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DIABETES

magazıne
O poder da
alimentação
saudável
Edição 01

s
Ar

te
st
ev

be
ao ia
i

fic
ial deD
da S ira
ociedade Brasile
Saiba como montar o prato
ideal para manter o controle
da glicemia

Chás curam diabetes?


Como reverter hipoglicemias
Atenção aos sintomas
de diabetes em crianças
Diabetes gestacional:
atualizações importantes
Os principais avanços
da tecnologia
E muito mais!

Baixe e
compartilhe a
versão digital
da revista
DIVULGAÇÃO
Expediente

Publicação oficial da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD)


Edição 01, Número 01, 2022

Palavra do
Gestão 2022-2023
Presidente: Levimar Rocha Araújo

Presidente
REALIZAÇÃO
Dep. de Educação & Campanhas em Diabetes da SBD
Coordenador: André Gustavo Daher Vianna
Coordenadora: Dhiãnah Santini
Uma revista para chamar de nossa!
Coordenação Geral: André Gustavo Daher Vianna
Gerente do Projeto: Paulo Bettio
Administração: Andréa Pereira e Joyce Moura

A
Comercialização: Grow Up
Projeto Editorial: Momento Saúde Editora cada dia que passa fica mais evidente que o
Editora-chefe: Letícia Martins controle do diabetes deve ser individualizado,
Projeto Gráfico: NewHaus Com&Mkt considerando o momento de cada um, seus
Diretor de Arte: Anderson Domenich objetivos e sua condição de vida. Assim, colo-
Revisora de Texto: Marilia Salla cando a pessoa com diabetes no centro do tratamento,
Foto da Capa: Karim Scharf bons resultados virão!
Distribuição e Divulgação: Bianca Fiori
Nesse sentido, é fundamental o acesso a conteúdos de
Conselho Editorial: qualidade, tanto para médicos e demais profissionais de
Bia Scher, Denise Reis Franco, Dhiãnah Santini, saúde quanto para pessoas com diabetes, seus familiares
Luciana Oncken, Maria Eloísa Malieri e Tom Bueno. e cuidadores.

Colaboradores desta edição: É por isso que a DIABETESmagazine foi criada e esta-
Denise Ludovico Castro, Lenita Zajdenverg, mos muito felizes com este sonho realizado! Uma revis-
Paulo Rizzo Genestreti e Renato Redorat. ta educativa para ser lida nos consultórios, na tela do
celular ou do computador e compartilhada com quem
DIABETESmagazine® é a revista oficial da Sociedade você quiser!
Brasileira de Diabetes (SBD), produzida pela Momen-
to Saúde Editora, distribuída gratuitamente na versão A revista conta com a participação de um time engajado,
impressa aos seus sócios e disponível na internet para composto por médicos, influenciadores com diabetes,
toda sociedade. É permitido citar e reproduzir seu con- jornalistas e profissionais de saúde, e simboliza um dos
teúdo desde que sejam dados os devidos créditos ao(s) muitos frutos que virão nesta gestão. Nosso lema é bem
autor(es) e à DIABETESmagazine. claro: queremos fazer a Sociedade Brasileira de Diabetes
A SBD e a Momento Saúde Editora não se responsabi- para a sociedade brasileira, afinal todo o conhecimento
lizam pelas informações contidas em artigos assinados, médico e científico só faz sentido se puder ser traduzido
cabendo aos autores total responsabilidade por elas. e aplicado para quem realmente precisa: as pessoas com
diabetes e seus familiares.
Fale com a SBD:
(11) 3842-4931 Por isso, queremos todas as pessoas que têm diabetes
administrativo@diabetes.org.br ou que se importam com elas participando da SBD.
www.diabetes.org.br
Boa leitura!
Fale com a Editora:
Momento Saúde Digital & Content Editora LTDA Dr. Levimar Rocha Araújo | @levimar
CNPJ 22.608.898/0001-18 Presidente da SBD
atendimento@momentosaudeeditora.com.br
www.momentosaudeeditora.com.br
SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 3
Destaques Editorial

12 Falso ou Verdadeiro

DIVULGAÇÃO
Chás curam diabetes?

18 Doce História
Conheça a publicitária Briza Mulatinho

20 Tapete Azul
O apresentador de TV Geraldo Luís conta
como foi o diagnóstico de diabetes tipo 2

22 Panorama
Desigualdade social e outros desafios
do diabetes no Brasil
Educação em diabetes para todos

O
26 DM2
principal objetivo do Departamento de Educa-
O que você precisa saber sobre
o tipo mais comum de diabetes ção da Sociedade Brasileira de Diabetes (SDB)
é gerar conteúdo em suas mais diferentes for-
30 DM1 mas para facilitar o autocuidado das pessoas
Será que meu filho tem diabetes? com diabetes e fornecer subsídio suficiente para os pro-
fissionais que convivem com elas. Com este propósito,
34 Capa lançamos a DIABETESmagazine!
Qual é a alimentação ideal para quem tem DM? A revista conta com duas versões: a impressa, que chega-
rá aos consultórios ou residências de todos os associa-
40 Em Movimento dos da SBD, e a digital, disponível gratuitamente no site.
Atividade física: uma super
aliada do controle glicêmico E você ainda poderá interagir com cada matéria através
do QR code que sempre te trará uma mídia ou informa-
44 Tratamento ção adicional.
Como evitar a hipoglicemia e Nas próximas páginas, você vai aprender sobre os diver-
como revertê-la, caso aconteça sos aspectos do tratamento do diabetes em quase 20
seções, escritas em uma linguagem leve e acessível, afi-
48 Prevenção nal, nosso foco é falar sobre qualidade de vida e não so-
Hora de atualizar a carteira de vacinação bre doença.
Para a matéria de capa, trouxemos um tema que ainda
50 Conte Com desperta muitas preocupações: a alimentação de quem
Enfermeiro: orientar e
tem diabetes. Já adianto para você: somos a favor de
ensinar também é com ele
saúde e sabor à mesa, sem terrorismo nem proibições.
52 Tecnologias E se é de inspiração que você precisa neste momento, te
Das seringas de vidro ao pâncreas artificial convido para leitura dos textos dos jornalistas Tom Bueno
e Luciana Oncken, contando histórias reais de quem sou-
55 Conexão Médica be ressignificar o diagnóstico.
Atualizações sobre o diabetes gestacional Já a influenciadora digital Bia Scher levou até os vice-pre-
sidentes da SBD as dúvidas que mais aparecem nas redes
sociais, enquanto a advogada Elô Malieri, que também in-
Sempre aqui:
fluencia muita gente na Internet, chama a atenção para o
05 SBD News tema da cidadania.
08 Papo com Especialistas Isso sem falar nos artigos escritos pelos meus amigos de
profissão, com os quais divido o amor pela endocrinolo-
10 Diabetes de A a Z gia e a paixão de cuidar de quem tem diabetes.
14 Direitos e Deveres Aproveite a sua DIABETESmagazine!
16 Rede de Apoio
17 Sig@ Dr. André Vianna | @dr.andre.vianna
Coordenador geral da DIABETESmagazine

4 DIABETESmagazine · Edição 01
SBD News

ENVATO ELEMENTS
Inscreva-se, assista, reveja
Simpósio de Nutrição e Diabetes Representatividade Você pode se inscrever nos
da SBD No dia 29/06/2022, representantes da SBD eventos, acompanhá-los ao vi-
Nos dias 14 e 15/10/2022, a Sociedade estiveram reunidos com a gerência geral de vo e assistir à gravação na pla-
Brasileira de Diabetes realizará o Simpósio Tecnologia de Produtos para Saúde da Agên- taforma multieventos da SBD:
de Nutrição e Diabetes, em Belo Horizonte cia Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) https://eventos.diabetes.org.br
(MG), com transmissão on-line. Profissionais e se colocaram à disposição para auxiliar no
de saúde de diferentes disciplinas e espe- processo de regulamentação do uso da inte-
cialidades, além de pessoas com diabetes, ligência artificial.
familiares e cuidadores, estão convidados
para participar. Congresso internacional
Nos dias 13 e 14/09/2022, a SBD vai reali-
Logo novo zar um evento on-line e gratuito para reper-
A SBD está de cara nova! No dia 07/07/2022, cutir os destaques do congresso americano
aconteceu o evento on-line de lançamen- de especialistas em cuidados e educação
to de três projetos da Gestão 2022-2023. em diabetes (ADCES), que ocorre nos Esta-
Na ocasião, o presidente Dr. Levimar Rocha dos Unidos desde 2014.
Araújo apresentou o novo logotipo da SBD,
que traz um visual mais dinâmico e em si-
nergia ao propósito da atual gestão: conec-
tar a sociedade brasileira à SBD. O Congresso Digital da SBD já tem data: 17
Os três círculos tracejados em azul são uma a 19/11/2022. Três dias de conteúdo cientí-
releitura do círculo azul do diabetes e re- fico multidisciplinar, com muita discussão e
presentam, respectivamente, os médicos, interação entre palestrantes e plateia.
os profissionais de saúde e as pessoas com
diabetes ao centro, envolvidas pela estrutu- Ciência em foco
ra de cuidado e atenção. A revista científica da SBD, Diabetology &
Além do logo, a SBD inaugurou a plataforma Metabolic Syndrome, aumentou o Fator de
multieventos SBD e lançou oficialmente a Impacto (FI) de 3.320, em 2020, para 5.395,
DIABETESmagazine – a nova revista da SBD. em 2021. O FI é a principal métrica que qua-
lifica as publicações científicas com base
nas citações recebidas. Editada em inglês
desde 2011, a revista teve quase 1 milhão
de downloads no ano passado. Parabéns
aos editores Dr. Sergio Vencio, Dr. Marcello
Bertoluci e Dra. Bianca Pititto!

Inauguração
No dia 25/08/2022, a SBD vai inaugurar no
Espírito Santo a primeira regional desta ges-
tão, que terá como presidente e vice-presi-
dente as médicas Dra. Juliana de Paula Pei-
xoto e Dra. Christina Cruz Hegner. Assim, a
instituição passa a contar com 15 regionais.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 5


Tire suas dúvidas
Selecionamos as perguntas que surgem frequentemente nas caixinhas do nosso
Instagram e convidamos os vice-presidentes da Sociedade Brasileira de Diabetes
(SBD) para responder. Acompanhe!

Por Bia Scher | @biabetica


Empreendedora e diabetes influencer
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

O que é diabetes tipo Mody? A menopausa pode afetar o


controle do diabetes?
É um tipo de diabetes de origem ge-
nética, que ocorre pela mutação de Sim, porque os hormônios femininos
um gene envolvido na produção, sín- interferem na sensibilidade à insuli-
tese ou secreção da insulina. A pala- na. Com a redução dos níveis de es-
vra deriva do inglês Maturity-Onset trogênio, observada na menopausa,
Diabetes of the Young. Ele acomete pode ser mais difícil controlar a glice-
cerca de 1% a 5% dos casos de dia- mia. Além disso, ocorre uma desacele-
betes em jovens. Geralmente, a muta- ração do metabolismo, com tendência
ção é herdada de um dos pais e pode ao ganho de peso, aumento da resis-
aparecer nos descendentes. Na infân- tência insulínica e do risco cardiovas-
cia, o Mody pode ser confundido com cular. Por isso, é importante incentivar
diabetes tipo 1 e no adulto, com o dia- a prática de exercícios e ajustar o tra-
betes tipo 2. tamento do diabetes.
Para confirmar o diagnóstico, o espe- Vale destacar que nesse período a an-
cialista pode solicitar testes genéticos siedade também pode aumentar e,
quando a pessoa desenvolve o diabe- por essa razão, as mulheres precisam
tes e possui histórico familiar de dia- ser acompanhadas de perto pelos
betes, somado à ausência de autoan- seus médicos. Em alguns casos, pode
ticorpos. Dependendo do tipo de mu- ser recomendado fazer terapia de re-
tação, poderá haver resposta ao uso posição hormonal.
de medicamentos orais, ao invés da Dra. Solange Travassos, endocrinolo-
insulina (sulfas). gista do Rio de Janeiro (RJ)
Dr. Mauro Scharf, endocrinologista
de Curitiba (PR)

8 DIABETESmagazine · Edição 01
Papo com Especialistas

Como evitar a hiperglicemia Por que a glicemia aumenta O que acontece quando fica-
durante a musculação? quando temos alguma infecção? mos doentes e temos diabetes?
Precisamos de mais energia para
Há uma crença de que a musculação Processos infecciosos são frequentes combater a doença. Nosso cor-
tende a aumentar a glicose, mas isso causas de descompensação do diabe- po reage liberando hormônios
depende diretamente do tipo de car- tes e ocorrem por múltiplos motivos, que dificultam a ação da insuli-
ga e nível de intensidade do exercício. principalmente pelo estresse. O estres- na, produzida pelo corpo ou ad-
Para a maior parte das pessoas, cujos se libera vários hormônios contrarregu- ministrada no subcutâneo, e au-
treinos de força envolvem séries com latórios, como o cortisol e as citocinas, mentam a produção de açúcar
10-15 repetições, a tendência é de que prejudicam a produção de insulina pelo fígado. No site da SBD, vo-
uma queda leve e discreta da glicose, pela célula beta (no paciente com dia- cê pode conferir algumas reco-
não tão acentuada quanto o observa- betes tipo 2) e a ação da insulina no te- mendações para os dias em que
do no exercício aeróbico. cido periférico. estiver com algum problema de
Já em treinos de hipertrofia, com car- Infecções leves podem resultar em uma saúde.
gas e intensidade elevadas, há sim discreta ou praticamente nenhuma ele-
uma tendência de aumento da glico- vação da glicemia. Já as mais sérias, co-
se. Nesses casos, pode ser necessário mo pneumonia e infecções urinárias,
fazer um bolus de insulina ultrarrápi- provocam hiperglicemias, às vezes com
da antes do exercício. Entretanto, esse necessidade de internação da pessoa.
tipo de ajuste deve ser feito sempre a É interessante destacar duas variáveis:
posteriore, ou seja, o atleta deve trei- a infecção piora a glicemia e a glicemia
nar normalmente e observar se, após alta piora o processo infeccioso. Por is-
aquele tipo de exercício, há um com- so, é importante o tratamento simultâ-
portamento de hiperglicemia. neo e adequado dos dois transtornos,
Se notar esse comportamento algu- com antibióticos e insulina. O segundo
mas vezes, ele pode introduzir um fator é a labilidade do diabetes: em pa-
pequeno bolus de insulina de ação rá- cientes não controlados, a descompen-
pida ou ultrarrápida antes desse trei- sação glicêmica ocorre de maneira mais
no de força. intensa.
De qualquer maneira, ainda que possa Dr. Nelson Rassi, endocrinologista de
promover alguma elevação discreta e Goiânia (GO)
temporária da glicose, o treino de for-
ça é importante para a saúde e ade-
quado para pessoas com diabetes e
ENVATO ELEMENTS

deve ser feito. Converse com o espe-


cialista para ajustar a maneira que vo-
cê faz o treinamento para possibilitar
uma menor flutuação e variabilidade
da glicemia pós-treino.
Dr. Rodrigo Lamounier, endocrinolo-
gista de Belo Horizonte (MG)

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 9


Dicionário do diabetes
Por Maria Eloisa Malieri | @eloebete
Relações-públicas, advogada especializada em direito
à saúde, mentora do projeto social Elo & Bete
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

A A
pós o diagnóstico de diabetes, ceitação
inicia-se uma jornada de muito Receber o diagnóstico de uma
aprendizado. condição crônica de saúde, mui-
Inevitavelmente, novas palavras e tas vezes, traz inúmeros senti-
expressões começam a fazer parte do dia a mentos, mas devemos buscar nos aceitar
dia. Mas calma! Você não precisa aprender diante desta nova realidade. Não se engane:
ou decorar todas de uma vez. Aos poucos, o “se aceitar” vai muito além do diabetes!
elas vão se tornando comuns. O importan- Depois que compreendemos a importân-
te é você sempre tirar suas dúvidas com os cia disso, passamos a cuidar melhor de nós
educadores em diabetes e profissionais de mesmos e a monitorar sempre a glicemia.
saúde. A seguir, destacamos alguns termos e
o que eles significam.

