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Vida de Um Diabético

Projeto de Conclusão de Curso


Design | Habilitação Design de Produto

Vítor Matricardi Barduco


Orientação Prof. Dr. Dorival Rossi

Departamento de Design
Faculdade de Artes, Arquitetura e Comunicação | FAAC
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho | UNESP

Bauru | SP
2018
04 resumo 05 introdução 06 diabetes: o que é? 08 tipos de diabetes

14
população e diabetes 16 tratamento 20 diabetes x informação 23 documentário

26 tipos de documentário 30 objetivos 32 processos 36 ”Vida de Um Diabético”

38 analisando 49 making of 50 conclusão 51 agradecimentos 52 bibliografia


Este projeto se trata do desenvolvimento de um
mini documentário sobre a vida de um diabético, fei-
to para o canal das plataformas digitais “Um Diabé-
tico”, pelo jornalista Tom Bueno, portador de diabe-
tes Tipo 1. Ao longo do relatório, informações são
fornecidas sobre o diabetes, no Brasil e no mundo,
além das informações sobre a história do documen-
tário e seus seis diferentes tipos de construção. O
documentário “Vida de Um Diabético” foi produzido
com a finalidade de ser mostrado para as empresas
de insumos para diabéticos, como meio de introdu-
zir o canal, visando apoio das mesmas para proje-
tos maiores e humanizados em parceria com o canal
“Um Diabético”, que, em um ano desde sua criação,
obteve grande crescimento.

Resumo 04
A sociedade brasileira passa por uma com essa nova rotina onde a internet
grande onda de desinformação, em to- está sempre presente, produções no
das as áreas, instalando uma realidade formato de documentário são cada
alarmante. Nos assuntos respectivos vez mais realizadas. Dito isso, surgiu
à saúde não é diferente. Mesmo sen- a ideia de fazer um mini documentá-
do uma doença que atinge milhões, o rio como meio de apresentar o canal
diabetes ainda é muito desconhecido para empresas, em busca de parcerias
para a população, até mesmo para seus e incentivos. “Vida de Um Diabético”
portadores. Neste projeto, informa- retrata a rotina de uma pessoa porta-

In
ções sobre o diabetes são mostradas, dora de diabetes, compartilhando seus
como, por exemplo, seus sintomas e medos e anseio por uma qualidade de
tratamentos, acompanhados de dados vida, trazendo, no seu fim, informa-

tro
fornecidos pela OMS (Organização ções sobre o canal e a importância do
Mundial da Saúde) e pela Sociedade mesmo num atual estado de desinfor-
Brasileira de Diabetes. O canal “Um mação em massa e “fake news”. O do-

du
Diabético” foi criado por Tom Bueno, cumentário tem linguagem intimis-
jornalista, devido à necessidade que ta e humanizada, fugindo da estética
sentia de uma troca maior de infor- jornalística, que muitas vezes distan-
mações sobre o assunto, para justa- cia o espectador, mostrando como o

ção
mente preencher essa lacuna entre Tom realmente é. Foi filmado intei-
os portadores de diabetes no Brasil, ramente em sua casa e locais consi-

05
transmitindo informações de forma derados importantes no processo de
simples e completa. Nos dias atuais, aceitação e tratamento da doença.
Diabetes
o que é? 06
O que é?

O diabetes é uma doença crônica, não transmissível, que afeta a produção ou ação da insulina, um hormônio pro-
duzido pelo pâncreas que é responsável por equilibrar a quantidade de glicose no nosso organismo. Essa deficiência
pode ser parcial ou total e pode causar consequências graves caso não seja tratada de forma correta.
A insulina tem uma função muito importante no corpo, é ela que leva a glicose que está na corrente sanguínea,
obtida por meio dos alimentos que ingerimos, para dentro das células, transformando-a em energia. Quando a pes-
soa tem diabetes, o organismo não produz o hormônio da insulina, sendo assim esse processo de transformar glico-
se em energia não acontece ou se acontecer não é de forma adequada fazendo com que o nível de glicose no sangue
fique alto; a glicemia alta no corpo é conhecida como “hiperglicemia”.

Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, a SBD, se a pessoa convive com um quadro de hiperglicemia fre-
quente e por um período longo, ela poderá ter danos graves em órgãos, vasos sanguíneos e nervos e, atualmente, o
diabetes é considerado uma epidemia mundial, sendo uma das principais causas de morte.

