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DE PONTES
PROF.a CAMILA BARELLA LUIZ
FACULDADE CATÓLICA PAULISTA
ESTRUTURAS
DE PONTES
Marília/SP
2022
Diretor Geral | Valdir Carrenho Junior
“
A Faculdade Católica Paulista tem por missão exercer uma
ação integrada de suas atividades educacionais, visando à
geração, sistematização e disseminação do conhecimento,
para formar profissionais empreendedores que promovam
a transformação e o desenvolvimento social, econômico e
cultural da comunidade em que está inserida.
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salvo quando indicada a referência, sendo de inteira responsabilidade da autoria a
emissão de conceitos.
ESTRUTURAS DE PONTES
PROF.a CAMILA BARELLA LUIZ
SUMÁRIO
CAPÍTULO 01 CONHECENDO AS PONTES E OS VIADUTOS 08
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO 1
CONHECENDO AS
PONTES E OS VIADUTOS
1.1 Definição
Olá aluno, seja bem-vindo a primeira aula da disciplina de pontes! Ao longo dessa
matéria você aprenderá os conceitos que envolvem a concepção e dimensionamento
de pontes e viadutos. Então, primeiramente deveremos compreender o que de fato
são estas obras. Segundo Pfeil (1979) pode-se defini-las como uma obra necessária
para transpor um obstáculo ao longo da via, este obstáculo pode ser um rio, um braço
de mar, um vale profundo ou até mesmo outras vias.
Chama-se de ponte a obra destinada a vencer obstáculo molhado, isto é, transpor
de um rio, lago ou braço de mar. Já, nos casos em que o obstáculo é do tipo seco,
vias ou vales profundos, temos os chamados viadutos. As figuras abaixo apresentam
um exemplo de uma ponte e um viaduto, respectivamente.
• Vigas principais: as vigas principais são responsáveis por vencer o vão livre,
sendo posicionadas no sentido longitudinal da ponte. Estas vigas também são
chamadas de longarinas;
• Vigas secundárias: as vigas secundárias encontram-se posicionadas no sentido
transversal da ponte, a sua finalidade é receber diretamente o carregamento do
estrado e descarregá-las nas longarinas.
Há algumas situações de projeto nas quais a ponte deve ser ligada a via por meio de
viadutos, chamados de viadutos de acesso. Estes são utilizados quando o curso d’água
a ser vencido encontra-se em vales abertos, sendo nestes casos, inviável a construção
de aterros. Outra situação em que esse tipo de obra complementar é necessária é no
caso de pontes urbanas acessadas por diferentes vias. Um exemplo dessa situação
é mostrado na figura abaixo, a ponte Tsing Ma em Hong Kong é acessada por um
viaduto principal e dois laterais que conduzem a uma segunda via de nível distinto.
A escolha por qual dessas técnicas usar depende de dois fatores: o volume de
terra requerido para a execução do aterro, juntamente com a estrutura necessária
para garantir a estabilidade do local e global do aterro e o seu custo econômico.
Em outras palavras, haverá situações em que o aterro mais o muro de arrimo será
economicamente mais viável e outras situações em que o viaduto terá mais vantagens.
Um dos maiores ícones da engenharia civil do nosso país é a ponte Rio – Niterói.
Inaugurada em 1974, a ponte com 13,29 km de extensão sendo 8,84 km sobre a
água é considerada a maior ponte da América Latina, sendo a maior do mundo
em viga reta contínua. Relatos informam que a Ponte Rio-Niterói começou a
ser idealizada em 1875, com o intuito de ligar a cidade do Rio de Janeiro aos
municípios do outro lado da Baía do Guanabara. Todavia, apenas em 1968, no
governo de Costa e Silva, o projeto tomou forma e foi executado pelos engenheiros
Antônio Alves de Noronha Filho e Benjamin Ernani Diaz.
No link a seguir você encontra uma breve história e curiosidades sobre essa obra
emblemática do nosso país.
https://celere-ce.com.br/grandes-obras/ponte-rio-niteroi-construcao/
Agora que você já conhece as principais partes das pontes, vamos estudar algumas
denominações muito utilizadas nos projetos de pontes. Iniciemos pela avaliação da
seção longitudinal da ponte.
A primeira característica que buscamos conhecer em um projeto é o comprimento
da ponte que representa a distância horizontal entre os extremos da ponte. Essa
distância não pode ser confundida com o vão, também conhecido como tramo, que
corresponde a medida horizontal entre eixos de apoio consecutivos. Há ainda uma
terceira distância horizontal importante nas pontes, o vão livre, esse representa a
medida entre as faces de dois apoios consecutivos.
Em relação às medidas verticais do eixo longitudinal de uma ponte, duas se destacam:
a altura da construção que representa a altura da superestrutura; e a altura livre, que
representa a distância entre o ponto mais baixo da superestrutura e o nível máximo
do curso d’água.
Todas essas características são ilustradas na figura abaixo:
A principal função de uma ponte é ligar dois pontos distintos de uma via separados
por um determinado obstáculo, seja ele um vale ou curso d’água. Em outras palavras,
as pontes garantem a continuidade da via, muitas vezes pelo menor caminho possível,
levando praticidade ao usuário.
Diante disso, a seção transversal da via deve ser formada em conformidade com
a via projetada. Devendo ter elementos próprios de acordo com a sua finalidade, isto
é, se trata-se de uma ponte rodoviária, ferroviária ou uma passarela. Ao longo dessa
disciplina iremos nos aprofundar nas pontes rodoviárias.
Sem dúvida, a principal informação que queremos ao falarmos da seção transversal
de uma ponte é a sua largura. Todavia, essa característica depende de uma série de
fatores como a classe da rodovia, se ele será urbano ou rural, se será necessário faixas
de aceleração, desaceleração, faixa de passeio e de ciclistas; todas essas informações
influenciarão na largura final da ponte. Para se reduzir o número de tipos de seções
transversais nas obras-de-arte (pontes) é conveniente limitar as variações de larguras
dos acostamentos e faixas de rolamento de acordo com características topográficas
(BRASIL,1996).
As figuras abaixo, apresentam a seção transversal de uma ponte com faixa de
rolamento simples e em seguida uma com pista dupla. Observe que a quantidade de
elementos, incluindo pistas de rolamento,irão alterar a seção transversal da obra de arte.
Com relação aos componentes que podem formar a seção transversal temos:
a) Faixas de rolamento: essa se refere a pista propriamente dita, a faixa por onde
o veículo irá fazer a travessia do obstáculo. A largura dessa faixa é determinada
pela largura do veículo de projeto acrescida uma largura de segurança, a qual
depende da categoria da via. De modo geral, sua largura varia entre 3,00 a 3,60m.
b) Acostamentos ou faixas de segurança: refere-se a parte da via destinada à
parada de veículos em casos de emergência, podendo ser utilizado por pedestres
ou ciclistas na ausência de local apropriado para os mesmos.
c) Faixa de aceleração e desaceleração: são faixas de rolamento separadas,
necessárias em ligações com outras vias. Essas faixas permitem que o veículo
aumente ou diminua a velocidade para poder entrar ou sair da pista rápida com
segurança.
d) Passeios: local destinado a passagem de pedestres e ciclistas com segurança.
O DNER estabelece larguras mínimas para os passeios laterais de obras-de-arte.
Sendo 1,50 para passeios destinados apenas para pedestres e de 3,0 quando
compartilhados com ciclistas, conforme apresentado na figura abaixo.
e) Elementos de proteção: são elementos presentes na pista para garantir segurança
aos diversos usuários da via. Falaremos com mais detalhes sobre os elementos
de proteção mais utilizados.
Os guarda-corpos só estão presentes nas pontes que possuem passeios, uma vez
que sua finalidade é garantir a segurança adequada dos pedestres e ciclistas. De modo
geral, os passeios serão limitados lateralmente por uma barreira, na divisa passeio
pista, e pelo guarda corpo na extremidade. Ao contrário das barreiras que devem ser
de concreto armado, os guarda-corpos podem ser escolhidos visando proporcionar
uma leveza e economia à obra (BRASIL, 1996).
Outro dispositivo de segurança usual são as defesas metálicas. Elas não fazem
exatamente parte das pontes, entretanto, deve-se atentar para a ligação deste dispositivo
às barreiras garantindo que a transição não apresente superfícies salientes conforme
você pode observar na figura abaixo (BRASIL, 1996).
CAPÍTULO 2
CLASSIFICAÇÃO DAS
PONTES QUANTO AO
SISTEMA ESTRUTURAL
Este é o caso típico da viga apoiada apenas nas suas extremidades. Neste caso
a ponte pode possuir uma única viga, quando possui um obstáculo pequeno, ou ser
constituída por uma sucessão de tramos independentes, observe a figura a seguir.
Em geral, esse sistema construtivo é executado com vigas pré-fabricadas de concreto
armado ou protendido.
Esse tipo de sistema estrutural é um dos mais simples, sendo também bastante
limitado. A distribuição dos esforços é definida pela imposição do vão, tendo poucas
possibilidades de melhora. Portanto, os vãos empregados nesse sistema raramente
ultrapassam os 50 metros.
L L
<h<
15 10
L L
<h<
20 15
Uma das formas mais simples de melhorar a distribuição dos atuantes em uma
viga é adicionar balanços na sua extremidade. Observe a figura a seguir:
Título: Comparação entre viga biapoioada com e sem balanço submetida a um mesmo carregamento
Fonte: Autor
Perceba que as duas vigas apresentam o mesmo vão interno, todavia, a viga
biapoiada apresenta um maior momento positivo no centro do vão. Isso deve-se ao
momento nulo de seus apoios. Já a viga com balanço apresenta uma redução do
momento positivo devido ao momento negativo nos apoios causado pelo balanço.
O comprimento dos balanços deve ser determinado buscando a melhor distribuição
dos esforços ao mesmo tempo em que avalia as características topográficas da região.
O mesmo também não deve ser muito grande, de modo que não haja vibrações
excessivas na pista. A literatura propõe a adoção de um balanço entre 15 a 20% do
comprimento da ponte.
Outra vantagem desse sistema é a eliminação dos encontros da pista que encarecem
a obra.
Entretanto, esse tipo de sistema também apresenta limitações relacionadas à
manutenção. Devido às características do encontro da superestrutura com o aterro
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é comum que haja fuga do material nas extremidades, exigindo frequente manutenção
para reparo da pista. Por esse motivo, o emprego desse sistema tem sofrido limitações
nos últimos anos.
Dadas as características desse sistema costuma-se utilizar vigas de seção transversal
variada, conforme mostra a figura abaixo. Em geral, sobre os apoios onde atuam os
momentos negativos a rigidez da viga é maior, isto é, possui maior altura. Enquanto
que nos extremos dos balanços e no centro do vão a altura é reduzida.
L L
Para o pré-dimensionamento é recomendado utilizar uma altura, h1 , entre e ,
9 12
sendo L o vão interno da ponte. Caso queira-se reduzir a altura central pode-se adotar
L
h2 = .
