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Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

REPÚBLICA DE ANGOLA
MINISTÉRIO DA SAÚDE
DIRECÇÃO NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA

MANUAL DE
Diabetes
PARA PROFISSIONAIS DE SAÚDE

Luanda, 2020

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Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

FICHA TÉCNIVA

Equipa de elaboração Eunice Sebastião


António Armando Fátima Solange Catita
Anselmo Castela Natália da Conceição
Adriana Nicolau
Constâncio João Colaboração:
Eunice Sebastião Sociedade Angolana de Endocrinologia,
Fátima Solange Catita Diabetes Metabolismo (SAEDM)
Maria Stella Cristiano Colégio de Especialidade de
Morgada Coelho Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo
Natália Conceição
Noélia Teixeira Equipa de Coordenação
Rosa Cardoso Natália da Conceição
Sabrina Cruz Anselmo Castela
Eunice Sebastião
Equipa de apoio administrativo: António Armando
Fátima Solange Catita Joseth Sousa
Dúnia Viegas Kumayingi Vanza

Equipa técnica: Capa e Design gráfico:


Anselmo Castela José Meio Dias
António Armando

NOTA: Este manual é dirigido preferencialmente para as equipas dos cuidados primários
e secundários de saúde.

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Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

REPÚBLICA DE ANGOLA
MINISTÉRIO DA SAÚDE
DIRECÇÃO NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA

MANUAL DE
Diabetes
PARA PROFISSIONAIS DE SAÚDE

Luanda, 2020

Apoio: Financiamento:

SAEDM
SOCIEDADE ANGOLANA DE Colégio de Especialidade de Endocrinologia,
ENDOCRINOLOGIA, DIABETES E METABOLISMO Diabetes e Metabolismo ( CEDM )

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Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

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Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

ÍNDICE

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS........................................................................................................................................................................................viii


LISTA DE TABELAS..................................................................................................................................................................................................................ix
PREFÁCIO.................................................................................................................................................................................................................................x
INTRODUÇÃO........................................................................................................................................................................................................................11
1. ABORDAGEM EPIDEMIOLOGICA DA DM...............................................................................................................................................................13
1.1. CONCEITO.................................................................................................................................................................................................................13
1.2. Magnitude da Diabetes........................................................................................................................... ...............................................................13
1.3. Factores de riscos da Diabetes Mellitus....................................................................................................................................................................14
1.4. Acções de Saúde Pública Recomendadas..................................................................................................................................................................14
2. CARACTERÍSTICAS DA DM: SINAIS, SINTOMAS, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO.................................................................................15
2.1. Tipos de diabetes............................................................................................................................................................................................15
2.1.1. Diabetes tipo 1...............................................................................................................................................................................................16
2.1.2. Diabetes tipo 2...............................................................................................................................................................................................16
2.1.3. Diabetes gestacional......................................................................................................................................................................................16
2.1.4. Outros tipos de Diabetes................................................................................................................................................................................ 16
2.2. Critérios de diagnóstico..................................................................................................................................................................................17
2.2.1. Caso suspeito de Diabetes Mellitus: Sinais e Sintomas................................................................................................................................... 17
2.2.2. Caso confirmado da Diabetes Mellitus: diagnostico laboratorial.....................................................................................................................17
2.3. Confirmação de diagnóstico.......................................................................................................................................................................... 18
2.3.1. Critérios de diagnóstico de pré-Diabetes .......................................................................................................................................................18
2.3.2. Anomalia da Tolerância à Glicose................................................................................................................................................................... 18
2.3.3. Prova de Tolerância a Glicose Oral (PTGO) (critérios da OMS)......................................................................................................................... 18
2.4. Prevenção da Diabetes.................................................................................................................................................................................. 18
2.4.1. Prevenção Primária.........................................................................................................................................................................................18
2.4.2. Prevenção Secundária....................................................................................................................................................................................20
2.4.3. Prevenção Terciária........................................................................................................................................................................................ 21
2.5. Tratamento da Diabetes.................................................................................................................................................................................21
2.5.1. Tratamento e alvos terapêuticos na Diabetes................................................................................................................................................. 21
2.6. Terapêutica farmacológica.............................................................................................................................................................................23
2.6.1. Terapêutica farmacológica............................................................................................................................................................................. 23
2.6.2. Insulinoterapia: tipos de insulina, formas de acção e apresentação................................................................................................................25
2.6.3. Indicações de insulinoterapia.........................................................................................................................................................................26
2.6.4. Como iniciar a Insulina...................................................................................................................................................................................27
2.6.5. Objectivo terapêutico.................................................................................................................................................................................... 28
2.7. Complicações da Diabetes..............................................................................................................................................................................29
2.7.1. Complicações agudas da diabetes..................................................................................................................................................................29
2.7.2. Características da cetoacidose e da síndrome H.H...........................................................................................................................................30
2.7.3. Terapêutica de suporte obrigatária.................................................................................................................................................................30
2.7.4. Cetoacidose diabética (CAD)...........................................................................................................................................................................31

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Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

2.7.5. Sindrome hiperosmolar hiperglicémico SHH..................................................................................................................................................31


2.7.6. Terapêutica complementar.............................................................................................................................................................................31
2.8. Hipoglicémia:.................................................................................................................................................................................................31
2.8.1. Diagnóstico da hipoglicemia..........................................................................................................................................................................31
2.8.2. Factores predisponentes.................................................................................................................................................................................32
2.8.3. Prevenção da Hipoglicemia........................................................................................................................................................................... 32
2.8.4. Hipoglicemia assintomática.......................................................................................................................................................................... 33
2.8.5. Hipoglicemia grave induzida por fármacos.................................................................................................................................................... 33
2.9. Complicações crónicas da diabetes.................................................................................................................................................................34
2.9.1. Retinopatia Diabética.................................................................................................................................................................................... 35
2.9.2. Nefropatia Diabética......................................................................................................................................................................................36
2.9.3. Tratamento da Nefropatia Diabética...............................................................................................................................................................37
2.9.4. Prevenção das complicações crónicas da Diabetes:........................................................................................................................................ 37
2.10. Diabetes em situações especiais:................................................................................................................................................................... 39
2.10.1.Factores a considerar na terapêutica da diabetes durante as intercorrências médicas:....................................................................................40
2.10.2.Doente com necessidade de internamento doente com infecção grave........................................................................................................40
2.10.3. Terapêutica na Diabetes tipo 2.......................................................................................................................................................................41
2.10.4.10.2.3. Diabetes e cirurgia..............................................................................................................................................................................42
2.10.5. Critérios para referência e Contra-referência................................................................................................................................................. 43
2.11. Educação terapêutica-papel da enfermagem................................................................................................................................................ 43
2.11.2. Técnicas de injecção de insulina.....................................................................................................................................................................44
2.11.1. Armazenamento e conservação da insulina.................................................................................................................................................. 45
2.11.3 Diretrizes para glicose, pressão arterial e lípidos (Metas da Associação Americana de Diabetes)................................................................... 47
3 TERAPIA NUTRICIONAL NA DIABETES MELLITUS..................................................................................................................................................49
3.1. CONTEXTO GERAL...........................................................................................................................................................................................49
3.1.1. Alimentação saudável................................................................................................................................................................................... 49
3.2. Macronutrientes.............................................................................................................................................................................................50
3.2.1. Carbohidratos (CHO):.....................................................................................................................................................................................50
3.3. Micronutrientes..............................................................................................................................................................................................52
3.5. Plano alimentar na Diabetes...........................................................................................................................................................................54
3.5.1. Índice glicémico (mg/dL).............................................................................................................................................................................. 55
3.5.2. Plano alimentar e Diabetes Mellitus tipo 1.................................................................................................................................................... 56
3.5.4. Plano alimentar e Diabetes Mellitus tipo 2....................................................................................................................................................56
3.5.5. Plano alimentar na Diabetes Mellitus Gestacional......................................................................................................................................... 56
3.5.6. Plano alimentar nas complicações metabólicas, agudas e crónicas da diabetes: hipoglicemia, nefropatia, dislipidemias............................. 57
3.6. Terapia nutricional para a Hipoglicemia........................................................................................................................................................ 57
3.6.1. Recomendações para tratamento dietético da hipoglicemia, (<60 mg/dl de glicémia)............................................................................... 57
3.6.2. Alimentação na nefropatia diabética............................................................................................................................................................. 58
3.6.3. Alimentação e dislipidémias.......................................................................................................................................................................... 58
3.7. Exercícios físicos na DM1 e DM2.....................................................................................................................................................................59

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Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

3.7.1. Recomendações de exercícios na Diabetes..................................................................................................................................................... 60


3.7.2. Contra indicações de exercícios...................................................................................................................................................................... 60
3.7.3. Tipo de Exercício............................................................................................................................................................................................ 60
3.7.4. Duração do exercício...................................................................................................................................................................................... 61
3.7.5. Prescrição do exercício................................................................................................................................................................................... 61
3.7.6. Vantagens do Exercício físico na Diabetes..................................................................................................................................................... 61
4. ABORDAGEM MULTIDISCIPLINAR E CUIDADOS CONTINUADOS NA DIABETES....................................................................................................62
4.1. Abordagem da componente psicológica........................................................................................................................................................62
4.2. Cuidados ao paciente com Diabetes e sua família..........................................................................................................................................63
4.2.1. A Diabetes e a Família................................................................................................................................................................................... 63
4.3. Acções e condutas que devem fazer parte do trabalho de toda a equipa para garantir o fortalecimento e efectividade do cuidado, a
adesão aos protocolos e a autonomia do paciente:........................................................................................................................................63
REFERÊCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................................................................................................65
Apêndice A............................................................................................................................................................................................................................66
Apêndice B............................................................................................................................................................................................................................68
Apêndice C........................................................................................................................................................................................................................... 71
Glossário...............................................................................................................................................................................................................................75

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Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

Lista de Siglas e Abreviaturas


AACE Associação Americana de Endocrinologistas Clínicos
AGJ Anomalia da Glicemia de jejum
AGEs Produtos finais de Glicosilação Evançadas
AR GLP1 Agonistas dos Receptores do Glucagon-like Peptide
AVC Acidente Vascular Cerebral
CAD Cetoacidose Diabética
DCCT Ensaio sobre Controlo e Complicações da Diabetes
DCNT Doenças crónicas não transmissíveis
DL Decilitro
DMG Diabetes Mellitus Gestacional
DM Diabetes Mellitus
DM1 Diabetes Mellitus tipo 1
DM2 Diabetes Mellitus tipo 2
DPP4i Inibidor da Dipeptil Peptidase 4
DRC Doença Renal Crónica
DVP Doença Vascular Periférica
ECG Electrocardiograma
EHH Estado Hiperosmolar Hiperglicémico
FID Federação internacional de diabetes
g grama
GJ Glicemia de jejum
HbA1c Hemoglobina glicada A1c
HTA Hipertensão Arterial
IMC Índice de Massa Corporal
IIMS Inquéritos de Indicadores Múltiplos
IR Insuficiência Renal
IRA Infecção respiratória aguda
IV/EV Intravenoso/Endovenoso
Kg Kilograma
MET Metformina
MINSA Ministério de Saúde
Mg Miligrama
NPH Protamina neutra de Hagedorn
PKC Proteina Kinase C
PVC Pressão Venosa Central
SRO Sal de reidratação oral
SCIC Cuidados Integrados Continuados
US Unidade Sanitária
UI Unidades Internacionais
SAEDM Sociedade Angolana de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo
SNS Sistema Nacional de Saúde
OMS Organização Mundial de Saúde
PTGO Prova de Tolerância da Glucose via Oral
TDG Tolerância Diminuída à Glucose
UCI Unidade de Cuidados Intensivos/Imediatos
UKPDS Estudo Prospectivo da Diabetes no Reino Unido

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8
Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Factores de risco da Diabetes Mellitus............................................................................................... 14
Tabela 2. Sinais e sintomas da Diabetes........................................................................................................... 15
Tabela 3. Critérios de Diagnóstico da Diabetes Mellitus................................................................................... 18
Tabela 4. Mecanismo de acção e Classes dos Medicamentos Antidiabéticos................................................... 23
Tabela 5. Classes e caracteristicas dos hipoglicemiantes orais essenciais em uso prescritos.......................... 24
Tabela 6. Classes e características dos antidiabéticos orais no tratamento da Diabetes em uso por
especialistas e outros médicos ligados à área de Diabetes................................................................................ 25
Tabela 7. Propriedades farmacocinéticas de formulação de insulina em uso prescritos nos cuidados primários
e secundários de saúde...................................................................................................................................... 26

Tabela 8. Insulina Basal....................................................................................................................................... 28


Tabela 9. Insulinas Prandiais................................................................................................................................. 29
Tabela 10. Insulinas Bifásicas............................................................................................................................. 29
Tabela 11. Metas glicémicas para pacientes internados...................................................................................... 33
Tabela 12. Diagnóstico da Nefropatia Diabética................................................................................................ 36
Tabela 13. Rastreio das complicações crónicas................................................................................................ 39
Tabela 14. Adoçantes Dietéticos e sua ingestão diária recomendada................................................................ 53
Tabela 15. Riscos de co-morbilidades segundo o IMC e Circunferência abdominal......................................... 54
Tabela 16. Classificação de Índice glicémico em relação a glicose (mg/dL....................................................... 55
Tabela 17. Recomendação Nutricional.............................................................................................................. 59
Tabela 18. Índice glicémico (IG) e carga glicémica (CG) de alguns alimentos.................................................. 66
Tabela 19. Classificação etiológica da DM (ADA., 2017)................................................................................... 71
Tabela 20. Critérios de Diagnóstico na DMG..................................................................................................... 71
Tabela 21. Resumo da recomendação glicémica para adultos com Diabetes.................................................... 71
Tabela 22. Propriedades farmacológicas de alguns agentes hipoglicemiantes................................................. 72
Tabela 23. Insulinas Bifásicas........................................................................................................................... 72
Tabela 24. Classes e características dos anti-Diabéticos orais no tratamento da Diabetes............................... 73
Tabela 25. Propriedades farmacocinética de formulação de insulina e análogos- a ser usados por especialistas
e outros médicos ligados à área de Diabetes.................................................................................................... 74

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Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

PREFÁCIO

A Diabetes Mellitus configura-se hoje como um problema global de saúde pública,


traduzindo-se como grande desafio para os sistemas de saúde no mundo. O envelhecimento
da população, a urbanização crescente e a adopção de estilos de vida pouco saudáveis
como o sedentarismo, dieta inadequada e obesidade são os grandes responsáveis pelo
aumento da incidência e prevalência da Diabetes mundialmente.

A Diabetes é uma doença integrante do grupo das doenças crónicas não transmissíveis
(DCNTs). Segundo o mais recente relatório da OMS, em 2014, estas foram responsáveis por
24% do total de mortes prematuras em Angola, dos quais 1% foi atribuída a Diabetes, 9%
a doenças cardiovasculares, 2% a doenças crónicas respiratórias e 10% as outras doenças
crónicas não transmissíveis.

O MINSA reconhece que, para obter sucesso no controle da Diabetes, é necessário


estabelecer e desenvolver novas e mais fortes parcerias entre órgãos governamentais e
sociedade civil, para uma maior corresponsabilidade em acções voltadas para prevenção,
detecção e controle dessa doença. Novas estratégias devem promover um estilo de vida
saudável, mudanças de hábitos em relação ao consumo de certos alimentos e refrigerantes,
bem como estimular a actividade física.

Em reconhecimento da importância da Diabetes na saúde da população angolana, o


Ministério da Saúde no seu Plano de Desenvolvimento Sanitário, vem reforçar a gestão
da epidemia emergente através deste manual normativo como forma de aumentar
a capacidade técnica dos profissionais de saúde a todos os níveis nas várias áreas de
intervenção.

A elaboração do Manual de Diabetes é uma das metas do Plano Nacional de Desenvolvimento


Sanitário para alcançar os objectivos do milénio e reforçar a Coordenação do Programa de
Prevenção e Tratamento da Diabetes Mellitus em Angola.

10
x
Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

INTRODUÇÃO

A Diabetes Mellitus (DM) constitui uma doença crónica, não transmissível, com impacto
importante nas sociedades, quer do ponto de vista da saúde pública, quer do ponto
de vista económico, resultantes, por um lado, da doença em si, e, por outro, das várias
comorbidades associadas. Tem como bases etiopatogénicas, factores hereditários e
ambientais, nomeadamente, a obesidade, sedentarismo, etilismo, tabagismo, maus hábitos
alimentares e iatrogenia.