Os tipos mais de comuns de diabetes são o Tipo 1 e o Tipo 2, que apresentam algumas diferenças, podendo ser
autoimune, como no caso do Tipo 1, ou estar relacionado a genéticas e hábitos de vida, como acontece no tipo 2.
Além disso, existe outro tipo de diabetes bastante conhecido, o Gestacional. Vamos detalhar mais sobre esses três
tipos de diabetes neste relatório.
Diabetes
e seus tipos tipo 1 08
Tipo 1

O diabetes tipo 1 é uma doença autoimune, na qual o sistema imunológico ataca, de forma equivocada, as células
beta do pâncreas que produzem a insulina. Segundo o site da Sociedade Brasileira de Diabetes, a SBD, sem a pro-
dução de insulina, a glicose ingerida através dos alimentos fica acumulada na corrente sanguínea, o que pode trazer
malefícios para vários órgãos como o coração, olhos e rins, por exemplo.
O Tipo 1 aparece geralmente na infância ou adolescência, mas pode ser diagnosticado em adultos também. Os
principais sintomas são:

• Sede e fome excessivas


• Perda de peso sem causa aparente
• Vontade frequente de urinar

O diabetes tipo 1 é sempre tratado com insulina, medicamentos, planejamento alimentar e atividades físicas, para
ajudar a controlar o nível de glicose no sangue. Estima-se que o tipo 1 afeta 10% da população com diabetes.
Diabetes
e seus tipos tipo 2
Tipo 2
O diabetes tipo 2 é mais comum entre as pessoas diagnosticadas, sendo causado por fatores genéticos conciliados
com maus hábitos de vida. O consumo exagerado de carboidratos, aliado ao sedentarismo, sobrepeso ou obesidade,
pode dificultar a produção ou a ação da insulina no organismo.
Este tipo de diabetes, normalmente, é identificado adultos, mas existem casos de crianças ou adolescentes se-
rem diagnosticadas com o tipo 2. Nas fases iniciais, o diabetes tipo 2 não causa sintomas, provocando prejuízos ao
organismo de forma silenciosa, entretanto, em casos mais graves e com falta de tratamento, o tipo 2 pode causar os
seguintes sintomas:

• Sensação constante de sede


• Fome exagerada
• Vontade de urinar frequente
• Perda de peso sem causa aparente
• Dificuldade de cicatrização de feridas
• Visão turva

Antes de se instalar o diabetes, normalmente, a pessoa já teve um período de glicose alta no sangue por vários
meses ou anos, que é o pré-diabetes. Nesta fase, ainda é possível impedir ou retardar o desenvolvimento do diabetes,
com realização de atividades físicas e controle da dieta. O tratamento da diabetes tipo 2 é feito com remédios para
controlar a glicose no sangue, mas segundo o endocrinologista Rodrigo Siqueira (CRM 5274801-3), em média, após
10 anos de diagnóstico, o paciente precisa fazer aplicações de insulina.
Diabetes
e seus tipos Gestacional
Gestacional

O diabetes gestacional surge durante a gravidez e pode ser diagnosticado nos exames de teste de glicose após as
22 semanas de gestação, sendo, também, causada por disfunção na produção e ação da insulina no corpo.

Em seu site na internet, a Sociedade Brasileira de Diabetes esclarece: “Durante a gravidez, para permitir o de-
senvolvimento do bebê, a mulher passa por mudanças em seu equilíbrio hormonal. Em algumas mulheres, entre-
tanto, este processo não ocorre e elas desenvolvem um quadro de diabetes gestacional, caracterizado pelo aumento
do nível de glicose no sangue.”

Os sintomas do diabetes gestacional são semelhantes aos do diabetes tipo 2 e o tratamento é feito com alimen-
tação adequada e exercícios para o controle da glicemia. No entanto, na maioria dos casos, é necessário o uso de in-
sulina para um controle adequado da glicose no sangue. O diabetes gestacional é um importante fator de risco para
desenvolvimento de Diabetes Tipo 2, no futuro. Aproximadamente seis semanas após o parto, a mãe deve realizar
um novo teste oral de tolerância a glicose, sem estar em uso de medicamentos antidiabéticos.
População
com Diabetes 14
População com Diabetes

O diabetes está crescendo em todo o mundo e é agora mais comum nos países em desenvolvimento. O número
de pessoas vivendo com diabetes quase quadruplicou em 24 anos. Estima-se que 422 milhões de adultos no mundo
(8,5% da população) viviam com diabetes em 2014. Em 1980, havia 108 milhões (4,7%). Esses dados são do último
relatório divulgado pela Organização Mundial da saúde (OMS), em abril de 2016.