20
c) Vigas contínuas
Quando é possível subdividir o vão a ser vencido em vãos menores, temos como
solução natural a viga contínua apresentada na figura abaixo. Recomenda-se que
os vãos extremos sejam aproximadamente 20% menores que os vãos centrais para
garantir uma distribuição uniforme das solicitações.
d) Vigas Gerber
Outra forma muito interessante de modificar os esforços de uma viga é por meio
da inserção de pontos de descontinuidade, nos quais o momento é nulo, chamados
de rótulas. Observe na figura a seguir que ao inserir uma rótula entre o apoio e 1,69
metro – ponto de momento nulo na viga contínua – o diagrama de momento fletor
“desce” de modo que os momentos negativos são reduzidos e o positivo aumentado. Já
quando a rótula é inserida a mais de 1,67 metro do apoio o diagrama “sobe” diminuindo
o momento positivo e aumentando o negativo.
Esse tipo de ponte não é muito comum no nosso país, todavia, há algumas pontes
pelo mundo. A ponte localizada na aldeia de Hamnoy nas ilhas Lofoten na Noruega
foi executada em pórtico. Observe na imagem a seguir que a ligação entre o pilar e a
viga é rígida, isto é, a rotação de um dos elementos levará a rotação do outro.
Um dos sistemas estruturais mais antigos para vencer grandes vãos é o arco, como
mostrado na figura abaixo. Utilizado desde o império romano, os arcos são estruturas de
compressão preponderante, podendo ou não serem fletidas. Essa característica justifica
o porquê desse sistema ser largamente empregado nas pontes quando o principal
material estrutural era as rochas, no império romano, e o concreto, até recentemente.
Apesar desse sistema ter viabilizado grandes obras no passado, hoje, com o
desenvolvimento de novas tecnologias, como o concreto protendido, esse sistema
está caindo em desuso. Isso porque os altos custos da execução dos arcos, com
cimbramento e formas, fazem com que pontes em outros sistemas sejam cada vez
mais vantajosas economicamente.
O sistema de ponte estaiada vem sendo cada vez mais utilizado em pontes de
grandes vãos. Nesse sistema o tabuleiro é suspenso por uma série de cabos fixados
a um ou mais mastros. A disposição dos cabos pode ser de dois tipos: harpa e leque.
No tipo harpa (primeira estrutura da figura abaixo), os cabos são fixados no mastro
em diferentes alturas de acordo com a distância do mastro ao ponto de fixação.
Dessa forma a inclinação dos cabos tende a ser a mesma. Já no tipo leque (segunda
estrutura da figura abaixo), todos os cabos saem do ponto superior do mastro, tendo
diferentes inclinações para cada ponto de fixação.
Segundo Debs e Takeya (2010), o crescente uso desse sistema se deve às suas
características construtivas. Ao contrário das pontes pênseis que necessitam de um
cimbramento ao longo de todo o vão, as estaiadas vão sendo auto-equilibradas à
medida que o tabuleiro vai sendo executado. Vale, ainda, destacar que em geral os
tabuleiros são moldados em loco ou de aduelas pré-moldadas o que proporciona uma
construção em balanços sucessivos.
No Brasil destacamos a Ponte de Porto Alencastro sobre o rio Parnaíba. Localizada
na divisa entre o Mato Grosso e Minas Gerais, a obra foi concluída em 2003 e possui
350 metros de vão.
No mundo, o destaque vai para o Viaduto Millau no sudoeste da França. Considerada
a maior rodovia suportada por cabos do mundo, o viaduto de Millau (figura a seguir)
está localizado a 343 metros de altura, sendo formado por seis vãos centrais de 342
metros e vãos laterais com 204 metros.
CAPÍTULO 3
CLASSIFICAÇÃO DAS PONTES
QUANTO AO MÉTODO
CONSTRUTIVO
Outra forma de classificação das pontes é quanto ao seu método construtivo. Devido
às características do obstáculo a ser superado, o processo construtivo é uma etapa
fundamental do projeto das pontes e viadutos. Esse processo influencia o arranjo da
estrutura e também os esforços que atuam durante a fase de execução da ponte.
Portanto, trataremos ao longo dessa aula sobre os diferentes métodos construtivos
das obras de arte.
Nós podemos separar os métodos construtivos com relação a forma de moldagem
do concreto em:
• Moldados in loco;
• Pré-moldados
O cimbramento fixo pode ser do tipo especial. Veja o caso do cimbramento para
a construção da ponte da Amizade sobre o Rio Paraná que divide o Brasil do
Paraguai.
Para escorar o arco de concreto, responsável pela sustentação da ponte, foi
executada uma treliça metálica. Essa foi construída por um outro método
construtivo, o chamado balanços sucessivos, falaremos sobre ele mais adiante.
A figura a seguir apresenta a sequência de montagem da treliça metálica. A mesma
consistiu primeiramente na execução dos pilones e os escoramentos de concreto.
Depois com o auxílio de um “blondin” instalou-se guinchos e guindastes móveis, os
quais retiraram de um flutuante as primeiras seções do arco pré-montadas. Em
Título: Esquema de montagem do cimbre metálico para moldagem do arco de concreto da Ponte da Amizade.
Fonte: Revista O Dirigente Construtor - Março/1965.
Nas pontes de seção uniforme e mais de três vãos sucessivos pode ser interessante
o uso de um cimbramento móvel. Esse método consiste na concretagem de um
segmento por vez, o qual é escorado sobre um cimbramento com dispositivos móveis
que permitem o seu deslocamento após a cura.
O segmento concretado equivale ao próprio vão, no caso de uma sequência de
vigas simples; ou pode seguir até o ponto de momento nulo do vão adjacente, quando
a ponte for de viga contínua. Em síntese, o segmento deve ter condições de auto
sustentação após a desforma.
Título: Construção de tabuleiro utilizando escoramento deslizante em treliça metálica fixada nos pilares
Fonte: LENHOARDT (1979) – pg. 40
Título: Construção de tabuleiro utilizando escoramento deslizante em treliça metálica fixada nos pilares
Fonte: DEBS e TAKEYA (2010) – pg. 28 do Anexo 8
Título: Fases da distribuição dos esforços, para viga contínua construída em 2 etapas com junta no apoio central.
Fonte: STUCCHI (2006) – pg. 25
Uma das formas mais simples de eliminar o cimbramento das pontes é empregar
elementos pré-moldados de comprimento igual ao vão a ser vencido. Este tipo de
solução é viável economicamente quando for possível subdividir a obra de arte em
muitos vão similares ou quando se tem muitas pontes similares para executar. Todavia,
ao avaliar o emprego desse método deve-se verificar a disposição dos dispositivos
de elevação, os pesos dos elementos pré-moldados, os meios de transporte e as vias
de acesso à obra.
Os equipamentos de elevação são um fator importante para a instalação dos
elementos. Na figura abaixo, ilustramos algumas possibilidades de içamento dos
elementos pré-moldados. De modo geral, as mais empregadas são os guindastes
quando o local de instalação permite o acesso dos mesmos. Em casos contrários, é
comum utilizar treliças de lançamento.
Além do problema de acesso, os equipamentos são limitados em relação ao peso
de içamento. Para diminuir o peso da montagem é comum a utilização de vigas pré-
moldadas com as lajes do tabuleiro sendo concretadas total ou parcialmente in loco.
Nesses casos as formas das lajes são escoradas nos elementos pré-moldados.
construir a ponte a partir das suas extremidades, para isso executa-se segmentos
progressivos de modo que cada novo trecho é sustentado pelo trecho anterior (observe
a figura abaixo).
A primeira ponte executada nesse sistema foi a antiga ponte sobre o rio do Peixe
que ligava as cidades de Herval do Oeste e Joaçaba em Santa Catarina. A ponte foi
construída em 1930 pelo engenheiro Emílio Baumgart e possuía um vão central de
68 metros, infelizmente, no ano de 1983 ela foi destruída por uma enchente (DEBS e
TAKEYA, 2010).
Por volta da década de 50, esse processo foi desenvolvido por Finsterwalder sendo
empregado na construção de grandes pontes fluviais como a sobre o rio Reno em
Worms. O uso desse método é recomendado quando:
• A diferença de cota entre a ponte e o obstáculo é muito grande, o que exigiria
cimbramentos de altura elevada;
• O curso d’água possui alta correnteza;
• Durante a construção for necessário obedecer a gabaritos de navegação;
Os procedimentos para a utilização desse método podem ter seu início em pilares
intermediários ou a partir dos encontros. As formas necessárias para a execução do
tabuleiro são montadas em balanço, concretando-se um segmento de aproximadamente
3 metros a cada 3 dias. Nos casos dos pilares intermediários, o balanço deve ser
contrabalanceado pelo avanço simultâneo dos trechos nas duas direções.
A construção pode ser agilizada ao substituir o concreto moldado in loco pelo pré-
moldado. Nesse caso deve-se atentar para a forma de ligação dos segmentos. Uma
das primeiras técnicas de ligação utilizada foi a ligação por argamassa de cimento, o
que não permitia uma grande redução no tempo de obra, pois era necessário esperar
o tempo de cura da argamassa.
Todavia, em 1964, foi desenvolvida a técnica da junta conjugada colada capaz de
reduzir significativamente o tempo da obra. A técnica consiste na utilização de peças
pré-moldadas, aduelas, cujas faces são moldadas com encaixe do tipo macho-fêmea
facilitando o processo de montagem. A ligação entre essas peças é feita por cola
epóxica com aproximadamente 1 mm de espessura.
Para você compreender a agilidade do emprego dessa técnica, falemos da construção
da ponte Rio-Niterói. De acordo com Pfeil (1975), o uso da junta conjugada colada
permitiu a construção de 7,7 metros de ponte por dia. Estima-se que caso essa obra
fosse executada em junta argamassada seu avanço seria de 3,2 metros por dia, e
igual a 0,8 metros se feita em moldagem in loco.
Um detalhe muito importante ao utilizar os balanços sucessivos é na determinação
prévia e precisa das deformações, imediatas e diferidas, para que as contra flechas
sejam corretamente definidas.
reduzir as distâncias para o transporte dos materiais. Tudo isso leva a uma redução
dos custos, o que colabora na viabilidade econômica desse processo justificando a
sua rápida aceitação e implementação.
Entretanto, devido às características próprias desse processo alguns cuidados são
fundamentais.
Stucchi (2006) destaca:
• A precisão do nivelamento e da forma para se evitar esforços adicionais causados
por erros de geometria, assemelha-se aos cuidados com os recalques do
escoramento.
• A influência do método construtivo no dimensionamento estrutural. Nesse caso,
a estrutura é autolançada em balanço, o que gera mudanças dos esforços
da seção a cada fase construtiva. Perceba que a mesma seção transversal
se deslocará por todo o comprimento da viga sendo, portanto, solicitada por
diferentes momentos devendo resistir a todos eles.
• O cuidado com interferências que possam bloquear o movimento das formas.
Dessa forma, chegamos ao fim de mais uma aula, na qual estudamos os diferentes
métodos de construção das obras de arte e quais as influências deles no projeto das
estruturas. Na próxima aula continuaremos falando sobre outras possíveis classificações
para as pontes e viadutos. Até lá!
CAPÍTULO 4
OUTRAS CLASSIFICAÇÕES
Uma das classificações mais simples das pontes, refere-se à finalidade da mesma.
Conhecer para que se destina a construção de uma ponte é fundamental na hora de se
projetar. Isso porque cada finalidade possui características próprias que influenciarão
nos elementos presentes no tabuleiro, como falamos na primeira aula.
