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A
s pesquisas em história da Educação Matemática têm contri- (Organizadores)
buído para uma reflexão sobre múltiplas histórias de práticas
aproximações possíveis
escolares, bem como sobre a complementação de uma compreensão
ampliada dos processos estabelecidos historicamente nas aulas de mate-
E FORMAÇÃO DE
mática e nos processos de objetivação de saberes matemáticos em cada
um dos níveis de ensino. PROFESSORES
Iran Abreu Mendes aproximações possíveis
Coordenador da Coleção
ISBN 978-65-5563-023-7
9 786555 630237
HISTÓRIA DA
EDUCAÇÃO MATEMÁTICA E
FORMAÇÃO DE PROFESSORES:
aproximações possíveis
Coleção História da Matemática para professores
Conselho Editorial
Antonio Miguel – Universidade Estadual de Campinas, Brasil
Antonio Vicente Marafioti Garnica – UNESP/Rio Claro; UNESP/Bauru, Brasil
Circe Mary Silva da Silva Dynnikov – Universidade Federal do Espírito Santo, Brasil
Cláudia Regina Flores – Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil
Emmánuel Linzcano Fernandez – Universidad Nacional de Educación a Distância, Madrid/Espanha
Eva Maria Siqueira Alves – Universidade Federal de Sergipe, Brasil
Fulvia Furinghetti – Universidade de Gênova, Itália
Iran Abreu Mendes – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brasil
José Manuel Matos – Universidade Nova de Lisboa, Portugal
Luis Radford – Universidade Laurentienne, Canadá
Maria Célia Leme da Silva – Universidade Federal de São Paulo, Brasil
Miguel Chaquiam – Universidade do Estado do Pará, Brasil
Sergio Nobre – UNESP/Rio Claro, Brasil
Ubiratan D’Ambrosio – Universidade Bandeirante de São Paulo, Brasil
Wagner Rodrigues Valente – Universidade Federal de São Paulo, Brasil
Maria Célia Leme da Silva
Thiago Pedro Pinto
(Organizadores)
HISTÓRIA DA
EDUCAÇÃO MATEMÁTICA E
FORMAÇÃO DE PROFESSORES:
aproximações possíveis
2020
Copyright © 2020 Editora Livraria da Física/SBHMat
1ª Edição
Vários autores.
ISBN 978-65-5563-023-7
20-43854 CDD-510.7
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida
sejam quais forem os meios empregados sem a permissão da Editora.
Aos infratores aplicam-se as sanções previstas nos artigos 102, 104, 106 e 107
da Lei Nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998
ABERTURA 15
históricos. Igualmente, incita uma reflexão sobre as histórias das práticas
pedagógicas de professores que ensinam matemática e contribui para anali-
sarmos impactos das formações dadas aos professores para o ingresso em um
estilo de pensamento e da ação docente na constituição da área de Educação
Matemática.
Portanto, considero importante salientar que os pesquisadores que inves-
tigam sobre História da Educação Matemática (HEdM) têm apresentado con-
tribuições importantes para a formação de professores que atuam na Educação
Básica e no ensino Superior, com os resultados de pesquisas oferecendo um
rol mais diversificado de temas relativos à História da Educação Matemática,
tendo em vista o avanço dos estudos nessa área na atualidade. Nessa perspec-
tiva, o livro organizado por Maria Célia Lema da Silva e Thiago Pedro Pinto,
intitulado História da Educação Matemática e Formação de Professores: aproxi-
mações possíveis inclui-se na coleção História da Matemática para Professores,
uma vez que tem como meta contribuir para que os docentes de Matemática
possam tomar a diretriz histórica como um elemento problematizador e refle-
xivo acerca do desenvolvimento de ideias relativas às culturas matemáticas
escolares, bem como sobre a complementação de uma compreensão ampliada
dos processos estabelecidos históricamente nas aulas de Matemática e nos pro-
cessos de objetivação de saberes matemáticos nos níveis de ensino.
Este livro é resultado de reflexões sobre debates estabelecidos durante
e após a realização do IV Encontro Nacional de Pesquisa em História da
Educação Matemática ocorrido em 2018 na Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul (UFMS) e tem como principal finalidade oportunizar à comu-
nidade de pesquisadores e estudiosos desse campo acadêmico mais uma fonte
de conhecimento produzido que poderá contribuir em seus estudos futuros.
É assim que desejo aos leitores uma ampliação enriquecedora de seus
conhecimentos e avanços em seus estudos, em seus projetos de pesquisa, em
suas orientações acadêmicas, na formaçao de professores e em suas ações
docentes.
Referências
FLECK, Ludwik. Gênese e desenvolvimento de um fato científico. Belo Horizonte: Ed.
Fabrefactum, 2010. (Coleção Ciência, Tecnologia e Sociedade).
ABERTURA 17
PREFÁCIO: História da Educação
Matemática e Educação Matemática
José Manuel Matos1
Tanto quanto sei, Clements tem razão, visto que, pela primeira vez, um
texto de grande relevância internacional em EM integra na sua estrutura a
necessidade de conhecer o passado para prospetar o futuro. Em rigor, quase 20
anos antes, um relatório escrito para a UNESCO por ele e por Nerida Ellerton
(1996) com o título Mathematics Education Research: Past, Present and Future
já defende a importância de uma visão histórica para agir sobre o presente.
Após questionar a falta de relevância da maioria da investigação em EM para a
realidade quotidiana das escolas, o relatório propõe um novo enquadramento
epistemológico para a investigação em EM que preste atenção a quatro áreas,
valorizando, logo em primeiro lugar, o conhecimento histórico. As áreas des-
tacadas são:
Este livro é incomum, pois inclui uma análise histórica séria da história inter-
nacional da álgebra escolar e uma descrição de um estudo baseado em design
cujo objetivo era melhorar o ensino e a aprendizagem da álgebra do ensino
médio.
E os comos?
Após ter abordado as razões para a introdução de materiais do passado
do ensino da matemática nas aulas atuais, faltaria agora discutir comos, isto
é, os métodos para o fazer. Caberá, no entanto, a outros autores aprofundar
no futuro o tema de como implementar uma HEM em contextos de ensino e
aprendizagem da matemática, eventualmente seguindo o caminho proposto
por Clements e Ellerton.
Referências
ALMEIDA, A. J.; MATOS, J. M., Eds. A matemática nos programas do ensino não-superior
(1835-1974). Caparica: UIED e APM. 2014.
ALVES, C. O educador e sua relação com o passado. Educação em Revista, Belo
Horizonte, MG, v. 28, n. 3, p. 205-217, 2012.
BELHOSTE, B. Pour une réévaluation du rôle de l’enseignement dans l’histoire des
mathématiques. Revue d’Histoire des Mathématiques, v. 4, p. 289-304, 1998.
INTRODUCCIÓN
El título y el objeto de este capítulo es destacar que, cuando se ha querido
cambiar la escuela y, en particular, las matemáticas escolares, se ha utilizado
como medio la formación de los maestros, provocando cambios en los siste-
mas de formación de los mismos.
En este trabajo se presentan dos momentos de la Historia de la Educación
en España en los que se ha constatado que se quiso cambiar la enseñanza pri-
maria y, dentro de ella, la enseñanza de las matemáticas, y para ello se veía
necesario modificar el sistema de formación de maestros.
Esos dos momentos fueron la introducción de un sistema público de
enseñanza (1838) y la ampliación del currículo de la escuela primaria que se
produjo en 1901, ligado a un cambio administrativo de las escuelas primarias.
53
“El maestro es, o hace, la escuela; esto es, buena o mala”, dijo Pablo
Montesino (1841, p. 38) y Manuel Bartolomé Cossío (2007, p. 218), en 1912,
“La escuela no son los ladrillos, ni los mapas, sino el maestro”. Son frases
de dos personas influyentes en los momentos que vamos a comentar: Pablo
Montesino y Manuel Bartolomé Cossío. Las dos ponen el acento en que lo
importante para cambiar la escuela y tener una buena enseñanza es que los
maestros sean buenos, que estén bien formados.