“O diabetes está aumentando. Já não é uma doença de países predominantemente ricos e a prevalência cresce constantemente em
toda parte, principalmente nos países de rendimento médio.”, escreve a diretora-geral da OMS no prefácio do relatório.

A OMS estima que em 2030 o diabetes seja a sétima maior causa de morte. Em 2012, a doença provocou 1,5 mi-
lhão de mortes. Trata-se de um “importante problema de saúde pública”, uma das quatro doenças não transmissíveis
definidas como prioritárias pelos líderes mundiais.

No Brasil, mais de 16 milhões de brasileiros adultos convivem com diabetes no país. A doença mata 72 mil pesso-
as por ano no Brasil, segundo relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS, divulgado em 2014. A prevalência
da diabetes é de 8,1%, um pouco abaixo da média mundial (8,5%). A doença é mais comum em mulheres (8,8%) do
que nos homens (7,4%).

O excesso de peso afeta 54,2% dos brasileiros, a obesidade 20,1% e a inatividade física 27,2. Já o diabetes é res-
ponsável pela morte de 72.200 brasileiros com mais de 30 anos e representa 6% dos óbitos no Brasil.
Tratamento 16
Tratamento

O tratamento do diabetes começa assim que o diagnóstico é feito e varia de acordo com o tipo da doença. No caso
do diabetes tipo 1, que não tem produção de insulina, o tratamento é feito com aplicações múltiplas diária de insuli-
na. Já no caso dos diabéticos tipo 2, em que há produção de insulina, o tratamento é feito com medicamentos de uso
oral e dependendo do caso é necessário aplicações de insulina, e o monitoramento da glicemia diariamente através
dos glicosímetros ou sensores é essencial para todos os diabéticos.

No Brasil, o Sistema Único de Saúde, o SUS, conta com uma lista de insumos, que são distribuídos de graça, para
o tratamento do diabetes. Ter acesso ao tratamento é um direito garantido pela lei 11.347, de 2006.
Além dos medicamentos, outros fatores também são essenciais para o controle glicêmico: alimentação balanceada,
atividade física e autoconhecimento sobre diabetes.

A falta de controle glicêmico pode resultar em consequências graves e drásticas para vida de quem convive com
o diabetes não controlado. A doença é principal causa de amputação de pernas e pés, de acordo com a Sociedade
Brasileira de diabetes. Dados da Organização Mundial da Saúde mostram que por ano o diabetes é a causa de 55
mil amputações no Brasil. Além disso, A SBD (Sociedade Brasileira de Diabetes) reforça que quem convive com o
diabetes tem maior chance de problemas cardiovasculares e complicações na visão, mas a maioria desconhece essas
consequências.
Diabetes
x
Informação 18
Diabetes x Informação


Uma pesquisa inédita realizada pela Abril Inteligência com o apoio da AstraZeneca , apontou que 3 em cada 4
brasileiros desconhecem que o diabetes é uma doença grave.

O estudo que entrevistou 1050 pessoas, 387 diabéticos e 663 não diabéticos, reforça a necessidade de disseminar
informações qualificadas a respeito do diabetes, “A amostra apresenta, contudo, um bom conhecimento sobre medi-
das que ajudam a prevenir o diabetes. No entanto, a maior parte desses hábitos não é colocada em prática, o que nos
convoca a pensar em estratégias de comunicação que gerem mais ação e repercussão comportamental”.

A pesquisa diz ainda que apesar de termos um acesso mais democrático a meios de comunicação e redes sociais,
há uma demanda importante, e ainda não preenchida, por informações qualificadas a respeito do diabetes.
Um Diabético 20
Um Diabético
O projeto “Um Diabético”, criado pelo jornalista Tom Bueno, surgiu da necessidade de levar informações sobre
diabetes a quem precisa se conscientizar sobre a gravidade da doença considerada uma epidemia mundial.

O jornalista, com mais de 12 anos de carreira, já passou pelas principais emissoras de TV do Brasil atuando como
repórter e apresentador de programas jornalísticos e de entretenimento. “Mesmo eu trabalhando com informação
e estando em um grande veículo de comunicação, eu percebi que o assunto diabetes não tinha o espaço que devia
ter nos jornais e o pouco que tinha era muito superficial, daí a necessidade de buscar uma forma de preencher essa
lacuna na comunicação e surgiu o projeto. ”, explicou Tom.