D M
iabete ou diabetes? onitorar a glicemia
As duas grafias estão corre- Medir a taxa de açúcar no san-
tas e possuem o mesmo signi- gue frequentemente é funda-
ficado, mas a forma mais uti- mental para saber como está o
lizada é diabetes, com “s” no final. controle do diabetes e, assim, fazer o tra-
De maneira simples e rápida, diabetes é uma tamento adequado. Para tanto, é necessá-
doença causada pela produção insuficiente rio ter um kit básico, contendo glicosímetro,
ou má absorção de insulina, hormônio que tiras reagentes, lanceta e lancetador. Reco-
regula a glicose (açúcar) no sangue. Você vai menda-se fazer a limpeza dos dedos antes
ler muito sobre ela nas próximas páginas. de medir a glicemia, para evitar resultados
Para controlar a taxa de açúcar no sangue errados. “Entre as pessoas com diabetes ti-
(glicemia), é importante que todas as pes- po 1, a medição pode chegar a 7 ou mais ve-
soas façam exames de glicemia em jejum zes ao dia, para então aplicar as doses cor-
uma vez por ano. Para quem já foi diagnosti- retas de insulina”, conta o endocrinologista
cado com diabetes, o recomendado é seguir Dr. André Vianna. Há quem chame o ato de
o tratamento médico e... se aceitar. monitorar a glicemia como "ponta de dedo",
"fazer o dextro" e "testar a glicemia". Outra
forma de saber como está a glicose é usar
um sensor.

No episódio #020 do
Podcast da SBD, o Dr.
Fernando Valente e o in-
fluenciador Fred Prado con-
versaram sobre o assunto.

10 DIABETESmagazine · Edição 01
Diabetes de A a Z

S R
ensor de glicose etinopatia diabética
No início dos anos 2000, os senso- É o resultado de lesões que apa-
res chegaram ao Brasil trazidos pe- recem na retina, podendo causar
la Medtronic, mas se populariza- pequenos sangramentos e, como
ram a partir de 2016 com a vinda do Libre. O consequência, a perda da visão. A boa no-
sensor de glicose não necessita de picadas tícia é que há como preveni-la. Além disso,
constantes, o que pode aumentar a adesão exames de rotina, como o fundo de olho, po-
ao tratamento e facilitar a tomada de deci- dem detectar alterações em estágios primá-
são em relação ao controle do diabetes. No rios e possibilitar o tratamento ainda na fase
centro do sensor, existe um filamento que inicial. “No caso do diabetes tipo 1, o primei-
atravessa a pele e entra em contato direto ro exame oftalmológico poderá ocorrer após
com o líquido do tecido subcutâneo, reali- cinco anos de tratamento. Já no diabetes ti-
zando em tempo real as medidas de glicose. po 2, o fundo de olho deve ser feito desde
Para saber a taxa de glicose no momento de- o momento do diagnóstico. Isso ocorre por-
sejado, basta escanear o aparelho próprio em que não é possível identificar por quanto
frente ao sensor e o resultado aparece na te- tempo a pessoa permaneceu com altas taxas
la. Hoje também já é possível conectar o sen- de glicemia. O tratamento com a fotocoagu-
sor ao smartphone. Tanto o sensor de glicose lação (raio laser) tem demonstrado bons re-
quanto o glicosímetro servem para identificar sultados na prevenção da perda visual e na
uma hiperglicemia ou hipoglicemia. terapia de alterações da retina”, esclare-
ce a endocrinologista Dra. Monike Louren-
Saiba mais: Nas páginas 44 a 46, confira uma ço, membro do Departamento de Diabetes
matéria completa sobre hipoglicemia. Tipo 1 no Adulto da SBD. Concluído esse
período, os exames devem ser realizados
anualmente.

Dica: No meu Instagram, fiz


um post sobre a retinopa-

H
tia e a catarata. Confira!
iperglicemia
Significa que a taxa de açúcar no
sangue está alta. As pessoas com
diabetes que monitoram a glicose
regularmente podem detectar aumento da
glicemia, sem, entretanto, apresentar quais-
quer sintomas. Isto pode ser feito nas se- Qual é a próxima?
guintes ocasiões: em jejum e antes das prin- Na edição nº 02 da DIABETESmagazine, va-
cipais refeições (almoço e jantar); em jejum mos trazer outras palavras ou expressões pa-
e 2 horas após as principais refeições. ra você aumentar seu vocabulário. Aos pou-
A hiperglicemia pode acontecer por vários cos, completaremos o alfabeto brasileiro.
motivos. Por exemplo, comer demais, fazer
pouca ou nenhuma atividade física, falta de
insulina, infecções, etc. Manter a glicemia al-
ta pode trazer complicações a médio e lon-
go prazos, como a retinopatia diabética. Por
isso, é importante manter o controle da gli-
cemia e conversar sempre com o seu médico
para saber se o tratamento está adequado.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 11


Falso ou Verdadeiro?

Chás curam o diabetes?


Por Tom Bueno | @umdiabetico
Jornalista e criador do canal Um Diabético nas redes sociais
FOTO: JOÃO P. TELES

VERDADEIRO

P
ata-de-vaca, quebra-pedra, flor de PORTANTO, o uso de chás não deve substi-
mamão, insulina e canela. São ape- tuir o tratamento medicamentoso prescrito
nas alguns chás que muitas pessoas pelo seu médico. Não há estudos que com-
usam no dia a dia na tentativa de provam que os chás são capazes de curar ou
controlar a glicemia ou até curar o diabetes. controlar de forma eficaz o diabetes. FALSO
Receitas caseiras que acabam sendo passa-
das por um parente, um amigo ou até pessoas
desconhecidas na internet. Mas será que al- Para assistir
guns desses chás têm o poder de controlar a No meu canal Um Diabéti-
glicose ou promover a cura do diabetes? co, no Youtube, divulguei
A nutricionista Silvia Ramos, coordenadora alguns vídeos sobre outros
do Departamento de Nutrição da Socieda- mitos que já ouvi nesses
de Brasileira de Diabetes, explica que exis- mais de 17 anos de diag-
tem vários estudos relacionados ao tema e nóstico de diabetes tipo
que estão catalogados no Manual Brasilei- 1. Escaneie o QR Code pa-
ro de Plantas. Mas, segundo a nutricionista, ra assistir.
são pesquisas frágeis e pouco aprofundadas
se comparadas às feitas com medicamentos.
ENVATO ELEMENTS

“Em geral, pesquisas com chás e comidas


são mais difíceis de se fazer um estudo con-
trolado, por isso, são realizadas com poucas
pessoas”, disse.
No Brasil, os chás ou drogas vegetais (pó ou
extrato) são reconhecidos pelo Conselho Fe-
deral de Medicina e pelo Conselho Federal
de Nutrição como fitoterápicos e podem ser
prescritos por um especialista que saiba a
dosagem certa e os efeitos adversos que po-
dem ocorrer no organismo. A coordenadora
do Departamento de nutrição da SBD ressal-
ta: “Os benefícios dos chás estão relaciona-
dos diretamente ao princípio ativo que eles
têm, que chamamos de droga vegetal, e po-
dem causar intoxicações se consumidos de
forma incorreta”.
As pesquisas com chás apontam que, em
alguns casos, como o uso da canela, existe
uma diminuição glicêmica de 8 a 12 mg/dL,
o que é considerado uma redução pequena
para os especialistas.

12 DIABETESmagazine · Edição 01
Conversando sobre
cidadania
Espaço reservado para falarmos sobre nossos direitos e deveres,
enquanto cidadãos e pessoas com diabetes. Vem comigo!

Por Maria Eloisa Malieri | @eloebete


Relações-públicas, advogada especializada em direito
à saúde, mentora do projeto social Elo & Bete
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

N
esta coluna falaremos sobre nossos • Direitos políticos: um conjunto de regras
direitos e deveres como cidadãos fixadas na Constituição Federal que diz
brasileiros. É muito comum ouvir- respeito à participação popular no pro-
mos a palavra cidadania, mas você cesso político, ou seja, à atuação do cida-
sabe o que isso significa? dão na vida pública do país.
Cidadania é a autorização atribuída a um cida- • Direitos sociais: referem-se aos direitos
dão para exercer os seus direitos e garantias. do cidadão à educação, saúde, alimenta-
A palavra cidadania vem do latim “civitas” e ção, trabalho, moradia, transporte, lazer,
significa cidade. O termo está associado ao segurança, previdência social, proteção
conjunto de regras e estatutos pertencentes a à maternidade, infância e assistência aos
uma comunidade política e social, influencian- desamparados.
do as condições de vida de um cidadão = indi-
víduo que usufrui de direitos e desempenha Contextualizando
deveres, que lhe são atribuídos pelo Estado. Historicamente, esses direitos não surgiram
ao mesmo tempo. Primeiro, no século 18, os
Mas afinal, o que são direitos e direitos civis consolidaram-se com os ideais
deveres? do Iluminismo. Somente nos séculos 19 e
Os direitos possuem diferentes tipos: 20, os direitos políticos foram expandidos e
garantidos a toda população adulta nas de-
• Direitos civis: são aqueles relacionados mocracias liberais.
às liberdades individuais e encontram-se Já no Brasil esses direitos foram suspen-
garantidos no artigo 5º da Constituição sos ou diminuídos em diversos momentos,
Federal, que diz: “Todos são iguais peran- sendo que os direitos sociais são relativa-
te a lei, sem distinção de qualquer nature- mente uma novidade, se levarmos em con-
za, garantindo-se aos brasileiros e estran- sideração terem sido estabelecidos após a
geiros residentes no país a inviolabilidade Segunda Guerra Mundial, nas democracias
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, sociais da Europa Ocidental.
à segurança e à propriedade.” Vale lem- A História nos mostra que os direitos têm
brar que este artigo possui 78 incisos que uma relação entre si: primeiro conquistam-
garantem inúmeros direitos civis aos cida- -se os direitos civis, que abrem caminho pa-
dãos pelo simples fato de pertencerem a ra os direitos políticos que, por sua vez, pos-
uma sociedade. sibilitam os direitos sociais.

14 DIABETESmagazine · Edição 01
Direitos e Deveres

Devemos mencionar também os direitos eco- nas para determinados grupos. É um cenário
nômicos, relativos à propriedade privada, livre que atrapalha a consolidação universal dos O que você gostaria de ler na
iniciativa, livre concorrência, defesa do consu- direitos e causa uma enorme frustração en- próxima edição? Envie sua su-
midor, entre muitos outros aspectos que são tre a população. gestão para o meu Instagram
descritos na Constituição Federal, que deno- @eloebete
tam a presença do Estado na economia. Por isso,
Assim, como todo o indivíduo tem diversos É urgente e necessária a participação ati-
direitos previstos em lei, toda pessoa deve va do povo para conquistar a cidadania no
cumprir algumas normas que consistem nos seu real significado para que, efetivamente,
deveres. “exista a redução da desigualdade e o fim
da divisão dos brasileiros em castas separa-
É dever do cidadão das pela educação, pela renda ou pela cor.”
Cumprir as leis; respeitar o direito alheio; Isso é um sonho? Talvez, mas podemos mo-
promover educação, sustento e saúde aos dificar esta realidade através dos nossos
filhos; proteger a natureza; votar; colaborar atos voltados para a coletividade.
com as autoridades e proteger o patrimônio Acompanhe esta coluna na próxima edi-
alheio, público ou privado. ção da DIABETESmagazine e vamos, juntos,
construir um futuro (próximo) melhor!
Ou seja,
O DIREITO é tudo o que você pode fazer. Em Beijos e até lá!
contrapartida, o DEVER refere-se às obriga-
ções ligadas a isso.
Por exemplo: você tem o direito de levar seu
cachorro para passear, mas tem o dever de
SHUTTERSTOCK

limpar a sujeira que ele faz.


As regras – direitos e deveres – são funda-
mentais para o convívio em sociedade.

No entanto...
Atualmente, o conceito de cidadania está
um tanto deturpado. A sua construção no
Brasil, ao longo dos anos, fez com que os
direitos fossem percebidos muito mais co-
mo uma concessão do Estado do que pro-
priamente uma conquista política alcançada
por meio das lutas sociais. E isso dificultou a
construção da cidadania enquanto mecanis-
mo de inclusão social.
A partir dessa situação, os direitos civis, polí-
ticos e sociais passaram a depender de uma
ação do sistema legal, que ora serve para pro-
teger um setor minoritário, ora é esquecido
para uma parte significativa da comunidade.
Estamos diante da falta de direitos e deve-
res repartidos reciprocamente, ou seja, nu-
ma situação em que as pessoas não pos-
suem condições reais para fazer valer seus
direitos fundamentais, mas, por outro lado,
estão completamente incluídas nos deveres
e responsabilidades impostos pelo Estado.
Existe uma cultura política de pouca organi-
zação civil e de busca por privilégios, onde
a demanda por benefícios é realizada ape-

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 15


Rede de Apoio

Você não está sozinho!


Associações oferecem apoio e vários serviços a pessoas com diabetes e familiares.