Actualmente é considerada uma epidemia global, atendendo ao seu aumento progressivo


à escala mundial, bem como o aumento da mortalidade, não obstante as várias estratégias,
políticas e de saúde, adoptadas no seu combate, constituindo, assim, um desafio em termos
de saúde pública. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que em 2014 existiam
mais de 382 milhões de pessoas portadoras de Diabetes Mellitus e que essa doença poderá
atingir 471 milhões em 2035 se medidas eficazes não forem tomadas. Em 2018 a Diabetes
atingiu cerca de 17.280 indivíduos Angolanos, de acordo o Boletim Epidemiológico.

À semelhança do que acontece mundialmente, o número de diabéticos em Angola tem


vindo a aumentar, assim como as co-morbidades associadas e as incapacidades parciais
ou totais decorrentes destas. Da mesma forma, nota-se também que vários factores de
risco têm vindo a aumentar, nomeadamente, a obesidade e as doenças cardiovasculares.
A isto acrescenta-se a má adesão terapêutica por parte dos doentes, o que se deve, em
parte, ao desconhecimento destes e da população em geral desta doença e à inexistência
de serviços de saúde vocacionados para a abordagem de doentes crónicos nomeadamente
dos diabéticos.

Assim sendo, urge a criação de um novo paradigma na abordagem do doente diabético,


quer do ponto de vista da prevenção, quer do seu tratamento e seguimento, onde a
pessoa diabética se encontra no centro dos cuidados. Estes cuidados devem ser multi/
pluridisciplinares, transversais e globais e devem integrar o doente, família e prestadores
de cuidados na gestão e auto gestão da doença.

Este Manual de controlo da Diabetes tem como base a necessidade de capacitação da


rede da Saúde de forma a inverter a tendência actual de aumento da doença e suas co-
morbilidades, complicações, incapacidades e mortalidade associadas.

O presente Manual objectiva promover o controlo da DM em Angola nas várias áreas de


actuação dos profissionais de saúde. Tal passa por:

 Promover formas de prevenção e rastreio da Diabetes


 Diagnosticar e tratar o mais precocemente possível os doentes com Diabetes;

11
Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

 Reduzir as complicações, incapacidades e mortalidade decorrentes da Diabetes;


 Promover e dinamizar a prática de hábitos de vida saudáveis: alimentação e
actividade física;
 Estimular a adesão ao tratamento para obtenção de controlo adequado da doença;
 Melhorar a prestação de cuidados às pessoas com Diabetes.

Neste Manual encontram-se as directrizes do manejo da Diabetes que, estão organizadas


de modo a facilitar a consulta e abranger os mais diversos assuntos, tais como: princípios
básicos da DM, rastreio, prevenção e controlo, medidas de estilo de vida, tratamento
farmacológico e cirúrgico, terapia nutricional, avaliação, manejo da DM na gestação e em
complicações crónicas.

Perante necessidades detectadas e dificuldades manifestadas, o presente Manual, será


dirigido, preferencialmente para os profissionais dos cuidados primários e secundários de
saúde, (nível I e II).

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Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

1. ABORDAGEM DE SAÚDE PÚBLICA DA DM

1.1. CONCEITO
A Diabetes Mellitus caracteriza-se pelo aumento
do açúcar no sangue (hiperglicemia persistente),
distúrbio metabólico, decorrente da deficiência de A Diabete é uma doença
produção de insulina ou na sua acção ou de ambas. crónica generalizada,
decorrente da deficiência
A Diabetes tem importantes implicações no que de produção ou e de
concerne aos factores de morbilidade e mortalidade, uso da insulina pelo
não só devido aos efeitos agudos da própria doença organismo. Provoca
como também aumenta significativamente o graves complicações de
risco de doenças cardiovasculares e de danos na saúde.
micro-vascularização dos rins (nefropatia), nervos
(neuropatia), olhos (retinopatia) e membros (doença
vascular periférica) que podem contribuir para as doenças cardíacas, acidente vascular
cerebral (AVC), insuficiência renal, cegueira, gangrena e amputações.

1.2. Magnitude da Diabetes


A DM é um problema de saúde pública mundial. O primeiro relatório da Organização
Mundial da Saúde (OMS) sobre Diabetes revelou que o número de adultos que vivem com
a doença quadruplicou, passando de 108 milhões de casos em 1980 para 422 milhões em
2014. Uma parte significativa deste aumento deveu-se ao aumento da DM do tipo 2, que
tem como principal factor de risco o sobrepeso e obesidade (WHO, 2016).

O Relatório sobre a Mortalidade por todas as Doenças da OMS, estimou que 1,5 milhões de
pessoas morreram pela doença em 2012, constituindo a quarta maior causa de morte por
doença em todo mundo.

Em Angola, a DM emerge também como um problema de saúde pública, que, apesar da sua
real magnitude não ser conhecida, as estimativas da OMS apontam que a doença afecta
5,6% da população, a prevalência da doença no país é de 5,6% (WHO, 2016). Entretanto,
dados do Boletim epidemiológicos da Direcção Nacional de Saúde referente ao ano 2018
relatam que foram registados 17 280 casos de diabetes.

Um estudo realizado em 2018, em Luanda, com o financiamento da CUAMM que teve


como objectivo estimar a prevalência de níveis de IFG e Diabetes em um grande grupo de
indivíduos. Os resultados do estudo revelaram uma alta prevalência de Diabetes e IFG entre
adultos atendidos em unidades de saúde na capital de Angola. Entre 1.803 participantes,
216 foram diagnosticados com a Diabetes, 162 com IFG e 1.425 participantes não tinham IFG
/ diabetes, com uma prevalência estimada de Diabetes 12% (IC 95% 10,5-13,5) e prevalência
estimada de IFG 9% (IC 95% 7,7-10,4).

13
Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

No entanto, dados nacionais são necessários para se conhecer a real magnitude da doença
em Angola, para o efeito há de se implantar um sistema de vigilância epidemiológica com
os seguintes objectivos:
• Estimar a magnitude da doença;
• Monitorizar as tendências e os factores de risco;
• Identificar as populações de maior risco (ex.: Grupos etários, urbanas vs. Rurais;
• Monitorizar as actividades dos programas de prevenção e controlo.

1.3. Factores de riscos da Diabetes Mellitus


Tabela 1. Factores de risco da Diabetes Mellitus
Factores de riscos da DM em Factores de risco em crianças Factores de risco para DMG
adultos ≥45 anos e jovens
Inactividade física Família com DM do 1º ou 2º grau Idade materna avançada

Família do 1º grau com diabetes Insulinorresistência Sobrepeso ou obesidade na gravidez

RN ≥4000g ou DG História materna da DM durante Deposição central excessiva de gordura corporal


a gestação da criança
HDL-c <35mg/dl e ou Percentil 85 para idade e sexo História familiar de Diabetes em parentes de 1º
triglicerídeos >250 mg/dl grau
HbA1c ≥5.1% ou TDG ou Agi Peso altura (P/A) percentil >85 Crescimento fetal excessivo
ou peso >120 do ideal para altura
Insulinoresistência;   Hipertensão ou pré-eclâmpsia na gravidez actual
Sedentarismo   Antecedentes obstétricos
Doença cardiovascular   Síndrome de ovários poliquísticos
    Baixa estatura (inferior a 1,5 m): malnutrição
crónica

1.4. Acções de Saúde Pública Recomendadas


Para as pessoas com Diabetes:
 Tratar os casos confirmados, de acordo com as orientações padrão para a gestão dos
casos (WHOPEN).

Prevenção ao nível local, municipal e nacional:


 Implementar um programa integrado de prevenção e controlo das doenças não
transmissíveis, que se concentre na diabetes, através da sensibilização das comunidades
e das actividades de educação, conduzidas de acordo com os programas nacionais
de prevenção e controlo das doenças não transmissíveis. Estas actividades incluem
estratégias multissectoriais e planos de acção sobre dietas, redução de peso e actividade
física.
 Implementar medidas de prevenção, controlo e intervenções clínicas para o tratamento,
usando orientações baseadas em evidências (por exemplo, o rastreio de doentes de
alto risco).

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Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

2. CARACTERÍSTICAS DA DM: SINAIS, SINTOMAS,


DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO
Diabetes resulta da falta da hormona insulina que é essencial para a transferência da
glicose do sangue para os tecidos. A deficiência de insulina pode resultar de uma produção
inadequada de insulina ou de resistência a sua acção. Sem insulina suficiente, a quantidade
de glicose no sangue torna-se anormalmente elevada (hiperglicemia) e se este nível exceder,
o limiar renal, passa para a urina (glicosúria). Esta por sua vez aumenta a quantidade de
urina a ser produzida (poliúria).

A falta efectiva de glicose como substracto energético ao nível celular significa que o
organismo tem que usar as suas reservas de gordura e, se necessário, de tecido muscular,
como fonte alternativa de energia. Esta combinação produz os clássicos sintomas da
Diabetes:

• Mais sede (polidípsia)


• Mais fome (polifagia)
• Urinar frequentemente (poliúria)
• Emagrecer rapidamente (perda de peso)

Além dos sintomas clássicos podem aparecer sintomas inespecíficos (ver tabela 2) que
levam a suspeita de Diabetes quando esses são persistente e inexplicados, mesmo que de
forma isolada.

Tabela 2. Sinais e sintomas da Diabetes


Sintomas leves  Sintomas Clássicos  Sinais de Urgências
Mudanças repentinas de humor  Poliúria  Dificuldade de deglutição
Fadiga  Polidipsia  Vômitos persistentes
Fraqueza  Polifagia  Desidratação
Infecções frequentes (a nível do trato  Perda de peso  Apatia
urinário), feridas que demoram
Alteração visual  Fácil cansaço  Convulsões
Disfunção sexual    Taquicardia
Formigueiro nos pés e furúnculos

2.1. Tipos de diabetes


Existem vários tipos de Diabetes. Mas até agora os 3 principais e preocupantes tipos de
Diabetes continuam sendo: Diabetes do tipo 1, tipo 2 e a Diabetes gestacional.

15
Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

2.1.1. Diabetes tipo 1


É causada pela lesão das células ß do pâncreas, são as mais numerosas nos ilhéus de
Langerhans. É menos frequente e corresponde cerca de 8 - 10% das pessoas com Diabetes
Mellitus, a maioria das quais jovens e crianças. O quadro clínico é agudo e dramático,
caracterizado pela presença de poliúria, polidipsia, polifagia e perda de peso com
tendência para a cetose obrigando a instituição de insulinoterapia imediata. Essa forma
de apresentação florida não deixa espaço para grandes dúvidas, sendo o diagnóstico
confirmado no momento com a presença de um valor de glicemia ≥200 mg/dl.

2.1.2. Diabetes tipo 2


Tem tendência heredo-familiar, ocorre mais em adultos com excesso de peso ou obesidade
condicionando uma situação de insulinoresistência. Corresponde a 90-95% das pessoas
com Diabetes. A DM2 pode apresentar-se com sintomas clássicos sem que haja, contudo,
tão marcada tendência para a cetose, e o quadro não se apresenta habitualmente de forma
aguda.

2.1.3. Diabetes gestacional Recomenda-se que todas as gestantes


A Diabetes Gestacional (DMG) é definida como façam o exame de glicemia em jejum
intolerância aos hidratos de carbono, de grau (GJ) na primeira consulta pré-natal.
variável, que é diagnosticada ou reconhecida
pela primeira vez durante a gravidez,
independentemente da sua persistência ou
não após o parto, é reconhecida a importância da Diabetes Gestacional para o binómio
mãe-feto.

2.1.4. Outros tipos de Diabetes


Os outros tipos da Diabetes são:
 Diabetes monogénica (MODY) Maturity Onset Diabetes of the Young;
 Diabetes neonatal;
 Diabetes secundária a:
 Endocrinopatias: Sindrome de Cushing, Acromegalia
 Doenças do pâncreas exócrino;
 Infecções e medicamentos.

16
Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

2.2. Critérios de diagnóstico


2.2.1. Caso suspeito de Diabetes Mellitus: Sinais e Sintomas
A combinação de mais de um sintoma ou de grupos de sintomas e sinais é forte índice de
caso suspeito de diabetes. Na maior parte dos casos o curso inicial da Diabetes tipo 2 é
assintomático, a instalação do quadro é insidioso. Na Diabetes tipo 1 a instalação é rude e
bastante florida (desabrochada).

Na criança e no jovem podem coexistir os sintomas clássicos com grande fadiga, com
dores musculares, dores de cabeça, náuseas e vómitos, emagrecimento rápido e “ comer
muito sem nada aproveitar”. As complicações crónicas na diabetes por si só podem se
diagnosticar e registar como caso de Diabetes suspeito. Algumas complicações podem
estar presentes no momento do diagnóstico (particularmente na DM2). Alguns doentes
apresentam o quadro de descompensação metabólica aguda, como forma inaugural da
doença (cetoacidose metabólica ou estado hiperglicémico hiperosmolar). Mas, a maior
parte dos casos de Diabetes tipo 2 decorre sem sintomatologia.

Características do DM tipo 1 e tipo 2

Características DM tipo 1 DM tipo 2

Início (idade) Geralmente ˂ 30 Geralmente ˃ 40

Tipo de início Abruto Gradual

Estado nutricional Individuo frequentemente magro Individuo frequentemente obeso

Síndromas clínicas Polidipsia, poliúria, polifagia, perda de peso Frequentemente assintomático

2.2.2 Caso confirmado de Diabetes Mellitus: Critérios de Diagnósticos laboratorial.

Para considerar um caso de Diabetes Mellitus confirmado, alem dos sinais e simptomas
acima descritos, deve ter-se um teste laboratorial com resultado da glicémia elevada
(Tabela 2).

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Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

Tabela 3.Critérios de diagnóstico laboratorial da Diabetes Mellitus


CRITÉRIOS COMENTÁRIOS

A1C≥6.5% O teste deve ser realizado através do método rastreável ao método do DCCT e
devidamente certificado pelo National Glycohemoglobin Standardization Program
= ou =
(NGSP)

(http://www.ngsp.or/certified.asp)

Glicemia de jejum ≥126mg/dl O período de jejum deve ser definido como ausência de ingestão calórica por pelo
menos 8 horas.
= ou =
Glicemia 2hs após sobrecarga Em teste oral de tolerância à glicose. Esse teste deverá ser conduzido com a
com 75g de glicose: ≥ 200mg/dl ingestão de uma sobrecarga de 75g de glicose anidra, dissolvida em água, em todos
os indivíduos com glicemia de jejum entre 100mg/dl e 125mg/dl
= ou =
Glicemia ao acaso ≥ 200mg/dl Em paciente com sintomas clássicos de hiperglicemia ou em crise hiperglicêmica

Pontos de corte para o diagnóstico:

 Se a glicémia <92 mg/dl convidar a gestante para PTGO com glicose 75 gr (Realizar
entre 24ª e 28ª semana).
 Se a Glicemia for ≥ 126 mg/dl considerar Diagnóstico de pré-diabetes pré-gestacional
 Se a Glicemia for ≥ 92 e <126 mg dl e observar outros sinais e sintomas (ver tabela 1),
estamos perante caso confirmado de DMG

2.3. Confirmação de diagnóstico


2.3.1. Critérios de diagnóstico de pré-Diabetes
 Glicémia plasmática em jejum 100-124.2 mg/dL (5.6-6.9 mmol/L)
 Tolerância a glicose alterada 140. 4-199 mg/dl (7.8-11.0 mmol/l)
 Hemoglobina glicosada-HbA1c 5.5-6.4%

2.3.2. Anomalia da Tolerância à Glicose


 Glicemia plasmática às 2h (PTGO 75g);
 140-199 mg/dl (7.8-11.0 mmol/l) ou HbA1C entre 5.7-6.4%
 A presença dos sintomas clássicos ou de descompensação metabólica associados
a glicemia ao acaso ≥ 200 mg /dl, é um dos critérios diagnósticos para DM, não sendo
necessária a confirmação com outro exame laboratorial.