Em Novembro de 2017, o projeto saiu do papel e ganhou notoriedade em três plataformas digitais importan-
tes: Youtube, Instagram e Facebook. A inciativa do jornalista rapidamente chamou atenção de outros veículos de
comunicação e o “Um Diabético” virou manchete em revistas, sites e TV, e, em quase um ano, o projeto conta com
um público direto de 10 mil nas três plataformas. As publicações são autorais e todas as informações checadas com
especialistas através de entrevistas por telefone ou e-mail.

O “Um Diabético” une técnicas do jornalismo e do entretenimento para que o público entenda os assuntos de
forma fácil e prática. O objetivo também é desmistificar alguns tratamentos populares que muitos acreditam curar o
diabetes e também combater as “Fake News”. Segundo Tom Bueno, o próximo passo é buscar recursos e parcerias
com empresas e intuições para viabilizar novas ideias e formatos de vídeos ainda mais humanizados.
Documentário:
breve conhecimento 23
Documentário: breve conhecimento

Quando fala-se sobre documentário, de imediato as pessoas pensam que se trata de um registro de arquivos sobre
a realidade em forma de vídeo. Porém, em que estabelece a relação com a realidade?
Um documentário é sim um retrato da realidade, porém de acordo com o ponto de vista de quem o filma, o dirige,
ou seja... É um retrato subjetivo. A subjetividade está intrínseca a todo tipo de arte.
Diante da pergunta “que é documentário?”, somos levados a conceitua-lo como filmes que mostram/represen-
tam a realidade. Mas qual é, afinal, tal estatuto da representação? Em que constitui a relação com a realidade? O
argumento que embasa a utopia da representação da realidade é falho e não se sustenta com firmeza. Por um lado,
porque é clara a presença da subjetividade em toda e qualquer enunciação, em toda articulação de linguagem. Por
outro lado, porque não existem, inscritas no filme ou fora dele, marcas explícitas que garantam a presença de um
real mais que perfeito, e elevado ao estatuto de verdade absoluta. (2010, Flávia Lima Rodrigues.)

Eduardo Coutinho, considerado um gênio do documentário brasileiro, também relata:

[...] A verdade da filmagem significa revelar em que situação, em que momento ela se dá – e todo o aleató-
rio que pode acontecer nela... É importantíssima, porque revela a contingência da verdade que você tem... revela muito mais a
verdade da filmagem do que a filmagem da verdade [...] (LINS, 2004: 44 )

Documentário: breve conhecimento


O cinema chegou no Brasil em 1896, porém as primeiras produções ocorreram no início do século 20 como ima-
gens fotográficas em movimento, retratando, em sua grande maioria, as expedições, atos históricos e cerimônias da
elite. Essa “prática” começou a fazer parte da vida dos antropólogos, já que auxiliavam significativamente em suas
pesquisas e análises culturais, além de levar essas informações para o mundo urbano.

Pulando uma fatia de tempo, no começo da década de 90 as produções documentárias quase foram extintas com
o governo Collor, sobrevivendo somente graças ao avanço da tecnologia e a exibição em canais educativos, como os
canais Curta! e TV Cultura. Com esse avanço da tecnologia, equipamentos menores surgiram, facilitando o trans-
porte e diminuindo os gastos com equipe, logo, mais documentários começaram a ser produzidos, aumentando o
acervo brasileiro, possibilitando, também, o estilo em Primeira Pessoa.

Atualmente, esse estilo propagou-se por diversas áreas e para inúmeras finalidades. Cada vez mais empresas
buscam essas produções para divulgação de seus serviços, tanto internamente como externamente, assim como ar-
tistas contemporâneos e figuras públicas. O estilo documental deixou de ser aquele filme “entediante” e “chato” para
a população externa, e passou a adquirir um estilo rebuscado que chama a atenção da sociedade.
Tipos de
Documentário 26
Tipos de Documentário

Como falado, o documentário conversa com o momento histórico presente e com o nível da tecnologia acessí-
vel no momento, e NICHOLS (2005) esclarece seis divisões feitas dentro do mundo do documentário, variando de
acordo com recursos utilizados, na hora da construção do filme, entretanto, esses modos não se excluem: pode haver
mais de uma em um mesmo documentário.