Por Letícia Martins | @leticiamartinsjornalista


Jornalista e editora-chefe da DIABETESmagazine
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

E
xistem mais de 100 associações de etária. “Nosso trabalho é feito sempre refor-
diabetes no País, que desenvolvem çando a importância do autocuidado da pes- Contatos:
um trabalho extraordinário de aco- soa com diabetes e da família, pelo fato de a
lhida, apoio e orientação sobre trata- doença exigir um tratamento contínuo”, de- Associação de Diabetes
mento, alimentação, atividade física, ques- clarou a farmacêutica da ADJ, Ana Paula Mi- do ABC (AdiABC)
tões jurídicas, além de acompanhamento randa.
com equipe multiprofissional, entre outros. “A rede de apoio oferecida pelos profissio- @adiabcdiabetes
Nesta edição da DIABETESmagazine, desta- nais da ADJ confere à pessoa com diabetes
camos três localizadas em São Paulo. e seus familiares um ambiente seguro com
abordagem acolhedora e capacitada pa- ADJ Diabetes Brasil
Associação de Diabe- ra entender, de forma positiva, o contexto
tes do ABC (AdiABC) do tratamento e, principalmente, a adesão www.adj.org.br
Muitas associações foram e cuidados necessários para uma vida tran-
criadas por pessoas que quila”, explicou a profissional. @adjdiabetesbrasil
têm diabetes, familiares
ou profissionais de saúde movidos pela mis- Anad
são de educar, como o endocrinologista Dr. Fundada há 35 anos, a As- Anad
Marcio Krakauer, que fundou, em outubro sociação Nacional de Aten-
de 1998, a Associação de Diabetes do ABC ção ao Diabetes (Anad) www.anad.org.br
(AdiABC). “Nunca paramos de atender! Mes- atende a pessoas de todas
mo na pandemia, quando a nossa sede ficou as idades e tipos de diabetes na sede pau- @anadoficial
fechada, realizamos aulas mensais e atendi- lista e atua na defesa dos direitos das pes-
mentos pela internet com os profissionais da soas com diabetes. Dr. Fadlo Fraige Filho FOTOS: ARQUIVOS PESSOAIS
AdiABC. Já voltamos com os encontros pre- destaca a participação da Anad no Ministé-
senciais”, declarou Dr. Marcio. rio da Saúde que resultou no início da dis-
Entre os muitos serviços que a associação tribuição de medicamentos orais nas Unida-
oferece estão reuniões com psicólogo, que des Básicas de Saúde (UBS).
acolhe quem chega pela primeira vez ou é “Um avanço muito grande para todas as pes-
recém-diagnosticado, e trocas de insumos e soas com diabetes foi a aprovação da Lei Fe-
medicamentos entre os participantes. deral 11.347, de 2006, que garante acesso a
insumos, medicamentos orais e insulina no
ADJ Diabetes Brasil sistema público de saúde”, declarou o pre-
A ADJ realiza atividades sidente da Anad. A associação dispõe de lo-
em grupo com os partici- ja com produtos e insumos e o Selo de Qua-
pantes divididos por faixa lidade e Confiança da Anad.

16 DIABETESmagazine · Edição 01
Sig@

4 perfis sobre diabetes


para acompanhar
Por Bia Scher | @biabetica
Empreendedora e diabetes influencer
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

C
ada vez mais, vemos surgir perfis Nesta e nas próximas edições, trarei algu-
nas redes sociais que conseguem mas sugestões de perfis que eu gosto de se- Siga também os perfis dos
influenciar milhares, às vezes, mi- guir e que estão fazendo um lindo trabalho colaboradores desta edi-
lhões de pessoas. No meio do dia- compartilhando as suas rotinas com diabe- ção, pois todos geram con-
betes não é diferente! Porém, é preciso res- tes e inspirando outras pessoas a se cuida- teúdos muito legais.
ponsabilidade na hora de falar sobre saúde. rem também. Ah, e claro, já deixa o seu li-
ke nas redes sociais da SBD:

@diabetessbd
@thaynaguimaraes @nerdabetic
Instagram Youtube @SBD.Diabetes

Thayná é nutricionista recém-formada e Kamil é um influencer de diabetes do @diabetes_sbd


tem diabetes tipo 1. Ela fala muito so- Reino Unido que compartilha a parte
bre distúrbios alimentares no seu perfil, técnica da rotina doce, com vídeos su- @SociedadeBrasilei-
tema pouco divulgado na comunidade per explicativos falando sobre as mais radeDiabetes
de pessoas com diabetes. Com um olhar diversas tecnologias do tratamento do
delicado sobre a condição, ela compar- diabetes. Ele tem um canal no YouTube
tilha conteúdos educativos e reflexivos com mais de 20 mil inscritos.
no feed e sua rotina nos stories.

@marcelobetico @diabetica.yogi
TikTok Instagram

Marcelo publica vídeos no TikTok des- Raíssa é bióloga, professora de Yoga e


mistificando a terapia de bomba de in- tem diabetes tipo 1. Em seu perfil, ela
sulina e a rotina de uma pessoa com fala sobre os benefícios da Yoga para
diabetes tipo 1. Ele mostra sem filtros pessoas com diabetes, além de ensinar
como é ter diabetes de forma simples estratégias para driblar a alergia à cola
e positiva. dos sensores de glicose.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 17


“Mas pensa, se não fosse
tudo isso, talvez tu não fosse
essa pessoa massa que tu é”
Sabemos o quanto acolhimento, amor e cuidado fazem
diferença no tratamento. Essa história é sobre isso.

Por Luciana Oncken | @vivercomdiabetes_luoncken


Jornalista, contadora de histórias e autora do blog Viver com Diabetes.
Tem diabetes MODY.
FOTO: LEANDRO GODOI

E
u poderia começar o perfil biográfi- mento. Essa história é, portanto, sobre isso.
co de Briza Mulatinho falando de sua Briza é de Recife, você irá notar o “sotaque”
idade, de sua profissão, se tem filhos no texto dela. É publicitária, artista e poeta de
ou não. Mas começo com essa frase uma sensibilidade ímpar. Jogue o nome dela
dita por seu pai em um desses dias que a no Google e você vai se deparar com a beleza
gente não aguenta mais viver com diabetes, de sua escrita, e aqui também teremos o pra-
porque, afinal, todos nós temos dias assim. E zer de ler sobre Briza por ela mesma.
sabemos o quanto acolhimento, amor, cuida-
do são coisas que fazem diferença no trata- Com a palavra, Briza:
CARIUS PONTES

Briza Mulatinho: "O diabetes faz


parte da minha vida, mas não é o
centro dela."

18 DIABETESmagazine · Edição 01
Doce História

S
ou diabética tipo 1 há 28 anos. Não coisa. Por ter que ir trabalhar e agir normal-
vamos especular, que idade é um mente com glicose lá pelos 400. Por acor- Você gosta de ouvir histó-
negócio sério… Mas me descobrir dar de madrugada com glicose super baixa e rias?
portadora de uma doença crônica, não querer incomodar ninguém. Pelos exa- Eu tenho um estúdio na ca-
em 1994, não foi nada fácil. Não que seja mes que a gente faz e tem um medo danado pital paulista, onde produ-
em 2022, mas me deixa explicar: naquela do resultado. E podia continuar aqui, fazen- zo entrevistas no formato
época, a gente não tinha acesso às informa- do uma lista gigante… podcasts, para ouvir em vá-
ções que tem hoje. Em casa, ninguém en- Acontece que, na maior parte do tempo, a rios dispositivos de áudio.
tendia como uma adolescente saudável ti- gente faz isso meio no automático, mas quan- Ouça o 1º episódio do pro-
nha desenvolvido um problema tão sério, do para pra pensar… “puxa vida”, né? Numa grama “Meu Diabetes, Mi-
de uma hora pra outra. As insulinas não dessas vezes, conversando com meu pai, fa- nhas Regras”, com a partici-
eram tão eficientes. Os insumos, muito mais lei a respeito, que não queria, que era mui- pação da endocrinologista
caros. Produtos diet, difíceis de encontrar e to chato, que não aguentava, que me sentia Dra. Denise Franco e da in-
impossíveis de comprar para quem não ti- exausta. Aí, ele disse: “mas pensa, se não fos- fluenciadora Aline Peach.
nha lá muita grana. Fora isso, não fiz terapia, se tudo isso, talvez tu não fosse essa pessoa Tema: Que diabético você
não participei de grupos de apoio, aprendi a massa que tu é”. E eu ri. E senti calorzinho no é na fila do pão?
lidar sozinha com todo processo do que co- peito. E pensei: “né que é mesmo?”.
mer, quando, de quanto de insulina tomar, Certamente, não seria. Porque foi um susto
dos exames que tinha que fazer e essa roti- pra mim, em 1994, descobrir que nem sem-
na que a maioria de vocês conhece tão bem. pre a gente vai ao médico, ele passa um re-
Paralelamente, ouvia absurdos: “tão novi- medinho e a gente fica boa. Às vezes, não fi-
nha e tão doente”, “nunca vai ter saúde na ca. Mas foi aí também que aprendi o quanto
vida”, “eita, vai acabar tendo que amputar as a vida é frágil e urgente e a gente precisa
pernas”, “meu avô morreu diabético, cego e aproveitar tudo muito!
com os rins sem funcionar”. O fato é que o diabetes faz parte da minha
Vinte e oito anos depois, não tenho nenhum vida, mas não é o centro dela. Nunca deixei
problema adicional por causa da diabetes, de fazer absolutamente nada por causa dis-
nunca fiquei internada, tive hipoglicemias e so. Pelo contrário, acho que fiz muito mais.
hiperglicemias que consegui dar conta sozi- Pra me provar capaz. Matando não um, mas
nha. Ok, faço um controle rigoroso e sei do vários leões por dia. E isso é uma riqueza na
cansaço que dá. Tive síndrome do pânico e vida. Eu acho. E queria que tu entendesse e
fui várias vezes para a emergência, certa de achasse também. Às vezes demora pra ficha
que estava morrendo. Hoje faço análise, mas cair, mas cai. Às vezes, a gente fica pra baixo
por outros motivos, porque a vida é muito e acha que é uma droga isso tudo, e é.
mais que o pâncreas não funcionar. Mas, olha, todo mundo nesse mundo tem
Mas em muitos momentos, achei que a vida problema e vai ter que, de um jeito ou de
seria mais fácil sem precisar ter esse cuida- outro, lidar com ele. Ou com eles, melhor di-
do constante. Ah, só para esclarecer, minha zendo. O negócio é descobrir o seu jeito de
glicemia é dessas complicadas que vão de fazer isso. Sempre ajuda tentar se aceitar e
20 a 200. Então, meço umas 10 vezes por entender que tudo que você traz consigo é
dia para saber o que fazer: comer, não co- parte de quem você é. E vou te contar um
mer, comer o quê, tomar insulina, qual, quan- segredo: você é do jeitinho que tem que
to. Já chorei e chorei e chorei pensando nis- ser. Assim, exatamente.
so. Mais de cansaço que de qualquer outra

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 19


Tapete Azul

A notícia que mudou


a vida de Geraldo Luís
Há 6 anos, um dos apresentadores mais populares da televisão brasileira
recebeu o diagnóstico de diabetes tipo 2: “eu era um sem limites”.

Por Tom Bueno | @umdiabetico


Jornalista e criador do canal Um Diabético nas redes sociais
FOTO: JOÃO P. TELES

A
utêntico. Carismático. Despacha- camento, garante que vem tentando contro-
do. Fala o que pensa e sente. Um lar a ansiedade e que ainda pretende prati-
contador de histórias nato. Essas car exercício físico com regularidade. Desde
são algumas das características o diagnóstico, já emagreceu 16 quilos.
de Geraldo Luís Sacramento, 51 anos. Ele é O apresentador aproveitou o nosso bate-pa-
um dos mais populares apresentadores da po e deixou um recado para os leitores da
televisão brasileira. O jornalista, que atual- revista DIABETESmagazine: “Faça a sua par-
mente está no comando do Balanço Geral te. Não pese tanto as coisas e cuide da saú-
Manhã, da Record TV, é conhecido pela for- de emocional.”
ma sensível de contar histórias e emocionar
milhões de pessoas.
Há 6 anos, quando estava à frente de um dos
programas de maior audiência da TV brasi-
leira, o Domingo Show, Geraldo Luís foi sur-
preendido com o diagnóstico de diabetes
tipo 2. Ele estava com o filho comendo um
lanche quando começou a suar de forma ex-
cessiva. O apresentador procurou o hospital
imediatamente e, depois de fazer os exames
solicitados pelo médico, veio o diagnóstico.
Assustado com a notícia, chegou a contes-
tar o médico. “Tomei um susto tão grande,
que achei que se tratava de uma doença fa-
tal e que estava com os dias contados”, re-
velou o apresentador. Foram meses dige-
ANTONIO CHAHESTIAN (RECORD TV)

rindo o diagnóstico e muita determinação


para mudar os hábitos de vida. “Eu era um
sem limites. Aprendi a me respeitar e a co-
mer muito bem depois do diabetes”, conta.
Geraldo Luís não faz uso de insulina. Pa- Apresentador Geraldo Luís:
ra equilibrar a glicose e evitar também as “Aprendi a me respeitar e a
comer muito bem depois do
complicações do diabetes, ele toma medi-
diabetes.”

20 DIABETESmagazine · Edição 01
Desigualdade social e
tantos outros desafios
Fatores como maior consumo de alimentos processados, alta ingestão
de calorias e sedentarismo aumentaram os casos de diabetes no Brasil,
sobretudo nas populações mais pobres; falta de diagnóstico é outro problema.

Por Tom Bueno | @umdiabetico


Jornalista e criador do canal Um Diabético nas redes sociais
FOTO: JOÃO P. TELES

O
Brasil ocupa o 6º lugar no diabéticas. Por isso, o nosso maior desafio é
ranking mundial em incidência conscientizar a população e trabalhar a edu-
de casos de diabetes, com quase cação em diabetes”, declarou o presiden-
16 milhões de adultos entre 20 e te da Sociedade Brasileira de Diabetes, Dr.
79 anos com a condição, perdendo apenas Levimar Rocha Araújo. Mas espera um pou-
para China, Índia, Paquistão, Estados Unidos co: se os próprios pacientes desconhecem
e Indonésia. o diagnóstico, como a IDF e a SBD sabem?
O número de casos aumentou em todo o A resposta está nos fatores que causam o
mundo – 16%, entre 2019 e 2021, de acor- diabetes tipo 2 e vamos conversar mais
do com o Atlas de Diabetes, divulgado pe- sobre eles nesta matéria e nas páginas da
la Internacional Diabetes Federation (IDF), DIABETESmagazine, que foi criada para aju-
a Federação Internacional de Diabetes. Es- dar nesta missão de levar informação para a
se crescimento é percebido de forma mais sociedade.
acentuada em países emergentes, onde as
populações são mais pobres, com renda bai- Raiz do problema
xa ou média, como acontece no Brasil. De acordo com o Atlas de Diabetes da IDF, a
A previsão para os próximos oito anos, segun- crescente urbanização, a adoção de hábitos
do a própria IDF, é preocupante. Se nada for de vida nada saudáveis, como maior ingestão
feito para mudar o cenário atual, estima-se de calorias, aumento do consumo de alimen-
que até 2030 o número de brasileiros adultos tos processados e falta de atividade física
com diabetes pode chegar a 20 milhões. são fatores que contribuem para o aumento
A maior prevalência dos casos é do tipo 2, uma de casos de diabetes tipo 2 em nível social.
condição desafiadora para a comunidade mé- Enquanto a prevalência global de diabetes
dica e outros profissionais da saúde. Estima- nas áreas urbanas é de 10,8%, na zona rural
-se que quase metade da população brasilei- é menor, de 7,2%. Apesar dessa diferença,
ra com esse tipo de diabetes não recebeu o Dr. Levimar avalia que são necessárias ações
diagnóstico, portanto não faz o tratamento e o de educação e capacitação que abrangem
acompanhamento médico necessários, o que todo o Brasil.
aumenta o risco de complicações causadas “A Sociedade Brasileira de Diabetes não po-
pela doença não controlada. de pensar apenas no tratamento nos gran-
“É inadmissível que 44,7% das pessoas que des centros, como Belo Horizonte, Rio, São
têm diabetes no mundo não saibam que são Paulo, os Estados da região Sul. Temos que

22 DIABETESmagazine · Edição 01
Panorama

priorizar Estados do Nordeste, Norte e Cen- de 9,1%, sendo de 9,6% entre as mulheres
tro-Oeste, tanto na questão do diagnóstico, e de 8,6% entre os homens.
quanto na melhoria de acesso ao tratamen- Vale destacar que o diabetes é uma condi-
to, buscando medicamentos mais modernos ção crônica de saúde que não faz distinção
É inadmissível que
e melhorando a monitorização”, afirmou o de idade, classe social, time de futebol fa-
Dr. Levimar. vorito, orientação sexual... Qualquer pessoa 44,7% das pessoas
Segundo ele, a SBD tem realizado cursos em pode desenvolvê-la, mas, no Brasil, um fato que têm diabetes
parcerias com o Sistema Único de Saúde, le- chama a atenção: o crescimento de casos de no mundo não
vando informação e capacitação em diabe- diabetes tipo 2 em povos indígenas. saibam que são
tes para médicos, outros profissionais de
saúde e população de um modo geral. Pandemia silenciosa
diabéticas.
O último relatório da Vigilância de Fatores O diabetes age de forma silenciosa, isto é,
de Risco e Proteção para Doenças Crôni- nem sempre dá sinais de que a pessoa pre-
cas por Inquérito Telefônico (Vigitel) revelou cisa procurar ajuda. Por isso, fazer os exames
também que o crescimento do diabetes no preventivos ao menos uma vez por ano, pra-
Brasil está diretamente ligado à idade e ao ticar algum tipo de atividade física e comer
nível escolar. No conjunto das 27 cidades, de forma mais saudável são medidas funda-
a frequência do diagnóstico de diabetes foi mentais para mudarmos o cenário abaixo.