2.3.3. Prova de Tolerância a Glicose Oral (PTGO) (critérios da OMS)


Deve-se orientar o paciente para manter a seguinte conduta:
 Dieta livre sem restrições (> 150 Hc/dia durante 3 dias) com actividade física normal

18
Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

 Jejum (8-12h), durante o qual não deve fumar


 Ingestão de glicose diluída em 250-300cc de água durante cerca de 5 minutos (no
adulto 75g de glucose, nas crianças 1.75/kg de peso até próximo de 75g)

2.4. Prevenção da Diabetes Recomendações de prevenção na


A Prevenção na Diabetes, como na maioria Diabetes:
das doenças, é o objectivo principal
da acção dos médicos, enfermeiros e  Alimentação saudável;
dos restantes profissionais da saúde.  Práticas regulares de exercícios
Para o maior impacto desejável deve se físicos;
considerar os vários tipos de prevenção:  Ter um peso ideal para a altura (IMC
dentro dos parâmetros normais);
Tipos de prevenção:  Investigação laboratorial periódica
em Mulheres que tiveram Diabetes
 Prevenção Primária gestacional para avaliar a sua
 Prevenção Secundária regulação glicémica.
 Prevenção Terciária

2.4.1. Prevenção Primária

A responsabilidade da prevenção primária deve ser partilhada com toda a comunidade.


Assim sendo, a prevenção primaria envolve mudanças no estilo de vida do indivíduo,
aquisição de hábitos alimentares e de vida mais saudáveis. Sendo para os cidadãos do
futuro, estes envolvidos:

 Entidades responsáveis pela educação para a saúde


 As escolas
 A família
 Nos bairros (com Comissão dos moradores, Activistas, Sobas etc.)
 Público em geral

A Prevenção Primária da Diabetes tipo 2 é um assunto de educação para a Saúde. O


combate aos factores de risco comuns a uma série de doenças crónicas não transmissíveis,
deve ser integrado, e compreendem:

 Correção de erros alimentares


 Combate ao sedentarismo
 Gestão de stress psicossocial
 Abstenção do uso do tabaco
 Abstenção do uso do álcool

19
Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

2.4.2. Prevenção Secundária

A prevenção Secundária é igual a diagnóstico precoce, na Diabetes tipo 2. Na impossibilidade


de rastrear toda a população adulta com mais de 35 anos, é importante conhecer os grupos
de risco e intervir na fase da tolerância diminuída à glicose deve ser responsabilidade
primeira dos:

 Cuidados de Saúde Primários


 Centros de Saúde
 Médicos de Família

Quando rastrear pessoas assintomáticas:

a) Adulto
IMC≥30 Kg / m2
• Inactividade física
• Família com Diabetes
• RN ≥4000g ou DG
• HTA ≥140/90 mmHg
• HDL colesterol <35mg/dl e/ou trigliceridos >250mg/dl
• SOP (síndrome do ovário poliquísticos) RASTREAR
• HbA1c≥5,7% ou TDG ou Agj
• Insulinoresistência
• Doença Cardiovascular

Idade > 45 RASTREAR

Se o rastreio for normal REPETIR EM 3


ANOS
b) Crianças e adultos
Excesso de Peso
IMC ≥ 30 kg/m2
Peso para a altura > 1,5 Desvio Padrão (DP ou Score)
RASTREAR
Quaisquer 2 destes factores de risco:
• Família com DM2 do 1º ou 2º grau
• Sinais de insulinoresistência
• História materna de DM ou DG durante a gestação
da criança ou jovem REPETIR EM 3
ANOS
Idade de início do rastreio: 10 anos ou puberdade
(No caso da puberdade ocorrer numa idade inferior)

20
Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

2.4.3. Prevenção Terciária


 Bom tratamento
 Boa vigilância do diabético:
 Impedir ou atrasar o desenvolvimento das complicações tardias da Diabetes e da
catástrofe humana que representa, uma diabetes mal seguida, ou mal tratada, sem
atingir os objectivos metabólicos pretendidos.
 Proporcionar processo de reabilitação adequada, se necessário.

2.5. Tratamento da Diabetes


2.5.1. Tratamento e alvos terapêuticos na Diabetes

A Diabetes é uma doença complexa, originada de factores múltiplos pelo que a terapêutica
deve ser centrada no doente e na prevenção das suas complicações, respeitando a sua
individualidade. O tratamento da Diabetes requer uma equipa multidisciplinar cuja actuação
deve permitir a avaliação, prescrição e o acompanhamento nutricional, psicológico da
pessoa com Diabetes ajustando os hábitos alimentares e preferências pessoais, aspectos
culturais e religiosos, literacia, nível socioeconómico, motivação e capacidade para a
mudança, bem como análise do quadro clínico para indicação da terapêutica farmacológica
mais adequada.

O tratamento da Diabetes inclui:

 Alimentação saudável
 Controlo do peso
 Aumento da actividade física
 Tratamento farmacológico
 Educação terapêutica

A abordagem terapêutica começa pelas medidas do estilo de vida, i.e. alimentação


adequada, equilibrada e polifraccionada associada a actividade física adaptada à condição
pessoal e de saúde.

A1C≥ 9% considerar terapêutica dupla ou tripla

A1c≥10%; glicemia ≥300 mg/dl; sintomatologia marcada


Considerar terapêutica com insulina

21
Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

O tratamento medicamentoso também deve ser dinâmico, evitando uma atitude de


apatia e letargia na tomada de decisão terapêutica. O terapeuta deve tomar em conta as
características que a pessoa com diabetes apresenta, isto é: riscos associado a hipoglicémia,
outros efeitos adversos aos fármacos, a duração da diabetes, idade do indivíduo, co-
morbidades importantes, complicações vasculares, a motivação e a capacidade potencial
da pessoa diabética para autocuidados.

O esquema a seguir analisa e orienta a lógica para a tomada de decisão na


abordagem terapêutica

Figura 2.1. Individualização terapêutica

Características da
Pessoa com Diabetes 4.0% 7.0% 8.0%

Riscos potencialmente associados


a hipoglicemia e outros efeitos adversos
dos fármacos Baixo Alto

Duração da Diabetes Diagnóstico recente Diabete de longa duração


Geralmente não
modificads
Esperança de vida Geralmente
Longa Curta

Comorbilidades importantes
Ausentes Poucas/ligeiras Graves

Ausentes Poucas/ligeiras analisa e orienta


Graves

Complicações vasculares
Estabelecidas

Atitude da pessoa e motivação/ altamente motivada, Menos motivada, não


capacidade para auto-cuidado Potencialmente
aderente com excelentes aderente fracas capacidades
modificadas
capacidades de autocuidado de autocuidado

Recursos e sistemas de apoio Imediatamente disponíveis Limitados

EVITAR INERCIA TERAPÊUTICA

22
Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

2.6. Terapêutica farmacológica

2.6.1. Terapêutica farmacológica

O tratamento farmacológico da Diabetes depende do tipo de Diabetes.

Na Diabetes tipo 1: O tratamento adequado para este tipo de diabetes é a Insulina. É


utilizado habitualmente o esquema intensivo. O inicio de tratamento deve ser imediato. O
seguimento deve ser feito preferencialmente por especialistas ou médicos ligados à área
de Diabetes

Na Diabetes tipo 2: O tratamento pode ser com hipoglicemiantes orais em monoterapia


ou em associação dupla ou tripla, em combinação com insulina ou apenas com insulina.
Passamos em seguida a referir os mecanismos de acção e classes de fármacos utilizados
no tratamento da Diabetes.

Tabela 4. Mecanismo de acção e Classes dos Medicamentos Antidiabéticos

Estimulação directa da Diminuição de Retardam a absorção Aceleram a eliminação


libertação de insulina produção da glicose dos carboidratos de glicose por via
pelas células β do hepática. renal
Mecanismo de pâncreas e reduzem a
acção depuração hepática da
Insulina.

Sulfonilureias Biguanidas

Agonistas dos receptores Inibidores da α – Inibidor dos receptores


de GLP 1 glicosidase de SGLT 2
Classes
Meglitinidas ou Glinidas Tiazolidinodionas
(Glitazonas)
Inibidores de DPP-4

Insulinas

A Metformina (Biguanida) é o fármaco de primeira linha na terapêutica farmacológica


da Diabetes tipo 2, se não houver contra- indicação (ex. em caso de disfunção hepática e
renal). Estes doentes habitualmente apresentam ou desencadeiam excesso de peso ou
obesidade.

A decisão da terapêutica medicamentosa deve ser tomada e partilhada com o doente de


acordo com critérios, tais como: eficácia, risco de hipoglicémia, efeito no peso, custos;
potenciais benefícios adicionais (existência de doença cardiovascular/doença renal crónica)
devem ser informados e partilhados com o doente.

23
Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

No caso de não haver resposta satisfatória na abordagem inicial de alteração do estilo de


vida e metformina deve-se avançar para associação com outra(s) classe(s) farmacológica(s)
por via oral ou injectável até atingir o alvo terapêutico individualizado/ ajustado à condição
clínica da pessoa com Diabetes.

Tabela 5. Classes e caracteristicas dos hipoglicemiantes orais essenciais em uso prescritos


nos cuidados primários e secundários de saúde
Nome do Dosagem Posologia Efeitos adversos Contra- indicações
Medicamentos habitual
Classes
em DCI
Glibenclamida 5mg 5-20mg Hipoglicemias, Diabetes gestacional, doenças
ganho ponderal, renal, hepática e alcoólicas.
(Gliburida)
Podem ser associados aos
Gliclazida 30,60,80mg 30-240mg salicilatos, sulfonamidas
antibacterianas, fenilbutazona,
Glimepirida, 1, 2 e 4 mg 1-4mg cloranfenicol, propranolol,
Sulfonilureias probenicida e bebida alcoólica,
intervenção cirúrgica.
(2ª geração)
Indivíduos com mais de 75
anos.
Biguanidas Metformina 500, 850 e 500-2550mg/d Sintomas Doenças hepáticas, cardíaca,
1000mg após refeições gastrintestinais respiratória, renal.
adversos
Anestesia ou injecção de
(náuseas,
contaste iodato.
vómitos,
desconforto
abdominal e
diarreias)

Outros hipoglicemiantes orais de diferentes Classes incluindo associações entre elas


poderão ser utilizados por indicação dos especialistas e outros médicos ligados à área
de Diabetes (tabela 5). A tabela acima apresenta as recomendações para os critérios de
escolha de fármacos diferentes.

24
Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

Tabela 6. Classes e características dos antidiabéticos orais no tratamento da Diabetes em uso por especialistas e
outros médicos ligados à área de Diabetes
Classes Principio Activo Dosagem disponível Posologia habitual

glibenclamida 5mg, 5-20mg 1x/d


glimepirida, 1,2 e 4 mg 1-4mg 1x/d
Sulfonilureias
glipizida, 5 mg 5-20mg 1-2x/d
glicazida 30mg 30-50mg 2x/d
Glinidas Repaglinida 0.5, 1 e 2mg, 3-6mg/d ant. ref
(Meglitinidas) Nateglinida 120mg 1 comp ant.cada ref
Biguanidas Metformina 500,850mg e 1000mg 500-2550mg/d após ref
500mg 500-1000mg1x/d
Glitazonas pioglitazona 15,30, 45 mg 15-45mg 1x/d
(Tiazolidinodionas)
Inibidores Acarbose 50 e 100 mg 50-300mg 1-2x/d (60kg)
@-glicosidase
Saxagliptina 2,5 e 5 mg 5mg 1x/d
Sitagliptina 25, 50 e 100mg 50-100mg
Inibidores da DPP4
Vildagliptina 50 mg 1-2x/7d
50mg 1-2x/d

Dapagliflozina 5 e 10 mg 10mg 1x/d


Empagliflozina 10 e 25 mg 10-25mg 1x/d
Inibidores de SGLT2
Canagliflozina 100 e 300 mg 100-300mg 1x/d, antes das ref
AR GLP1 Liraglutida Seringa 1.2 e 3.4 ml/4x 5-10mcg 2x/d/2mg x 1 sem
Exanatide pen 2mg 1.2-1.5mg 1x/d
Pen 3ml

Em relação à farmacocinética dos diferentes fármacos pode ser vista na tabela nº 21,
colocada em anexo.

2.6.2. Insulinoterapia: tipos de insulina, formas de acção e apresentação

O tratamento com insulina é a forma mais adequada para a abordagem terapêutica da


diabetes tipo 1. Entretanto, no caso de complicação aguda com hiperglicémia, falência
dos hipoglicemiantes orais ou contraindicação dos mesmos na Diabetes tipo 2 deve ser
utilizada a insulina, de forma combinada ou isolada.

No caso de ser feito tratamento combinado a insulina deve ser administrada


preferencialmente à noite e os hipoglicemiantes orais durante o dia.

25
Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

Eis as formas de acção, formas de apresentação de composição das insulinas:


Formas de acção:

 Ultra rápida (Lispro, Asparte e Glulisina)


 Rápida (Regular, Cristalina ou simples)
 Intermédia ou lenta (NPH)
 Ultra lenta ou prolongada (Glargina, Levemir e Detemir)

Formas de apresentação: Canetas, cartuchos, frascos


Em relação à composição: Convencional ou humana, análogos ou sintéticos e misturas.
Apresentamos em seguida as propriedades farmacocinéticas de formulação de insulina em
usos e prescritos nos cuidados primários e secundários de saúde.

Tabela 7. Propriedades farmacocinéticas de formulação de insulina em uso prescritos nos cuidados primários e
secundários de saúde.
Medicamentos Inicio (H) Pico (H) Duração (H)

Acção curta
Insulina Regular
Suspensão de Insulina Zn Pronta (semilente) 30 – 60 min 2–3H 5–7H

Acção Intermediária
Suspensão de Insulina Isófana (NPH) 1–2H 5–7H 13 – 18 H

Acção Longa

Suspensão de Insulina Zn Expandida 2–4H 8 – 14 H 18 – 36 H

Insulina Glargina 2 H Sem pico Até 24 H


Acção Mista

Regular 70/30 2-4 2-4 13-18


Regular 75/25 2-4 2-4 13-18

Em relação à farmacocinética das diferentes insulinas poderá ser consultada a tabela 24 em


anexos.

2.6.3. Indicações de insulinoterapia


Absolutas:
 Diabetes tipo 1
 Diabetes tipo 2 com perda da função secretora do pâncreas e contraindicação de
antidiabéticos orais

26
Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

Relativas:
 Complicação aguda da DM com hiperglicémia
 Presença de doenças intercorrentes (médicas ou cirúrgicas)
 Gravidez
 Cirurgia
 Tratamento com medicamentos hiperglicemiantes ( glucocorticoides, hormonas da
tiroide, tiazidas, citostáticos )
 Diabetes Mellitus de dificil controlo

2.6.4. Como iniciar a Insulina:


 Dosagem: 0.1 a 0,5 UI/Kg
Em relação às crianças a dose de início deve ser metade em relação à dose do adulto.
Em relação às crianças a dose de início deve ser metade da em relação à dose do
adulto
 Esquema de tratamento:

• Convencional: 2 doses de insulina NPH (protamina neutra de Hagedorn) ou outra de


acção intermédia)
• Intensivo: 3 doses de Insulina Regular ou Rápida associada ou não à Insulina de acção
intermédia. É o esquema mais usado na diabetes tipo
• Outros: De acordo com a necessidade do doente podem ser utilizados outros tipos de
Insulina, conforme indicação do especialista. Habitualmente é feita combinação com
Metformina ou outro fármaco hipoglicemiante oral

 Titulação da dose: Aumentar 2UI de 3-3 dias até a Glicemia Capilar atingir o alvo
terapêutico
 No caso de hipoglicemia: determinar e corrigir causa; se ausência de motivo evidente
reduzir 4UI ou 10-20% da dose em curso.

Situação Prática: Pessoa com Diabetes com 80Kg que vai iniciar insulina:
calcula-se 80Kg x (de 0.1 a 0.3 UI/Kg) = 8 a 24 UI (=100%):
 - Se for insulina Intermédia ou NPH ou mista: 2/3 (70%) demanhâ e 1/3 (30%) de noite
(21 ou 22 H)
 - Se insulina Ultra Lenta: Administrar a dose total calculada duma vez
 - Se insulina Rápida: 2/3 (70%) divididos em 3 doses para administrar ao pequeno-
almoço, almoço e jantar (18H) e 1/3 (30%) às 21 ou 22 H

a) Vantagens da insulinoterapia
 A substituição fisiológica e de acordo com as alterações fisiológicas do DM2

27
Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

 O início precoce resulta em benefícios a médio/longo prazo


 Redução a exposição de períodos de glicotoxicidade
 Atraso do declínio da função da célula ß pancreática
 Sem limite de redução potencial da HBA1c

b) Desvantagens
 Aumento do peso (2-4kg)
 Hipoglicemia
 Forma de administração injectável
 Barreiras (psicológicas, sociais, culturais...)