En este trabajo, las dos primeras partes están dedicadas a las dos etapas
históricas que se consideran, comentando, en cada una de ellas, algunas de
las condiciones sociales y políticas que influyeron en los cambios legislativos
sobre la enseñanza primaria y la formación de maestros; se presentan esos
cambios legislativos y se particularizan al ámbito de la enseñanza de las mate-
máticas. Por último, se considera la evolución de la formación de los maestros
para enseñar matemáticas en las escuelas primarias y el carácter de una nueva
asignatura, definida en el Plan de 1931, la Metodología de las Matemáticas.
La educación en la legislación
La Constitución de 1812 sustituía la sociedad estamental de vasallos por
una sociedad de ciudadanos bajo el imperio de la ley. Para este cambio, tanto la
Constitución como las posteriores leyes liberales destacaban la importancia de
la educación, como ha señalado Puelles Benitez (1980, p. 55), “como sucesores
de nuestros ilustrados comparten con ellos la fe en la instrucción pública como
principal instrumento de renovación y de reforma”. Acorde con esa importan-
cia, el artículo 25 establece la necesidad de saber leer, escribir y contar para
poder ejercer los derechos ciudadanos, se dedica el título IX a la Instrucción
pública y, según el artículo 366, “En todos los pueblos de la Monarquía se esta-
blecerán escuelas de primeras letras, en las que se enseñará a los niños a leer,
escribir y contar, y el catecismo de la religión católica, que comprenderá tam-
bién una breve exposición de las obligaciones civiles”, y encarga a las Cortes
la legislación educativa (artículo 370). Sobre esta base, se elaboraron leyes y
reglamentos que definieron algo muy novedoso: el sistema educativo liberal.
Los primeros documentos que desarrollaron los principios constitucio-
nales fueron el Informe Quintana (1814), influido por el Rapport sur l’instruc-
tion publique de Condorcet, pero también por las Bases para la formación de
un plan general de Instrucción Pública de Jovellanos (PUELLES BENITEZ,
1980, p. 61-62), en el que se basó el “Reglamento de instrucción pública” de
1821, aprobado por las Cortes durante el Trienio liberal, pero que no pudo
entrar en vigor. En estos documentos se divide la enseñanza pública en pri-
mera, segunda y tercera, se afirma que la enseñanza pública debe ser universal,
gratuita y uniforme y, en lo que se refiere a la enseñanza primaria, la obligato-
riedad de establecer escuelas en todos los pueblos de más de 100 vecinos.
Constitución de 1812
se establecerán escuelas de primeras letras, en las que se enseñará a
(CONSTITUCIÓN
los niños a leer, escribir y contar
POLÍTICA, 1820, p. 103)
Proyecto de decreto
de 1814 (PROYECTO las reglas elementales de la aritmética
DE 1814, 1979, p. 383)
Escuela primaria elemental: Principios de aritmética, ó sea, las cuatro
reglas de contar con números abstractos y denominados.
Escuela primaria superior: 1º Mayores nociones de aritmética. 2.º
Principios de geometría y sus aplicaciones más usuales. 3.º Dibujo lineal.
Plan de instrucción Escuelas primarias de niñas: la enseñanza de estas escuelas á
primaria de 1838 las correspondientes elementales y superiores de niños, con las
(PLAN DE 1838, modificaciones sin embargo que exige la diferencia de sexo. Aunque
1856, p. 4, 11) haya menos concreción en los contenidos, el Plan de 1838 supuso
un cambio importante en las escuelas de niñas que las acercaba a las
correspondientes de niños; en esos momentos, las escuelas de niñas
se centraban en el aprendizaje de las labores y menos en la lectura y
escritura.
Recoge el Plan de 1838 con los siguientes cambios: En la enseñanza
elemental, estudio del sistema legal de medidas, pesas y monedas.
Ley Moyano (1857)
Se especifican las materias de enseñanza de las escuelas de niñas.
(LEY DE 1857, 1979,
En la primaria elemental, los contenidos matemáticos son iguales
244-245)
a los de los niños; no es así en la superior, con solo una materia
matemática: Elementos de dibujo aplicado a las mismas labores.
Es indudable que un muchacho que supiese una de las cuatro reglas, y fuese
llamado a ejecutarla a mi presencia, no haría mas que repetir las operaciones
expresadas en la clave; y si por otra parte tuviese yo que enseñar esta misma
regla a un discípulo que no tuviese todavía conocimiento alguno de ella, la
clave contiene también en sustancia lo que yo podía explicarle. Este medio de
las claves puede sustituir en alguna manera al maestro. [...] Los muchachos
son por lo general excelentes agentes para todo lo que no está fuera de su
comprensión, y en este caso, no quedando nada abandonado a su solo dis-
cernimiento, no pueden errar a no ser que se duerman, o lo hagan de intento.
(LANCASTER, 1818, p. 61-62)
En la figura 2 se han recogido los títulos de estas materias tal como apa-
recen en las leyes y los reglamentos.
Esta opinión fue repetida, por diversas personas a lo largo del siglo XIX
e, incluso, en el siglo XX. La profesión de maestro no estaba bien considerada:
los sueldos eran bajos, había retraso en el pago y una fuerte dependencia de las
autoridades locales: no merecía la pena ser maestro.
Y es que, más que los Planes de estudio, los artífices de las reformas en
las EENN fueron los antiguos alumnos de la ESM, los cuales crearon una aso-
ciación profesional, la Asociación del Profesorado de Escuelas Normales, crea-
ron y dirigieron revistas profesionales de gran influencia como la Revista de
Escuelas Normales, publicada por la Asociación del Profesorado de Escuelas
Normales o la Revista de Pedagogía, dirigida por Lorenzo Luzuriaga y que
fue el órgano de difusión en España de la Liga Internacional de la Educación
Nueva; también difundieron en España las ideas y realizaciones de la Escuela
Nueva, a través de traducciones, libros y artículos. Antiguos alumnos de la
ESM fueron algunos políticos del periodo de la Segunda República, entre los
que destaca Rodolfo Llopis, que fue Director General de Primera Enseñanza
entre 1931 y 1933.
En los veintitrés años de funcionamiento de la ESM la denominación de la
institución experimentó algunos cambios y se sucedieron siete Planes de estu-
dio (1909, 1911, 1913, 1914, 1919, 1921 y 1931); en todos ellos, para la espe-
cialidad de Ciencias hubo dos asignaturas matemáticas cuya denominación
fue variando; algunos de los títulos fueron Aritmética y Álgebra; Geometría
y Trigonometría; Metodología de las Ciencias Matemáticas; Complementos
de Matemáticas o, simplemente, Matemáticas (SÁNCHEZ JIMÉNEZ, 2015, p.
137-138).
El profesorado que impartió esas asignaturas era de nivel universitario
pero, como señala la profesora Encarna Sánchez Jiménez (2015, p. 141),
Referências
ANÓNIMO. Método de enseñanza mutua, según los sistemas combinados del Dr. Bell
y de Mr. Lancaster, para uso de las escuelas elementales ó de primeras letras;
aprobado por S.M., y mandado observar en la escuela central de Madrid y en las
demás que se esta clase se establezcan en España. Madrid: Imprenta Real, 1820.
AVENDAÑO, J. Elementos de Aritmética con el nuevo sistema legal de pesas y medidas.
Madrid: Im. de Araujo, 2. ed., 1852.
AVENDAÑO, J.; CARDERERA, M. Curso elemental de Pedagogía. Madrid: Im. A. Vicente,
1850.
BALL, D. L.; THAMES, M. H.; PHELPS, G. Content knowledge for teaching: what makes
it special? Journal of Teacher Education, Washington, n. 59, v.5, p. 389-407, 2008.
BALLARÍN DOMINGO, P. La Escuela Normal de Maestros de Almería (siglo XIX).
Grabada: Universidad de Granada y Diputación de Almería, 1987.
