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E PRÁTICAS
COMUNITÁRIAS
Caderno de Projetos
EDUCAÇÃO DO CAMPO 3
2020
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
ISBN 978-65-87718-06-4
20-43929 CDD-370.91734
Índices para catálogo sistemático:
Direção Pesquisadoras
Livro
Salete Sirlei Valesan Camba Débora Mate Mendes
Givânia Maria da Silva MONTECHIARE, Renata; Lázaro, André (orgs). Edu-
Coordenação Acadêmica
Laise Lopes Diniz cação e Práticas Comunitárias: educação indíge-
Florencia Stubrin
Kamila Karine dos Santos Wanderley na, quilombola, do campo e de fronteira nas regiões
Conselho Acadêmico Karla Fornari de Souza Norte e Nordeste do Brasil. Rio de Janeiro: Flacso
André Lázaro Nádia Maria Cardoso da Silva Brasil, 2020.
Gustavo Fischman Rita Gomes do Nascimento (Potyguara)
Julio Jacobo Waiselfisz Zuila Guimarães Cova dos Santos Cadernos de Projetos:
Kathia Dudyk
Caderno Educação Escolar Indígena, Rita Gomes do
Laura Tavares Equipe técnica
Nascimento e Laise Lopes Diniz
Mary Garcia Castro Monique Lima - Projeto gráfico
Miriam Abramovay Gabriele Roza - Textos finais Caderno Educação Escolar Quilombola, Givânia Ma-
Pablo Gentili Margareth Doher - Revisão ria da Silva e Nádia Maria Cardoso da Silva
Renata Montechiare
Caderno Educação do Campo, Karla Fornari de Sou-
Secretaria Acadêmica Apoio za, Kamila Karine dos Santos Wanderley e Débora
Marcelle Tenorio Porticus América Latina Mate Mendes
Conheça as pesquisadoras 3
Educampo 59
Conheça as pesquisadoras
Currículo Lattes
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KAMILA WANDERLEY
Currículo Lattes
SUMÁRIO
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Currículo Lattes
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EDUCAÇÃO DO CAMPO
NO CONTEXTO DO
SEMIÁRIDO: A PRÁTICA
EDUCATIVA DA ECOESCOLA
THOMAS A KEMPIS
Escola:
Ecoescola Thomas a Kempis
Localização:
Sítio Revedor do município de Pedro II, Piauí
Pedro II – PI
Pesquisadora:
Região Nordeste Kamila Karine dos Santos Wanderley
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Como a Escola funciona em tempo integral, além das O PPP também tem como base a valorização dos di-
disciplinas acima especificadas, são oferecidas várias ferentes saberes, a multiplicidade dos espaços peda-
outras atividades, como parte adicional da matriz curri- gógicos, os direitos e deveres da cidadania, o exercício
cular, para complementar a jornada escolar, conforme da criticidade e o respeito à democracia. Os enfoques
especificação que segue. As atividades podem ser mo- teórico-metodológicos que norteiam o projeto de for-
dificadas de acordo com avaliação da equipe gestora, mação da Ecoescola são:
pedagógica e pelos estudantes:
1. educação contextualizada: identificar o que é pre-
tendido como algo integrante de um determinado con-
• atividades práticas de agropecuária sustentável;
texto cultural/espacial/temporal;
• educação ambiental;
2. interdisciplinaridade: relacionar as diversas discipli-
• projeto de leitura e escrita; nas que compõem o conhecimento;
• oficinas de arte; 3. currículo integrado: compreender a integração do
• educação emocional; desenvolvimento afetivo, emocional, cognitivo e social;
• formação cidadã; 4. aprender a aprender: consolidar o conhecimento
• avaliação dos trabalhos da semana; científico através da relação teoria e prática.
• estudo dirigido.
A Ecoescola Thomas a Kempis adota a concepção peda- econômico viável na região do semiárido. Desse modo, o
gógica da educação do campo na perspectiva da convi- conjunto de atividades que compõem a prática educa-
vência com o semiárido e como estratégia de vincular-se tiva da Ecoescola articulam com os princípios políticos
à realidade social, ambiental, econômica e cultural do/ e pedagógicos da educação do campo.
as educandos/as. A proposta pedagógica da Ecoescola
A Ecoescola adota um trabalho educativo com o objetivo
vai além das aulas de Zootecnia e Técnicas Agrícolas,
de promover o desenvolvimento sustentável da região,
as/os estudantes participam mensalmente de cursos
ancorados nos princípios da agroecologia e da susten-
sobre temáticas ligadas à agropecuária sustentável.
tabilidade em defesa do projeto de agricultura familiar.
As atividades se destacam por serem construídas com Para efetivar sua missão inovadora para região são es-
o propósito de promover uma articulação entre os con- tabelecidos alguns objetivos, destacam-se:
teúdos escolares, vinculados às diferentes disciplinas,
com outras temáticas acerca da realidade local, incluindo
práticas em áreas específicas para o desenvolvimento
• desenvolver as competências para continuar apren- Quando fui pra Ecoescola abriram-se os horizontes.
dendo, de forma autônoma e crítica, em níveis mais Passei a ver de outra forma. O campo como vida. Como
complexos de estudos; fonte de renda, de vida. Como forma do jovem crescer
nele sem precisar que ele saia do campo. Sabemos que
• desenvolver atividades contextualizadas e significativas
ele deve ser preservado: sem queimadas, sem poluição,
com os alunos, utilizando as tecnologias da informação e desmatamento. As nascentes também devem ser
da comunicação, em que, além do acesso à informação, preservadas, porque é do campo que sai a vida, os
os estudantes são motivados a produzir conhecimento; alimentos, a água, os animais. Ele deve ser preservado e
cuidado. O campo é nosso refúgio. Não é somente nós
• fomentar e apoiar a participação das famílias na escola,
que trabalhamos e estudamos em uma escola desse
como estratégia de construção de uma corresponsa- nível que notamos isso. Muitas pessoas já viram que no
bilidade nos resultados escolares dos alunos. campo podem mudar de vida. Na minha comunidade,
por exemplo, estamos tendo o êxodo urbano. Muitas
Desse modo, a prática educativa rompe os muros da pessoas estão vindo de São Paulo para cá para mudar
escola e promove uma reflexão coletiva que adota os de vida, cansaram da agitação da cidade e estão
princípios da agroecologia e da sustentabilidade em trabalhando de roça.
defesa do projeto de agricultura familiar.