2.6.5. Objectivo terapêutico

 O objectivo terapêutico deve ser disponibilidade e observar os seguintes critérios


: (recursos, rede de cuidados, risco de hipoglicemia, idade duração da diabetes,
complicações ou co-morbidade)
 Mimetizar a secreção fisiológica da insulina
 Produção de insulina de um pâncreas saudável:
 Componente basal- previne gluconeogenese
 Componente prandial: reduzir as excursões glicémicas após as refeições

c) Antes de iniciar disponibilidade: Antes de Iniciar o tratamento é imperativo


que o doente seja instruído quanto à:
 Técnicas e locais de administração de insulina
 Forma de armazenamento
 Reconhecimento e tratamento de hipoglicemias

Tabela 8. Insulina Basal


Inicio (h) Pico (h) Duração (h)
Insulina humana
Insofanica 1-2 5-7 13-18
Análogos da insulina (lenta)
Glargina Levemir 1-2 Sem pico 24
8-12 16-20
Detemir 2-4 8-12 16-20
Análogos da insulina (ultra lenta)
Glargina U300 6 Sem pico 24-36
Degludec 1 Sem pico 36-42

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Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

Tabela 9. Insulina Prandiais


Início (h) Pico (h) Duração (h)

Regular 13-60 min 2-4 8-10

Análogos de Insulina (rápida)

Aspartico 5-15 min 1-2 4-5

Lispro

Glulisina

Tabela 10. Insulinas Bifásicas


Nomes comerciais Inicio (h) Pico (h) Duração (h)

Com humanas (Curtas)

Regular 70/30 2-4 1-2 13-18

Regular 75/25
Com análogos (Rápidas)

Aspartico 70/30 5-15min 1-2 13-18

Lispro 75/25
Lispro 50/50

2.7. Complicações da Diabetes

2.7.1. Complicações agudas da diabetes

Um dos principais passos na gestão da Diabetes consiste no adequado controlo da doença.


Apesar de tudo podem existir factores que possam condicionar uma complicação aguda.
São fundamentalmente 3 os tipos de complicação aguda:

 Cetoacidose diabética
 Estado hiperosmolar hiperglicémico
 Hipoglicémia

Passamos à abordagem destas complicações. Por uma questão prática iremos apresentar
as 2 primeiras de forma comparativa e em complementaridade de actuação. O tratamento
dessas complicações deve ser feito numa Unidade de Cuidados intensivos (UCI/) ou de
cuidados diferenciados, pelo que, deixamos os pormenores para outra visão mais avançada.

29
Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

 Cetoacidose diabética

Complicações agudas da diabetes


Conceito mellitus

• Complicação mais comum em DM1 • Estado Hiperosmolar Hiperglicémico


• Mortalidade 5-10% (principalmente > (EHH)
65 anos) • Complicação típica do DM2
• Principal causa de mortalidade em • Secreção residual de insulina consegue
crianças com DM1 inibir a lipolise e a síntese hepática de
corpos cetónicos
• Predomina a desidratação e alteração do
estado de consciência

Manifestações clínicas:

Cetoacidose Diabética: manifesta-se com poliúria, sede, astenia, letargia, vómitos, dor
abdominal, alteração do estado de consciência (até coma) e desidratação.

Estado hiperosmolar hiperglicémico: Apresenta-se com um Estado hiperosmolar glicêmico
no qual predomina a desidratação e alteração do estado de consciência, mais marcadamente
em diabéticos com idade avançada.

2.7.2. Características laboratoriais da cetoacidose e da síndrome H.H.

A cetoacidose diabética (CAD) O SHH caracteriza-se por:


caracteriza-se por:
• Hiperglicémia >600mg/dl
• Hiperglicémia >250mg/dl • Bicarbonato plasmático >18mmol/L ou
• Bicarbonato plasmático < 15mmol/L pH>7,3
ou ph<7,3 • Osmolaridade plasmática>340mOsm/L
• Cetose significativa: corpos • Sem cetose significativa: corpos
cetónicos na urina ≥++ ou no sangue cetónicos na urina ≤++
≥ßHidroxibutirato>3mmol/L • Desidratação grave, Insuf. Renal (pré)

2.7.3. Terapêutica de suporte obrigatária


 Glicémia >250 mg/dl- soro fisiológico com dextrose a 5%, visando manter a glicémia
entre 150-200 mg/dl;
 Fazer correr o primeiro litro de soro na 1ª hora de tratamento e o segundo nas 2-4
horas seguintes. O restante 4-6 litros nas 22 horas seguintes

30
Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

2.7.4. Correcção da Cetoacidose diabética (CAD)

 1 Litro de soro na 1ª hora


 2 Litros de soro nas 2-4 horas seguintes
 6-8 Litros nas primeiras 24 horas

2.7.5. Sindrome hiperosmolar hiperglicémico SHH

 1 Litro em 30 ou 60 minutos 6-12 litros nas primeiras 24 horas


 Ritmo depende da resposta clínica

2.7.6. Terapêutica complementar

a) Oxigénio
Em doentes idosos e/ou com cardiopatia isquémica particularmente se há uma Pa O2 <80
mmHg. Deve-se administrar oxigénio por sonda nasal ou máscara.

b) Conduta recomendada:
• Reconhecer a situação clinica
• Diagnóstico DM e diagnóstico diferencial
• Tomar medidas imediatas
• Monitorização até referenciação
• Referenciação precoce após estabilização inicial

2.8. Hipoglicémia:

É uma emergência clínica ocasionada por baixos níveis plasmáticos de glicose (<70mg/dL).
Levando ao aparecimento de sinais e sintomas decorrentes da estimulação adrenérgica e/
ou neuroglicopênica. É a complicação mais frequente do tratamento da Diabetes Mellitus
e pode ser fatal.

2.8.1. Diagnóstico da hipoglicemia

Os sinais e sintomas da hipoglicemia são inespecíficos, por isso sempre que possível o
diagnóstico deve ser confirmado por meio de glicemia capilar ou venosa. As manifestações
da hipoglicemia podem ser divididas em:

a) Sinais e sintomas de hiperatividade autonômica


 Sinais Adrenérgicos: Normalmente são os que alertam o paciente para a ocorrência
de Sintomas hipoglicemia: taquicardia, abundante respiração (sudorese) e tremores

31
Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

 A maioria é mascarada pelo uso de betabloqueadores


 Parassimpáticos: sensação de fome, náuseas e vômitos
 Nem sempre o quadro autônomo precede os sintomas neuroglicopénicos

b) Sinais e sintomas neuroglicopénicos


 Nos casos mais leves: tonturas, cefaleia, parestesias, confusão mental e/ou
distúrbios do comportamento
 Nos casos mais graves: convulsões, torpor, coma, raramente pode ser fatal Plena
recuperação do SNC nem sempre ocorre se o tratamento for tardio

2.8.2. Factores predisponentes

 Omissão de refeições
 Doses excessivas de insulina ou hipoglicemiantes orais
 Controle glicêmico rígido
 Ingestão alcoólica excessiva
 Exercícios prolongados ou extenuantes
 Fármacos que prejudiquem o reconhecimento da hipoglicemia
 Fármacos indutores de hipoglicemia
 Contrarregulação defeituosa
 Insuficiência renal ou adrenal
 Hipotiroidismo
 Síndrome de má absorção
 Insulinoma (raramente)

2.8.3. Prevenção da Hipoglicemia:

a) Pacientes e familiares devem ser ensinados a:


 Reconhecer os sinais hipoglicémicos de alerta
 Não omitir refeições
 Não ingerir bebida alcoólica em excesso
 Fazer lanche antes de praticar exercícios
 Não aplicar insulina em áreas que serão muito exercitados durante a actividade física
 Paciente, principalmente em uso de insulina, deve carregar consigo algo que o
identifique como diabético

32
Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

b) Pacientes conscientes:
 Tabletes de glicose \
 Bebidas açucaradas (sem efeito para pacientes em uso de acarbose)
 Não usar frutose pura – Não atravessa a barreira hemato-encefálica
 Glucagon 1mg para adulto e 0,5mg para crianças caso o paciente não colabore ou
esteja em uso de acarbose

c) Pacientes torporosos ou em estado de coma:


 Está contraindicado o uso da via oral
 Administrar 2-5 amp (20-50ml) de dextrose a 30 ou 50%, rapidamente
 Manutenção com dextrose a 10% até glicemias a volta dos 200mg/dl
 Hidrocortisona 100mg + 1mg de glucagon por cada 1L de dextrose a 10% durante o
tempo necessário

2.8.4. Hipoglicemia assintomática

 Pacientes com resposta autonómica defeituosa devem elevar as metas glicêmicas a


serem alcançadas
 Usar esquemas de pequenas doses de insulina
 Sempre que possível trocar insulina regular pelos análogos de insulina
 Aumentar o número de pequenos lanches durante o dia
 Aumentar a frequência da automonitorização
 Devem ser feitos esforços no sentido de se evitar hipoglicemias durante semanas ou
meses, visando a reversão da adaptação do SNC

2.8.5. Hipoglicemia grave induzida por fármacos

 Se o paciente apresentar hipoglicemia grave ou coma devido ao uso de sulfonilureias


(clorpropamida, glibenclamida) ou altas doses de insulina, deverá ser internado para
infusão contínua de dextrose e monitorização glicémica. Pacientes com IR, podem ter
hipoglicemia prolongada, sendo também uma indicação de internamento.

Tabela 11. Metas glicémicas para pacientes internados


Meta antiga (para todos pacientes) 80-110mg/dl
Metas actuais
Pacientes críticos e não críticos 140-180mg/dl
DM2 com bom controlo glicémico, sem hipoglicemia frequente, no pós-operatório de cirurgia 100-150mg/dl
cardiovascular
Pacientes terminais 108-270mg/dl

33
Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

Conclusão

 A prevenção da hipoglicemia é fundamental


 A auto-monitorização permite ajustes terapêuticos periódicos
 Reconhecimento precoce dos sinais e sintomas é crucial para que se evite a
morbi- mortalidade e as complicações psicológicas e psicossociais da hipoglicemia
 O ensino dos pacientes e familiares é imprescindível
 Mesmo com os riscos que a hipoglicemia pode ocasionar, o tratamento intensivo da
DM deve ser almejado para que se possa evitar as complicações da hiperglicemia a
longo prazo

2.9. Complicações crónicas da diabetes

A Diabetes quando não controlada devidamente compromete severamente a funcionalidade


de vários órgãos tais como os rins, olhos, nervos e o coração, elevando precocemente os
níveis de mortalidade pelo comprometimento das micro e macro-vascularização.

Figura 2.

34
Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

Podem ser inicialmente assintomáticas, mas, se não tratadas, evoluem para condições
graves, como perda visual, amputação de membros e insuficiência renal crónica. Prevenção
e detecção precoce das complicações crónicas são essenciais para evitar estes problemas e
devem ser o nosso objectivo.

As complicações crónicas da Diabetes podem ser micro e macrovasculares. Entretanto,


há situações em que as duas estão presentes como acontece no pé diabético. A presença
destas complicações agrava o prognóstico das lesões, quando estas ocorrem.

Na abordagem da Diabetes Mellitus a primazia deve ser dada à prevenção como melhor
forma de evitar as complicações. Quando tal não é possível ou não é suficiente preconiza-
se o tratamento intensivo ou convencional. Nos diferentes estudos realizados tanto no
DCCT como no UKPDS, o controlo rigoroso com tratamento intensivo conduziu a uma
significativa redução do risco das complicações tardias, como se pode observar no diagrama
que se segue.

(Prevenção primária, tratamento intensivo versus convencional)

A melhora do controlo glicémico:

Retinopatia Nefropatia
Redução de risco
(76%) (34%)

Neuropatia
(69%)

2.9.1. Retinopatia Diabética


Retinopatia diabética: como
a) Não proliferativa: No estágio inicial
investigar
da doença há extravasamento de sangue
ou fluido a partir de pequenos vasos
1. Screening-Fundo de olho com
sanguíneos da retina causando acúmulo de
dilatação por especialista.
líquidos (edemas)
2. Na DM1 deve-se pesquisar 3-5 anos
b) Não proliferativa: A principal causa é após o diagnóstico (após 10 anos
a formação de neovasos acompanhados de idade.
de tecido cicatricial cuja contração pode 3. Na DM2 por altura do diagnóstico).
levar ao deslocamento da retina. Oclusão 4. Repetir anualmente (mais
dos vasos sanguíneos da retina (isquemia) frequente se houver progressão)
com impedimento do fluxo sanguíneo 5. Angiografia com fluoresceína
adequado. Leva a perda visual grave em
60% dos casos em 5 anos.

35
Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

2.9.2. Nefropatia Diabética

Fisiopatologia da Nefropatia Diabética

Alteração metabólica Alteração


hemodinâmica

Alteração de fluxo e
PKC Poliois Hormonas
pressão
AGEs etc. vasoactivas

Permeabilidade
vascular
Acúmulo de matriz
extra mesangial
Proteinúria

Tabela 12. Diagnóstico da Nefropatia Diabética


Dosagem de Albiminúria na urina DM2: ao diagnóstico
DM1:5 anos de duração
Categoria Amostra (mg/g Cr) Urina 24h 4-12h Amostra
(Mg/d) (ug/min) (mg/L)
Normal <30 <20 <30 <17
Microalbumina 30-299 30-299 20-199 17 a 173

Macroalbumina ≥300 ≥300 ≥200 ≥174

Alguns casos podem ser falsos positivos por conta de: Exercícios, infecções, febre, insuficiência cardíaca, hiperglicemia importante, hipertensão.
Associar com medida de creatinina sérica e cálculo da TFG e K+ http://www.nkdep.nih.gov (Fórmula de Crockroft Gault)

36
Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

2.9.3. Tratamento da Nefropatia Diabética

a) Controlo Glicémico:

 Pode reverter a hipertrofia e hiperfiltração glomerular


 Reduz aparecimento ou progressão da nefropatia

b) Controlo da Dislipidemia

c) Restrição de proteínas: 0,8-1.0 g/kg

 Declinio da taxa de filtração glomerular (em 60-75%)


 Alguns estudos: sem benefícios
 Problemas: adesão, aumento do risco de desnutrição

d) Tratamento anti-hipertensivo

• Agressivo (< 130 x 80 mmHg)


• Inibidores da ECA, inibidores do receptor de angiotensina
(outros: bloqueadores de canais de cálcio não dihidropiridinas)

2.9.4. Prevenção das complicações crónicas da Diabetes:

A Diabetes é uma doença crónica cada vez mais frequente na nossa sociedade e a sua
prevalência aumenta muito com a idade. As pessoas com Diabetes podem vir a desenvolver
uma série de complicações. A sua prevenção e controlo exigem acção sobre os factores de
risco, sobre a doença e suas complicações. É fundamental a formação de equipas multi e
interdisciplinares para a gestão integrada da Diabetes (doença crónica).

Pé Diabético Exame Físico

Palpação
Inspecção Deformações
Marcha/Calçado Pulso periféricos, pesquisa
anatómicas espaços
da sensibilidade pesquisa de
interdigitais unhas
reflexos

37
Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

 A prevenção é o método mais efectivo para a redução das taxas de amputação.


 A avaliação deve ser sistemática, periódica.
 É necessária a constituição de uma equipa multidisciplinar, colheita de uma boa
história clínica, criação de condições de trabalho adequadas, disponibilidade do
profissional de saúde e participação activa do doente.

2.9.5. Recomendações

 Inspecção e exame regular frequente do pé em situação de risco


 Identificação do pé em situação de alto risco
 Educação do doente, dos familiares e dos prestadores de cuidados de saúde
 Utilização de calçado apropriado
 Tratamento de patologia não ulcerativa.