No mundo:

537 milhões de adultos Quase metade (44,7%) da 3 de cada 4 adultos com


vivem com diabetes, ou população com diabetes não diabetes vivem em países
seja, 1 em cada 10. foi diagnosticada ainda. de baixa e média renda.

O diabetes foi responsável por O diabetes causou pelo menos


6,7 milhões de mortes em 2021 US$ 966 bilhões em gastos
(1 a cada 5 segundos). Mas é com saúde – aumento de
possível mudar este cenário! 316% nos últimos 15 anos.
Fonte: https://diabetesatlas.org/

No Brasil:

Num relance 2000 2011 2021 2030 2045

Estimativas de diabetes (20-79 anos)

Pessoas com diabetes,


3.310,4 12.440,0 15.733,6 19.224,1 23.223,6
em 1000s

Prevalência comparativa de
- 10,1 8,8 10,2 10,9
diabetes ajustada por idade (%)

Pessoas com diabetes não


- - 5.025,3 - -
diagnosticada, em 1000s

Proporção de pessoas com


- - 31,9 - -
diabetes não diagnosticada (%)
Fonte: https://diabetesatlas.org/
data/en/country/27/br.html

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 23


ENVATO ELEMENTS

São necessárias
ações de educação
em diabetes e
capacitação que
abrangem todo
o Brasil.

O Brasil que depende de


insulina
Epidemia de diabetes tipo 2 em qual os fatores de risco para doenças car- Em um país tão grande co-
indígenas diovasculares e diabetes ocorrem ao mes- mo o Brasil, as realidades
Os Xavantes somam cerca de 22.000 pes- mo tempo. das pessoas que convivem
soas abrigadas em diversas terras indígenas Em setembro de 2021, eu estive na Aldeia com diabetes são muito di-
localizadas na região Centro-Oeste do País, São Gabriel, que pertence ao povo Xavante. ferentes.
principalmente no Estado do Mato Grosso. A área fica dentro do perímetro de Campiná- Recentemente, gravei uma
Pesquisadores da Escola Paulista de Medi- polis (MT), onde vivem cerca de 20 indíge- série de vídeos para o You-
cina da Universidade Federal de São Paulo nas, 5 deles com o diagnóstico de diabetes Tube chamado “RETRATO: o
(EPM-Unifesp) e da Faculdade de Medicina tipo 2. Na ocasião, pude constatar que ne- Brasil que depende de in-
de Ribeirão Preto (FMRP) da USP avaliaram nhum deles fazia o acompanhamento e até sulina” e, no primeiro epi-
157 indígenas dessa etnia que foram sub- mesmo o tratamento de maneira adequada. sódio, mostramos a reali-
metidos a exames da retina antes da pande- Agentes de saúde da Secretaria Especial de dade da aldeia indígena
mia do novo coronavírus, e constataram uma Saúde Indígena (SESAI) frequentavam a al- São Gabriel, que fica no
alta prevalência de diabetes tipo 2 e de uma deia toda semana para aferir a pressão dos Mato Grosso. Assista!
disfunção oftalmológica causada pela doen- moradores, mas não mediam a glicose, pois
ça. Os resultados do estudo foram publica- não tinham o glicosímetro.
dos na revista Diabetes Research and Clinical Samira Tsibodowapré é uma das lideranças
Practice, da IDF. da aldeia e luta para que o seu povo seja as-
Um estudo anterior com 932 xavantes in- sistido. “Falta muito para que essas pessoas
dicou que 66,1% apresentavam síndrome com diabetes tenham acesso à informação e
metabólica, definida como uma condição na ao tratamento adequado”, declara.

24 DIABETESmagazine · Edição 01
Panorama

ARQUIVO: TB PRODUÇÕES
Na Aldeia São Gabriel, em Mato
Grosso, vivem 20 indígenas, 5
deles com o diagnóstico de dia-
betes tipo 2.

Lado A e B
Tanto Samira quanto Dr. Levimar destacam
pontos importantes do desafio do diabetes É possível prevenir o
no Brasil: falta de acesso, desigualdade so-
diabetes tipo 2 e evitar
cial, desinformação. Se por um lado temos
diversas tecnologias avançadas para nos
que familiares, ami-
ajudar a controlar a glicemia no dia a dia, já gos e cada vez mais
que ainda não há cura para esta doença, por pessoas desenvolvam
outro existe um longo caminho de educação essa condição.
em diabetes, de combate às fake news e de
inclusão de novas terapias e insumos na re-
de pública de saúde.
Dr. Levimar e eu fazemos parte desta co-
munidade gigante de pessoas vivendo
ENVATO ELEMENTS

com diabetes no País. Temos diabetes ti-


po 1 e lutamos, junto com toda equipe da
DIABETESmagazine e membros da SBD, por
uma sociedade mais bem informada, educa-
da e consciente. Precisamos compreender
que existem diferentes tipos de diabetes,
mas para todos eles há controle. Podemos
viver por mais tempo e com mais qualida-
de de vida tendo educação e acesso ao tra-
tamento. “É possível prevenir o diabetes ti-
po 2 e evitar que familiares, amigos e cada
vez mais pessoas desenvolvam essa condi-
ção. Vamos espalhar a informação segura,
verdadeira e impedir que a previsão conti-
da no Atlas de Diabetes seja concretizada”,
finalizou o presidente da SBD.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 25


Diabetes mellitus
O que você precisa saber sobre o DM2 e uma boa notícia: ele pode ser
prevenido e tratado precocemente para evitar ou minimizar as complicações.

Por Dr. Paulo Rizzo Genestreti | @paulorizzo.endo


Coordenador do Dep. de Doença Cardiovascular da SBD
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

D
iabetes Mellitus (DM), ou sim- ou menor efeito dos hormônios intestinais,
plesmente diabetes, é uma con- maior reabsorção de glicose pelos rins e Comorbidade: presença de
dição crônica de alta prevalência maior produção de glicose pelo fígado, me- duas ou mais doenças que
no mundo, cuja incidência deve canismos que também são responsáveis pe- coexistem em uma mesma
aumentar de forma importante nas próxi- lo controle da glicemia. pessoa.
mas décadas, estimando-se um crescimen- Essa hiperglicemia crônica leva a alterações
to dos atuais 430 milhões para 700 milhões no metabolismo dos carboidratos, gorduras e
de pessoas até 2045. proteínas, além de complicações vasculares.
O Brasil ocupa atualmente a 6ª posição em
número de casos, com cerca de 16 milhões Em quem devemos pesquisar a
de pessoas entre 20 e 79 anos. Em torno de presença de diabetes
90% dos casos de DM são de Diabetes Mel- O DM2 pode ser diagnosticado em qualquer
litus Tipo 2 (DM2), forma clínica frequente- idade, sendo mais comum em adultos, obe-
mente associada a comorbidades, como hi- sos, com colesterol elevado, vida sedentária
pertensão arterial, alterações no colesterol e que tenham familiares com diabetes.
e/ou triglicérides e obesidade. Alguns desses fatores de risco podem ser mo-
O diabetes tem como denominador comum dificados, como por exemplo o sedentarismo,
a hiperglicemia, isto é, o aumento do açúcar a dieta e a obesidade, o que não é possível no
(glicose) no sangue. Isso ocorre quando nos- caso da idade, etnia e história familiar. Desse
so corpo não produz o hormônio insulina ou modo, recomenda-se pesquisar a presença de
o produz de forma insuficiente. Além disso, diabetes em todos os indivíduos com sobre-
ocorre uma incapacidade ao efeito da insu- peso ou obesidade e que possuam pelo me-
lina, conhecida como resistência à insulina. nos um dos fatores de risco descritos acima.
Recomenda-se também o rastreamento ati-
Insulina vo para a presença de diabetes em indiví-
Ela é um hormônio fundamental para a vida. duos com doenças cardíacas (infarto, hi-
Produzida pelo pâncreas, a insulina permite pertensão, derrame, colesterol elevado),
que a glicose presente na circulação (glicemia) mulheres que tenham ovários policísticos
seja utilizada pelas células do corpo. Ao en- ou que tiveram diabetes durante a gravidez,
trar nas células, a glicose pode ser usada co- pessoas com esteatose hepática (doença ca-
mo energia ou armazenada para uso posterior. racterizada pelo acúmulo de gordura no fí-
Na pessoa com DM2, a combinação de re- gado) ou com pré-diabetes.
sistência à insulina com a menor produção Por outro lado, pessoas sem nenhum dos fa-
desse hormônio é o principal problema que tores de risco e assintomáticas devem ser
leva à hiperglicemia. Mas há outras condi- avaliadas para a presença de diabetes a par-
ções que impactam no desenvolvimento tir dos 45 anos.
do diabetes tipo 2, como menor produção

26 DIABETESmagazine · Edição 01
DM2

Diagnóstico ples, 44,7% das pessoas que têm essa con-


Ele é feito por meio de exames de sangue: dição no mundo desconhecem o problema.
glicemia de jejum, curva glicêmica de 2 ho- Isso se deve ao fato de o diabetes frequente-
ras (chamado de teste oral de tolerância à mente ser uma condição que não apresenta
glicose ou TOTG) e teste de hemoglobina gli- sintomas. Esse atraso no diagnóstico e no tra-
cada (HbA1c). tamento adequado pode acarretar uma série
Apesar do diagnóstico do diabetes ser sim- de complicações agudas e crônicas.

Critérios diagnósticos para DM

Glicemia de jejum (8h) ≥ 126 mg/dL

HbA1c Hemoglobina glicada ≥ 6,5%

Glicemia ao acaso ≥ 200 mg/dL com sintomas de hiperglicemia

≥ 200 mg/dL no TOTG com carga de glicose padrão (75 g)


Glicemia de 2h pós TOTG
para quem tem glicemia entre 100 e 125 mg/dL

Sintomas mas que podem passar despercebidos.


Quando presentes, os sintomas típicos do Perda de peso, fome e sede excessivas, von-
DM2 podem ser os mesmos do diabetes ti- tade frequente de urinar, sobretudo à noite,
po 1, sendo que frequentemente no DM2 há visão turva e problemas sexuais são alguns
uma evolução mais silenciosa desses sinto- dos sintomas mais frequentes.
PAULA CALLIARI

MAIOR FREQUÊNCIA CANSAÇO FOME PERDA DE PESO FORMIGAMENTO


PARA URINAR

VISÃO TURVA MÁ CICATRIZAÇÃO PROBLEMAS SEXUAIS INFECÇÕES VAGINAIS MUITA SEDE

Referências:
International Diabetes Fe-
deration. IDF Diabetes Atlas.
10th. edition 2021. Brus-
sels, Belgium. Disponível
Tratamento pêutico é sempre a normalização (ou o mais em http:// www.diabetesa-
Uma vez diagnosticado o diabetes, o trata- perto possível do normal) da glicemia, redu- tlas.org.
mento deve ser iniciado precocemente e in- zindo o risco de desenvolver complicações American Diabetes Associa-
clui mudanças no estilo de vida, como dieta ou minimizando as já existentes. tion. Diagnosis and classifi-
balanceada e atividade física regular, fre- Porém, independente da abordagem utiliza- cation of Diabetes Mellitus
quentemente associadas com medicações da, todo o tratamento tem dois pilares fun- Diabetes Care, 2022; 45 (su-
orais e/ou injetáveis. damentais: educação em diabetes e mudan- ppl 1).
O uso de medicações para diabetes visa cor- ças no estilo de vida, que devem não apenas Diretriz da Sociedade Brasi-
rigir os diferentes problemas que culmina- serem alcançados, mas também mantidos leira de Diabetes disponível
ram no desenvolvimento do quadro e pode pelo maior tempo possível. em www.diabetes.org.br
ou não incluir o uso de insulina. O alvo tera-

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 27


VOCÊ CUIDA
DO DIABETES
A VIDA FILTRA O QUE É BOM

PROGRAMA DE CUIDADO E APOIO AO PACIENTE:

Acreditamos no equilíbrio de uma rotina


de cuidados com foco no conhecimento,
prevenção e tratamento buscando oferecer
apoio para pacientes e cuidadores.1

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA: 1. Alaa AlMarshedi et al. Gamifying Self-Management of Chronic Illnesses: A Mixed-Methods Study. J Med Internet Res, 2016
E AGRADECE DE CORAÇÃO.

BR-19089 – Material destinado a todos os públicos. Produzido em julho de 2022.