BURKE, P. ¿Qué es la historia del conocimiento? Cómo la información dispersa se ha
transformado en saber consolidado a lo largo de la historia. Buenos Aires: Siglo
XXI, 2017.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O presente capítulo tem por objetivo sintetizar a proposta de discussão
apresentada e debatida na mesa-redonda intitulada “A formação de profes-
sores que ensinam matemática – história e perspectivas atuais”, durante o IV
Enaphem. A ideia de retomar os temas – formação de professores que ensinam
matemática e história da educação matemática – já presentes no III Enaphem11
91
indica a complexidade em interlaçar estudos sobre as duas temáticas, conside-
radas ambas áreas de investigação num processo crescente de produção nas
últimas décadas, em particular, a partir do século XXI.
Para a quarta edição do evento, destacam-se o convite e a presença da
professora Adair Mendes Nacarato, especialista em formação de professores
que ensinam matemática e participante de projetos de âmbito nacional acerca
da temática desenvolvidos pelo Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Formação
de Professores − GEPFM, para dialogar mais proximamente com as pesqui-
sas em história da educação matemática. Do mesmo modo, considera-se rele-
vante a participação da professora Luzia Aparecida de Souza como integrante
do Grupo de Pesquisa História Oral e Educação Matemática − GHOEM, que
desenvolve projeto nacional sobre o mapeamento da formação e a atuação
de professores que ensinam matemática e coordenadora do Grupo HEMEP,
atuando especificamente no Mato Grosso do Sul. A contribuição da terceira
autora foi como mediadora da mesa, no propósito de ampliar o debate.
O capítulo está organizado pela ordem das respectivas falas, seguido
do debate desencadeado pela coordenação da mesa e, finalmente, algumas
reflexões.
professores”, título do livro organizado por Bruno Alves Dassie e David Antonio da Costa
e publicado em 2018.
12 Grupo interinstitucional, com sede na Faculdade de Educação da Universidade Estadual
de Campinas (FE/Unicamp), que congrega pesquisadores de cinco universidades pau-
listas: Universidade Estadual de Campinas (Unicamp); Universidade Estadual Paulista
(Unesp/Rio Claro); Universidade Federal de São Carlos (UFSCar); Pontifícia Universidade
Católica de Campinas (PUC-Campinas); Universidade São Francisco (USF).
14 O texto de Ana Maria Boavida e João Pedro da Ponte, “Investigação colaborativa: po-
tencialidades e problemas”, publicado em Reflectir e investigar sobre a prática profis-
sional. Organização GTI – Grupo de Trabalho de Investigação. Lisboa: Associação de
Professores de Matemática, 2002, p. 43-55 foi referência para alguns trabalhos publica-
dos no início da década de 2000.
Esses estudos nos mostram que o campo de pesquisa ligado à formação con-
tinuada do professor a partir da prática profissional – o qual envolve saberes,
A SUBJETIVIDADE NA FORMAÇÃO DE
PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA
O momento político em que vivemos traz consigo a necessidade de dis-
cussão acerca de uma perda de diferentes sensibilidades, e da necessidade
de novos modos de pensar. Walter Mignolo (2010) defende que, mais do
que uma visão de mundo, é fundamental falar em sensibilidades de mundo.
Apresentam-se, assim, alguns exemplos do que pode aparecer (e sua potência!)
quando interrogamos narrativas de docentes/discentes/gestores/analfabetos a
partir de interesses em afetos, quando se pensa de modo articulado a História
da formação do professor que ensina Matemática e a História do professor que
ensina Matemática.
Com roteiro de Luis Buñuel e Salvador Dali, o filme O cão andaluz (1928)
é considerado uma produção surrealista que rompe com a linearidade narra-
tiva trazendo múltiplas entradas sem necessária conexão. Ainda que esta obra
se apresente como uma quebra ao fluxo narrativo naturalizado, tentativas de
leitura do filme colocam-se na busca por uma articulação, por uma conexão,
por uma linha que na ação ou na intenção deveria amarrar as imagens apre-
sentadas em branco e preto. O filme provoca, pois, distintos movimentos, mui-
tos deles ligados a uma tentativa de racionalizar eventos e a sequência em que
estes são apresentados. O trecho que segue é a primeira cena deste filme, sua
inserção não é feita, contudo, com o intuito de racionalizar seu conteúdo e,
sim, como um apelo de que o leitor se atente a seu próprio corpo, aos movi-
mentos que ele faz durante a cena que se apresenta. Sugere-se ainda que não se
apresse em encontrar uma palavra para descrever esse movimento.
Segue a cena15:
Se uma visão linear de tempo nos coloca muito distante dessa perspec-
tiva, ações políticas educacionais atuais nos mostram que não. Em diversas
narrativas produzidas com professores de Mato Grosso do Sul (em situações
de ensino, pesquisa e/ou extensão), informações sobre o plano de carreira
emergem. Considerando a tabela de salários desse estado para professores,
vigente a partir de dezembro de 2018, tem-se, para o caso de 20 horas sema-
nais, o que segue:
Quadro 03: Níveis, Classes e Salários de Professores da rede estadual de ensino de Mato Grosso
do Sul
Há, portanto, oito classes nas quais se transita por tempo de serviço e qua-
tro níveis de formação: I- Habilitação específica de nível médio, II- Habilitação
específica de ensino superior, III- Habilitação específica de pós-graduação,
obtida por curso com mais de 360 horas, e IV- Habilitação específica, obtida
em curso de mestrado. A progressão na carreira é tomada como a passagem
de um nível para outro dentro de uma mesma classe, e a promoção é conside-
rada a mudança de classe. O curso de Doutorado é mencionado somente nos
casos de aceleração da promoção como quando, após o Estágio Probatório,
aquele que possui diploma de Doutorado pode migrar da Classe A para a C;
É, ela falava: “Gente, mais tem que trocar, essa Matemática tá antiga, vamos
tirar isso daí, vamos levar essa Matemática pra Campo Grande e a gente traz
outro curso semelhante ao de Letras”. Aí, a turma da Matemática ameaçava:
“Oh, se fizer isso nós não vamos trabalhar mais, nós vamos embora, por que
nós temos que mudar daqui pra Campo Grande? Não dá certo!” Porque se
falasse que o curso vinha pra Paranaíba não era problema. Um dia eu sugeri:
“Leva Matemática pra Paranaíba”, aí eles falaram: “Mas Brandini, lá é Direito,
não tem nada a ver!” Falei: “Manda o Direito pra Cassilândia, porque o pre-
feito está louco por esse curso!” Aí, eles: “Ah, mas aí vamos contrariar o pre-
feito de Paranaíba!” O prefeito de Paranaíba sempre deu verba pra eles, e o da
Cassilândia não dava nada. (GUEDES, 2018, p. 130)
Quanto à minha expectativa sobre essa formação, eu acho que foi até mais
positiva do que eu imaginava: quando eu falei que muitos vieram extrema-
mente motivados para aprender. Tomávamos como ponto de partida o nosso
próprio desgaste, vínhamos trabalhando o ano inteiro e ainda trabalhávamos
em julho e janeiro. Tínhamos ressalvas, muito medo nesse sentido, se seria
uma formação boa, uma formação ideal, se estaríamos bem para poder dar
essas aulas. (ALMEIDA, 2017, p. 81)
Aqui o plano de carreira entra em questão, mas quem está à frente des-
ses movimentos de luta tem que pensar com quem estão negociando, qual o
perfil do governo com o qual precisa dialogar para decidir se uma luta que
se entende como necessária vale ou não a pena tendo em vista o que se pode
perder. As necessidades ou os direitos em si mesmos não são suficientes para
uma mobilização coletiva em Educação, esta é moldada, também, pelo medo
do retrocesso.