Pé diabético: prevenção das lesões


Categoria Perfil de risco Frequência da avaliação

0 Sem neuropatia sensitiva 1x ano


1 Com neuropatia sensitiva 6 em 6 meses
2 Com neuropatia + DVP e/ou deformações 3 em 3 meses

3 Com úlcera e/ou amputação 1 a 3 meses

Úlceras, infecções e gangrenas: importantes complicações

38
Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

a) Doença Macrovascular Arteriosclerótica

 Responsável por 80% das mortes (principal causa) e 75% das hospitalizações em
indivíduos com diabetes tipo 2
 Doença cérebro-coronária: aumento de risco 2 a 4x; mais grave (aumento de risco de
IAM), de morte pós IAM, reinfarto e falência cardíaca)
 Doença cérebro periférica: aumento de risco 4x: mais precoce: AVC recorrente;
demência pós AVC
 Doença arterial periférica: aumento de risco 2-3x; incapacidade funcional e amputação

Tabela 13. Rastreio das complicações crónicas


QUANDO COMO

Retinopatia DM1: 3-5 a de DM Fundoscopia


DM2:Ao diagnóstico e anualmente

Nefropatia DM1: 5 a de DM Albuminúria


DM2: ao diagnóstico e anualmente TFG

Exame dos pés A cada consulta Sensibilidade, pulsos periféricos, reflexos

DVC Individualizar Pa, ECG, testes não invasivos

2.10. Diabetes em situações especiais:

Diabetes e doença: As doenças intercorrentes são uma causa frequente de descompensação


metabólica nos diabéticos. Entre as várias devemos considerar:

 Médicas, com especial incidência nas doenças infecciosas


 Cirúrgicas, merecendo a terapêutica da Diabetes, durante a intervenção cirúrgica e no
pré e pós-operatório imediatos, uma abordagem específica.
 A infecção prejudica o controlo da diabetes, e o mau controlo da diabetes prejudica a
evolução da doença infecciosa.
 As intercorrências infecciosas são a primeira causa de descompensação metabólica
nos diabéticos.
 Desequilíbrio da Diabetes
 Intercorrência infecciosa
 É extremamente comum, que por detrás de uma hiperglicemia aguda com
desidratação franca (pré-coma e coma), esteja uma infecção bacteriana grave. Ex:
(infecção urinária, respiratória, meningite), a qual tenha sido o factor desencadeante
do marcado desequilíbrio metabólico presente.

39
Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

 A elevada concentração de glucose no sangue e nos restantes fluídos orgânicos,


facilita o desenvolvimento de fungos patogénicos, em particular, da cândida albicans.

2.10.1. Factores a considerar na terapêutica da diabetes durante as intercorrências


médicas:

 Tipo de Diabetes, seu tratamento e controlo metabólico prévio


 Gravidade da doença intercorrente
 Estado de hidratação e possibilidade de desequilíbrio electrolítico
 Presença ou ausência de via oral garantida

Outros factores a considerar, na decisão do possível internamento:


 Presença de complicações tardias
 Qualidade do apoio familiar, das condições de vida, de higiene, em particular na sua
residência

a) Doente sem necessidade de internamento Doente com intercorrência ligeira: Ex:


infecção urinária, síndrome gripal. Que fazer?
 Aumentar a autovigilância (devem vigiar a sua glicémia 3-4 vezes ao dia (antes das 3
refeições principais) e ao deitar.
 Prevenir a cetose
 Dieta hipolipídica manter e reforçar o fraccionamento das refeições Ingestão de
hidratos de carbono de absorção lenta em quantidade suficiente (180 g/dia)
 Jejum noturno inferior a 8 horas

b) Terapêutica:
 No diabético tipo 1, considerar o aumento das doses de insulina de acção intermédia
 Reforçar a frequência e as doses da insulina de acção rápida, de acordo com glicemias
pré-prandiais.
 No diabético tipo 2, normalmente não é necessário alterar a terapêutica. Se registar um
desequilíbrio significativo, pode haver um ligeiro aumento da dose das sulfonilureias.

2.10.2 Doente com necessidade de Internamento. Doente com intercorrência


infecciosa de gravidade intermédia

Ex: doenças virais com febre alta elevada, gastrenterite, infecção


 Reforçar a autovigilância

40
Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

 Glicémias capilares 4 vezes/dia, até 2-2h durante o dia, se necessário


 Pesquisa de cetonúria em todas as micções
 Prevenir a desidratação
 Reforço hídrico oral
 Alimentos facilmente digeríveis para evitar o vómito

2.10.3 Terapêutica no diabético tipo 1


 Insulina de acção rápida, de acordo com valores da glicémia a intervalos tanto mais
curtos, quanto o grau de desequilíbrio metabólico.
 Por ex.:
• ≥400: 0,2U/kg de peso corporal
• ≥250: 0,15 U/kg
• ≥180: 0,1 U/kg
• >80 <180 - não faz
• ≤80 - Corrigir
 Ajustar doses da insulina de acção intermédia (4 a 6 U/dia) em média

a) Terapêutica no diabético tipo 2


 Interromper eventual biguanida, se estiver a tomar
 Aumentar doses de sulfonilureias, de modo a evitar glicosúrias maciças e glicémias >
200mg
 Ou iniciar insulina de acção intermédia: ± 0,1 UId /kg só uma injecção diária, de
preferência ao deitar, com objectivo de obter níveis basais de glicémia em jejum < 140
mg/dl, sem interromper a sulfonilureia.

Doente internado na enfermaria por outra doença (ex.: AVC, cirrose hepática) ou por
descompensação diabética já em fase de alimentação oral e não necessitando UCI:

 Não medicar com biguanidas


 Manter ou reintroduzir sulfonilureias se não existirem contra-indicações.
Em alternativa:
 Iniciar insulina de acção intermédia, como vimos anteriormente 2 injecções diárias 2/3
ao pequeno-almoço e 1/3 à ceia ou jantar.
 Vigilância de glicosúrias, cetonúrias e glicémias capilares 4 vezes ao dia.
 Iniciar ou passar a insulina de acção rápida para antes das 3 refeições principais, de
acordo com as glicémias capilares pré-prandiais.

41
Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

2.10.2. Doente com necessidade de internamento


doente com infecção grave
 Existe desidratação evidente ou via oral não garantida
 A doença intercorrente é suficientemente grave e exige monitorização em Unidades
de Cuidados Imediatos
 Devem iniciar soros: aproximadamente 3000 cc /24h

2.10.3. Terapêutica na Diabetes tipo 2

 Iniciar insulina de acção rápida de modo


Exemplos de actividades para o
idêntico ao tipo 1
Diabético:
 Se o doente tiver via oral garantida,
iniciar insulina de acção intermédia
(0,2 Ud/ kg distribuída em 2 injecções  Ensinar o paciente sobre Diabe-
diárias: 2/3 ao pequeno almoço e 1/3 a tes e suas complicações (sessões
ceia ou ao jantar) educativas)
 Estas doses devem ser avaliadas e  Ensina-lo a reconhecer e a
acertadas periodicamente. Se tiver em corrigir as complicações agudas
presença de cetoacidose diabética ou  Ensina-lo o autocontrolo e regis-
de coma ou pré-coma hiperosmolar, to das glicemias
deve-se seguir os protocolos de  Ensina-lo a autoadministração
tratamento destas situações. de insulina,
a) Recomendações  Orienta-lo os locais para
administração de insulina e como
Em todo o diabético internado deve ser fazer a rotação
prestada atenção especial a dieta instituída,
 Orientá-lo sobre a conservação e
que deve respeitar sempre o fraccionamento
transporte da insulina
das refeições com intervalos nunca superiores
a 3 horas durante o dia e a 8 horas durante a  Ensina-lo sobre o cuidado a ter
noite. com os pés
Durante o internamento fazer avaliações  Dar informação sobre o planea-
periódicas da terapêutica, para facilitar mento, vigilância e controlo de
a programação da terapêutica após alta uma gravidez
hospitalar.  Reforço em relação à importância
do tratamento (alimentação, ac-
tividade física e medicação)
2.10.4. 10.2.3. Diabetes e cirurgia

A Diabetes não constitui uma contraindicação

42
Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

para se ser submetido a uma intervenção cirúrgica. Aquilo que se preconiza é a obtenção
de um controlo glicémico aceitável para a realização da intervenção e para um melhor pós-
operatório.
No caso de Diabetes tipo 2 controlado com hipoglicemiantes oral pode ser necessária
passagem a insulinoterapia temporária até estarem reunidas condições para retoma da via
oral.
Na Diabetes tipo 1 e Diabetes tipo 2 fazendo insulina poderá justificar-se a efectuação de
ajustes na perspectiva de ter um controlo efectivo.

2.10.5. Critérios para referência e contra referência

É nos Cuidados Primários de Saúde (CPS) que, em primeira instância, as pessoas com
Diabetes deveriem ser abordadas. É daí que surge a grande preocupação de munir as equipas
médicas com as ferramentas necessárias para fazer uma abordagem adequada das diversas
situações na perspectiva de reconhecimento-diagnóstico, tratamento e referenciação em
tempo útil para os Cuidados de Saúde Secundários (CSS), quando necessário.

Quando referenciar?

 Diabetes tipo 1
 Diabetes tipo 2 de difícil manejo (seja sob hipoglicemiantes oral, insulina ou terapêutica
combinada)
 Diabetes tipo 2 com complicações crónicas
 Instabilidade metabólica
 Complicações agudas da Diabetes moderadas a graves com indicação de internamento

Nota: A referenciação nas complicações agudas deve ser feita após estabilização mínima,
transporte com vigilância clínica
Contra-referenciação: Após a alta de internamento ou após avaliação em consulta externa
de especialidade o doente deve ser portador de informação orientadora suficiente para o
seu médico assistente para garantia de acompanhamento adequado e programação de
reavaliações, se necessárias.

2.11. Educação terapêutica-papel da enfermagem

A educação terapêutica consiste no processo de reprodução de condutas, mudança de


hábitos e incorporação de novas atitudes no dia-a-dia. É uma actividade nobre que as
equipas de enfermagem especializada realizam no âmbito da gestão da doença crónica.

43
Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

Tem por objectivo final fornecer à pessoa com doença crónica um conjunto de conhecimentos,
compreensão e ferramentas suficientes para gerir a sua doença, ter autonomia ou ser
feita transferência desta para familiar ou prestador de cuidados. Em suma, pretende-se
promover o bem-estar e melhoria da qualidade de vida da pessoa com Diabetes.

As actividades passam por:

- Dar informação sobre alimentação adequada:


a) Alimentação adequada (qualidade e variedade de alimentos).
b) Sobre a prática da actividade física (benefícios, duração, cuidados prévios e durante a
prática da mesma).
c) Sobre o tratamento ajustado para cada situação clínica.
- Ensinar as formas de pesquisa das glicémias ( Autocontrolo/autovigilância)
- Explicar a insulinoterapia (tipos, mecanismo de acção, técnica de administração,
conservação…)
- Abordar os cuidados a ter com os pés

2.11.1. Demonstrar a técnica de preparação da injeção de Insulina

 Importância de agitar as insulinas de acção intermédia ou pré-mistura.


 Conservação da insulina
 Mudanças de frasco de insulina e de agulha

2.11.2. Técnicas de injecção de insulina

 Injecção subcutânea
 Agulhas de 4 mm
 Com ou sem prega cutânea: injecção com ângulo 90º
 Crianças muito novas (≤6 anos) e adultos muito magros (IMC <19):
 Agulha 4- 12 mm + prega cutânea
 Sem prega ângulo 45º (evitar administração IM)

Após administração de insulina, deixar agulha no local durante 10 segundos


para garantir entrada da dose total de insulina administrada

44
Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

Rotação dos locais de injecção prevenção do aparecimento de lipodistrofias

Rapidez de absorção (ordem descendente):


Locais de administração da insulina

 Abdómen
 Braços
 Coxas
 Nádegas
 Exercício velocidade de absorção
insulina (aumento do fluxo sanguíneo)
 Tecido muscular: absorção mais rápida
do que tecido subcutâneo
 Nos dias de actividade física, evitar a
administração de insulina nos locais do
corpo mais exercitados.

2.11.1. Armazenamento e conservação da insulina

a) Insulina que não está em uso:


 Armazenar no frigorífico (2º a 8ºc)
 Aquecer na primeira administração (rotação entre mãos)

b) Insulina em uso
 Temperatura ambiente ( <30ºc)
 Duração máxima fora do frigorífico até 30 dias ou de acordo com as recomendações
do fabricante

c) Todas as insulinas: proteger da luz solar e de temperaturas extremas

Auto-vigilância / autocontrolo

Avaliação da glicemia:
 Antes da punção capilar lavar e secar bem as mãos
 O local para punção capilar: é feita na zona lateral dos dedos, deve-se variar sempre
de local
 Explicar a importância do registo diário das glicémias.

45
Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

Demonstrar o uso do glucómetro:


 Codificação, utilização da gota, leitura de resultados

Conduta perante a hipoglicemia:


 Definir hipoglicemias: glicemias inferiores a 70mg/dl;
 Explicar as causas, modo de prevenir as complicações agudas da Diabetes
 Sinais e sintomas: fraqueza, suores frios, tremores, sensação de fome, tonturas,
irritabilidade, palidez, confusão mental, dor de cabeça e náuseas.

a)Tratamento oral:
 Ingestão de açúcar – água com açúcar, duas colheres de sopa ou dois rebuçados, Se
após 15 minutos os sintomas persistirem ou a glicemia se mantiver baixa, repetir o
procedimento, se melhorar ingerir hidratos de carbono de absorção lenta (pão ou
bolachas).

b)Tratamento com glucagon:


 Se a hipoglicemia não for tratada adequadamente e dependendo da gravidade da
situação pode induzir a coma hipoglicémico, nestes caso pode administrar-se em
casa a injeção de glucagon.
 Administrar papa açucarada grossa (açúcar com uma a duas gotas de água na
bochecha e recorrer ao hospital).
 Glucagon é uma hormona que provoca a mobilização das reservas hepáticas de
glucose.

Conduta perante hiperglicemia:


 Definir hiperglicemia com valores de glicemia superior a 200 mg/dl em qualquer
ocasião
 Sinais e sintomas: polipneia, polidipsia, polifagia, cansaço, perda de peso.
 Causas: excessos alimentares, falta de exercício físico, stress emocional, dose
insuficiente de insulina ou antidiabéticos orais.
 Tratamento: aumentar a ingestão de água, reduzir o consumo de gorduras, reduzir
o consumo de hidratos de carbono, contactar ou recorrer ao hospital

Ensinar a ter cuidados com os pés:


 Observar diariamente os pés num local com boa iluminação, à procura de lesões,
zona de descamação, calosidades, alteração de temperatura, alteração das unhas,
alterações na coloração da pele

46
Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

 Lavagem dos pés com água tépida e sabão


 Secagem dos pés com uma toalha clara de algodão, tendo especial atenção os espaços
interdigitais (secar bem)
 Hidratação com creme hidratante (não colocar nos dedos nem espaços interdigitais)
 Não cortar as unhas, mas limar duas vezes por semana com lima de cartão
 As meias devem ser claras, de algodão ou lã
 Os sapatos devem ser de biqueira larga, com atacadores ou de velcro, com sola de
borracha.

Muita desta actividade não é contabilizada em termos de horas passadas com os doentes

2.11.3. Diretrizes para glicose, pressão arterial e lípidos (Metas da Associação


Americana de Diabetes)

HbA1C <7.0% (individualização)


Glicose pré-prandial 70-130 mg/dl (3.9-7.2 mmol/l
Glicose pósprandial <180 mg/dl
Pressão arterial <130/80 mg/dl (2.59 mmol/l)
Lípidos LDL: <100 mg/dl (1.59 mmol)
<70 mg/dl (1.81 mmol/l) (with overt CV)
HDL: >40 mg/dl (1.04 mmol/) Masculino
>50 mg/dl (1.04 mmol/l) Feminino
TG: <150 mg/dl (1.69 mmol/dl)

47
Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

EU TENHO DIABETES!

Nome:…….………………………………………………………………………………
Morada:………………………………………………………………………………….
Contacto para emergência:……………………………/………………………..

Ajude os outros a lhe ajudarem usando o cartão de cuidados para


a Diabetes

SE EU ESTIVER AGINDO DE MODO DIFERENTE DO HABITUAL


(SONOLÊNCIA, AGITAÇÃO, CONFUSÃO PALIDEZ, SUOR, FRIO
OU PERDA DA CONCIÊNCIA), O MEU NÍVEL DE AÇÚCAR NO
SANGUE PODE ESTAR BAIXO.

 Por favor, dê-me sumo de frutas ou um sumo com


açúcar, se eu conseguir engolir. Se não melhorar dentro
de 20 minutos, por favor contactar imediatamente a
morada deste cartão.

48
Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

3. TERAPIA NUTRICIONAL NA DIABETES MELLITUS

3.1. CONTEXTO GERAL

A terapia nutricional em DM tem sido identificada como o ponto-chave para o


adequado controle metabólico dos pacientes com diabetes. Ela é importante para
evitar ou retardar complicações. Para isto, é necessária a intervenção do profissional
de nutrição. Todos os indivíduos com diabetes e os recém-diagnosticados devem
ser avaliados (no nível primário de saúde e ou na comunidade) por um nutricionista,
ou enfermeiro (na ausência do nutricionista) que também têm um papel crucial na
prestação de aconselhamento dietético. A avaliação e recomendação nutricional são
elementos indispensáveis da terapia nutricional.