Estudante Ana Catarina, 2018
A escola estabelece uma parceria com o poder público com o semiárido. Existe uma ampla parceria com
municipal e estadual. A Prefeitura Municipal de Pedro II as/os egressos que colaboram com a Ecoescola
disponibiliza o transporte para os/as educandos/as da com palestras na semana de integração, projetos,
cidade, já o Governo do Estado do Piauí, além de ceder oficinas e consultorias.
os/as professores/as, custeia as despesas do transporte
Nessa relação, ao longo do ano, a Ecoescola recebe
dos/as educandos/as do campo.
escolas e universidades de todo o estado do Piauí
A Ecoescola conta com a participação da comunidade para conhecer a sua proposta. As/os estudantes or-
– pais, associações, estudantes, egressos, professores ganizam um roteiro de apresentação das práticas
e representantes das instituições parceiras – em di- agroecológicas desenvolvidas na escola, realizando
versos momentos, seja nos cursos, nos encontros de roda de conversa entre a equipe e ofertando oficinas
avaliação das ações pedagógicas e administrativas do de reciclagem de papel e compostagem. A escola dis-
projeto e nas formulações de questões que devem ser ponibiliza também sua trilha “José Ferreira” para estu-
abordadas como temas de estudos para convivência dos, caminhadas, pesquisas. Na trilha são catalogadas
Em parceria com o Centro de Formação Mandacaru, a voltadas para uma alimentação saudável e um ambien-
Ecoescola organiza duas feiras agroecológicas, a “Feira te sustentável. Tem estimulado atitudes sustentáveis,
da Fartura”, realizada na Semana Santa, e a Feira Agroe- bem como a disseminação de informações e conceitos
cológica dos Saberes e Sabores de Pedro II. Atualmente relacionados com o semiárido, no que diz respeito ao
contam com dez agricultores cadastrados participando cuidar, conservar, explorar e relacionar-se através da
ativamente da comercialização de produtos orgânicos. construção de valores, da relação ensino-aprendiza-
Estudantes do 3º ano participam comercializando pro- gem e da geração de multiplicadores de práticas com
dutos da própria escola. A experiência reúne familiares atuações que ultrapassem os muros da escola.
das/dos estudantes e outros pequenos produtores.
Fonte de consulta: Gestora da escola, julho de 2020.
As feiras têm sido espaços de debate acerca da agroeco-
logia, do resgate e do diálogo da ciência com os saberes
tradicionais. Elas trazem a ideia de que todas as pessoas
podem contribuir para o aprimoramento de práticas
INVENTÁRIO DA
REALIDADE: ESCOLA DE
ENSINO MÉDIO FLORESTAN
FERNANDES
Escola:
Escola de Ensino Médio Florestan Fernandes
Localização:
Assentamento Santana, Monsenhor Tabosa, Ceará
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Construída com base nos princípios da Pedagogia do humana, considerando o ser humano em suas múltiplas
Movimento Sem Terra, a Escola nasceu de um intenso dimensões, e se colocam como parte de um movimento
processo de lutas e mobilizações sociais dos povos de transformação social.
campesinos por acesso às condições dignas e justas de
A escola visa uma organização curricular baseada na
usufruto da educação pública. Essas lutas intenciona-
gestão coletiva. Ela conta com a comunidade e o setor
ram o reconhecimento da identidade camponesa e dos
de educação do MST na gestão político-pedagógica e
locais de referência/luta, decorrentes principalmente
também com o colegiado de gestão (Conselho Escolar),
da articulação do MST.
a nucleação de estudantes (Grêmio Estudantil), a Asso-
A concepção de educação do campo, defendida pela ciação de Pais e Mestres e os coletivos de educadores
Escola Florestan Fernandes, e o projeto de escola do e funcionários. Além de outras organizações comuni-
campo que está sendo construído nascem da crítica ao tárias, como a Cooperativa de Produção Agropecuária
projeto de educação e escola capitalista. As propostas Águia do Assentamento Santana Ltda., as Associações
ampliam a função da escola como lugar de formação e o Grupo de jovem; e organizações sociais, como os
movimentos sociais, a Brigada Dom Fragoso e a Diver- a partir das matrizes do trabalho, da cultura, das lutas
sidade religiosa. sociais e da organização coletiva; a diversificação de
tempos e espaços educativos para uma formação
A Escola Florestan Fernandes planeja e avalia as ações de
multidimensional; a inserção de componentes curricu-
forma coletiva com ênfase nas ‘‘Porções da Realidade’’
lares integradores, na parte diversificada, organizando
(uma situação real, concreta da vida dos estudantes)
pedagogicamente a pesquisa, o trabalho e a intervenção
integradas aos conteúdos curriculares, adequando ao
social; o campo experimental da agricultura campo-
currículo do ensino as propostas de atividades da base
nesa e da reforma agrária e o vínculo com o trabalho;
diversificada. Assim, a escola contribui para a formação
a organização coletiva para o trabalho, o estudo e a
da cidadania, possibilitando o trabalho que é feito em
gestão escolar.
práticas sociais, valorizando a educação ambiental e
sugerindo o trabalho que é desenvolvido pela Organi-
zação do Trabalho e Técnicas Produtivas (OTTP).
A Seca sempre foi uma constante Para a vida melhorar. Como a água é escassa
realidade para o povo nordestino. No ano 2015 Criaram formas de
Não dá mais pra negar Completaram-se cem anos, armazenamentos:
Que o nordestino é um forte, Da maior seca da história Cisternas, açudes, barragens
Pois em meio ao semiárido Que acabou com muitos planos, São alguns de seus inventos,
Ele nunca perdeu seu porte E a cena se repetiu Em harmonia com a natureza
Enfrenta secas constantes Outra seca foi o que se viu Produzem e preservam a beleza
E luta a todo instante Mas não causou tantos danos. Com meios de reaproveitamento.