“Até certo ponto, cada modo de representação documental surge, em parte, da crescente insatisfação dos cineastas com um
modo prévio. Assim, os modos realmente transmitem uma certa sensação de história do documentário. O modo observativo surge,
em parte, da disponibilidade de câmeras portáteis de 16 mm e gravadores magnéticos nos anos 60. De repente, o documentário
poético parecia abstrato demais, e o documentário expositivo, didático demais, pois se provou ser possível filmar acontecimen-
tos cotidianos com um mínimo de encenação e intervenção. A observação estava necessariamente limitada ao momento em que
os cineastas registravam o que acontecia diante deles. Mas a observação compartilhava um traço, ou convenção, com os modos
poético e expositivo: também ela camuflava a presença do cineasta e sua influência criadora. O documentário participativo to-
mou forma com a percepção de que os cineastas não precisavam disfarçar a relação íntima que tinham com seus temas, contando
histórias ou observando acontecimentos que pareciam ocorrer como se eles não estivessem presentes.”
(NICHOLS, 2005: 136 e 137)
Tipos de Documentário

O observativo tem como objetivo justamente observar o que está acontecendo ao seu redor, sem interferências
do cineasta e/ou locutor nos processos. Começou a ser mais usado com o lançamento das câmeras portáteis, graças
ao peso mais leve, e o documentário desenrola-se através da observação do espectador aos fatos apresentados.

O modo expositivo é o mais reconhecido perante a sociedade, já que é usado frequentemente em canais como
Discovery Channel. Esse modo segue uma linha argumentativa bem planejada, com a voz “off ” sempre presente,
porém jamais vista, e as imagens dispostas para concordarem com a mensagem que o locutor transmite, trazendo
sentido de razão incontestável. “As imagens sustentam as afirmações básicas de um argumento geral em vez de construir
uma ideia nítida das particularidades de um determinado canto do mundo.” (NICHOLS, 2005: 144)

Já no participativo, o cineasta e sua equipe tornam-se explícitos no filme, sem aquela preocupação de não mos-
trarem-se diante das câmeras, com aparições conversando com os entrevistados ou até mesmo preparando os equi-
pamentos. Ou seja, quem assiste consegue ter uma noção maior de como é feito um documentário “por trás das câ-
meras”.
Tipos de Documentário

No modo poético, segundo NICHOLS, “os atores sociais raramente assumem a forma vigorosa dos personagens
com complexidade psicológica e uma visão definida do mundo.” Ou seja, as pessoas estão lá para serem contempla-
das, como qualquer outro objeto ou paisagem escolhidos e enquadrados na fotografia.

O modo reflexivo, por vez, deixa claro a quem assiste como é a relação entre a equipe do documentário com o
grupo que se filma, já que é a preocupação desse modo o processo de negociação entre cineasta, atores sociais e es-
pectador. “O lema segundo o qual um documentário só é bom quando seu conteúdo é convincente é o que o modo reflexivo do
documentário questiona.” (NICHOLS, 2005: 163)

Por último, mas não menos importante, o modo performático. Nesse modo a subjetividade reina. Ela está acima
do conhecimento lógico e linear. NICHOLS traz o seguinte questionamento:
“Estaria o conhecimento mais bem descrito como algo abstrato e imaterial, baseado em generalizações e no que é típico, na
tradição da filosofia ocidental? Ou estaria ele mais bem descrito como algo concreto e material, baseado nas especificidades da
experiência pessoal, na tradição da poesia, da literatura e da retórica?” Como consequência, o documentário performático
leva ao público respostas carregadas de afeto, variando de pessoa para pessoa.
“Vida
de Um
Diabético”:
objetivos 30
A Vida de Um Diabético: objetivo

Como falado anteriormente, o estilo documental, nos dias atuais, passou a fazer parte de diversas áreas com suas
inúmeras intenções. O jornalista Tom Bueno, com seus 22 anos, foi diagnosticado com diabetes. Passou por diver-
sos apuros e inseguranças, e tendo isso como base e motivação criou, em 14 de novembro de 2017, no dia mundial
de combate ao diabetes, o canal “Um Diabético”, para levar informações importantes de maneira descontraída para
a população, guiado pelo seu senso jornalístico. Com o passar do tempo, Tom Bueno começou a sentir uma neces-
sidade de elevar seu canal, já que o mesmo começou a ganhar grandes proporções, sendo chamado para palestras e
participações em eventos sobre o tema.
Uma das alternativas encontradas para esse crescimento foi contar com o apoio de empresas fabricantes de in-
sumos para diabéticos, com incentivo financeiro para produções de projetos ainda maiores sobre diferentes temas
envolvendo a diabetes e com uma maior distribuição. Pensando nisso, a melhor saída para ganhar esse apoio é mos-
trar às empresas um vídeo de apresentação bem produzido, de estética intimista, para mostrar quem é o Tom Bueno,
quais são seus objetivos com seu canal e o porquê de escolhê-lo para um possível patrocínio. Ou seja: produzir um
curta em estilo documental para sua apresentação, com o público-alvo sendo as empresas farmacêuticas que produ-
zem produtos para diabéticos, a fim de fechar parcerias para projetos variados mantendo, como foco, levar informa-
ção a quem precisa.
Para isso, foi feita uma entrevista com o Tom Bueno acerca de seus medos, suas frustrações, sobre como é ser uma
pessoa diabética e por qual motivo é tão importante um canal como o “Um Diabético” existir e, além disso, crescer.
Metodologia
& Processo 32
Metodologia e Processo

Para colocar em prática a produção do documentário, algumas questões foram levantadas. Quais questões levan-
tar? Como filmar? Onde filmar?

