exame de retinopatia.
tectado, o paciente é orientado e encami- a médicos especialistas, este Projeto certa- Ele foi muito bem atendido
nhado para o tratamento no Sistema Único mente deixará como legado o aspecto edu- e o exame foi realizado em
de Saúde (SUS). cativo e a ênfase na prevenção das compli- um consultório com estru-
cações do diabetes. tura de excelência! Não te-
Onde o Projeto está disponível? Por tudo isso, esperamos que o Projeto se- mos palavras para agrade-
No momento, ele funciona somente na capi- ja adotado por gestores de saúde dentro de cer à Adila-RJ e à Dra. Aline
tal do Rio de Janeiro, mas nossa meta é levar uma linha integrada de cuidado, afinal a pre- Vieira, oftalmologista que
a iniciativa para várias cidades, pois o dese- venção da cegueira secundária ao diabetes nos atendeu”, disse Simo-
nho do Projeto permite uma grande capila- proporciona ganho para todos os envolvi- ne, mãe do Matheus Bron
ridade, ou seja, podemos ter oftalmologistas dos: pessoas com diabetes, profissionais de da Silva, de 23 anos.
voluntários em todo o país. saúde e a sociedade em geral.
RENATA SAUDA

A cantora Paula Toller tem


diabetes tipo 1 desde 2009 e é
embaixadora do Projeto Oftal-
mologista Amigo do Jovem com
Diabetes.

66 DIABETESmagazine · Edição 02

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