Sem temer nem mesmo a morte. O nordestino é inteligente Viver no sertão nordestino
Na história do nordeste E depois de muito sofrer, Já é motivo de alegria,
É possível encontrar, Desenvolveu várias técnicas Em pleno século XXI
Nordestinos que fugiam Pra melhor sobreviver, E com muita ousadia,
Pra não ter que enfrentar, Já não se retira mais Levamos uma vida feliz
A seca, a sede, a fome No nordeste vive em paz Sem perder nossa raiz
Fugiam mulher, menino, e homem Em sua terra tem poder. Isso sim é sabedoria
Inventário da Realidade
Destacamos como frente de ação integradora de edu- A metodologia do Inventário contribui para estudar re-
cação e práticas comunitárias o Inventário da Realidade, lações fundamentais entre produção e consumo de
um recurso didático que consiste numa pesquisa diag- alimentos, agricultura, estrutura agrária, funcionamento
nóstica coletiva, envolvendo educadores, estudantes e lógico de exploração do capitalismo (sobre o trabalho e
comunidades, em torno de um mapeamento dos ele- a natureza) e construção de novas relações sociais de
mentos do meio onde a escola está inserida. A frente produção. O método tem incidência nos estudos que
de ação tem como objetivo possibilitar a integração do integram abordagens ecológicas econômicas, políticas
conhecimento escolar com a realidade, buscando su- e socioculturais, adequando-os para cada faixa etária.
perar a histórica ruptura entre escola e vida (CALDART,
A proposta do Inventário da Realidade se destaca por
2010). O Inventário identifica as fontes educativas do
enfrentar com os moradores/as as adversidades do se-
meio para subsidiar os planejamentos pedagógicos, vin-
miárido e fomentar a recuperação da caatinga (como
culando os objetivos formativos e o ensino das áreas do
palma forrageira, horto medicinal, imburana e manda-
conhecimento com a vida e a realidade dos estudantes.
la), interagindo com a escola municipal e aproveitando
No Assentamento Santana, a luta pela terra sempre é considerada tão importante quanto a reforma agrária
esteve vinculada à luta por escola e por melhores con- popular no processo de consolidação da democracia.
dições de vida, para os sujeitos do campo. Desde o O Assentamento não mede esforços na busca, sobre-
início do Assentamento, as famílias começaram a se tudo, da erradicação do analfabetismo e da conquista
preocupar com a educação de seus filhos. Ao longo de condições reais para que toda criança, adolescente,
dos anos, o Assentamento Santana tem traçado uma jovem e adulto tenham acesso à escola pública.
luta para avançar no nível de escolarização de todos/
Fonte: Projeto Político-Pedagógico Escola de Ensino
as. Além de uma intensa mobilização, tem incentivado
Médio Florestan Fernandes.
a inserção da juventude na universidade e nos cursos
técnicos profissionalizantes.
CALDART, Roseli Salete. Educação em movimento: formação Youtube: vídeo apresenta a proposta política-pedagógica da Es-
de educadores e educadoras no MST. Petrópolis: Vozes, 2002. cola do Campo Florestan Fernandes, situada no assentamento
de Reforma Agrária Santana, no município de Monsenhor Tabosa/
FERNANDES, Ivanete Ferreira et al. Agroecologia e Educação do Ceará. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=GP-
Campo: a experiência da Escola do Campo Florestan Fernandes QWArLubKM.
no Assentamento Santana – Monsenhor Tabosa/CE. Cadernos
de Agroecologia, [S.l.], v. 12, n. 1, jul. 2017. ISSN 2236-7934. Dispo- Facebook: Florestan Fernandes
nível em: <http://revistas.aba-agroecologia.org.br/index.php/cad/
article/view/22316>. Acesso em: 17 ago. 2020.
ESCOLA TÉCNICA EM
AGROECOLOGIA LUANA
DE CARVALHO
Escola:
Escola Técnica em Agroecologia Luana de Carvalho
Localização:
Assentamento Joseney Hipólito, rodovia
Ituberá-Gandú, km 15, Baixo Sul, Bahia
Ituberá – BA Pesquisadora:
Região Nordeste Karla Fornari de Souza
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Segundo seus educadores, a obra da escola começou em Agroecologia. Desde então, a escola segue amplian-
em 2012 e terminou três anos depois. No entanto, a do suas atividades e parcerias, batalhando por uma
escola não foi inaugurada. Diante da situação, o prédio educação do campo sempre mais acessível e de quali-
foi ocupado pelo MST em 2015, com 29 educandos/ dade. Hoje, a escola faz parte da rede municipal e esta-
as, funcionando apenas com o trabalho voluntário de dual, atendendo dez comunidades da região, com 250
professores/as e assentados/as da comunidade, na estudantes matriculados. A escola oferece atividades
preparação da merenda, carregamento de água, trans- em três turnos (matutino, vespertino e noturno) para o
porte escolar etc. Após um mês e 22 dias de ocupação, ensino fundamental e médio técnico, para a EJA, para o
a unidade de ensino fundamental II foi regularizada cursinho preparatório para o Exame Nacional do Ensi-
pelo município. no Médio (ENEM) e para o Programa Universidade Para
Todos (UPT).
Um ano depois aconteceu outro processo parecido de
reivindicação e ocupação da escola que resultou na Atualmente, a Escola Técnica em Agroecologia Luana
conquista da implantação do ensino médio – Técnico de Carvalho além de envolver as esferas municipais e
A escola está localizada em área de assentamento da é implantado pelo latifúndio e suas empresas, que tem
reforma agrária, assim materializa lutas simultâneas, como objetivo formar a força de trabalho “barata” para
que se apresentam como desafios centrais, entre elas: seus próprios interesses/negócios.
a luta pela terra, o direito à educação e a construção das
É uma experiência encantadora! Através de muitas lu-
condições de permanência na terra de maneira autôno-
tas e resistências, conquistaram a construção de uma
ma e produtiva. Como relatam seus educadores, está
escola em área de assentamento, que garante forma-
localizada em um território onde impera o agronegócio
ção técnica e humana. Numa perspectiva democrática,
do cacau, da seringa e do dendê. A escola faz enfrenta-
agroecológica, politécnica, com currículo contextualiza-
mento direto ao agronegócio, ao agrotóxico e à mono-
do. Inspiram-se nos princípios, práticas e bandeiras de
cultura, enquanto modelo de produção, vida e trabalho.
lutas do MST, da Pedagogia do Movimento, da Educação
Questiona os modelos impostos de educação, pois na
Popular e da Educação do Campo.
região existem outras escolas técnicas financiadas pelo
Estado nas quais o Projeto Político-Pedagógico (PPP)
Projetos da escola
O curso técnico em Agroecologia integrado ao ensino A Escola desenvolve diversos projetos simultaneamen-
médio tem duração de três anos, é presencial e aconte- te, com diferentes tempos de duração e atendendo a
ce no turno vespertino. São realizadas diversas práticas pauta do MST e da comunidade:
agroecológicas que se integram aos conhecimentos
• inventário da realidade (diagnóstico coletivo da reali-
teóricos. Os estudantes participam de visitas técnicas,
dade social nas comunidades para ser base de contex-
intercâmbios e feiras da reforma agrária. Também tra-
tualização das disciplinas e objeto de estudo de ações
balham com tecnologias sociais no entorno da esco-
interdisciplinares);
la, tais como: quintais produtivos, armazenamento e
filtração de água de chuva, farmácias vivas, fossas de • práticas agroecológicas no entorno da escola;
evapotranspiração, círculo de bananeira, produção de • tecnologias sociais no entorno da escola;
adubo. Algumas das tecnologias têm sido replicadas
• mutirões na escola com o objetivo de melhoria de
nas parcelas ou quintais de estudantes e educadores.
suas estruturas;
• Estruturação do curso: efetivação de docentes dos Núcleos Produtivos com produção, benefi-
(metade tem contratos temporários), insumos, ciamento e comercialização.
equipamentos para práticas, materiais para as
• Expansão maior pelo território limitada pela
tecnologias sociais.
falta de estrutura da escola que não possui dor-
• Formalização da contextualização do currículo mitórios e refeitórios.