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de tudo que temos de melhor.
programafazbem.com.br
Será que meu filho
tem diabetes?
Embora as causas desta doença autoimune não sejam conhecidas,
os tratamentos disponíveis podem garantir qualidade de vida. Veja
as respostas para as principais dúvidas sobre DM1.
Por Dra. Denise Ludovico Castro
Endocrinologista e membro do Dep. de DM1 em Crianças da SBD
e por Dra. Denise Reis Franco | @denisefrancoendo
Endocrinologista e membro da diretoria da SBD
FOTOS: ARQUIVOS PESSOAIS

É
difícil aceitar, mas o diabetes pode 1) O que é o diabetes tipo 1?
aparecer em crianças de qualquer O diabetes tipo 1 é uma doença autoimune
idade. Os pequenos não têm culpa – em que o sistema imunológico (defesa) do
ninguém tem – e antes que alguém corpo reconhece as células do pâncreas co-
se desespere, vamos lembrar: existe trata- mo estranhas e as atacam. Assim, elas param
mento para o diabetes mellitus tipo 1 (DM1) totalmente de produzir insulina.
e sim, seu filho ou filha poderá levar uma vi- Provavelmente você já viu aqui na
da saudável e feliz e fazer o que qualquer DIABETESmagazine, mas vale a pena ler de
outra criança faz. novo: a insulina é um hormônio muito im-
“O diagnóstico da minha filha, aos 8 anos, portante para todos nós porque ajuda a co-
abriu o chão sob nossos pés. Não há tem- locar o açúcar (glicose) que está no sangue
po para se planejar para uma mudança tão para dentro das células do corpo a fim de
brusca de vida”, conta a cirurgiã-dentista que seja usado como combustível.
Lilian Pastore, mãe da Luíza, hoje com 14 Se a glicose não consegue entrar nas célu-
anos. “Fui para terapia e mergulhei em en- las, ela se acumula no sangue e pode causar
tender a condição de saúde em fontes con- alterações nos vasos sanguíneos e nervos.
fiáveis e sérias. Conhecimento liberta”, diz.
“Hoje, na adolescência, a Luíza lida muito 2) O que causa o DM1?
bem com o diagnóstico, aprendeu a fazer Embora haja pesquisas em andamento, as
boas escolhas alimentares e estamos traba- causas do DM1 ainda são desconhecidas.
lhando num processo de independência e Sabemos que algumas pessoas herdam um
autonomia, assim como a inclusão de exer- gene que pode causar diabetes tipo 1. Al-
cícios físicos que têm ajudado demais nes- guns gatilhos, como agravo ambiental e in-
se período hormonal conturbado para me- fecção viral, deixam a pessoa mais suscetí-
lhora glicêmica. Formamos um time aqui em vel a desenvolver a condição. Na tentativa
casa e ela sabe que, quanto mais responsa- de eliminar o vírus, por exemplo, o corpo,
bilidade e autocuidado, maior liberdade te- erradamente, começa a destruir suas pró-
rá”, afirma Lilian. prias células, que, no caso, são as produto-
Vamos conhecer um pouco mais sobre o DM1: ras de insulina.

30 DIABETESmagazine · Edição 01
DM1

3) DM1 é frequente? • demonstra fraqueza ou fadiga até em si-


Estima-se que, em média, 10% da popula- tuações simples do cotidiano; Hemoglobina glicada ou
ção com diabetes no Brasil seja tipo 1. No • tem náusea e vômito; HbA1c é um exame que me-
entanto, ele é uma das doenças crônicas • relata dor de barriga; de o índice glicêmico no or-
mais comuns na infância. Aproximadamente • altera o humor de uma hora para outra; ganismo, ou seja, os níveis
20 em cada 100 mil crianças e adolescentes • está com alteração no hálito; de açúcar presentes no san-
podem desenvolver DM1 a cada ano. • em crianças muito pequenas, sinal de gue nos últimos três meses.
alerta quando há perda de apetite. Serve para controlar o dia-
4) É o único tipo de diabetes em Na presença desses sintomas, procure o mé- betes já existente e para
crianças? dico e solicite o exame de glicemia. diagnosticar o pré-diabetes
Não. O número de casos de diabetes tipo 2 e diabetes de pessoas que
(DM2) em crianças e adolescentes obesos es- 6) Como é feito o diagnóstico? ainda não sabem que têm a
tá aumentando. A obesidade provoca resis- A partir da história de saúde do paciente e dos doença.
tência das células à ação da insulina, fazendo- antecedentes familiares, exame clínico e ava-
-a não conseguir transportar o açúcar (glicose) liação do sangue da criança ou adolescente.
para dentro das células. Assim, a glicose se • Uma amostra de sangue é coletada em
acumula no sangue, causando hiperglicemia. um momento aleatório. Se o resultado for
maior ou igual a 200 miligramas por decili-
5) Quais são os sintomas de DM1 na tro (mg/dL), juntamente com os sintomas e
infância? o exame clínico, o médico sugere diabetes.
Em geral, os sintomas nas crianças são mais • Pode-se também realizar o teste de
abruptos e aparecem de repente, além disso, hemoglobina glicada, que indica o nível
podem ocorrer de forma um pouco diferen- médio de açúcar no sangue da criança nos
te em cada criança. Fique atento se seu filho: últimos 3 meses. Um nível de HbA1c de
• sente muita fome e come muito, mas, ape- 6,5% ou superior em dois testes separa-
sar disso, emagrece ou não ganha peso; dos indica diabetes.
• tem muita sede, algo fora da normalidade; • Outra forma de diagnosticar é com o teste
• urina com frequência e em grande quanti- de glicemia em jejum de 8 horas. Resulta-
dade, inclusive à noite; do igual ou superior a 126 mg/dL em mais
• apresenta sinais de desidratação; de uma coleta de sangue sugere diabetes.
FÁBIO BOIHAGIAN

Lilian Pastore e a filha Luíza:


aceitação do diabetes e autono-
mia no tratamento.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 31


7) Qual é o melhor tratamento?

SHUTTERSTOCK
A partir do diagnóstico, como o corpo deixa O padrão ouro do tratamen-
de produzir a insulina, temos que aplicá-la to do diabetes tipo 1 é a in-
todos os dias por injeção, com seringas, ca- sulina (que deve estar sem-
netas ou bombas de infusão. pre presente), combinada
A família e a criança devem ser instruídas com alimentação saudável,
como aplicar corretamente a insulina, fazer prática de atividade física e
a monitorização da glicemia e da cetona no monitorização da glicemia.
sangue e reconhecer os sintomas de queda
da glicemia (hipoglicemia) e da elevação da
glicemia (hiperglicemia), bem como proce-
der em cada situação.
Alimentação saudável e prática de atividade
física também fazem parte do tratamento.

8) DM1 tem cura?


Ainda não, mas com o tratamento adequado,
pessoas com diabetes podem viver longos
anos, com qualidade de vida e sem compli-
cações. Conte com a DIABETESmagazine pa-
ra ajudar você nesta jornada de aprendizado!

Adultos podem ser diagnosticados


com DM1?
A incidência do diabetes tipo 1 é maior na tários espantados pelo fato de fazer tudo is-
faixa etária dos 7 aos 15 anos, mas pes- so parando no meio do caminho para medir a
soas acima desta idade também podem glicemia e aplicar insulina. Mas é isso, o dia-
desenvolvê-lo. O que é comum acontecer: betes faz parte da minha rotina e das pessoas
o adulto apresentar os mesmos sintomas que convivem comigo e considero que ele é
de DM1 em crianças, mas ser diagnosti- apenas mais uma característica minha, que
cado inicialmente com o tipo 2 por causa me transformou em uma pessoa mais saudá-
da idade. Desta forma, ele fica com o tra- vel e nunca foi uma limitação para meus pla-
tamento inadequado. Para diagnosticar, a nos e a busca da minha felicidade”, completa.
história clínica do paciente conta muito e
é possível também medir os anticorpos.
ARQUIVO PESSOAL

“A rotina com DM1 não é fácil. Tem muitas


responsabilidades e decisões para tomar
diariamente, mas com bastante estudo e
ajuda da minha médica, aprendi a convi-
ver com o diabetes de forma tranquila e
natural”, diz a contadora Daniela Borto-
letto Martinatti, de 36 anos, diagnosti-
cada aos 28 anos e que ama viajar, subir
montanhas e fazer trilhas difíceis.
Daniela Martinatti: diagnóstico
Um belo exemplo de que o diabetes não
de DM1 aos 28 anos e uma vida
é impedimento! “Às vezes, ouço comen- de aventura.

32 DIABETESmagazine · Edição 01
DM1

Time de
influenciadores Você sabia que quatro pessoas que fazem par-

com diabetes te do conselho editorial da DIABETESmagazine


têm diabetes? Saiba quem são elas:

Luciana Oncken
LEANDRO GODOI

Autora do primeiro blog sobre diabetes no


Brasil, de 2006, e mãe do Lucas, a jornalis-
ta que assina a coluna Doce História desco-
briu o diabetes Mody em 2003, aos 29 anos,
e usa medicamentos injetável e oral.
“Viver com diabetes é ter consciência que
não há fórmula mágica, mas inúmeras pos-
sibilidades de viver a vida com o que rece-
bemos dela.”

Tom Bueno
JOÃO P. TELES
Jornalista e repórter de TV, o autor de três
matérias desta edição e mais de 400 vídeos
no YouTube foi diagnosticado aos 22 anos.
Hoje, com 38, ele utiliza caneta para aplicar
insulina.
“Diabetes para mim é viver uma missão de
me cuidar e aproveitar o que a vida me ofe-
rece em todos os aspectos e o propósito de
acolher e ajudar outras pessoas que convi-
vem com diabetes.”

Bia Scher
ARQUIVO PESSOAL

A influenciadora digital Beatriz Scher é uma


jovem empreendedora de 28 anos. Aos 6,
descobriu o DM1, mas com a ajuda da fa-
mília, lidou numa boa com diagnóstico. Usa
bomba de insulina com sensor integrado e
administra a loja virtual Biabética.
“Para mim, viver com diabetes é entender
que podemos ter altos e baixos na vida, mas
que eles não nos definem.”

Maria Eloísa Malieri


ARQUIVO PESSOAL

Mãe de duas meninas, criadora do perfil Elô


e Bete nas redes sociais e autora de três co-
lunas da DIABETESmagazine, a advogada
Maria Eloísa Malieri descobriu o diabetes ti-
po 1 no dia 25 de dezembro de 1985, aos 11
anos. Ela aplica insulina com caneta.
“Viver com diabetes é olhar a vida com mais
doçura e leveza. Em vez de chorar pelas per-
das, celebrar os aprendizados.”

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 33


ENVATO ELEMENTS
A alimentação de
quem tem diabetes
deve ser saudável e
equilibrada, o ideal
também para todas
as pessoas.
Capa

Como deve ser a

Alimentação
de quem tem diabetes?
Uma regra é certa: sem terrorismo e com muito sabor! Descubra o que
faz bem colocar no prato para não prejudicar o controle glicêmico.

Por Letícia Martins | @leticiamartinsjornalista


Jornalista e editora-chefe da DIABETESmagazine
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

I
magine a cena: você recebe o diagnós- to sobre diabetes tipo 1 e pensou que eu
tico de diabetes e, de quebra, uma lis- teria que conviver com várias restrições ali-
ta enorme de alimentos que nunca mais mentares para sempre. Minha sorte é que
poderá comer na vida. Isso é vida? Pou- buscaram ajuda profissional e me deram
co mais de cem anos atrás, era exatamente apoio. Foi uma fase muito difícil, com inú-
assim que acontecia. E quantas pessoas ain- meras adaptações e aprendizados”, conta
da hoje recebem a notícia sobre o diabetes Natália, que tem 20 anos de diabetes e sem
desta maneira? complicações.
“Geralmente, o momento do diagnóstico é Aprender a combinação entre insulina e ali-
um baque tanto para o paciente quanto para mentação transformou a vida de Natália.
a família e encarado com muito sofrimento, Aliás, foi a partir de 1921, com a descober-
quando o foco deveria ser na mudança de ta da insulina, que a forma de tratar o diabe-
estilo de vida”, analisa a nutricionista Natá- tes mudou completamente. “E para melhor”,
lia Fenner, que divide a coordenação do De- completa Tarcila. Isso porque a insulina é o
partamento de Nutrição da Sociedade Brasi- hormônio que abre as células para a glico-
leira de Diabetes (SBD) com Silvia Ramos e se (açúcar) entrar e abastecer o nosso cor-
Tarcila Ferraz de Campos. po com energia. “No caso de quem tem dia-
Ela própria passou por isso aos 15 anos, betes, ocorre uma das duas situações: ou o
quando descobriu ter diabetes tipo 1. “Na pâncreas não produz mais insulina (diabe-
época, minha família não tinha conhecimen- tes tipo 1) ou o hormônio pode estar sendo

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 35


produzido de maneira insuficiente ou agin-

ARQUIVO PESSOAL
do de forma inadequada no corpo (diabetes
tipo 2). Em ambas as situações, a metabo-
lização dos carboidratos presentes na ali-
mentação fica comprometida”, explica Tarci-
la. Resultado: a taxa de açúcar no sangue vai
lá para as alturas e, se não controlada, pode
desencadear diversos problemas de saúde
no curto, médio e longo prazos.
Mas afaste a palavra “problema” da sua
mente, pois a descoberta e a consequente
evolução dos tipos de insulina ao longo de
dez décadas e também dos medicamentos Natália Fenner
orais (há uma variedade deles no mercado!)
permitem que milhões de pessoas com dia-

ARQUIVO PESSOAL
betes possam ter a melhor alimentação que
existe: saudável, como afirma Tarcila: “Pode-
mos dizer que a alimentação de quem tem
diabetes deve ser praticamente igual à das
pessoas que não têm a condição: saudável e
equilibrada. Portanto, devemos eliminar da
nossa cabeça aquela ideia de dieta da fome,
extremamente restritiva, excluindo alguns
tipos de alimentos, pois ela é desatualizada
frente à evolução dos tratamentos atuais”.
Quer dizer então que podemos comer de tu-
do à vontade? Não é bem assim. “Cada pes- Tarcila Ferraz de Campos
soa tem uma necessidade nutricional e
todas devem manter o controle da alimen-
tação. Com o tratamento médico adequado, so quer dizer que o plano alimentar pode
é possível ter flexibilidade nas escolhas à ser adaptado para cada fase da vida”, expli-
mesa. A proposta é não fazer terrorismo nu- ca Natália Fenner.
tricional”, esclarece Tarcila. Segundo ela, a nova diretriz da SBD sobre a
Embora não existam alimentos proibidos pa- alimentação de quem tem diabetes, que se-
ra as pessoas com diabetes, há opções com rá publicada em breve, trará as orientações
maior qualidade nutricional e mais interes- gerais e colocará luz num conceito cada vez
santes. “Comida de verdade, sabe, aquela mais defendido pelas sociedades médicas:
que você descasca ao invés de desembalar, o tratamento nutricional individualizado.
é a ideal para todo mundo”, reitera Natália. “É importante que a alimentação seja sau-
dável e equilibrada, isto é, que forneça to-
Estratégias alimentares dos os nutrientes que o corpo precisa, e es-
Atualmente existem diversas estratégias e sa necessidade varia de pessoa para pessoa.
ferramentas para controlar a glicemia, co- Então, precisamos respeitar as individuali-
mo a contagem de carboidratos, a low carb, dades”.
o cardápio com porções fixas, e todas são Baixe o Guia Alimentar para
bem-vindas, afinal de contas cada pessoa é O maravilhoso mundo dos nutrientes a População Brasileira:
única. Com a ajuda do nutricionista, é possí- Há uma dica de ouro para não errar na mon-
vel montar um plano personalizado e, com tagem do prato saudável: capriche nas co-
a orientação do médico, fazer os ajustes na res dos alimentos para garantir o aporte de
dose e/ou nos horários de insulina e dos macros e micronutrientes. Uma boa manei-
medicamentos, por exemplo. “A melhor es- ra de fazer isso é adotar as orientações do
tratégia nutricional é aquela que se encai- Guia Alimentar para a População Brasileira,
xa no estilo de vida da pessoa e atende o elaborado pelo Ministério da Saúde e atua-
objetivo que ela tem naquele momento. Is- lizado em 2014, que oferece várias com-

36 DIABETESmagazine · Edição 01
Capa

binações saudáveis para o café da manhã, te ou no trabalho: usando a técnica da subs-


A forma de tratar
almoço, jantar e lanches, respeitando as di- tituição. A ilustração abaixo nos ajuda a en-
ferenças regionais e sugerindo alimentos e tender como montar um prato saudável, mas o diabetes mudou
bebidas de fácil acesso para os brasileiros. é importante frisar que todo planejamento completamente a
Existe ainda um jeito de não comer sempre a alimentar deve ser individualizado e de pre- partir de 1921, com
mesma coisa e saber o que colocar no prato, ferência com o profissional nutricionista. a descoberta da
esteja você na sua própria casa, no restauran-
insulina.