A terapia nutricional na DM requer uma abordagem individualizada, e o seu objectivo


é de manter um perfil metabólico aceitável. Para isto é necessário incluir na dieta
alimentos que ajudam a:

 Manter os níveis de glicemia normais ou próximos do normal;


 Atingir e manter o peso ideal para o seu estado
 Prevenir ou reduzir os riscos de complicações da doença;
 Manter os níveis de pressão adequados para a redução do risco de doenças
cardiovasculares.

Neste contexto a educação alimentar e nutricional é uma parte importante para um


manejo bem-sucedido da DM. Requer uma abordagem que capacite o indivíduo para
um autocontrolo nutricional efectivo.

3.1.1. Alimentação saudável

Ter uma alimentação saudável envolve


assegurar a presença diária de pelo menos
Uma alimentação saudável respeita
quatro grupos de alimentos/nutrientes na
as necessidades nutricionais
alimentação, tendo em conta a cultura e
individuais e valoriza os aspectos
condição social e económica do indivíduo com
culturais, econômicos e regionais.
Diabetes. É necessário que os Nutricionista
É completa e saborosa, nutritiva,
com o seu paciente estabeleçam horários,
equilibrada moderada e variada.
definam as quantidades, e a frequência das
refeições do paciente. Os alimentos a serem
consumidos ao longo do dia devem adequar-se
as necessidades fisiológicas do indivíduo.

49
Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

Todos os grupos alimentares são necessários para manter a saúde do indivíduo tendo
como o guia a roda alimentar.

Roda alimentar para orientação nutricional

Composição de um prato composto por vários


grupos alimentares da roda alimentar:
Carbohidratos, proteínas, gordura e legumes

Alimentos

Os alimentos são substâncias utilizadas


pelos seres vivos como fonte de matéria e É MITO pensar que pessoas com
energia para poderem realizar as suas funções Diabetes devem comer alimentos
vitais. Os principais grupos de alimentos especiais para Diabéticos.
são os fornecedores de macronutrientes:
carbohidratos, proteínas e gorduras. A VERDADE é que alguns destes
produtos alimentares, contribuem
para o aumento da glicémia e são
3.2. Macronutrientes mais caros. Uma refeição saudável
para pessoa com Diabetes é a
3.2.1. Carbohidratos (CHO): mesma para a pessoa que não tem
Diabetes. Envolve, pouco consumo
 São fontes exógenas de produção de de gorduras saturadas, moderação
glicose, mas são as mais importantes do consumo de açúcar e sal, e
fontes de substrato energético cerebral. Privilegiar os legumes e a prática
As recomendações dos CHO são iguais de actividade física.
como as sugeridas para a população em
geral, entretanto, a sua quantidade deve
ser estabelecida de acordo as metas de
tratamento estabelecidas entre o profissional e o paciente de modo que não se altere
tanto a insulina. Após a ingestão de carbohidratos, este é absorvido em forma de
glicose.

50
Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

Os carbohidratos, quando totalmente metabolizados no organismo, geram 4 kcal. O que se


recomenda não exceder os 60% do valor calórico total diário (400g). A maior parte destes
carbohidratos devem ser obtidos a partir de alimentos complexos ricos em fibras.

O controlo da quantidade de carbohidratos das refeições é uma estratégia útil para


melhorar os níveis glicémicos pós-prandiais.

 Proteínas: A recomendação de ingestão diária é, em geral, de 15% a 20% das


necessidades diárias do indivíduo equivalente a 1g/kg de peso corporal em pacientes
que apresentam função renal normal.

Para pacientes com diabetes que apresentam complicações da doença renal, a


quantidade protéica a ser ingerida deve receber orientação nutricional específica. São
desincentivadas ingestões significativamente superiores as necessidades.

 Gorduras: A ingestão de gordura tem implicações importantes em termos de lípidos


no sangue, gestão de peso de riscos cardiovasculares. A maioria dos pacientes
diabéticos precisa fazer ajustes nas quantidades tendo em conta o tipo de gordura a
ser consumida.

A recomendação da quantidade total de lípidos para DM ainda não é algo concluido,


devendo esta ser individualizada e recomendada pela qualidade em vez da quantidade.
Estes ainda podem ou devem ser recomendados de acordo as metas de tratamento.
Comparativamente aos carbohidratos e as proteínas, os lipidos fornecem mais energia, i.e.
9kcal/1 grama de gordura.

A distribuição deste macronutriente deve ser baseada na avaliação individualizada,


preferências e metas metabólicas. O Colesterol deverá ser limitado em até 200mg/dL/
dia. Neste contexto convém, incentivar o consumo de peixe 2 a 3 vezes por semana para
provimento adequado de gordura polinsaturada, que é uma gordura mais saudável.

 Fibras: As fibras são classificadas como solúveis e insolúveis. As fibras insolúveis


produzem sentido de saciedade e ajudam no controle do peso. As fibras solúveis
exercem funções de controlo da glicémia no sentido de que estas atrasam a velocidade
de absorção pós-prandrial da glicose a ingestão diária recomenda é de 30-50g/dia.

 Álcool: O álcool suprime acentuadamente a glucogénese, pelo que tem efeito


hipoglicemiante tanto em pessoas que usam insulina como naquelas em que se
utilizam hipoglicemiantes orais, portanto não devendo ser consumido sem alimentos
ou de preferência desincentivar o seu uso. O álcool também interfere no metabolismo
dos macronutrientes elevando os níveis de triglicerídeos no sangue.

51
Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

Em indivíduos tratados com insulina ou sulfonilureias o álcool pode causar


hipoglicémia de tal gravidade, podendo resultar em morte ou lesão cerebral. É
vital que o paciente diabético que assume o risco de consumir álcoolsó consuma álcool
em conjunto com carbohidratos (antes, durante e depois do seu consumo) sem exceder
os limites de quantidade.
Um grama de álcool contribui com 7 kcal para o plano alimentar. O limite de ingestão de
álcool a ser consentido é de duas porções/semana, ou seja, duas latas de cerveja (350
ml, ou duas taças de vinho,150ml por semana), É de preferência evitar o seu consumo.

3.3. Micronutrientes

São elementos ou compostos químicos presentes em quantidades mínimas nos alimentos


e têm funções específicas e vitais nas células e nos tecidos do corpo humano (vitamina
A, Vitamina C, Cálcio, ferro, iodo etc.). Diferentes dos carbohidratos os micronutrientes
tais como vitaminas e minerais não geram energia, mas são de suma importância para o
funcionamento normal do organismo.

3.3.1. Vitaminas

As vitaminas recomendadas, quer para as pessoas com diabetes mellitus quer do tipo I ou
II, a recomendação é igual para a população em geral. Embora o indivíduo com diabetes
mal controlado possa estar mais em risco de deficiencias de vitaminas hidrossolúveis
devido a poliúrria. Entretanto, o uso prolongado da Metformina pode levar a deficiência
das vitaminas B12 e B1, que é uma das prováveis causas das neuropatias Diabetica, sendo
necessário que o paciente seja suplementado. 9

• Recomenda-se 2-4 porções de frutas diária


1 unidade ou fatia média, dependendo do
tamanho da fruta. Fontes de vitaminas e
minerais:
• O profissional deve recomendar pelo menos
Frutas, hortaliças e legumes;
uma peça de fruta rica em vitamina C,
tocoferois, carotenoides e flavonoides por Leite e derivados, carnes,
serem antioxidantes e importantes para a castanhas e nozes;
protecção de doenças cardiovasculares e Cereais (ex.: milho, aveia).
algumas infecções.
• Na diabetes gestacional é importante que a
mulher grávida continue recebendo a suplementação com ácido fólico para prevenir
anomalias congénitas do bebé, tal como a não diabetica

52
Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

3.4.2 Sais minerais

 Sódio: dada as claras ligações entre hipertensão e desenvolvimento de complicações


tanto microvasculares como macrovasculares, os pacientes diabéticos devem ser
incentivados a reduzir a ingestão de sódio neste caso, 2,300 mg/, consumir mais
frutas e vegetais e evitar os alimentos pronto a comer, e também, é útil orientá-los
no sentido de ler as informações nutricionais dos rótulos.

 Potássio: pelo facto do potássio contrariar os efeitos hipertensores do sódio, é a


razão para incentivar o consumo de frutas e verduras. Pacientes diabéticos tratados
com tiazida e diuréticos de alta potência podem necessitar de suplementos de
potássio para substituir as perdas do mesmo.

3.3.2. Adoçantes

Foram formulados para atender as necessidades dos indivíduos com Diabetes em


substituição ao açúcar, e são prescritos para atender as necessidades dos indivíduos
sujeitos a restrições da ingestão da Sacarose. Entretanto o seu uso não deve ultrapassar a
dose diária recomendada.

Tabela 14. Adoçantes Dietéticos e sua ingestão diária recomendada.


Tipos de adoçantes Ingestão diária aceitável Poder de dulçor comparado
ao açucar
Sacarina 15 mg por kg de peso corporal/dia 200 a 700 vezes

Aspartame 50 mg por kg de peso corporal/dia 200 vezes

Acessulfame de 15 mg por kg de peso corporal/dia 200 vezes


potássio
Sucralose 5 mg por kg de peso corporal/dia 600 vezes

Neotame 0,3 mg por kg de peso corporal/dia 7.000 a 13.000 vezes

Estévia 4 mg por kg de peso corporal/dia 200 a 400 vezes

Ciclamato 11 mg por kg de peso corporal/dia 30 vezes

Fonte: Food and Drug Administration, 2015; CUPPARI, Lilian et al., 2015; ROSS et al, 2016.

3.4. Avaliação nutricional na Diabetes

Método usado para avaliar o estado nutricional de indivíduos e identificar pacientes sob risco
nutricional. Neste método, busca-se a história clínica do paciente, e evidências objetivas do
estado nutricional através da antropometria (através do IMC e circunferências), avaliação
clínica e dados bioquímicos), além das intervenções terapêuticas com interações nutricionais

53
Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

e, a descrição do padrão alimentar ou o tipo


de dieta que o paciente precisa ingerir no Ítens usados na avaliação do
momento da avaliação. Em pacientes com estado nutricional:
Diabetes objectiva recolher informações 1. Anamnese alimentar:
sobre o seu consumo alimentar.
Geralmente composta pelos
seguintes itens:
3.4.1. Índice de Massa Corporal
• Dados pessoais
Medida antropométrica universal usada • Condições socioeconômicas
para saber se individuo está com o peso
• História clínica
adequado para a sua altura e idade.
• Avaliação dietética
IMC (Índice de Massa Corporal) = Peso • Avaliação antropométrica
Altura2 • Exame físico/clínico
• Avaliação bioquímica
• Conduta nutricional

Tabela. 15 Riscos de co-morbilidades segundo o IMC e Circunferência abdominal


Classificação IMC Kg/m2 Observações Circunferência Classifi- Observações 
Abdominal cação
 Baixo peso  <18,5 Baixo risco de Homens Mulheres    
comorbidades

 Peso normal  18,5-24,9 Medio risco de  ≤ 90 Cm  ≤ 80 Cm  Normal  Sem risco de complicações


comorbidades metabólicas
 Sobrepeso  25-29,9 Risco aumentado 90-94 Cm  80-84 Cm  Medio  Sem risco de complicações
de comorbidades metabólicas
 Obesidade I  30-34,9 Risco moderada 94-102 cm  84-88 cm  Alto Maior risco de
complicações metabólicas
Obesidade II  35-39,9 Grave  ≥102 cm  <88 cm Muito alto  Risco elevado de
complicações metabólicas
Obesidade III  ≥40,0 Muito grave        

3.5. Plano alimentar na Diabetes

O plano alimentar para o indivíduo diabético deve ser individualizado fraccionado em 5 a 6


refeições por dia, sendo, 3 principais e 2 ou 3 lanches. Para isto é necessário o conhecimento
sobre aspectos relacionados como a região e a cultura e os métodos de confeccionamento
dos alimentos (dar preferência aos cozinhados, grelhados, a vapor ou até mesmo crus).

54
Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

O plano alimentar deve permitir ao indivíduo


uma vida activa, perfeitamente integrada É MITO pensar que todo paciente
ao seu grupo social e merecer uma atenção portador de Diabetes deve seguir o
exclusiva, adequando as necessidades mesmo plano alimentar. As carnes,
nutricionais, estado fisiológico, nível de ovos e queijos podem ser consumidas
actividade física, medicação e situação a vontade.
socioeconómica e a crença religiosa.
FACTO é que não existe um plano
As recomendações nutricionais para a
alimentar padrão para o indivíduo
construção do plano alimentar devem
com Diabetes, a ingestão de cada
considerar sexo e faixa etária, estilo de vida,
nutriente deve ser individualizada,
peso e altura, de acordo com a FAO – Food
baseada na avaliação nutricional,
Agriculture Organization (2004).
perfil metabólico, peso e objectivos
do tratamento. Carnes, ovos e
Ao elaborar o plano alimentar do paciente, é
queijos são ricos em proteínas que
preferível que escolha alimentos com baixo
quando consumidos em excesso
índice glicémico, estes já demonstraram,
podem subcarregar os rins.
consideravelmente, benefícios no controlo
da glicémia tanto para a prevenção como
para o controle da DM.

Para diminuir a resposta glicémica da ingestão dietética, alimentos com alto IG podem
ser substituidos por alimentos de baixo IG quando forem consumidos de maneira isolada,
ou adicionar fonte proteica ou fibrosa para o atraso da absorção do açúcar presente no
alimento.

3.5.1. Índice glicémico (mg/dL)

Proposto para auxiliar a selecção de alimentos, permitindo avaliar o efeito hiperglicemiante


de uma refeição ou de um alimento. A dieta com baixo índice glicémico é uma estratégia
primária para a melhora do controle da glicémia. É a velocidade com que um alimento se
torna em glicose no sangue, usado para classificar os diferentes carboidratos dietéticos
quanto a sua capacidade de elevar a glicémia quando comparado a um alimento de
referência, (Mahan et al., 2013).

Tabela. 16 Classificação de Índice glicémico em relação a


glicose (mg/dL
Classificação Índice Glicémico

Baixo ≤55

Médio 55-69

Alto ≥70

Fonte: Mahan et al., 2013

55
Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

3.5.2. Plano alimentar e Diabetes Mellitus tipo 1

Para o plano alimentar do paciente com diabetes do tipo I, o que se quer é evidenciar os
diferentes métodos de terapia nutricional aos portadores de DM1, para que o profissional
possa decidir junto ao seu paciente a melhor estratégia para ele, naquele momento quadro1.

 Deve-se limitar o consumo de gorduras saturadas e doces


 Respeitar os horários das refeições a fim de se evitar a hipoglicemia;
 Assegurar sempre as mesmas quantidades evitando assim as alterações da insulina

3.5.3. Estratégias nutricionais para tratamento da DM1:

 Pirâmide ou roda alimentar: esta deve servir de guia para o profissional e o paciente,
uma vez que os alimentos já estão agrupados.
 Auto-monitorização da glicemia: O sucesso da terapia alimentar do paciente
depende em grande parte da monitorização da glicemia em casa, servindo-se de guia
para o profissional na eficácia da terapia alimentar;
 Fazer substituições de acordo a pirâmide ou roda alimentar;
 Contagem de carbohidratos: estes tendem a ter maior efeito na insulina. Pode ser
usada para pacientes com qualquer tipo de diabetes;
 Verificar sempre os objectivos da terapia nutricional, caso não estiverem a ser
alcançados, deve se modificar a estratégia.

3.5.4. Plano alimentar e Diabetes Mellitus tipo 2

O plano alimentar para DM2 favorece o controlo metabólico que por seu lado traduz na
melhor qualidade de vida. É importante que o profissional deve disciplinar o paciente
de acordo o plano alimentar: Deve oferecer uma alimentação fraccionada ajustada as
actividades físicas e ao esquema de insulinização ou de antidiabéticos orais, de forma a
impedir o consumo excessivo de alimentos nas refeições e o jejum prolongado.

3.5.5. Plano alimentar na Diabetes Mellitus Gestacional

O plano alimentar da gestante deve ser individualizado com foco nas necessidades de cada
trimestre de gestação e controle metabólico

A distribuição energética deve basear-se nas recomendações de alimentação saudável e


equilibrada, sendo composta por 40 a 55% de carbohidratos e 20 a 35% de gorduras 15%-
20% de proteínas, considerar as fontes proteicas de alto valor biológico, 20 a 35g/dia de
fibras ou 14g/100 kcal semelhantes às mulheres não diabéticas (ADA, 2017).