De modo geral, as pontes ou viadutos são classificados quanto a sua finalidade em:
1. Ferroviárias;
2. Rodoviárias;
3. Passarelas (destinadas a passagem de pedestres);
4. Cicloviárias (destinadas a passagem de ciclistas);
5. Dutoviárias (destinadas a passagem de tubulações).
Uma outra classificação muito comum das pontes é classificá-las de acordo com o
material predominante na sua construção. Em geral as pontes podem ser executadas
em madeira, concreto armado, concreto protendido e materiais metálicos. Falaremos
sobre cada uma delas adiante.
Entretanto, esse material não se limita a pequenas obras. A ponte Kintai (imagem
a seguir) de 1673, localizada na cidade Iwakuni no Japão, é composta por cinco arcos
de madeira que somados correspondem a um comprimento de 193 metros. Os três
arcos centrais são os maiores possuindo um vão de aproximadamente 35 metros cada.
É importante mencionar que quando falamos das pontes metálicas, nos referimos
às pontes de aço e também às pontes em ligas de alumínio. O emprego dos materiais
metálicos, ferro fundido, em pontes iniciou no final do século XVIII de forma singela.
Todavia, o crescimento das ferrovias expandiu o uso desse material, uma vez que,
as pontes ferroviárias são submetidas a cargas mais elevadas que as que ocorriam
até então.
Assim como a madeira, as pontes metálicas se adaptam a maioria dos sistemas
estruturais de pontes. Sendo muito empregadas em Treliças, Arcos, Vigas de alma
cheias: Grelhas ou Caixões, Pontes Pênseis e Estaiadas. Quanto ao método construtivo,
as pontes metálicas se dão muito bem com os tipos construtivos para estruturas
pré-moldadas.
Dentre as vantagens do uso dos materiais metálicos nas pontes temos a possibilidade
de construir pontes com elementos esbeltos com alta resistência às solicitações
normais. Entretanto, essa mesma esbeltez pode levar a problemas de estabilidade o que
justifica a necessidade da verificação da estabilidade local nos elementos metálicos.
Outra desvantagem das estruturas metálicas está na sua durabilidade, devido à
suscetibilidade do material a corrosão. As respostas desse tipo de estrutura às situações
de incêndio também são desfavoráveis.
Segundo Stucchi (2006) os aços mais empregados nas pontes são os apresentados
na Tabela 2. A título de comparação vale lembrar que os aços utilizados nas estruturas
de concreto armado possuem resistência entre 250 a 600 MPa.
Nos casos em que o curso d’água transposto pela ponte é uma via navegável
precisa-se garantir uma altura livre que permita a navegação dos navios padrões da
região. Entretanto, há situações em que essa característica não pode ser atendida,
sendo necessário um estrado móvel que permita a passagem dos navios. Em geral,
mesmo que a ponte apresente diversos vãos, a execução de um único vão móvel
atende as necessidades.
A forma de mobilidade do estrado pode ser dividida em estrados de movimento de
translação e movimento de rotação. Dentro do primeiro grupo temos as pontes deslizantes
e as levadiças, enquanto que no segundo incluem-se as pontes basculantes e giratórias.
Também no Brasil já possuímos uma ponte levadiça. A antiga ponte sobre o rio
Guaíba em Porto Alegre, construída na década de 50, apresentava um vão móvel de
58 metros de extensão. A estrutura de altura igual a 43 metros eleva este trecho a
uma altura de 24 metros para a passagem dos navios de grande porte. Entretanto,
devido ao grande crescimento do tráfego de navios na região e ao tempo de içamento
da ponte, foi-se inaugurada uma nova ponte em 2014.
Você sabia que a primeira ponte móvel do país era uma ponte giratória?
Localizada na cidade de Recife a antiga ponte 12 de setembro, inaugurada em
1922, apresentava um vão central giratório para dar passagem às embarcações.
Infelizmente, a ponte foi substituída em 1971.
Mais detalhes sobre esta e outras pontes de Recife você pode assistir na
reportagem do link abaixo. Aperte o play!
https://www.youtube.com/watch?v=rcuWlH-EhI0
CAPÍTULO 5
CONSIDERAÇÕES
PRELIMINARES AO PROJETO
Nas aulas anteriores nós estudamos os diferentes tipos de pontes, você aprendeu
que cada sistema estrutural, material empregado, método construtivo irá influenciar
no projeto estrutural da ponte.
Hoje, iremos iniciar o projeto propriamente dito, falaremos sobre a sua primeira
etapa e todos os documentos e informações que precisamos para dar início a um
projeto de obra de arte.
Primeiramente você deve conhecer a finalidade da ponte, pois é ela quem determinará
os elementos geométricos que definirão o tabuleiro da ponte. Afinal os elementos e
dimensões necessárias para uma ponte rodoviária são diferentes dos necessários para
uma ponte ferroviária ou uma passarela. Estes elementos influenciam diretamente
nas cargas atuantes sobre a estrutura.
Após a coleta de informações sobre a seção transversal da ponte e as cargas
móveis, deve-se levantar informações complementares como a topografia da região,
dados hidrológicos do corpo hídrico e características geotécnicas do maciço de solo.
Todos esses dados serão fundamentais para que o engenheiro possa escolher o tipo
de ponte mais adequado para aquele projeto.
Outras informações como elementos de interesse construtivo ou econômico e notícias
tecnológicas de caráter especial podem influenciar nas decisões de projeto. Sendo
assim, podemos dizer que o estudo adequado das características do empreendimento
garante a qualidade do projeto não devendo ser negligenciado.
Título: Ponte com gabarito de navegação 35,00 m x 12,00 m (ponte sobre o rio Paraguai em Cáceres, BR-70MT)
Fonte: (PFEIL, 1979) – pág 33
No caso das pontes sobre rios não navegáveis deve-se respeitar a altura livre
estabelecida pelo órgão responsável pela obra. Araújo (1999) menciona o limite de
1,5 metros acima do nível máximo d’água determinado pelo estado do Tocantins.
das embarcações abaixo do tabuleiro. Essa altura depende da cota de máxima cheia
do corpo hídrico, a qual representa o máximo nível provável para o corpo hídrico
durante a vida útil da obra. Essa cota é estimada a partir de um risco assumido de
que a estrutura venha a ser inundada, considerando questões econômicas, ambientais
e de segurança dos usuários que possam ser afetados.
Para a sua determinação o projetista necessita de alguns elementos hidrológicos.
Pfeil (1979) destaca os seguintes:
• Cotas de máxima cheia e estiagem observadas com indicação das épocas,
frequência e período dessas ocorrências.
• Dimensões e medidas físicas suficientes para a solução dos problemas de vazão
do curso d’água sob a ponte e erosão do leito, quais sejam:
a) Área em km2 da bacia hidrográfica a montante da obra até a cabeceira;
b) Extensão do talvegue em km, desde o eixo da obra até a cabeceira;
c) Altura média anual das chuvas, em milímetros;
d) Declividade média do espelho d’água em um trecho próximo da obra, de
extensão suficiente para caracterizá-la, bem como indicações concernentes
à permeabilidade do solo, existência na bacia hidrográfica de vegetações e
retenções evaporativas, aspecto das margens, rugosidade e depressões do leito
no local da obra.
• Notícias acerca de mobilidade do leito do curso d’água e, acaso existente, com
indicação da tendência ou do ciclo e amplitude da divagação; alvéos secundários,
periódicos ou abandonados, zonas de aluviões, bem como de avulsões e erosões,
cíclicos ou constantes; notícias sobre a descarga sólida do curso d’água e sua
natureza, no local da obra, e sobre material flutuante eventualmente transportado.
• Se a região for de baixada ou influenciada por marés, a indicação dos níveis
máximo e mínimo das águas, velocidades máximas de fluxo e de refluxo, na
superfície, na seção em estudo.
• Informações sobre obras de arte existentes na bacia, com indicações de
comprimento, vazão, tipo de fundação, etc
• Notícia sobre serviços de regularização, dragagem, retificações ou proteção
das margens.
Até aqui você compreendeu como determinar a cota de máxima cheia que é
importante na determinação da altura livre. Aqui destacamos que para garantir a
altura livre limite necessária ao projeto, sem a necessidade de usufruir de estrados
móveis o projetista da ponte pode se deparar com duas situações distintas:
• Projeto rodoviário pronto: o projetista já possui o nível da face superior do
tabuleiro definido pelo projetista da estrada, que normalmente adota uma cota
aproximadamente 40 cm acima da cota de terraplanagem. Nesse caso a diferença
da cota superior do tabuleiro a soma da cota de máxima cheia a altura livre
limite equivale à altura de construção possível para a superestrutura da ponte;
• Projeto rodoviário não finalizado: nesse caso o tabuleiro não possui cota definitiva,
sendo possível ao projetista estrutural calcular o nível superior do tabuleiro através
da soma da cota de máxima cheia com a altura livre e a altura da construção.
de menor resistência abaixo das camadas avaliadas. Dada a importância e grandeza das
pontes e viadutos, é necessário que um determinado número de sondagens, podendo
ser a sua totalidade, atinja a rocha. O maciço rochoso também deverá ser investigado
por meio de sondagens rotativas por no mínimo três metros de profundidade.
Pfeil (1979) sugere que as profundidades das sondagens sejam determinadas
segundo os seguintes critérios:
• As sondagens de percussão devem prosseguir até que a resistência à penetração
seja igual ou superior a X número de golpes a cada 30 cm por cinco cravações
consecutivas; ou até atingir um material impenetrável à peça de lavagem; ou até
uma profundidade máxima, H, estabelecida pelo geotécnico. A especificação de
X e H depende da natureza do solo e do tipo da obra. Para obras medianas, Pfeil
(1979) recomenda a adoção de X = 40 golpes e H = 40 metros de profundidade.
• As sondagens rotativas devem prosseguir até uma recuperação igual ou
superior a em até três avanços consecutivos; ou uma recuperação superior
após penetração de 5 metros em rocha parcialmente alterada; ou ainda após
uma recuperação média igual ou superior a após penetrar 10 metros em rocha
parcialmente alterada. Caso nenhuma das condições anteriores sejam atingidas
pode-se interromper a sondagem após atingir uma profundidade máxima H.
Assim como para as sondagens por percussão os valores limites: , , e H devem
ser definidos para cada caso de acordo com o tipo da obra.
CAPÍTULO 6
SOLICITAÇÕES DE PONTES I
Na aula passada você aprendeu quais as informações iniciais que você precisa
para começar o projeto de uma obra de arte. Agora, falaremos sobre os passos para
o dimensionamento dessa estrutura.
A estrutura é um conjunto de elementos, verticais e horizontais, responsáveis pela
sustentação da obra de arte, a qual recebe além do seu próprio peso ações provenientes
dos usuários, empuxos de solo, ações do vento entre outras. Dessa forma, o primeiro
passo para o dimensionamento é conhecer as ações atuantes sobre as estruturas.
Antes de falarmos dessas ações, vamos reforçar alguns pontos importantes. Ao longo
das próximas aulas focaremos no projeto de pontes convencionais de concreto armado,
isto é, pontes formadas por um tabuleiro em laje apoiada sobre vigas longitudinais
principais. Com isso em mente, você consegue me dizer qual seria o caminho das
cargas atuantes sobre esse tabuleiro?
Cada um dos elementos estruturais tem a finalidade de receber e conduzir as
cargas atuantes até o maciço rochoso. Via de regra, o elemento em contato direto
com os usuários é a laje, ela receberá as cargas dos veículos e as transferirá para
as vigas. Estas receberão as reações provenientes das lajes e as conduzirão para os
pilares, que por sua vez levarão as cargas até as fundações. É fundamental que você
compreenda essa sequência de carregamentos, para entender quais cargas considerar
no dimensionamento dos elementos.