SHUTTERSTOCK
50%
Legumes e verduras:
Abobrinha, abóbora (jerimum), berinjela, be-
terraba, brócolis, cenoura, chuchu, couve-flor,
pepino, entre outros legumes. Alface, agrião, Para acompanhar, uma
almeirão, couve, escarola, repolho e rúcula são porção de fruta.
exemplos de verduras.

25%
Carboidratos:
Arroz, batata inglesa, batata-doce,
cará, inhame, mandioca (macaxeira,
aipim), mandioquinha, milho ou
massas.

25%
Proteína animal: carne bovina
ou suína, peixes, aves e ovos.
KARIM SCHARF

Proteína vegetal: leguminosas


em geral, como ervilha, feijão,
grão-de-bico e lentilha.

Deste modo, é possível escolher os alimen- Produtos diet: sim ou não?


tos com vista no controle do índice glicêmi- A esta altura do campeonato, ops, da leitu-
co, como ensina Tarcila: “Podemos combinar ra, você já deve ter percebido que o ideal é
o carboidrato da batata, por exemplo, com priorizar os alimentos in natura e pode estar Além de fornecer
a fibra das verduras e dos legumes e a pro- se perguntando: se o conceito de alimenta- fibras, os alimentos
teína do peixe. Assim, conseguimos ter um ção para quem tem diabetes mudou muito
efeito melhor na resposta glicêmica pós- ao longo dos anos, como ficam os produtos
naturais entregam
-prandial, isto é, após a refeição”. E o me- diet? vitaminas e minerais,
lhor de tudo: sem monotonia, já que você De acordo com a Agência Nacional de Vigi- que agem como
pode substituir os alimentos corresponden- lância Sanitária (Anvisa), produtos diet são antioxidantes para o
tes dos seus grupos alimentares, conforme o aqueles com isenção de algum nutriente,
corpo. Invista neles!
exemplo da figura. como o açúcar. Significa que eles não vão
Para tanto, é fundamental entender como aumentar a glicemia? “Não. Embora o cho-
os nutrientes impactam no equilíbrio da colate diet, por exemplo, não leve sacarose
glicemia. (açúcar) na composição, pode conter lacto-

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 37


Capa

se, que é outro tipo de açúcar”, alerta Tar- plos: mel, sucos de uva ou laranja, arroz
cila Ferraz de Campos. Ao ser consumida, a refinado etc. DICA:
lactose é metabolizada e “vira” carboidrato, • carboidratos complexos: demoram mais Alimentos industrializados
que pode aumentar a glicemia. para ser processados no organismo e po- são práticos e podem faci-
Ou seja, não é só a sacarose que traz impac- dem aumentar a glicemia até 2 horas de- litar em algumas ocasiões.
tos na glicemia, mas todos os tipos de car- pois do consumo. Exemplo: alimentos in- Opte por produtos com, no
boidratos. “Portanto, é fundamental ler o tegrais, pães, massas etc. máximo, três ingredientes.
rótulo dos produtos e entender se eles real- Proteínas: de 35% a 60% viram glicose, Quanto mais ingredientes,
mente têm redução na quantidade de car- mas o processo é mais lento do que o do mais conservantes, corantes
boidrato. Ao comparar com a versão tradi- carboidrato, variando de 3 a 5 horas. e menos saúde.
cional daquela mesma marca, muitas vezes Gorduras: 10% do que foi consumido se
a quantidade de carboidrato é semelhan- transforma em açúcar no sangue, mas co-
te. Nesses casos, leve em consideração ou- mo demora cerca de 5 horas após a inges-
tros fatores para a sua escolha de compra. tão, muita gente esquece ou não sabe des-
Por exemplo: qual deles tem menos gordu- se detalhe.
ra e maior quantidade de fibras?”, recomen-
da a nutricionista. Monitorização da glicemia: aliada
da alimentação
Mas carboidrato não é o vilão do Por isso, verificar a glicemia 2 horas após o
diabetes? início da refeição, isto é, da primeira garfada,
Já foi, muitos e muitos anos atrás! Agora é essencial para manter o controle do dia-
Ações da SBD
que entendemos que a alimentação ideal é betes. Além disso, o paciente deve conver-
O Departamento de Nutrição
aquela saudável, precisamos compreender sar com o nutricionista para ajustar o plano
da Sociedade Brasileira de Dia-
que todos os grupos alimentares têm seu alimentar sempre que necessário. Em alguns
betes conta uma equipe de 12
papel na nossa saúde e, ao mesmo tempo, casos, pode ser importante alterar a medica-
nutricionistas de várias regiões
todos os nutrientes são capazes de trazer al- ção. E aqui vai outra mensagem importante:
do Brasil, que geram conteúdo
gum efeito na glicose. Confira: o tratamento do diabetes deve ser multidis-
para o site e demais canais de
Carboidratos: fornecem energia para o cor- ciplinar, isto é, contar sempre com o cuida-
comunicação com o intuito de
po, por isso não devemos eliminá-lo das re- do e o acompanhamento de vários profissio-
levar informação de qualidade
feições, mas controlar o consumo. 100% do nais de saúde.
não só para as equipes de saú-
carboidrato ingerido transforma-se em açú- Natália finaliza: “A questão é saber fazer es-
de do país inteiro, como para as
car na corrente sanguínea e, portanto, in- colhas cada vez mais inteligentes, conscien-
próprias pessoas com diabetes
fluencia na glicemia. É importante saber que tes e nutritivas e deixar as exceções para
e seus familiares.
o tempo para que isto aconteça varia con- momentos específicos, como uma festa. Tu-
Coordenadoras: Natália Fenner
forme o tipo de carboidrato e existem dois: do posso, mas nem tudo me convém. Assim,
(MG), Silvia Ramos e Tarcila Fer-
• carboidratos simples: fazem a glicemia su- é possível conviver com o diabetes de uma
raz de Campos (SP).
bir até 15 minutos após a ingestão. Exem- forma mais leve e saudável”.
Equipe: Daniela Lopes Gomes
(PA), Débora Bohmen (MG), Dé-
bora Souto (RJ), Deise Baptis-
ta (PR), João Felipe Mota (GO),
ENVATO ELEMENTS

Letícia Fuganti Campos (PR),


Maristela Strufaldi (SP), Marlice
Marques (GO) e Sabrina Soares
Sousa (BA).

Para saber mais, acesse:


https://diabetes.org.br/nutricao/

38 DIABETESmagazine · Edição 01
O super aliado
do tratamento
Exercício físico promove uma benéfica transformação
no controle do diabetes. Saiba o porquê.

Por Dra. Dhiãnah Santini | @dra.dhianah_santini


Mestre e doutora em Endocrinologia pela UFRJ. Coordenadora
do Dep. de Educação em Diabetes e Campanhas da SBD
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

A
ssim como a alimentação saudá- dem por várias horas ou até 24 horas após
vel, a prática de atividade física a prática, levando à menor necessidade do
deve fazer parte da rotina de quem uso de insulina ou de medicamentos orais.
tem diabetes. Essa dupla é tão im-
portante que podemos pensar nela como a Mas o que é exercício físico?
base do tratamento. Qualquer atividade que gera movimento do
Se a atividade física é regular, diária e cons- corpo deve sempre ser encorajada, pois o
tante, a pessoa com diabetes pode ter uma simples fato de reduzir o tempo que se fica
necessidade bem menor de medicamentos sentado ou deitado já traz benefícios para a
para o controle da glicose. Aqueles que en- saúde, como redução da resistência à insu-
tendem a importância e aderem ao exer- lina, diminuição dos riscos de desenvolver
cício físico experimentam uma verdadei- diabetes e melhora da glicose em quem já
ra transformação de vida. É aquela história: tem a condição.
muitas vezes a presença do diabetes abre Mas só isso não basta. Como todo remédio,
alguns sinais de alerta e permite que a pes- atividade física também tem que ter dose e
soa adote hábitos e um estilo de vida mui- intensidade específicas para funcionar, isto
to mais saudável. Isso envolve conscienti- é, precisamos fazer exercícios mais estrutu-
zação e educação! rados que ajudam a controlar os fatores de
Qualquer atividade física regular leva a uma risco para as principais doenças crônicas do
melhora do controle da glicose e, conse- mundo moderno, dentre elas o colesterol al-
quentemente, ajuda a evitar complicações to, o aumento da pressão arterial, o exces-
crônicas do diabetes. so de peso, o câncer, as doenças cardíacas,
Quando fazemos exercício físico, o músculo neurológicas e a sarcopenia, que é a fraque-
aumenta a captação e o consumo da glico- za e a perda de massa muscular.
se da corrente sanguínea sem precisar mui- Ou seja, o exercício físico é uma forma es-
to de insulina. Além de consumir glicose, o pecífica de atividade física, estruturada com
exercício diminui a resistência à insulina, ou determinação do tipo, intensidade, duração
seja, melhora o funcionamento desse im- e frequência, com o objetivo de melhorar o
portante hormônio que regula a glicose. condicionamento físico e a saúde.
E olha que sensacional: os efeitos e benefí- Desse modo, apesar de recomendado para
cios dos exercícios não ocorrem só durante todas as pessoas que têm diabetes, bem co-
a prática de atividade física. Eles se esten- mo para prevenir o desenvolvimento do dia-

40 DIABETESmagazine · Edição 01
Em Movimento

betes, o plano de exercícios deve ser indi- tes tipo 2: recomenda-se pelo menos 150 Qualquer atividade
vidualizado para o sucesso terapêutico e a minutos de atividade física aeróbica (ca-
física regular leva
segurança, uma vez que cada um de nós tem minhada, corrida, natação ou bicicleta,
condicionamentos, aptidões e necessidades por exemplo) de intensidade moderada a uma melhora do
específicas diferentes. por semana. controle da glicose
• Para pessoas com diabetes: a prática de e ajuda a evitar
É preciso fazer exames antes de exercícios combinados entre resistidos e complicações crôni-
começar? aeróbicos promovem reduções significa-
A avaliação médica inicial, antes da prática tivas da hemoglobina glicada (HbA1c), ou
cas do diabetes.
regular de exercícios físicos, é de extrema seja, reduzem a média da glicemia sanguí-
importância. Se mal orientado e sem con- nea. Assim sendo, o exercício regular pro-
siderar algumas condições, como a neces- move melhora no controle das taxas de
sidade ou não de ajustes na dose de medi- açúcar da corrente sanguínea.
camentos para o diabetes, o exercício físico
pode até ser prejudicial e levar a algumas le- Veja como montar este esquema:
sões, por exemplo. • Exercícios resistidos: pelo menos 1 ciclo
Fazer avaliação do fundo de olho, dos pés, da de 10 a 15 repetições de 5 ou mais exer-
pressão arterial, da circulação e do risco car- cícios, duas a três sessões por semana, em
díaco também é fundamental para a segu- dias não consecutivos; e
rança e a prevenção de riscos relacionados à • Exercícios aeróbicos: no mínimo 150 mi-
prática não adequada ou não individualizada. nutos semanais de moderada ou equiva-
lente de alta intensidade, sem permane-
Qual a quantidade ideal de exercí- cer mais do que dois dias consecutivos
cio físico? sem atividade.
• Para evitar o desenvolvimento do diabe-

ENVATO ELEMENTS

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 41


Em Movimento

Existe alguma restrição ou cuida- durante a atividade.

ARQUIVO PESSOAL
dos específicos para a prática de Da mesma forma acontece com a frequên-
exercícios físicos para a pessoa cia cardíaca e a pressão arterial, que sobem
com diabetes? durante a atividade. Mas após um tempo ou
Um ponto importante é a individualização, na recuperação, ela volta a cair e, devido ao
ou seja, a prescrição de exercício físico de consumo intenso de glicose pelo músculo,
maior intensidade deve ser individualiza- pode ocorrer a hipoglicemia, que é a que-
da para a condição física avaliada pelo es- da dos níveis de açúcar na circulação (você Dicas de quem pratica
pecialista. pode ler mais sobre isso nas páginas 44 a Eu não só incentivo a prá-
Pessoas com risco cardiovascular alto ou 46). Por isso, é muito importante medir a gli- tica de atividade física, co-
muito alto (avaliado pelo médico) podem cose antes, durante e após a atividade físi- mo adoro fazer exercícios
ter contraindicações para tipos específicos ca. Ela não deve ficar nem muito baixa nem físicos! No meu Instagram,
de exercício físico e devem ser avaliadas in- muito alta. compartilho algumas dicas
dividualmente. para você se exercitar com
Outro aspecto relevante é que pessoas que Anote estas recomendações: segurança.
apresentam retinopatia diabética devem ser • Antes do exercício: precisamos de energia
tratadas efetivamente antes de iniciar um que vem da glicose, por isso, o ideal é o
programa de atividade física para não agra- consumo de carboidrato (em torno de 15
var o problema acidentalmente. a 30 g), que pode ser uma fruta ou uma fa-
Quem tem diagnóstico de neuropatia pe- tia de pão, por exemplo. Não é recomen-
riférica (comprometimento dos nervos por dado iniciar a atividade física se a glicose
causa do diabetes mal controlado) deve estiver muito alta (maior que 250 mg/dL).
usar calçados apropriados, realizar autoe- Nesse caso deve-se corrigir antes com in-
xame dos pés sempre antes e após os exer- sulina e hidratar-se bem.
cícios pois, muitas vezes, esses indivíduos • Após a atividade física: uma alimentação
têm comprometimento da sensibilidade dos mista com carboidrato e proteína ajuda a
pés e podem não sentir dor ao se machuca- repor os estoques e evitar a hipoglicemia.
rem. Desde que não apresentem úlceras nos Um bom exemplo seria uma panqueca fei-
pés, eles podem fazer exercícios resistidos, ta de aveia, ovo e banana que, além de re-
como levantamento de pesos, exercício fun- por os estoques, mantém a glicemia está-
cional ou musculação. vel por mais tempo.