(PPP em construção).
• Implantação da modalidade de alternância com
• Evasão escolar por conta da migração laboral modelo de imersão para acolher estudantes de
muito forte na região: desafia a criação perma- outros municípios.
nente de alternativas para geração de renda à
juventude rural durante e depois do curso. Estão
desenvolvendo experiências ainda incipientes
• Em tempos de pandemia, a ETALC está iniciando um • A escola está participando da campanha: “10 milhões
projeto chamado “Luana Cuidadora”, em que selecio- de árvores em 10 anos”. A campanha é animada nacio-
naram estudantes de diferentes assentamentos para nalmente pelo MST como parte do Plano Emergencial
a realização do curso similar ao de agente popular de de Reforma Agrária Popular, com a produção e o plantio
saúde. Conseguiram aprovar um recurso para formação de milhares de mudas!1
e remuneração de estudantes e ainda irão computar a
carga horária do trabalho de acompanhamento e mo-
nitoramento das comunidades como estágio escolar.
1. Relato escrito pelo professor Ronaldo, agricultor na mobilizações dos movimentos populares, iniciaram as
comunidade Guadalupe e licenciado em História pelo primeiras experiências de escolarização dos campone-
ses(as) e trabalhadores(as) das cidades.
Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária
(Pronera) na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Aqui na Região Baixo Sul da Bahia, especificamente em
irmão de Luana Carvalho, militante que deu o nome à Ituberá, existiam, até início de 2000, apenas escolas no
escola técnica. campo e em sua maioria, localizadas em áreas privadas
dos fazendeiros latifundiários da região que, junto ao po-
Desde as primeiras constituições brasileiras nunca existiu der público municipal construiu várias escolas de séries
um projeto de educação para as pessoas do campo, filhos iniciais nas suas empresas, necessariamente para os tra-
e filhas dos trabalhadores e trabalhadoras. balhadores(as) não ter que saírem em busca de escola-
rização dos seus filhos e filhas na cidade. Na rodovia 250
O primeiro projeto de escola no campo foi elaborado
que liga Ituberá a Gandú, podemos destacar algumas
para frear o êxodo rural e evitar que as pessoas saíssem
escolas construídas por fazendeiros, entre elas, Escola
do campo para cidade e esvaziassem a mão de obra
de série inicial – Fridolina de Morais Rêgo e Engenheiro
nos latifúndios. Durante a ditadura militar de 64, com as
Fernando Balalai, localizadas na antiga Fazenda Cascata profissional. Hoje, além das famílias assentadas e com a
(hoje assentamentos Margarida Alves e Joseney Hipólito) posse da terra, podem escolarizar os seus filhos e filhas
e Escola de série inicial Jubiaba, na fazenda com o mesmo em uma escola do campo, com oferta de ensino básico
nome (hoje assentamento Lucas Dantas). e médio técnico profissional em Agroecologia2.
2 Postado em 19 de junho de 2020 na rede social da escola. Disponível em: <https://facebook.com/etalcmst/>. Acesso em: 18 ago. 2020.
é o Assentamento Joseney Hipólito no município de Itu- Tive um encontro amoroso com a profissão de educadora
berá/BA. Nesta escola tive a oportunidade de conhecer no campo. Reconhecer-se pertencente a um determinado
as primeiras letras, aprendi a ler e escrever com minha povo, ao qual se liga por traços comuns de semelhança
irmã, nesta escola tive minhas melhores experiências. Mas física, cultural e histórica é um direito, mas não é privilégio
saltos precisavam ser dados. Agora estudando na cidade, para todos. Eu sou privilegiada!
uma vez que o campo naquela época não oferecia possi-
Novamente felicitada com a oportunidade de ser profes-
bilidades de oportunizar ao estudante uma continuidade
sora na comunidade a qual foi minha primeira escola a
de estudo de forma singular e específica, que valorizasse
estudar, hoje me encontro inserida e acolhida, não mais
o homem e mulher do campo. Eu sempre senti falta dessa
por um gerente, um capataz, um latifundiário, mas sim por
pedagogia que valoriza, que apropria e que identifica. Mas
um coletivo de pessoas que fazem de um assentamento
meus pais, meus irmãos não tiveram. Eu não tive! Então
um espaço de luta, de descobertas e de emancipação.
segui em frente decidida a ser uma profissional da edu-
É na escola Ojefferson Santos que venho vivenciando
cação como minha irmã e, finalmente, em 1997 consigo
experiências inexplicáveis uma vez que transcende os
realizar meu grande sonho com o privilégio de lecionar
meus interesses de descobertas e aprendizagem de for-
na minha primeira escola, agora concluído o magistério
ma significativa, aproveito mais essa oportunidade. E hoje
e posterior a licenciatura em pedagogia.
posso dizer que tem sido uma experiência ímpar, somando
Nossa que emoção! Agora professora da escola onde eu a minha pouca experiência na formação de educação do
conheci as primeiras letras. Foi assim que tudo aconteceu. campo, para os estudantes no campo.
3 Postado em 22 de junho de 2020 na rede social da escola. Disponível em: <http://www.facebook.com/etalcmst/> Acesso em: 18 ago. 2020.
Educação e Agroecologia: Escola Luana Carvalho (Brigada Na- Início das aulas: https://www.youtube.com/watch?v=K0gkol-
cional de Comunicação do MST Eduardo Coutinho): https://www. jppw0.