Além disso, precisamos relembrar os tipos de forças que podem atuar sobre uma
estrutura. Em geral, temos as forças de superfície, as forças lineares e as forças
pontuais. As lajes podem receber esses três tipos, já as vigas e os pilares por serem
modelados como elementos de barra só podem receber forças lineares e pontuais.
Feita essa revisão, vamos iniciar o assunto da nossa aula que é: quais as ações
atuantes nas estruturas?
Segundo a NBR 8681:2004 as ações de uma estrutura podem ser divididas em:
• Ações permanentes: são as cargas que atuarão por toda a vida útil da estrutura,
nela incluímos o peso próprio da estrutura e dos elementos acessórios como
pavimentação, postes, barreiras e guarda-corpos;
• Ações variáveis: são ações que atuaram sobre a estrutura em momentos e
intensidades variáveis, são exemplos dessas ações as cargas móveis, as cargas
de vento e a correnteza das águas;
Segundo a NBR 7187 (2003), norma que estabelece os critérios para projetos de
pontes em concreto armado e protendido, as ações permanentes são aquelas cujas
intensidades podem ser consideradas constantes ao longo da vida útil da estrutura.
Falaremos especificamente sobre cada uma delas na aula de hoje.
ANOTE ISSO
Há ainda outros elementos não estruturais cujo peso deve ser determinado.
As barreiras, guarda-corpos e postes estarão sempre presentes na ponte, sendo
considerados, portanto, como cargas permanentes.
Nas pontes rodoviárias a pavimentação da faixa de pedestres deve ser considerada,
assim como um eventual recapeamento. Debs e Takeya (2010) recomendam considerar
uma carga mínima de 2 kN/m² para o recapeamento. Em pontes de grandes vãos
essa carga adicional pode ser desconsiderada a critério do proprietário da obra.
Agora que você compreendeu o que são as cargas permanentes, vamos praticar?
Façamos um exemplo.
Observe que a laje recebe sobre ela a barreira de proteção na lateral da ponte
e a pavimentação da faixa de tráfego. Esses elementos também gerarão sobre a
laje cargas permanentes. Iniciemos pelo pavimento, este está aplicado sobre toda a
superfície da laje o que gerará uma força peso de superfície. Dessa forma precisamos
apenas da espessura do pavimento, todavia, perceba que ela varia do centro para as
extremidades. Sendo assim, utilizaremos espessura média:
Passemos agora para a determinação do peso próprio da barreira, perceba que ela
atuará ao longo de toda a ponte. Logo, a força resultante do peso desse elemento
será linear.
Título: Carregamento permanente sobre 1 metro longitudinal de laje – vista da seção transversal
Fonte: Autor
transversal da ponte é simétrica, portanto, cada viga receberá metade das cargas
atuantes sobre a laje por metro de comprimento. Isto é, a reação da laje é uma força
linearmente distribuída sobre a viga. Para determinar essa reação basta somarmos
todas as cargas sobre a laje e dividirmos por dois:
O peso próprio da viga será o produto do peso específico do concreto pela área da
sua seção transversal:
3.1.2 Empuxos
Além do peso próprio há outras ações permanentes que podem ou não estar
presentes no projeto. Uma delas é o empuxo, que pode ser causado pelo solo ou
pela água.
Como visto em mecânica dos solos, a terra em contato com a estrutura exerce sobre
ela uma força horizontal chamada de empuxo. Esse pode ser classificado quanto a sua
natureza em ativo, passivo ou de repouso. O empuxo é dito ativo quando o solo sofre
uma distensão provocando um deslocamento da estrutura para fora do terrapleno;
já quando o solo é comprimido, isto é, a estrutura se desloca contra o terrapleno
temos o chamado empuxo passivo. Todavia, há casos em que a estrutura não sofre
deformação, nessa situação temos o empuxo de repouso.
Deve-se sempre buscar o carregamento que leve a situação mais desfavorável para
a estrutura, de modo que estas sejam dimensionadas a favor da segurança. Sendo
assim, em casos como da figura abaixo, a atuação estabilizante do empuxo passivo
só poderá ser considerada se não houver possibilidade do solo ser retirado ao longo
da vida útil da estrutura.
Nos casos em que a superestrutura é suportada por uma série de pilares alinhados
transversalmente, a largura fictícia é igual a 3 vezes a largura do pilar deve ser menor
ou igual a distância transversal entre eixos de pilares adjacentes. Caso esse critério
não seja respeitado, deve-se adotar uma largura fictícia igual a:
• Metade da distância entre os eixos dos pilares acrescida 1,5 vezes a largura do
pilar, para os pilares externos;
• A distância entre os eixos dos pilares, para os pilares intermediários.
As águas também exercerão sobre as estruturas forças de empuxo que devem ser
avaliadas no dimensionamento. Elementos estruturais submersos, receberão a ação
de um empuxo hidrostático de módulo igual ao peso do volume de água deslocado e
sentido vertical para cima. Já as laterais desses elementos recebem forças horizontais.
Via de regra, dimensiona-se estes elementos para que seu peso próprio ultrapasse no
mínimo 10% do empuxo vertical (PFEIL, 1979).
Nos muros de arrimo deve-se sempre atentar ao nível do lençol freático, uma vez
que, este gerará pressões hidrostáticas sobre a parede. Para dispensar a consideração
dessa sobrecarga é necessário projetar sobre toda a altura da estrutura uma camada
filtrante contínua que, associada a um sistema de drenos, evitará a atuação do empuxo
da água proveniente do lençol freático, da água livre ou da água de acumulação de
chuva (DEBS E TAKEYA, 2010).
3.1.3 Deformações
De modo geral as fundações das obras de arte são dimensionadas para que seus
recalques diferenciais sejam pequenos, sendo seus efeitos insignificantes. Nestes casos,
ao se projetar pontes hiperestáticas, como as de vigas contínuas, não é necessário a
consideração desses recalques na determinação dos esforços de projeto.
Entretanto, quando a ponte será construída sobre uma área que pode vir a ter
grandes recalques, estes devem ser previstos ainda na fase de projeto. Um exemplo
de localização deste caso são encostas sujeitas a deslizamentos lentos (PFEIL, 1979).
Dessa forma, os recalques previstos podem auxiliar na escolha da estaticidade
da estrutura principal. Podendo ela ser hiperestática ou isostática. As estruturas
hiperestáticas apresentam maior sensibilidade ao deslocamento de seus apoios,
devendo ser descartada, se possível, quando houver a possibilidade de recalques
diferenciais excessivos (DEBS e TAKEYA, 2010).
Todavia, as estruturas em concreto possuem capacidade de adaptação aos recalques
diferenciais, devido a fluência do material. Debs e Takeya (2010) ressaltam que as
estruturas hiperestáticas em concreto armado são capazes de se acomodar às
deformações das fundações, desde que não demore muito para retirar o escoramento.
Deve-se tomar cuidado no projeto de pontes implantadas em zonas carboníferas.
Essas regiões podem apresentar grandes recalques bruscos na fundação. Sendo,
portanto, necessário a previsão de nichos, para colocação de macacos destinados a
renivelar os tabuleiros, no projeto da estrutura estaticamente determinada (PFEIL, 1979).
Na aula de hoje você aprendeu quais são as ações permanentes que podem atuar
sobre as estruturas das pontes e viadutos. Nas próximas daremos continuidade às
solicitações das pontes falando das ações variáveis e excepcionais que devem ser
consideradas. Bom estudo!
CAPÍTULO 7
SOLICITAÇÕES DE PONTES II
Perceba que o trem tipo estabelecido pela norma não representa adequadamente
os veículos que circulam pelas rodovias brasileiras. Muitos autores chamam
atenção para o fato de a norma brasileira ter copiado normas internacionais sem
qualquer preocupação com as características reais dos veículos aqui utilizados.
Os veículos que usualmente trafegam pelas rodovias são os caminhões, as carretas
e as combinações de veículos de carga, chamados de CVCs. Esses veículos têm
seu peso limitado de acordo com o conjunto de eixos pela “Lei da balança” de
1998. No quadro abaixo você confere os principais tipos de veículos utilizados no
Brasil com seus respectivos pesos por eixos, peso total e uma carga distribuída
equivalente, obtida pela razão entre o peso do veículo e a área da faixa de rolamento
ocupada pelo veículo mais uma folga de 15 metros entre veículos consecutivos.
Essa distância corresponde a uma situação de tráfego normal.
Peso Carga
Veículo Total distribuída
(kN) (kN/m²)
Caminhão de 2 eixos traseiros
230 2,4
415 3,6
485 4,9
740 5,4
Agora que você já conhece o trem tipo padrão, vamos relembrar como posicionar
o mesmo sobre a ponte. As cargas móveis diferenciam-se das cargas estáticas pois
podem ocupar qualquer posição ao longo da estrutura. Isso significa, que os esforços
gerados por essa carga em uma determinada seção variam com o movimento veículo.
A forma mais fácil de observar essa variação é por meio das linhas influência, como
você aprendeu em Sistemas Estruturais.
Segundo Sussekind (1981), a linha de influência é uma representação gráfica do
efeito elástico da ação de uma carga pontual unitária em uma determinada seção. Em
outras palavras, a linha de influência mostra o valor do esforço em uma determinada
seção, gerado pela carga unitária posicionada naquela exata posição.
Sendo assim, o máximo momento fletor da seção será obtido ao posicionar o trem
tipo sobre o ponto de maior momento da linha neutra. Um detalhe importante, é que
a carga unitária será adicionada apenas nas regiões que levam a uma amplificação
do momento avaliado. Para melhor compreensão dos conceitos apresentados vamos
para um exemplo.
Título: Linha de influência da seção S1 para viga isostática com balanço – Esforço: Momento fletor
Fonte: Autor
Uma vez posicionado o trem tipo, precisamos posicionar a carga uniforme p em todas
as regiões não ocupadas pelo veículo e que influenciarão positivamente o momento
máximo da seção. Dessa forma, olhe novamente para a linha de influência, repare que
as cargas aplicadas sobre o balanço geram momentos negativos na seção S1 o que
causará um alívio no momento positivo da seção. Sendo assim, para obter o máximo
momento fletor da seção a carga distribuída não será aplicada sobre os balanços da
viga. A disposição final das cargas é apresentada a seguir.
Por simetria, sabemos que o que significa que o momento causado pela carga
da roda dianteira é igual ao momento da roda traseira e vale 75.1,25 = 93,75 kN.m.
Já o momento resultante de uma carga uniformemente distribuída, será o valor
dessa carga multiplicado pela área abaixo da linha de influência, Logo temos:
Agora que você já compreendeu como usar as linhas de influência e os trens tipo
especificados pela norma, passemos a falar dos coeficientes de ponderação desses
carregamentos. A NBR 7188 (2013) prevê a majoração das cargas aplicadas sobre
as faixas de tráfego por meio dos coeficientes de impacto vertical, número de faixas
e impacto adicional. Explicaremos o significado e como determinar cada um destes
coeficientes a seguir.
Definido estes coeficientes determinamos as cargas móveis sobre a faixa de tráfego
como:
• Cargas concentradas
Q=P.CIV.CNF.CIA
Por isso também, observa-se uma importância maior dos efeitos dinâmicos nas
pontes metálicas, em geral mais leves, do que nas pontes de concreto armado. As
pontes ferroviárias também devem receber uma atenção especial quando comparadas
às rodoviárias.