Quando o assunto é o ingresso nas escolas como docente, a tese em anda-
mento de Ana Carolina de Siqueira Ribas dos Reis aponta inúmeros afetos:
[... e quando uma professora contratada teve sua imagem exposta na rede
social por um aluno e sentiu medo em falar com a direção, Cravo se coloca
novamente]
“Não! Pode deixar que eu falo, então!”. Como fui eu quem falou, tomaram pro-
vidências, mas tive que ir lá e falar. Expliquei para a professora “Não, não vou
deixar você desamparada. Você está no seu direito, por que você tem que ficar
quieta? Se precisar de alguma coisa pode me dizer que eu falo”. Eu disse “Agora
eu não tenho o que temer”, pois eu já era concursado. (REIS, 2019)
Essa é a questão, eu não critico ela como aula, só como tratamento das pessoas
no meio da aula. Pelo tratamento das pessoas que a turma ia se esvaziando
e também por ser uma matéria difícil, meio complicada, os alunos vinham
com dificuldade e lá no momento ela nem sempre sanava essa dificuldade e
ainda dizia: “se você não sabe essa dificuldade, que bom, seu lugar não é aqui”.
(OLIVEIRA, 2018, p. 146)
É que foi assim, a gente estava tendo Prática V na época, aquilo foi muito
novo, todo mundo estava gostando da aula, realmente era uma Prática de
Ensino que a gente estava aprendendo muito. Daí a gente queria aplicar isso
no Estágio, aplicar o que estava aprendendo, a gente estava montando um
plano de aula diferente, construtivista como ele estava falando, tentamos
escrever isso, montamos, revisamos bastante, aí a gente entregou para a pro-
fessora e ela não aceitou, acho que ela mal leu, a gente estava com ela na sala,
acho que ela leu uma linha, a gente foi acompanhando com ela, aí ela falava:
“aqui não faz sentido”, e a gente tentava explicar pra ela o que a gente queria
propor, mas mesmo assim ela não aceitava e ela descartou completamente
a ideia que a gente teve e falou pra gente remontar o plano de aula. A gente
estava tipo em uma reunião, quase brigando, aí ela soltou uma frase assim: “Se
fizer do jeito que eu quero vocês vão passar, então...” A gente ficou quieto e foi
lá fazer o plano de aula do jeito que ela queria e esse foi o Estágio que a gente
teve. (OLIVEIRA, 2018, p.161)
[...]
A minha mãe, uma vez, entregou eu pra uma professora, eu tinha uns 12 ano
de certo. Ela deixou eu com essa professora pra eu trabalhar, ela não preci-
sava me pagar, mas era pra ela me ensinar a ler, escrever, fazer ao menos meu
nome. Eu trabalhei dois anos com essa dona, eu cuidava de uma criança pra
ela e ela nunca pegou um caderno pra falar pra mim fazer meu nome pra ela
ver, ela nunca me ensinou. Trabalhei tudo tempo com ela, mas eu num conse-
gui nada porque ela nunca me ensinou. (SOARES, 2019, p. 86; 87-88)
Segundo este autor, há, então, “[...] momentos em que os corpos precisam
se quebrar, se decompor, ser despossuídos para que novos circuitos de afetos
apareçam” (SAFATLE, 2016, p.36). O desamparo não seria, assim, algo a ser
evitado. É importante nos abrirmos a um outro que nos desestabilize e convi-
ver com a desestabilização, sem cair num movimento de buscar rapidamente
por uma situação que te faça novamente se sentir “seguro”, que te afaste de um
medo que de um modo ou outro está sempre presente.
Nesse sentido, há alguns desafios a serem pensados. Ao observar a pers-
pectiva aqui apresentada a partir de Vladimir Safatle, é importante pensar em
um abandono da noção de autonomia na docência e na formação de professo-
res, pois pensar em autonomia, no sentido de autogoverno, é falar de alguém
que opera no governo de si sem pensar que, para isso, essa pessoa já internali-
zou as normas e questões disciplinares. O autor propõe pensar em termos de
heteronomia, no sentido de uma abertura ao outro, ao que nos desconcerta,
nos despossui e nos faz reconstruir nossa própria ideia sobre nossos desejos e
afetos.
Nesse momento político em que é possível assistir à construção de uma
narrativa deturpada e perigosa sobre a Educação, a Docência e a Universidade
Pública, faz-se extremamente necessário trabalhar com/sobre/na formação de
professores, procurando abraçar o desamparo e fugindo de movimentos que
buscam invisibilizar o outro. É importante compreender que essa ação se faz
fundamental ou na formação ou na atuação de professores, em que o silêncio
opera como sinônimo de respeito ao professor, seja na pesquisa que, muitas
vezes, produz invisibilidade, ao desconsiderar certos tipos de fontes, narrativas
pessoais, subjetividades na academia.
Há nesse mundo mais medo de coisas más, do que coisas más propriamente
ditas. Para fabricar armas, é preciso fabricar inimigos e para fabricar inimigos
é imperioso sustentar fantasmas. Não há hoje no mundo um muro que separe
os que têm medo dos que não têm. Citando Eduardo Galeano, os que traba-
lham tem medo de perder o trabalho, os que não trabalham tem medo de
nunca encontrarem um trabalho. Quando não tem medo da fome, tem medo
da comida. Eu acrescento: há quem tem medo que o medo acabe. (COUTO,
2011)
PROBLEMATIZANDO A SUBJETIVIDADE
COM PROCESSOS DE OBJETIVAÇÃO
As falas das professoras convidadas Adair e Luzia indicam similarida-
des ao apontarem tendências nos estudos sobre a formação de professores que
ensinam matemática cujo foco é ressaltar, valorizar, enfatizar a participação
dos professores nas pesquisas, com destaque para a análise e a compreensão
de suas atitudes, crenças, representações, saberes, competências, medos etc.,
elementos caracterizados pela subjetividade dos sujeitos. Com o intuito de
problematizar o conceito de subjetividade tratado nas duas abordagens, seja
na presença expressiva de número de estudos que evocam essa vertente, como
nos exemplos de estudos desenvolvidos pelo grupo HEMEP de Mato Grosso
do Sul, a coordenadora da mesa, professora Célia traz para o debate ponto de
vista distinto – estudo que discute processos de objetivação, em particular, o
editorial publicado na Revista Amazônia:
Bem mais recentemente, outras bases têm sido mobilizadas visando estudos
sobre os saberes profissionais. Esses recentíssimos estudos vêm destacando
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise do mapeamento das dissertações e teses entre 1978 e 2012 aponta
mudanças significativas, entre elas a virada paradigmática das investigações
Uma apresentação
Os textos que seguem “História da Educação Matemática e Formação de
Professores: reflexões, indagações, desafios”, de Maria Laura Magalhães Gomes,
e “Interrogações sobre o passado e o presente: aprendendo com a História da
Educação Matemática”, de Elisabete Zardo Búrigo, são frutos da mesa-redonda
“A História da Educação Matemática nos cursos de formação de professores”,
realizada no IV Enaphem em 2018. Como podemos contextualizar esses textos
125
no debate sobre a temática da Mesa? Nessa pequena apresentação eu exponho
minhas interpretações sobre esse processo, a partir de considerações sobre a
inserção de questões historiográficas no curso de formação de professores.
***
28 Miguel (1997, p. 74) faz um levantamento “[...] a partir da leitura e análise de uma docu-
mentação básica construída de artigos publicados em revistas nacionais e internacio-
nais de Educação Matemática, súmulas contidas em Anais e Encontros nacionais e inter-
nacionais de Educação Matemática, capítulos de livros e referências esparsas contidas
nas obras de matemáticos, historiadores de matemática e educadores matemáticos”.