Em um certo dia, duas amigas de longa data do Tom, Marcela e Ana Paula, também jornalistas, fizeram uma
proposta: elas estavam começando uma produtora, e devido ao contato com o amigo diabético, gostariam de saber
se ele estava interessado em fazer parte de um projeto delas sobre os sentimentos de uma pessoa diabética, em for-
mato de websérie contendo 5 episódios, relatando 1 sentimento por episódio. A partir daí, surgiu a ideia de, já que
seria gravada uma entrevista e imagens para essa websérie, e elas seriam feitas por mim, por que não aproveitá-las
na produção do documentário “Vida de Um Diabético”? Essa ideia foi passada para as duas amigas, as mesmas con-
cordaram e também ficaram motivadas.
Logo, foi elaborado um roteiro. Através de discussões, decidiu-se começar com a abordagem de como é ser um
diabético e alguns sentimentos envolvidos quando alguém recebe esse diagnóstico, em um tom mais melancólico,
que passará por uma evolução até a aceitação, vinda através da informação e asseio pessoal, entrando, nesse momen-
to, o canal “Um Diabético” na história e finalizando o filme.
Metodologia e Processo

Tom Bueno nasceu em Campinas, SP, onde até hoje possui fortes raízes. Há um parque em Campinas chamado
Taquaral, no qual Tom iniciou sua rotina de exercícios físicos após receber seu diagnóstico, e, com essa informação
em mãos, decidimos que o Parque seria um lugar coerente para gravarmos sua entrevista, até porque era desejado
um lugar descontraído, que saísse deste retrato jornalístico e entrasse em uma produção mais humanizada.
Passeando pelo Parque Taquaral em busca de um lugar para gravarmos a entrevista, o anfiteatro pareceu uma
boa opção. Apesar dos desafios, como a amplitude do local e a passagem de pessoas e crianças (um passeio escolar
chegou para as crianças lancharem nas arquibancadas onde a equipe estava gravando, por exemplo), o local possuía
uma perspectiva arquitetônica muito interessante, então ficou decidido que a entrevista seria lá mesmo.
Guiado por Ana Paula, Tom foi entrevistado por ela enquanto eu controlava a câmera – uma DSLR Canon Re-
bel t5i com lente de 50mm- e Marcela provia assistência quando necessário. O tempo de duração da entrevista foi
relativamente longo, aproximadamente 1 hora e 20 minutos, já que é preferível trabalhar com excesso de material
do que com a falta dele. Em seguida, foram feitas as imagens de apoio, dentro do próprio parque, usando um steady-
cam para takes em movimento. Todas as imagens foram feitas com a lente de 50mm, pois ela tem uma textura mais
interessante.
Metodologia e Processo

Já os “takes” internos foram feitos todos na casa do próprio Tom Bueno, pois lá foram identificadas composições
fotográficas interessantes, esteticamente falando, com as cores dos objetos complementando essa composição. Até
porque, nada mais íntimo e verdadeiro que o lar da pessoa, certo?

Dito isso, os “takes” priorizam a linguagem sensível que o documentário tem como objetivo passar para que os
espectadores sintam, de fato, a rotina e o sentimento envolvido, e foram pensados a partir da análise do material da
entrevista gravada no Parque Taquaral. Em outras palavras, o material da entrevista foi todo decupado, trechos in-
teressantes foram retirados e reagrupados no arquivo do documentário, e tornaram-se, assim, seu esqueleto.
Documentário
“Vida de
Um Diabético” 36
Analisando
“Vida de Um
Diabético” 38
Analisando “Vida de um Diabético”

“Take” Tom despertando: para a filmagem desse “take”, Vítor acordou mais cedo para preparar os materiais e
ajustar a câmera, fazendo com que as imagens feitas fossem verdadeiras, passando mais credibilidade. Ou seja, o pri-
meiro take teria que valer, e foi o que aconteceu! Os takes conversam com a narração do Tom, a qual diz que, logo
após acordar, já pensa em como está sua glicemia.