Estudos experimentais apontam que o CIV varia com relação ao vão, L, em uma
função hiperbólica com tendência assintótica para 1 conforme L tende ao infinito
como mostrado no gráfico a seguir (DEBS E TAKEYA, 2010).
Além dos efeitos dinâmicos, as cargas móveis devem ser corrigidas de acordo com
o número de faixas de tráfego do tabuleiro. Isso para corrigir as distorções estatísticas
da probabilidade de simultaneamente passarem veículos paralelos em todas as faixas.
Para essa correção a NBR 7188 (2013) define o coeficiente do número de faixas
(CNF) dado por:
CNF=1-0,05.(n-2)>0,9
onde n igual ao número de faixas de tráfego rodoviário a serem carregadas sobre
o tabuleiro. É importante lembrar que os acostamentos e faixas de segurança não
são considerados faixas de tráfego.
Destaca-se que este coeficiente não deve ser utilizado para o dimensionamento
dos elementos estruturais transversais ao sentido do tráfego, como lajes e vigas
transversinas.
Por último, a norma prevê a majoração das cargas aplicadas a uma distância
inferior a 5,0 metros das descontinuidades da pista de rolamento. Aqui considera-se
descontinuidade das extremidades da ponte, as juntas de dilatação e estruturas de
transição e acessos. São recomendados os seguintes valores para o CIA:
Ao longo desta aula você aprendeu sobre as cargas móveis que são típicos
carregamentos variáveis presentes nas obras de arte. Entretanto, há outras ações
variáveis que atuam sobre as estruturas das pontes e viadutos. Falaremos sobre elas
na próxima aula. Até lá!
CAPÍTULO 8
SOLICITAÇÕES DE PONTES III
A força centrífuga é uma força horizontal presente quando um veículo realiza uma
curva. Nos casos de curvas realizadas sobre as pontes, essa força horizontal atuará
sobre o tabuleiro da mesma.
Ao percorrer uma trajetória circular a uma certa velocidade surge, devido ao atrito
das rodas a o pavimento, uma força horizontal em direção ao centro e sentido para
fora da curva chamada de força centrífuga. Essa força pode ser calculada por:
É importante salientar que para a força centrífuga estar presente basta que a pista de
tráfego seja curvilínea, isso não significa que o eixo da obra seja curvo. Debs e Takeya
(2010) apresentam a ponte reta abaixo, na qual você pode observar que a estrutura
possui um eixo retilíneo, enquanto a ferrovia sobre o tabuleiro é curva gerando uma
força centrífuga devido ao movimento circular descrito pelo trem.
Nas pontes ferroviárias, deve-se considerar a ação de uma carga horizontal proveniente
do choque lateral entre as rodas e trilhos. Essa força surge devido a existência da
folga entre o friso das rodas e o boleto do trilho; uma vez que o movimento do trem
não é perfeitamente retilíneo, a folga permite o choque das rodas ora contra um trilho
ora contra o outro.
A NBR 7187(2003) determina que, somente para pontes ferroviárias, deve-se
considerar uma força horizontal aplicada no topo do trilho de valor igual a:
Outra força horizontal proveniente das cargas móveis no tabuleiro são as forças
de frenagem ou aceleração. Via de regra, os veículos não trafegam em velocidade
constante estando ora sendo acelerados e ora sendo freados. Essas ações produzirão
uma força na direção do tráfego de valor igual a força necessária para modificar a
velocidade do veículo.
A NBR 7187 (2003) especifica que as forças geradas por estes efeitos devem ser
calculadas como uma fração das cargas móveis atuantes. Para essas cargas não se
considera o impacto.
Nas pontes rodoviárias, a força longitudinal deve ser igual ao maior valor entre:
• 5% da carga móvel sobre a pista de tráfego, isso inclui peso do veículo mais
carga distribuída;
• 30% do peso do veículo-tipo.
O vento incidente sobre as pontes causará forças sobre a estrutura, todavia, a NBR
7187 (2003) apenas menciona a consideração dessa ação com indicado na NBR 6123,
a qual trata da determinação das ações de vento sobre edifícios. Devido à ausência
de recomendações específicas para pontes, Debs e Takeya (2010) recomendam o
emprego dos procedimentos estabelecidos na antiga norma de pontes NB 2 (1961),
apresentados a seguir.
Nas obras de arte, o vento atuará como uma força horizontal, normal ao eixo da
ponte, com distribuição uniforme ao longo de toda a sua extensão. Para a determinação
da ação dessa carga admite-se dois cenários:
a) Ponte descarregada
No primeiro cenário, considera-se que o vento incidirá sobre uma superfície igual
à projeção da estrutura sobre plano normal à direção do vento.
Neste caso recomenda-se a adoção de uma pressão de vento igual a 1,5 kN/m²
independentemente do tipo de ponte avaliado, conforme a figura abaixo.
Título: Pressão do vento sobre ponte descarregada: a) ponte rodoviária b) ponte ferroviária
Fonte: Autor
b) Ponte carregada:
Outro cenário para a avaliação da ação do vento é quando o tabuleiro da ponte está
carregado. Nessa situação o vento incidirá sobre a projeção da estrutura acrescida de
uma faixa proveniente dos usuários da via. A altura da faixa depende do tipo de ponte:
• Pontes ferroviárias: altura igual a 3,50 m;
• Pontes rodoviárias: altura igual a 2,00 m;
Quando avaliada a situação de uma ponte carregada, deve-se admitir uma pressão
de vento de 1,0 kN/m² para pontes ferroviárias ou rodoviárias, e igual a 0,7 kN/m²
para passarelas. A imagem abaixo, ilustra cada uma dessas situações.
Título: Pressão do vento sobre ponte carregadas: a) ponte ferroviária b) ponte rodoviária c) passarela
Fonte: Autor
Diante disso, temos que a força do vento transversal ao tabuleiro da ponte é dada
por:
A norma prevê a dispensa das ações do vento para determinados tipos de sistemas
estruturais de pontes, são eles:
• Pontes em laje: nas pontes cujo sistema estrutural principal da superestrutura
é a laje, os efeitos da pressão do vento podem ser dispensados devido a sua
alta rigidez a torção e a pequena altura da superestrutura.
• Pontes de arco paralelo com tabuleiro superior: nas pontes de arcos paralelos
cuja largura é superior a 1/9 do vão podem ser dispensadas as ações do vento
desde que haja contraventamento contínuo, conforme mostra a figura abaixo.
Essa dispensa deve-se ao fato de a estrutura atuar como uma viga-balcão de
grande largura quando sujeito a pressão do vento. O mesmo ocorre para pontes
abóbadas com largura superior a 1/10 do vão.
Além das forças horizontais já mencionadas, o vento pode gerar sobre o tabuleiro
uma força de sucção. Esse esforço tem direção vertical atuando no sentido contrário
ao peso próprio. Pfeil (1979) recomenda a consideração dessa força, juntamente
com os esforços horizontais transversais para a verificação do tombamento da
ponte.
Para isso pode-se adotar uma pressão de vento igual 1,00 kN/m² sobre toda a
projeção horizontal do tabuleiro. A resultante dessa pressão deve ser aplicada a uma
distância igual a da extremidade que recebe o vento, considere igual à largura do
tabuleiro.
É importante mencionar que pontes sobre rios sujeitos a cheias torrenciais podem
carregar troncos ou galhos. Esses por sua vez, prendem-se nos pilares aumentando
a área de atuação da correnteza, o que pode levar a uma força superior à estimada
apenas com a área de contato do pilar (PFEIL, 1979).
A NBR 7187 (2003) destaca a importância do efeito dinâmico das ondas sobre
a estrutura. As situações em que a estrutura sofrerá ação de ondas, é fundamental
a determinação dos seus efeitos dinâmicos por meio de métodos baseados na
hidrodinâmica.
O movimento de entrada e saída das cargas móveis no tabuleiro das pontes, causam
uma sobrecarga sobre o terrapleno da obra de arte, conforme mostra a figura abaixo.
Essa sobrecarga causará um empuxo de terra adicional sobre a cortina/encontro.
onde é a sobrecarga;
qv é o peso do trem tipo em carga uniformemente distribuída
Lp corresponde a largura do tabuleiro.
A NBR 8681 define as ações excepcionais como aquelas cuja duração é extremamente
curta e muito baixa probabilidade de ocorrência durante a vida da construção, mas
que devem ser consideradas no projeto de determinadas estruturas.
Enquadrasse dentro do projeto das pontes as ações excepcionais provenientes:
Dentre essas, apenas a ação proveniente do choque dos veículos é mencionada pela
NBR 7187. A mesma determina a verificação da segurança dos pilares passíveis ao
choque de veículos rodoviários ou embarcações em movimento. Sendo dispensada a
verificação nos projetos que forem adicionados dispositivos de proteção da estrutura
contra este tipo de colisão.
Entretanto, a atual norma NBR 7187 (2003) não especifica valores de cargas para a
consideração do choque de veículos. Desse modo, Debs e Takeya (2010) recomendam
a utilização dos valores estabelecidos pela norma alemã DIN 1072, de 1973. Esta define
que os elementos estruturais passíveis a colisão de veículos, devem ser verificados
para forças horizontais, não simultâneas, de 1.000 kN na direção longitudinal e de
500 kN na direção transversal. Não podendo ser consideradas atuando em elementos
distantes 1,2 metros da superfície de rolamento.
Com a aula de hoje, encerramos o assunto das solicitações atuantes nas obras
de arte. Na próxima aula falaremos sobre as combinações dessas diferentes ações
para as verificações estruturais necessárias no dimensionamento dessas estruturas.
Bons estudos!
CAPÍTULO 9
COMBINAÇÃO DAS AÇÕES:
ESTADOS LIMITES
Ao longo das últimas três aulas você aprendeu sobre diversas cargas que podem
atuar sobre as estruturas das pontes e viadutos. Agora, você irá aprender como
combinar essas ações para as diferentes verificações das estruturas.
Um projeto estrutural vai além da determinação de dimensões e armaduras. É
claro, que avaliar a estrutura em relação ao colapso é importante, afinal não queremos
acidentes. Todavia, muito além de apenas resistir às cargas atuantes sem sofrer
ruína, as estruturas precisam ter um comportamento adequado, de modo que possam
proporcionar conforto aos usuários e sejam duráveis.
Diante disso, a norma estabelece dois estados limites para avaliação da estrutura: o
estado limite último (ELU) e o estado limite de serviço (ELS). O primeiro é responsável
pela avaliação da estrutura na ruína (foto à esquerda da figura abaixo), é nessa etapa
que dimensionamos a estrutura. Após o dimensionamento adequado, sabendo que a
estrutura não irá ruir sob a ação das cargas é necessário avaliar o comportamento da
estrutura ao ser carregada. Isso é, no ELS estamos interessados nos deslocamentos
que a estrutura apresenta ao ser solicitada por uma determinada carga (foto à direita
da figura abaixo). Especificamente nas estruturas de concreto armado deve-se avaliar
a fissuração do material, uma vez que uma fissuração excessiva facilita o contato dos
agentes corrosivos com a armadura, acelerando o processo de corrosão e diminuindo
a durabilidade da estrutura.
Tendo, portanto, diferentes finalidades é compreensível que cada estado limite
combine de forma distinta as diversas ações atuantes sobre a estrutura.