SERVIÇO DE TECNOLOGIA
ALTERNATIVA UNIDADE
DE ENSINO PROFISSIONAL
( SERTA)
Escola:
Serviço de Tecnologia Alternativa Unidade de En-
sino Profissional (Serta)
Localização:
mesorregião da mata pernambucana, Glória do
Goitá, Pernambuco
Glória do Goitá – PE
Pesquisadora:
Região Nordeste Karla Fornari de Souza
SUMÁRIO
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SUMÁRIO
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Metodologia Peads
As bases do Programa Educacional de Apoio ao De- De acordo com seu Projeto Político-Pedagógico são te-
senvolvimento Sustentável (Peads), hoje considerado mas centrais os cuidados necessários com o ambiente,
uma pedagogia, vêm sendo desenvolvidas desde 1994 a participação dos jovens tanto no trabalho quanto na
e resultam de reflexões e de práticas em escolas, em divisão da renda gerada pela produção familiar, a di-
programas assistenciais e em formação de produtores, versificação na produção de alimentos orgânicos das
de educadores e de jovens. Alguns dos componentes propriedades ou assentamentos, manejo agroecoló-
do Peads foram incorporados às Diretrizes Operacio- gico dos criatórios de animais, a experimentação e uti-
nais para Educação do Campo (2002), elaboradas pelo lização de tecnologias alternativas para diversos fins,
Conselho Nacional de Educação e homologado pelo tais como: o armazenamento e manejo adequado da
Ministério da Educação (MEC), tornando-o referência água, implantação de composteiras, de biodigestores,
na proposição e implantação das diretrizes curriculares de fossas de evapotranspiração e a implementação de
para as escolas do campo. Sistemas Agroflorestais Agroecológicos (SAFAs).
Em Pernambuco, a luta pela terra e a construção das educação popular e da educação do campo. Hoje res-
condições de permanência de maneira autônoma e ponsável pela formação técnica em agroecologia de
produtiva, historicamente, vem sendo um desafio da mais de 1.400 estudantes segue adaptando sua propos-
classe trabalhadora e dos movimentos sociais popu- ta pedagógica e construindo coletivamente o currículo
lares do campo. Enfrenta-se a negação dos direitos à que será trabalhado em cada turma de acordo com as
terra, à água, à educação, à saúde pública, entre outros. necessidades e desejos dos cursistas e do contexto
No território da zona da mata pernambucana, onde im- sociopolítico, econômico e cultural.
pera a monocultura da cana-de-açúcar, tem sido luta
Consideramos a vivência no curso uma prática disrup-
permanente garantir, aos filhos e filhas de trabalhadores
tiva, pois através do diálogo de saberes, da interação
rurais e agricultores, alternativas que não sejam o corte
entre os sujeitos, dos estudos sobre as trajetórias da
da cana.
educação do campo, de seus respectivos movimentos
Desde sua criação, em 2009, o Curso Técnico em Agro- sociais, dos direitos humanos, da economia solidária são
ecologia vem passando por diversas transformações, estimulados processos de pesquisa e de reflexão crítica
no sentido de aprofundar os princípios e práticas da sobre a realidade, seguidas de discussões e proposições
de soluções para o enfrentamento dos problemas locais. sujeitos de diversos movimentos sociais e povos tradi-
Todas essas dimensões articuladas aos fundamentos cionais, tais como indígenas, quilombolas, militantes do
da permacultura e da agroecologia vêm possibilitando Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST),
a elevação da escolaridade aos sujeitos do campo e da integrantes de sindicatos e federações de trabalhado-
cidade (atualmente muitas pessoas dos centros urbanos res rurais.
também estão buscando o curso), aliado à qualificação
A participação no curso vem gerando mudanças muito
profissional e às mais diversas alternativas de geração
significativas nas vidas dos cursistas que passam a se
de renda na perspectiva da agroecologia.
relacionar mais profundamente com a agroecologia e a
Outro aspecto a ser destacado é o aprofundamento do desenvolver trabalhos que ampliam a geração de renda
envolvimento dos estudantes com a agroecologia que aliada aos cuidados com a natureza e, de modo geral,
se materializa nas mais diversas práticas, ações e na dão continuidade aos processos de estudos e formação.
criação de grupos, associações, cooperativas, como por Há diversos casos de estudantes, que após concluírem
exemplo: “Kapi’Wara” coletivo de Agricultura Urbana, o curso, passaram a ser técnicos em Assistência Técnica
que desenvolve estratégias de produção, circulação e e Extensão Rural (Ater) e, em seguida, foram integrados
formação. E outros, como o “Flor de Mulungu” e a “Rede ao corpo docente da escola, como técnicos ou educa-
Aroeiras” que trabalham com ervas medicinais, fitote- dores, chegando até a cargos de direção da escola.
rápicos, farmácias vivas, etc. Além da integração dos
O Serta estabelece uma ótima relação com a comu- A escola estabelece parcerias com diversas instituições,
nidade, inclusive é um espaço de visitação de escolas, entre elas: Instituto Federal da Paraíba (IFPB), Universi-
universidades, entidades, instituições, organizações dade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e Comitê
e movimentos sociais. Outro aspecto é que a maioria Pernambucano de Educação do Campo. Tem realizado
dos egressos mantém vínculo com a escola, realizan- também diversos projetos com financiamentos externos
do visitas, desenvolvendo atividades e muitas de suas a exemplo do “Mutirão Ciranda” com o Banco do Brasil.
propriedades continuam sendo assistidas pelos edu-
cadores da escola.
Um currículo vivo
Atualmente, a equipe multidisciplinar do Serta trabalha tabelas, audiovisuais, etc.) têm orientado a elaboração
coletivamente na condução dos planejamentos, das de um currículo em movimento, com a participação de
atividades e das aulas do curso norteadas pelos “Proje- estudantes, professores, técnicos, que buscam respon-
tos de Vida” dos/as estudantes. Até a turma de 2018, os der às necessidades e desejos do coletivo que vivenciam.
projetos eram trabalhados no último módulo do curso, São realizadas disciplinas e atividades correspondentes
porém trouxeram essa proposta para o 1º módulo, o que aos conteúdos do curso técnico, mas também atividades
vem instigando a partilha das expertises que cada um/a autogestionadas que ocorrem duas vezes por semana
traz. Além de estimular a organização de um currículo e são organizadas pelos próprios estudantes a partir de
vivo que contribua na construção dos conhecimentos, suas experiências, habilidades e expertises.
saberes, técnicas e habilidades necessárias para a “ma-
O curso é desenvolvido em regime de alternância, as
terialização” dos respectivos sonhos.
atividades do Tempo Escola (795 horas) acontecem no
As reflexões, os constantes debates e diferentes registros formato de imersão (uma semana a cada mês) em que
sobre os Projetos de Vida (desenhos, diários, escritos, estudantes e educadores convivem na rotina diária, de
refeitórios, alojamentos, salas de aula, aulas práticas quem ele foi construído? Que resultados ele pretende
e noites culturais. O Tempo Comunidade (405 horas) alcançar? Ele ajuda na emancipação dos povos do
acontece na maioria das vezes em formato de mutirões: campo? Quem o constrói está comprometido com
que podem ser em espaços públicos, assentamentos as mudanças sociais, culturais, técnicas, ambien-
dos movimentos sociais ou nas propriedades dos pe- tais? Os estudantes se apropriam e se apoderam do
mesmo, dos seus valores, dos seus objetivos?
quenos agricultores, nos quintais dos estudantes. Existe
também a vivência dos estágios (200 horas), para o qual Sistematicamente essas questões são levantadas para
foram organizadas muitas parcerias com instituições, a equipe multidisciplinar do Serta refletir e escolher os
escolas públicas e coletivos de agroecologia e onde os conteúdos, as didáticas, os autores, as disciplinas e
estudantes são desafiados a aplicar seus conhecimen- estabelecer vínculos na relação entre os educadores
tos na prática. e educandos.