Analisando “Vida de um Diabético”

“Takes” Tom medindo a glicemia: esses “takes” foram colocados para darem continuidade com a frase dita no iní-
cio do documentário, onde Tom fala que, logo após acordar, precisa chegar sua glicemia. Foi dado destaque aos pro-
cedimentos rotineiros, com plano fechado desde ele abrindo seu “kit” de medidor até chegar ao resultado do teste,
permanecendo um tempo no mesmo. Essa sequência foi criada para demonstrar o passo a passo dessa necessidade.
Analisando “Vida de um Diabético”

“Takes” na cozinha: enquanto Tom fala brevemente sobre quando descobriu que tinha diabetes, é mostrada a ima-
gem dele descartando sua tira de medição de forma correta, como recomendado pelos especialistas, e, em seguida,
o take da água fervendo prolonga-se até a queda da gota d’água através da jarra, simbolizando, respectivamente, os
sentimentos efervescendo quando se descobre a doença e as lágrimas derramadas nos momentos de medo. Esteti-
camente falando, os tons leves e terrosos estão sempre presente.
Analisando “Vida de um Diabético”

“Takes” Tom se exercitando: quando Tom conta que seu primeiro sentimento foi o medo de não ter qualidade de
vida, mostramos ele malhando em espaço aberto, no caso um parque. Esse local foi escolhido para mostrar que uma
pessoa diabética é capaz de ter, além de uma rotina normal de exercícios, uma rotina social saudável como qualquer
outra pessoa. Quando Tom menciona sobre a incerteza do que aconteceria com seu corpo a partir do diagnóstico,
entram os takes dele caminhando por entre pessoas, porém sozinho, para justamente passar essa ideia de solidão e
angústia do momento citado, terminando com seus passos para uma vida de incertezas.
Analisando “Vida de um Diabético”

“Takes aplicando”: em seguida, Tom conta que encarou a ansiedade e que já passou por diversas etapas. Enquan-
to ele diz que diabetes descompensada pode trazer vários problemas para a saúde, são passados takes mostrando-o
aplicando a insulina. Essas imagens dos cuidados diários retornam para reforçar que, por mais que esses hábitos
sejam temidos por muitos, são de extrema importância para um tratamento efetivo.
Analisando “Vida de um Diabético”

“Takes” com refeição: outro ponto importante é falado: o tempo de um diabético. Esse tempo refere-se às ocasiões
em que uma pessoa diabética precisa comer, por questões de hipoglicemia, mas nem todo mundo entende, por falta
de conhecimento, e são nessas situações simples que as pessoas diabéticas acabam se sentindo sozinhas. Então, nova-
mente, o Tom é mostrado medindo sua glicemia antes de comer, como de praxe, e o seu prato de comida já presente
no enquadramento, porém ainda intacto e em segundo plano, indicando, assim, os procedimentos adequados antes
de fazer uma refeição.
Analisando “Vida de um Diabético”

“Takes” retratando a solidão: para remeter à solidão dita por Tom, foram elaborados “takes” onde o mesmo apa-
rece sozinho, com expressão monótona, vagando pelos canais de televisão, demonstrando uma inquietação interna
impedindo sua paz. Em seguida, entra uma transição dentro do documentário, composta por dois “takes” feitos den-
tro do carro, que levará a um tom mais otimista sobre o assunto.
Analisando “Vida de um Diabético”

“Takes” questionando a solidão: quando Tom entra numa parte mais positiva, indagando “como que a gente se
sente sozinho sabendo que tem 16 milhões de pessoas com o mesmo problema de saúde, que precisam dos mesmos
cuidados?”, entra um “take” do Tom fazendo algo prazeroso, e ainda sozinho, transformando a solidão em solitude.
Após esse “take”, entram dois com a Amora (cadela de estimação), remetendo, ao mesmo tempo, à companhia e ao
sentimento de cuidar, zelar.
Analisando “Vida de um Diabético”

Sobre o canal “Um Diabético”: antes de entrar na parte final do documentário, destinada à apresentação do canal
“Um Diabético”, há uma segunda transição, menor dessa vez, de coqueiros ao vento - simbolizando o tempo - e Tom
agora está onde tudo sobre o canal acontece, dentro de sua casa. Foram feitos “takes” de todo o processo usual para
a gravação e edição de um vídeo feito para o canal e, pela primeira vez, próximo ao fim do filme, uma segunda pes-
soa - sendo essa a minha mãe - ganha um destaque maior, para justamente representar a interação e bem estar que
o projeto “Um Diabético” promove. Para fechar o documentário, entra um “take” do Tom gravando um vídeo para
o canal.
Algumas imagens do “making of”