É na avaliação do ELU que você deve questionar se a estrutura irá ou não suportar
as solicitações atuantes. Para responder a essa pergunta utilizamos a velha expressão
aprendida em Estática e Mecânica dos Sólidos I e II:
Essa expressão nos diz que quando as tensões causadas por uma determinada força
é maior do que a resistência do material, a estrutura entra em ruína. Logo, devemos
dimensionar os elementos estruturais de modo que as tensões causadas pelas ações
sejam menores do que a resistência do material que os constitui.
Via de regra, nos projetos, nós garantimos a segurança estrutural por meio da
utilização de coeficientes de ponderação que minoram as resistências dos materiais e
majoram as cargas atuantes. Todavia, como você pode observar ao longo das últimas
três aulas, não são poucas as ações que podem solicitar as estruturas.
As ações podem ser classificadas como permanentes, variáveis e excepcionais;
dentre as quais apenas as permanentes estarão atuando toda a vida útil da estrutura.
As demais ações estarão ou não atuando sobre a estrutura, podendo seu valor variar
ao longo do tempo. Dessa forma afirmar que todas as ações variáveis estarão atuando
simultaneamente com seus máximos valores característicos é algo completamente
improvável e definitivamente antieconômico. Caso assumissemos essa suposição
como verdade, iríamos obter estruturas superdimensionadas e consequentemente
mais caras, podendo até serem inviáveis de executar.
E é justamente por isso, que a norma estabelece as combinações das ações para as
diferentes verificações dos estados limites. Essas combinações consideram, além de outros
aspectos, a probabilidade de as diversas ações variáveis atuarem simultaneamente. Para
isso, a norma indica a utilização de coeficientes de ponderação e fatores de combinação
das cargas variáveis. Apresentamos esses coeficientes nas tabelas 1 e 2.
Atenção para a escolha da ação variável principal, ela deve ser determinada de
modo que a combinação resultante seja o maior possível.
A verificação do estado limite último de fadiga é definida pela NBR 6118 no seu
item 23.5. Essa verificação é destinada basicamente a pontes e viadutos, os quais
são estruturas submetidas a ações dinâmicas repetidas.
A fadiga pode ser entendida como um processo de modificações progressivas
e permanentes do material, quando submetido a solicitações repetitivas. Para a
verificação desse ELU a norma permite a consideração de uma única intensidade de
solicitação, que equivale a combinação frequente de ações, dada por:
permanentes, é tomada com seu valor característico. Para as demais ações variáveis
usa-se seus respectivos valores frequentes. A resultante dessa combinação é dada por:
Agora que você já compreendeu as diferenças dos estados limites e o porquê das
diferentes combinações dos esforços, vamos praticar.
Exemplo 1: Para uma dada seção do vigamento principal de uma ponte rodoviária
em concreto armado determine a combinação última normal. Sabe-se que os esforços
nessa seção são:
Dessa forma nos resta apenas determinar qual força variável é a principal. No nosso
problema temos dois momentos provenientes de cargas variáveis: a carga móvel do
tráfego e a carga móvel do passeio. Como estamos avaliando a estrutura no ELU,
precisamos da combinação que nos dê o maior esforço de momento fletor atuante
na viga. Logo, escolhemos como principal a carga que gera o maior momento fletor
na viga, isso é, o Mqk=420kN.m.
Substituindo os valores na fórmula temos:
CAPÍTULO 10
DIMENSIONAMENTO
DAS VIGAS PRINCIPAIS:
ARMADURA LONGITUDINAL
Ao longo das nossas aulas, discutimos os diferentes tipos de pontes existentes, suas
diferenças quanto ao material, estrutura e tipo construtivo. Também falamos sobre
as cargas atuantes nessas estruturas, as diferenças entre as cargas permanentes,
variáveis e excepcionais. Mencionamos a existência das envoltórias, utilizadas nos
dimensionamentos dos elementos estruturais. Por último, falamos dos estados limites
necessários para as diferentes verificações das estruturas. Nessa semana entraremos
de fato no dimensionamento desses elementos.
É importante mencionar algumas particularidades da nossa aula. Devido ao
tempo e espaços disponíveis trataremos aqui do dimensionamento de pontes de
concreto armado. Sendo assim, os passos aqui apresentados poderão sofrer algumas
modificações de acordo com o material escolhido. Pontes em concreto protendido,
aço ou madeira apresentam cada qual peculiaridades próprias do material.
Você também observará que nossas próximas aulas, referentes ao dimensionamento
das vigas, funcionarão apenas como uma revisão de assuntos já estudados em
Estruturas de Concreto Armado I e II. Afinal, o passo a passo para o dimensionamento
de uma viga de concreto armado de um edifício ou de uma ponte é praticamente
o mesmo. Em geral, o que irá mudar são as possíveis cargas atuantes, no caso de
pontes temos as cargas móveis que podem causar a fadiga da estrutura.
Devido, principalmente, à grandeza das solicitações das vigas de obras de arte é
comum considerar a influência da laje do tabuleiro na resistência da viga principal, o
que resulta em uma viga de seção T. Todavia, essa consideração deve ser feita apenas
para os casos em que a laje e a viga estão solidarizadas. Atenção: a consideração da
influência das lajes na resistência das vigas também pode ser utilizada nas construções
comuns, edifícios e casas, sendo sua consideração escolha do projetista.
A largura da laje que colabora com a viga, formando a seção T, é em geral inferior a
largura da laje disponível, definida pela sua geometria. Isso porque a transmissão do
esforço por cisalhamento é ineficiente para grandes larguras, causando a diminuição
das tensões normais de compressão da alma da mesa para o bordo da viga (PFEIL,
1979).
De acordo com a NBR 6118 (2014) a largura colaborante () deve ser igual a largura
da viga () acrescida 10% da distância entre os pontos de momento fletor nulo do
diagrama (observe o diagrama na figura abaixo). Nas vigas contínuas é possível adotar
uma largura colaborante única para toda a viga, desde que a largura adotada seja a
mínima entre todos os trechos da viga.
Nos casos em que não se deseja analisar o diagrama de momento fletor da viga,
podemos estimar a distância em função do comprimento do vão:
• Viga simplesmente apoiada: a=1,00.L
• Tramo com momento em uma só extremidade: a=0,75.L
• Tramo com momento nas duas extremidades: a=0,60.L
• Tramo em balanço: a=2,00.L
Além disso, devem ser respeitados os limites geométricos da laje como mostra
a figura abaixo, portanto, a largura colaborante é dada com base em b_1 e b_3
definidos por:
b1≤{0,50.b2 0,10.a
b3≤{b4 0,10.a
Nas seções T verdadeiras, aquelas cuja altura da linha neutra é maior do que a
altura da laje, devemos separar a seção em duas vigas retangulares: uma formada
apenas com as abas da mesa comprimida e outra apenas com a alma como mostra
a figura. Nesse caso a soma do momento resistido por cada uma das seções será
igual ao momento atuante na viga como mostra a figura abaixo.
Para isso, determina-se primeiro o momento resistido pela seção formada pelas abas,
a qual possui uma altura da linha neutra igual a altura da laje. Conhecendo obtém-se
o momento resistido pela segunda seção por: . Essa segunda seção é dimensionada
como uma viga de seção retangular comum.
A armadura total da viga de seção T verdadeira é igual a soma da área para cada
uma das seções.
ANOTE ISSO
estruturais. Sendo assim, dedicamos sobre este tópico as últimas quatro aulas, não
precisando ser aqui novamente abordado.
Destaco apenas, que uma vez tratando do dimensionamento dos elementos estruturais,
usaremos as combinações de esforços obtidas para o estado limite último.
onde:
fk é a resistência característica do material sendo: fck para o concreto
fyk para o aço.
γm é o coeficiente de ponderação do material determinado pela tabela 1.
Título: Disposição das solicitações normais de uma viga de concreto armado no estádio de carregamento III
Fonte: Autor
Perceba que essa nova disposição possui uma altura resistente chamada de altura
útil ( a qual é definida como a distância do centro de massa da armadura à fibra
comprimida mais distante. Para uma seção transversal armada com uma única camada
de armadura temos que a altura útil é dada por:
Título: Disposição das solicitações normais equivalentes para viga no estádio de carregamento III
Fonte: Autor
Dessa forma temos que o momento atuante na seção (Md) pode ser escrito como o
produto entre a resultante do diagrama (Rcc) pelo braço de alavanca (z). Sendo escrita da
seguinte forma para os concretos de classe I de resistência característica até 50MPa.
Logo, para um determinado Md, temos que a altura da linha neutra é igual a:
Nos casos em que o βx=x/d ultrapassa os valores limites estabelecidos pela norma,
o projetista tem duas opções: aumentar a altura da viga ou dimensionar a mesma
com armadura de compressão. Por fins de economia é recomendado, sempre que
possível, adotar a primeira opção.
Tendo verificado e garantido que a ruptura da viga é do tipo dúctil, você pode então
determinar a área de aço necessária para resistir às tensões de tração geradas pelo
momento atuante Md. Nos casos de concretos até 50 MPa, a área de aço pode ser
estimada pela seguinte equação:
Este item é o único exclusivo para o dimensionamento de lajes e vigas das pontes. Isso
por causa do tipo de carregamento dessas estruturas. As cargas móveis, caracterizam-
se por cargas cíclicas que geram grandes variações nas solicitações atuantes. Desse
modo, elas podem causar uma ruptura por fadiga do material que significa que este
pode romper a uma tensão inferior a dita como resistência do material, obtida por
meio de um ensaio de ruptura estático.
As armaduras das vigas devem ser verificadas quanto a fadiga pela equação abaixo:
Nos casos em que a condição descrita acima não é satisfeita, a área de aço calculada
no item anterior deverá ser multiplicada pelo fator de fadiga k, dado por:
∅
Caso mm
10 12,5 16 20 22 25 32 40
Barras retas ou dobradas com
190 190 190 185 180 175 165 150
D≥25∅
Barras retas ou dobradas com
D>25∅D=5∅<20 mm 105 105 105 105 100 95 90 85
D=8∅≥20 mm
Estribos
85 85 85 - - - - -
D=3∅≤10 mm
Ambiente marinho classe IV 65 65 65 65 65 65 65 65
Barras soldadas (incluindo solda
por ponto ou das extremidades) 85 85 85 85 85 85 85 85
e conectores mecânicos
Tabela 2 – Valores limites para verificação da fadiga – Armadura passiva de aço CA-50
Fonte: NBR 6118:2014 – pg 197
'
De acordo com a NBR 6118 (2014) as vigas devem ser armadas com uma área de
aço mínima dada por:
As,min=ρmin.Ac
fck 20 25 30 35 40 45 50
Além do limite mínimo, as vigas devem respeitar uma taxa de armadura transversal
máxima de 4%. Isso significa que a soma da área de aço de tração e compressão
(caso tenha) devem ser inferiores a:
Após determinar a área de aço necessária para resistir ao momento atuante e garantir
que essa está dentro dos limites estabelecidos pela norma, você deverá especificar o
número de barras e a bitola que atendem essa especificação.