Cabe citar que este trabalho é uma síntese de parte da tese de doutorado desse pes-
quisador (MIGUEL, 1993).
inclusão de tal disciplina nos cursos de formação de professores, por si só, não
garantiria que a mesma se revertesse em um instrumento de apoio à prática
docente. Haveria necessidade de aprofundamento da discussão relativa aos
objetivos que uma disciplina dessa natureza viria a se cumprir na formação do
professor. (ANAIS I Epem, 1989, p. 241 apud MIGUEL; BRITO, 1996, p.48)
Nesse debate, podemos retomar Gomes (2010), que nos apresenta o texto
de Garnica (2006), sobre as “potencialidades de uma vertente mais específica
da História da Educação Matemática”, a saber, “a interface da História Oral e
Educação Matemática”. Para Gomes (2010), Garnica argumenta a favor de uma
“participação da História na formação dos professores”, mas “não se detém em
uma discussão, como Valente e Miguel e Miorim o fazem, sobre uma opo-
sição ou integração entre História da Matemática e História da Educação
Matemática” (GOMES, 2010, p. xvii). Segundo essa pesquisadora,
Cabe destacar que Garnica (2006) não defende a introdução de uma dis-
ciplina específica no curso de licenciatura em Matemática. Para ele,
29 A fala que então proferi foi publicada como um capítulo (GOMES, 2016) do livro alusivo
ao evento, que foi organizado por Garnica (2016).
30 Texto assinado por Iran Abreu Mendes, Maria Cristina Araújo de Oliveira, Elisabete Zardo
Búrigo e David Antônio da Costa.
31 O capítulo foi escrito por Luzia Aparecida de Souza, Diogo Franco Rios e Heloisa da Silva.
32 Disponível em: https://enaphem.wordpress.com/historico/. Acesso em: 03 out. 2019.
(a) que a história da educação começa com sua experiência – memória – pes-
soal e profissional dessa educação e que antes dessa experiência só existe um
magma mais ou menos confuso e invariável; (b) que tal história está centrada
ou gira em torno de seu campo disciplinar e do nível educacional a que per-
tencem; e (c) que qualquer tempo passado – em especial aquele em que fize-
ram seus estudos ou outro tempo mítico não concretizado – foi melhor que o
atual naquilo que se refere à educação. (VIÑAO, 2012, p. 105-106)
33 “O movimento Escola sem Partido defende que apenas a família e a religião podem
educar, e os professores devem se restringir a instruir os alunos com o único objetivo de
qualificá-los para o trabalho. Tal assertiva qualifica o projeto como uma iniciativa que
busca destruir o caráter educacional da escola e da sala de aula como espaço de de-
bate e aprendizado para a vida” (PENNA, 2018, p. 111).
34 Em abril de 2019, o poder executivo encaminhou à Câmara dos Deputados, via Ministério
da Mulher, Família e Direitos Humanos, o projeto n. 2401/2019, que se fundamenta no
direito de os pais escolherem o ensino pela família ou pela oferta escolar pública ou
privada (CURY, 2019).
Minerando fontes
O exame de programas, manuais escolares, livros didáticos, provas,
cadernos escolares, bem como a escuta de depoimentos registrados em tex-
tos, áudio e/ou vídeos, podem ser disparadores de provocações. O que diz o
documento ou o depoimento? Por quem e como foi produzido? Para quem?
Para quê? Por que foi guardado ou registrado? Os documentos tomados como
fontes são buscados em diferentes coleções.
A Biblioteca do Instituto de Matemática e Estatística da UFRGS tem um
amplo acervo de livros didáticos, publicados desde os anos 1940, herdados da
antiga Faculdade de Filosofia, muitos deles com uma dedicatória em primeira
página, ou rabiscos dispersos, anotados pelos doadores, antigos professores
ou alunos do curso de Matemática. Passear entre as estantes, observar livros
de diferentes tamanhos, encadernações, tipos de impressão, folhear as pági-
nas, observando a disposição dos textos, fórmulas, ilustrações e exercícios,
sentindo a porosidade do papel, cheirando as marcas do tempo, é um pre-
âmbulo interessante à análise de trechos ou capítulos, diferente das buscas na
Refletir sobre a autoria dos textos, as intenções com que foram produzi-
dos, a importância que a eles foi atribuída na época de sua produção e circu-
lação, também é um objetivo do estudo da História da Educação Matemática.
O distanciamento em relação ao passado permite aos licenciandos perceber,
com mais nitidez, que a educação escolar é um espaço marcado por conflitos
36 Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/1769 . Acesso em: 10 out.
2019.
37 Disponível em: http://www.ghemat.com.br/paginas/about_ghemat.htm . Acesso em: 10
out. 2019.
Uma conversa comum que se tem ao conversar com colegas, com professores
ou com qualquer pessoa envolvida no planejamento da aula é que, ao se usar
alguma tecnologia durante a aula, não se deve usá-la sem nenhum sentido
ou objetivo em mente, apenas com o fim de poder dizer que se está “fazendo
algo diferente”. [...] No entanto, a BNCC não dá orientações sobre o uso de
tecnologias em sala de aula. Ela é extremamente limitada no que diz respeito
a esse quesito, de modo que, como destacado no texto, a ideia que fica é que a
BNCC orienta a usar tecnologias apenas pelo propósito de poder dizer que as
está usando, sem nenhum objetivo final em vista. (L., 2019/1)
39 Coleção de CDs “Os Exames de Admissão ao Ginásio 1931 A 1969”, produzida pelo
GHEMAT-SP, pela digitalização de documentos do Arquivo da Escola Estadual de São
Paulo.
Ele relata que ia para o colégio “porque tinha que estudar” [...], que não viam
muita aplicabilidade naqueles conteúdos, mas como todos iam, eles enten-
diam que tinham que ir também e iam sem questionar. (V., 2019/1)
[...] em vários momentos da nossa conversa ela fala que naquela época os
alunos realmente aprendiam a matéria. Isso me faz pensar se ela acredita que
atualmente os alunos não aprendem de fato os conteúdos vistos na escola,
e isso é um pensamento muito comum hoje em dia, as pessoas acreditam
mesmo que o ensino de anos atrás era melhor que o de hoje. E acredito que
as pessoas tenham essa impressão justamente porque o formato do ensino
mudou desde os anos 1960 e as pessoas já não sabem mais verdadeiramente
como é a escola dos dias de hoje. [...] Para ela o professor era sério e solene,
hoje em dia os professores também são sérios, mas sem dúvida existe uma
maior preocupação com o aluno de fato. (P., 2019/1)
Iniciação à pesquisa
Valente (2008, 2010) argumenta que o estudo do passado é necessário
para identificarmos, nas práticas correntes da educação matemática escolar,
as heranças dos nossos antepassados, como a ênfase nos exercícios a serem
realizados pelos alunos, ou as preocupações de articular o ensino com a vida
cotidiana. Matos (2018) observa que o estudo do passado nos ajuda não ape-
nas a identificar as permanências, mas também a valorizar as mudanças.
Interrogar representações que glorificam ou menosprezam as práticas
do passado, depreciando ou mistificando as realizações do presente, é uma
segunda motivação para o estudo da História da Educação Matemática, em
torno da qual convergem diferentes autores. Valente (2013, p. 28) argumenta
que a apropriação da história permite ao professor “se relacionar de modo
menos fantasioso e mais científico com esse passado”.
Uma terceira motivação para o estudo da História da Educação
Matemática seria a de construirmos uma memória coletiva da escola e da
Referências
ALVAREZ, T. G. A Matemática da Reforma Francisco Campos em ação no cotidiano
escolar. 2004. 270f. Dissertação (Mestrado em Educação Matemática) – Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, São Paulo.
ALVES, C. A. O educador e sua relação com o passado. Educação em Revista, Belo
Horizonte (MG), v. 28, n. 3, p. 205-217, 2012.
ALVES, N.; OLIVEIRA, I. B. Uma história da contribuição dos estudos do cotidiano escolar
ao campo do currículo. In: LOPES, A. C.; MACEDO, E. (org.). Currículo: debates
contemporâneos. São Paulo: Cortez, 2002. p. 78-102.
BIGODE, A. J. L. Base, que base? O caso da Matemática. In: CÁSSIO, F.; CATELLI Jr.,
R. (org.). Educação é a Base? 24 educadores discutem a BNCC. São Paulo: Ação
Educativa, 2019. p. 139-159.
BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais: Matemática. Brasília: MEC, SEF, 1998.