De acordo com seu PPP (2019, p. 12), o currículo
A proposta pedagógica
A proposta pedagógica do Peads vem se constituindo ao É aí que começa a intervenção mais direta do educador,
longo da história do Serta como seu principal patrimô- em criar formas e condições para que os conhecimentos
nio, sua maior força e sua originalidade, onde o conheci- prévios, as intervenções pessoais sejam analisadas, dis-
mento é uma chamada para a ação. Como orienta seu cutidas num processo de aprofundamento da informa-
PPP, a proposta é desenvolvida nas seguintes etapas: ção ou do conhecimento. São práticas que pretendem
elevar o nível do conhecimento numa dimensão mais
1ª etapa: a pesquisa como construtora do conhecimento.
sistemática, orgânica, técnica e científica.
O ponto de partida da metodologia é pesquisar os co-
3ª etapa: ações provocadas pelos conhecimentos
nhecimentos, os saberes e as práticas que os educandos
construídos/sistematizados.
têm em suas vidas antes de participar do curso.
O Serta entende o conhecimento como instrumento
2ª etapa: a análise como aprofundamento dos conhe-
para a ação, para o bem, para a intervenção na realida-
cimentos produzidos pela pesquisa.
de. Assim, a terceira etapa metodológica é partir para
a ação, para a aplicação do conhecimento adquirido à Os educandos planejam junto com educadores as tare-
vida, ao trabalho, à família, à propriedade. fas para o Tempo Comunidade, entre elas: fazem pes-
quisas, organizam seminários municipais ou territoriais
4ª etapa: avaliação dos processos vivenciados.
para devolver os resultados das pesquisas às comuni-
Depois dos processos de pesquisa, análise e ação, nas dades, participam das instâncias de controle social, das
três etapas anteriores, é chegado o momento de avaliar mobilizações locais, dos movimentos sociais e sindicais
quais foram os processos vividos, que passos foram da- nos quais estão envolvidos ou recebem tarefas peda-
dos, que aprendizagens foram efetivadas, o que precisa gógicas para desempenhar junto a esses atores sociais.
ser revisto, quais os níveis das aprendizagens, da coloca- Os territórios passaram a ser unidades de planejamen-
ção em prática, dos impactos gerados. É o momento da to para o desenvolvimento, com criação de redes, que
colheita do que foi semeado, da pesagem, da aferição, animam as ações dos movimentos locais e articulam
da reflexão crítica dos processos construídos ao longo em nível nacional.
das etapas anteriores. Além de estimular a mobiliza-
ção e organização comunitárias e formação de redes
territoriais.
Premiações
Principais desafios
enfrentados
• O MEC ofereceu à escola no ano de 2016 o prêmio de
• Manter o convênio com o governo do
“Melhor escola de inovação” do país.
estado a fim de assegurar a gratuidade
• Recebeu também o título de “Escola Transformadora” do curso.
pelo Instituto Alana. • Reconstrução permanente do currículo
e sua implementação.
• Foi aprovado no final do ano de 2019 a criação da
• Aplicabilidade dos conhecimentos nas
graduação em Agroecologia com a metodologia da
propriedades, que vem sendo superada
Alternância, como perspectiva da elevação da escola- com a realização de mutirões e imersões
ridade de agricultores e dos militantes de movimentos nos territórios.
sociais populares. • Monitoramento das atividades do Tem-
po Comunidade, a partir da diversidade
de perfis e territórios dos estudantes.
SITES ARTIGOS
EDUCAMPO
Escolas:
• Barbara Heliodora
• Pérola
• Edson Lopes
• Nova Aliança
• Irineu Antonio Dresch
• Paulo Freire
Localização:
Ji-Paraná, Rondônia
Ji-Paraná – RO Pesquisadora:
Região Norte Débora Mate Mendes
SUMÁRIO
60
A construção da proposta teve início por meio de seminários realizados no município para
discutir os caminhos da educação do campo e um intercâmbio realizado no município de
São Mateus no Espírito Santo. O projeto Educampo conta com a parceria de diversas ins-
tituições, entre elas a Escola Família Agrícola Itapirema, a Federação dos Trabalhadores
na Agricultura de Rondônia (Fetagro), o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Ji-Paraná,
a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) e a Agência de Defesa Sani-
tária Agrosilvopastoril do Estado de Rondônia (Idaron).
SUMÁRIO
61
Pedagogia da Alternância
A inovação proposta pelo projeto consiste em construir Cada turma permanece na escola em turno integral um
uma Pedagogia da Alternância nas escolas públicas do dia por semana e às quintas-feiras, os estudantes orga-
campo no município de Ji-Paraná. A Pedagogia da Al- nizam o registro das principais atividades desenvolvidas
ternância é constituída por Sessão e Estadia. Sessão na Sessão e são orientados em relação à vivência da
é o período em que as atividades são desenvolvidas na Estadia que é realizada na sexta-feira de cada semana.
escola com aulas das diferentes áreas do conhecimen-
A proposta metodológica construída e implantada con-
to e é finalizado com uma atividade prática. A Estadia
sidera a realidade em que as escolas estão inseridas e
se refere ao período em que o estudante desenvolve
busca, por meio da alternância de tempos e espaços de
atividades na família e na comunidade, devidamente
ensino-aprendizagem, construir estratégias de manuten-
orientados/a pelo/a educador/a e as registra no Caderno
ção das escolas em funcionamento com a participação
de Acompanhamento. Os tempos e espaços – Sessão
das famílias na escola e inserção das/os professoras/es
e Estadia – se alternam de forma contínua e integrada.
nas comunidades.