56
Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

Para evitar episódios de hiperglicemia e hipoglicemia ou cetose devem ser dados três
lanches (da manhã, tarde e a noite) e três refeições principais (pequeno almoço, almoço e
jantar), no caso das gestantes que fazem uso de insulina, é importante considerar que o
lanche noturno precisa conter cerca de 25 g de carbohidratos complexos, além de proteínas
e ou gorduras para evitar a ocorrência de hipoglicemia durante a madrugada.

3.5.6. Plano alimentar nas complicações metabólicas, agudas e crónicas da diabetes:


hipoglicemia, nefropatia, dislipidemias

É importante que o profissional de nutrição oriente o paciente a fazer a automonitorização


da glicémia antes e após a refeição para saber os valores da glicémia antes e pós-prandial
e assim ajustar a dieta do paciente a sua condição específica. Aqui o objectivo é retardar ou
estacionar a progressão das complicações metabólicas da DM.

3.6. Terapia nutricional para a Hipoglicemia

O controlo da alimentação contribui para eliminar os sintomas da hipoglicemia e para


normalizar os níveis de glicose sanguínea. Segundo a Associação Canadense de diabetes
recomenda-se:

 No caso da hipoglicemia grave, se o paciente estiver consciente a quantidade de


carbohidratos deve ser dobrada e deve ser ofertado 30g de carbohidratos de rápida
absorção.
 Se o paciente estiver inconsciente, deve se evitar qualquer líquido
 Ofertar mel em açúcar ou carbohidratos em gel
 Paciente inconsciente sem a capacidade de deglutir a melhor opção é a aplicação do
glucagon injectável.
 Privilegiar os alimentos ricos em fibras;
 Aumentar a frequência das refeições (pelo menos 5) em pequenas quantidades.
 Evitar alimentos ricos em açúcares, porém gordurosos

3.6.1. Recomendações para tratamento dietético da hipoglicemia, (<60 mg/dl de


glicémia):

É importante que o paciente ingira 15g de carbohidratos simples, equivalente a:


 01 Colher de sopa rasa de açúcar ou mel ou;
 50ml de refrigerante comum (não dietético) ou;
 150ml de sumo, podendo ser de algum tipo de fruta de preferência laranja ou;
 03 Rebuçados ou caramelo;
 Aguardar 15 minutos e verificar a glicemia novamente. Caso permaneça menor

57
Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

que 70mg/dl, voltar a ingerir 15g de CHO (consumir somente o que for planeado) e
antecipar a refeição ou;
 Testar a glicemia de 1h:30 a 2h e 4h a 5h após a refeição ou;
 O ideal é que depois de duas horas a glicemia esteja menor do que 140mg/dl (100 a
140mg/dl).

3.6.2. Alimentação na nefropatia diabética:

A nefropatia diabética é consequência de um processo de hiperglicemia crónica. O plano


alimentar deve ser individualizado tal como nas outras complicações e deve variar de
acordo o estado de falência do rim.

Neste caso o profissional de nutrição deve orientar o seu paciente no sentido de controlar
o uso de minerais como o sódio e o potássio.

A terapia nutricional pode ser dividida em 3 fases: qualquer pessoa

 Controlo regular da glicemia, controlo da pressão arterial, do colesterol total e


suspensão do tabaco, caso o paciente seja um fumador.
 Estabelecer o plano alimentar com o controlo rigoroso de proteínas, carnes, ovos,
leguminosas, entre outras. Devem variar numa quantidade de 0,8 a 0,6 g/kg de peso
corporal por dia em adultos, isto é cerca de 10% da energia dietética. Aqui o que se
quer é não sobrecarregar os rins. Pode-se fazer substituições sempre controlando a
quantidade de proteínas no alimento e optar por escolher fontes proteicas de origem
vegetal que por vezes supõe-se serem menos agressivas ao rim.
 Na última fase, quando já existe a falência total do rim, em que se pode fazer a
substituição do órgão, hemodiálise e diálise, o plano alimentar pode ser menos
rigoroso. A ingestão proteica precisa ser corrigida de acordo a perda no processo de
filtração.

3.6.3. Alimentação e Dislipidemias:

Deve incluir tratamento dietético na dislipidemia, deve ser levado em conta:


 Mudança no estilo de vida;
 Restringir o uso de gorduras saturadas e colesterol, se fizer parte, apenas 10% do
total de kcal
 Deve-se incentivar o uso de gordura monoinsaturada, neste caso o azeite de oliveiras,
frutos secos (castanhas de cajú, nozes) e abacate
 Peixes/Pescados de água fria, estes são fontes de ómega3
 Controle do peso

58
Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

 Tirar o álcool da dieta em todos os casos de dislipedemia


 Estimular a prática de actividade física de forma a aumentar os níveis de HDL (colesterol
que favorece o controlo do peso).

Na dislipidemia o plano alimentar deve incluir as carnes magras (peito de frango e perna de
perú), leite desnatado, cereais integrais, legumes, frutas e verduras. Estes fornecem uma
quantidade adequada de vitaminas, minerais e fibras, que são importantes no combate às
dislipidemias

 Incluir fibras solúveis (frutas) e gomas (aveia, cevada e leguminosas: feijão, ervilhas,
grão de bico e lentilhas) reduzem o tempo de trânsito intestinal ajudando a eliminar o
colesterol
 Incluir as fibras insolúveis (grãos, hortaliças), para aumentar a saciedade e auxiliar a
redução do peso do indivíduo, caso esteja acima do recomendável.

Tabela 17. Recomendação Nutricional


Nutrientes Ingestão recomendada/dia
Valor Energético Total (VET) *Considerar sempre as necessidades individuais.

Carbohidratos Totais 45%-60% não inferior a 130g/dia


Sacarose (açúcar de mesa) Até 5% do valor energético total (90g/dia incluindo os outros alimentos)

Sódio 5g da ingestão diária


Fibra alimentar 20g/dia mínimo ou 14g/1000kcal; DM2: 30-50/dia

Gordura total (GT) De 20 a 30% Valor Energético Total


Ómega-3 (proveniente dos alimentos) 4-10g/dia
Ácidos gordos saturados (AGS) <7% Valor calórico total

Ácidos gordos poli-insaturados Até 10% do valor calórico total

Ácidos gordos mono-insaturados 12% Total de energia


Colesterol <200 mg/dia
Proteína 15%-20% Valor calórico total

3.7. Exercícios físicos na DM1 e DM2

Qualquer actividade física, recreativa, laboral ou desportiva pode ser feita pelos diabéticos.
Não obstante deve se estar alerta para as possíveis complicações e as limitações impostas
pelo comprometimento sistémico. O maior risco na prática de exercícios é a hipoglicémia
que pode ocorrer durante e após a actividade física.

59
Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

3.7.1. Recomendações de exercícios na Diabetes

Todo o indivíduo com diabetes deve ser


incentivado a praticar exercícios físicos Exercícios de resistência/
regularmente. É recomendável a actividade fortalecimento muscular devem ser
aeróbica diária moderada em pelo menos incluídos no plano de atividades do
2 a 3 dias na semana. Os exercícios podem diabético, estes provocam elevação
ser ciclismo, caminhadas vigorosas, natação da sensibilidade da insulina de
continuada, dança, hidroginástica, ginástica maior duração
aeróbica entre outros exercícios.

A duração vai depender do tipo de exercício, da intensidade e da frequência semanal. O


tempo determinado para exercícios é de 60 minutos por dia exercícios de intensidade
moderada ou de 15-25 minutos de alta intensidade por dia.

3.7.2. Contra indicações de exercícios

 Na DM1- Glicemia capilar >250 na


presença de cetose e >300 mg/dl
mesmo na ausência de cetose Para evitar complicações o
 Quadro de infecção paciente deve ser orientado
durante a prática de exercício
 Neuropatia periférica
físico:
 250 mg/dl com presença confirmada
de cetose como precaução >300 mg/dl
mesmo sem confirmação de cetose  Consumir antes ou durante, uma
peça de fruta ou 20-30g de CH0.

3.7.3. Tipo de Exercício  Controlar os níveis de glicémia


antes, durante e após o treino.
Os Exercícios podem ser aeróbicos,  Evitar treinar no final da tarde
envolvendo grandes grupos musculares, (pode aumentar o risco de
como, por exemplo, caminhada, ciclismo, hipoglicemia noturna)
corrida, natação, dança, entre outros, podem  Estar atento aos sintomas
ser prescritos de forma constante/contínua da hipoglicemia (ansiedade,
(a mesma intensidade) ou alternada (com tonturas, nervosismo, suar sem
diferentes intensidades de exercício). motivo aparente, sonolência,
Exercícios de flexibilidade também devem confusão mental e dificuldade de
ser contemplados, pois há redução falar)
da flexibilidade pela ação deletéria da
hiperglicemia crônica sobre as articulações,
além da decorrente do envelhecimento.

60
Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

3.7.4. Duração do exercício

A duração necessária de uma sessão de exercício depende da intensidade e da frequência


semanal dos exercícios. Nos pacientes diabéticos, a duração de um exercício deve ser
planeada para minimizar riscos de hipoglicemia, geralmente sendo necessária a reposição
de carbohidratos quando o exercício tiver duração >60 minutos. A recomendação mais
atual para diabéticos é de 150 minutos de exercícios de moderada intensidade por semana
ou 75 minutos de exercícios de alta intensidade por semana ou uma combinação de ambos.

3.7.5. Prescrição do exercício

Os princípios gerais da prescrição de exercício devem ser seguidos respeitando-se as


particularidades da doença de base. Qualquer atividade física, recreativa, laboral ou
desportiva pode ser feita pelos diabéticos, mas deve-se estar alerta para as possíveis
complicações e as limitações impostas pelo comprometimento sistêmico da Diabetes.

3.7.6. Vantagens do Exercício físico na Diabetes

Durante o exercício, a quantidade de insulina deve ser suficiente para permitir a entrada
de glicose dentro da célula muscular, mas deve ser reduzida para liberar os estoques de
glicogênio do fígado. Promove:

 Aumento da acção da insulina;


 Aumento da captação de glicose pelo músculo, reduzindo muitas vezes as doses
de medicamentos e auxiliando na prevenção de problemas associados ao diabetes,
como alterações na retina, nos vasos sanguíneos, nos nervos, rins e coração;
 Diminuição da glicose circulante
 Aumento da sensibilidade celular a insulina
 Diminui o colesterol mau e aumenta o bom. Para o diabético isso é muito importante,
porque previne doenças vasculares melhorando a pressão arterial
 Promove a perda de peso em indivíduos com o peso acima do normal

61
Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

4.
ABORDAGEM MULTIDISCIPLINAR E CUIDADOS
CONTINUADOS NA DIABETES

Cuidados Paliativos/ continuados na DM (CP) é uma abordagem que promove a qualidade de


vida dos pacientes e seus familiares, que enfrentam doenças que ameaçam a continuidade
da vida, por meio da prevenção e do alívio do sofrimento. Requer identificação precoce,
avaliação e tratamento da dor e outros problemas de natureza física, psicossocial e espiritual”.
Devendo oferecer uma cobertura que responde as necessidades preferencialmente pública.

Os Cuidados Paliativos não se baseiam em protocolos, mas em princípios. Não se fala


mais em terminalidade, mas em doença que ameaça a vida, indica-se o cuidado desde o
diagnóstico. Indicam-se os objectivos dos cuidados, entre estes:

 Proporcionar a melhor qualidade de vida possível para pacientes e familiares.


 Melhorar a qualidade de vida do diabético em situação terminal e de suas famílias de
maneira racional, planificada e eficiente.
 Garantir os CP segundo os princípios reitores do Sistema Nacional de Saúde (SNS).

Sendo a diabetes uma doença crónica, o controlo desta doença, é portanto, a sua vigilância,
devendo ser partilhada entre o doente e os profissionais de saúde. Que consiste:

 Acompanhamento médico;
 Auto-vigilância da glicémia capilar.

4.1. Abordagem da componente psicológica

Receber o diagnóstico da DM acarreta muitas vezes em um choque emocional para a


pessoa, que não está preparada para conviver com as limitações decorrentes da condição
crónica, da despreparação, o que acaba interferindo em sua vida familiar e afectando suas
relações.

Cada indivíduo vai se apropriar de modo muito peculiar de sua doença. A percepção que
tem de si mesmo, das dificuldades e das limitações com que se depara no curso da doença e
de sua forma de confrontá-la é que permitirão que ele dimensione a situação e se capacite
para a resolução de problemas.

62
Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

O papel da psicologia médica consiste em intermediar a relação médico-paciente,


facilitando esse diálogo. E, por ter uma escuta diferenciada, o psicólogo é capaz de intervir,
de estreitar o vínculo entre o médico e seu paciente, criando condições para que o paciente
se sinta acolhido e mais motivado em seu tratamento, livre de cobranças ou críticas,
estabelecendo uma relação de parceria, participando, contribuindo e tendo mais controle
sobre a sua doença, estimulando a presença de familiares do paciente na consulta, que
poderão contribuir com informações, participando das discussões sobre o tratamento.

Trabalhar a aceitação da doença e a motivação do paciente para seguir a terapêutica, auto-


cuidado, prática de actividade física, dieta e equilíbrio emocional fazem parte do trabalho
da psicologia, através da psico-educação e orientação, oferecendo acolhimento e suporte.

A psicologia clínica faz parte da equipa de seguimento da pessoa com Diabetes. É elemento
chave na avaliação e no processo de gestão da doença crónica. Participa na motivação do
doente e na identificação dos factores de negação e da não ou má adesão ao tratamento.
Cabe-lhe o papel de penetrar no interior da pessoa com diabetes, no seio da família ou
dos cuidadores e encontrar o que há de melhor para a dinâmica que se pretende no
acompanhamento do doente e propicia a sua integração psicossocial. Não é um processo
fácil. É-lhe reservada uma actividade de grande complexidade só comparável com a
própria doença.

4.2. Cuidados ao paciente com Diabetes e sua família


4.2.1. A Diabetes e a Família

O cuidado integral ao paciente com diabetes e sua família é um desafio para a qualquer
equipa de saúde, especialmente para poder ajudar o paciente a mudar seu modo de viver,
o que estará directamente ligado à vida de seus familiares e amigos. Aos poucos, ele deverá
aprender a gerenciar sua vida com diabetes em um processo que vise qualidade de vida e
autonomia.

4.3. Acções e condutas que devem fazer parte do trabalho de toda a equipa
para garantir o fortalecimento e efectividade do cuidado, a adesão aos
protocolos e a autonomia do paciente:

 Oferecer cuidado a todos os pacientes, com sensibilidade para aspectos culturais e


desejos pessoais, na visão de cuidado integral centrado na pessoa.
 Encorajar relação paciente - equipa colaborativa, com participação activa do paciente
na consulta;
 Criar oportunidades para que o paciente expresse suas dúvidas e preocupações;

63
Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

 Respeitar o papel central que o paciente tem no seu próprio cuidado, reconhecendo os
aspectos familiares, económicos, sociais e culturais que podem prejudicar ou facilitar
o cuidado.
 Assegurar-se de que conteúdos - chave para seu auto-cuidado tenham sido
abordados.
 Avaliar periodicamente o estado psicológico dos pacientes e sua sensação de bem-
estar, levando em consideração a carga de surgir uma doença crónica, respeitando as
crenças e atitudes dos pacientes.
 Explicitar os objectivos e abordar as implicações de um tratamento longo e continuado.
 Negociar com o paciente, um plano individualizado de cuidado, revisando-o
periodicamente e mudando-o de acordo com as circunstâncias, condições de saúde e
desejos do paciente.
 Discutir e explicar o plano de cuidado do paciente com os seus familiares, com a
concordância prévia do paciente.
 Incentivar e promover actividades multidisciplinares de educação em saúde para
pacientes e seus familiares, em grupos ou individualmente, levando em consideração
aspectos culturais e psicossociais, com ênfase no empoderamento e na autonomia do
paciente para seu auto-cuidado.
 Estimular que os pacientes se organizem em grupos de ajuda mútua, e aconselhamento
como, por exemplo, grupos de caminhada, trocas de receitas, técnicas de auto-
cuidado, entre outros.
 Envolver os pacientes nas discussões sobre planeamento de ações dirigidas ao
diabetes na unidade, aumentando a autonomia e o poder dos pacientes sobre suas
próprias condições. Não esquecer que o “especialista” em diabetes para cada paciente
é o próprio paciente.
 Promover a educação profissional individualizada/ direcionada, permanente sobre
Diabetes na equipa de saúde a fim de estimular e qualificar o cuidado.
 Definir dentro da equipa de saúde formas de assegurar a continuidade do cuidado e
orientar os pacientes sobre a forma de prestação desse cuidado continuado.
 Cadastrar todos os pacientes a fim de favorecer ações de vigilância e busca de faltosos.
 Usar os dados dos cadastros e das consultas de revisão dos pacientes para avaliar
a qualidade do cuidado prestado em sua unidade e para planear ou reformular as
acções em saúde (ex., proporção de pacientes diabéticos que realizam hemoglobina
glicada (A1C) pelo menos 2 vezes/ano.