173
democraticamente o protagonismo de pesquisadores – via de regra concen-
trado nas atividades desenvolvidas por convidados – como realça a vitalidade
de múltiplos olhares, vindos tanto de pesquisadores consagrados quanto de
pesquisadores com carreiras mais recentes, nos estudos realizados no campo
da História da Educação Matemática no Brasil. Comprovam claramente que o
conhecimento é, sempre, uma construção coletiva e em perspectiva, efetivada
por olhares que, mesmo sendo múltiplos e distintos, convergem na homoge-
neidade da tarefa que é compreender aspectos do movimento de ensinar e
aprender Matemática no correr dos tempos. Tendo uma duração estendida em
relação, por exemplo, às sessões orais de comunicação de pesquisa, as mesas
submetidas possibilitam também uma discussão mais aprofundada de seu
tema e, em seu conjunto, dão um panorama de alguns objetos e abordagens
que têm marcado ou frequentado a produção mais recente dos pesquisadores
ou são, digamos, inaugurais, isto é, foram recentemente introduzidos em algu-
mas práticas de pesquisa.
Na quarta edição do Enaphem, realizada em Campo Grande (MS), no
ano de 2018, foram aprovadas sete “mesas-redondas submetidas”, envol-
vendo diretamente, portanto, 21 pesquisadores, e nelas foram apresentados
temas variados de pesquisa que vão desde o ensino de Matemática em cursos
técnicos e as atividades escolares específicas marcadas pelo saber fazer – os
Trabalhos Manuais – em sua vinculação com o ensino e a aprendizagem de
Geometria, passando por questões de fundo metodológico – como é o caso
da História Oral praticada na pesquisa em História da Educação Matemática
–, até uma abordagem teórica e procedimental sobre os repositórios digitais
e acervos escolares, discussão essencial, pois vinculada à disponibilização de
fontes historiográficas. Conceitos que mais recentemente começaram a cir-
cular nos trabalhos brasileiros inscritos no campo da História da Educação
Matemática – como é o caso dos “saberes” e das ideias de expert e expertise –
também transitaram pelo espaço dessas mesas submetidas. Os textos integrais
que compuseram cada uma dessas atividades estão disponíveis nos Anais do
evento, mas um breve comentário – que é assumidamente interpretativo, pois
realizado pelo autor deste capítulo a partir da releitura dos textos e de seus
A queda do Estado Novo não veio alterar tal situação. Se num primeiro
momento o governo Gaspar Dutra rompia com a concepção varguista de
nacionalismo econômico e intervencionismo, adotando o liberalismo econô-
mico, logo tal política foi refutada, devido ao esgotamento das reservas a ao
crescimento da dívida externa. Já a partir de 1947, adota-se um maior con-
trole cambial e das importações, privilegiando-se alguns setores tais como
a maquinaria, o que acabou beneficiando o setor industrial. [...] Ao mesmo
tempo, redefinem-se as condições da dependência brasileira em relação aos
E.U.A. Com o final da Segunda Grande Guerra e o advento da Guerra Fria,
verifica-se uma mudança no processo de construção da hegemonia estadu-
nidense junto aos países latino-americanos. O novo governo identificava-se
com a defesa dos “valores ocidentais”, colocando-se claramente ao lado dos
E.U.A. na polarização que se desenhava no mundo pós-guerra..
46 Além das referências – incidentais e naturais – a fontes de naturezas diversas que com-
põem os Acervos Pessoais exemplificados, em seu texto Valente aponta a importân-
cia dessa variedade, vinculando-a aos estudos em História da Educação Matemática:
“A pesquisa em história da educação matemática, desde os anos 1990, quando mais
incisivamente surgiram estudos que se propuseram a trazer reflexões sobre o passado
do ensino de matemática ao recente campo da Educação Matemática, pautaram-
-se por apropriações dos campos da História da Matemática, da História da Educação,
da Filosofia da Educação, dentre outras searas disciplinares. Pouco a pouco, tais es-
tudos foram alinhando-se aos estudos históricos em termos dos referenciais utilizados,
marcadamente dando destaque à História Cultural. Sob essa rubrica generalizadora, as
pesquisas em história da educação matemática privilegiaram tratamentos considerados
qualitativos na interpretação dos documentos utilizados como fontes de pesquisa. Não
raro, sejam esses documentos tidos como fontes orais ou como documentação textual,
fotográfica etc. a abrangência e extensão dos dados de pesquisa mostraram-se restritas:
um conjunto diminuto de depoentes; um, dois, três ou coleção de obras didáticas de um
dado autor etc. Nesse contexto de investigação, os resultados obtidos tenderam a ligar-
-se diretamente à restrição dada pelas fontes e à sua quantidade, o que é algo evidente
de se esperar. No mais, caberia a novos estudos definir outros contextos e grupos de no-
vas fontes a serem exploradas para, em momento futuro, haver possibilidade de diálogo
entre esses diferentes contextos sobre o tema tratado em cada monografia realizada”.
47 Sobre esse tema, impossível não fazermos mais uma vez referência a Darnton (2010) e
Eco e Carriere (2010).
48 Note-se que tratar de acervos orais, como faço aqui, é, também, uma redução, já que
há fontes registradas em outros suportes – as fontes pictóricas ou, de modo geral, as
fontes materiais (bordados, maquetes...) como os trabalhos de estudantes em aulas de
Trabalhos Manuais, por exemplo – não foram mencionadas, se não acidentalmente,
quando tratando do tema dos arquivos e repositórios.
49 Torna-se obrigatória essa referência, posto que a periodização dos trabalhos apresen-
tados nessa mesa, acerca do ensino de Matemática e da formação de professores de
Matemática sulmatogrossenses envolve, ao mesmo tempo, momento anterior e posterior
a 1979, quando ocorreu a divisão do estado Mato Grosso. O que antes de 1979 era o sul
do Mato Grosso passa a ser o estado do Mato Grosso do Sul.
50 Esse parêntesis justifica-se diante do modo como, atualmente, a literatura sobre forma-
ção de professores diferencia os professores formados em cursos de Licenciatura em
Matemática, que atuam ensinando Matemática no ensino secundário (os “profes-
sores de Matemática”) dos professores com formação mais genérica, em cursos de
Pedagogia, que trabalham com o ensino de Matemática e de outras disciplinas na esco-
laridade básica (os “professores que ensinam Matemática”). As Licenciaturas Parceladas
na região da qual tratamos aqui ocorreram em dois momentos distintos, cada um deles
voltado à formação desses dois perfis profissionais.
51 Até onde conhecemos, apenas duas investigações, até o momento, lançam mão da
Hermenêutica de Profundidade para analisar textos criados a partir de entrevistas (o que
temos chamado, de modo simplificado, de fontes orais, ainda que essas fontes tenham,
tanto como as outras, suporte escrito). Trata-se dos trabalhos de Bagio (2014) e Gonzales
(2017), desenvolvidos num mesmo Grupo de Pesquisa.
52 Forma simbólica é, em resumo, sinônimo de “construção humana intencional”.
53 Uma instituição é, sinteticamente, composta por um conjunto de indivíduos que opera
a partir de um conjunto de normas definidas, gerenciadas, validadas e avaliadas nesse
e por esse coletivo. Isso implica podemos considerar um Grupo de Pesquisa, por exem-
plo, como uma instituição do mesmo modo como o são a Igreja, a família, o Estado, os
Tribunais, a escola etc.
54 Essa minha posição deve ser bem marcada: as demais mesas, ao contrário dessa que
passo a discutir, tratam de temas (no caso, o ensino técnico, os acervos e a História Oral)
que estão no meu leque de interesses e que, por isso, são a mim, de certo modo, mais
familiares.