• aos planos de formação, resultado do diagnóstico O Projeto Educampo desenvolve suas atividades por
realizado na comunidade, são sistematizados em temas meio de temas geradores levantados nas comunidades a
geradores, que por sua vez são a base para os planos partir do contexto econômico, sociocultural e socioam-
de estudo; biental. Os temas geradores articulam o conhecimento
• à construção dos planos de estudo (nos moldes da Pe- partindo do particular para o geral, contextualizando o
dagogia da Alternância), realizada por estudantes e pro- conteúdo com o cotidiano dos alunos, e são colocados
fessores e desenvolvida com as famílias e comunidade; em prática por meio dos planos de estudo que possi-
bilitam o diálogo com as famílias e comunidades. São
• à última aula de cada dia, denominada “Vivência
realizadas visitas pedagógicas com o foco na interdisci-
Prática”, é coordenada pela comissão de auto-orga-
plinaridade que potencializam a relação da teoria com
nização e acompanhada pelo educador responsável
a prática. As visitas às famílias permitem os professores
de cada setor;
conhecerem a realidade dos alunos e comunidades. A
• à implementação dos instrumentos pedagógicos, tais auto-organização desenvolve o protagonismo das/os
como Plano de Formação, Plano de Estudo, Caderno de alunas/os no cuidado com a escola, desde o jardim, o
ambiente de sala de aula até o cultivo da horta para ali- disciplina e também interdisciplinar, bem como mo-
mentação dos/as próprios/as alunos/as, o que amplia mentos de formação relacionados ao desenvolvimento
o sentimento de pertencimento à escola e a formação e relação entre as escolas, as famílias e as comunidades.
das famílias fortalece o vínculo destas com a escola.
Eu leciono há 20 anos nessa escola e conheci dois mode- sua produção, sua cultura. Mostrou qual é o valor de ter
los de educação. Antigamente a gente levava ao campo uma escola lá, trouxe as famílias pra escola. Trouxe uma
uma educação urbana totalmente desconectada com educação em movimento. Uma educação que resgata
a realidade das pessoas que ali viviam, sem respeitar a a história das famílias e das comunidades, valoriza os
sua diversidade, seu modo de vida e produção. Em 2016, saberes e conhecimentos das pessoas. Os professo-
o município nos ofereceu um projeto de educação do res passam a conhecer as famílias, as comunidades,
campo e nós fomos pioneiros na implantação. E o que a territorialidade dos seus alunos, com isso ele traz a
mudou? Qual é a importância desse projeto pra nossa realidade e os anseios da comunidade pra dentro da
escola e pra nossa comunidade? A educação do campo sala de aula, contextualizando os conteúdos. Mas tam-
fortaleceu as comunidades! As escolas estavam pra ser bém exige um professor bastante ligado, um professor
fechadas e com o projeto houve esse fortalecimento pesquisador, um professor que consiga sair das suas
porque a comunidade passou a ter uma educação com caixinhas e ver a educação de uma maneira diferente. A
mais sentido que respeita seus meios de vida, valoriza família é convidada a participar de formações, cursos,
Educampo recebe
Principais desafios
Voto de Louvor
enfrentados
Em Sessão Solene da Assembleia Legislativa de Rondô-
nia, no dia 26 de setembro de 2019, o Projeto Educampo • Fechamento de escolas
recebeu Voto de Louvor. Também foram homenagea- do campo.
das com o Voto de Louvor as escolas do campo Irineu
Antônio Dresh, Escola Pérola, Professor Edson Lopes, • Evasão escolar.
Nova Aliança, Bárbara Heliodora, Professor Paulo Freire, • Migração campo-cidade.
recebido por diretores e professores. Também foram
contemplados com Voto de Louvor a coordenadora do
Projeto Educampo, a secretária municipal de Educação
de Ji-Paraná, o presidente da Comissão de Implantação
do Projeto Educampo, a idealizadora do Projeto Edu-
campo e o superintendente do Transporte Escolar.
SISTEMA DE
APRENDIZAGEM
Escolas:
TUTORIAL ( SAT ) • Castelo Branco I
• São Cristóvão
• São Sebastião – Paraná do Iranduba
• Sete de Setembro
• Pedro Silvestre
• São Francisco
• Sagrado Coração de Jesus
• Professor Moacir Hilário
• São José
• São Sebastião – Saraca
• Lucio Ciríaco Carmim
Localização:
Rio Solimões e Rio Negro, Iranduba, Amazonas
Iranduba – AM Pesquisadora:
Região Norte Débora Mate Mendes
SUMÁRIO
70
SUMÁRIO
71
A Fundaec, Organização Não Governamental sediada teoria com a prática. Com isso, resgata o papel da es-
na Colômbia, possui quase 50 anos de trabalho com as cola, a motivação do aluno para estudar e investigar e a
comunidades rurais e vem aperfeiçoando os materiais percepção de que contribuirá para a qualidade de vida
para que respondam às necessidades das comunida- da sua comunidade. Tem como fundamentos a relação
des do campo. O Ministério da Educação da Colômbia entre os saberes tradicionais e científicos e a integra-
reconheceu o sistema para todo o país como um dos ção de atividades abstratas com atividades concretas,
melhores, mais barato e mais eficiente. Além da Colôm- das diferentes áreas do conhecimento, considerando a
bia, onde existem atualmente entre 45 e 50 mil alunos formação integral do sujeito e a sua participação efetiva
no programa SAT, este sistema está sendo aplicado em na construção de uma sociedade melhor.
outros países como Peru, Equador, Argentina, Costa
Em Iranduba, na concepção do SAT foram elaborados
Rica, Guatemala, Bolívia, Honduras, Haiti, entre outros.
cadernos pedagógicos que são utilizados nas reuniões de
O SAT se desenvolve por meio da integração de aspectos estudo, nos estudos individuais e nas atividades práticas
curriculares e pedagógicos fundamentais, tais como, a nas comunidades, com conteúdos que possibilitam a
Desde a construção do currículo para o programa, o progressiva), é utilizado um laboratório simples para
SAT foi organizado de maneira diferente, pensando nos as aulas de ciências e alguns mapas. As aulas práticas
conteúdos e nos temas específicos das disciplinas tra- são obrigatórias e são realizadas em dias previamente
dicionais que seriam necessários em cada nível de es- combinados, conforme a disponibilidade do grupo, obe-
tudos. O esquema foi planejado partindo da análise de decendo-se o mínimo de horas aulas previstas na LDB.
cinco elementos que os alunos teriam que desenvolver
Em relação ao método de trabalho, deve variar de acordo
para poder abordar, em diferentes níveis, a problemá-
com o conteúdo de cada assunto, mas, em geral, pos-
tica de desenvolvimento e bem-estar rural, são eles: 1)
sui dois componentes básicos: discussão em grupo e a
as informações; 2) as destrezas; 3) os conceitos; 4) as
apresentação formal pelo tutor. É importante destacar
atitudes; 5) as capacidades.