E quem usa insulina? Por onde começar a prática de


Como o exercício físico reduz a taxa de gli- exercícios?
cose na circulação sanguínea e esse efeito É interessante e importante buscar o auxí-
geralmente ocorre após a atividade e per- lio de um profissional. Primeiramente, o mé-
dura por horas, é fundamental que pessoas dico, para uma avaliação da saúde global,
que usam insulina mantenham a monitori- ajustes nas medicações e controle dos fa-
zação da glicose para evitar a hipoglicemia. tores de risco, como já comentado anterior-
Além disso, elas precisam fazer os devidos mente. Depois, consulte um profissional de
ajustes nas doses de insulina (frequente- Educação Física ou uma assessoria esporti-
mente redução da dose). Mas atenção: to- va para as devidas prescrições e orientações
dos esses ajustes são individuais e devem específicas no exercício.
ser acertados pelo médico endocrinologista. Alguns aplicativos podem auxiliar no auto-
gerenciamento dos exercícios e sua progres-
O que comer antes, durante e de- são, como Fitbit, Strava, Nike Training Club,
pois da atividade física? Google Fit e Myfitnesspal.
A glicose na célula muscular é o principal Assim que você estabelecer uma rotina de
combustível para a contração muscular. Du- exercício físico, irá se surpreender com a
rante a atividade física intensa, os hormô- transformação que ele trará para a sua vida
nios do estresse aumentam e, consequente- e sua saúde. Posso dizer que vale a pena ca-
mente, elevam a produção de glicose pelo da suor! Vamos lá, movimente-se!
fígado e músculo, podendo ocorrer um pico

42 DIABETESmagazine · Edição 01
SOS hipoglicemia
Temida por muitos, a queda dos níveis de açúcar no sangue
precisa ser tratada o mais breve possível. Saiba como.

Por Dr. Renato Redorat | @renatoredorat


Médico e coordenador do Dep. de
Exercícios e Esporte em Diabetes da SBD
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

H
ipoglicemia é o nome dado quan- Como identificar?
do temos baixos níveis de glicose As primeiras sensações de hipoglicemia po- Atenção:
no sangue. Não é normal acontecer, dem incluir tontura, sudorese, fome, tremo- Durante uma hipoglice-
mas pode ocorrer ao ficarmos mui- res, cansaço, coração batendo rápido ou mia, evite ingerir doces
to tempo sem comer, quando estamos doen- palpitando, lábios formigando e alteração industrializados ou cho-
tes e não nos alimentamos, pela alta inges- brusca do humor. Pode-se ainda observar: colate, pois eles contêm
tão de bebidas alcoólicas ou o uso de alguns mal-humor, irritabilidade, agressividade, an- muita gordura e podem le-
medicamentos, como as sulfonilureias (gli- siedade ou um choro fora do normal. var à hiperglicemia além
benclamida, glimepirida, gliclazida etc.). Po- Com a piora da hipoglicemia, a pessoa com do planejado.
rém, nem todo remédio para tratar diabetes diabetes vai se queixar de fraqueza, visão
causa hipoglicemia. embaçada, fala arrastada (como a de uma
A causa mais comum da hipoglicemia, no pessoa bêbada), sonolência, confusão e di-
entanto, é o uso em excesso da insulina, ficuldade de se concentrar, podendo ter cri-
hormônio responsável por levar o açúcar ses convulsivas e até desmaiar.
da corrente sanguínea para as células co-
mo uma fonte de energia. Por isso, quando
o paciente usa insulina e não se alimenta de
ENVATO ELEMENTS

SHUTTERSTOCK

forma adequada, os níveis de açúcar caem


rapidamente, deixando a pessoa com uma
sensação bem desagradável.

A hipoglicemia divide-se em três estágios:

Leve

Glicemia entre 55 mg/dL e 70 mg/dL

Moderada

Glicemia abaixo de 55 mg/dL

Grave
Quando o paciente perde a consciência e
precisa de ajuda de outras pessoas.
Essa é uma situação de emergência.

44 DIABETESmagazine · Edição 01
Tratamento

Como tratar?

ENVATO ELEMENTS
O tratamento deve ser imediato, assim que
os sintomas forem identificados.
O recomendado é ingerir açúcar simples,
pois ele é absorvido rapidamente na corren-
te sanguínea.
Podemos utilizar como regra para adultos
ingerir 15 g de açúcar a cada 15 minutos até
a glicose no sangue ficar acima de 70 mg/dL.
15 g de açúcar equivalem a:

• Um copo pequeno (150 ml) de suco de la-


ranja ou uva integral OU
• Um copo pequeno (150 ml) de refrigeran-
te não dietético OU
• Uma colher (sopa) de mel ou de açúcar di-
luído em água.

Já o tratamento de hipoglicemias para


ENVATO ELEMENTS

crianças depende da idade. Até 5 anos, o


recomendado é ingerir 5 g de açúcar e, en-
tre 5 e 10 anos de idade, o ideal é oferecer
10 g de açúcar.

Quais os riscos da hipoglicemia no


curto prazo?
Devemos ficar atentos a três grandes efeitos
da hipoglicemia a curto prazo: lesão cardía-
ca (infarto agudo do miocárdio), lesão cere-
bral (acidente vascular cerebral) e alteração
na cognição (capacidade de percepção ou
compreensão). Quando falamos de alteração
da cognição, precisamos dar atenção a aque-
les pacientes que desenvolvem hipoglicemia
enquanto dirigem, estão pilotando máquinas
ou mesmo andando de bicicleta, podendo
gerar acidentes a eles ou a terceiros.
SHUTTERSTOCK

Como hipoglicemias recorrentes


impactam na qualidade de vida
após anos?
As hipoglicemias a longo prazo levarão à le-
são no sistema nervoso (neuropatias), na vi-
são (oftalmopatia), maior risco de doenças
cardiovasculares (fibrilação atrial, insufi-
ciência cardíaca e doença coronariana) e re-
dução na expectativa de vida.

Hipoglicemia assintomática: como


lidar?
O paciente com mais tempo de diabetes,
com a hemoglobina glicada mais controlada
(HbA1c) e que desenvolve mais hipoglicemias

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 45


Tratamento

corre o risco de não apresentar sintomas. cemia é conhecer melhor sobre o diabetes,
O uso de monitores ou sensores de glice- os medicamentos em uso, a dieta prescrita
mia em tempo integral ajuda a identificar as pelo nutricionista e a quantidade de exercí-
baixas de glicemia e auxilia na mudança do cios físicos a serem realizados.
tratamento. Além do ajuste da terapia medi- Junto ao paciente, o médico poderá alterar a
camentosa, manter a média de glicose mais dosagem ou o tipo de medicamento para re-
alta favorece o paciente no reconhecimento duzir os riscos da glicose baixa.
das hipoglicemias. Quem usa insulina deve fazer a medição
constante da glicose, controlar os horários
É possível evitar as hipos? de aplicação e não pular refeições. Esses há-
Sim! A melhor maneira de se evitar a hipogli- bitos minimizam a chance de um evento de
hipoglicemia.

O papel da família e de

SHUTTERSTOCK
quem convive
A família exerce uma função
essencial para a segurança
do paciente com risco de hi-
poglicemia, tanto na educa-
ção e manejo dos remédios
quanto no reconhecimento
da hipoglicemia e como agir
de maneira correta.
Além disso, todas as pessoas
com diabetes devem orientar
e alertar amigos, escola, local
de trabalho ou pessoas pró-
ximas sobre sua condição de
saúde e de como socorrê-las
em caso de glicose baixa. Is-
so é fundamental para a se-
gurança delas!

Bate-papo sobre hipo


Durante uma hipoglicemia, é
comum a pessoa sentir mui-
ta fome e sair comendo tu-
do o que vê pela frente. No
Podcast da SBD, o Dr. Fernan-
do Valente e o influenciador
Fred Prado conversaram so-
bre como superar uma crise
de hipoglicemia e lançaram a
seguinte provocação: qual foi
a maior maluquice que você
já fez durante uma hipoglice-
mia? Assista ao episódio no
Diabetes Play.

46 DIABETESmagazine · Edição 01
Prevenção

Proteção em dia
Você sabia que existe uma recomendação específica
para quem tem diabetes em relação às vacinas?

Por Dra. Denise Reis Franco | @denisefrancoendo


Endocrinologista e membro da diretoria da SBD
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

D
urante o auge da pandemia de conjugadas (MenC ou MenACWY), meningo-
Covid-19, tivemos a oportunidade cócica B, HPV e dengue. Guia prático
de saber mais sobre a importância O grande desafio é vacinar a população Acesse o QR Code e baixe o
das vacinas, principalmente entre com diabetes, visto que um número eleva- guia de imunizações e o car-
os grupos de risco de complicações, que in- do de pessoas, incluindo médicos, desco- tão de vacinação elabora-
cluíam as pessoas com diabetes. nhece a importância e os benefícios da imu- do pela SBD e a Sociedade
A imunização é uma estratégia de proteção nização. Por isso, nesta primeira edição da Brasileira de Imunizações
da saúde e de promoção da qualidade de vi- DIABETESmagazine, fizemos questão de (SBIm).
da. Nesse sentido, a Sociedade Brasileira de recomendar a todos que atualizem sua
Diabetes (SBD) e outras entidades médicas, carteira de vacinação.
como a Associação Americana de Diabetes
(ADA), recomendam que os pacientes reali-
zem o esquema vacinal básico proposto pa-
ra cada idade e pedem atenção especial em
relação às seguintes vacinas altamente re-
comendadas para quem tem diabetes:
ENVATO ELEMENTS

• contra a influenza;
• pneumocócica conjugada 13-valente
(VPC13);
• pneumocócica polissacarídica 23-valen-
te (VPP23);
• hepatite B;
• Haemophilus influenzae do tipo b;
• varicela e
• herpes-zóster.
Parte dessas vacinas está disponível na rede
básica do Sistema Único de Saúde (SUS), al-
gumas nos Centros de Referência para Imu-
nobiológicos Especiais (CRIE), presentes em
todos os Estados, enquanto outras somente
na rede privada.
Para as crianças, há ainda outras vacinas,
entre elas: BCG, pólio inativada e rotavírus.
Importante observar também as recomen-
dações para cada faixa etária das seguin-
tes vacinas: tríplice bacteriana, SCR e SCR.V,
febre amarela, hepatite A, meningocócicas

48 DIABETESmagazine · Edição 01
Conte Com

Enfermeiro
Nesta edição, saberemos mais sobre o significado grandioso dos profissionais
de enfermagem e como eles ajudam, efetivamente, no tratamento do diabetes.

Por Maria Eloisa Malieri | @eloebete


Relações-públicas, advogada especializada em direito
à saúde, mentora do projeto social Elo & Bete
FOTO: ARQUIVO PESSOAL

D
á um sorriso aí se você já foi aten- usar o aparelho para medir a glicemia ou o
dido alguma vez na vida por um sensor de glicose? Não hesite, pergunte ao Conecte-se!
profissional de enfermagem. Com enfermeiro! Não sabe como interpretar os No site da Sociedade Bra-
certeza você sorriu, não é? Os en- dados? O enfermeiro te ajuda! sileira de Diabetes há uma
fermeiros são muito importantes quando o “Ele pode verificar se a pessoa está aplican- área com muito conteúdo pa-
assunto diz respeito à saúde: principalmen- do a insulina ou tomando o remédio nos ho- ra os enfermeiros, como um
te nos momentos de vulnerabilidade (doen- rários certos e da forma adequada, mas não e-book com ficha de atendi-
ça), priorizando, acima de tudo, o bem-estar pode mudar a dosagem da medicação ou o mento para pessoas com dia-
dos pacientes. tipo de terapia. Ou seja, o enfermeiro po- betes tipo 2 na atenção pri-
Mas você sabe qual é o papel dos enfermei- de discutir com o médico sobre a situação mária à saúde e um manual
ros no tratamento da diabetes? “Educamos daquele paciente e juntos chegarem a uma de orientação de compra de
e conscientizamos as pessoas com diabetes mudança no tratamento”, esclarece Gabrie- seringas de insulina.
para que tenham uma melhor qualidade de la. Isso vale também para questões relacio- Gabriela Cavicchioli cita ou-
vida e não desenvolvam complicações crô- nadas à alimentação. “Fazemos, portanto, tros projetos do Departa-
nicas. Em nosso atendimento, tratamos as parte do processo educativo e trabalhamos mento de Enfermagem: “Es-
questões do dia a dia, como interpretação em equipe sempre”, completa Gabriela. tamos planejando um curso
das glicemias, entendendo os porquês dos de capacitação para os en-
resultados e quais atitudes tomar em cada fermeiros e, em paralelo,
ARQUIVO PESSOAL

caso. Além disso, ensinamos técnica de apli- conversando com represen-


cação da insulina e a importância do rodízio tantes do Conselho de En-
de aplicação, ou seja, individualizamos o cui- fermagem para criação do
dado", exemplifica Gabriela Cavicchioli, coor- título de Enfermeiro Espe-
denadora do Departamento de Enfermagem cialista em Educação e Cui-
da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD). dado em Diabetes”.
Esses profissionais podem realizar a ava-
liação de sensibilidade dos pés e orientar
o paciente sobre os demais cuidados com
estes membros que merecem toda a nossa
atenção, como cortar a unha, hidratar a pele,
escolher o calçado adequado etc.

Trabalho em equipe
Verdadeiros experts em prevenção e orien-
tação, os enfermeiros estão disponíveis para
Gabriela Cavicchioli: “Enfer-
tirar nossas dúvidas e dos nossos familiares meiros atuam na educação em
sobre esta condição. Tem perguntas sobre o diabetes e na prevenção de
funcionamento da bomba de insulina, como problemas.”

50 DIABETESmagazine · Edição 01
Enfermeira dermatológica ções decorrentes do descontrole glicêmico.
Quanto mais o enfermeiro se apaixona pe- “O primeiro fator e um dos mais importantes
la profissão, mais ele se especializa e quer no pilar do atendimento de qualquer profis-
cuidar. Ou seria o contrário? Bom, a ordem sional de saúde é a acolhida. Quando o pa-
dos acontecimentos pode variar, mas o fato ciente se sente acolhido e compreendido, as
é que existem enfermeiros especialistas em chances que ele tem de absorver todas as
áreas distintas. orientações e cuidados que passamos são
É o caso da paulista de Itaporanga, Vivia- altas. Assim, ele se sentirá o agente principal
ne Aparecida Moreira, que reside em Cacoal da própria vida e fará parte das ações neces-
(RO), e se especializou em enfermagem der- sárias para mudança de hábitos”.
matológica, por um motivo que vai além do
saber técnico. “Comecei a observar como as
pessoas com feridas eram discriminadas pe-

ARQUIVO PESSOAL
la sociedade. Logo, o desejo de tirá-las des-
sa condição desumana tomou conta de mim.
Concluí minha graduação, fiz a especializa-
ção, cursos e nunca mais parei de buscar co-
nhecimento, parcerias e tudo o que possa
contribuir para a vida de pessoas com dores
físicas e da alma, pois acredito que pacien-
tes com feridas têm identidade e sentimen-
tos”, explica a profissional, que desde crian-
ça já gostava de cuidar de outras pessoas.
Viviane entendeu que existe uma forma de Viviane Moreira: “O enfermeiro deve
ajudar os pacientes com diabetes e feridas a ser um educador de saúde que
aderir melhor ao tratamento e, consequen- pode transformar vidas com amor,
temente, evitar as complicações e amputa- empatia e comprometimento.”

AMORacolhida
prevenção
bem-estar educador de saúde
SAÚDE comprometimento
sensibilidade dos pés
EMPATIA

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 51


Inovações à vista
Os recursos para aplicar insulina, medir a glicose e controlar o diabetes estão
cada dia mais eficazes, seguros e confortáveis. Conheça alguns desses avanços.