“[...] saberes para ensinar [são] os saberes sobre o aluno, seus conhecimen-
tos, seu desenvolvimento e maneiras de aprender; saberes sobre a prática
de ensino e saberes sobre a instituição que define o seu campo de atividade
profissional. Em outras palavras, constituem saberes específicos da docência,
cuja referência é a expertise profissional de cada professor. Para Valente, se o
“saber a ensinar” constitui o objeto de trabalho docente, o “saber para ensi-
nar” traduz-se como um saber capaz de tomar esse objeto constituindo-se
como um ensinável, um saber como instrumento de trabalho. /.../ Ademais, a
produção destes saberes se dá pela via dos experts, sujeitos responsáveis pela
produção de novos saberes para o campo pedagógico. (Guimarães, O dese-
nho para ensinar na formação de professores primários paulistas: a expertise de
Cimbelino de Freitas. In: Enaphem, 2018).
Concluindo
Deve-se reconhecer que não há como encerrar este texto – que teve a
intenção e a pretensão de ser uma apresentação sintética e problematizada
das mesas-redondas submetidas e apresentadas durante o IV Enaphem – com
uma síntese ou com algumas questões. Pode-se dizer, sem dúvida, que todos os
temas focalizados nessas atividades têm a potencialidade de serem retomados
em outros momentos, dada a riqueza que os caracteriza e as questões que per-
mitem entrever. Finalmente, não custa reafirmar, à luz do que tentei elaborar
aqui, a importância e a necessidade, vitais para o desenvolvimento qualitativo
de qualquer campo do conhecimento, de momentos públicos e coletivos nos
quais conceitos, temas e estratégias de pesquisa sejam discutidos, apresenta-
dos, subvertidos ou ressignificados.
Referências
AMORIM, M.L. O surgimento da Comissão Brasileiroamericana de Educação Industrial
(CBAI). História da Educação, ASPHE/FaE/UFPel, Pelotas, n. 23, p. 149-171, set./
dez 2007.
ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA,
4., 2018, Campo Grande (MGS).Anais [...], 2018. Disponível em: https://periodicos.
ufms.br/index.php/ENAPHEM/issue/view/498. Último ecesso em: 23 jan. 2019.
BAEZA, T. M. M. Manual de trabalho em arquivos escolares. Secretaria da Educação-São
Paulo: CRE Mário Covas, IMESP, 2003.
Introdução
Os livros do Enaphem não são um compilado ou uma versão resumida
dos anais do evento. Ainda que cumpram, de alguma forma, também estas
funções, eles pretendem lançar um olhar reflexivo e sistemático sobre o pró-
prio evento ocorrido, algo impossível aos trabalhos que compõem os anais. Em
195
sua quarta edição, o Encontro Nacional de Pesquisa em História da Educação
Matemática reuniu em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, pesquisadores de
todo o País que submeteram trabalhos nas modalidades comunicação oral e
mesa-redonda, além de algumas palestras e mesas-redondas convidadas com
pesquisadores nacionais e internacionais. Coube-nos o difícil exercício de
lançar olhar para os trabalhos submetidos às Sessões Coordenadas que são,
em sua maioria, relatos de pesquisas de doutorado e mestrado. Os trabalhos
enviados para o encontro apresentaram discussões sobre pesquisas iniciais, em
desenvolvimento ou finalizadas e por essa diversidade de fases, o conteúdo
dos textos submetidos varia consideravelmente. Em alguns são apresentadas as
intenções de pesquisa, o que se pretende fazer, enquanto em outros, os dados,
a metodologia utilizada para a produção das fontes e os resultados de pes-
quisa. A diversidade não para por aí, mesmo entre aqueles que enunciaram em
seus textos uma determinada metodologia ou um determinado teórico havia
diferenças, uma consequência das distintas escolhas de cada pesquisador no
processo investigativo.
A submissão de artigos não dispunha de possibilidades de indicação para
qual Sessão o trabalho seria destinado, ou alguma outra temática ou metodo-
logia que pudesse aglutinar previamente, por parte dos autores, esses textos.
Tínhamos em mãos 24 Sessões Coordenadas e cada uma delas com a média
de três trabalhos que foram assim aglutinados pelos presidentes da Comissão
Científica do evento. Precisávamos, então, criar modos de proceder com a lei-
tura de tantos artigos e conseguir, a partir dela, lançar apontamentos sobre este
numeroso conjunto.
Referenciais teóricos, períodos de análise, grupos de pesquisa a que per-
tenciam foram logo sendo descartados como possibilidade de aglutinação/
divisão dos trabalhos, pois algumas dessas escolhas nos levariam para um
caminho que poderia ser percorrido sozinho quando da leitura desses tra-
balhos. Definimos olhar para as fontes, quais eram mobilizadas, como eram
mobilizadas e a quais perguntas elas respondiam no escopo dos trabalhos. Em
se tratando de pesquisas em História da Educação Matemática, olhar para o
modo como essas fontes têm sido trabalhadas poderia nos ajudar a compor
um panorama de como esse campo tem sido construído.
Nossa primeira triagem buscou elencar quais eram as fontes utilizadas
nas pesquisas, às quais os textos faziam referência, e em quais quantidades.
Quantidade de
Eixos
Trabalhos
Legislação 18
Materiais para o professor ou para a sala de aula 17
Entrevistas 20
Outros: trabalho com acervos pessoais ou institucionais; teses,
15
dissertações e artigos; cadernos de alunos; jornais
Fonte: elaborada pelos autores
Legislação
Os trabalhos que relataram ter mobilizado a legislação como fonte prin-
cipal para responder a questão de pesquisa, não explicitaram o que compre-
endem por lei ou legislação, sentimos, no entanto, a necessidade de tecermos
algumas possibilidades de entendimento. Se consultarmos o dicionário
Michaelis da Língua Portuguesa64, atribui-se à palavra lei, atualmente, uma
os cidadãos devem respeitar a lei. 2. Ordem, regra ou prescrição que tem autoridade
absoluta ou inquestionável. 3. O conjunto de costumes, práticas ou regras que cons-
tituem a lei orgânica, prescrevendo a natureza e as condições de existência de um
Estado ou de outra forma de comunidade organizada. 4. Tudo que é juridicamen-
te obrigatório. (MICHAELIS. UOL, 2019). Disponível em: http://michaelis.uol.com.br/
busca?r=0&f=0&t=0&palavra=lei. Acesso em: 2 dez. 2019.
65 Ampliando nossas compreensões, conforme indicado no minidicionário Rideel da Língua
Portuguesa, legislação significa: “Conjunto de leis; ciência que estuda as leis” (ROSA,
2000, p. 166).
66 Segundo Dassie (2018), o estudo do livro didático possibilita observar por meio da orga-
nização e da linguagem as intenções que se têm para os dois leitores principais, o aluno
e o professor. Acompanhando as ideias propostas por esse autor, pode-se dizer que essa
produção didática é tanto instrumento de aprendizagem para o aluno, como instrumen-
to de ensino para o professor. Assim, pode auxiliar o professor na organização da aula,
como também ser complemento no aprendizado dos temas, atividades e/ou exercícios
para os alunos. Proporciona, desse modo, diferentes formas de mediação na relação
do ensino e aprendizagem dentro de sala de aula e nas tarefas fora dela. Na História da
Educação Matemática, a análise do livro como um todo – capa, introdução, prefácio,
sumário, capítulos e referências – bem como o contexto de produção, apropriação,
propagação e as ideias dos autores e editores, auxiliam para a compreensão dessa rela-
ção. A forma de apresentar os capítulos, os conteúdos e as atividades também indicam,
na visão de Dassie (2018), as concepções que os autores dos livros didáticos têm a respei-
to do conhecimento escolar e das metodologias que, para eles, devem ser trabalhadas
no processo de aprendizagem.
Estes autores tecem tais afirmações citando Garnica (2014) que discute a
complexidade entre teorização e metodologia.
A partir das observações e das análises retiradas do Livro do I e III
Enaphems e das observações com relação aspectos teórico-metodológicos com
os quais as fontes, principalmente livros, manuais e revistas, são tratadas nos
textos dos Anais do IV Enaphem, é possível inferir que os trabalhos apontam
para uma frágil, porém perceptível, mudança na análise das fontes. Na última
edição do evento, é possível observar um exercício de analisar os documentos
a partir do método explicitado ou dos conceitos e/ou categorias definidos.