Primeiramente você definirá o diâmetro da barra que deseja usar e com a ária de
uma barra ( ) determina o número de barras por:
CAPÍTULO 11
DIMENSIONAMENTO
DAS VIGAS PRINCIPAIS:
ARMADURA CISALHANTE
Essa analogia, conhecida como treliça clássica considera que após a sua fissuração,
a viga biapoiada se comporta como uma treliça isostática (figura acima) composta por:
• Banzo superior → cordão de concreto comprimido;
• Banzo inferior → armadura longitudinal de tração;
• Diagonais comprimidas → bielas de concreto entre as fissuras;
• Diagonais tracionadas → armadura transversal também conhecidas como
estribos.
Esses erros não impedem o uso da analogia, todavia, devido a essas inconsistências
foram desenvolvidos modelos teóricos padrões que foram corrigidos de acordo com
as imprecisões verificadas.
A NBR 6118 (2014) apresenta dois modelos de cálculo para a armadura transversal
das vigas de concreto armado. Ambos os modelos partem da consideração de que
os banzos são paralelos e que são responsáveis por resistir a uma força cortante .
As diferenças apresentadas pelos modelos são apresentadas abaixo:
• Modelo de cálculo I: pressupõe que as bielas comprimidas possuem inclinação
igual 45° e que a parcela da força cortante resistida pelo concreto independe
do esforço cortante atuante
• Modelo de cálculo II: pressupõe que as bielas comprimidas podem ter inclinação
entre 30° a 45° e que a parcela da força cortante resistida pelo concreto varia
com o esforço cortante atuante Sendo menor a medida que aumenta.
Perceba que os três primeiros passos são exatamente iguais aos três primeiros
passos para o dimensionamento das armaduras longitudinais. Isso acontece,
porque qualquer avaliação estrutural depende de informações relacionadas ao seu
carregamento, geometria, e material.
Uma vez que os três primeiros itens já foram discutidos e comentados na aula
anterior, comentaremos na aula de hoje apenas os passos exclusivamente relacionados
ao dimensionamento das armaduras transversais, isto é, a partir do passo 4.
É importante mencionar que as equações nos próximos itens aqui descritas se
referem ao modelo de cálculo I descrito pela NBR 6118 (2014).
na qual temos que as forças solicitantes (Vsd ) devem ser inferiores a força cortante
resistida pela biela (VRd,2). Caso contrário, haverá ruptura.
Como vocês já sabem a força cortante Vsd equivale a máxima cortante atuante na
viga para uma combinação última de ações.
Já a força resistida pela biela é estimada pela equação:
Como já falamos na última aula, as vigas das pontes podem sofrem com fadiga
do material causada pelas cargas móveis atuantes. Dessa forma, a norma prevê uma
redução da força cortante resistida pelo concreto na treliça. Para o modelo de cálculo
I, a força cortante corrigida é dada pelo produto da força Vc por um fator redutor igual
a 0,5.
Uma vez que a taxa de armadura calculada no item anterior for inferior à taxa de
armadura mínima, deve-se adotar a taxa de armadura efetiva igual à mínima. Caso
contrário, a taxa de armadura efetiva permanece como a taxa de armadura calculada.
Observe que a área de aço do estribo depende além da área transversal da barra, do
número de ramos que o constitui. Para uma viga armada com estribos simples, temos
que a área de aço será o produto do número de ramos e a área transversal da barra.
CAPÍTULO 12
VERIFICAÇÃO DO ESTADO
LIMITE DE SERVIÇO DAS
VIGAS PRINCIPAIS
Nas últimas aulas discutimos sobre as verificações de estado limite último das
vigas principais, responsáveis pelo dimensionamento das armaduras. Na aula de hoje,
falaremos sobre a verificação do estado limite de serviço dessas vigas.
Segundo a NBR 6118 (2014) às estruturas de concreto armado devem ser avaliadas
quanto a quatro estados de serviço:
• Formação de fissuras
• Abertura das fissuras, caso ocorram
• Deslocamentos
• Vibrações
ANOTE ISSO
Para uma viga de seção transversal retangular a expressão acima pode ser reescrita
como:
Os valores dos coeficientes de tempo ξ(t ) e ξ(to) podem ser obtidos pela tabela 2.
Tempo t
0 0,5 1 2 3 4 5 10 20 40 70
em meses
0 0,54 0,68 0,84 0,95 1,04 1,12 1,36 1,64 1,89 2,00
Tabela 2 – Valores do coeficiente em função do tempo
Fonte: NBR 6118 (2014, p.127)
Sendo assim, a flecha total apresentada ao final da vida útil da viga será igual a
somatória da flecha imediata a flecha diferida, para um tempo t >70 meses, como
mostra a equação abaixo.
atotal=aimediata+adiferida
A flecha obtida deve ser inferior aos deslocamentos limites permitidos pela NBR
6118 e descritos na tabela 3. Quando esses limites não são respeitados é possível a
adoção das seguintes soluções:
• Aumentar o tempo de escoramento da estrutura, de modo que a idade de
aplicação da carga (to) seja aumentado;
• Retardar a execução do nivelamento das lajes, revestimentos, paredes, etc.
Fazendo com que o tempo to aumente;
• Adotar uma contra flecha (ac).
Pavimentos Total
Efeitos que devem Ginásios e pistas de
estruturais em permanecer boliche Ocorrido após a
serviço planos construção do piso
Elementos De acordo com
Ocorrido após
que suportam recomendação
Laboratórios Nivelamento do
equipamentos do fabricante do
equipamento
sensíveis equipamento
Tabela 3 – Deslocamentos Limites
Fonte: NBR 6118 (2014, p.77)
Via de regra, adota-se valores de contra flecha múltiplos de 0,5 cm para facilitar
o controle e execução das mesmas. Vale ressaltar que as contra flechas podem ser
adotadas sempre que o projetista quiser, mesmo que os deslocamentos estimados
estejam abaixo dos limites da norma.
11.1.5 Exemplo
Passemos agora para a aplicação de tudo o que foi discutido na aula de hoje.
Imagine que você está executando o projeto de uma viga biapoiada de vão de 4,5
metros em concreto armado.
Inicialmente você avaliou o estado limite último da viga, no qual definiu que ela
possuirá dimensões transversais de 16 x 45 cm. Sendo executada com concreto C35
e aço CA50, armada longitudinalmente por 3 barras de 20mm e transversalmente por
um estribo de 5 mm a cada 16 cm.
Agora você pretende avaliar o estado limite de deformação dessa viga. Para isso
você obteve as seguintes informações do projeto:
• Taxa de armadura ρsi=4,13%
• Ambiente com classe de agressividade I
• Altura útil igual a 41 cm
• O escoramento foi retirado após 15 dias da concretagem (0,5 mês)
• A linha neutra a 15,1 cm da face comprimida da viga
• Módulo de elasticidade do aço igual a 210 GPa
• A flecha limite é igual a 18 mm
• A combinação quase permanente é igual a pd,ser=31,5 kN/m que resulta em um
momento máximo de Md,ser=79,7 kN.m
Do enunciado sabemos que o vão da viga é igual a 4,5 m e que o seu carregamento
equivale a 31,5 kN/m para a combinação quase permanente. Logo, nos resta apenas
determinar a rigidez da estrutura.
Primeiramente calculemos o módulo de elasticidade do concreto, dado por:
Dessa forma, temos que o momento de inércia equivalente para a viga é igual a:
Calculada a flecha imediata podemos estimar a flecha diferida por meio da expressão:
Uma vez que a viga não possui armadura de compressão, temos que ρ'=0 e o fator
de fluência pode ser reescrito como:
Como queremos avaliar a flecha ao final da vida útil da estrutura da tabela 2 retiramos
dois valores de ξ, para o tempo t=0,5 mês e t>70 meses. Logo, temos:
Para que o ELS-deformação seja satisfeito é necessário que a flecha total seja
menor que a flecha limite. Do enunciado temos que alimite=18 mm, perceba que a flecha
encontrada é superior ao limite e, portanto, não satisfaz ao exigido para a norma.
Devemos então prescrever uma contra flecha para a viga. Adotando a máxima
contra flecha possível. Temos:
AULA 13
APARELHOS DE APOIO
De modo geral, as articulações do tipo fixas ou móveis são constituídas por materiais
metálicos ou concreto; enquanto que as articulações elásticas são de elastômeros,
um tipo de borracha sintética chamada comercialmente de neoprene. Nos subitens
a seguir, falaremos sobre os principais tipos de apoios usualmente encontrados.
Leonhardt (1979) afirma que os aparelhos de apoio de concreto são os mais simples
e baratos apoios centrados para pontes. Executados juntamente com a própria estrutura
de concreto, esses apoios já foram utilizados com frequência na construção de grandes
pontes.
A ponte de Tacarville, por exemplo, foi executada com apoios de concreto possuindo
reações de apoio maiores que 10 MN.
Dentre os principais tipos de apoios de concreto, estão:
• Articulação de contato de superfícies;
• Articulação Mesnager;
• Articulação Freyssinet;
• Pêndulo de concreto.
Sendo os três primeiros articulações do tipo fixo, enquanto o último é uma articulação
móvel.
A articulação de contato de superfícies, apresentada na figura abaixo, resume-se
a duas superfícies cilíndricas em contato entre si. Nesse caso uma das superfícies
é convexa, sendo a outra côncava com raio de curvatura ligeiramente maior. Esse
tipo de ligação necessita de um acabamento minucioso, de modo que haja uma
adequada distribuição das tensões. Com o intuito de melhorar esse acabamento, Debs
e Takeya (2010) sugerem o uso uma chapa delgada de chumbo de alguns milímetros
de espessura entre as superfícies; ou revestir as superfícies com chapas finas de aço.
Por último, temos os apoios de pêndulo de concreto. Esta articulação é do tipo móvel,
permitindo, portanto, a translação horizontal do tabuleiro. Nesse caso, o elemento de
concreto das superestruturas é vinculado a mesoestrutura através de um elemento
intermediário, também de concreto, o qual é ligado a ambas por meio de uma das
três articulações já descritas; ou por placas de chumbo; ou por elastômero como
apresentado na figura abaixo.
atrito de 4%. Além disso, as superfícies de deslizamento são lubrificadas com graxas
siliconadas, permitindo uma mobilidade do tabuleiro sem grandes desgastes.
A elevação do tabuleiro deve ser realizada sincronizada e lentamente para que não
haja danos à estrutura da ponte. É possível elevar o tabuleiro mais de 1 metro,
desde que se atenda corretamente as etapas do procedimento.
CAPÍTULO 14
DIMENSIONAMENTO
DE APARELHOS DE
APOIO DE NEOPRENE
11.1 Pré-dimensionamento
Logo, sabendo que a tensão de solicitação do apoio deve ser inferior a tensão
admissível ao material, temos que a área do apoio é dada por:
ANOTE ISSO
Nos apoios cintados, ao redor da chapa de aço há uma espessura ‘c’ de Neoprene,
cuja função é proteger a chapa das intempéries. Esta espessura é executiva e,
portanto, não deve ser considerada no dimensionamento do apoio.
Dessa forma, para os apoios fretados as dimensões obtidas no pré-
dimensionamento são chamadas de a' e b', as quais adiciona-se duas espessuras
de ‘c’ para obter as dimensões finais do apoio.
Nas verificações das condições de segurança dos apoios cintados, no lugar de a e
b, deve-se utilizar a' e b^' dados por: a'=a-2.c, b'=b-2.c.
sendo ah1 o deslocamento horizontal (figura abaixo) causado pela ação de cargas
lentas como a retração, a fluência e a temperatura.