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Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

REFERÊCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. American Diabetes Association Standards of medical care in diabetes (2014). Diabetes Care.

2. Antonino Java Albarram (2001). Endocrinologia. Editora Médica Panamericana


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5. Brown, M. (2017). Diabetes lifestyle. África do Sul: CDE Club.


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Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

Apêndice A
Tabela 18. Índice glicémico (IG) e carga glicémica (CG) de alguns alimentos
Cereais Quantidade/g IG CG
Pão de Centeio 30 50 6
Pão integral 30 71 9
Papa de aveia 250 51 11
Arroz branco 150 64 23
Arroz basmati 150 58 22
Arroz integral 150 55 18
Arroz parabolizado 150 47 16.92
Milho cozido 80 60 11
Esparguete branco 180 57 27
Esparguete integral 180 37 16
Galetes de arroz 25 78 17
Corn Flakes 30 92 23
Bolacha de água e sal 20 71 12.78
 Lácteo

Leite integral 250 27 3.5


Iogurte 200 36 3
Adoçantes

Mel (puro) 25 58 12
Bebida

Sumo de maçã (sem adoçar) 50 63 17


Sumo de Cenoura 250 43 10
Sumo de Laranja 250 50 13
Coca-Cola 250 63 16.32
Frutas

Maçã 120 38 6
Damasco 120 57 5
Banana 120 52 12
Uvas 120 49 9
Kiwi 120 53 6
Laranja 120 42 5
Pêssego 120 42 5
Pêra 120 38 4
Ameixa 120 39 5
Uvas passas 60 64 28

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Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

Morangos 120 40 1
Mamão 120 59 10.3
Melancia 120 72 4
Melão 120 70 4
Abacaxi 120 66 6
Legumes

Favas 80 79 9
Ervilhas 80 48 3
Abóbora 80 75 3
Milho 80 52 9
Beterraba 80 64 5
Cenoura 80 47 3
Batatas (no forno) 150 85 26
Batata (cozida) 150 85 26
Batatas fritas 150 75 22
Batata-doce crua 150 61 17
Batata-doce cozida 150 44 11

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Apêndice B
Vitaminas

Funções no organismo Carência Fontes

Importante para a saúde da pele, Cegueira noturna, lesões Couve, brócolos, espinafre, cenoura,
olhos, dentes, cabelos e ossos. e ressecamento da pele e abóbora, batata doce, fígado, ovo, leite
Vitamina A

Fortalece a imunidade e Actua na mucosas, baixa imunidade integral e queijo. Vegetais verdes e
manutenção dos tecidos e ossos. e diminuição da resistência amarelos, gema de ovo e Dendém.
aumenta a resistência de infeções a infeções.
em crianças.
Contribui para a formação dos Raquitismo, fragilidade Fígado, gema de ovo, óleo de fígado
ossos e dos dentes, previne o óssea (fraturas), de bacalhau, leite, atum, sardinha,
raquitismo. Facilita a absorção deformidades esqueléticas precursores que se transformam em
Vitamina D

do cálcio e fósforo. Auxilia na e osteoporose. vitamina D quando expostos a raios


absorção de nutrientes pelo ultravioletas da radiação solar.
intestino e no depósito de sais
de cálcio e fósforo nos ossos.
Participa da absorção e utilização
do cálcio e fósforo
É antioxidante e actua protegendo Anemia e envelhecimento Gérmen de trigo, verduras cruas, iogurte,
a membrana celular, ajudando a precoce, além de alterações óleos vegetais, folhosos, amendoim, leite,
retardar o envelhecimento. Previne musculares. manteiga, espinafre, carnes magras, alface,
Vitamina E

o aborto, actua no sistema nervoso esterilidade masculina, laticínios, óleo de amendoim, nozes e
involuntário, sistema muscular e aborto, lesões nos glóbulos sementes gema de ovo.
nos músculos involuntários vermelhos, anemia, lesões
musculares e nervosas.

Fundamental para a coagulação Deficiência na coagulação Iogurte, alface, brócolos, verduras cruas,
Viatamina K

sanguínea sanguínea, hemorragias. couve-flor, óleos vegetais, repolho, soja,


Dificulta o estancamento de espinafre.
hemorragias Produzida por bactérias dos intestinos

Previne hemorragias, protege os Sua falta provoca Essa vitamina pode ser encontrada em
pulmões da ação dos resfriados e fadiga, falta de apetite, alimentos como frutas cítricas, tomate,
poluentes. emagrecimento, couve, repolho, pimentão,
Auxilia na absorção de ferro sangramento na pele e Caju, acerola, goiaba, legumes, couve-flor,
Vitamina C

presente nos alimentos vegetais, gengiva, dores nas juntas, batata, aspargos, mamão, morango,
mantêm a integridade da pele e escorbuto, feridas na boca abacaxi, pimentão verde
mucosas e auxilia na cicatrização, e fragilidade capilar.
além de fortalecer o sistema
imunológico.

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Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

Importante para a produção de severa causa a Pelagra Essa vitamina pode ser encontrada
energia nas reações celulares. (doença caracterizada em: Levedo de cerveja, peixe, feijão,
Essa vitamina mantém o tônus por dermatite, demência, ovos, fígado, leite, carnes magras, café,
Vitamina B3

muscular e nervoso, além do diarreia) , tremores, língua amendoim, pinhão e cereais integrais.
bom funcionamento do sistema amarga. Além de fraqueza Ameixa, figo, tâmara, amendoim, grãos
digestório. musculares, diminuição do integrais, legumes.
apetite, indigestão, insônia,
fadiga.
Importante na manutenção do Redução do apetite, Encontrada em cereais integrais, feijão,
sistema nervoso e circulatório.. cansaço, obstipação, fígado, gema de ovo,
Ajuda na oxidação dos irritabilidade fácil,
Vitamina B1

carbohidratos; estimula o apetite; esquecimento, raciocínio batata doce, banana, frutas, arroz, leite,
mantém o tônus muscular e o lento, inchaço dos pés nozes, legumes, carne, amendoim ou
bom funcionamento do sistema e mãos, perda de peso, ginguba.
nervoso, facilita a absorção dos debilidade muscular,
glícidos principalmente no cérebro. fraqueza, taquicardia.

Favorece o crescimento, formação Lesões no sistema nervoso, Cereais, leite e seus derivados, banana,
das células vermelhas do sangue, rompimento da mucosa lentilha, cenoura, cereais integrais,
Vitamina B2

integridade da pele, mucosas e da da boca, lábios, língua e folhosos verde escuro, couve, repolho,
visão. bochechas. espinafre, ovos,
Vitamina essencial à respiração
celular; mantém saudável a cor da
pele e atua na coordenação motora

Importante para a integridade da Pode causar dores Carne de soja, cereais, tomate, levedura,
Vitamina B5

pele e mucosas, saúde capilar, e de cabeça, náuseas e leite e derivados, verduras e cereais
nos processos de cicatrização vômitos, fadiga, anemia e integrais.
dormência nos membros e
formigamento
Atua nos processos de: obtenção Cansaço, vertigens, Carnes, grãos integrais, nozes e hortaliça,
de energia dos alimentos, irritabilidade, convulsões, cereais, frutas, melão, repolho, batata-
regulação da pressão arterial e lesões na pele, anemia, doce.
função cardíaca, produção de sonolência, depressão,
Vitamina B6

anticorpos. perda de apetite. Fatores


Mantém a pele saudável e auxilia que levam à carência
na oxidação dos alimentos. – pacientes cardíacos,
alcoolismo, uso de
anticoncecionais, idosos,
adolescentes

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Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

Actua como coenzima na síntese Pele com escamações Hortaliças, ovos e carnes
Vitamina B7

de gordura, aminoácidos e e problemas


glicogénio. Auxilia na produção de neuromusculares
ácidos graxos e redução dos níveis
de glicose no sangue

Actua como coenzima no Anemia e má formação Hortaliças, verdes, nozes, legumes e grãos
Vitamina B9

metabolismo de ácidos nucleicos e congénita integrais


aminoácidos. Actua na manutenção
do sistema nervoso, imunológico e
circulatório
Actua na formação dos glóbulos Dormência, alterações carne, ovos, frutos do mar, verduras,
vermelhos do sangue, na neurológicas, perca de cereais,  banana, lentilha, leite e derivados,
integridade das células nervosas da equilíbrio. Cansaço, falta de cenoura,
pele, e na formação do DNA. ar, palidez cutânea, dores
Vitamina B12

de cabeça, irritabilidade,
predisposição à infecções,
perda de memória, diarreia
e redução da absorção de
nutrientes, inflamação na
língua.

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Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

Apêndice C
Tabela 19. Classificação etiológica da DM (ADA., 2017)
DM

1 Tipo 1 Deficiência de insulina por destruição das células β comprovada por exames
laboratoriais;

Deficiência de insulina de natureza idiopática


2 Tipo 2 Hiperglicemia de secreção insulínica com resistência a insulina

3 DM Gestacional Perda progressiva de graus variados diagnosticada durante a gestação, na


ausência de critérios de DM prévio
4 Outros tipos de DM Monogénicos (MODY)
Diabetes neonatal
Secundário e endocrinopatias
Secundário a doenças do pâncreas exócrino
Secundário a infecções
Secundário a medicamentos

20. Critérios de Diagnóstico na DMG


TEMPO VALOR MÁXIMO DA NORMALIDADE

Jejum 92 mg /dl

1 Hora depois 180mg/dl

2 Horas depois 153mg/dl

Tabela 21. Resumo da recomendação glicémica para adultos com Diabetes


HbA1C <7.0% (53 mmol/mol)*

Glicose capilar pré-prandial do plasma 80-130 mg/dl* (4.4-7.2mmol/l)

Glicose capilar máxima pós-prandial <180mg/dl* (10.0mmol/l)

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Manual de Diabetes para Profissionais de Saúde

Tabela 22. Propriedades farmacocinéticas de alguns agentes hipoglicemiantes orais

Medicamentos Meia - vida (H) Duração de acção (H) Actividades dos metabólitos

Sulfoniluréias (2ª geração)


Glibenclamida (Gliburida) 2-4 16 - 24 ±

Glipizida, 1-5 12 - 24 -

Glimepirida, 5-9 ˃ 24 +

Glinidas (Meglitinidas)

Repaglinida 1 4-6 -

Nateglinida 1-2 4 -
Biguanidas

Metformina 4-8 18 – 24 -

Inibidores α-glicosidase
Acarbose 2 4-6 ±

Tiazolidinodionas (Glitazonas)

Pioglitazona 26 - 30 dias -

Tabela 23. Insulinas Bifásicas

Inicio (h) Pico (h) Duração (h)

Insulinas humanas (Curtas)

Regular 70/30 2-4 1-2 13-18

Regular 75/25

Análogos da insulina (Rápidas)

Aspartico 70/30 5-15 min 1-2 13-18

Lispro 75/25

Lispro 50/50

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Tabela 24. Classes e características dos anti-Diabéticos orais no tratamento da Diabetes


Classes Principio Activo Dosagem disponível Posologia habitual

Sulfonilureias glibenclamida 5mg, 5-20mg 1x/d


glimepirida, 1,2 e 4 mg 1-4mg 1x/d
glipizida, 5 mg 5-20mg 1-2x/d
glicazida 30mg 30-50mg 2x/d
Glinidas Repaglinida 0.5, 1 e 2mg, 3-6mg/d ant. Ref
(Meglitinidas) Nateglinida 120mg 1 comp ant.cada ref
Biguanidas Metformina 500,850mg e 1000mg 500-2550mg/d após ref
500mg 500-1000mg1x/d
Glitazonas Rosiglitazona, pioglitazona 4 e 8 mg 4-8mg 1-2x/d
(Tiazolidinodionas) 15,30, 45 mg 15-45mg 1x/d
Inibidores Acarbose 50 e 100 mg 50-300mg 1-2x/d
@-glicosidase (60kg)
Saxagliptina 25,50e100mg 5mg 1x/d
Sitagliptina 50 mg 50-100mg
Inibidores da DPP4
Vildagliptina 25 e 5 mg 1-2x/7d
50mg 1-2x/d
Depaglifozina 5 e 10 mg 10mg 1x/d
Empagliflozina 10 e 25 mg 10-25mg 1x/d
Inibidores de SGLT2
Canaglifozina 100 e 300 mg 100-350mg 1x/d, antes das ref

AR GLP1 Liraglutida Seringa 1.2 e 3.4 ml/4x 5-10mcg 2x/d/2mg x 1 sem


Exanatide pen 2mg 1.2-1.5mg 1x/d
Pen 3ml

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Tabela 25. Propriedades farmacocinética de formulação de insulina e análogos- a ser usados por especialistas e
outros médicos ligados à área de Diabetes
Medicamentos Inicio (H) Pico (H) Duração (H)

Acção curta
Insulina Lispro 10 – 20 min 1–2H 2–4H
Insulina Aspart 10 – 20 min 1H 3–5H
Insulina Glulisina 10-20 min 1H 3-5 H
Acção Regular-
Suspensão de Insulina Zn Pronta (semilente) 30 – 60 min 2–3H 5–7H

Acção Intermediária
Suspensão de Insulina Isófana (NPH) 1–2H 5–7H 13 – 18 H
Suspensão de Insulina Zn (lente) 1–3H 4–8H 13 – 20 H
Acção Longa
Suspensão de Insulina Zn Expandida 2–4H 8 – 14 H 18 – 36 H
Insulina Glargina 2 H Nenhum Até 24 H
Acção Mista
Regular 70/30 2-4 2-4 13-18
Regular 75/25 2-4 2-4 13-18

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Glossário
Valor Energético total - quantidade de energia que cada alimento fornece ao organismo se
for totalmente aproveitado.
Sacarose - substância química extraída da cana-de-açúcar, da beterraba, podendo ser utilizada
na produção do “açúcar de mesa” e de outros produtos adocicados, como geleias, xaropes e
doces.
Insulina - hormônio produzido pelo pâncreas, cuja função metabolizar a glicose (açúcar no
sangue) para produção de energia. Actua como “chave”, das células do corpo, para que a glicose
entre e seja usada para gerar energia. Ou seja, o hormônio ajuda a glicose a entrar nas células
do corpo
Cereais - são plantas comestíveis pertencentes à família das gramíneas. Os caules e os cereais
são denominados colmos, são cilíndricos e possuem nós. As folhas são bem finas e longas e os
frutos ou grãos possuem apenas uma semente. Alguns cereais conhecidos são: milho, arroz,
centeio, cevada, trigo e aveia.
Cetoacidose Diabética - Resultado do acúmulo de corpos cetónicos que provocam diminuição
do pH para níveis ácidos. Sintomas Sede ou boca muito seca, micção frequente, glicose alta no
sangue, altos níveis de cetonas na urina
Glucagon - É um hormônio que faz parte de um complexo sistema de hormônios que controla
o açúcar no sangue.
Metabolismo- O metabolismo é o conjunto de todas as reações bioquímicas que ocorrem no
organismo
Anabolismo - compreende as reações que formam moléculas complexas a partir de outras
mais simples.
Catabolismo - reações em que compostos orgânicos complexos são convertidos em moléculas
mais simples.
Alimentos - substância nutritiva, utilizada pelos seres vivos como fonte de matéria e energia
para poderem realizar as suas funções vitais,
Ingestão Diária Recomendada (IDR) - nível de ingestão diária de um nutriente que é
considerado suficiente para atender as exigências de 97-98% de indivíduos.
SGLT-2 - (Inibidores de sódio-glicose do tipo 2): Agentes hipoglicémicos orais utilizados no
tratamento da diabetes tipo 2. Reduzem a glicose no sangue fazendo com que os rins removam
a glicose do corpo através da urina.
Sulfonilureias - Agentes hipoglicémicos orais, usados no tratamento da diabetes tipo 2.
Estimulam a secreção de insulina junto ao pâncreas.
DPP-4 - (inibidores ou gliptinas): Agentes hipoglicémicos orais utilizados no tratamento
da diabetes tipo 2. Eles suprimem a degradação das cretinas bloqueando a ação da enzima
dipeptidil-peptidase 4. Isto estimula a secreção de insulina e suprime a libertação de glucagon.

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