Entrevistas
Na escrita da História da Educação Matemática, especificamente nos
trabalhos apresentados no IV Enaphem, 20 artigos apresentaram entrevistas
como fontes utilizadas ou, no caso de trabalhos iniciais, como fontes a serem
mobilizadas. A inclusão desses textos nesta categoria não significa harmonia
de métodos, metodologias e teorias. Apesar de terem muitas semelhanças,
outras categorizações poderiam ser feitas caso fosse desejável.
Se tomássemos à discussão o momento no qual a pesquisa a que o traba-
lho faz referência estava, teríamos pesquisas de mestrado e doutorado em fase
inicial que sequer apresentaram as fontes no texto, uma vez que essas ainda não
foram produzidas/encontradas (cinco trabalhos), outras já finalizadas (quatro
trabalhos), mas a maioria, no entanto, são pesquisas de mestrado e doutorado
em desenvolvimento. Há ainda aquelas que se constituem como pesquisas de
um grupo (três trabalhos), que não estão estritamente vinculadas a projetos
de mestrados ou doutorados. Se levássemos em conta a exclusividade ou não
do uso de entrevistas, teríamos pesquisas que dizem trabalhar com o coteja-
mento de fontes e aquelas que dizem serem as entrevistas algo complementar,
tendo o documento escrito/oficial como fonte principal. De fato, muitas outras
Outras possibilidades
Como em todo processo de categorizar, houve aqueles que escaparam da
classificação aqui relatada. Trabalhos que com algum esforço conseguiriam ser
aglutinados nas categorias anteriores, mas que, a nosso ver, apontavam para
um “tópico à parte”. Assim, nesta seção lançaremos olhar para 15 trabalhos
que, ainda que toquem categorias anteriores, tomam como fonte principal
de suas produções: acervos pessoais ou institucionais; publicações científicas
(artigos, dissertações e teses); cadernos de alunos e jornais. Cabe lembrar que
estas categorias foram criadas com base em nossas leituras do título, resumo e
palavras-chave dos artigos, buscando, nestes, elementos que os autores decla-
raram utilizar como fonte(s) de seu trabalho.
Apenas dois trabalhos submetidos ao IV Enaphem tomaram como fonte
principal de investigação os cadernos escolares (PEDROSO; SANTOS, 2018;
SILVA; SOUZA; FLORES, 2018). Estes dois textos tomaram cadernos de alu-
nos como uma fonte de dados passível de identificação, ou seja, buscam iden-
tificar nestes cadernos determinados conteúdos escolares, como a matemática
financeira e os conteúdos estabelecidos no programa estadual de Mato Grosso
da década de 1960, respectivamente, para depois problematizar seus modos de
trabalho. A temática do primeiro texto busca corroborar a discussão da Base
Nacional Comum Curricular (BNCC), por esta trazer significativos aponta-
mentos para a Matemática Financeira como conteúdo a ser abordado na escola
de educação básica. Nele, as autoras buscam identificar a presença e os modos
de articulação deste conteúdo em cadernos de um aluno, datado de 1942. Já
o segundo, se figura como uma investigação sobre a cultura escolar, tentando
mapear conteúdos e modos de ensino de outros tempos, década de 1960.
Referências
ALMEIDA, A. M. de. SOUZA, L. A. Colonialidade de poder: um olhar sobre discursos
naturalizados que atravessam a história da formação de professores de matemática
no Brasil. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM HISTÓRIA DA
EDUCAÇÃO MATEMÁTICA, 4., 2018, Campo Grande (MTS). Anais [...], 2018.
ISSN 2.596-3.228.
ALVES, C.P.C.; GUTIERRE, L.S. Produto Educacional advindo de um Mestrado
Profissional: perspectivas e desafios quanto sua aplicabilidade, em especial, no
ensino de Matemática. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM HISTÓRIA
DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA, 4., 2018, Campo Grande (MTS). Anais [...], 2018.
ISSN 2.596-3.228.
AMORIM, B. D.; GOMES, M. L. M.. Indicações metodológicas para o ensino de
matemática no Livro “The New Methods In Arithmetic”, de Edward Lee Thorndike:
um estudo do exemplar presente na Biblioteca Pessoal Alda Lodi. In: ENCONTRO
NACIONAL DE PESQUISA EM HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA, 4.,
2018, Campo Grande (MTS). Anais [...], 2018.ISSN 2.596-3.228.
BARBARESCO, C. S.; COSTA, D.A. da. A caracterização dos saberes a ensinar aritmética
a partir das finalidades do curso primário na Escola de Aprendizes Artífices.
In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
MATEMÁTICA, 4., 2018, Campo Grande (MTS). Anais [...], 2018.ISSN 2.596-3.228.
Introdução
Apresentamos nessa sessão um texto resultante de uma entrevista da
professora Drª Carmyra Oliveira Batista com a professora convidada Dr.ª
Nilza Eigenheer Bertoni, em 15 de novembro de 2018, que ocorreu durante
o 4.º Encontro Nacional de Pesquisa em História da Educação Matemática
(Enaphem). O tema desse Encontro foi a Formação de Professores, História,
Cultura e Política. Essa entrevista aconteceu no Teatro Glauce Rocha da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), na Sessão Memória,
espaço/tempo, que tem por objetivo socializar com os participantes do evento
229
experiências de pessoas que contribuem de forma relevante para o desenvol-
vimento do campo Educação Matemática. A entrevista, com duração de cerca
de uma hora e meia, girou em torno de dois eixos: a constituição do “ser/estar”
professora e as inquietações e buscas geradas ao longo da experiência docente
da professora convidada.
O áudio dessa entrevista foi transcrito e, em seguida, textualizado por
integrantes do Grupo COMPASSODF69. Conforme Garnica (2018), a transcri-
ção e a textualização fazem parte do protocolo de pesquisa com história oral,
sendo que a transcrição é o registro escrito da fala gravada, e a textualização é
uma adequação do texto produzido, pois, em um diálogo, as ideias podem ser
superpostas, alternadas, interrompidas, retomadas mais a frente ou esqueci-
das. Ainda que na textualização se possa adequar a ordem dessas ideias, como
a intenção de dar melhor fluxo à leitura, nela mantém-se o registro sintético
das ideias tratadas e os modos de falar dos interlocutores. A textualização
que apresentamos a seguir foi enviada para a professora Drª Nilza Eigenheer
Bertoni e legitimada por ela para publicação.
69 Membros do Grupo COMPASSODF: Carmyra Oliveira Batista, Edilene Simões Costa dos
Santos, Mônica Menezes de Souza e Rosália Policarpo Fagundes de Carvalho.
74 Embora a demanda inicial do grupo fosse a reformulação da 5.ª a 8.ª série, a constata-
ção de falhas e foco na memorização, no ensino das séries iniciais, levou à decisão por
um currículo integral.
80 Carta publicada pela revista Crónica de los tiempos, em abril de 2002. Disponível em:
https://pt.calameo.com/read/000421034003bc66e9831. Acesso em: 28 jan. 2020.
Considerações finais
A Sessão Memória é realizada em todos os Enaphem e tem como objetivo
socializar com os participantes do evento experiências de pessoas que contri-
buem ou contribuíram de forma relevante para o desenvolvimento do campo
Educação Matemática.
No 4º Enaphem, a professora Carmyra Oliveira Batista convidou a pro-
fessora Nilza Bertoni a falar sobre seu caminho profissional, suas ideias sobre
Meu Deus, [...] se gostarem dessa fala, que bom, eu vou agradecer. [...] Se ela
servir para alguma coisa em sala de aula, se alguém pegar e levar, se algum
pensamento pegar e voltar a florescer, já valeu! (BERTONI, 2018).
...o ideal que sempre nos acalentou renascerá em outros corações. (Música do
filme Luzes da Ribalta).