49
Durante a trajetória desse pro- nal e microfones direcional e lapela,
jeto, através de análises dos “fee- também semiprofissionais -, entre-
dbacks” recebidos pelo canal “Um tanto, acabou dando certo já que,
Diabético”, ficou evidente a falta creio eu, se possuísse equipmentos
de informação entre a maioria dos extremamente sofisticados, acaba-
portadores de diabetes no Brasil, e ria me confundindo muito mais e
isso trouxe, ainda mais, uma sen- gastaria muito mais tempo para essa
sação de leveza ao saber que pro- produção. A ajuda das duas amigas
jetos como o canal podem e de fato jornalistas do Tom também foi im-
ajudam outras pessoas, até mesmo portantíssima, já que, assim como
emocionalmente. A população com ele, me transmitiram um pouco dos
diabetes é, em sua grande maioria, seus conhecimentos jornalísticos,
muito carente e desestimulada. O como técnicas de entrevistas e pro-

Con
diabetes tornou-se um peso, e esse cessos de uma filmagem. Como pro-
é aliviado através dos vídeos des- duto final, o documentário atingiu
contraídos produzidos pelo canal. o objetivo de ser intimista, simples

clu
O processo de filmagem obteve al- e humanizado enquanto transmite
guns desafios, como, por exemplo, o uma ideia, e de levar essas carac-
fato deste ser o primeiro documen- terísticas para o meio corporativo

são
tário executado majoritariamente que anda tão fechado a esses senti-
por mim, em questões técnicas, e os mentos, esperando, assim, encantar

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equipamentos em mãos serem limi- justamente por essa diferença.
tados - uma câmera semiprofissio-
Nada disso teria acontecido sem
uma porção de pessoas extremamen-
tes essenciais na minha vida. A mi-
nha sincera gratidão a todo mundo
que conheci e fez parte de todo esse
processo motivante e tortuoso que é
a graduação, especialmente ao Tom
Bueno, que esteve presente em todos
os minutos; aos meus amigos que for-
mei durante essa jornada e aos meus
pais, que sempre investiram na minha
educação, motivando-me a seguir em
frente e a ser feliz. Quero agradecer

Agrade
cada professor que nos ensinou com
paixão e que abriu nossos horizontes;
ao meu orientador, Prof. Dr. Dorival

cimen
Rossi, por me guiar pelo caminho
onde eu conseguisse dar o melhor de
mim e, assim, dar vida a esse projeto

tos
e, claro, à banca de professores! Sou e
serei eternamente grato por fazerem

51
parte dessa etapa tão importante da
minha vida!
Pesquisa Abril: RODRIGUES, FLÁVIA
O QUE OS BRASILEIROS SABEM E Uma breve história sobre o
NÃO SABEM SOBRE O DIABETES cinema documentário brasileiro.
Disponível em < http://endodebate. 2010.
com.br/wp-content/uploads/2018/07/
ebook-diabetes-endodebate-2018.pdf > PERES, SILVIA
O formato e a linguagem dos documentários
OPAS/OMS e instituições brasileiras lan- produzidos sobre a cidade de São Paulo.
çam publicação com recomendações para faci- 2007.
litar diagnóstico de Diabetes Gestacional. Disponível em < http://www.intercom.
Disponível em < https://www.paho.org/ org.br/papers/nacionais/2007/resu-
bra.../index.php?option=com_content&- mos/r0626-1.pdf >
view=article&id=5294:opas-oms-e-ins-
tituicoes-brasileiras-lancam-publicacao- NICHOLS, BILL
-com-recomendacoes-para-facilitar-diag- Introdução ao Documentário.
nostico-de-diabetes-gestacional&Ite- 2005.
mid=839 > Disponível em < https://cadernoseli-
vros.files.wordpress.com/2016/08/ni-
Site SBD - Sociedade Brasileira de Diabetes chols-b-introduc3a7c3a3o-ao-document-
Disponível em < https://www.diabetes. c3a1rio.pdf >

Biblio
org.br/publico/ >
Documentários Brasileiros
Entrevista feita com jornalista Tom Bueno. Disponível em < https://www.aicinema.
com.br/documentarios-brasileiros/ >

grafia
Imagens dos “takes” retiradas diretamente
do documentário.

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Bauru |2018

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