que a apresentação formal é posterior à discussão do
O desenvolvimento das atividades ocorre por meio de grupo, e não anterior como é de costume na maioria
reuniões de estudos. Nesses espaços, além do con- dos métodos de ensino.
junto de textos (que podem ser adquiridos de forma
O ritmo dos grupos é respeitado, de modo que se a tur- com os agricultores e suas famílias sobre os diferentes
ma for heterogênea é dividida em grupos (máximo de aspectos relacionados com processos produtivos e
3) que podem estudar conteúdos diferentes na mesma culturais. Os dados são compartilhados entre os estu-
turma, nesse caso o tutor deve ser experiente. Inicial- dantes e as famílias e analisados globalmente para obter
mente é realizada uma leitura comentada (leitura em voz uma visão de conjunto da situação da comunidade a
alta, comentários e perguntas). Depois, passam para o respeito destes tópicos. Além disso, o nível de impulsor
estudo em pequenos grupos e no final o tutor coordena requer a realização de algumas experiências agrícolas
um plenário onde os grupos expõem suas conclusões. em um terreno comunitário ou em lotes das famílias do
Além disso, é possível realizar as atividades por meio do próprio estudante.
estudo individual e socialização posterior.
O Ipram, conforme orientação da Fundaec, estruturou
As unidades de ensino possuem atividades de trabalhos um sistema para organizar o processo de avaliação. As
práticos na comunidade as quais o estudante realiza avaliações são programadas periodicamente e dirigi-
com a orientação e, às vezes, supervisão do tutor. Espe- das por um grupo avaliador do SAT, no caso a coorde-
cialmente em Tecnologia Agrícola e Pecuária, Serviço à nação junto à Secretaria Municipal de Educação. Para
Comunidade e Leituras sobre a Sociedade é solicitado determinar o alcance dos objetivos de cada unidade,
ao estudante estabelecer uma consulta permanente foram combinadas um conjunto de ações avaliativas
cujo resultado se reflete em uma qualificação integrada seminários de continuidade de capacitação, onde são
pelos seguintes elementos: exame escrito 70%; opinião analisadas as dificuldades encontradas no desenvolvi-
avaliativa do tutor sobre a motivação, o empenho e o mento das unidades e se aprofundam em alguns con-
entendimento geral do estudante; exercícios práticos ceitos e práticas que aparecem nos textos. Também são
realizados, a qual é emitida conjuntamente pelo avaliador reforçados temas fundamentais que se produzem na
e o tutor. Nesse processo são considerados uma série Fundaec, tais como os conceitos de desenvolvimento,
de elementos ao longo do percurso, entre eles, atitudes, economia rural, organização comunitária, etc.
capacidades, destrezas e informações, além dos con-
São realizados cinco níveis de acompanhamento:
ceitos e das atividades mais representativas de cada
unidade e da análise das provas escritas e seminários. 1. assistir os seminários de capacitação inicial, estudar
e analisar todos os textos do nível impulsor, organizar
Em relação à formação de professores, os “tutores SAT” pelo menos um grupo SAT;
recebem capacitação específica para acompanhar os 2. assistir o primeiro seminário de continuidade da ca-
grupos SAT. São professores da Secretaria Municipal pacitação, dirigir um grupo SAT e conduzir pelo menos
2/3 do curso desenvolvido com êxito razoável;
de Educação que passam por um exame preliminar
3. concluir com êxito um grupo SAT de impulsor em
e seis seminários, em quatro dos quais participam já
bem-estar rural, incluindo sua supervisão efetiva de
como tutores ativos. Posteriormente, são programados todos os trabalhos práticos dos textos de Tecnologia
N OT Í C I A S
• Acesso à educação: os jovens do campo con-
seguiam chegar somente até a 4ª série;
• Evasão escolar;
Falar do SAT é muito simples, porque o SAT na minha opinião e na minha experiência
de mais de 15 anos trabalhando nele, é um programa que veio para ajudar o homem
do campo a se manter no campo, valorizar o campo, valorizar onde ele vive e se
valorizar como pessoa. É um programa, dos que eu já trabalhei durante os meus 40
anos de profissão, é o único programa que eu vejo que veio pra ajudar o homem do
campo [...]. O material é muito bom, o curso é muito bom, são disciplinas que vêm
trabalhar a realidade das comunidades, a realidade do aluno, levando ele pra todos
os campos do conhecimento que for possível e que ele queira se especializar. É um
programa que já vem detalhado a valorização do ser humano como pessoa e respeito
ao meio ambiente, respeito à natureza [...], então é um programa completo e quem
consegue trabalhar com ele dentro daquilo que ele pede, a comunidade cresce.
Tanto que em várias comunidades que trabalharam com o SAT, quem toma conta
hoje das comunidades são os alunos que estudaram no SAT porque eles viram que se
mantiver na comunidade, a pessoa consegue ter mais valor do que estudando para
sair, como nos outros programas que tem. É isso aí o SAT pra mim.
CENTRO DE EXCELÊNCIA
EM EDUCAÇÃO DO CAMPO,
• Casa Família Rural (CFR) Padre Josino Tavares MARANHÃO
PERMACULTURA E BIOCONSTRUÇÃO
E BIBLIOTECA ITINERANTE
CURSO TÉCNICO EM AGROECOLOGIA • Centro da Educação do Campo Roseli Nunes /unidade Integrada PERNAMBUCO
EDUCAÇÃO DO CAMPO NO
CONTEXTO DO SEMIÁRIDO: A
• Ecoescola Thomas a Kempis PIAUÍ
PRÁTICA EDUCATIVA DA ECOESCOLA
THOMAS A KEMPIS, PEDRO II-PI
• Barbara Heliodora
• Edson Lopes
• Irineu Antonio Dresch
EDUCAMPO RONDÔNIA
• Nova Aliança
• Paulo Freire
• Pérola
PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA:
EXPERIÊNCIA NA ESCOLA FAMÍLIA • Escola Família Agrícola dos Cocais PIAUÍ
AGRÍCOLA DOS COCAIS (EFA COCAIS/PI)
PLATAFORMA DE TRABALHO
SOCIOAMBIENTAL DE DESENVOLVIMENTO
• Escola Família Agroextrativista do Carvão AMAPÁ
SUSTENTÁVEL E SOLIDÁRIO NAS
CADEIAS DE VALOR DA AMAZÔNIA