Por Dr. André Vianna | @dr.andre.vianna


Endocrinologista e membro da diretoria da SBD
FOTO: DIVULGAÇÃO

A
tecnologia vem revolucionan- Fato é que nenhuma inovação substitui de
do gradativamente o atendimen- vez a parte humana, ou seja, continua sen-
to à saúde e desempenhando do fundamental que cada pessoa com dia-
um papel muito importante nos betes conheça seu tratamento e discuta
cuidados diários do diabetes, além de com o médico sobre os ajustes necessários.
diminuir aquela carga mental de quem A seguir, destaco alguns avanços tecnológi-
convive o tempo todo com uma condição cos que tivemos ao longo de cem anos, des-
crônica. de a descoberta da insulina, em 1921.

Para saber mais sobre a


RAFAEL SCHMITT / COMUNICORE MKT

bomba de insulina, acesse


o QR Code.

A curitibana Larissa Strapasson,


30 anos, foi a 1ª brasileira a rece-
ber aparelho que funciona como
pâncreas artificial para controle
do diabetes. Ela tem DM1 desde
os 17 anos.

52 DIABETESmagazine · Edição 01
Tecnologias

Canetas de aplicação pode causar hipoglicemia. Com elas há, ain- ARQUIVO MOMENTO SAÚDE EDITORA
Usadas para aplicar doses de insulina, as ca- da, maior conforto durante a aplicação.
netas estão cada vez mais modernas. O for- No passado: quem descobriu o diabetes an-
mato, que lembra uma caneta de escrever, tes das canetas serem criadas aplicava a in-
permite maior discrição na hora do tratamen- sulina usando seringas de vidro, com agu-
to, ótimo para quem tem medo ou vergonha lhas que chegavam a 13 milímetros de
de aplicar insulina em público, por exemplo. comprimento e de calibre grosso. As serin-
Além disso, as canetas permitem administrar do- gas eram reutilizadas e precisavam ser fervi-
ses menores de insulina com mais segurança. das para esterilização. Embora ainda sejam
Alguns modelos contam com avisos sonoros utilizadas hoje, as seringas são descartáveis
quando a dose é aplicada. Interessante para e há modelos com agulhas de 6 milímetros.
quem tem baixa visão. A evolução delas são as canetas inteligen-
Antiga seringa de vidro.
Um ponto importante, no entanto, é o ta- tes, que se conectam ao smartphone e ar-
manho das agulhas. As menores disponíveis mazenam dados. Elas podem se comunicar
atualmente são de 4 milímetros. Esse detalhe com os aparelhos que medem a glicose e,
faz toda diferença, pois agulhas pequenas di- assim, gerar mais informações para o usuá-
minuem o risco de injeção no músculo, o que rio e o médico.
ARQUIVO MOMENTO SAÚDE EDITORA

Modelo de caneta de insulina.

Bomba de insulina com sensor.

Bomba de insulina

SHUTTERSTOCK
Aparelho utilizado para programar a libera-
ção de doses de insulina ao longo do dia,
sempre de acordo com as necessidades da
pessoa que tem diabetes.
A bomba de insulina fica conectada ao corpo
da pessoa com diabetes o tempo todo, po-
dendo ser tirada em situações específicas,
como um banho de mar (dependendo do mo-
delo). É importante a troca do cateter com re-
gularidade, além de fazer a contagem de car-
boidratos para programar a quantidade de
insulina adequada com base nas refeições.

Pâncreas artificial híbrido


É a mais avançada tecnologia para o con-
trole do diabetes, também conhecido como
Sistema Minimed 780G.
Esse aparelho mede a glicemia a cada 5 mi-
nutos e, por meio de algoritmo, consegue
identificar se e quando a pessoa terá um
quadro de hipoglicemia e hiperglicemia, au-
mentando ou reduzindo as doses de insuli-
na ou até suspendendo as aplicações de for-
ma automática caso necessário.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 53


Tecnologias

Glicosímetros

ENVATO ELEMENTS
São aparelhos usados para medir o nível da
glicemia atual em pessoas com diabetes.
Basta colocar uma gota de sangue na fita
reagente e o aparelho faz a leitura em pou-
cos segundos.
Existem diversos modelos no mercado. Os
digitais possuem uma memória de testes, ou
seja, arquivam as últimas medições para vo-
cê e/ou seu médico acessar depois. Alguns
têm um recurso interessante, que possibili-
ta programar alarmes para lembrar o horá-
rio da medição.
No passado: antes do glicosímetro ter sido
criado (em 1970), para ter uma ideia de co-
mo estava a glicose, mergulhava-se uma tira
reagente na urina do paciente. Dependen-
do da cor, a pessoa com diabetes tinha no-
ção se tinha hiperglicemia ou não. Nada prá-
tico, hein?
A evolução da monitorização é o sensor de gli-
cose, que dispensa o furo na ponta do dedo e
mede a glicemia em tempo real. Saiba mais so-
bre ele na página 11 da DIABETESmagazine.

Semaglutida
A evolução não acontece somente no campo Insulina inalável
dos acessórios. Os medicamentos para tratar Esta foi uma grande inovação na forma de Sensor de glicose.
o diabetes tipo 2 e a insulina também pas- administrar a insulina. Até pouco tempo
sam por constantes pesquisas e inovações. atrás, só havia a opção de injetar o hormô-
Um exemplo é a Semaglutida, cujos nomes nio no tecido subcutâneo. Em 2020, chegou
comerciais são Ozempic ou Rybelsus, medi- ao Brasil a versão em pó, que vem dentro de
camento para tratamento do diabetes tipo 2 cartuchos com doses definidas e usa-se um E no futuro?
que facilita a perda de peso. pequeno inalador para aspirar. Como você imagina que se-
É também o primeiro remédio para diabetes No entanto, o único tipo de insulina disponí- rá? Uma coisa é certa: edu-
da classe dos agonistas dos receptores de vel na versão em pó é a ultrarrápida, usada cação em diabetes nun-
GLP-1 que, além de poder ser injetado ape- para controlar a glicemia após as refeições. ca ficará ultrapassada. Por
nas uma vez por semana, pode ser tomado Portanto, ela ainda não substitui totalmente isso, invista na sua saúde
por via oral, sem a necessidade de injeção. o tratamento com injeção. Infelizmente, a in- com informação!
Acreditamos que esse possa ser um diferen- sulina inalável se encontra temporariamen-
cial na adesão ao tratamento do diabetes ti- te em falta no mercado nacional.
po 2. Mas converse com o seu médico an-
tes de usá-lo.
DIVULGAÇÃO

Por falar em agonistas dos receptores de


GLP-1: eles são medicamentos que agem
como se fossem o próprio GLP-1, hormônio
produzido pelo organismo que tem múlti-
plas ações na regulação do apetite e da gli-
cose. É o mais potente medicamento no tra-
tamento do diabetes tipo 2.
Insulina inalável.

54 DIABETESmagazine · Edição 01
CONEXÃO
MÉDICA
Além do conhecimento adquirido na for-
mação acadêmica, espera-se que o médi-
co seja um profissional humano, atencioso
e comprometido com seus pacientes. Pa-
ra transmitir segurança e exercer a medici-
na é fundamental que ele esteja atualizado
sobre a diretriz e os principais estudos da
sua área e participe de congressos e outros
eventos científicos promovidos pelas socie-
dades médicas.
Aqui na DIABETESmagazine, dedicamos um
espaço para destacar os temas em evidên-
cia, para que você, caro associado da SBD,
mantenha-se atualizado sempre!

O tema desta edição é:

Diabetes
Gestacional
ENVATO ELEMENTS

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 55


Diabetes Mellitus
Gestacional
Complicação silenciosa e frequente que acontece na gestação, o DMG
pode ser controlado, mas é preciso realizar o diagnóstico precoce.

ARQUIVO PESSOAL
Autora: Lenita Zajdenverg
Médica endocrinologista, professora associada do Departamento de Clínica Médica na
disciplina de nutrologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), chefe do Ser-
viço de Nutrologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da UFRJ, coorde-
nadora da Unidade de Doenças Endócrino-Metabólicas da Maternidade-Escola da UFRJ
e membro do Comitê Central da Diretriz e do Dep. de Gestação da Sociedade Brasileira
de Diabetes

E
stima-se que, mundialmente, 1 de ca- nóstico do DMG para que o tratamento co-
da 6 nascidos vivos são filhos de mu- mece no tempo correto, evitando-se, assim,
lheres que tiveram hiperglicemia na as complicações associadas ao excesso de
gravidez. A maioria dos casos são grá- glicose tanto no sangue materno como no
vidas que não apresentavam diabetes antes ambiente intrauterino.
da gestação e que desenvolvem o Diabetes Seguem os esclarecimentos às dúvidas mais
Mellitus Gestacional (DMG). constantes sobre o diagnóstico do DMG.
Gestantes com DMG, em geral, não apresen-
tam nenhum sintoma do diabetes, por isso O que significa DMG?
é importante que o DMG seja pesquisado Definido como uma intolerância aos carboi-
através da realização de exames de sangue dratos, o DMG se manifesta pelo aumento
no momento adequado da gestação. da glicemia que surge na gestação e pode
A glicose elevada nesta fase da vida da mu- ou não permanecer após o parto. O diag-
lher pode trazer diversas consequências, nóstico do DMG é feito quando os níveis de
tanto para a gestante, como para seu bebê, glicemia, embora elevados para a gravidez,
sendo as mais frequentes as complicações não preenchem os critérios de diagnósticos
hipertensivas da gestação, bebês grandes de diabetes mellitus (DM) fora da gestação.
para idade gestacional (macrossomia), trau- O termo DM diagnosticado na gestação (overt
matismos no parto e hipoglicemia neonatal. diabetes), e não DMG, deve ser utilizado nos
Tanto a mulher que desenvolve DMG quan- casos em que a gestante também desconhe-
to a sua prole que foi exposta a ambiente in- cia ter DM pré-gestacional, mas apresenta ní-
trauterino hiperglicêmico têm risco aumen- veis glicêmicos que já fariam o diagnóstico
tado de desenvolver DM2 e obesidade no de DM, mesmo em não gestantes.
futuro. A importância de compreender que o diag-
A boa notícia é que o controle glicêmico nóstico de DMG e DM diagnosticado na ges-
é bastante eficaz para reduzir os riscos de tação deve ser diferenciado se deve ao fato
complicações. Por esta razão, é fundamental que o acompanhamento, prognóstico e risco
que a equipe de saúde, a gestante e seus fa- de evoluir com DM após a gestação destas
miliares compreendam como é feito o diag- mulheres não são semelhantes.

56 DIABETESmagazine · Edição 01
Conexão Médica

O que provoca o DMG? aumento da demanda de produção de insu-


Na gestação ocorrem adaptações do meta- lina, especialmente na segunda metade da
bolismo para a atender à demanda energéti- gestação.
ca do crescimento fetal e preparar o organis-
mo materno para o parto e a lactação. Qual gestante deve rastrear DMG?
A gravidez é caracterizada por um estado fi- Todas as gestantes que não tenham diag-
siológico de resistência à insulina, resulta- nóstico conhecido de DM pré-gestacional
do da produção placentária de diversos hor- devem realizar a pesquisa do diagnóstico de
mônios que têm efeito contra insulínicos. A DMG.
resistência à insulina desenvolvida na gra- Embora idade materna avançada, sobrepeso
videz favorece o suprimento necessário de e obesidade, história familiar de DM, DMG
glicose para o feto. prévio, diagnóstico de síndrome dos ovários
Comparadas com aquelas que não evoluem policísticos, presença de acantose nigricans,
com hiperglicemia na gestação mesmo an- dentre outros, sejam fatores de risco conhe-
tes da gravidez, mulheres que desenvolvem cidos para desenvolvimento de DMG, estu-
DMG apresentam, de forma subclínica, dis- dos mostram que, sem realizar rastreamento
função da secreção pancreática de insuli- universal, aproximadamente 1/3 das ges-
na. A capacidade pancreática da gestante tantes com DMG teria permanecido sem o
com DMG é insuficiente para compensar o diagnóstico.

SHUTTERSTOCK

SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 57


Conexão Médica

Como é feito o diagnóstico de DMG?


1. Na primeira consulta do pré-natal: To- de gestacional e da presença de fatores
das as gestantes sem diagnóstico pré- de risco para DMG, devem fazer a medi- Sugestão de leitura:
vio de DM, independentemente da ida- da da glicemia plasmática de jejum. Zajdenverg L, Façanha C,
Dualib P, Golbert A, Moisés
E, Calderon I, Mattar R, Fran-
Tabela 1. Interpretação da glicemia plasmática na primeira consulta do
cisco R, Negrato C, Bertolu-
pré-natal e conduta
ci M. Rastreamento e diag-
Glicemia Informações nóstico da hiperglicemia
na gestação. Diretriz Ofi-
Glicemia normal. A gestante deve ser orientada a realizar nova pesquisa cial da Sociedade Brasilei-
< 92 mg/dL
do diagnóstico de DMG entre a 24ª e a 28ª semanas de idade gestacional. ra de Diabetes (2022). DOI:
92-125 mg/dL Iniciar tratamento do DMG. 10.29327/557753.2022-
11, ISBN: 978-65-5941-
DM diagnosticado na gestação (overt diabetes). Realizar rastreamento 622-6.
≥ 126 mg/dL de complicações microvasculares do DM, avaliar presença de malfor-
mações fetais e iniciar tratamento do DM.

2. Entre a 24ª e 28ª semanas de idade jejum, 1 hora e 2 horas após a inges-
gestacional: o rastreamento do DMG tão da glicose.
deve ser indicado para todas as gestan- Em locais onde a disponibilidade técni-
tes sem diagnóstico na primeira consul- ca e financeira inviabiliza a realização
ta do pré-natal de DM diagnosticado na do TOTG 75 g, devem-se solicitar glice-
gestação ou DMG. mia plasmática de jejum e a interpreta-
Idealmente, deve ser solicitado Teste ção do resultado é semelhante ao re-
Oral de Tolerância à Glicose com 75 g portado anteriormente para glicemia de
de glicose anidra VO (TOTG 75 g) com jejum na primeira consulta do pré-natal.
medida das glicemias plasmáticas em

Tabela 2. Interpretação do resultado do TOTG 75 g

Resultado Informações

Quando todos os valores de glicemia a seguir estiverem presentes:


Jejum < 92 mg/dL
Normal
1 hora < 180 mg/dL
2 horas < 153 mg/dL
Quando pelo menos 1 dos valores de glicemia a seguir estiver presente:
Jejum 92-125 mg/dL
DMG
1 hora ≥ 180 mg/dL
2 horas 153-199 mg/dL
DM diagnostica- Quando pelo menos 1 dos valores de glicemia a seguir estiver presente:
do na gestação Jejum ≥ 126 mg/dL
(overt diabetes): 2 horas ≥ 200 mg/dL

Qual orientação deve ser dada dem o exame, não façam dieta com restrição
para a gestante que irá realizar o de carboidratos ou ingiram diariamente, no
TOTG 75 g? mínimo, 150 g de carboidratos. Além disso,
Para evitar interferências no resultado do devem estar em jejum de 8 horas no dia da
TOTG 75 g, as gestantes devem ser orienta- realização do TOTG 75 g.
das para que, durante os 3 dias que antece-

58 DIABETESmagazine · Edição 01
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