11.2 Verificações
Para estimar a distorção sofrida pelo aparelho, deve-se primeiro determinar a força
horizontal resultante. Sendo ela calculada por:
Portanto, temos que a distorção do apoio causada pelas forças horizontais são
iguais a razão entre o deslocamento horizontal e sua altura, não podendo ser superior
a 0,5, como mostra a expressão:
onde θt é a rotação total gerada pelas ações das cargas e θ0 representa a rotação
residual permanente, proveniente das imperfeições da montagem.
Sendo assim temos que a tensão de cisalhamento total é igual a:
Para garantir que não ocorra escorregamento do aparelho de apoio, deve-se verificar
a expressão a seguir:
sendo Hr a força horizontal total resultante, definido no item 11.2.3, dada em kN;
Nmin a menor reação normal dada em kN;
σc,min a tensão de contato mínima, dada em MPa.
11.3 Exemplo
• Cargas normais:
Combinação máxima →Nmax=2250 kN
Combinação mínima →Nmin=888 kN
• Rotações do apoio:
Residual permanente (imperfeições) →Ao=3.10-3 rad
Rotação das ações permanentes →Ag=2,61.10-3 rad
Rotação das ações acidentais →Aq=3,80.10-3 rad
Você pretende fazer um apoio de Neoprene entre a superestrutura e o pilar P1. Para
isso, você selecionou um aparelho de apoio cintado de dimensões iguais a: a=30 cm
e b=80 cm, feito em três camadas de elastômero com espessura de 12 mm e chapas
metálicas de espessura igual a 3mm. O cobrimento do aparelho é de 3 mm.
Verifique se o aparelho selecionado atende as condições de segurança necessárias
para o aparelho. Considere que o Neoprene possui um módulo de elasticidade transversal
igual a 1,0 MPa.
Nós sabemos que os aparelhos de apoios devem ser verificados em relação a oito
itens listados a seguir:
1. pressão de contato
2. deformação de compressão (afundamento do apoio)
3. deformação de cisalhamento (limite de distorção)
4. limitação da tensão de cisalhamento
5. segurança ao deslizamento
6. condição de não levantamento da borda menos carregada
7. condição de estabilidade
8. resistência das chapas de aço.
Perceba que as pressões máximas e mínimas estão dentro dos limites, portanto o
aparelho é aprovado em relação às pressões de contato.
Assim, passamos para a verificação da deformação de compressão, temos que
para o pilar P1 a deformação do apoio é dada por:
Temos que o recalque do apoio não pode ser inferior a 15% da altura do apoio,
portanto:
Logo temos que 0,1161 cm é menor que 0,8100 cm, sendo satisfeito os requisitos
para deformação por compressão do apoio.
'Agora passamos para a verificação das deformações por cisalhamento. Temos
que essas deformações serão causadas por uma combinação das forças horizontais
atuantes no P1, dada por:
A distorção máxima causada por ah não pode ser superior a 0,5, logo:
Dessa forma, o aparelho de apoio também está dentro dos requisitos para as
deformações cisalhantes.
Passemos para a avaliação das tensões cisalhantes:
Perceba que o aparelho satisfez todas as parcelas das tensões cisalhantes. Portanto,
podemos passar para a verificação do apoio contra o deslizamento. Para isso, temos
que o pilar P1 deve satisfazer a expressão abaixo:
Por último devemos verificar a espessura das chapas de aço por meio de
Uma vez que a espessura das chapas adotada é 3 mm, a espessura também satisfaz
ao mínimo exigido. Dessa forma, podemos dizer que o aparelho de apoio selecionado
satisfaz as condições de segurança, podendo ser utilizado na ponte em questão.
CAPÍTULO 15
MANUTENÇÃO DAS PONTES
Após a sua conclusão, a obra de arte passará ao longo de sua vida útil por uma
série de inspeções que auxiliarão no processo de manutenção. Segundo a NBR 9452
(2016), a qual estabelece os procedimentos de manutenção das pontes e viadutos
de concreto, as inspeções podem ser classificadas em quatro tipos:
1. Cadastral;
2. Rotineira;
3. Especial;
4. Extraordinária.
Logo após a conclusão da obra, é necessário que haja uma inspeção na qual se
possa averiguar as condições de uso da ponte imediatamente após a sua execução.
Registrando-se qualquer anomalia encontrada. Ao final dessa inspeção deve-se obter
a ficha cadastral da obra de arte que deve conter:
a) Informações básicas como identificação e localização;
b) Informações referente as características da estrutura como sua tipologia e
comprimento, vãos, números de apoios;
c) As características funcionais como a região onde a ponte está inserida, seu
traçado tangente ou curvo, presença de rampas e esconsidade;
d) As características da pista como número de faixas, acostamentos, existência
de passarelas ou ciclovias;
e) Deve-se registra a presença de anomalias, quando presentes;
f) A nota de classificação da ponte.
Todas essas informações devem ser comprovadas por meio de registros fotográficos
de modo que se possa ter uma visualização da situação, aspecto geral e esquema
estrutural. A norma recomenda que se tenha fotos das vistas superior, lateral e inferior
do tabuleiro, dos elementos da mesoestrutura e da infraestrutura, quando aparentes,
assim como das anomalias, quando presentes.
Juntamente com a ficha e os registros fotográficos deve-se anexar os desenhos
esquemáticos da planta do tabuleiro, e das seções típicas transversal e longitudinal,
com suas respectivas medidas principais.
Segundo a NBR 9452 dentro de um prazo não superior a 1 ano, a ponte ou viaduto
devem passar por uma inspeção rotineira. Durante essa inspeção são Verifica-se
também reparos e/ou recuperações efetuadas no período entre inspeções.
Cada inspeção rotineira deve apresentar uma ficha de inspeção contendo:
a) Informações básicas da ponte como identificação e localização;
b) O histórico das inspeções aobservados o aparecimento de anomalias, assim
como o crescimento das já constatadas em inspeções anteriores.nteriores;
c) Observações relacionadas a eventuais alterações do estado geral da construção
quando comparadas à inspeção anterior;
d) Registro de novas observações patológicas, quando existirem;
e) Informações consideradas importantes para a inspeção;
f) A nota de classificação da obra de arte após avaliação;
Além das inspeções rotineiras, as pontes e viadutos devem passar por uma inspeção
especial a cada cinco anos. A norma permite que esse intervalo seja estendido para
oito anos quando a ponte se enquadrar concomitantemente aos seguintes casos:
Ao longo da sua vida útil, poderá ser necessário que ocorram avaliações não
programadas. Essas são chamadas de inspeção extraordinária, as quais, segundo a
norma, deverão ocorrer associadas ou não a:
a) necessidade de avaliar com mais critério um elemento ou parte da ponte, podendo
ou não ser gerada por inspeção anterior;
As inspeções têm como finalidade a avaliação das condições das pontes e viadutos
no que diz respeito aos parâmetros estrutural, funcional e de durabilidade, dando a
cada um deles uma nota de acordo com os problemas detectados.
A NBR 9452 estabelece um critério para essa avaliação, o qual consiste em notas de
1 a 5 de acordo com as condições de conservação encontradas. Sendo 5 a nota para o
melhor cenário possível e 1 para uma condição crítica, onde é necessário intervenção
imediata para reparos. Na Tabela 1 apresentamos as características esperadas para
cada parâmetro de acordo com a condição avaliada.
Cada parâmetro recebe uma nota de acordo com a situação apresentada pela parte
da ponte avaliada e o descrito na Tabela 1. As notas são colocadas em uma ficha
de classificação, como mostrada na tabela 2, e a nota final será igual a menor nota
atribuída ao parâmetro analisado.
Elementos
Super Meso Infra
Parâmetro complementares Pista Nota final
estrutura estrutura estrutura
Estrutura Encontro
Estrutural
Funcional
Durabilidade
Tabela 2 – Modelo de ficha de classificação da Obra de Arte Especial
Fonte: NBR 9452 (2016, p. 9)
A camada asfáltica sobre o tabuleiro das pontes rodoviárias possui dupla função:
de acabamento para o tráfego dos veículos e também como proteção dos elementos
inferiores às intempéries. Logo, a superfície de rolamento deve ser mantida estanque
e limpa para garantir sua funcionalidade. Da mesma forma, as juntas de dilatação
devem manter a estanqueidade garantindo que a água não atinja as vigas e os apoios.
Os sistemas de drenagem devem conduzir as águas pluviais para fora da área da
estrutura de forma adequada e livre (DNIT, 2016).
De modo geral o asfalto que compõe as superfícies de rolamento, sofrem facilmente
quebra pelo envelhecimento e separação entre o pavimento e a laje. É comum que
para correção da rotura pela idade seja realizado recapeamento da superfície, todavia,
no caso de pontes e viadutos essa solução não é adequada uma vez que causará
sobrecargas e o desaparecimento dos guarda-rodas, drenos e juntas de dilatação.
Sendo assim, a manutenção dos pavimentos das pontes e viadutos consistem na
selagem de fissuras e na aplicação de camadas finas a base de asfalto, responsáveis
pela regeneração das características superficiais e melhoramento da impermeabilização
das lajes. Em alguns casos é necessário a remoção total do pavimento existente para,
posteriormente, refazer toda a camada asfáltica do tabuleiro.
Dessa forma o DNIT (2016) prevê em seu manual de manutenção uma série de
atividades programadas para manter os revestimentos de proteção e a limpeza dos
elementos das pontes e viadutos. Dentre essas atividades destacamos as seguintes:
a) Limpeza do sistema de drenagem: realizadas com uma frequência mínima
de uma vez ao ano. Ela tem por objetivo garantir o funcionamento adequado
do sistema de drenagem da obra de arte, buscando diminuir a afetação das
estruturas e possíveis acidentes por aquaplanagem;
b) Limpeza de juntas do tabuleiro: realizadas com uma frequência mínima de uma
vez ao ano. Elas garantem a funcionalidade e impermeabilidade das juntas de
dilatação, mantendo-as conforme o estabelecido no projeto da ponte;
c) Selagem de fissuras na superfície de rolamento: realizada a cada ano, essa
atividade busca garantir a proteção da estrutura fornecida pela superfície de
rolamento;
d) Limpeza de sinalização: programadas anualmente, para garantir a sinalização
adequada permitindo uma visibilidade adequada que permita uma trafegabilidade
segura;
e) Limpeza das superfícies expostas do tabuleiro: realizada a cada dois anos tem
como finalidade garantir a limpeza do tabuleiro para conservação da superfície
e continuidade do tráfego;
f) Selagem de trincas e fissuras em concreto: realizada a cada dois anos resume-
se na aplicação de material selante nas fissuras do tabuleiro para diminuição
do ingresso de água através dessas descontinuidades;
g) Pintura de elementos metálicos: prevista a cada dois anos com o intuito de se
prevenir a corrosão dos elementos estruturais metálicos;
h) Limpeza e manutenção de elementos de proteção: programada a cada dois
anos. Tem por objetivo garantir a limpeza dos elementos de proteção como
barreiras de concreto, defesas metálicas, guarda corpos e guarda rodas; a fim
de proteger o tráfego dos veículos e pedestres sobre a obra de arte;
CONCLUSÃO
ELEMENTOS COMPLEMENTARES
LIVRO
FILME
WEB
Fundado em 2016 pelo engenheiro Gilberto Vieira, o Blog dos Engenheiros tem como
objetivo ser um canal de compartilhamento de conteúdos relacionados às inovações
e tecnologias da construção civil.
<http://blogdosengenheiros.com.br/>
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS