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ESCOLA DE MINISTÉRIOS TEMPLO DAS ÁGUIAS – EMITA

TEOLOGIA

A CONTEXTUALIZAÇÃO DO CENÁRIO CRISTÃO


NO MUNDO

LUIZ HENRIQUE SILVA JACARELLI

NILSON DA SILVA E SÁ
A CONTEXTUALIZAÇÃO DO CENÁRIO CRISTÃO
NO MUNDO

LUIZ HENRIQUE SILVA JACARELLI

NILSON DA SILVA E SÁ

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de


Ministério Templo das Águias - EMITA, do curso de
Teologia.

Orientador: Prof. Adilson Niz

Curitiba
05-2012
Dedicamos este trabalho especialmente à Deus e ao
seu Santo Espirito que nos moveu em todos os
sentidos afim de que este trabalho chegasse a seu
termo.
Agradecimentos

Ao Professor Adilson Niz nosso orientador e amigo de todas as horas que na


medida do possível nos acompanhou, nos incentivando, motivando e orando.

Ao Professor Alexandre Pierry Negrão cujo senso crítico nos motivou à


buscar a excelência neste trabalho de conclusão de curso.

Ao Professor Pastor Sergio Paulo Negrão por sua paciência em dispensar


parte de seu precioso tempo da função de tesoureiro para emitir sua opinião sempre embasada
pelo bom senso e temor a Deus, cujas assertivas muito contribuíram com nosso trabalho.
Talvez o senhor não saiba, mas na maioria das vezes me trouxe para o foco correto do rumo a
tomar.

Aos professores que, desde o primeiro até o ultimo módulo contribuíram


para nossa formação a qual culminou com esse trabalho de conclusão de curso.

Aos nossos irmãos em Cristo Carlos Henrique da Silva e Sá que, de forma


graciosa nos auxiliou na formatação técnica e Eduardo Marcelo Silva que com seu
conhecimento sobre a igreja histórica nos foi de fundamental importância em nossa
compreensão sobre os movimentos da igreja através dos tempos no decorrer deste nosso
trabalho de conclusão de curso.

Jacarelli Luiz Henrique; Sá Nilson da Silva. A Contextualização do Cenário Cristão no


Mundo - 2012. 148 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso de Teologia – Escola de
Ministério Templo das Águias - EMITA, Curitiba PR, 2012.
“Confia no Senhor de todo teu coração e não te estribes no teu próprio
entendimento. Reconhece-O em todos os teus caminhos, e Ele endireitará as tuas
veredas. Não sejas sábio a teus próprios olhos; Teme ao Senhor e aparta-te do mal
(Pv 3:5-7)”
A CONTEXTUALIZAÇÃO DO CENÁRIO CRISTÃO
NO MUNDO

Resumo

Em primeiro lugar precisamos entender e definir o que é contextualização. Este será


nosso primeiro passo.

Uma vez estabelecida essa diretriz, estaremos demonstrando a aplicação desse


fenômeno, como ela ocorre e o que é preciso saber para aplicar corretamente a
contextualização no conceito da igreja e do cenário cristão.

Em seguida demonstraremos alguns casos que exemplificarão como um cenário


contextualizado exerce influência, altera pensamentos e comportamentos usando situações
verificadas através dos séculos em situações onde cenários foram alterados, mudados a partir
de tomadas de posição, através de uma pessoa ou de um grupo de pessoas.

Queremos demonstrar que, igrejas que se encontravam frias em quase apostasia


tiveram seu quadro mudado à partir de uma retomada de contextualização.

Que avivamentos e reavivamentos ocorreram quando pessoas decidiram agir


contextualizadamente fazendo com que verdadeiros movimentos de fé explodissem em
determinadas épocas da História.

Tomaremos também exemplos da aplicação da contextualização em função da


cultura, das questões étnicas, da questão literária, fatos estes verificados amplamente na
evangelização indígena.

Vamos demonstrar ainda que, à despeito da necessidade de contextualização em


função das questões culturais, étnicas ou literária, em se tratando da pregação do Evangelho,
em se tratando da Igreja do Senhor Jesus, não há necessidade de adaptação ao meio,
concessões, ou deixar-se influenciar à ponto de desvirtuar a integridade da verdadeira
mensagem deixada por Jesus para ser pregada.
E, a partir dessas constatações analisarmos qual é o cenário do cristão e da igreja no
mundo de hoje.

Vamos procurar apresentar situações que demonstrem se a igreja em nossos dias, em


sua contextualização se encontra influenciando o mundo ou tem sido influenciada pelo
mundo.

Se contextualização não esteja sendo sinônimo de conformidade com determinadas


práticas que desvirtuam os objetivos, as funções da igreja e dos cristãos.

Para execução do trabalho usaremos os recursos tecnológicos disponibilizados na


Internet, de matérias que atendam nossos interesses, na medida do possível, pretendemos
ainda efetuar pesquisas de campo com entrevistas de pessoas e/ou autoridades no assunto e
também usaremos bibliografias pertinentes ao nosso tema.
Sumário

Introdução ................................................................................................................................... 5

O que é contextualizar? .............................................................................................................. 6

Capitulo I .................................................................................................................................... 9

O contexto do cristianismo no mundo atual ........................................................................... 9

Origem do termo cristianismo. ........................................................................................... 9

Suas origens ...................................................................................................................... 10

Principais períodos históricos ........................................................................................... 10

Movimentos dentro da igreja protestante. ............................................................................ 14

Capitulo II ................................................................................................................................. 15

Tradicional ou Histórica ................................................................................................... 15

Radicais ou Anabatistas. ................................................................................................... 15

Suas doutrinas distintivas ..................................................................................................... 16

Os anabatistas e a história..................................................................................................... 17

Capitulo III ............................................................................................................................... 18

Protestantes. ...................................................................................................................... 18

Esboço Histórico. ................................................................................................................. 21

Doutrinas Distintivas Básicas. .............................................................................................. 28

Capitulo IV ............................................................................................................................... 30

O Pentecostalismo ................................................................................................................ 30

Antecedentes ao Pentecostalismo. .................................................................................... 30

Suas raízes na tradição Metodista..................................................................................... 32

Primórdios do Movimento Pentecostal............................................................................. 36

O avivamento da rua azuza............................................................................................... 38

Aspectos negativos ou controvérsias do pentecostalismo. ............................................... 40

Aspectos positivos do pentecostalismo ............................................................................ 43

O Pentecostalismo no Brasil ............................................................................................. 45

ii
Congregação Cristã do Brasil ........................................................................................... 47

Assembléia de Deus ......................................................................................................... 48

Outras igrejas pentecostais ............................................................................................... 50

Capitulo V ................................................................................................................................ 52

O Neopentecostalismo .......................................................................................................... 52

O Fenômeno Neopentecostal no Brasil ................................................................................ 54

Igreja Universal do Reino de Deus ................................................................................... 56

Igreja Apostólica Renascer em Cristo .............................................................................. 57

Algumas avaliações e perspectivas................................................................................... 59

Raízes Históricas .............................................................................................................. 61

Gnosticismo ...................................................................................................................... 61

Neopentecostalismo ao redor do mundo. ............................................................................. 69

Ex-União Soviética ........................................................................................................... 74

Continente Africano ......................................................................................................... 77

Ruanda .............................................................................................................................. 82

Considerações sobre a Teologia da Prosperidade na África............................................. 84

Ásia ................................................................................................................................... 92

Raízes Históricas .............................................................................................................. 92

China................................................................................................................................. 96

Movimento Indígena ........................................................................................................ 97

Movimento das Igrejas Domésticas .................................................................................. 98

Yoido full Gospel Church .............................................................................................. 100

Pentecostalismo Minjung ............................................................................................... 104

Filipinas .......................................................................................................................... 105

Indonésia......................................................................................................................... 107

Características ................................................................................................................. 109

Índia ................................................................................................................................ 110

iii
Igrejas Indígenas ............................................................................................................. 111

Capitulo VI ............................................................................................................................. 113

Uma Igreja Fora do Seu Contexto ...................................................................................... 113

Chuva de milagres .............................................................................................................. 114

Comércio do Evangelho ..................................................................................................... 118

Crescimento: Números x Qualidade ................................................................................... 120

Profissionalismo no Púlpito ................................................................................................ 123

Uma Espiritualidade Carnal ou uma Carnalidade Espiritual .............................................. 125

Relatório Pew sobre o Cristianismo Global ....................................................................... 127

Capitulo VI ............................................................................................................................. 129

Pesquisa de Campo ............................................................................................................. 129

Análise da Pesquisa de Campo ........................................................................................... 129

Conclusão sobre a pesquisa de campo ............................................................................ 130

Capitulo VII ............................................................................................................................ 132

Conclusão ........................................................................................................................... 132

Bibliografia ............................................................................................................................. 134

Anexos .................................................................................................................................... 136

Pesquisa de Campo ............................................................................................................. 136

Relatório PEW – População Cristã Mundial ...................................................................... 136

iv
5

Introdução

Este trabalho de conclusão de curso tem a finalidade de apresentar o contexto do cenário


cristão no Brasil e no Mundo, baseado em dados, números, estatísticas, locais, datas,
personagens, fatos e diferentes pontos de vista e relatos de diversos autores e obras de
diferentes paises cujas informações se mostram coerentes e concordes na veracidade das
informações apresentadas, bem como apresentar opiniões e sugestões que possam contribuir
para a melhoria desse cenário.

A despeito de um significativo crescimento do número de evangélicos, o que temos


percebido, de acordo com as estatísticas, com as noticias veiculadas nos mais diversos meios
de comunicação e também por vivenciarmos em nosso dia a dia, é apenas um inchaço das
igrejas ocasionado principalmente por um proselitismo que atrai mais pela propaganda de um
evangelho barato, especialmente as assim chamadas pentecostais e as neo pentecostais, e
movidas por movimentos atrativos, de entretenimento, estas tem esquecido sua principal
função, ou seja, a pregação da genuína Palavra de Deus baseada no fundamento que é Jesus
Cristo e este crucificado. (I Cor. 2:2).

Como bem afirma o Rev. Hernandes Dias Lopes o que há é um cenário onde a numerolatria
tem ocupado as agendas pastorais 1 , isto é, o que determina o sucesso é a quantidade de
membros ou frequentadores da igreja esquecendo-se a importância que cada alma representa
para Deus.

Desejamos que esse trabalho possa contribuir para que o cenário cristão, ao menos na esfera
em que transitamos, isto é, a comunidade cristã global, retorne as suas origens, contribuindo
assim para que o mundo seja influenciado por aquilo que ele crê, isto é, em Jesus Cristo como
única esperança para o pecador.

1
Fonte: Livro A Pregação Expositiva – Rev. Hernandes Dias Lopes
6

O que é contextualizar?

De acordo com o dicionário Priberam da Língua Portuguesa é:,

Inserir ou integrar num contexto.

Estabelecer ou apresentar o contexto de.

Interpretar ou analisar tendo em conta o contexto em que está inserido.

Para os fins do presente trabalho, temos o seguinte significado:

“contextualizar é tentar comunicar a mensagem, trabalho, palavra e desejo de


Deus de forma fiel à sua revelação e de maneira significante e aplicável nos
distintos contextos, sejam culturais ou existênciais, sendo que isso traz um desafio à
Igreja de Cristo, ou seja, comunicar o evangelho de forma teologicamente fiel e ao
mesmo tempo humanamente inteligível e relevante” 2

Historicamente observamos que, a ausência de uma teologia bíblica de contextualização tem


gerado duas consequências desastrosas para o cenário cristão no mundo:

O sincretismo religioso;

O nominalismo evangélico

Em relação ao primeiro, a ocorrência se dá devido a um evangelho sem uma devida exposição


correta da genuína mensagem, isto é, não inteligível levando aos que a ouvem confundir com
seus deuses, levando-os a uma adoração errônea e ao sincretismo religioso.

Ex. Se usarmos os sacrifícios mostrados no livro de levíticos de forma não inteligível, não
corretamente, à uma pessoa que tenha sido recém-convertida do baixo espiritismo, poderemos
fazê-la crer que o que ela praticava antes de converter-se não era errado e achar que no
evangelho podem-se praticar também os sacrifícios de animais, fazendo dessa forma um
sincretismo religioso. Podemos verificar esse fenômeno com a confusão feita pelos escravos
do Brasil colonial quando associaram aos santos católicos aos seus deuses trazidos do
continente africano, onde a igreja católica não aplicou corretamente o verdadeiro evangelho
de libertação do Senhor Jesus originando assim os centros de terreiros com as imagens dos
santos católicos. Isso pode ocorrer por não haver uma contextualização correta.
2
David Hesselgrave citado no Livro Contextualização Missionária-Barbara Helen Burns Pg 15.
7

Ainda a respeito do perigo do sincretismo religioso, temos um exemplo extraído da


experiência do missionário Ronaldo Lidório que trabalha com a AMEM (A Missão de
Evangelização Mundial) e a APMT (Agência Presbiteriana de Missões Transculturais)
quando de seu processo de evangelização dos Bimonkpeln, uma das etnias da tribo dos
Konkombas. Após um período de conhecimento de como era a cultura dessa etnia,
conhecendo seus hábitos, suas crendices, seus padrões morais, seus padrões éticos foi que
esse missionário pode então verificar a forma mais adequada para transmitir a Palavra de
Deus de forma correta isto é, justamente a partir desses conhecimentos mencionados, sem que
a ministração da Palavra de Deus pudesse sofrer o processo do nominalismos ou sincretismos
com a cultura até então dominante. Eis seu depoimento a respeito:

“Cremos que a abordagem do povo Konkombas-Bimonkpeln à partir de uma


observação cultural mais ampla, proporcionou menos riscos de nominalismo e
sincretismo durante a apresentação do evangelho”;3

“Em um processo de plantio de igrejas é necessário sermos lembrados de que a


centralidade da Palavra define a fidelidade da missão. Ou seja, não optaremos por
mecanismos que simplesmente alcancem resultados atrativos, mas sim por
mecanismos fundamentados na Palavra e na visão de Deus” 4 (grifo nosso)

Em relação ao segundo perigo, a ocorrência é de um nominalismo evangélico sendo que esta é


a forma que vemos o cenário cristão em nossos dias. Basta ter entrado em uma igreja para já
se denominar um cristão ou um evangélico. Não há entendimento da Palavra pregada, isso
quando a Palavra é verdadeiramente pregada, não há conversão genuína, não há
arrependimento dos pecados, não há sequer reconhecimento da condição pecaminosa do
homem, não há o conhecimento do sacrifício vicário do Senhor Jesus, mas porque entrou na
tal igreja então já se considera um cristão.

Esse é o nominalismo que impera em nossos dias.

Dessa forma, nossa compreensão é a de que o cenário cristão e da igreja em nossos dias
carece de uma reflexão urgente.

3
Do Livro Contextualização Missionária Pg 175
4
Idem Pg 177
8

Partindo dessa pequena introdução, precisamos entender como o cenário cristão e a Igreja em
nossos dias chegou ao quadro em que nos encontramos hoje.

Para isso vamos apresentar um histórico da Igreja onde poderemos verificar que, com as
tantas vertentes que dela originaram, em determinado momento, houveram acertos como
também desvirtuamento da verdadeira mensagem que à ela foi confiada.
9

Capitulo I

O contexto do cristianismo no mundo atual

Para iniciarmos a contextualização do cristianismo no mundo hoje, é necessário entendermos


antes qual é o conceito de cristianismo e o que ele percorre.

Origem do termo cristianismo.

Embora nunca tenha aparecido na bíblia, o termo veio à existência no século II D.C., para
designar a religião que se desenvolveu em torno da pessoa de Jesus Cristo. A palavra aparece
pela primeira vez nos escritos de Inácio de Antioquia (35 - +-107 D.C.), discípulo do apóstolo
João, também conhecido de Paulo e sucessor de Pedro na Igreja de Antioquia, fundada pelo
próprio apóstolo. Este homem escreveu sete cartas às igrejas, as chamadas Epístolas de
Inácio, estas preservadas no Codex Hierosolymitanus, (Manuscrito grego do Séc. XI D.C.),
são elas: Epístola à Policarpo de Esmirna, Epístola aos Magnésios, Epístola aos Efésios,
Epístola aos Romanos, Epístola aos Esmirniotas, Epístola aos Trálios e a Epístola aos
Filadelfos.

Embora hajam outras epístolas atribuídas a Inácio, de origem espúria, estas não merecem
menção neste artigo. O fato é que o termo Cristianismo foi usado pela primeira vez na sua
Epístola aos Romanos, quando ele falava daquele sistema e sua prática religiosa que era
odiada pelo mundo. Nas cartas aos Magnésios e aos Filadelfos, Inácio usa o termo para fazer
contraste com o Judaísmo.

Em Magn. X ele empregou o termo para descrever aquele sistema de fé que incorpora a
verdade e requer uma vida que corresponda a essa verdade.

Atualmente a palavra “cristianismo” é empregada para descrever duas circunstâncias.

Religião Cristã em distinção das outras fés, como judaísmo, islamismo; ou em oposição a
vários ismos, tais como humanismo, marxismo, etc.

O termo refere-se igualmente aos crentes, considerados coletivamente ou ao estado próprio do


cristão, conforme se vê numa frase: “O cristianismo dele ainda não estava bem desenvolvido”.
10

Suas origens

A fé cristã teve início com a pessoa de Jesus, o Cristo. Ele pertencia à raça judaica, de acordo
com a sua natureza humana. Mas ele era a encarnação do LOGOS de Deus. O décimo sexto
capítulo de Mateus mostra-nos que o movimento cristão não foi um ramo acidental do
judaísmo. A cultura romana antiga concebia o cristianismo como mera divisão da fé hebraica
do judaísmo. Porém, a narrativa de Lucas e Atos foram escritos para demonstrar que o
cristianismo era uma entidade por si mesma, um avanço espiritual em relação ao judaísmo e
não um mero fragmento do mesmo, criado para sustentar disputas teológicas. Vários
pensadores liberais tem pensado que o real originador do cristianismo tenha sido o Apóstolo
Paulo, porquanto, é em seus escritos que obtemos a autoridade para o Jesus teológico, em
contraste com o Jesus histórico. Antes da missa paulina, segundo eles acreditam, o
movimento cristão era uma espécie de judaísmo concorrente. Porém, essa suposição só pode
ser mantida se rejeitarmos muitas das declarações do próprio Jesus no tocante ao seu poder,
autoridade e caráter distintivo, como se fossem meras invenções da Igreja cristã de épocas
posteriores. O trecho de Mateus 16: 16 é uma passagem que diz respeito a esse problema. O
texto de Mateus 22: 41 que encerra a exaltada doutrina de Jesus sobre o Messias é outra
passagem dessa ordem. Em todos os quatro evangelhos, ficamos impressionados com o
caráter distintivo de Jesus Cristo. Ele era por demais poderoso para ser apenas outro profeta
judaico. As formulações paulinas são reflexos dessa doutrina, com um pouco mais de
definição.

É um erro fatal diminuir a importância do que os evangelhos falam a respeito de Cristo. Os


evangelhos mostram-se modestos, e não exagerados, em suas declarações sobre Jesus. Ver
João 20: 30,31. O advento do Pentecoste, com seu derramamento do Espírito Santo (Atos 2),
assinalou o tempo em que a Igreja recebeu poder, embora isso já tivesse começado em forma
preliminar. A maioria dos cristãos afirma que o Pentecoste foi o começo real da Igreja. Essa
declaração, naturalmente, não ignora o fato de que houve um começo preliminar.

Principais períodos históricos


11

O período Apostólico, até o ano 100 D.C. - Os apóstolos propagaram a sua mensagem, e
dentro desse breve período os principais centros do mundo romano tinham alguma forma de
nova fé, ali representada (Col. 1:6).

Período Pós-Apostólico, Antes de Constantino, 100 – 313 D.C. - O cristianismo propagou-se


por toda a parte, embora sofrendo oposição e perseguição, até mesmo oficial, por parte de
uma longa linha de imperadores romanos. A Igreja esforçou-se para combater as primeiras
divisões e heresias, como o Agnosticismo. Clemente de Roma, Irineu, Tertuliano, Clemente
de Alexandria e Orígenes foram importantes teólogos cristãos desse período.

De Constantino à Gregório. 313-590 D.C. - Com a conversão nominal do imperador romano


Constantino, o cristianismo tornou-se uma espécie de Igreja oficial. Esta obteve poder político
e formalizou o seu credo. Os concílios formalizaram a sua fé: o de Nicéia, de 325 D.C., que
produziu o credo niceno, o de Constantinopla I (381 D.C.); o de Éfeso, (431 D.C.); o de
Calcedônia (451 D.C.); o de Constantinopla II (553 D.C.). O monasticismo (do grego
monachos, uma pessoa solitária – refere-se á pratica de abdicação de bens comuns aos
homens em prol da prática religiosa), desenvolveu-se, pelo menos em parte, como uma
solução racional para os excessos ascéticos dos devotos. Surgiram várias heresias, como o
Arianismo (visão Cristológica sustentada pelos seguidores de Arius, bispo de Alexandria, que
negava a existência da consubstancialidade entre Jesus e Deus, que os igualasse, fazendo do
Cristo pré-existente uma criatura, embora a primeira e mais excelsa de todas, que encarnara
em Jesus de Nazaré. Jesus então seria subordinado à Deus, e não o próprio Deus. Segundo
Ario só existe um Deus e Jesus é seu filho e não o próprio.), o Monofisismo (do
grego monos - "um, único" - e physis - "natureza" é a posição cristológica de que Cristo tinha
apenas uma natureza, sua humanidade tendo sido absorvido pela divindade.), e o
Pelagianismo ( atribuída à Pelágio da Bretanha, contemporâneo de Santo Agostinho. Sustenta
basicamente que todo homem é totalmente responsável pela sua própria salvação e portanto,
não necessita da graça divina.). 5

Período de Gregório I a Carlos Magno, 590-800 D.C. - Esse período viu a cristianização dos
povos germânicos. Também foi o período durante o qual o Egito, a África e a Espanha (que

5
Pesquisado e extraído na Wikipedia.org.
12

então incluía Portugal), perderam terreno para os islamitas. Dois importantes concílios
ocorreram durante essa fase: o de Constantinopla III (680 D.C.) e o de Nicéia II (787 D.C.).

De Carlos Magno ao Papa Gregório VII, 800-1073 D.C. - Esse foi um tempo durante o qual a
autoridade papal desenvolveu-se extraordinariamente, quase cumprindo a doutrina de
Agostinho de que a Igreja deve ser superior ao Estado e deve ser também sua mestra. Essa
autoridade só atingiu o seu ponto culminante quando do pontificado de Gregório VII, o qual
fez as coroas da Europa entenderem que a Sé de Roma as dominava à sua vontade. Nesse
período houve o Concílio de Constantinopla IV, de 896 D.C.

E no ano de 1054 D.C., a Igreja Oriental separou-se da Igreja Ocidental da questão de


Filíoque do credo Niceno. Naturalmente houve também outras causas, talvez mais decisivas
dessa separação, cujos elementos vinham se formando há séculos.

Foi no século XI D.C.que a Igreja Católica Romana adicionou o notório Filíoque ao terceiro
artigo do credo niceno. Isso fazia o Espírito Santo proceder tanto do Pai, quanto do Filho. A
Igreja Ortodoxa Oriental, porém, objetivava a essa adição.

Período de VII às teses de Lutero. 1295-1517 D.C. - Os principais acontecimentos desse


período foram o Concílio de Viena (1311), a carreira de João Wycliff (Cerca de 1370), o
Concílio de Constança (João Huss 1414-1418), o concílio da Basiléia (1431), a queda de
Constantinopla (1453) e o quinto Concílio de Latrão (1517-1563).

Das Teses de Lutero à paz de Westphalia, 1517-1648. - Nesse período houve a Reforma
Protestante, bem como as carreiras de Lutero, Calvino e Zwinglio. Também houve o Concílio
de Trento (1543-1563).

De 1648 ao Concílio do Vaticano II. 1648 à 1960 D.C. - Nesse período temos o
desenvolvimento da Igreja Católica Romana e das Igrejas Protestantes; O Ato da Tolerância
da Inglaterra, de 1698; o Concílio do Vaticano, 1869; no Brasil, um fato determinante será a
proclamação da República e declaração do País como Estado laico, tirando da Igreja Católica
poderes políticos que ela detinha e abrindo aos protestantes portas para missões evangélicas
dentro do país, assim com também, garantindo plenamente o livre exercício e propaganda da
fé Protestante; o movimento ecumênico, que aumentou de intensidade à partir do inicio do
Séc. XX. Houve também o surgimento e o desenvolvimento do liberalismo e a fragmentação
de denominações protestantes; surgiu o movimento Pentecostal; houve a politização de
grandes áreas do Catolicismo, e, em menor intensidade, das Igrejas Protestantes, através de
13

ideologias políticas especialmente através da Teologia da Libertação, (iniciado na América


Latina no início de 1950-1960 D.C).

Concílio do Vaticano aos Nossos Dias. A partir de 1960. - À partir desse Concílio, muitos
pastores protestantes, inspirados pelas mudanças na Igreja Católica, adotaram uma postura de
aproximação e diálogo com os católicos, o que ficou conhecido como
“Ecumenismo”. Tornou-se comum na época a realização de cultos ecumênicos ou de
cerimônias ecumênicas de casamento, que geraram inúmeras controvérsias e até mesmo
processos eclesiásticos nas igrejas evangélicas. Um importante promotor do ecumenismo foi o
Conselho Mundial de Igrejas (CMI), cujo processo de organização teve início em 1938 e foi
concluído em 1948, em Amsterdã. Nas suas primeiras décadas, filiaram-se ao mesmo as
seguintes igrejas brasileiras: Metodista (1942), Luterana (1950), Episcopal (1965) e até
mesmo uma igreja pentecostal, O Brasil Para Cristo (1968).

O ecumenismo foi interpretado por muitos como mais uma manifestação do liberalismo
teológico, outro fator de tensão e divisões nas igrejas protestantes do Brasil. O liberalismo
clássico havia surgido no hemisfério norte na segunda metade do século passado. Na década
de 1920, houve nos Estados Unidos uma famosa e acirrada controvérsia que colocou em
campos radicalmente opostos os liberais ou modernistas e os fundamentalistas.

Para complicar ainda mais um quadro já tão confuso, surgiu ainda outro movimento nos anos
60 que teve grandes repercussões nas igrejas evangélicas: o movimento carismático ou de
renovação. À semelhança de outros movimentos vindos para o Brasil, esse também surgiu
inicialmente nos Estados Unidos, quando tanto católicos quanto membros de igrejas
protestantes tradicionais começaram a ter experiências carismáticas semelhantes às dos
pentecostais do início do século 20. No Brasil, esse movimento dividiu algumas igrejas e
causou o surgimento de novas denominações.

Nos anos 80 e 90, novos movimentos e ênfases teológicas continuaram a ser importados dos
Estados Unidos e a causar grandes transformações na face do protestantismo brasileiro. Os
exemplos mais importantes são o movimento do crescimento da igreja, a teologia da
prosperidade e a batalha espiritual. Outras ênfases recentes são a confissão positiva, cura
interior, maldição hereditária e o movimento G-12; inserção do empresariado, gerando o que é
chamado Movimento Gospel. Existem também modismos mais passageiros que têm tido
diferentes graus de impacto no ambiente evangélico.
14

Neste início do século 21, o protestantismo brasileiro impressiona muito mais pela sua
diversidade e complexidade do que por elementos comuns. De um lado, há uma imensa
maioria de pentecostais clássicos e a contínua proliferação e crescimento de grupos
neopentecostais. Do outro lado, temos as igrejas tradicionais ou históricas, que por sua vez se
subdividem em dois grupos: progressistas e conservadores. Os Estados Unidos começa à
deixar de ser o maior exportador de teologias, abrindo espaço então para a Coréia do Sul
como novo exportador teológico.

Movimentos dentro da igreja protestante.

Há nesse momento, a importância de se compreender a complexidade e diversidade, dentro do


cenário cristão além Vaticano. Há nela, diversas denominações, cada uma com uma linha de
pensamento à qual se encaixa melhor ao seu contexto. Examinemos as principais correntes de
pensamento, a saber; Tradicionalismo, Pentecostalismo e Neopentecostalismo.
15

Capitulo II

Tradicional ou Histórica

A tradição consiste na sabedoria coligida de qualquer dada cultura, envolvendo as noções da


mentalidade secular e os discernimentos quanto às suas instituições.

Dentro do aspecto de Igreja, a igreja tradicional, se define como aquela que tem relação direta
com a Reforma Protestante, tanto em sua fundação como à suas idéias e as anteriores à ela.
Surgiram à partir do Séc. XVI e pode-se dizer que ela tenha gerado todas as outras definições
e aspectos teológicos das que vieram após a mesma. Dividem-se em dois ramos: Protestantes
e Radicais, como é o caso dos Anabatistas. Façamos uma análise das duas vertentes.

Radicais ou Anabatistas.

A palavra Anabatista surge da junção das palavras gregas Ava (novamente) e baptizos
(batismo) e seu significado é, portanto batizados novamente. Dá se esse nome àquele grupo
que defendia que o batismo deveria ser feita a adultos arrependidos de seus pecados e em sã
consciência de devoção ao senhorio de Jesus e não o batismo feito na infância como era a
prática adotada pela Igreja Católica Romana, como única forma válida de batismo. Aqueles
que quisessem se juntar ao grupo, deveriam passar por um novo batismo.

Buscar informações precisas a respeito desse grupo é um pouco complicado, pois alguns
afirmam que eles tenham sido a continuação da Igreja Primitiva e porque esse grupo se divide
em diversas categorias como; Montanismos, Donatismos, Bogomilo. A lista dos grupos que
vão surgindo se estica até meados da Reforma Protestante. O fato central é que a palavra
apareceu pela primeira vez em 225 D.C. após o Segundo Concílio de Cartago, onde 87 bispos
liderados por Cipriano de Cartago decidiram rebatizar os fiéis das igrejas adeptas do
Novaciano.

Mais especificamente hoje, o termo se aplica àquelas seitas que foram surgindo em cerca de
1590, em Zurique, na Suíça, pouco antes, durante e após a Reforma Protestante, dependendo,
(como visto acima) do grupo particular em questão. Os anabatistas não formavam uma seita
16

única ou coerente, mas representavam vários graus de ortodoxia. A maior parte, porém, se
afastou muito da posição ortodoxa. Os grupos variavam de uma relativa ortodoxia, como era a
posição evangélica de Conrado Grebel (1485-1528), até a posição mais radical e menos
ortodoxa de Baltasar Huebmaier (1485-1528) e de Hans Denk (falecido em 1527).

O denominador comum era a insistência deles sobre a necessidade de batizar adultos


convertidos apenas, rejeitando terminantemente a validade do batismo infantil. O batismo de
adultos, porém continuou a ser praticado por aspersão (segundo a maioria dos eruditos) e não
por imersão. Entretanto, esse ponto tem sido disputado. Quanta imersão tem sido usada?
Irrelevante.

Católicos e protestantes opunham-se a eles decisivamente, especialmente por causa de suas


doutrinas não ortodoxas, e por ser o centro de revolta e agitação. Primeiramente foram
expulsos de Wittenberg - Alemanha, e depois de outras cidades. Muenzer, pregando cada vez
mais radicalmente acerca de questões religiosas e políticas, contribuiu para os acontecimentos
chamados Guerra dos Aldeões.

Opondo-se ao feudalismo, Muenzer promoveu uma espécie de comunismo teocrático. O


esforço da luta unificou os aldeões alemães contra os abusos políticos e econômicos. Os
aldeões foram violentamente suprimidos. Lutero denunciou em termos radicais a revolta e
encorajou a repressão.

Suas doutrinas distintivas

Rejeição do batismo infantil e batismo somente de adultos convertidos. Isso requeria o


rebatismo daqueles que abandonaram outras seitas, e que tinham sido batizadas na infância.
Esse ponto doutrinário foi radicalizado na forma de convicção de muitos anabatistas de que
somente seu grupo era detentor da verdade e que os membros de outros grupos (incluindo os
protestantes) eram pessoas perdidas.

Comunidade de bens e de propriedades, como característica constante. Portanto, praticavam


uma espécie de comunismo teocrático.

As maiorias dos anabatistas tinham um conceito não trinitariano de Deus, e uma noção
marcionita (docética) da encarnação. Assim, eles negavam tanto a divindade quanto a
humanidade de Jesus Cristo.
17

Cristo, não sendo o vero Deus, de acordo com esse ponto de vista, também não era verdadeiro
homem, pois sua humanidade era apenas aparente. O docetismo é o nome derivado de grego
doken, “parecer”. Muitos anabatistas eram antitrinitarianos declarados.

Liberdade religiosa e separação entre Igreja e o Estado.

Pacifismo, estrita disciplina eclesiástica, prática dos princípios do sermão do monte,


reconhecimento e prática da lei do amor.

Forte ênfase missionária, pois criam que cada crente tem o dever de ser testemunha.

Ênfase sobre o dom profético, que algumas vezes era abusado, levando a muitos cismas.
Ressaltavam a “palavra interna”, e não a “palavra externa”, as Escrituras. Isso debilitava entre
eles a autoridade da Palavra escrita e permitia um excessivo individualismo.

Negação de doutrinas como a total depravação do homem, o pecado original, a eleição e a


condenação eterna. Muitos deles eram universalistas. Enfatizavam a capacidade de o homem
buscar e achar a Deus diretamente, no nível da alma. Tanto que, havia um forte elemento
místico na fé deles.

Os anabatistas e a história

Os modernos menonitas estão ligados historicamente aos anabatistas, visto que pertencem ao
ramo daquela denominação liderado por Meno Simons, após 1536. Ele afastou a seita do
radicalismo e a aproximou da ortodoxia evangélica. Outras denominações, como os batistas,
os amigos, os irmãos e os hutteritas incorporaram certos aspectos da doutrina anabatista em
seus respectivos sistemas. Alguns batistas modernos, ansiosos por encontrarem seitas
“batistas” antes da reforma, segundo alguns teólogos, têm errado ao escolher os anabatistas
como um elo do passado. De acordo com eles, esse elo não existe nem histórica nem
teologicamente, conforme o demonstram as notas acima. Em suas doutrinas, os anabatistas
estavam longe de ser batistas, a despeito da similaridade fortuita dos apelativos desses dois
grupos. Sendo assim, devido ao fato de não existir documentos históricos que comprovem ou
o nome de um líder fundador da Igreja Batista, não caberá aqui neste trabalho defender um
lado ou outro.
18

Capitulo III

Protestantes.

Três são os principais pilares ideológicos das Igrejas Históricas protestantes: Lutero, Calvino
e Rei Henrique VIII.

O Termo Protestante

A palavra protestantismo é um termo coletivo, usado para aludir àquele movimento religioso
e àqueles grupos que vieram a fazer oposição à Igreja Católica Romana, o que produziu um
sério cisma na Igreja Católica, no século XVI. Os grupos que mantém essa atitude cismática
são chamados de “protestantes”. Esse apelido, “protestantes”, que veio a ser aplicado àqueles
que repeliram a autoridade papal, formando igrejas independentes, originou-se na Alemanha
quando, por ocasião da segunda dieta de Espira, em 1529, aqueles que apoiavam as idéias de
Lutero apresentaram o seu protesto por haver sido repelido o edito anterior, mais tolerante de
1526. Esses seguidores de Lutero eram príncipes alemães que faziam objeção à decisão que
dizia que não podiam dirigir as suas próprias questões religiosas dentro de seus respectivos
territórios, conforme viam que seria justo. Naturalmente, o apelido não tardou a generalizar-
se, chegando mesmo a ter um uso retroativo. Assim, em 1517, Lutero havia “protestado”
contra certas crenças e práticas da Igreja Católica Romana, ao expor as suas Noventa e Cinco
Teses. Seu principal protesto foi contra a venda de indulgências e contra a doutrina geral
católica romana à esse respeito. Assim, aquilo que teve começo como um protesto, não
demorou a transformar-se em denominações cismáticas. A fragmentação nunca cessou, de tal
modo que os grupos protestantes, hoje em dia, são muito numerosos. Nos séculos XVI e
XVII, esses novos grupos cristalizaram – se em torno de suas posições e o cisma protestante
tornou-se oficial e permanente.

Caracterização Geral
19

A Reforma Protestante sem dúvida nenhuma não foi um erro. Teve e tem seus pontos bons e
necessários. Foi uma convocação à liberdade e um retorno à Bíblia, embora alguns dogmas e
interpretações ocidentais tenham permanecido à base do movimento. Por outra parte, por seu
lado negativo, a história do protestantismo é uma massa confusa de igrejas e de credos em
competição, de hostilidades, de lutas pelo poder e de uma interminável fragmentação. Nas
igrejas protestantes, apesar da suposta autoridade ser “as Escrituras somente”, na prática, essa
autoridade consiste nas Escrituras e no que eu e minha denominação interpretamos. É
admirável como tantos grupos podem afirmar estarem mais próximos das escrituras que os
demais, justificando sua alegada superioridade mediante um apelo a certos textos de prova
bíblicos selecionados. Naturalmente, nisto está havendo distorções do ensino bíblico.

Historicamente, o Protestantismo é aquele movimento religioso que houve, no seio da Igreja


ocidental (a Igreja Oriental já se afastara do papado em 1054), associado à Reforma
protestante do século XVI. No entanto, a atitude de protesto e de reforma pode ser percebida
em um passado muito anterior, em alguns grupos que se dividiram da Igreja oficial, sem
falarmos em alguns poucos prelados e líderes religiosos, dentro da Igreja Católica, que
procuraram impor reformas, ou que apresentaram idéias que divergiam daquelas da
cristandade organizada. Poderíamos citar nomes como os albigenses e os waldenses, os quais,
embora não haviam sido protestantes quanto à doutrina em geral, opunham-se à autoridade
papal e buscavam uma manifestação independente. E dentro da Igreja Católica Romana
levantaram-se os grandes patriarcas da Reforma, João Wycliffe, de Oxford, na Inglaterra
(1321 – 1384) e João Huss, de Praga, na Boêmia.

“Um movimento de Reforma religiosa na Europa, cujos líderes viveram durante o


espaço de dois séculos. A começar por Wycliffe, no século XIV que foi o primeiro a
propor os princípios da Reforma, e então com Huss, no fim do século XIV e começo
do século XV, que foi o primeiro à implementar esses princípios , o movimento
ampliou-se durante a maior parte do século XVI. E começando com Lutero, que
tomou posição com as suas noventa e cinco teses, em 1517, a Reforma posicionou-se
no centro do palco da cena européia. A iniciativa de Lutero teve prosseguimento
com os labores de Melanchton, Zwínglio, Calvino e João knox. E a Igreja Católica
reagiu com a sua Contra Reforma.” 6

O protesto da segunda dieta de Espira (1529) teve uma orientação nitidamente política; e a
declaração mais longa que emergiu daquela dieta, intitulada Instrumentum Apellatonis, deixou
6
Pastor João Marques Bentes – Igreja Batista
20

claro que a minoria evangélica tomara a mesma posição que Lutero havia tomado, acerca da
autoridade das Santas Escrituras. “A Santa Bíblia é, em todas as coisas, necessárias para o
cristão... Somente essa Palavra deveria ser pregada, com nada que lhe seja contrário. Ela é a
única verdade. É a regra segura de toda doutrina e conduta cristã. Jamais poderá enganar-
nos”, dizia aquela afirmação.

Conforme se pode ver, apesar do termo “protestante” enfatizar a ideia de protesto, a Reforma
foi um tempo de reafirmação da Bíblia e sua autoridade, com um novo testemunho em favor
das Escrituras, o que finalmente resultou nas missões modernas, que propagaram o
Protestantismo em todas as partes da terra.

“O Protestantismo migrou para a América com os primeiros colonos, e, durante


o século XIX, o movimento missionário protestante espalhou suas doutrinas,
defendidas por diversas igrejas protestantes, pelo mundo inteiro, mormente pela
Ásia oriental e a África”.7

Dietas de Espira

Essas dietas são lembradas não meramente por terem alguma importância durante o período
da Reforma Protestante, mas sim porque foi ali que o termo “protestante” começou a designar
os luteranos e daí para os vários grupos que surgiu posteriormente.

A cidade de Espira, na Alemanha, foi o cenário de quatro dietas, durante o período da


Reforma. Em 1526, Carlos V muito queria impor as estipulações do Édito de Worms. Porém,
a situação política forçou-o a concordar com a resolução proferida por ocasião das Dietas de
Espira, que dizia: “Cada qual deve governar e agir conforme espera responder a Deus e à Sua
Majestade Imperial”. Isso descortinou uma liberdade suficiente para o luteranismo espalhar-se
por toda a Alemanha, dividindo religiosamente a nação. Mas, aí por volta de 1529, Carlos V
tornara-se forte o bastante no âmbito da política, e ele resolveu então esmagar o luteranismo.
Assim, naquele ano, foi baixada uma resolução que revertia à situação de volta ao Édito de
Worms, contradizendo as decisões mais liberais da Dieta de Espira. Ora, o Édito de Worms
havia condenado claramente Lutero e suas posições teológicas, e procurava submeter à
imprensa a uma censura rígida.

7
Enciclopédia de Bíblia Teológica e Filosófica – R.N.Champlin
21

Os luteranos sentiram-se muito contrariados diante do fato de que a Dieta de Espira tinha
perturbado a liberdade deles e assim “protestaram”, publicando a seguinte declaração: “Em
questões concernentes à honra de Deus e à salvação das almas, cada qual deve prestar contas
de si mesmo à Deus”, dando a entender, obviamente, que os governantes civis devem deixar
em paz as pessoas no tocante a questões de consciência, fazendo com que a tolerância fosse
uma prática adotada a todos os grupos religiosos. Não obstante, nas localidades onde os
governantes civis eram protestantes, esse sentimento foi geralmente ignorado e os oponentes
foram perseguidos e executados, como o que foi praticado por Calvino quando este ingressou
na política da cidade de Genebra na Suíça, instituindo o protestantismo como religião oficial
do Estado, fazendo com que muito anabatistas fossem mortos por seu decreto. Neste caso, o
que nos faz pensar que é muito contraditório quando alguém luta pelo direito de liberdade de
pensamento e de decisões para si, não consegue oferecer os mesmos direitos aos outros,
quando estes não concordam com o seu ponto de vista.

Em duas outras dietas, Carlos V uma vez mais foi forçado a fazer concessões aos luteranos,
para que estes o ajudassem a combater os turcos (1542), e também os franceses (1544).
Porém, uma vez que ele obteve a vitória contra estes últimos, novamente voltou-se contra os
luteranos, em Muelberg (1547), esmagando-os com suas forças militares.

Esboço Histórico.

Vamos agora neste tópico, fazer um resumo das personagens e fatos históricos para podermos
compreender os grupos que fazem parte, hoje, da ala conhecida como Protestantismo.

Os albingenses – Uma seita de reformadores religiosos (Séculos XI a XIII), que em nenhum


sentido foram protestantes e evangélicos, exceto que se insurgiu contra a autoridade papal,
buscando liberdade religiosa. Nesse sentido, eles anteciparam o movimento protestante do
século XVI.

Os Waldenses – uma seita de dissidentes religiosos, fundada cerca de 1170 D.C., por Pedro
Waldo, que buscava restaurar a Igreja à sua pureza original, enfatizando o estudo das
Escrituras. Apesar de não terem sido protestantes e evangélicos quanto a muitas doutrinas,
eles representavam um anseio por reforma e por liberdade, destacando a importância das
Escrituras Sagradas. Esses elementos vieram a tornarem-se preciosos para o protestantismo.
22

Os waldenses continuam existindo com um grupo independente até os dias de hoje, tendo
assumido posições mais evangélicas do que antes.

João Wycliffe – (Século XVI) foi uma verdadeira antecipação da Reforma Protestante.

João Huss – Promoveu as ideias de Wycliffe e assim, tornou-se outro elo verdadeiro no
processo histórico que conduziu a Reforma Protestante. Suas datas aproximadas foram 1369 –
1415.

Os anabatistas – Esses formaram um movimento anterior à Reforma, mas eram,


essencialmente, reformadores. Eles defendiam várias doutrinas nitidamente evangélicas, que
influenciaram o curso da Reforma. E então, com a passagem do tempo, terminaram por
mesclar-se com os reformados.

A Reforma Protestante – Propriamente dita, teve seu início em 1517, quando Lutero afixou
suas Noventa e Cinco teses.

Lutero, Calvino, Zwínglio e João Knox são os líderes da Reforma, apresentando a propagação
do protestantismo por vários lugares da Europa e com eles chegamos ao final do século XVI.

A Igreja Anglicana – A separação entre a Igreja da Inglaterra e a Igreja de Roma também foi
um movimento histórico do século XVI, com o evento conhecido como Comunhão Anglicana
que se deu entre as igrejas católicas da Inglaterra quando se desvincularam do Vaticano na
Reforma. Essa comunhão representa uma espécie de meio caminho entre o catolicismo
romano e o evangelicalismo, retendo aspectos católicos (no Anglo-Catolicismo) e
evangélicos. Há a ideia de que os batistas tenham sua origem no espírito evangélico, pois há
relatos de que ela tenha sido gerada dentro da comunidade anglicana.

Nos séculos XVII e XIX, o protestantismo consolidou-se sob a forma de suas denominações
históricas, mas sofreu alguma fragmentação adicional, em grupos menores. A grande
inovação do século XVIII foi o Metodismo.

No século XIX, vários grupos vieram fixar-se na América do Norte. Dalí e da Europa
(começando pela Alemanha) desenvolveu-se o moderno movimento missionário. Isso
propalou as várias denominações protestantes e evangélicas tradicionais, por todo o mundo,
embora, no começo, principalmente no extremo Oriente e na África.

No século XX, tem havido grande fragmentação de grupos protestantes e evangélicos. A


história do protestantismo, nessa altura dos acontecimentos, tem-se tornado uma massa
confusa de igrejas e credos. Tal competição tem-se espalhado para todas as partes do mundo,
23

através do movimento missionário. As denominações protestantes mais antigas tem se


fragmentado em intermináveis divisões e subdivisões. O liberalismo tem sido uma dessas
forças de desagregação, mas a maior parte dessas divisões tem envolvido disputas sobre
doutrinas e práticas secundárias, ou, então, devido à luta pelo poder, à arrogância e a
carnalidade. O movimento carismático (ou exclusivamente no Brasil, Neopentecostalismo,
pelo fato do termo “movimento carismático” ser utilizado pela Igreja Católica Romana
àqueles que apresentam as manifestações pentecostais.) tem adicionado um número ainda
maior de fragmentos. Por volta de 1950, já havia duzentos e cinquenta grupos protestantes
diferentes nos Estados Unidos da América do Norte.

Movimento ecumênico, que insuflou uma tentativa de unificação, um esforço que prossegue.
Infelizmente, busca-se ali uma unificação organizacional, com o sacrifício de crenças bíblicas
autênticas. Quanto a essa questão, abordaremos mais à frente este tema. A oposição à esse
movimento, também têm se gerado inspiração à fragmentação.

Tipos de Protestantismo.

Havendo toda essa análise do que vem se apresentando o Protestantismo, vamos avaliar agora
numa breve descrição as denominações que se fragmentaram através dos tempos e suas teses,
de acordo com as pesquisas bibliográficas.

Os dois tipos originais. Diretamente da Reforma Protestante, emergiram a Igreja Luterana


(seguidores das ideias de Lutero) e a Igreja Reformada (Calvinistas formadas por seguidores
das ideias de João Calvino). Esses grupos espalharam-se pela Alemanha, pela Holanda, pelos
países escandinavos, pela Grã-Bretanha, e, mediante a emigração, para a América do Norte.

Outro tipo de Protestantismo foi aquele representado pela Igreja Anglicana. Eles podem ser
considerados protestantes no sentido de ser contrária a Roma; mas preservam mais do
catolicismo do que de outros grupos protestantes. Retêm a Liturgia e certas doutrinas
romanistas tradicionais, rejeitadas pelos outros grupos protestantes, especialmente às questões
da sucessão apostólica e do sacramentalismo. O anglicanismo tem servido de uma espécie de
ponte entre o catolicismo romano e o protestantismo.
24

Um tipo de protestantismo de ala esquerdista tem sido o dos anabatistas e menonitas. Esses
eram mais radicais, distinguindo-se por doutrinas que, aos olhos dos grupos mais tradicionais,
eram consideradas extremadas.

Os batistas, bastante parecidos com os grupos protestantes tradicionais no tocante à maioria


dos pontos, trouxeram algumas inovações no campo do governo eclesiástico, além de
negarem a teologia sacramentalista e de ensinarem o batismo por imersão, somente para os
regenerados. Mais uma vez, como é difícil saber onde se originou a igreja batista, a relação
dos batistas originais com a comunidade anglicana, faz com que vinculemos a origem desta
com a Igreja Anglicana.

Os metodistas formam uma espécie de movimento pietista (Movimento dentro da Igreja


Luterana do final do século XVII, que lançava bases ao que hoje é conhecido como
Neopentecostalismo) que se separou da comunidade anglicana, tornando-se independente.

Eruditos liberais formam uma espécie de frente de ala esquerda, dentro do protestantismo.
Surgiram no século XIX e se fez proeminentes no século XX.

O movimento carismático emergiu do metodismo, e em breve mostrou pouca força de coesão,


fragmentando-se em denominações distintas. As denominações tradicionalistas também
contam, em suas fileiras, com elementos carismáticos. De fato, isso ocorre até mesmo dentro
da Igreja Católica Romana, o chamado movimento carismático católico.

Os três tipos tradicionais de Protestantismo são: os luteranos, os reformados e os anabatistas-


menonitas. Dali surgiu outros grupos, e, por efeito de fragmentação, temos hoje uma incrível
variedade de manifestações do cristianismo protestante e evangélico.

Expressões Modernas: Diagrama

Igreja Católica Romana

Pré-reformadores

Reforma Protestante

Três Tipos Básicos: Luteranos; Calvinistas; Anabatistas-Menonitas.


25

Comunidade Anglicana: Ponte entre Romanismo e Protestantismo

Começo da fragmentação: Batistas e Metodistas

Conservantismo Protestante Geral Moderno

Protestantes Evangélicos Tradicionalistas

Neo-Evangélicos

Liberais

Pentecostais

Carismáticos ou Neopentecostais

Explicações:

1 – Este diagrama mostra a fragmentação da Igreja Ocidental. Não nos esqueçamos de que a
Igreja Oriental já se havia separado da ocidental, em 1054. Portanto, o que aqui mostramos é
como a Igreja Ocidental e sua teologia achou novas adaptações e manifestações.

A mais séria das doutrinas da cristandade oriental, em distinção à cristandade ocidental, é sua
visão mais esperançosa do destino do homem. Os teólogos orientais têm-se mostrado
favoráveis à idéia da contínua oportunidade de salvação, após o túmulo, asseverando que o
pós-túmulo é um lugar de preparação para a salvação, exatamente como o é a vida mortal, no
corpo físico. Eles acreditam na missão tridimensional de Jesus Cristo: sobre a Terra, no Hades
e nos Céus.
26

Nessas três dimensões haveria salvação ou restauração. Fazendo contraste com isso, seguindo
a teologia de Agostinho, a Igreja ocidental veio a encarar o atual estado mortal do homem
como a única fase da existência humana onde há oportunidade de salvação. Há textos de
prova bíblicos em favor de ambos os lados da controvérsia, mas na expectativa de alguns
teólogos, é adotado o ponto de vista mais otimista, crendo que o mesmo evita que a fé cristã
seja pessimista. Para determinar o ponto mais coerente dessa questão, será necessário fazer
uma análise a respeito da descida de Jesus ao Hades, contudo neste estudo nos ataremos a
analise das perspectivas denominacionais.

2 – Os Protestantes Evangélicos Tradicionalistas são aquelas denominações que dão


prosseguimento aos três tipos básicos de protestantismo com poucas alterações, à partir do
século XVI. Dentre eles, os menonitas são os que mais se modificaram, pois foram ficando
mais parecidos com os outros evangélicos, tendo abandonado certas doutrinas e políticas
estranhas, que haviam herdado dos anabatistas.

3 – Os Fundamentalistas são aqueles grupos que enfatizam não somente um estrito


biblicismo, mas também se dispõem a combater qualquer desvio dessa posição. Aceitando as
Escrituras como sua única regra de doutrina e conduta, eles têm a certeza de que não há erros
nas mesmas. Além disso, em sua maioria, adotam uma teoria da inspiração verbal por ditado
das escrituras. A fragmentação tem-se mostrado mais intensa entre os fundamentalistas da
velha escola. O historiador Mardsden talvez tenha dito a verdade ao afirmar que “um
fundamentalista é um evangélico que está irado acerca de alguma coisa”. O grande vício do
fundamentalismo é a hostilidade de onde se originam as fragmentações e a tendência para o
conflito. O vício do liberalismo, por sua vez, é o ceticismo.

4 – Os Neofundamentalistas defendem as doutrinas essenciais do fundamentalismo. Embora


anseiem por desvencilhar-se da reputação de visão estreita, de pouca cultura e de permanente
fragmentação. Além disso, esforçam-se por edificar associações mais amplas e alianças
espirituais, incluindo um leque mais amplo de evangélicos do que o que fazem os
fundamentalistas. Em outras palavras, para os neofundamentalistas “separação” não é a
palavra-chave.

5 – Os neo-evangélicos moveram-se um tanto para a esquerda dos neofundamentalistas. Suas


posturas doutrinárias eram um pouco mais liberais, embora não se tenham tornado liberais.
Entre eles, a crença de que a Bíblia “não tem erros” recebe interpretações diferentes. Muitos
deles não crêem em uma exatidão absoluta, mas preferem dizer coisas como: “Não há erros na
mensagem do evangelho”. Ou então falam sobre a mensagem bíblica em geral, sem entrar em
27

detalhes. Pontos de vista mais liberais são tomados quanto a certa variedade de assuntos,
como a criação, a sua maneira, o elemento temporal da criação, etc.

Podemos dizer que os neo-evangélicos representam uma posição do meio-termo entre o


fundamentalismo e o liberalismo; e, na verdade cada neo-evangélico representa essa posição
em um grau todo próprio.

6 – Os liberais – Esses pensadores abandonaram a noção de Perfeição das Sagradas


Escrituras, e começaram à aplicar os métodos científicos e históricos ao estudo da Bíblia.
Igualmente, não pensam ser necessário, e nem mesmo correto, supor que a Bíblia é a única
autoridade. Para eles, a Bíblia é apenas uma das autoridades (e com defeitos), entre outras
autoridades. Eles rejeitam a Bibliolatria. Os estudiosos liberais, naturalmente, representam um
espectro muito amplo de crenças, à começar pelos virtuais não cristãos, céticos e daí os
cristãos, de crenças muito lassas. Muitos liberais pensam que o cristianismo nem mesmo é a
única expressão religiosa legítima no mundo, e alguns deles opinam que o cristianismo não é
necessariamente, a melhor dentre tantas expressões religiosas do mundo.
Seu ponto positivo é a sua franca e frequentemente sincera busca pela verdade, incluindo sua
luta contra a estagnação. Mas o seu grande vício é o ceticismo. O liberalismo e a Comunidade
Anglicana tem sido poderosas forças por detrás do Movimento Ecumênico.

7 – Os pentecostais. Esses se originaram do metodismo. Mas o pentecostalismo não demorou


a expressar-se em muitas denominações distintas, aumentando enormemente a fragmentação
do protestantismo. Alguns estudantes de um colégio bíblico metodista resolveram que era
errado dizer que os dons espirituais deveriam desaparecer após o período apostólico. As
línguas foram buscadas e obtidas. Então, presumivelmente, outros dons espirituais foram
acrescentados, de tal modo que, hoje em dia, muitos pentecostais afirmam que todos os dons
espirituais neotestamentários foram restaurados. Mas outros pentecostais preferem falar em
termos de uma restauração parcial. A grande virtude desse movimento é a sua insistência de
que ainda há muita coisa a ser aprendida pelos crentes, e que as experiências místicas são um
poderoso meio de desenvolvimento espiritual. Mas também, o movimento tem certos vícios,
como um determinado exclusivismo, e, desafortunadamente falsas manifestações de dons, de
mescla com certas manifestações de dons que muito se assemelham às do espiritismo. Mais à
frente vamos analisar esse grupo com maiores detalhes.

8 – Os carismáticos Não Pentecostais, ou no caso do Brasil, essa gente também é conhecidos


como Neopentecostais, ou simplesmente Carismáticos. Esse tem permanecido como membros
das denominações protestantes tradicionais, embora seguindo práticas pentecostais, como a
28

possessão e o uso de dons espirituais. Até certos católicos poderiam ser assim chamado, visto
que o povo carismático, naquela igreja, não difere muito dos carismáticos evangélicos, exceto
que aceitam a autoridade papal. Igualmente aos pentecostais, vamos analisar este grupo com
maiores detalhes logo à frente.

Doutrinas Distintivas Básicas.

“Enquanto os cristãos tiverem um ponto em comum, o cristianismo ainda


vai dar certo8.”

Ora, até aqui vemos que todos partimos de uma mesma denominação e ela foi se
fragmentando ao longo da história, e que apesar de suas diferenças tem seus erros e seus
acertos, é uma presença real no mundo.

Vamos, nos artigos à seguir destacar o que essas denominações protestantes, de maneira geral,
se distinguem da Igreja Católica e quais são suas doutrinas comuns.

Foi tomada uma posição mais restrita acerca da autoridade, e as Escrituras Sagradas foram
eleitas a única regra de fé e prática.

Houve uma volta para o Agostinianismo (ideias de Santo Agostinho), com abandono do
tomismo (ideias defendidas por Tomás de Aquino).

A autoridade papal foi rejeitada, e o papa, quando muito, é aceito como o bispo legítimo de
Roma, ou então, é identificado como o falso profeta ou com o anticristo.

Houve rejeição à veneração a Maria e aos santos, com a paralela eliminação de imagens de
escultura.

Houve rejeição ao conceito de indulgências.

Também foi rejeitada a doutrina da sucessão apostólica, na maioria das denominações


protestantes e evangélicas.

Houve a rejeição ao Sacramentalismo, na maioria das denominações, embora muitos luteranos


e anglicanos continuem aceitando o batismo e a eucaristia como sacramentos.

Os concílios foram rejeitados como inerrantes.

8
Luiz Sayão Comentário no Congresso “A Igreja, a resposta de Deus para o mundo” Abril-2012 em Curitiba PR
29

A justificação pela fé, lado a lado com o ensino geral da graça divina, tornou-se o fator
principal na prédica. Os reformadores continuaram à ver a lei mosaica como guia de vida do
crente, embora não como justificadora. Mas esse ponto de vista tem sido rejeitado por alguns
grupos protestantes e evangélicos modernos.

No luteranismo, a consubstanciação tomou o lugar da transubstanciação, mas muitos


luteranos, e certamente a maioria esmagadora dos outros grupos protestantes também rejeitam
a primeira dessas doutrinas.

O determinismo foi e continua sendo uma ênfase comum de muitos grupos protestantes, em
contraste com a posição oficial da Igreja Católica Romana, que favorece o livre-arbítrio
humano. Quando o Jansenismo (movimento de caráter dogmático, moral e politico dentro da
Igreja Católica do século XVII a XVIII) foi formalmente rejeitado pelo catolicismo romano, o
determinismo jamais poderia ser aceito novamente pelos romanistas. No entanto, as doutrinas
da predestinação e do determinismo têm desempenhado papel preponderante nas crenças de
muitos evangélicos.

Rejeitado o celibato obrigatório, como requisito imposto aos ministros.

Houve a separação entre Igreja e Estado, o que, em muitos grupos protestantes e evangélicos é
aliado ao governo democrático da Igreja.

Tem havido maior ênfase sobre a total depravação do homem do que é comum à teologia
católica romana.

Muitos grupos protestantes chegaram a rejeitar o batismo infantil.

Houve uma total rejeição da hierarquia eclesiástica, com muita simplificação no ministério
(mais do que é permissivo pelo Novo Testamento), chegando–se ao extremo do governo
democrático.

Impôs-se o conceito do sacerdócio de todos os crentes, com a rejeição (por parte da maioria
dos grupos protestantes e evangélicos) do conceito de que o ministro é uma espécie de padre.

É fortíssima a ênfase sobre a necessidade de o indivíduo estudar as Escrituras, com a


consequente idéia de que somente a Igreja tem autoridade para interpretá-la.
30

Capitulo IV

O Pentecostalismo

O Cristianismo do século XX foi marcado por este movimento. O Pentecostalismo (Ou


também movimento carismático) emergiu dentre o metodismo, não demorando à que
surgissem muitas divisões separadas do movimento, às quais se transformaram em
denominações, e então o protestantismo se fragmentou de maneira extraordinariamente
acelerada durante este século. A mensagem pentecostal espalhou-se por todas as partes do
mundo, através de suas agências missionárias e, sem dúvida alguma, este é um movimento
permanente dentro da história do Cristianismo.

De maneira bem geral, podemos dizer que esse movimento denota-se daquelas pessoas cujo
padrão de culto seja o perfeccionismo metodista, a santificação, as manifestações de dons
espirituais, expulsão de demônios, alta taxa de misticismo dentro de seus cultos e baixo
conhecimento teológico por parte de seus membros com alguma variação entre as várias
denominações. Eles também salientam o batismo do Espírito Santo, como experiência
subsequente à conversão, usualmente acompanhada, segundo se supõe, pelo falar em língua
estranha, desconhecida por quem o fala. Geralmente, a glossolalia (nome dado ao fenômeno)
é considerada como evidência inicial no recebimento do Espírito Santo, de tal modo que o
indivíduo recebe o seu Pentecoste particular. Os grupos pentecostais aludem aos seguintes
nove dons: sabedoria, conhecimento, fé, curas, milagres, profecia, discernimento de espíritos,
línguas e interpretação de línguas. O fato é que este é um dos maiores e mais fortes dentro do
cristianismo da ala protestante, tendo ele mudado (à partir do final do Século XIX) em grande
parte o panorama do cristianismo, propondo reinterpretações das Escrituras, algumas com
grande radicalidade teológica, de culto e de experiências religiosas. Pode-se afirmar que
dentro da ala protestante do cristianismo, este seja o movimento que detém o maior número
de adeptos no globo terrestre.

Vamos estudar a sua história a partir deste ponto.

Antecedentes ao Pentecostalismo.
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Geralmente como ocorre em todas as religiões, o cristianismo também tem, através dos
tempos, experimentado algumas manifestações de entusiasmos religiosos. Do significado da
palavra, entusiasmo (do grego En = “em” e Theos = “Deus”), seu uso aponta para uma
revelação dada à algumas pessoas que afirmam ser esta uma revelação dada direta por Deus,
relatando êxtase místico, visões e algumas experiências fenomenalmente religiosas com
acentuada paixão e intensidade, tais como uma eletricidade ou um calor subindo pelo corpo.
Já a palavra carisma, alude aos dons espirituais mencionado no Novo Testamento, tidos como
espetaculares, tais como: profecias, curas, línguas estranhas e milagres diversos.

Vamos encontrar na Bíblia a primeira descrição dessas manifestações na Igreja de Corinto,


ainda nos dias apostólicos. Ao contrário das outras igrejas ligadas aos apóstolos, a Igreja de
Corinto detinha um grupo dentre os cristãos dessa igreja, que detinham uma inclinação
mística cujo posteriormente alguns estudiosos chamarão de “espirituais”, que manifestavam
elevada valorização a certas experiências e práticas religiosas, tais como profecias e línguas
extáticas e que por isso, menosprezavam os outros cristãos que não apresentavam tais
manifestações. Por outro lado, Paulo afirma ter tido, ele próprio, algumas experiências
espirituais incomuns, contudo, ele se mostra discreto com relação à elas e insiste para que essa
manifestação não se torne norma para todos os cristãos. Ao mesmo tempo, Paulo incentiva a
busca de dom de profecia e demostra sua preocupação com os excessos e distorções
frequentemente associados à tais práticas, ensinando também que esses dons são temporais e
secundários na vida cristã, mas que o amor estava em primeiro lugar, como se pode observar
em 1Coríntios 12-14.

No cristianismo antigo, o movimento pentecostal mais conhecido foi o Montanismo, que


surgiu na Frígia, Ásia menor na 2ª metade do século II (na década de 170 D.C.), fundado por
Montano. Esse homem fez a alegação de que seria o porta-voz de Jesus Cristo na terra,

que iria anunciar a sua volta e a descida da Nova Jerusalém. Apelando para visões e
profecias, com o auxílio de duas discípulas, Priscila e Maximila, exortaram o povo à
santificação como preparação para o final dos tempos. Alegando ter uma autoridade vinda
direto do Espírito Santo, esse grupo desprezou a Igreja Católica e seus bispos e se auto
intitulou como a “Nova Profecia”. A Igreja Majoritária excluiu esse grupo, que se organizou
depois separadamente e após algum tempo subsistiu. Há relatos de que Tertuliano (160 – 225
D.C.) que era um dos mais brilhantes e influentes teólogos cristãos dos primeiros séculos, no
final de sua vida, nutriu simpatia por esse movimento. Sendo partidário de um cristianismo
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rigoroso e disciplinado, esse pai da igreja sentiu-se atraído pela moralidade ascética dos
membros desse movimento.

Devido à má experiência que o montanismo teve com a Igreja, essa mesma passou à
desestimular fortemente o uso de dons, principalmente quando estes ameaçavam a autoridade
das Igrejas e a de seus bispos, como também a sua interpretação da Bíblia. Conduto, ao passar
dos séculos, a questão dos dons não foi totalmente esquecida, fazendo com que
esporadicamente surgissem grupos, com diferentes tipos de ortodoxia que evocassem tais
manifestações no seio do cristianismo como os cátaros, os begardos e os beguinas, não
deixando de citar a tendência apocalíptica de Joaquim de Fiore no século XII. Já no século
XVI, durante a Reforma, encontramos um foco maior de grupos, geralmente anabatistas, que
apelavam para revelações diretas de Deus e com isso tendiam à relativizar a importância das
Escrituras, fazendo com que viessem à ser chamados de “entusiastas”, “libertinos”,
“fanáticos” e “espiritualizados”. Lutero, Calvino e outros líderes reformadores vão escrever
sobre esses grupos naqueles que são considerados, segundo os mais tradicionais, escritos mais
contundentes desses autores.

Segundo Alderi de Souza Matos, o fato à ser ressaltado é que o protestantismo, devido à sua
insistência em direitos de livre exame das Escrituras, sacerdócio de todo cristão e a liberdade
de expressão e associação, abriu lacuna para que esses movimentos surgissem. Desde então, o
entusiasmo religioso se tornou um fenômeno relativamente frequente nas hostes protestantes.
Alguns exemplos conhecidos foram os Quakers ingleses, do século XVII com sua ênfase na
“Luz interior”, os avivamentos do século XVIII e XIX, tanto na Europa quanto na América
do Norte, o ministério de Edward Irving (século XIX), um pastor presbiteriano escocês que
trabalhou em Londres e é considerado o precursor do moderno movimento carismático.
Apesar de seus problemas, esses movimentos demostravam uma legítima insatisfação com a
Igreja e o anseio por uma espiritualidade mais profunda.

Suas raízes na tradição Metodista

Nos Estados Unidos do século XIX, o quadro do cristianismo era o de um ambiente altamente
religioso e volátil. O cenário das colônias inglesas na América do Norte era de relativa
estabilidade até meados do século XVIII, todavia, as influências do Pietismo alemão, do
Puritanismo (doutrina inglesa do século XVI, com tendência calvinista mais rígida, cujos
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membros liderados por John Winthrop vieram para a América do Norte refugiados da
perseguição que sofreram na Inglaterra em 1630 e fundaram a Igreja Presbiteriana em terras
ianques e que também fundaram a universidade mais antiga dos Estados Unidos, a
Universidade Harvard) e do movimento Metodista vieram acrescentar forças para mudanças
nesse cenário. Nas décadas de 1730 e 1740, com a ocasião do Primeiro Grande
Despertamento, esta trouxe nova vitalidade às Igrejas Protestantes, mas ao mesmo tempo,
produziu um tipo diferente de concepção de cristianismo, mais emocional, mais independente
das estruturas litúrgicas tradicionais, mais desejosos de nova experiência com o sagrado.
Durante as primeiras décadas do século XIX, essa tendência se intensificou no extremo oeste
americano com o Segundo Grande Despertamento. Sob a influência de pregadores como
Charles G. Finney (1792-1875), houve um progressivo questionamento da teologia reformada
tradicional, com seu enfoque na soberania de Deus, e uma ênfase crescente na liberdade,
iniciativa, capacidade de decisão e experiência pessoal, em sintonia com a nova cultura
americana que então se consolidava.

A partir dali, esse avivalismo se tornou prática corrente no cristianismo dos Estado Unidos
através da promoção e defesa de uma vida espiritual mais intensa e fervorosa, através de
campanhas chamadas “Camp Mettings” (conferências de avivamentos) feitos nas zonas rurais
e nas campanha evangelísticas urbanas. Essa efervescência espiritual foi tão poderosa que
chegou ao ponto de resultar no surgimento de um sem número de movimentos religiosos,
alguns dentro das linhas do Protestantismo e outras bem distantes, como os shakers (seita
dentro da Sociedade Religiosa dos Amigos, cujo maior aspecto é tida pela sua música e pela
defesa de igualdade entre os sexos, fundada por Ann Lee, de 1780.) , mórmons e Testemunhas
de Jeová.

Há entre os estudiosos do tema, duas correntes de pensamento para explicar o surgimento do


Pentecostalismo. Há de um lado o enfoque sociológico, que aponta para as peculiaridades
culturais e as transformações sociais e econômicas dos Estados Unidos do século XIX. Por
outro lado, há outros estudiosos que dão maior ênfase às matrizes teológicas do movimento,
acentuando que, apesar de toda a sua especificidade, o Pentecostalismo é fruto de
desdobramentos doutrinários de quase um século de cena protestante norte-americana.

Apesar da influência do Pietismo e do Puritanismo, a maioria desses estudiosos concordam


que a origem básica do Pentecostalismo se encontra no Metodismo Wesleyano, mais
precisamente na doutrina do mesmo; “inteira santificação” ou “perfeição cristã”. Esse era um
termo que ele usava para definir um conceito como “a mente de Cristo”, “Plena devoção à
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Cristo” e “Amor à Deus e ao Próximo”. Essa experiência era buscada como um alvo por toda
uma vida cristã, embora hesitasse em afirmar se essa busca era fundamentalmente um
processo ao longo da vida ou um evento instantâneo. Já em John Fletcher (Suíço, escolhido
por John Wesley como seu sucessor, que se destacou como apologeta metodista contra a
doutrina da predestinação.) vamos encontrar um desdobramento significativo que descreve
que a plena santificação como sendo aquela feita com um batismo pelo Espírito Santo nos
moldes do Pentecoste do Novo testamento. Nisto devo afirmar que Fletcher tinha razão, pois
vemos em Atos 19, quando Paulo chega à Éfeso, pergunta aos discípulos se eles haviam sido
batizados com o Espírito Santo, logo os batizou com oração e esses passaram à manifestar
carismas. Há aqui nesse texto, um indício de que essa era, se não a atestação de verdadeira
conversão, pelo menos uma característica própria da religião em sí.

Mas em se tratando da visão de Fletcher em comparação com a de John Wesley, o primeiro


dirá o seguinte:

“Vocês encontrarão as minhas ideias sobre essa questão nos sermões do Sr.
Wesley sobre Perfeição Cristã e sobre o Cristianismo Bíblico, com a seguinte
diferença: eu distinguiria mais precisamente entre o crente batizado com o poder
pentecostal do Espírito Santo e o crente que, como os apóstolos após a ascensão de
nosso Senhor, ainda não está revestido desse poder...”

Fletcher também iria dar ênfase à defesa de sua ideia, novamente em contraste com Wesley,
da divisão da História em três dispensações: Do Pai, do Filho e do Espírito Santo, esta última,
se estendendo desde o Pentecoste até a Segunda Vinda de Cristo. Vale destacar que essa idéia,
passou à ser encarada como o processo de desenvolvimento espiritual pelo qual todos os
indivíduos devem passar, como descrito um pouco mais acima. A cosmovisão cristocêntrica
de John Wesley, com base na tradição bíblica de Paulo e de João, vai ganhar uma
interpretação mais pneumatocêntrica e lucana, com principal foco no livro de Atos. A
transição da idéia de um apologeta para o outro só vai se consumar definitivamente no
contexto norte - americano.

Durante o Segundo Grande Despertamento, nas primeiras décadas do Século 19, o Metodismo
deu um salto grande em termos de crescimento nos Estados Unidos, onde mais que a
expansão numérica, a sua doutrina influenciava muitas outras denominações. Entre essas
doutrinas, podemos destacar a pregação extemporânea, de forte conteúdo emocional, apelos
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insistentes seguidos de auxílio espiritual aos convertidos ao final de todos os cultos, a


participação de mulheres orando e pregando em reuniões para ambos os sexos e a forte ênfase
na teologia arminiana (escola de pensamento soterológica fundada pelo holandês Jacobus
Arminius, cujas idéias centravam no livre-arbítrio.). Em consequência disto, historiadores
dizem que houve uma “arminização” da fé religiosa nos Estados - Unidos, resultando numa
rejeição ao calvinismo (conjunto de idéias de João Calvino, no qual a centralidade delas está
baseada na predestinação). O personagem mais exponencial que vamos encontrar neste
período é Charles Finney, de origem presbiteriana.

Mas a partir de 1830, o insistente crescimento da “perfeição cristã” resultou numa cruzada ou
avivamento da “santidade”, no inglês “Holliness”, cujo nome intitulou os grupos dessa
tendência, que abraçaram a idéia de John Fletcher, no tocante ao batismo do Espírito Santo ser
uma “segunda benção” , onde, segundo eles, essa segunda benção consiste numa espécie de
iluminação espiritual e avanço na santificação, que geralmente eleva a espiritualidade da
pessoa. Os grupos Holliness rebuscavam nas Escrituras uma anelação pela restauração do
cristianismo apostólico, chegando à conclusão de que isso só seria possível através da
restauração dos dons espirituais.

A figura mais proeminente dentro desse movimento será Phoebe Palmer, esposa de um
médico de Nova Iorque. Ela liderou por muitos anos, reuniões para promover a santidade,
publicou um influente periódico e viajou extensamente como evangelista itinerante na
América do Norte e na Europa. Na literatura da época, o tema de santidade havia saturado
todas as publicações desse período, sendo publicados inúmeros títulos sobre o tema. No
Oberllin College em Ohio, onde Finney lecionava teologia, surgiu o chamado
“perfeccionismo de Oberllin”, que dava forte destaque ao ativismo social. O avivamento de
1857-1858, considerado por alguns teólogos como o “Terceiro Grande Despertamento”,
difundiu de maneira especial as idéias dos movimentos de santidade e perfeição cristã. Desse
modo, o contexto avivamentista norte-americano moldou o pensamento metodista em novas
direções. Nesse período, a santidade passou a ser vista como um pressuposto e não mais com
um alvo da vida cristã. Um desdobramento significativo do Cristianismo protestante ocorreu
em períodos posteriores à Guerra Civil (1861-1865. Luta entre onze Estados do Sul
latifundiário, aristocrata e defensor da escravidão contra os Estados do Norte, industrializados
e abolicionistas), o discurso e a simbologia do pentecoste Neotestamentário foram dominando
cada vez mais o movimento de santidade e suas igrejas. Nesse período, a santidade passou à
ser entendida mais e mais como segunda benção na vida cristã nos termos de batismo com o
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Espírito Santo como algo distinto da conversão. Outro destaque foram as profecias, feitas
geralmente no sentido sobrenatural e extático, as curas e os milagres. A hinódia também foi
afetada, tendo surgido vários “hinários pentecostais”.

Nessa época, surgiram as primeiras associações, fundadas pelas igrejas metodistas e de outras
denominações que abraçaram o movimento Holliness. A primeira foi a Associação Nacional
Holliness de 1867 em Vineland, Nova Jersey e a maior de todas a Associação Holliness de
Iowa em 1879. Com o passar do tempo, alguns líderes holliness passaram a falar num
“Batismo do Espírito Santo com fogo”, como sendo uma espécie de terceira experiência na
vida cristã, distinta tanto da conversão quanto da plena santificação. Foram só nos últimos
anos que surgiram as primeiras denominações do movimento de santidade: Igreja de Deus em
Cristo (1897 em Lexington, Mississipi) e igreja Pentecostal Holliness (1898 em Goldsboro,
Carolina do Norte). Já próximo do Século XX, todas as correntes dessa mentalidade tinham
em comum uma mentalidade, linguagem e simbologia “pentecostal”, valorizando altamente
uma experiência de batismo “com”, “do” ou “no” Espírito Santo, conforme narrado em Atos
2. Mas antes, ainda faltava um último item para formalizar essa equação: O avivamento da
Rua Azuza.

Primórdios do Movimento Pentecostal

No ano de 1900, em Topeka, Estado do Kansas, foi criado um instituto de estudo bíblico
chamado Bethel Bible College por um pregador metodista influenciado pelo movimento de
santidade chamado Charles Fox Parhan (1873-1929). Há cerca de dez anos, ele vinha
ensinando que a glossolalia devia acompanhar esse batismo do Espírito Santo tão popular nos
círculos holliness. Por algum tempo, ele creu que todos os cristãos receberiam o
conhecimento sobrenatural de línguas terrenas para que pudessem rapidamente evangelizar o
mundo inteiro antes da volta de Jesus Cristo. Já havia manifestações de glossolalia em anos
anteriores nos Estados Unidos, assim como em diversas partes do mundo através da História,
mas a evolução aqui demonstrada é de que ele foi o primeiro à considerar o “falar em línguas”
como evidência inicial e real do Batismo do Espírito Santo. Essa foi a característica que se
tornou a marca distintiva do movimento pentecostal.

No dia 31 de Dezembro, Parhan e seus alunos realizaram uma vigília para aguardar a chegada
do novo século, então um de seus alunos e evangelista, Agnes Ozman, 30 anos, pediu-lhe que
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impusesse as mãos para que este fosse batizado com o Espírito Santo a fim de ser missionário
no exterior. Ali, ele passou a falar em línguas e durante alguns dias esse mesmo fenômeno
ocorreu com outros alunos, inclusive com Parhan também. Nos anos seguintes, Parhan
continuou com o seu trabalho pelos Estados Unidos e Canadá. Há relatos de que
manifestações semelhantes estavam ocorrendo também na Grã-Bretanha, que ficou conhecido
como “O Grande Avivamento Galês”. Especificamente, este avivamento galês gerou em
muitos o desejo de que esse episódio ocorresse novamente, multiplicando as reuniões de
oração nesse sentido.

O movimento de Parhan ganhou vários nomes, “fé apostólica”, “movimento pentecostal” e


“chuva tardia” os mais conhecidos, embora todos apontassem para as características da nova
cosmovisão. Uma das idéias centrais era o chamado “repristinação” ou restauracionismo, que
significa o retorno ao cristianismo primitivo, idealizados como uma época de maior fervor,
devoção e plenitude cristã. Associada à isso, estava a nova linguagem que dava ênfase ao
poder do Espírito, conforme era manifesto entre os apóstolos através de sinais e maravilhas.
Essa linguagem passou à determinar a distinção importante entre os dois movimentos; de um
lado os grupos holliness que enfatizavam a santidade e do outro, o movimento pentecostal que
privilegiava o conceito de poder.

O terceiro nome, “chuva tardia” deu a interpretação de como os pentecostais viam sua relação
com a Igreja Apostólica como sendo esse o indício evidente dos finais dos tempos. O Dr.
Donald W. Dayton, no livro Theological Roots of Pentecostalism vai afirmar sobre essa
questão o seguinte: “O Pentecoste original do Novo Testamento foram as ‘primeiras chuvas’,
o derramamento do Espírito que acompanhou a ‘plantação’ da igreja. O pentecostalismo
moderno é as ‘últimas chuvas’, o derramamento especial do Espírito que restaura os dons nos
últimos dias como parte da preparação para a colheita, o retorno de Cristo em glória”. O
próprio autor observa que a estrutura da “chuva tardia” se torna o maior problema da
apologética pentecostal; sua descontinuidade com as formas clássicas do Cristianismo: “A
longa estiagem desde o período pós-apostólico até o tempo presente é vista como parte do
plano dispensacional de Deus para as eras”. Em resumo, o pentecostalismo foi interpretado
pelos seus simpatizantes como o derramamento final do Espírito de Deus que iria preparar a
Igreja para o derradeiro esforço para a evangelização do mundo antes da volta do Senhor.
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O avivamento da rua azuza

Em 1905, Parhan mudou-se para o Texas e lá abriu uma escola bíblica em Houston, onde um
ex - garçom negro e pregador holliness, se inscreveu, William Joseph Seymour (1870-1922).
Esse era o período da discriminação racial nos Estados Unidos e Parhan era adepto dessa
ideologia, fazendo com que ele aceitasse Seymour como aluno de sua escola, mas determinou
que ele assistisse às aulas sentado numa cadeira, no corredor do colégio ao lado da sala.
Convidado semanas depois à visitar uma comunidade batista de Los Angeles, formada por um
grupo de Afrodescendentes expulsos de sua antiga congregação por adotar a doutrina
holliness, esse grupo era pastoreado por uma mulher chamada Julia Hutchins. Seymour que
nessa época tinha 35 anos, filho de escravos, tinha pouca cultura, limitada desenvoltura em
oratória e era cego de um olho, havia escolhido o texto de Atos 2:4, para seu primeiro sermão
nessa comunidade, mesmo sendo ele uma pessoa que nunca tivesse falado em línguas. A
pastora não gostou de seu ensino e ele então, acompanhado de uma boa parte do grupo dessa
comunidade, começa a fazer reuniões na casa onde estava hospedado. Quando esta casa havia
se tornado pequena, mudaram-se então para uma outra casa, um pouco maior, localizada na
rua Bonie Brae, onde no dia 09 de Abril, o avivamento havia começado.

Três dias após, várias pessoas começaram à falar em línguas começando pelos negros e depois
os brancos e até o próprio Seymour começou à apresentar a tão sonhada experiência de
glossolalia. Nesse mesmo dia a varanda da frente da casa desabou com o peso da multidão,
fazendo com que os líderes alugassem um rústico prédio de madeira na Rua Azuza, perto do
centro de Los Angeles. Esse prédio havia abrigado uma igreja metodista negra e depois veio
à se tornar um cortiço e estábulo. Imediatamente, as reuniões começaram a chamar a atenção
da imprensa, fazendo com que o principal jornal da cidade enviasse um repórter que criaria
um artigo chamado “Estranha Babel de línguas”, ridicularizando os fenômenos que ali
ocorriam. Vale a pena ressaltar que todos estes fatos aconteceram muito rápido, no período de
dez dias apenas e esse mesmo artigo foi publicado no mesmo dia em que um terremoto
seguido de um incêndio, destruiu a cidade de San Francisco, norte da Califórnia, no dia 18 de
Abril de 1906. Esse artigo funcionou como propaganda gratuita e logo em seguida aconteceu
o Avivamento da Rua Azuza.

As reuniões alí feitas eram eletrizantes e muito barulhentas, começando geralmente às 10h. da
manhã indo não raramente até as 2, 3 horas da madrugada. Ali não se empregava liturgia,
hinários ou mesmo ordem de culto, fazendo com que os homens urrassem e pulassem através
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do salão e as mulheres dançassem e cantassem. Muitas pessoas entraram em transe e caíam


prostradas no chão. Até Setembro desse ano, cerca de 13.000 pessoas passaram ali para ouvir
a nova mensagem pentecostal. Entre eles, muitos pastores e teólogos de respeito foram lá para
investigar o que estava acontecendo, acabando muitos deles se rendendo ao que presenciaram.

Um fato que marcou nessa congregação foi o de que as reuniões eram multiculturais, no
sentido de não haver segregação entre as raças. Ali se reuniam negros, brancos, hispanos,
asiáticos e imigrantes europeus. Seymour, em um artigo do jornal “A Fé Apostólica” fundada
por este mesmo, de Novembro de 1906 escreveu: “Nenhum instrumento que Deus possa usar
é rejeitado por motivo de cor, vestuário ou falta de cultura”. Em outro artigo, Seymour
afirmou que em uma reunião que durou a noite toda, encontravam-se ali pessoas de 20
nacionalidades diferentes. Uma frase usada comumente na época, dizia que “a linha divisória
da cor havia sido lavada pelo sangue”. Em fase da longa e terrível história de racismo e
segregação dos Estados Unidos, não é de se admirar que este movimento fosse tido como
legitimamente vindo de Deus, deixando encantados aqueles que participaram e os que
observaram esse movimento.

Contudo, talvez em grande parte pela falta de uma organização litúrgica ou teológica, muitos
problemas surgiram dentro dessa congregação, como por exemplo o fato de que muitos
médiuns espíritas tentaram ministrar sessões durante os cultos; enquanto muitas pessoas
sentiam a presença de Deus, muitas outras ficavam nos fundos do salão discutindo e
condenando além de que havia muitas críticas por parte dos jornais e líderes eclesiásticos.
Houve também crises internas como: choques de personalidade, fanatismo, divergências
doutrinárias e separação racial. Com o passar do tempo, Seymour e outros líderes assumiram
o controle da igreja e excluíram os brancos e hispanos. O próprio Parhan, que havia ensinado
Seymour tempos antes, visitara a instituição em Outubro de 1906, ficou chocado com certas
manifestações que presenciou ali.

Após três anos de reuniões diárias de alta intensidade, o avivamento entrou em declínio. Após
a morte de Seymour em 1922 e de sua esposa Jennie em 1936, a missão foi fechada e o prédio
foi demolido. Contudo, um novo capítulo da História da Igreja foi aberto e um processo
permanente no cristianismo foi instaurado. Há alguns anos, no local onde estava localizada a
igreja, foi colocada uma placa com os seguintes dizeres:

“Missão da Rua Azusa – Esta placa comemora o local da Missão da Rua Azusa,
que estava localizada na Rua Azusa 312. Formalmente conhecida como Missão da
Fé Apostólica, ela serviu como nascedouro do Movimento Pentecostal internacional
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de 1906 a 1931. O pastor William J. Seymour superintendeu o “Avivamento da Rua


Azusa”. Ele pregou uma mensagem de salvação, santidade e poder, recebeu
visitantes de todo o mundo, transformou a congregação em um centro multicultural
de adoração e comissionou pastores, evangelistas e missionários para levaram ao
mundo a mensagem do Pentecoste (Atos 2.1-41). Hoje os membros da Movimento
Pentecostal/Carismático totalizam meio bilhão ao redor do mundo. Fevereiro de
1999 – Comissão Memorial da Rua Azusa.”

Então, para se explicar o Pentecostalismo prático, devemos entender que ele teve em sua
gênese dois fundadores: Charles Parham e William Seymour. Parham foi o primeiro que
lançou a afirmação fundamental de que o falar em línguas era evidência visível e bíblica do
Batismo do Espírito Santo e William Seymour, como discípulo de Parham, tem a sua
importância no fato de que através de sua liderança no Avivamento na Rua Azuza, o
Pentecostalismo ganhou como fenômeno, projeção internacional e mundial à partir de 1906.
As primeiras denominações pentecostais dos Estados Unidos serão, entre outras a Igreja de
Deus de Camp Creek (Carolina do Norte), a Igreja de Deus de Cleveland (Tennessee), a Igreja
da Fé Apostólica (Portland, Oregon) e as Assembléias de Deus (Hot Springs, Arkansas). Um
líder extremamente importante foi William H. Durham, de Chicago, cidade que teve grande
influência na internacionalização do movimento.

Aspectos negativos ou controvérsias do pentecostalismo.

Dada a razão de que o Pentecostalismo, através de seu maior propagador, a Rua Azuza no
caso, não ter se preocupado ou tido um critério bíblico sério à respeito de sua doutrina, é de se
esperar que no mínimo esse movimento apresentasse diversas controvérsias. A lista, de
acordo com a opinião de alguns teólogos, pode variar em inúmeras questões doutrinárias, mas
algumas são mais latentes do que outras. Vamos analisar algumas delas.

Obra Consumada – Essa foi a primeira ruptura na classe pentecostal. “De acordo com a visão
tradicional dos grupos de holliness e dos primeiros pentecostais, inspirada na visão
wesleyana, existia uma experiência instantânea de inteira santificação” ou “perfeição cristã”,
separada da experiência de conversão. Era a “segunda benção” que era considerada como uma
preparação para a terceira experiência, que seria o Batismo com o Espírito Santo (a nova
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experiência Pentecostal). Contudo, em 1910,Willian H. Durham, pastor da Missão Avenida


Norte de Chicago, questionou essa idéia, insistindo no que ele chamou de “obra consumada
no Calvário”, ou seja, a obra de sacrifício de Jesus na cruz já era suficiente, tanto para a
salvação quanto para a santificação. Os pentecostais que abraçaram essa idéia entenderam-na
como a santificação sendo um processo gradual na vida do cristão. Em 1915 essa idéia era
defendida pela metade dos pentecostais dos Estados Unidos e hoje já é pertencente à maioria
deles.

A Questão Racial – O Avivamento da Rua Azuza foi um importante passo no processo de


Igualdade Racial, juntando tanto negros quanto brancos em suas reuniões. Era um verdadeiro
modelo de cooperação inter-racial e muitos líderes negros e brancos se esforçaram nesse
sentido pra que a Igualdade Racial fosse um fator determinante e elemento básico do
Pentecostalismo em 1910, contudo com o passar dos anos, os líderes brancos acharam difícil
manter esse impulso inicial, pois o racismo e as leis de segregação racial (leis Jim Crown)
eram muito fortes, fazendo com que o movimento desse um passo para trás, dando a vitória à
lei vigente. Ficou difícil fazer convenções multirraciais, pois as leis proibiam que hotéis
hospedassem as duas etnias no mesmo lugar. Por causa desses obstáculos culturais, raciais,
sociais e institucionais, muitas igrejas negras se retiraram das denominações multirraciais já
em 1908. Da mesma maneira, uma associação branca ligada à Igreja de Deus em Cristo,
formou as Assembleias de Deus como uma instituição predominantemente branca em 1914
em Hot Springs, Arkansas.

O mesmo fato veio acontecer, quando em 1924, a maior parte das igrejas brancas, de outra
denominação mista, as Assembléias Pentecostais do mundo, vieram à se retirar para formarem
uma denominação branca, que depois veio à ter o nome de Igreja Pentecostal Unida no
Missouri. Os pentecostais hispanos, que eram muito numerosos, vieram também à se
organizar separadamente. Desde o final da década de sessenta, várias igrejas pentecostais vêm
tentando sanar algumas dessas controvérsias.

Movimento unificado – Em 1913, na Califórnia, o pastor canadense Robert E. Maclister


começou a insistir no fato de que os apóstolos batizavam as pessoas somente “em nome de
Jesus”. Essa prática começou à ser adotada por muitos pastores pentecostais através do país e
sua prática parecia apenas uma nova fórmula de se invocar o batismo, contudo, com o tempo,
essa prática começou à gerar idéias de rejeição ao Trinitarismo e sua doutrina da Santíssima
Trindade e suas pessoas distintas, constituindo uma reedição do monarquianismo modalista
(também conhecido como Sabelianismo, espécie de doutrina que em oposição ao trinitarismo,
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defende que Deus é uma só pessoa e como tal, se manifestava assumindo as figuras de Pai,
Filho e Espírito Santo. Defendem que quem sofreu na cruz foi o Pai.) dos primeiros séculos
da Igreja Cristã. Contudo, em 1916, as Assembléias de Deus condenaram formalmente as
posições do movimento unicidade ou “Jesus somente” e seus adeptos tiveram se de desligar e
formaram as suas próprias denominações, as Assembléias Pentecostais do Mundo em 1919 e
depois a Igreja Pentecostal Unida em 1945. Hoje esse grupo representa uma fração muito
pequena dentro do Pentecostalismo mundial.

Pacifismo – A maior parte dos primeiros pentecostais eram resolutos pacifistas por dois
motivos: Primeiro por obediência às Escrituras, “Amai seus inimigos” e “não matarás” e a
crença pré-milenista do fim do mundo. A idéia era a de que se Jesus estava voltando, então os
esforços da igreja deveriam ser voltados para a evangelização do mundo e não para guerras.
Com isso, a maioria das igrejas se posicionaram contra o envolvimento dos Estados Unidos
na I Guerra Mundial e alguns pastores chegaram até à serem presos. Já na II Guerra Mundial,
muitos já haviam adotado a postura mais evangélica e aprovando a legitimidade do
envolvimento americano na guerra. Já na Guerra do Vietnã, muitos já haviam se tornado anti-
pacifistas.

Manipuladores de Serpentes - Esse episódio demonstra o aspecto sensacionalista do


movimento e até mesmo fanfarrão. Num domingo de 1910, um pregador do Tenesse, George
W, Hensley, falando sobre o texto de Marcos 16: 17-18, em sua conclusão, tira uma cascavel
de dentro de uma caixa e segurou-a com as mãos por vários minutos e à seguir incentivou sua
congregação à fazer o mesmo. Com isso, sua fama se espalhou e ele foi ordenado Pastor na
Igreja de Deus. Essas práticas, ele levou até o fim de sua vida, sendo picado por muitas vezes.
Mesmo essa prática sendo proibida por lei e seus seguidores sendo preso muitas vezes, ele
continuou até que no dia 24 de Julho de 1955, foi picado mais uma vez. Assim como das
outras vezes, ele rejeitou tratamento médico e amanheceu morto aos 75 anos de idade. Diz-se
que cerce de 2.500 pentecostais americanos ainda praticam essa modalidade nos dias de hoje
nas igrejas autônomas mais conservadoras.

Latinos – Os latinos, principalmente os mexicanos e chicanos ( americanos de origem


mexicana), sempre estiveram no movimento pentecostal desde o seu início da rua Azusa. Por
razões não muito claras, Seymour decidiu expulsá-los da Missão em 1909. Esse ato deu
origem ao Movimento Pentecostal Latino que se difundiu pelos Estados Unidos, México e
Porto Rico. Em 1912 já existiam na Califórnia, Texas e Havaí suas igrejas autônomas, tendo
um dos lideres iniciais e influentes, Francisco Olazábal, o “El Azteca”. Até pouco tempo, os
43

latinos eram conhecidos como “os pentecostais silenciosos” devido à rara menção de sua
história. Graças à esse segmento, a idéia de que todo latino é o mesmo que ser católico
romano tem sido deixada de uso, pois já em 1998, 100.000 latinos frequentavam as 10.000
igrejas e grupos de oração em 40 tradições pentecostais existentes em muitos países latino
americanos. Hoje, uma grande Igreja desse movimento é a Assamblea de Iglesias Cristinianas,
INC. Cujo presidente é Carlos Sepúlveda.

Falta de interesse pelo estudo das doutrinas – Essa é uma reclamação muito corrente no meio
à respeito dos adeptos do Pentecostalismo. Essa crítica, nem sempre vem movida por inveja
dos não pentecostais, mas sim pela preocupação da entrada de ocultismo pelas outras
religiões, como vimos que aconteceu com os espíritas que queriam praticar sessões de
invocação de espíritos dentro da Igreja cristã. Até mesmo alguns pentecostais admitem abusos
e operações de forças malignas dentro do movimento. O legalismo dos grupos pentecostais é
certamente um fator debilitador dentro da espiritualidade autêntica, porque, segundo o pastor
João Marques Bentes, esse legalismo gera fanatismo, quando os cristãos começam a olhar
para as externalidades e não para a piedade do homem interior. Há a crítica de que os
pentecostais dependem demais dos carismas do que propriamente da transformação de vida
que o evangelho traz para o homem.

Aspectos positivos do pentecostalismo

Sem dúvida alguma, o Pentecostalismo trouxe evoluções à cristandade no sentido de que


através das ações dele, algumas parcelas da sociedade puderam enfim, fazer parte da
comunidade cristã além de seu interesse em rebuscar os dons apresentados no Novo
Testamento. Veremos alguns deles.

Relacionamento inter-racial – Certamente esta foi a maior contribuição do movimento.


Apesar de sua breve tentativa de criar um ambiente onde houvesse a possibilidade de pessoas
relacionarem- se com outras pessoas, de diferentes cores, sua atitude nos primeiros anos foi
sem sombra de dúvidas positiva. O que é de se estranhar e até se perguntar qual é o papel da
pessoa como cristã no mundo é o fato de que embora houvesse tido cerca de 1900 anos da
primeira vinda de Jesus, no planeta ainda houvesse o racismo como uma tradição
preponderante em nossa sociedade. É certo de que quando tratamos do assunto
Pentecostalismo, devemos procurar entender os costumes e a mentalidade do povo norte-
44

americano para procurarmos saber o porquê que da parte de pastores brancos, não houvesse
tido, pelo menos não grafado nos documentos conhecidos por este que vos escreve nenhuma
atitude para com a integração racial. “Porque Deus não faz acepção de pessoas” (Rm 2:11),
ora, este versículo, embora isolado possa ser usado para criar diversas e diversas exegeses,
apenas esse versículo nos mostra uma das qualidades de Deus, sujeito amoroso, justo,
responsável autor de sua própria criação, não vincula valor maior de uma criatura para com
outra. Devemos entender sim, que como a nossa sociedade contemporânea tem seus vícios, a
do inicio do Pentecostalismo também teve os seus. Longe de justificar tal omissão por parte
daqueles que puderam e tiveram a oportunidade de trazer à todos, sob a forma de ações, a
mensagem que reconcilia todas as nações para com Deus. Através da história, descobrimos
que a Igreja sim, cometeu seus pecados, mas vemos que também, em alguns casos ela também
cometeu seus acertos. Essa primeira tentativa de inclusão de pessoas de diferentes raças, ainda
que rápida, foi um desses acertos.

Mulheres – Assim como o primeiro exemplo deste tópico, a reconhecimento de mulheres para
os cargos ministeriais também foi um passo importante dentro do cristianismo. O
Pentecostalismo, em seus primórdios, teve na participação e visibilidade dadas às mulheres,
mais uma característica positiva. Dentro desse movimento, vão se destacar duas mulheres:
Maria Beulah Woodworth-Etter e Aimee Semple McPherson, esta última fundadora da Igreja
do Evangelho Quadrangular.

Maria B. Woodworth Etter (1844-1924) – Nascida em Lisboa, no estado de Ohio, a mais nova
de suas cinco irmãs. Essa pregadora foi uma precursora. Conheceu o cristianismo através da
conversão de suas irmãs mais velhas na Igreja Metodista, contudo não pode se batizar por
causa de sua tenra idade, conseguindo-o só depois que completar 13 anos. Diz um relato sobre
ela de que sofria de pânico para falar em público. Teve uma vida difícil, tendo cinco de seus
seis filhos mortos por doenças e seu marido pego em adultério. Em aflição, juntou-se a um
grupo de Quakers e se tornou uma pregadora avivalista. No seu culto, as pessoas clamavam e
choravam em voz alta; muitas pessoas entravam em transe e tinham visões que poderiam
duras várias horas. Em 1968, abraçou o movimento pentecostal mais amplo após passar seis
meses pregando em Dallas no Texas. Tornou-se uma das evangelistas mais conhecidas do
século e seu ministério abriu espaço para que outras mulheres pudessem ingressar como
pregadoras e outras como ministradoras de cura.

Aimee Semple McPherson – (1890 – 1944) Nascida em Ontário no Canadá, seu sobrenome
originalmente era Kennedy. Seu pai era metodista e sua mãe do exército da salvação. Quando
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era adolescente, conheceu o pentecostalismo através das pregações de Robert Semple, com
quem se casou aos 17 anos. Ele morreu dois anos depois, em Hong Kong, quando o casal
estava iniciando uma carreira missionária. Voltando para casa, ela contraiu matrimônio com o
homem de negócios Harold Macpherson e eles se tornaram evangelistas itinerantes (depois
que ela quase morreu de apendicite em 1913) Em 1917, Aimée passou a publicar a revista
mensal The Bridal Call (o chamado do noivo) e começou à atrair a atenção da imprensa.
Depois que o marido pediu o divórcio, ela aceitou em 1918 um convite para pregar em Los
Angeles. Dedicou suas energias à restituição do “cristianismo da Bíblia”, usando como tema o
texto de Hebreus 13:8. Em 1919 iniciou uma série de conferências que a tornaram famosa.
Dentro de um ano, os auditórios dos Estados Unidos não comportavam a multidão que queria
ouvi-la e as orações pelos enfermos tornaram sua marca registrada pelas campanhas. Em
rápida sucessão, ela foi à Austrália, (a primeira de suas viagens ao exterior, 1922), consagrou
o Templo Ângelus (1923), fundou uma estação de rádio (1924) e sua escola bíblica mudou-se
para uma sede própria (1925). “Sister” como era conhecida, também iniciou trabalhos sociais
em diversas áreas.

Em maio de 1926 começaram os problemas. Aimée alegou que teria sido sequestrada e que
conseguiu escapar, algo que nunca foi devidamente esclarecido. Enfrentou diversos
problemas de saúde à partir da década de 30 e entrou em um terceiro desastroso casamento
que durou menos de dois anos. Sua realização pública mais notável foi quando na década de
30 foi um programa social no Templo Ângelus, que distribuiu alimentos, roupas e outros
donativos a muitas famílias carentes. Durante a depressão, o refeitório distribuiu cerca de
80.000 refeições só nos dois primeiros meses. Sua contribuição mais importante e duradoura
foi a criação da Igreja do Evangelho Quadrangular em 1927, cujo nome aponta para Cristo
como aquele que salva, cura, batiza com o Espírito Santo e virá outra vez. Donald Dayton
afirma que essas quatro características em conjunto descrevem o movimento Pentecostal
como um todo. É aquilo que é conhecido como “evangelho pleno”.

O Pentecostalismo no Brasil

A partir de Los Angeles, o Pentecostalismo ganhou projeção nos Estados Unidos, mas foi por
Chicago, Illinois que o mesmo ganhou maior projeção mundial. Aqui na América do Sul, ele
entrou relativamente cedo, primeiro pelo Chile (1909) e depois no Brasil (1910). No inicio o
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crescimento foi lento, mas à partir da década de 50, ele se intensificou. Na América Central, o
pentecostalismo se expandirá à partir da década de 70 especialmente na Guatemala e em El
Salvador. No Chile, 80% da população protestante são pentecostais.

No Brasil, a primeira manifestação de entusiasmo religioso no protestantismo é atribuída por


Emile Leonard ao movimento liderado por Miguel Vieira Ferreira (1837-1895), engenheiro,
presbítero e pregador leigo, pertencente à uma família aristocrática de São Luis do Maranhão.
Miguel acreditava que Deus se revelava diretamente às pessoas como nos tempos bíblicos,
tendo ele também um temperamento místico, certa vez ficou em transe, imóvel por várias
horas, o que fez com que a diretoria de sua igreja o disciplinasse nas suas idéias. O Dr. Miguel
então se retirou da congregação com mais um grupo (a maioria de familiares) e então abriu a
Igreja Evangélica Brasileira (1879), que existe até hoje. Contudo, esse grupo difere do
pentecostalismo tradicional de algumas décadas mais tarde.

O sociólogo Paul Freston diz que a entrada do pentecostalismo teve três espécies de ondas; A
primeira onda é a vinda de duas denominações, ainda no começo do movimento, para o
Brasil: A Congregação Cristã do Brasil (1910) e a Assembléia de Deus (1911).

A primeira veio através do missionário ítalo-americano Louis Francescon (1866-1964), tendo


seu trabalho mais focado na colônia italiana e após perceber a necessidade de sua
sobrevivência, resolveu gerar trabalhos para entre os brasileiros. Sua primeira sede foi aberta
em Santo Antônio da Platina – Paraná.

Já a Assembléia de Deus, através de seus fundadores Gunnar Vingren e Daniel Berg,


fundaram sua sede em Belém do Pará e essa teve um crescimento tanto numérico quanto
geográfico. A maioria dos pentecostais no país pertence a essa denominação.

A segunda onda seria a fragmentação do pentecostalismo, já na década de 50 e 60,quando


surgiram entre muitas outras denominações, as maiores; Igreja do Evangelho Quadrangular
(1951), Igreja Evangélica O Brasil para Cristo e a Igreja Pentecostal Deus é Amor (1962),
todas voltadas de modo especial à curas divinas. Soma-se à isso, a coincidência da grande
aceleração de urbanização do país, com o aumento da população das grandes cidades. Freston
pontua que o estopim dessa nova fase foi a chegada da Igreja do Evangelho Quadrangular,
com seus métodos arrojados, forjados no berço dos modernos meios de comunicação em
massa, a Califórnia. Essa fase merece ser digna de nota, pois nota-se aqui a nacionalização do
pentecostalismo brasileiro, pois com exceção da Igreja do Evangelho Quadrangular que veio
47

dos Estados Unidos, as outras duas que surgiram na mesma época tiveram suas raízes aqui no
Brasil.

A terceira onda seria a partir do final dos anos 70 e ganhou força nos anos 80, com o
surgimento das igrejas denominadas neopentecostais, com sua forte ênfase na teologia da
prosperidade. Sua maior representante é a Igreja Universal do reino de Deus (1977), mas
existem outros grupos representativos como Igreja Internacional da Graça de Deus (1980),
Igreja Renascer em Cristo, Comunidade Sara Nossa Terra, Igreja Nova Vida, Comunidades
Evangélicas e muitas outras. Assim como a ênfase da primeira onda foi o Batismo do Espírito
Santo e a glossolalia, a da segunda as Curas divinas, a ênfase da terceira é o exorcismo e a
mensagem de prosperidade. Uma importante precursora dos grupos neopentecostais foi a
Igreja Paz e Vida, do Bispo Robert McAllister que rompeu com a Assembléia de Deus em
1960. Essa igreja foi a pioneira de um pentecostalismo para a classe média, menos legalista e
investiu muito na mídia. Sua maior contribuição para o movimento como um todo foi o
treinamento de futuros líderes como Edir Macedo e Romildo R. Soares.

Outros grupos pentecostais e neopentecostais brasileiros são oriundos da chamada


“Renovação Carismática”, movimento que surgiu nos Estados Unidos no inicio da década de
60 e com ocorrências de fenômenos pentecostais tanto nas igrejas protestantes com também
na Igreja Católica. Essa manifestação, certamente se deu com abertura da Igreja Católica
através do Concílio do Vaticano II, quando surgiu aí o movimento ecumênico. No Brasil, a
“Renovação” produziu divisões em quase todas as denominações mais antigas surgindo
assim, grupos como a Igreja Batista Nacional, Igreja Metodista Wesleyana e a Igreja
Presbiteriana Renovada. Essa adoção de práticas carismáticas continua afetando até hoje as
igrejas tradicionais, principalmente na área de culto, tanto em maior quanto em menor grau.
Podemos citar alguns representantes do pentecostalismo brasileiro.

Congregação Cristã do Brasil

Já apresentado um pequeno resumo da história dessa Igreja um pouco acima, podemos citar
que essa igreja tem raízes metodistas da Missão da Avenida Norte em Chicago, líderada por
Willian H. Durham. Louis Francescon, discípulo de Durham, foi um dos fundadores da Igreja
Presbiteriana Italiana daquela cidade e recebeu de Durham a profecia de que ele deveria levar
a mensagem pentecostal aos seus patrícios. Em 1909, ele e Giacomo Lombardi viajaram para
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Buenos Aires onde abriram uma igreja. No inicio do ano seguinte, Francescon visitou por
algumas vezes São Paulo e Santo Antônio da Platina. Na sua segunda visita ao lugar, ele criou
a Congregação Cristã do Brasil, que viria de um cisma na Igreja Presbiteriana do Brás, onde a
maioria era constituída de Italianos. O fundador nunca morou no Brasil, mas fez 11 visitas de
1910 a 1944, totalizando uns 10 anos de estada.

A Congregação Cristã, tem em suas peculiaridades, rejeição aos modernos métodos de


divulgação, restringindo a sua mensagem aos cultos. Possui fortes elementos sectários,
contudo não se considera uma igreja protestante e não mantendo ligações com outros grupos.
Seu estilo caracteriza-se por um rígido dualismo igreja-mundo e espírito-matéria, e, no
entanto, não pratica o legalismo de outros pentecostais. Destaca-se pelo “iluminismo”
religioso, apelando para revelações diretas de Deus no que diz respeito às mensagens nos
cultos e a decisões tomadas pela liderança. Suas reuniões, bastante ordeiras em comparação
com as de outros grupos pentecostais, dão forte ênfase aos “testemunhos”. A igreja pratica
uma forte cultura de ajuda mútua, denominada “obra de piedade”. No plano administrativo,
rejeita o excesso de organização, tem uma burocracia mínima, e não conta com pastores, e
sim com anciãos não remunerados. A liderança é baseada na antiguidade mais do que no
carisma ou competência. Seus líderes são praticamente anônimos e essa ausência de
personalismo resulta numa tendência mínima para cismas e ambições políticas. A
homogeneidade interna do grupo é fortalecida pelo constante contato entre os crentes de
diferentes cidades e por uma convenção anual realizada no Brás, na Semana Santa. Com as
suas características inusitadas, a Congregação Cristã no Brasil exemplifica o dinamismo e a
diversidade do movimento pentecostal.

Assembléia de Deus

Gunnar Vingren (1879-1933) e Daniel Berg (1885-1963) foram os seus fundadores. De


origem sueca, Vingren estudou no seminário da Igreja Batista Sueca em Chicago e em
seguida pastoreou algumas igrejas e abraçou o pentecostalismo quando conheceu o colega
Berg. Este também sueco filho de um pastor batista retornou à Suécia em 1908, onde
encontrou o amigo de infância Levi Pethrus, que havia se tornado pentecostal e tempos mais
tarde seria o líder do pentecostalismo na Suécia. Berg então influenciado por Pethrus, abraçou
também a fé pentecostal, retornando aos Estados Unidos onde conheceria Vingren, quando os
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dois se uniram pelo ideal missionário em 1909. Orando com um patrício, receberam deste
uma profecia no qual dizia que eles deveriam ir para um lugar chamado Pará.

Os dois então se fixaram em Belém do Pará e se filiaram à Igreja Batista, cujo Pastor Erik
Nilsson, ou Eurico Nelson, também sueco liderava. Alguns meses depois, a mensagem
pentecostal de Vingren e Berg surtiu divisões dentro da igreja e assim, surgiu o primeiro
grupo da divisão, adotando o nome de “Igreja da Fé Apostólica”, mesmo nome de um dos
primeiros grupos pentecostais dos Estados Unidos. Somente anos mais tarde, eles adotariam o
nome de Assembléia de Deus. À partir de 1914, missionários suecos vieram auxiliar os dois
missionários e o auge da presença sueca dentro da Assembléia, foi nos anos 30 cessando em
1950. Na primeira Convenção Geral, realizada em Natal, com a presença de 11 suecos e 23
líderes brasileiros, a igreja adquiriu autonomia em relação à missão sueca, que lhe transferiu
todas as propriedades. Houve também a virtual transferência da sede nacional de Belém para
o Rio de Janeiro. Mais tarde surgiu uma ligação mais estreita com os Estados Unidos, cujos
missionários têm exercido influência na área da educação teológica.

Quanto ás suas peculiaridades, Freston aponta para o seu sistema com sendo “oligárquico e
caudilhesco”, o que seria fruto da influência cultural nordestina. Diz-se disso os diferentes
ministérios que lá existem, nem sempre amistosos entre si e a grande autoridade exercida pelo
“pastor-presidente”, este tido como um verdadeiro bispo de uma cidade ou região. Nas
últimas décadas, tem havido desentendimentos á respeito desse modelo de liderança, ascensão
rápida dos adeptos desse sistema e da concorrência com outros grupos pentecostais. A maior
crise dessas enfrentadas foi o cisma que deu origem à Convenção Nacional das Assembléias
de Deus de Madureira. Esse ministério havia sido fundado pelo gaúcho Paulo Macalão, filho
de general, que entrou em conflito com os suecos, criticado por estes devido ao seu rigor
legalista. Consagrado por Levi Pethrus em 1930, ele se tornou independente e passou a abrir
trabalhos em vários estados. As tensões crescentes após sua morte em 1982 levaram à
expulsão de Madureira pela Convenção Geral em 1989 assim que ela deixou de representar
cerca de um terço das Assembléias de Deus no Brasil. Hoje a igreja enfrenta forte tensão entre
manter a tradição conservadora e populista e aceitar novos valores como a ênfase no
aprimoramento intelectual. Freston destaca que a formação cultural ultrapassada faz com que
líderes percam terreno para grupos pentecostais mais novos com neos tradições arraigadas
para dificultar a adaptação à moderna cultura urbana brasileira. Mas ainda assim, a
Assembléia é uma potência com seus mais de 12 milhões de afiliados 9, pouco mais de 1/3 de

9
Fonte: Censo 2010 – IBGE (www.ibge.gov.br)
50

todos os evangélicos brasileiros e 4 vezes mais numerosa que o congênere americano com 3
milhões. Com o passar do tempo, essa igreja vem se tornando mais parecida com as outras
igrejas evangélicas demonstrando assim mais sobriedade no seu culto e preocupação
intelectual e teológica dos seus obreiros.

Outras igrejas pentecostais

Alguns outros grupos expressivos no cenário religioso brasileiro, ainda dentro do


pentecostalismo clássico, são os seguintes:

Igreja do Evangelho Quadrangular.

Fundada nos Estados Unidos em 1927 por Aimée Semple McPherson, a Igreja Quadrangular
chegou ao Brasil por meio do missionário Harold Williams, um ex-ator de filmes de faroeste,
que implantou a primeira igreja em São João da Boa Vista (SP), em novembro de 1951. Em
1953 teve início a Cruzada Nacional de Evangelização, sendo Raymond Boatright o principal
evangelista. Desde então essa igreja tem crescido constantemente, sendo uma de suas
peculiaridades a forte ênfase dada ao ministério feminino. De todas as grandes igrejas
pentecostais brasileiras e contando com mais de 1,8 milhão de membros 10, esta é a única que
pode ser considerada uma filial da congênere norte-americana. Todas as demais surgiram no
próprio Brasil, ainda que algumas delas tenham sido iniciadas por fundadores estrangeiros.

O Brasil Para Cristo

Um dos primeiros pastores da Igreja Quadrangular brasileira foi Manoel de Mello, ex-
evangelista da Assembléia de Deus. Em 1955 ele separou-se da Cruzada Nacional para
Evangelização e organizou a campanha “O Brasil para Cristo” da qual surgiu o nome da igreja
que fundaria. Manoel surpreendeu o mundo evangélico quando filiou a sua igreja ao Conselho
Mundial de Igrejas (CMI), cuja filiação se estendeu até 1986.

10
Fonte: Censo 2010 – IBGE (www.ibge.gov.br)
51

Em 1979, a Igreja Evangélica Pentecostal O Brasil Para Cristo inaugurou o seu enorme
templo no bairro da Água Branca em São Paulo, SP, sendo o orador oficial, Phillip Potter,
secretário-geral do CMI. Não muito curioso, entre os presentes estava Dom Paulo Evaristo
Arns, o cardeal arcebispo de São Paulo. A revista “Veja” estampou em sua capa no dia 7 de
outubro de 1981, pela primeira vez um ministro evangélico, que era o Manoel de Mello.

Deus é Amor

Fundada por David Miranda, nascido em 1936, filho de agricultor no Paraná, foi para São
Paulo e lá se converteu em uma igreja pentecostal e em 1962 iniciou sua própria igreja na Vila
Maria. Pouco depois transferiu sua sede para o centro da cidade e em 1979 adquiriu sua “sede
mundial“ na Baixada do Glicério, onde há poucos anos foi construído um dos maiores
templos evangélicos do Brasil. Embora nunca quis se envolver com a televisão, a igreja detém
uma rede de emissoras de rádio e transmite seus programas para toda a América Latina.
Destaca-se como a mais rígida e legalista de todas as igrejas pentecostais. Sua direção
continua firmemente nas mãos de seu fundador.
52

Capitulo V

O Neopentecostalismo

A palavra Neopentecostalismo, vem da junção das palavras neo ( do grego Neos = novo) e
pentecostalismo, designa aquilo que seria uma continuação do pentecostalismo, porém, ao
contrário do que sugere o termo, seu movimento está por demais distante do pentecostalismo
tradicional. Alguns estudiosos afirmam que o termo neo, nesse caso vem à aludir à uma idéia
de negação, ou algo que já não é, ou Não-Pentecostalismo. O uso do termo foi cunhado nos
Estados Unidos na década de 70, para designar aquele grupo que abraçou muitas das doutrinas
do pentecostalismo e do movimento carismático (aqueles que entendem o batismo do Espírito
Santo como uma “segunda benção”), dissidentes da primeira e segunda onda ( que Freston
comentou) do pentecostalismo e cuja ênfase doutrinária seja o trinômio exorcismo-cura-
prosperidade, contudo, como dito anteriormente, uns preferem chamá-lo de “pentecostalismo
autônomo”.

Ela é hoje, dentro do cristianismo protestante (embora alguns dentro dele e fora dizem que
este movimento já se encontra fora do conceito da Reforma), é segundo a The New
International Dictionary of Pentecostal and Charismatic Movements (Ed.Zondervan, 2002) a
que detém o maior número de fiéis no mundo, mesmo somando a Igreja Tradicional e a
Pentecostal em todas as suas fragmentações, somando em seu total, algo em torno de duzentos
e noventa e cinco milhões de adeptos.

Wemerson Marinho, no trabalho: “Pontos negativos do Neopentecostalismo” usa a seguinte


expressão para designar o movimento:

“Movimento surgido em meados do século XX que enfatizava o batismo com o Espírito Santo
e os dons espirituais, dinamizando o método litúrgico e incluindo em sua teologia, doutrinas
rejeitadas pela fé apostólica e ortodoxa.”

Creio esta ser, no aspecto técnico, a melhor definição que se possa dar, desvencilhando o uso
de termos mais inflamados, como geralmente é aferido à este movimento.

O Neopentecostalismo, como é chamado no Brasil (Neo-Charismatic no exterior), vai surgir


nas igrejas como movimento de “terceira onda” (sendo essa definição criada por C. Peter
Wagner em 1980, que entre outras coisas “criou” a batalha espiritual) da segunda metade dos
53

anos 70 início dos anos 80, inspirados naquilo que virá à ser conhecido como “Teologia da
Prosperidade”, criado por Essek William Kenyon (1867 – 1948). Embora, muito
erroneamente, alguns atribuam a criação do conceito de Teologia da Prosperidade à Kenneth
Haggin, este meramente foi o maior propagador dos ensinos de Kenyon.

Achim N. Maseko, no seu livro Neo-Charismatic Churches lista algumas igrejas ao redor do
mundo que figuram este movimento:

Calvari Chappel na Califórnia

Igreja Católica Carismática do Canadá

Movimento Every Nation, nas Filipinas

Hillsong Church da Austrália

Ministries of His Glory da América Central

Pentecostal Charismatic Peace Fellowship nos Estados Unidos

Igreja Universal do Reino de Deus no Brasil

Potter’s House Christian Fellowship em Prescott, no Estado do Arizona

E a The New International Dictionary of Pentecostal and Charismatic Movements cita:

Church on the Rock- International

Vineyard Movement

International House of Prayer

Toronto Airport Christian Fellowship

Bethel Church

Morning Star Ministries

New frontiers

Sovereign Grace Ministries

New Life Fellowship Association

King Jesus Ministry

Tanto a primeira quanto a segunda publicação citam que dentro do movimento, muitas igrejas
vem sendo inspiradas pelo episódio conhecido como “A Benção de Toronto”, episódio de
1994 D.C; onde na Igreja Vineyard de Toronto CAN; hoje Toronto Airport Christian
54

Fellowship, num momento de grande êxtase, as pessoas caíam no chão, riam, tremiam,
choravam e chegavam até à vomitar. No Brasil, esse conceito está sendo entronizado e
assumido principalmente pelos artistas e pregadores do movimento gospel, com o nome de
“Adoração Extravagante”.

Geralmente os próprios Neopentecostais, não dão tanta ênfase à glossolalia como os


Pentecostais tradicionais, mas dão muita ênfase nas profecias, na imposição de mãos, uso de
óleos como instrumento de conexão ao mundo espiritual, hierarquia extremamente rígida,
campanhas para arrecadação de ofertas, adoração e louvor contemporâneos que misturam
música com imersão em transe e mensagens com grande ênfase aos textos do Antigo
Testamento.

Na questão da administração, é muito complicado determinar qual é o método que usam, pois
além de haverem vários métodos, a maioria das igrejas detém um círculo de administração
fechado, onde os membros que fazem parte dessa comissão, geralmente são os homens de
maior confiança da presidência e a política que se usa é que o sistema de administração não
pode em circunstância alguma ser revelado ao grande público. Isso gera um problema, pois
como essas igrejas vivem de ofertas e essas são isentas de impostos, há uma grande
dificuldade na identificação de um controle financeiro.

Esses são apenas alguns aspectos, daquilo que igrejas históricas e pentecostais chamam de o
mais herético dos movimentos atuais. Mais para frente vamos detalhar algumas delas.

O Fenômeno Neopentecostal no Brasil

O acontecimento mais marcante das últimas décadas no âmbito religioso do Brasil é o


surgimento do Neopentecostalismo. O carro-chefe desse movimento no Brasil é sem sombra
de dúvidas a Igreja Universal do Reino de Deus. O Termo Neopentecostalismo foi adotado
apenas no Brasil, mas no restante do mundo esse movimento é conhecido como Neo-
Charismatic, fato este que no Brasil, movimento carismático é conhecido como o episódio
pentecostal dentro da Igreja Católica. O fato é que esse movimento vem através de sua
mensagem de vitória e prosperidade arrastando multidões para dentro das igrejas que buscam
por milagres instantâneos e soluções rápidas para seus problemas mais imediatos, constróem
templos e mais templos com uma rapidez nunca antes vista, gera líderes cada vez mais
milionários, apóstolos, bispos e mestres e as mais diversas espécies de nomenclaturas que
55

possam existir, vasto número de programas de televisão e uma identidade cristã cada vez mais
de difícil distinção ao secularismo. Sendo uma manifestação ainda muito recente, sua
manifestação ainda é obra de muito estudo à respeito de sua identificação mais precisa,
inclusive no seu âmbito terminológico. Alguns preferem chamá-lo de “pentecostalismo
autônomo”, e outros de “pentecostalismo de cura divina”, mas este último termo é incoerente,
pois faria com que o movimento retrocedesse à década de 50, para o grupo da segunda onda.
Independente do termo, o fato é que o movimento representa, ao lado de uma continuidade,
um rompimento profundo com o pentecostalismo clássico e até mesmo com o protestantismo
histórico.

Esse fenômeno ainda muito recente tem como premissa o trinômio libertação-cura-
prosperidade não necessariamente nesta ordem. Diante das realidades de sofrimento e
alienação dos grandes centros urbanos, essas igrejas vêm oferecer espaços de solidariedade e
acolhimento, fazendo com que seus participantes obtenham um forte senso de dignidade. Por
outro lado, elas revelam uma forte tendência a práticas sincréticas e mágicas, tais como a
utilização de objetos e rituais como mediação para com o sagrado, a adoção de vocabulário e
práticas da religiosidade brasileira e o uso da Bíblia apenas como instrumento para a solução
de problemas. O Dr. Antônio Gouvêia de Mendonça (1922 – 2007) faz a seguinte avaliação
contundente:

“... essas igrejas não constituem comunidades de crentes comprometidos com a


koinonia cristã. Estão sempre cheias, mas de clientes que buscam solução mágica
para os problemas do cotidiano e que estão sempre em trânsito, na maioria das
vezes mantendo sua identidade religiosa tradicional. Não são, portanto, igrejas, mas
clientela de bens de religião obtidos magicamente.”

Por outro lado, José Bittencourt Filho tem uma visão mais otimista a respeito desse
movimento, que ainda está para ser demonstrada:

“O crescimento numérico do [Pentecostalismo Autônomo] e sua extraordinária


capacidade de mobilização demonstra que a proposta oferecida está em sintonia
com as demandas espirituais da população brasileira de todas as camadas sociais.
No futuro, o carisma deverá rotinizar-se, e os remanescentes serão talvez poucas
denominações mais próximas da tradição evangélica do que na atualidade.”
56

Esse novo pentecostalismo se adequa bem à moderna cultura urbana, influenciada pelos
programas de TV e pela ética de consumo capitalista. As duas expressões mais emblemáticas
desse movimento é a Igreja Universal do Reino de Deus, a Igreja Internacional da Graça de
Deus e uma que vem ganhando notoriedade é a Igreja Mundial do Poder de Deus, fruto de um
cisma da IURD.

Igreja Universal do Reino de Deus

A IURD foi fundada pelo pastor Edir Macedo, nascido em 1944, filho de um comerciante
fluminense, ele trabalhou por dezesseis anos na Loteria do Estado do Rio de Janeiro, período
no qual subiu de simples contínuo até um cargo administrativo. De origem católica, ingressou
quando adolescente na Igreja de Nova Vida, deixando-a para fundar sua própria, inicialmente
denominada Igreja da Bênção. Em 1977, ele deixou o emprego público para dedicar-se
integralmente ao trabalho religioso. Nesse mesmo ano surgiu o nome IURD e o primeiro
programa de rádio. Em 1980, houve um conflito de liderança entre Macedo e seu cunhado
Romildo Soares, o que levou este último a criar a Igreja Internacional da Graça de Deus. Há
anos Soares se destaca como o líder religioso que ocupa maior espaço na televisão brasileira.

Macedo residiu nos Estados Unidos de 1986 a 1989. Quando voltou para o Brasil, transferiu a
sede da igreja para São Paulo e adquiriu a Rede Record de Televisão. À medida que construía
um império econômico e de comunicações, a igreja também se preocupou em buscar
sustentação política, elegendo em 1990 três deputados federais, e outros mais em anos
posteriores. Em 1992, Macedo esteve preso por doze dias sob a acusação de estelionato,
charlatanismo e curandeirismo. Um acontecimento que deu grande publicidade à igreja foi o
episódio do “chute na santa”, quando, em um programa de televisão transmitido em 12 de
outubro de 1995, o bispo Sérgio Von Helde referiu-se de modo devasso a Maria, dando
alguns chutes numa imagem da mesma. Apesar dos percalços, a IURD tem crescido
enormemente, sendo, graças à sua presença maciça na mídia e aos seus grandes templos nas
principais ruas e avenidas de muitas cidades, a mais visível das igrejas evangélicas brasileiras.
Segundo o último censo geral, tinha no ano 2010 pouco mais de 1,8 milhões 11 de adeptos no
Brasil, além de muitos templos no exterior.

11
Fonte: Censo 2010 – IBGE (www.ibge.gov.br)
57

Freston entende que “a IURD é uma atualização das possibilidades teológicas, litúrgicas,
éticas e estéticas do pentecostalismo”. A ênfase principal da sua mensagem não é o batismo
no Espírito Santo e a glossolalia, mas a teologia da prosperidade (na saúde, nas finanças e no
amor), como fica explicito em seu slogan “Pare de sofrer; venha para a IURD”. Em conexão
com isso, também pratica o exorcismo de modo bastante explícito e sensacionalista. Essa
igreja rompe com a pobreza simbólica do protestantismo brasileiro, fazendo amplo uso da
visão, tato e gestos, bem ao sabor da religiosidade tradicional do país. Embora seja o líder
inconteste, Edir Macedo tem um estilo pouco personalista. A organização da igreja facilita o
controle centralizado e a constante inovação metodológica. As atividades são governadas por
um marketing agressivo e estratégias ousadas. Ao falar sobre a ética dessa igreja, Freston faz
uma comparação interessante: “A ética da IURD pode ser contrastada com a da Assembleia
de Deus. Esta representa a ética tradicional do capitalismo primitivo, uma luta longa e árdua
para alcançar a modesta respeitabilidade pequeno-burquesa. A Universal, por outro lado,
encarna uma versão religiosa da ética “yuppie”, o enriquecimento súbito através de jogadas
audaciosas”

Hoje ela se encontra em conflito direto com a Igreja Mundial do Poder de Deus, de Valdomiro
Santiago, tendo muitos de seus membros migrados para esta última, diminuindo
drasticamente suas receitas. Suas ações atuais constituem na construção da sede em São
Paulo, um templo de proporções draconianas no mesmo desenho de planta do templo do Rei
Salomão e muitas outras de grande estatura nas principais cidades brasileiras, reestruturação
de suas ações geradoras de receita, tais como a marca de “refrigerante gospel, Leão de Judá” e
a compra de hospitais para oferecer planos de saúdeaos seus fiéis a Life Empresarial.

Igreja Apostólica Renascer em Cristo

Hoje, sua importância se dá mais pelo fato histórico de ter sido uma das frentes do movimento
neopentecostal do que propriamente pelo número de fiés. A Igreja Renascer foi fundada em
1985 pelo “apóstolo” Estevam Hernandes Filho e sua esposa, a “bispa” Sônia Haddad Moraes
Hernandes. Como outros líderes pentecostais, Estevam teve uma origem humilde como filho
de um jardineiro de cemitério e começou a trabalhar aos sete anos, fazendo carretos em feiras
livres. Mais tarde, desiludido com o catolicismo, filiou-se a uma igreja pentecostal, onde
conheceu a futura esposa. Sete anos depois, casaram-se e decidiram fundar sua própria igreja.
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À semelhança dos pastores da IURD, o casal Hernandes tem grande habilidade em conseguir
contribuições dos fiéis. Todavia, ao contrário de Edir Macedo, ostentam com orgulho sinais
de riqueza, como roupas caras, jóias e automóveis importados. O casal é proprietário da Rede
Gospel de Comunicação e por algum tempo procurou assumir o controle da extinta Rede
Manchete de Televisão. A Igreja Renascer exemplifica um pentecostalismo de classe média e
tem forte apelo junto à juventude e à celebridades do esporte e da mídia. Em pouco mais de
vinte anos, essa igreja abriu 1500 templos no Brasil e 20 em outros seis países, sendo a
segunda maior denominação neopentecostal do Brasil até a década de 1990. Hoje ela conta
com 300 templos e cerca de 2 milhões de adeptos 12 . Há vários anos promove a Marcha para
Jesus, evento que reuniu três milhões de pessoas em São Paulo no corrente ano. À semelhança
da IURD, a igreja tem investido na área política e elegeu dois deputados federais no último
pleito. Uma séria dificuldade de imagem decorre do fato que os fundadores não fazem uma
clara distinção entre os bens da igreja, construídos com doações dos membros, e o seu
patrimônio pessoal. O casal responde a um processo em que são acusados de estelionato
contra fiéis e lavagem de dinheiro arrecadado nos cultos. Por não terem comparecido a uma
audiência do processo, sua prisão preventiva foi decretada pela justiça no final de novembro
de 2006.

É de criação e de marca registrada de Estevam o título “Gospel” no Brasil, dado aos produtos
comerciais voltados ao público evangélico. Através de sua gravadora, a Gospel Records em
1989, com o intuito de promover a música cristã nas rádios seculares, influencia no Brasil o
padrão da hinódia atual dentro das igrejas e institui abertamente um mercado com diversos
produtos e discurso adotado da Teologia da Prosperidade, de Essek William Kenyon (1867-
1948) o processo irreversível dentro do cristianismo nacional chamado “Movimento Gospel”.

O saldo positivo dessa ação no âmbito da música é de que o exercício dela ganhou uma
preocupação maior quanto à estrutura empregada nela para uma boa execução e também,
embora tenha sido uma visão importada do cenário musical cristão dos Estados Unidos, em
alguns casos a redenção de alguns estilos musicais no Brasil, tais como o rock’and roll e o
samba. O saldo negativo é o de que na questão do teor de mensagem das músicas, elas
perderam em muito a sua identidade musical, qualidade poética e visão sobre a vida cristã,
como eram as composições feitas por grupos como Vencedores por Cristo, Milad, Grupo Elo,
Rebanhão e Banda Azul, para adotar um discurso triunfalista sobre questões secundárias, uma

12
Fonte: Revista Isto È – Edição 2183 de 09/11/2011 – Seção Comportamento
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vida cristã sequiosa por mimos, uma perspectiva de vida confusa e a desintegração de uma
identidade musical própria. Hoje, essa gravadora encerrou suas atividades.

Algumas avaliações e perspectivas.

Como um trabalho de investigação e reflexão séria à qual nós alunos nos propomos à realizar
dentro deste tema, há que se fazer uma avaliação sincera sobre o Pentecostalismo e sua
contribuição para com a história do cristianismo. A Igreja Católica Romana tem deixado suas
acusações e ofensas ao protestantismo de lado para fazer uma profunda avaliação nesse
movimento que tanto vem lhe tirando fiéis através dessas últimas décadas, fazendo à si
mesma, uma necessária auto-crítica e buscando aprender com os seus erros. É notadamente
necessário às igrejas evangélicas, principalmente àquelas que têm uma preocupação com a
seriedade de suas doutrinas, fazer o mesmo esforço parecido para entender este movimento,
do que apenas simplesmente relegá-lo ao obscurantismo ou também ao discurso eufemístico
aos passos do cristianismo ao longo da história.

Alderi de Souza Matos, no artigo “Igreja Moderna e Contemporânea” para o site da Faculdade
Mackenzie, ao qual foi grande fonte de informação para este trabalho, pontua alguns itens aos
quais os pentecostais devem atentar para um desenvolvimento mais sério e sadio. Vamos à
eles:

“As vicissitudes do pentecostalismo são bem conhecidas e muitas delas já foram


apontadas neste artigo. Evidentemente elas não devem ser generalizadas, aplicando-
se ora a uns, ora a outros grupos. Esses problemas podem ser classificados em
algumas áreas: (1) Escritura: ênfase excessiva na experiência, profecias ou
revelações, relativizando a importância da Bíblia; interpretação bíblica literalista
ou alegórica, conforme a necessidade, sem atentar para as boas regras da
hermenêutica; a Bíblia é considerada acima de tudo um livro de promessas de Deus
para os crentes; (2) vida espiritual: entendimento da relação com Deus como uma
transação, perdendo-se o senso da salvação como dádiva imerecida da graça; visão
dualista da realidade (bem-mal, Deus-diabo) e tendência de atribuir todo mal a
influências diabólicas, minimizando a responsabilidade humana; ênfase excessiva na
experiência e nas emoções, que pode levar ao subjetivismo; interesse por modismos
e novidades; (3) liderança: estilo centralizador e personalista; culto à personalidade
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do líder, considerado intocável (o “ungido do Senhor”); pequena participação dos


fiéis na esfera decisória e na administração dos recursos financeiros; (4) ética:
atitude triunfalista e ênfase no poder podem minimizar um viver ético; maior ênfase
aos dons do que ao fruto do Espírito; tendência para a alienação quanto aos
problemas da sociedade; atuação questionável na esfera política; (5) culto: perigo
de colocar os adoradores no centro das atenções ao invés de Deus
(antropocentrismo); liturgia condicionada por interesses pragmáticos (atrair e
empolgar os participantes) e preferências culturais, e não pelo ensino da Escritura.
Essas deficiências e outras são muito sérias e as igrejas históricas devem não só
orientar os seus próprios fiéis, mas ajudar os pentecostais e carismáticos a serem
mais bíblicos nessas áreas.”

Contudo, como foram pontuadas algumas características positivas do Pentecostalismo em


artigo anterior, além da interação entre brancos e negros no mesmo ambiente e a participação
de mulheres em cargos de liderança, o pentecostalismo apontou para uma necessidade de uma
santidade e um relacionamento mais próximo com Deus, ainda que este ainda não seja no
âmbito físico, uma igreja disposta à conversar com seus jovens de maneira mais aberta sobre
questões espirituais, ela detém uma maior alegria no louvor e também uma busca pela igreja
primitiva à qual inspira muitas pessoas.

Alguns especialistas apontam, no sentido de troca de aprendizados o que as igrejas


tradicionais podem aprender com as pentecostais e o que as pentecostais podem aprender com
as tradicionais. Vamos a elas:

O que as igrejas tradicionais podem aprender com as pentecostais; (a) na esfera do culto:
liturgia mais alegre, edificante e participativa; hinódia contemporânea com sólido conteúdo
bíblico e doutrinário; (b) na esfera das missões: maior ênfase na evangelização, envolvendo
todos os membros; reexame das estratégias missionárias (por exemplo, em certas igrejas
pentecostais o obreiro deve primeiro plantar uma igreja para então ser consagrado pastor, ao
passo que na IPB o grande número de formandos dos seminários não está se traduzindo em
crescimento para a igreja); (c) no âmbito social: transformação das igrejas em espaços
acolhedores para pessoas de todas as classes e condições; atuação deliberada e sistemática
junto às camadas mais pobres da população, levando-lhes o evangelho integral. Também
existem algumas contribuições que as igrejas tradicionais podem oferecer aos pentecostais e
renovados: seriedade no estudo e interpretação das Escrituras; valorização da boa teologia e
das doutrinas bíblicas; compromisso com a ética cristã, especialmente quanto à liderança e
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finanças; ênfase à santidade tanto quanto ao poder; equilíbrio entre experiência e Escritura,
emoções e intelecto, fervor e reverência; valorização da herança cristã.

Por último, na perspectiva histórica, temos o Neopentecostalismo, no qual expusemos um


breve comentário e ao qual vamos procurar fazer um estudo mais profundo a seguir.

Raízes Históricas

De acordo com o que extraímos do livro Super Crentes de autoria de Paulo Romeiro 13, apesar
de a maioria afirmar que a Teologia da Prosperidade, Confissão Positiva ou Movimento
Palavra da Fé seja a matriz desse movimento, vamos encontrar suas origens no Gnosticismo,
passando depois por uma denominação conhecida como Ciência Cristã cujas doutrinas e
ensinamentos existem gandes semelhanças (Vide tópico a seguir “Suas Pregações”). A seguir,
vamos observar uma definição breve do que vem a ser esses dois artigos, de maneira que dado
ao primeiro, gnosticismo, ser um tema muito amplo, referenciaremos apenas o seu conceito
básico.

Gnosticismo

A palavra “gnosticismo” vem do grego gignoskein, “saber”, referindo-se a um movimento


dedicado à obtenção de um “conhecimento” genuíno maior, por meio do qual, segundo seus
adeptos criam, poderia ser obtida a salvação. O gnosticismo, tal quais as religiões misteriosas
dos gregos, reivindicavam possuir uma sabedoria esotérica, que se tornaria propriedade dos
iniciados, em contraste com os de fora, que não seriam assim privilegiados. Segundo esse
sistema, os iniciados eram “eleitos”, ao passo que os demais não eram passíveis da redenção,
pelo que seriam os “hílicos”, ou seja, aqueles de tal modo imersos no princípio material que
não podiam obter qualquer coisa que fosse espiritual. Conhecimento místico, ritos e práticas
mágicas eram promovidos pelo sistema gnóstico.

Esse sistema fez competição com o Cristianismo bíblico durante cerca de cento e cinquenta
anos, tendo atingido o seu ponto culminante na segunda metade do século II D.C. Irineu
escreveu contra o sistema, e muito do que nos veio sobre o gnosticismo foi por meio dos
escritos de Irineu. Entretanto, o gnosticismo perdeu o ímpeto no século III D.C; ao mesmo

13
Paulo Romeiro – Livro Super Crentes – Pg 5 a 7.
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tempo em que o maniqueísmo veio substituí-lo como o principal competidor do Cristianismo


bíblico. Houve grande variedade de sistemas gnósticos. As variedades mais importantes eram
os ofitas, de Celso; os nicolaítas; os arcôntici; os setitas; os carpocratianos; os naaseni; os
simoniani; os barbelognósticos; os bardesanesianos; os basilidianos; os marcionitas; os
ceríntios; os valentinianos; os ebionitas e os elquesaítas.

Muitas variedades dessas heresias se espalhavam por diversas áreas do mundo antigo; o que é
dito aqui serve apenas de caracterização geral. A forma particular de gnosticismo, encontrada
em Colossos, e que tinha um elemento judaico pronunciado além do comum, não será referido
aqui devido à complexidade dessa questão, mas tranquilamente pode-se afirmar que Paulo
escreveu justamente para refutar a heresia gnóstica que havia em Colossos.

Os pais da igreja primitiva chamavam o gnosticismo de “sabedoria grega”, e Adolf Harnack o


chamava de “helenização do cristianismo”. Há certa verdade em ambas essas designações,
mas ambas são incompletas. O gnosticismo combinava elementos da filosofia grega, das
religiões pagãs misteriosas, do judaísmo e do cristianismo; mas, sob algumas formas, o
gnosticismo já existia no mundo pré-cristão, como aliado das religiões místicas orientais. O
judaísmo e o cristianismo modificaram essas religiões místicas em várias áreas, onde as três
entravam em conflito.

Estudos mais recentes têm indicado que devemos ver o gnosticismo mais como uma forma de
misticismo, com influências babilônicas, egípcias, iranianas e hindus, e não somente uma
forma de filosofia dotada de especulações místicas. No gnosticismo se combinavam a
orientalização da civilização greco-romana e a helenização do Oriente.

No tocante ao cristianismo, o gnosticismo consistia, essencialmente, na tentativa de fundir as


revelações dadas por meio de Cristo e seus apóstolos com os padrões de pensamento já
existentes. Se porventura o gnosticismo tivesse tido sucesso, nessa tentativa, o cristianismo
tornar-se-ia apenas mais outro culto misterioso greco-romano.

Ciência Cristã

Trata-se de um movimento centralmente organizado, com igrejas locais com seus próprios
edifícios, líderes e “leitores”, períodos determinados e formas de adoração próprias. Portanto,
não erramos quando falamos em Igreja da Ciência Cristã, e seus corpos como igrejas da
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Ciência Cristã. A Igreja – Mãe, em Boston, entretanto, ocupa uma posição ímpar dentro da
organização.

A fundadora desse movimento é Mary Baker Eddy (1821 – 1910). Ela chegou às suas crenças
práticas através de uma longa série de acontecimentos, experiências e influências de diversas
filosofias, através de certo número de anos.

Ela mesma foi criada em um lar de tradição extremamente calvinista, no congregacionalismo


da Nova Inglaterra. Porém, ela mostrou-se rebelde desde tenra idade. Ela ficou chocada diante
das implicações da doutrina da predestinação, com seus poucos eleitos à salvação e com a sua
reprovação positiva, em que a vasta maioria dos seres humanos termina em um castigo eterno
e aterrorizante. Desde bem cedo na vida, ela foi perseguida por tragédias e enfermidades.
Esses foram os elementos que inspiraram sua independência de pensamentos, enquanto ela
buscava tanto respostas teológicas quanto outras para os seus males físicos. No entanto, ela
estava ficando rapidamente inválida. A ciência médica ortodoxa não lhe oferecia qualquer
ajuda, e ela tentou a homeopatia e a sugestão mental. Em 1866, quando ela estava com 45
anos de idade, Mary, passou por uma experiência decisiva. Ela obteve uma notável cura
mediante a inspiração espiritual, que lhe veio quando lia a narrativa contida em Mateus 9:1-9,
onde é descrita a cura de um paralítico por Jesus. Ao mesmo tempo, ela passou por uma
experiência mística que lhe iluminou a mente, no tocante à vida no e do Espírito. Ela
acreditava que a iluminação espiritual foi a responsável pela sua cura física, pela que a cura
mental (espiritual) tornou-se uma das práticas mais salientadas que a Igreja da Ciência Cristã
não demorou à desenvolver.

Primórdios da Igreja da Ciência Cristã

A maioria dos seus primeiros membros era de igrejas evangélicas, a maioria dos quais
continuaram frequentando as reuniões de suas igrejas, e que, paralelamente, frequentavam
classes e reuniões do movimento da Ciência Cristã. Porém, em 1879, foi estabelecida uma
distinta organização eclesiástica. Seu propósito original era o seguinte: “organizar uma igreja
cujo desígnio é comemorar as palavras e as obras do nosso Mestre, que reinstale o
cristianismo primitivo e seus elementos perdidos de cura” (Manual da Igreja, pág. 17). Em
cerca de 1892, a organização havia expandido enormemente suas atividades, à partir de sua
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origem, em Boston, Massachussets. No ano de 1970, havia cerca de 3.300 igrejas, dois terços
das quais nos Estados Unidos, e o resto, em muitos outros países do mundo.

Suas Pregações

A teologia básica da Ciência Cristã defende um idealismo puro, que parte do pressuposto que
o mundo material é uma ilusão, resultado da ideia ou espírito. O que é verdadeiramente “real”
é Deus e o seu ideal. O termo “mente” é usado como um sinônimo do “Espirito”, de “Alma” e
de “Vida”. Esse princípio, pleno de verdade e de amor, é tudo o que existe.

O mal é ilusório, pois a perfeita vontade de Deus, que emerge da mente divina, não pode
incorrer em erro. O mal está associado à matéria, e, entre os seus efeitos, encontram-se as
enfermidades. A morte é uma ilusão dos sentidos mortais, podendo continuar a ser real, até
ser destruído pelo sentido espiritual.

O pecado é a crença que resulta em aceitarmos a existência real de outras mentes, quando na
realidade, só há a mente divina e a nossa participação na mente divina. O pecado, portanto, é
uma crença falsa. A enfermidade é uma crença falsa.

A cura ocorre quando a ilusão da enfermidade é corrigida pelo pensamento iluminado,


inspirado pelo Espírito.

A doutrina primária desse sistema é a “regeneração do pensamento humano”, através da


compreensão espiritual. A cura física segue-se facilmente a essa percepção.

O homem é o ideal espiritual de Deus, e pertence, por direito, a uma ordem à qual não existe
nem enfermidades, nem pecados, nem tristeza e nem morte. Essas coisas são meras ilusões da
mente mortal. Elas não têm existência real exceto para aqueles que pensam que elas são reais.

Jesus é mais do que um homem bom. Ele é o Cristo encarnado.

Autoridades espirituais.

A Bíblia, conforme eles a interpretam é a principal autoridade dos cientistas cristãos. A outra
obra autoritária é o livro escrito pela Sra. Mary Baker Eddy, intitulado “Ciência e Saúde”,
publicado pela primeira vez em 1875, e que foi subsequentemente expandida, tendo passado
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por muitas edições. A Igreja da Ciência Cristã não tem clero formal. A lição-sermão toma o
lugar do sermão do pastor. Eles têm hinos, a oração do Pai Nosso, a leitura de trechos bíblicos
selecionados, e também lêem trechos de “Ciência e Saúde”. Não há sacramentos, mas o
espírito do que eles representam fazem parte do ensino.

Essek William Kenyon e a teologia da prosperidade

No ano de 1993, Paulo Romeiro publicou um livro chamado “Supercrentes”, no qual ele
denunciava aquele movimento que estava se solidificando no Brasil através das pregações dos
tele-evangelistas liderados por movimentos como Palavra da Fé, inspirados pela “Teologia da
Prosperidade”.

Romeiro cita outros nomes para essa doutrina, como “Confissão Positiva”, “Evangelho da
Saúde e da Prosperidade”, “Palavra da Fé” ou ainda como “Movimento da Fé”. O Dictionary
of Pentecostal and Charismatic Movements, define:

“Confissão positiva é um título alternativo para a teologia da fórmula da fé ou


doutrina da prosperidade promulgada por vários tele-evangelistas contemporâneos,
sob a liderança e inspiração de Essek William Kenyon”.

A expressão “confissão positiva”, segundo Romeiro, pode ser legitimamente interpretada de


várias maneiras. O mais significativo de tudo é que a expressão “confissão positiva” se refere
literalmente a trazer à existência o que declaramos com nossa boca, uma vez que a fé a uma
confissão.

Kenyon nasceu no condado de Saragota, Nova Iorque, em 1857. Aos 19 anos, já convertido,
pregaria seu primeiro sermão numa igreja metodista. Em 1892, muda-se para Boston, onde
ingressa Faculdade Emerson de Oratória, fundada por Charles Emerson. Segundo D.R.
McConnell, no livro A Diferent Gospel, Charles Emerson era um colecionador de religiões,
um eclético no sentido literal da palavra. A partir dos seus 40 anos, Emerson “frequentou”
diversas religiões diferentes, saindo do congregacionismo (sistema onde cada congregação
local é autônoma e independente) indo parar por fim na Ciência Cristã e lá permanecendo, em
1903, no fim de sua vida.

McConnell cita também uma declaração de Ern Baxter, que conheceu e conviveu com
Kenyon, afirmando que: “Minha razão principal para afirmar isto não se baseia apenas no que
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apanhei das coisas metafísicas que ele dizia em nome do cristianismo, mas também de uma
certa tarde em que me fez uma visita, como já fizera em várias ocasiões. Ele estava sentado
lendo, num canto da sala onde eu tinha uma prateleira com alguns livros, um dos quais era
Chave das Escrituras, de Mary Baker Eddy, que eu tinha para fins de referência, sendo
estritamente contra quase todos os seus pontos de vista. Mas eu o encontrei lendo o livro e
sorri enquanto passava, não querendo interrompê-lo. Voltei uns 30 ou 40 minutos depois e ele
ainda o estava lendo. Então fiz um comentário e ele respondeu, positivamente, que havia
muito que se poderia aproveitar de Mary Baker Eddy. Aquilo me despertou. Não posso dizer
que me surpreendeu, mas me alertou para o fato de que ele provavelmente não estava
formulando suas posições de fé inteiramente baseado em Sola Scriptura, mas foi influênciado
pelos metafísicos”.

Romeiro, à este fim, abre um parenteses, para ressaltar uma informação cuja importância ele
vê necessária de citar: “...Charles Capps, outro proeminente pregador da Confissão Positiva
do Estado de Arkansas, num de seus livros comenta:

“Às vezes, quando começo a ensinar sobre isso, as pessoas dizem que
parece doutrina da Ciência Cristã. Uma senhora cutucou o marido numa reunião no Texas
(minha esposa ouviu) e disse: - Isto parece Ciência Cristã”.

Kenyon esteve envolvido com diversos ministérios diferentes e os lugares mais conhecidos
em que ele pregou, foi em San José, Oackland, diversos lugares da Calífórnia, Elmira,
Springvalley em Nova Iorque e em Massachussets também. Foi convidado a pregar por
Aimee Semple McPherson, no Angelus Temple, sede da Igreja do Evangelho Quadrangular.
Em Seatle, fundou a Igreja Batista Nova Aliança em 1931, sendo pastor e apresentando um
programa de rádio, até que entregou o cargo em 1943, vindo falecer em 1948 com 80 anos.

Kenyon escreveu vários textos e antes de morrer, encarregou a filha para que continuasse o
seu ministério e publicasse seus escritos o que ela cumpriria cabalmente. Mais tarde, alguém
encontraria os textos de Kenyon e o utilizaria dentro das comunidades cristãs da atualidade.
Seu nome, Kenneth E. Hagin.

Kenneth E. Hagin
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Kenneth Erwin Hagin nasceu em 1917 e assim como Marry B. Eddy teve uma vida sofrida e
enfrentou um problema do coração, que o deixou em uma recaída, por cerca de desesseis
meses numa cama. O pai abandonou-o e à sua mãe, o que fez com que ela apresentasse
tendências suicidas, tendo assim que ir morar com seu avô.

Hagin teve três experiências, que segundo o relato, o “levaram” ao inferno para que
contemplasse os horrores de lá, o que fez com que repensasse sua vida espiritual e aceitasse à
Cristo como seu Salvador.

A segunda experiência vem em janeiro do ano de 1934, através de uma “revelação” do texto
de Marcos 11: 23,24, onde diz: “Porque em verdade vos digo que qualquer que disser a este
monte: Ergue-te e lança-te no mar, e não duvidar em seu coração, mas crer que se fará aquilo
que diz tudo o que disser lhe será feito. Por isso vos digo que todas as coisas que pedirdes,
orando, crede receber, e tê-las-eis.

A revelação dessa passagem veio dividida em duas partes. A primeira quando se mudou para
outra casa com seu avô, onde na viagem, um dos atendentes que o levaram na ambulância
devido ao seu problema de coração, perguntou se ele queria ver a cidade, o que ele aceitou.
Vendo os prédios, ele se lembrou do texto de Marcos 11:24 e entendeu que se ele crêsse no
seu coração e proferisse com boca, assim seria com ele.

Até Agosto daquele ano, Hagin permanecia na cama, até que a segunda revelação vem até ele
quando num momento de oração, ouve o Espirito Santo dizer para ele que acreditasse, então,
num momento onde ele passa a louvar à Deus, agradecendo pela cura que até então não tinha
acontecido, o Espírito Santo o manda ficar de pé, no que no dia seguinte ele já se encontraria
tomando café da manhã com a sua família na sala.

Ele começou seu ministério como pregador entre 1934-1937, pastoreando uma comunidade
onde morava. Durante o primeiro ano, chegou a gastar quatro pares de sapatos, de tanto andar
para pregar. Devido à sua crença em cura divina, começou a se associar com os pentecostais,
recebeu o batismo no Espírito Santo em 1937, falou em línguas e no mesmo ano foi
licenciado ministro da Assembléia de Deus (entre 1937-1948), pastoreando várias igrejas do
Estado do Texas. Depois, começou a se envolver com pregadores independentes de cura
divina, tais como William Branham, Oral Robertts, T.L. Osborn e outros, então fundou seu
próprio ministério em 1962.

Hagin tinha muitas visões, e em uma delas, relata que Jesus ficou conversando com ele
durante uma hora e meia, até que então, um demônio se entrepôs a eles e espalhava fumaça
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negra, até que uma hora, Kenneth expulsa o demônio pelo nome de Jesus e pergunta para
Jesus o porque dele não ter expulsado o demônio, no que Jesus responde que: “Não era
porque ele não o faria, mas porque não podia fazê-lo”. Keneth Hagin afirma que em mais
quatro vezes fez a mesma pergunta, no que Jesus responde que não podia fazê-lo.

Em 1966, Hagin fez da cidade de Tulsa, Oklahoma, a sede de suas ações. Ao longo do
Seminário Radiofônico da Fé, a escola Bíblica por correspondência Rhema, o Centro de
Treinamento Bíblico Rhema e a revista “Word of Faith” (Palavra da fé) alcançaram um
imenso número de pessoas. Outros recursos que Kenneth usou, foram fitas K7 e mais de cem
livros e panfletos. Nesta década, Hagin foi o pioneiro de um pequeno grupo de professores
chamado “Palavra da fé”, que começaram a desafiar os evangelistas de cura como a
vanguarda do Neopentecostalismo, ensinando uma nova interpretação da Bíblia, propondo
uma reflexão profunda do “lugar de direito” do cristão dentro do reino de Deus, o que incluía
saúde fisica e espiritual perpetuamente perfeita e uma visão de declarações de fé. Em seus
livros e programas de rádio, Hagin formulou uma visão de mundo que dava ao cristão
domínio total sobre seu destino. No início de 1970, ele abriu em Oklahoma, um instituto
bíblico chamado Rhema, onde ensinava a ministros treinados essa nova forma de fé e que o
ajudaram à este movimento crescer, o que aconteceu na década seguinte de maneira drástica.

O ensino configura-se em ensinar que Jesus, através de sua morte, propiciou aos cristãos
poder absoluto sobre sua saúde física e financeira e uma vida de vitória total. No entanto,
Deus se mostra de “mãos atadas” para poder abençoar a qualquer cristão que não tenha muita
fé ou que não consiga “tomar posse” desse princípio bíblico, explicando assim, o porque
todos os cristãos não estão experimentando uma vida próspera e saudável. Os pregadores da
Palavra da Fé argumentam que os crentes, para reforçarem sua fé, devem memorizar e
“declarar” as Escrituras, só assim poderão viver em vitória total e controlar seu destino físico
e financeiro. O ensino central da palavra da fé é a Teologia da Prosperidade, e esta afirma que
Deus quer que todos os cristãos prosperem financeiramente e que Deus vai abençoá-los de
acordo com sua fé.

Hagin dizia ter recebido a unção divina para ser mestre e profeta. Em seu fascínio pelo
sobrenatural, alegou ter tido oito visões de Jesus nos anos 50, bem como diversas outras
experiências fora do corpo. Segundo ele, seus ensinos foram entregues diretamente por Deus
através de revelações especiais. Todavia, ficou comprovado que ele se inspirou grandemente
em Kenyon, a ponto de copiar, quase palavra por palavra, livros inteiros de Kenyon. D.R.
MacConnell, em uma tese de mestrado na Universidade Oral Roberts, demonstrou que o que
69

Hagin afirmava ter recebido de Deus era plágio de Kenyon, no que a explicação de Hagin
para tal é a de que Deus tinha dado revelação das mesmas coisas para os dois.

Alguns Tele-evangelistas notórios empregaram muitos dos ensinamentos que Hagin


propagava, em seus repectivos programas. Os principais nomes são:
Kenneth Hagin Jr (este filho de Kenteh Hagin e sucessor de seu trabalho), Kenneth e Glória
Copeland, T.L. Osborn, Fred Price, Hobarth Freeman, Charles Capps, Jerry Savelle, John
Osteen, Lester Sunrall, Bob Tilton, Rex Humbard, Marilyn Hickey, Benny Hinn, John
Avanzini, Dave Roberson, Valnice Milhomens, Paul Yonggi Cho, Edir Macedo, R.R. Soares,
Estevam e Sônia Hernandes, Valdemiro Santiago e atualmente Silas Malafaia com a
apresentação em seu programa de Morris Cerullo em 2009.

Hagin acreditava que era necessário seguir passos para a vitória. Era necessário crer, declarar
verbalmente a fé e então agir como se já tivesse recebido a benção. Sua vida foi um apanhado
de inúmeras experiências pessoais que, ao serem registradas em livros, folhetos e áudio,
viraram regra de fé e prática para milhares de incautos seguidores, que hoje tornaram a
experiência de Hagin o “padrão” de culto a Deus, muitas vezes, renegando aquilo que as
Escrituras tem afirmado como sendo formas corretas de culto e proceder cristão.

Neopentecostalismo ao redor do mundo.

O Neopentecostalismo começou nos Estados Unidos da Metade da década de 60 ao começo


de 70, tendo como grande auxílio para seu desenvolvimento as Redes de Transmissão de
programas religiosos. A entrada de pregadores evangélicos nas transmissões de tv foram
rapidamente feitas assim que a Comissão Federal de Comunicação americana, quando das
leis para seu ingresso, foram suavizadas. Enquanto Oral Roberts transmitia seu programa em
horário nobre, vários empresários como Pat Robertson e Paul Crouch estavam construindo
suas redes de transmissão de programas ao redor do mundo. Roberts tinha a Christian
Broadcasting Network (CBN) e Crouch tinha a Trinity Broadcasting Network (TBN) e os
dois, depois se fundiram à Praise the Lord (PTL) Network de Jim e Tammy Bakker, quando
muitos dos pregadores haviam se juntado à Oral Robertson na televisão nacional. Embora a
primeira linha de tele-vangelistas do naipe de Robert Schuller, Jerry Fallwell e Billy Graham
utilizassem a tv como meio de evangelização desde 1970, a distinção entre os tele-vangelistas
se tornou maior pelo padrão de vida neopentecostal apresentado por pessoas como Kathryn
70

Kulman, Oral Roberts, Dave Copeland e o mais visto de todos, jimmy Swaggart, cuja
audiência dos programas na década de 80 chegava semanalmente à 10 milhões de
telespectadores. Esses evangelistas foram os que introduziram as idéias neopentecostalistas
aos milhões de espectadores.

A mídia impressa também teve um papel importante na propagação do neopentecostalismo


quando o Bussinees-man chamado Stephen Strang estabeleceu uma companhia multimidiática
que desempenhou papel vital na expansão do neopentecostalismo através da publicação de
sete títulos de revistas cristãs diferentes e milhares de artigos pela internet.

O nome de sua empresa é Strang Communications e a revista Charisma é o seu carro-chefe,


cujo título se tornou o mais importante meio de divulgação do segmento na década de 90,
sendo seu espaço o mais visado nas conferências de marketing para venda de livros, vídeos e
cds. As revistas de Strang produzem artigos e editoriais sobre as tendências e eventos atuais
de ministérios para milhões de assinantes. Suas revistas são consideradas ferramentas muito
importantes na indústria da fé para transformar os pregadores neopentecostais em
celebridades. A Strang Communications é uma holding que também detém a Charisma House
Books, uma publicação voltada na disseminação de livros sobre louvor, fé e dons espirituais.
Ainda que Pat Robertson e Paul Crouch tenham as redes de TV, Stephen Strang se tornou a
figura mais influente entre os agentes de poder do neopentecostalismo.

A década de 90 foi marcado pela alta expansão do neopentecostalismo pelo país. Enquanto
muitas igrejas tradicionais declinavam em número de membresia, o movimento Wineyard de
John Wimber e outras redes de comunhão cresciam rapidamente pelo país. O “reavivamento”
no Canadá que teve um surto bem maior na Flórida e em Tulsa chamaram milhares de
participantes em todo o país, semelhantemente ao que aconteceu na rua Azusa. Os pregadores
da cura pela fé como Benny Hinn, Tim Story, Rodney Howard Brown e outros fizeram várias
cruzadas pelo país divulgando a nova interpretação do papel do Espírito Santo na vida dos
crentes. O livro “Bom dia Espírito Santo” de Benny Hinn tornara-se um best-seller em 1991 e
iniciou uma nova visão de como o Espírito Santo opera. A TBN e a revista Charisma
informavam os cristãos sobre as celebridades da nova religião e difundia os avanços
espirituais. Já no fim da década de 90, o Neopentecostalismo se tornara a maior potência
evangélica do mundo.

A televisão foi mais do que um simples meio. Ela providenciou além da exposição maciça e a
habilidade de lançar a carreira ministerial de vários pregadores a quem fosse considerado
essencial na propagação do Neopentecostalismo para a vanguarda da religião. Isso não tira o
71

mérito dos pregadores que inseriram o Neopentecostalismo nas denominações, mas foi a tv
quem expôs o país às idéias Neopentecostais e trouxe a classe-média convertida e alguns
personagens proeminentes a se juntarem às suas denominações e organizações.

A TBN de Paul Crouch se tornou a mais extensa rede de tv e hoje produz a maioria dos
programas cristãos. Alguns anos depois, a DayStar Television Network foi lançada e
rapidamente se tornou a segunda maior rede de tv desde que começou à apresentar as suas
pregações em 150 países e em mais de 50 estações de tv nos Estados Unidos.

Jim Bakker, Paul Crouch, Oral Roberts, Pat Robertson e Jimmy Swaggart se tornaram os mais
poderosos líderes desse movimento, criando listas de correspondências e numerosos
seguidores do modelo de tele - evangelismo.

Shayne Lee no livro “T.D. Jakes: America’s New Preacher” fala sobre uma divisão racial das
igrejas norte - americanas, às quais ela chama de Igrejas Negras e Igrejas Brancas. Neste
mesmo livro, Shayne Lee pontua que para entender o porquê desta teologia ter tido grande
aceitação nos Estados Unidos da década de 80, em muito, foi por causa do processo de
“hipnotização” que os norte-americanos receberam pela cultura de consumo crescente da
gestão do Presidente Reagan e a explosão da riqueza inflamada pela ascensão de Wall Street,
produzindo prosperidade financeira sem precedentes.

A rápida ascensão dos negros para as classes-média e alta na década de 80 aconteceu tão de
repente que os negros não foram socializados pela rígida cultura negra aristocrática de lá.
Com isso, cada grande cidade passou a ter uma Mega-Igreja negra neopentecostal onde os
afro-americanos ricos e de classe-média pudessem fazer cultos e colocar em prática os ensinos
e talentos. A Teologia da Prosperidade gerou nessa categoria, a cultura de poderem usufruir
de sua riqueza e seu consumismo como formas legítimas de sua herança como filhos de Deus.

Neste ponto, devo dar um adendo, em comparação com um fato ocorrido no Brasil. Temos na
Cultura Hip Hop um exemplo de retrocesso em seu sistema ideológico, quando este defendia
uma transformação cultural e social nas camadas mais excluídas da sociedade, tendo, através
de suas manifestações artísticas e participação política, uma ferramenta positiva para a
construção de uma identidade cultural para a juventude, trazendo a proposta de que para as
camadas mais pobres era melhor estudar, adquirir informação de qualidade, buscar melhores
empregos e se desenvolverem de maneira saudável e positiva. Em 2004, o grupo de Rap
Racionais MC’s, que havia anos antes, chamado a atenção dos círculos intelectuais e
influentes da sociedade para estas questões, trocou o antigo discurso pelas letras de linguagem
72

confusas, a defesa da idéia de que a importância de uma pessoa se media pelo montante de
bens materiais que esta possui e a adoção explícita do uso de drogas. Isso gerou na
consciência coletiva uma espécie de desvirtuamento dos valores positivos que esta cultura
antes propunha. Todo o trabalho de uma classe engajada foi perdido dado o poder de
influência que este grupo detinha, fazendo com que muitos desses militantes debandassem ou
abandonassem os trabalhos sociais que antes eram o ponto mais significativo dessa cultura.
Hoje, muito poucos militantes ainda mantêm um diálogo com os poderes públicos e servem
de inspiração positiva às gerações mais jovens, mas no caso do Hip Hop brasileiro, a adoção
de uma postura de ostentação de riquezas abriu uma brecha muito grande para que grupos
criminosos se infiltrassem nele, o que foi um enorme prejuízo para ela.

De volta aos Estados Unidos, enquanto o Neopentecostalismo branco ganhava visibilidade


através de figuras nacionais como Oral Roberts e Kathryn Kulman, os negros neopentecostais
ganharam uma espécie de orgulho com o tino comercial de pregadores da prosperidade como
Creflo Dollar, Hilliard IV e Jakes T.D. Esses pregadores têm ministérios televisivos e não são
nem um pouco tímidos sobre seus milhões de dólares e suas vidas luxuosas. Contudo,
ninguém desempenhou papel mais proeminente na promoção do discurso de prosperidade
para essa era de milionários afro-americana neopentecostal do que Frederick K.C. Price.

Como um pioneiro deste novo movimento, Price é um dos mais importantes pregadores afro-
americanos do Século XX. Um amigo introduziu em Price os ensinamentos da Palavra de Fé,
em 1970, através da partilha de alguns livros de Kenneth Hagin, como explicou Price:

“Fui para casa naquela noite para ler todos os livros e eu fiquei alterado para
sempre. Foi como que escamas caíssem dos meus olhos e pudese ver verdades que
eu nunca tinha visto antes mesmo que eu tivesse lido as mesmas passagens da Bíblia,
mas elas nunca me falaram daquela maneira.”

Price continuou a devorar os ensinos de Hagin e os apresentou à sua nova igreja, a Crenshaw
Christian Center, na Califórnia, que por sua vez cresceu rapidamente. Price logo se tornou um
estimado orador convidado nas reuniões anuais de acampamento de Hagin. Muitos pastores
negros tornaram-se descontentes com a Teologia da Prosperidade e Price passou a criticá-los
publicamente em suas mensagens. Contudo, em 1975, com o crescimento da Crenshaw
Christian Center para mil membros, Price começou a estudar formas de promover os
ensinamentos da teologia da prosperidade através do rádio e da televisão. Durante este tempo,
Oral Roberts, Billy Graham, Pat Robertson, Rex Humbard, Robert Schuller desenvolviam
seus ministérios televisívos. Price e sua igreja passaram então a comprar horários na tv para
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promover seus ensinos, primeiro em Los Angeles e depois em Washington D.C. Chicago,
Detroit e Nova Iorque antes de efetivamente se expandirem por território nacional.

Segundo Lee, o ministério de Price foi importante por vários motivos. Por um lado, destaca
que, Price e Kenneth Copeland (um discípulo de Hagin) tornaram-se os primeiros mestres da
prosperidade na televisão nacional, e, portanto, desempenharam papéis dominantes em fazer a
crenças tornarem-se uma parte crescente do Neopentecostalismo. Embora Oral Roberts, Jim
Bakker e outros tele - evangelistas aludissem às bênçãos materiais na década de 70 e 80,
nenhum o fez com dolo, intensidade e frequência como Price e Copeland fizeram como
pregadores da Palavra de Fé. Price também se tornou o primeiro pregador afro-americano na
televisão nacional, apresentando uma nova forma de ser negro e pentecostal. Ele sempre
criticou o emocionalismo da igreja negra e ofereceu o formato de palestra polida como um
modelo alternativo de ensino de ministérios desafiadores ao anti-intelectualismo que
prevalecia em muitas igrejas pentecostais negras da época.

Price também se vangloriava na televisão de seus salários milionários e seu Rolls-Royce, e


ensinou que os negros podem ter suas bênçãos sobre a terra se confessar a Palavra de Deus e
caminharem na fé.

Price ganhou o apelido de "Padrinho da Fé" por causa de seu papel como mentor de muitos
pastores afro-americanos da palavra da fé, que, eventualmente, estabeleceram o que agora são
chamados de "igrejas palavra" em cidades do país que ensinam a mensagem da Palavra da Fé.
Em vez de defenderem as marchas de protesto, o poder do voto e outras formas de ativismo
familiar aos movimentos eclesiásticos negros, as igrejas palavra ensinam os membros de que
a pobreza é uma maldição do diabo e que o poder de transformar sua opressão reside dentro
de sua capacidade de se apropriar de sua fé e tomar seu lugar no reino de Deus. A resposta
teológica da prosperidade para a pobreza é ensinar as pessoas a construírem a sua fé e estarem
cientes das promessas bíblicas. Tal nova visão do mundo era atraente para a crescente classe
média negra e especialmente atraente para todas as minorias atingidas pela pobreza, que se
estendiam por um raio de esperança.

O Sociólogo Milmom Harisson, afirma que o evangelho da prosperidade pode ser


especialmente atraente para as igrejas negras que envolverem tanto o material quanto às
necessidades espirituais de seus membros, com seu histórico de lutas contra a opressão e
discriminação.
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Hoje é muito difícil encontrar igrejas afro-americanas que não tenham sido afetadas pelos
ensinamentos da teologia da prosperidade. Creflo Dólar em Atlanta, Keith Butler em Detroit,
Thompson Leroy em Louisiana, Clinton e Utterbach Sara em Nova York, Bill Winston em
Chicago, Hilliard IV, em Houston, Michael Freeman e Dee Dee, em Maryland, Steve Parson
em Richmond, e Don Shorter em Tacoma, Washington, uma série de mega - igrejas negras e
ministérios uniram-se à Price para ensinar prosperidade e saúde divina através da televisão,
transmissões de rádio e livros. Seu uso da mídia de massa faz com que seja impossível para os
pastores convencionais protegerem seus membros contra os ensinamentos atraentes, que
sugerem que os crentes possam controlar seus destinos financeiros. Muitos seguiram a
liderança de Price, adotando uma imagem midiática e profissional que ressoa com a
proliferação de negros de classe-média que acabam sendo desligados pela falta de percepção
de decoro com as igrejas tradicionais.

Ex-União Soviética

Vinte anos após a queda da Antiga União Soviética é necessário fazer uma profunda avaliação
sobre o desenvolvimento das igrejas neopentecostais nos países que formavam a União
Soviética. Imediatamente ao pós-1989, a situação religiosa criou profundos desafios para o
longo regime político então imposto. Como o regime Soviético já estava em colapso em 1990,
as autoridades rejeitaram o seu compromisso anterior com o ateísmo militar. Um ano depois,
eles confirmaram esta decisão, rejeitando compromisso com qualquer fé ou ideologia. Coisa
semelhante aconteceu com os novos países independentes do entorno. A nova abertura para a
religião substituiu o velho ateísmo, fazendo poucas restrições às organizações religiosas. As
igrejas neopentecostais prosperaram e se multiplicaram nesta situação, muitas vezes apoiados
pelas atividades missionárias vindas da Europa e dos Estados Unidos. Isso levou à crítica de
igrejas históricas e pentecostais clássicas. Embora essas igrejas tivessem tido a experiência de
enriquecimento e de novas oportunidades, a competição entre as novas igrejas
neopentecostais foi sentida. A crítica foi expressa em termos teológicos, politica eclesiástica e
puramente política. Uma das maiores expressões públicas dessa crítica, veio por parte da
Igreja Ortodoxa Russa, que criticou o “proselitismo” no Conselho Mundial das Igrejas em
1990.
75

Quinze anos depois, em 2010, a proliferação das igrejas neopentecostais se estabilizou na


formação de um grande número de igrejas legalmente reconhecidas. Essas denominações
estabeleceram contato tanto com autoridades estatais, comunidades ecumênicas quanto com
igrejas históricas. Para o entendimento desse desenvolvimento, é necessário analisar vários
fatores diferentes.

Vários esforços no desenvolvimento do neopentecostalismo na ex-União Soviética, foram


desenvolvidos à partir dos esforços da Word of Life Church de Uppsala, na Suécia e sua vasta
rede de contatos de igrejas, organizações e indivíduos na Escandinávia. A Igreja Word of
Life foi fundada pelo estudante e pastor luterano Ulf Ekman (1950-) e seu pai na fé, o
missionário e pastor metodista Sten Nilsson (1914-2009). Eles e o núcleo geral da igreja
estavam envolvidos no reavivamento carismático entre luteranos e metodistas na Suécia
durante esse tempo. A teologia era uma mistura de luteranismo, metodismo e as formas de fé
neopentecostais no culto.

A missão Word of Life começou as suas ações na ex-União Soviética em 1989 e a teologia de
Ulf se tornou, assim, uma força modeladora na determinação da prática teológica e da ética
social das igrejas da Rússia e Ucrânia que foram fundadas e sustentadas entre 1989 e 1996.
Cerca de mil novas igrejas foram implantadas ou apoiadas pela Word Of life e essa rede foi
feita através de conferências, missionários, voluntários de curto prazo e escolas bíblicas em
diferentes partes da Ex-União Soviética.

Em suma, a Word of Life era uma figura controversa, mas também popular na paisagem da
Suécia na década e 80 e 90. A igreja local de Uppsala cresceu de 25 pessoas em 1983 para
cerca de 3300 em 2009 com cerca de 10.000 alunos que passaram em sua escola bíblica
durante este período. Através de sua forte ênfase em missões, a Word of Life, é composta por
uma rede internacional de 1500 igrejas na antiga União Soviética, leste e o centro europeu,
Ásia central e na Escandinávia. Algumas dessas igrejas mantêm um laço formal com a Word
of Life de Uppsala, mas outras mantém apenas uma relação amistosa com ela.

A formação que a Word of Life tomou para orientar as igrejas na ex-União Soviética em
diversas organizações nacionais e transnacionais ocorreu na parte final da década de 1990.
O ponto de mudança do desenvolvimento de suas estruturas denominacionais semelhantes foi
a crescente pressão política sobre as missões religiosas não tradicionais na Rússia. Em 1997, o
governo russo emitiu a lei: “O svobode sovesti i o religioznykh ob’yedineniyakh” (Liberdade
de Consciência e Associações Religiosas), que continuou a garantir a todos os cidadãos a
liberdade de crença religiosa e de consciência enquanto que ao mesmo tempo, tomava
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medidas para promover no país as quatro confissões “tradicionais”: Islamismo, Judaísmo,


Budismo e especialmente a Igreja Ortodoxa, em detrimento de outras crenças religiosas.

Um objetivo da lei foi o reduzir o número de missionários estrangeiros na Rússia e as igrejas


que haviam sido plantadas e apoiadas. Um dos princípios da nova lei foi a proibição de igrejas
e denominações fundadas depois de 1983, o que efetivamente proibiu todas as igrejas
neopentecostais plantadas pela Word of Life e a rede Escandinava.

Isso antecipou, por parte de muitas das novas igrejas neopentecostais na Rússia às diferentes
tentativas de se criar uma organização que servisse de uma espécie de “Guarda-Chuva” com
uma origem pré-1983. Essa tentativa finalmente foi bem sucedida em 1997, através de uma
organização herdada pelo pastor pentecostal clássico Sergey Ryakhovsky, que criou então a
Rossiisky obyedinenny soyuz Khristian very yevangelskoi pyatidesytnikov (ROSKhVYeP),
ou, União Russa dos cristãos pentecostais da fé evangélica. Parece que atualmente essa
organização conta com 200.000 membros em 1500 igrejas locais. Algumas igrejas orientadas
pela Word of Life, criaram debaixo desse “Guarda-Chuva” sua própria organização, com o
nome de Assotsiatsiya KhVYe ‘Tserkvi very’ ( Associação de Cristãos Evangélicos – Igrejas
da Fé) e esta compõe a maior parte das igrejas sob a ROSKhVYeP, com 240 igrejas. Durante
a primeira década de 2000, o líder dessa associação tem sido o pastor da igreja Word of Life
de Moscou desde 1998, Ishoel Matis-Ola. Ishoel tornou-se vice-presidente da ROSKhVYeP
em 2008.

Havia várias outras associações da Word of Life que se tornaram membros da ROSKhVYeP.
Essas outras associações da Word of Life, de igrejas orientadas por ela, preferiam manter uma
relação mais independente da Word of life de Moscou, embora eles tendessem a ter uma
espiritualidade e teologia à seus pastores e líderes formados pela escola bíblica da Word of
Life em Uppsala. Quando a lei de 1997 foi promulgada, a estrutura organizacional já estava
formada e esta funciona da mesma maneira até esta data. Através da Associação de Cristãos
Evangélicos – Igrejas de Fé haviam criado em 1996 uma associação, onde foi criada outra
organização “Guarda-Chuva” para as igrejas orientadas chamada Euro-Asian Association of
Christians of Evangelical Faith – Churches of Faith. Esta associação é formada por igrejas
cristãs neopentecostais do mesmo tipo em todos os países da ex-União Soviética (Rússia,
Armênia, Azerbaijão, Estônia, Ucrânia, Bielo-Rússia, etc). Em 2009-2010 essa organização
foi reconstituída e passou a se chamar Word of Life International. Uma das organizações das
igrejas orientadas das ex-repúblicas soviéticas que aderiram a essa organização “Guarda-
Chuva” era a Ukrainian Christian Evangelical Church da Ucrânia. Esta detinha cerca de
77

25.000 membros em um pouco mais de 300 igrejas espalhadas pela Ucrânia. O líder dessa
associação é Leonid Padun. O número de igrejas orientadas pela Word of Life dentro dessas
diferentes associações parece ser por volta de 1000. Os maiores centros são a Word of Life
Yerevan, na Armênia com 10.000 membros, Word of Life Donetsk, na Ucrânia com
aproximadamente 5.000 membros e a Word of Life Moscou, na Rússia com cerca de 4.000
membros.

Por fim, vale a pena ressaltar os esforços do Pentecostalismo para o desenvolvimento do


Neopentecostalismo na ex - União Soviética:

• Os esforços missionários de representantes do pentecostalismo clássico na Suécia


precederam e continuaram na missão da Word of Life, Uppsala.
• Pentecostalismo clássico na antiga União Soviética formou o terreno fértil de vários
dos principais líderes das igrejas neopentecostais e denominações descritas acima.
• Pentecostalismo clássico na Rússia forneceu um quadro organizacional legítimo para
as igrejas neopentecostais.

Continente Africano

Falar do Neopentecostalismo na África é muito complicado, devido à grandeza de seu


território quanto a enorme singularidade de cada um de seus numerosos países. O que é mais
certo afirmar é que é muito mais fácil identificar os seus malefícios do que benefícios no
continente. O Neopentecostalismo surgiu ali, a partir da década de 70 e tornou-se muito bem
sucedido devido às construções de grandiosas igrejas em território urbano, o que tem se
mostrado muito atrativo para a sua juventude emergente. O uso também de novas tecnologias
midiáticas como o extenso número de ministérios televisivos e radiofônicos mostra que os
ensinos neopentecostais tornaram-se bastante populares. A rápida publicação de livros com
pregações de sermões ajudam a popularizar o movimento. Aonde quer que seja o sucesso
material através da fé, a confissão positiva, o dizimo fiel e as ofertas de presentes aos ungidos
de Deus são a parte essencial desse ensino.
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Na África, a orientação da Teologia da Prosperidade descreve que triunfos, a glória e a honra


da cruz são enfatizados em detrimento à sua representação de dor e de sofrimento. Cris Green
em um trabalho observa que se o triunfo é sempre assegurado, torna-se quase impossível lidar
com a derrota, fracasso e o sofrimento.

“A teologia do sucesso e do poder exposta pelos ministérios em estudo aqui tende a


negligenciar as experiências daqueles dentro da comunidade cujos testemunhos não refletem
necessariamente a abundância material, se não extravagância.”

Um dos fatores que deram origem ao Neopentecostalismo em Gana foi o surgimento de


grupos musicais jovens como “The Calvary Road Incorporated”, “Joyfull Incorporated”,
“New Creation e Back Home (to Jesus) Incorporated”. No final dos anos 80, a Calvary Road
(Caminho do Calvário) tornou-se uma igreja e mudou seu nome para Harvesters International
(Ceifeiros Internacionais). Em uma entrevista com alguns dos membros do grupo sobre o
motivo deles terem mudado o nome, a resposta foi de que “Calvário” é uma palavra
problemática, associada à dor, agonia e sofrimento. A razão dessa resignação com a palavra é
que em algumas tradições africanas, assim como encontramos no pensamento do Antigo
Testamento, os nomes tem o poder de influenciar as circunstâncias da vida. Os membros da
banda chegaram a acreditar que o impacto global que a palavra “Calvário” causava nos seus
membros não era muito positivo. “Os nossos membros estavam lutando muito na vida”; disse
um deles. Assim o nome foi mudado para algo mais positivo, “Ceifeiros”, de modo que os
membros continuarão a “Colheita” das coisas boas que Deus ordenou para aqueles que
acreditam n’Ele”.

Kwabena Asamoah-Gyadu pontua que esta explicação não deve ser necessariamente
considerada como a explicação oficial da mudança de nome, mas destaca a sua importância
porque, geralmente um dos obstáculos para a prosperidade, as tradições africanas em geral,
acreditam, é o efeito negativo que os nomes têm nas pessoas.

Neste caso particular, parecia que a Cruz representada pelo 'calvário' no nome, estava sendo
algo fora de moda, cancerígeno, em favor do entendimento de um nome para “segurar”
melhor a promessa. Quando eles vem à Cristo, os pregadores neopentecostais da prosperidade
ensinam que, os cristãos colhem suas promessas de bênçãos materiais e outros tipos de
bênçãos. Nós refletimos sobre esses ensinamentos por interrogarmos a Teologia da
Prosperidade, como tem sido pregado na África, como pano de fundo à importância da cruz
na teologia de Martinho Lutero. Eu gostaria de salientar que precisamente por causa da razão
dada para a transição da “Calvary Road Incorporated” para “Harvesters Internacional”, a cruz
79

de Cristo parece receber pouca atenção da hermenêutica sobre prosperidade


neopentecostal. Este não é um fenômeno Africano como tal. Por exemplo, Tom Smail, ele
próprio um cristão neopentecostal, observa que, toda a forma de teologia neopentecostalista,
com sua ênfase na "experiência, glória e poder" torna difícil o pleno significado da cruz ou do
Calvário na teologia cristã à ser realizado.

Para tentarmos entender o processo que ocorreu na África, vamos ter que voltar um pouco no
tempo até o momento onde houve cisão das missões européias na África. Este acontecimento
se deu, principalmente por quatro fatores:

1. Pela recusa do mau tratamento que clérigos africanos estavam recebendo dos
missionários europeus. A divulgação da falha do Bispo Ayaji Crowther da Nigéria e a
consequente humilhação deste por parte de dois jovens clérigos ingleses, gerou nos
africanos indígenas a rejeição dessa liderança.
2. A tradução da Bíblia para as línguas africanas por volta de 1840, o que significou que
todos os africanos puderíam ler a bíblia. Muitos apontaram contradições nas atitudes
das missões européias e sobre o que o Novo Testamento retratava sobre a figura de
Jesus Cristo.
3. O espírito nacionalista que foi construído entre as elites africanas que receberam
educação ocidental. A maioria dessas elites era frequentadora de alguma igreja.
4. A falta de entendimento e total condenação da cultura africana e seus costumes por
alguns europeus, agravaram os conflitos.

Apesar dessa secessão, a estrutura organizacional, os estilos de liderança, a posição


doutrinária e ritualística, permaneceram idênticos com a das igrejas missionárias. Esse cisma
ocorreu no oeste da África, especialmente em Gana e na Nigéria, no leste, no Quênia e em
Uganda, e na África do Sul. As igrejas se separaram das missões das igrejas Anglicanas,
Metodistas, Presbiterianas, Batistas e Congregacionais. Este acontecimento foi um marco na
história da Igreja na África e as igrejas receberam o nome de Igrejas Africanas Independentes
(AIC, na sigla em inglês). Pouco tempo depois, o nome AIC (African Independent Churches)
ganhou variações de nomes, como African Instituted Churches, African Indigenous Churches
ou African Initiated Churches (todas com a sigla AIC). A ênfase dessas igrejas foram o
profetismo, cura, exorcismo, tendências sionistas, orações em voz alta, ênfase no Velho
Testamento e liderança carismática.

Com o avivamento da Rua Azusa, algumas igrejas ocidentais, como a Igreja Quadrangular e a
Assembléia de Deus, enviaram alguns missionários de volta à África, num movimento
80

chamado “Missão Apostólica da Fé”. A este movimento, foram os próprios cristãos da África
que chamaram os missionários da Igreja Apostólica Britânica e da Assembléia de Deus da
América do Norte para irem ao Oeste da África. Em resposta ao pedido, a Igreja Britânica
enviou Idris Vaughan e George Perfect à Nigéria em 1932 e James Mackeown para Gana em
1937. A Assembléia de Deus mandou o Rev. W.L. Shirer e sua esposa para consolidarem o
reavivamento no Sudeste Nigeriano em 1939.

Esta cooperação entre ocidentais e africanos demonstrou uma nova atitude sobre a visão que
os missionários tinham dos cristãos africanos que antes, eram vistos como “selvagens”.
Também, essa parceria gerou alguns reavivamentos, como por exemplo, Idris Vaughan, da
Igreja Britânica, levou o reavivamento à Calabra, Sudeste da Nigéria em 1933. Outro que teve
bastante importância foi o Britânico S.G.Elton que foi missionário na Nigéria em 1937. Ele
havia feito contato com Joseph Ayodele Babalola (pioneiro no reavivamento de Ilesa, na
Nigéria em 1930) fazendo o seu melhor para ajudar Joseph (1904-1959) à estabelecer a visãio
de Deus para a igreja. Ele tornou-se também mentor de jovens missionários como o antigo
Arcebispo Benson Idahosa (1959-1998) da Church of God Mission International, Bispo David
Oyedepo da Winner’s Chapel e o Bispo Francis Wale Oke da Sword of Spirit Ministries. Foi
Elton quem convidou tele - evangelistas americanos como Gordon Lindsay, Oral Roberts,
Morris Cerullo e T.L. Osborne para organizar campanhas evangelísticas na Nigéria. Estes
evangelistas também visitaram outras partes da África. Elton foi o maior articulador no
desenvolvimento do Campus do cristianismo introduzindo ensinos pentecostais na
comunidade evangelística. Foi Elton também que introduziu Idahosa no conceito de plantação
de igrejas onde depois foi redefinido o Neopentecostalismo na Nigéria.

Idahosa organizou uma campanha gospel em Gana no ano de 1977, no mesmo ano em que
Morris Cerullo visitou o país. Sua campanha foi um sucesso, mas sua maior contribuição foi a
bolsa de estudos onde diz que cerca de mil pastores ganenses foram treinados na All Nations
for Christ Bible Institute fundado por Idahosa. Entre aqueles que estudaram no instituto de
Idahosa, estavam ali o Bispo Nicolas Duncan-William, do Christian Action Faith Ministries
(1979), onde foi a primeira Igreja Neopentecostal em Gana e o bispo Charles Agyem-Asare
do World Miracle Bible Church (1987), uma das maiores igrejas neopentecostais de Gana. O
Neopentecostalismo Ganês tem suas raízes na Christ Apostolic Church de Peter Anim, a Gold
Coast Apostolic Church (hoje Church of Pentecost) de James Mckeom e os esforços dos
missionários da Assembléia de Deus. Contudo, a Ghana Evangelical Society, fundada por
Enoch Agbozo em 1973 e os esforços da Scripture Union Travelling Secretaries contribuíram
81

significamente para a inserção do Neopentecostalismo no país, através das reuniões da Para -


Church Organization e a Scripture Union onde os principais ministros ganenses são treinados.

Irmandades evangélicas interdenominacionais, como The Student Christians Movement


(SCM), Christian Union (SU), Inter-Varsitu Fellowship of Evangelical Union (IVFE) e
Christian Union (CU), foram introduzidos nas escolas secundárias, colégios, centros-
politécnicos e universidades pela África.

A Scripture Union, particularmente com o foco nos estudantes da escola secundária, iniciou as
suas atividades na África por volta de 1890. Suas atividades incluíam discursar nas
assembléias escolares, organizar acampamentos e reuniões nos feriados e produzir e distribuir
resenhas cristãs como a Daily and Power Guide nas escolas. Como seu nome indicava, a visão
da Scripture Union era de ajudar os jovens a se conectarem com a Palavra de Deus. Eles
alcançaram na África vários jovens que abraçaram esse conceito de estudo das Escrituras e
lançaram as sementes para a Renovação Carismática, que engoliu o oeste africano entre 1960
e 1970. Isto foi a Renovação Carismática ou Renovação Scripture Union, (como é chamado o
movimento na Nigéria) que deu o nascimento do Neopentecostalismo no Oeste e Leste da
África. A maioria das secretarías de viagem da Escripture Union participaram com muitos
estudantes para espalhar a mensagem.

O caráter transparente de muitas dessas secretarias de viagem foi um longo caminho para
promover a amizade que permanecem até hoje. Um bom exemplo pode ser visto no ministro
Bill Roberts, secretário de viagem da Scripture Union do leste da Nigéria na década de1960.
Bill foi para a Nigéria em 1964 e remanejado para servir durante toda a maior guerra civíl da
Nigéria (a guerra de Biafra 1967-1970). Bill serviu ao lado do indígena John Onuora e outros
da Scripture Union House em Umuahia, hoje o estado de Imo. Roberts serviu durante cinco
anos na Nigéria e quinze em Serra Leoa pela Scripture Union. Enquanto Roberts servia na
Guerra Civíl no leste da Nigéria, um reavivamento eclodiu onde, eventualmente, começaram
as igrejas neopentecostais no leste nigeriano. Roberts foi o mentor de muitos jovens, alguns se
tornaram ministros significantes na Nigéria hoje.

Rev. Rafael Okafor, um bispo anglicano no leste da Nigéria foi um desses discípulos. O
ministério de Roberts em Serra Leoa foi importante, pois abriu portas para que ele, agora,
segurasse posições chaves dentro da comunidade evangélica na África.

Antes de fechar esta etapa, é muito importante falar sobre o ministério de missionários
independentes na África. Um deles foi Reinhard Bonkke e sua Christ for All Nations(CFAN).
82

Bonkke organizou a sua primeira campanha evangelística na África em Lesotho, 1967 e desde
aí, o seu time tem testemunhado algumas das maiores reuniões no continente africano. A
CFAN trabalha em parceria com alguns ministros da África, missionários e agências
governamentais espalhando a mensagem. Há outros ministros pentecostais independentes
operantes na África como Christ Faith Ministries, fundado pelo Dr. Kent Hodge. A primeira
ida do Dr. Hodge à África foi para trabalhar com o antigo Arcebispo Benson Idahosa em
Benin City, Nigéria, por volta de 1986. Dr. Hodge trabalhou com Idahosa durante cerca de 20
anos como diretor do All Nations for Christ Bible Institute ( fundada por Idahosa) antes dele
achar uma escola bíblica independente, a Christ Faith ministries em Jos, no estado de Plateau.

Ruanda

Em Ruanda, as igrejas neopentecostais que entraram no país surgiram após o Genocídio de


Ruanda em 1994, valendo lembrar aqui que as igrejas independentes (as AICs) nunca
entraram em terreno ruandês tendo, portanto, a instalação de igrejas neopentecostais
relacionadas ao desenvolvimento político. Em 1997, o número de igrejas neopentecostais em
Ruanda era de 150, em 2000 o número contado era de 300.

A maioria das comunidades neopentecostais, foi instalada por repatriés, ou seja, refugiados
ruandeses que fugiram do país nos anos 1959-1973, e que retornaram depois de 1994. A
maioria desses repatries não quiseram se misturar com as igrejas já existentes no país por
questões da implicação assumida no genocídio. Outros fatores também são as características
linguísticas e culturais. As maiorias dos refugiados mais velhos são pertencentes à linhagem
tutsi, o que demonstra que pela primeira vez na história da igreja de Ruanda, ela se organiza
em cima de linhagens étnicas.

Um exemplo de igreja neopentecostal lá instalada é a Associação de Restauração da Igreja,


fundada por três pastores ex-refugiados, de diferentes denominações que não aceitaram se
associar à uma igreja já existente por medo de não serem bem acolhidos. Fundada em 1994
em um terreno disponibilizado pelo novo governo ruandês, essa denominação rapidamente se
espalhou pelos centros urbanos e na região recém-criada do noroeste do país, tendo maior
aceitação pelos repatriés. Em Butare, ao sul, ela atrai muitos universitários, devido à cidade
abrigar a Universidade Federal de Ruanda.
83

Uma outra denominação, esta criada um pouco antes do fim da guerra civil, a Eglise Vivante
de Jésus Christ ( A Igreja Viva de Jesus Cristo) em 1992, em Burundi, por alguns ex-
dirigentes do Minstério Revival Africa e da organização Messengers in Life Mission,
originários do Quênia, sob inspiração de alguns pregadores norte-americanos. Esta
comunidade experimentou nos primeiros anos um rápido crescimento, entrando em declínio
em 2000, quando seu fundador David Ndaruhutse faleceu em 1997. Outros cismas
aconteceram nestas igrejas, formando assim, novas comunidades.

Gerard Van Spiker, diz que essas novas comunidades não devem ser explicadas apenas pela
situação política, mas sim, que elas parecem fazer parte de um reavivamento da consciência
religiosa na África, o Neopentecostalismo, caracterizadas pelos mesmos atributos de que é
feito no resto do globo.
84

Considerações sobre a Teologia da Prosperidade na África

Isaac Phiri e Joe Maxwell da revista Christianity Today, fizeram uma análise da situação
neopentecostal da África, avaliando ela como sendo um movimento que provoca esperança e
ao mesmo tempo preocupação.

No artigo, chamado Gospel Riches, eles citam algumas questões positivas e negativas desse
movimento, sobre o olhar de um repórter dentro da própria África.

Quando o Bispo Michael Okonkwo sobe do seu trono revestido de ouro ante quatro mil
espectadores em Lagos, Nigéria, “Aleluia!” grita o autoproclamado “Pai dos pais e Pastor de
pastores”, então, a multidão grita e ruge frenéticamente.

Banqueiro de sessenta e dois anos, ex-pós-graduado na escola de ministério de Morris


Cerullo, em San Diego na Calífornia, ele ministra seminários sobre “Inteligência Financeira”
e em seu livro Controlling Wealth God’s Way, ele define “inteligência” da seguinte maneira:
“Muitos ignoram o fato de que Deus já providenciou aos seus filhos o poder de serem ricos
aqui na terra. Quando eu digo rico, quero dizer muito, muito ricos... Libertem-se! Não há
pecado nenhum em querer ser rico!”.

Hoje ele prepara o terreno para seu sucessor; Rev. Félix Omobude, cuja ênfase é a realização
de sonhos. “Tem tantos assassinos de sonhos por aí. Não deixem eles matarem seus sonhos!”
são os refrões de sua pregação. “O amanhã será melhor do que hoje!, 2012 será o ano de sua
vitória!” “A multidão vibra, Omobude promete às mulheres que elas vão encontrar maridos,
os espectadores da platéia vão comprar um carro e os casais estéreis irão ter gêmeos à
vontade”.

Mas para poder realmente obter essa benção, Omobude encoraja a multidão à dar N$ 25.000
(cerca de 200 dólares). Isaac Phiri pontua que os professores ganham apenas o equivalente à
150 dólares por mês, significando que a quantia é muito considerável. Mesmo assim, um
enxame de 300 pessoas se acotovela para entregar a quantia e Omobude retira óleo de uma
taça e esfrega nas mãos. O total das ofertas dessa noite somam 60.000 dólares.

Cenas como essa são muito frequentes em todos os dias nos incontáveis lugares da África
Subsaariana, onde a prosperidade tingida de Pentecostalismo cresce mais rápido não apenas
do que as outras vertentes do cristianismo, mas de outras tendências religiosas, incluindo o
Islã. Do censo de 2006 na África feita pelo Pew – Fórum sobre Religião e Estudo da Vida
Pública, dos 890 milhões de pessoas que vivem na África, 147 milhões são renovacionistas
85

(termo adotada pelos africanos, oriundo do movimento Renovação Carismática, o equivalente


ao Neopentecostalismo brasileiro). Eles formam até mais que um quarto da população da
Nigéria, mais de um terço da África do Sul e 56% do enorme Quênia.

Em muitas cidades africanas, encontramos carros com adesivos escritos “Empreendedor


Imparável”, “Com Jesus, eu sempre vou vencer!” e “Seu sucesso é determinado pela sua fé!”.
O professor da Universidade de Londres, Paul Gifford, em seu livro New Christianity:
Pentecostalism in a Globalising African Economy observa que a idéia desses
renovacionacionistas, além do emprego das tradicionais práticas pentecostais como falar em
línguas, profecias e curas, eles acreditam que Deus proverá dinheiro, carros, casas e até
mesmo cônjuges em resposta à fé de seus crentes, e se Ele não o fez, ainda o fará.

Um dado dessa pesquisa Pew mostra uma questão interessante: Quando perguntado se Deus
iria conceder prosperidade material à todos os crentes que tem fé suficiente, 85% dos
pentecostais do Quênia, 90% dos da África do Sul e 95% dos da Nigéria disseram que sim.
Quando perguntando se a fé religiosa “era muito importante para o sucesso financeiro”, 9
entre 10 renovacionistas disseram que sim.

Essa pesquisa mostra dois lados dessa afirmação. Uma é a de que o que se apresenta é que a
prosperidade material já é uma norma entre os africanos e outra é a de que a fé religiosa é
encarada como ferramenta propulsora para o sucesso. Semelhante fato encontramos na
medicina, onde os pacientes que professam alguma espécie de fé religiosa, tem muito mais
chances de ter sua recuperação bem sucedida, ao contrário dos que professam não ter fé
alguma.

“Eu prego a prosperidade e também a salvação” diz Joe Imakando, um ex-pastor batista
cismado. Desde que aderiu à igreja Pão da Vida em Lusaka, Zâmbia, passou a pastorear 6.500
fiéis. Sua igreja abriu 53 filiais no país e mais algumas na República Democrática do Congo,
África do Sul, Malawi e Tanzânia. Assim como muitos pastores das bem-sucedidas mega-
igrejas, Imakando possui o seu próprio programa de Tv local. Mas ele zomba do título de
pregador da prosperidade dado a ele: “A minha igreja está crescendo, enquanto a deles está
diminuindo”; referindo-se aos seus críticos.

Assim como no resto do mundo, Allan H. Anderson, professor de Estudos Globais sobre
Pentecostalismo, diz que na África, as igrejas tradicionais com base em missões estão lutando
contra o impressionismo dos empresários de jatinhos que formam estas novas organizações.
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Note-se que os termos empresários e organizações referem-se aos pastores e suas respectivas
igrejas.

O professor adjunto de Teologia do Wheaton College Faz a seguinte afirmação: “Se você não
estiver disposto a jogar o jogo (prosperidade), então se prepare para virar fumaça”.

No entanto, a oferta a atacado do Neopentecostalismo da África como um evangelho do


materialismo, possivelmente criada por Elmer Grantry como um estilo mercantilista e de
remansa superstição, seja, talvez, um pouco míope, diz J. Lee Grady, editor da revista
Charisma. “Muitos dos líderes do Neopentecostalismo na Nigéria pregam a prosperidade
como um conceito bíblico baseado nas promessas de Deuteronômio, proclamando que quando
as pessoas renunciam a seus deuses e passam a servir a Jesus, Deus abençoa a sua nação e sua
economia”, diz o editor.

Grady, também salienta a necessidade de se distinguir bem as várias cepas de bênçãos


materiais que são pregadas na África. Muitos, se não a maioria dos pastores africanos pregam
uma versão da prosperidade. Mas onde uns pregam opulência, outros simplesmente procuram
manter a provisão de Deus para as necessidades básicas. “Quando você olhar mais
profundamente, você verá o mover de Deus nesses pequenos detalhes, apesar da ganância de
muitos”.

Alguns traumas que o ensino da prosperidade vem deixando nos africanos tem muito à ver
com o padrão de vida norte-americano, berço do ensino;

1. O estilo de vida norte-americano está levando os crentes africanos a equiparar a fé


cristã com as riquezas materiais.
2. O ideal de exemplo a ser seguido, está sendo a de honra, riqueza, poderosa liderança, e
ser “Big Man”, como também são chamados os pregadores da prosperidade.

E nisto, está a televisão. Como a programação neopentecostal inundou a África, os números


de audiência subiram de 17 milhões em 1970 para 147 milhões de espectadores em 2005. As
maiores emissoras religiosas do continente são a de Santa Ana, Califórnia, que transmite a
Trinity Broadcasting Network e a European God’s TV.

Como a compra de televisores aumenta na África, estas emissoras estão ganhando muita
audiência. As pessoas que não tem tv assistem à dos vizinhos e as opções de canais são muito
limitadas. Na Zâmbia, existem só três opções de canais: MUVI TZ, que transmite reprises de
programas norte-americanos e filmes antigos, a ZNBC, da Zâmbia National Broadcasting e a
TBN TV. A televisão está se tornando a sala de aula religiosa do continente.
87

“As pessoas ligam a televisão e sabem que os programas da TBN apresentam o cristianismo
norte-americano e os norte-americanos sabem de tudo, então por que não assisti-la?” diz
Bonie Dolan, fundador e diretor da Central de Missões Cristãs da Zâmbia, uma escola
reformada para pastores. “Nós temos Zambianos olhando para o ocidente como uma direção e
eles associam a TBN com o Ocidente. Isto está matando nossas igrejas”.

Voltando para os Estados Unidos, os principais programas da TBN são dos pregadores da
prosperidade Joyce Meyer e o pastor de mega - igreja John Hagee, ao lado de pregadores de
saúde e riqueza como Keneth Copeland e Kenneth Hagin Jr. (Filho de Kenneth Hagin, que
assumiu o ministério depois da morte do pai). Mas Dolan diz que a TBN não se importa com
os pregadores africanos. Enquanto isso, a TBN vai ao ar de casa em casa. Contudo, alguns
proeminentes pregadores africanos da prosperidade como Matheus Ashimolovo estão
comprando seus horários de tv na God’s TV.

Enquanto os cristãos de todas as épocas têm contado com a provisão de Deus, o tipo de
benção que esses pregadores oferecem como a divina riqueza abundante, a saúde inatacável e
emocional e a ascensão profissional fugaz molda uma relativa forma de pensamento religioso
norte-americano.

Durante 15 anos, Hagin, seu filho Hagin Jr. e Kenneth Copeland visitaram as AIC da Nigéria
e bombardearam o país com a mensagem. “Eles fizeram missões ensinando a Teologia da
Prosperidade por toda a Nigéria”, diz o professor emérito de Teologia da Universidade
Regent, Vinson Synan.

Dollan afirma que é o movimento mais abrangente da África. “os povos na Igreja africana
compram para ele anzol, linha e chumbada e o movimento se encarrega de fisgar o povo
economicamente desfavorecido com a sua grande promessa”. E isso não é de se admirar, pois
a mensagem brilha aos olhos dos africanos, contrastando com o sombrio cenário atual, onde
315 milhões de africanos subsaarianos vivem com menos de um dólar por dia. De acordo com
o 2015’s Facts on Povert in Africa, a expectativa de vida dos africanos é de 41 anos, pois um
em cada três africanos sofre de desnutrição.

Mas há uma mudança nesse quadro sombrio. Muitos jovens africanos da zona rural estão se
mudando para a cidade e eles tomam muito cuidado com essas oportunidades financeiras.
Paul Walsh, na pregação “10 acusações à Igreja Contemporânea” fala a respeito desse
movimento. Na Nigéria, por exemplo, em 1960, apenas 14,5% da população viviam nas
cidades. Hoje, esse número cresceu para 45% e do mesmo modo, o otimismo financeiro está
88

em ascensão e também há de se levar em conta que a metade dos nigerianos neopentecostais


diz que a situação financeira está boa ou excelente.

A teologia da prosperidade cresceu tanto na Nigéria que esse fenômeno chamou a atenção do
governo. Em 2004, de acordo com a BBC, a Comissão de Transmissão Nacional da Nigéria
proibiu que os pastores da AIC fizessem seus apelos, devido a essas promessas de milagres
não serem críveis e prováveis.

Neste clima de festa financeira, a mensagem da cruz pode se tornar muitas vezes
desagradável, pois o pregador desse tipo de mensagem não tem agregado certos apetrechos e
métodos atraentes para tal. Alguns chegam a trabalharem como camelôs vendendo lápis na
rua para angariar fundos, deixando os moradores impressionados, diz Dolan. Sua atual
história cultural diz para que eles invistam em ações dos “Big Man”.

Como já foi dito anteriormente, pastores como Okonkwo são os “Big Men” da África
moderna, adornados com toda a pompa de chefes tribais bem sucedidos. A igreja de Okonkwo
é grande, mas em nada se compara com outro oásis de prosperidade em Lagos, na Nigéria,
que é a Winner’s Chapel de David Oyedepo (que em 2011 foi apontado pela revista forbes
como o pastor mais rico do mundo, com uma fortuna estimada em 150 milhões), com seu
auditório para 45.000 pessoas, tendo a fama de ser a 6ª maior do mundo.

Oyedepo é tido como uma figura maior do que a própria vida, pois relatos dizem que ele dá
muita atenção às pessoas. Oyedepo ensina que “a Palavra da Fé é a chave para uma vida
triunfante” e ele lista prosperidade como um dos 12 pilares do seu ministério. Os outros são
cura, sucesso e sobrenatural. Mas ele também prega a salvação através de Jesus Cristo à
milhões e lançou uma grande variedade de ministérios que oferecem um futuro de vida
melhor aos nigerianos.

Sobretudo à isso, o professor de teologia da Calgary University Irvin Hexhan sugere que há
um antigo desejo africano que supera até mesmo as promessas de provisão material e anima o
movimento da prosperidade no continente: O desejo de se estabelecer comunicação com o
sobrenatural.

Existe o relato de uma esposa e mãe que frequentam a igreja de Okonkwo e certa vez o
marido teve um sonho em que ladrões escavavam uma parede de sua casa e conseguindo
entrar nela, queriam a segunda filha do casal. Quatro dias depois, assaltantes entraram em seu
apartamento e a filha se lembrou do sonho do pai e se escondeu dentro do armário. A mãe
teve o braço direito quebrado por causa dos sete tiros que recebeu ali. Deus salvou a menina
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pela advertência divina, diz a mãe. “Agradeço pelos dons, pelos pais na fé, Bispo Mike e Dr.
Paz Okonkwo (esposa do bispo) e a família Trem pelo apoio deles espiritualmente e
materialmente, aprimorando os milagres de Deus em nossas vidas”. Relatou a mulher.

O professor Hexhan conta que em uma viagem para Durblin Center, na África do Sul, havia
notado as prateleiras lotadas de livros do Kenneth Hagin. Então descobriu que os moradores
amavam o pregador. “O que você mais gosta nele?” Perguntou Hexhan.
“Ele tem sonhos maravilhosos.” Respondiam rotineiramente.

Quando Hexhan havia perguntado sobre Desmond Tutu, recebeu uma resposta morna.

“Ele nunca fala sobre sonhos” responderam eles.

Para muitos, provisão divina em face à ilegalidade, condições de vida em ruínas e outros
atoleiros urbanos, faz a fé intelectual parecer obsoleta por si só. Mestres da prosperidade
descrevem a fé cristã como um estilo de vida de uma comunicação direta com Deus. “Este
tipo de conexão é a chave para o sucesso do evangelho da prosperidade na África”. Hexhan
continua, “na religião tradicional africana, cura e prosperidade já estão lá de qualquer
maneira... Uma vez que essa idéia (do interesse africano à respeito de sonhos) é capturada,
tudo segue adiante”.

A África também tem os seus críticos do movimento neopentecostal.

O bispo Joseph Ojo, Secretário Nacional da Sociedade Nacional da Nigéria e pastor da Igreja
do Calvário Unido, diz que certos pastores “Sobem no púlpito, mas não tem o chamado. Seu
Deus é o próprio umbigo”. Apesar dessa opinião, Ojo não acredita que os cristãos devam
aceitar a pobreza com humildade. “Tenho a miséria como um inimigo na minha vida. E eu
luto com a mesma ferocidade que lutaria contra uma praga. A pobreza fede, humilha, mata e
destrói. Contudo, se você disser: “Deus me chamou para pregar a prosperidade”, certamente
há algo errado com você”. Diz o pastor.

David Oginde é pastor sênior da Igreja Pentecostal de Nairobi, que tem 10.000 membros,
acredita que poderia triplicar seu patrimônio pela promessa de riqueza. “Mas se isso é tudo o
que estou ensinando, então eu perdi a mensagem”, diz. “O reino de Deus é construído sobre a
cruz e não sobre pão e manteiga”.

Oginde às vezes aconselha alguns cristãos decepcionados com os pregadores da saúde e da


riqueza. Um aluno havia “plantado” o dinheiro da escola como uma oferta de “sementes”, em
seguida foi expulso da escola por falta de pagamento. “Eu dei o meu dinheiro à Deus, mas ele
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não voltou” disse o estudante. Oginde respondeu mansamente, “Não foi para Deus que você
deu o dinheiro.”.

Oginde critica aos pregadores antiéticos que transformam a provisão de Deus em um sorteio,
distorcendo uma coisa boa.

Ainda assim, tanto Oginde quanto Ojo admitem que muitos mestres da prosperidade fazem
bem. Ojo diz que muitas vezes, os pastores ensinam os membros a sonhar alto, trabalhar duro
e evitar os vícios. Ele observa também o padrão de vida de muitos nigerianos melhoraram
também. “Deus tem sido gracioso com este país”, diz ele. Oginde credita também aos
pregadores da prosperidade pelo trabalho humanitário, a construção de prédios para escolas e
faculdades, fornecendo alimentos e remédios para os pobres e apóia os programas de
prevenção do HIV.

Na visão de Anderson, da Universidade de Birminghan, apenas os mais desinformados


chamam os pregadores da prosperidade de “manipuladores inescrupulosos ávidos por riqueza
e poder”. Anderson, autor do livro The Pentecostal Gospel, Religion, and Culture in African
Perspective, diz que muitos pregam sobre conversão e arrependimento, muitos também são
muito bem preparados, dando razão para que “as necessidades sejam atendidas”.

Grady participou de uma conferência em Lagos em 2007, com 700 pastores, sob os quais ele
ouviu muitos deles arrependerem-se da fé superficial de sua nação. À luz da ambivalência
dos pastores africanos frente ao rótulo de Teologia da prosperidade, pesado na balança, esse
movimento requer uma análise de seu contexto. “Prosperidade (para a maioria dos africanos)
significa ter um teto sobre suas cabeças e roupas para vestirem”, diz Synan Regent.

Cientes de muitos abusos em seus círculos, muitos pastores da prosperidade se esforçam para
manterem uma perspectiva bíblica sobre a benção material. A revista The Economist, de
2007, informou que cerca de um milhão de quenianos assistiram a conferência do pastor
norte-americano T.D. Jakes em Nairobi. Enquanto uns o chamam de pregador da
prosperidade, ele afirma que apenas ensina sobre a benção de Deus de maneira holística.

Kenyan P. David Muriithi, um discípulo de Jakes, defende que a palavra “prosperidade” é


uma palavra muito ampla e não quer necessariamente significar dinheiro, mas sim uma vida
plena. Ele diz: Você pode ter um milhão de dólares no banco, mas se você está doente, seu
casamento acabando, então o que seria prosperidade? Murithii defende também que a
compreensão adequada sobre prosperidade gera mudanças, mas também lamenta quem a
pratica: “E se não acontecer?” Pergunta.
91

O pastor George Mbulo da Zâmbia defende que a geração de riquezas deve ser feita através
da habilidade do fiel em fazer negócios. “Deus irá ensiná-lo à como fazer”, diz. “Por isso, não
há necessidade de entrar no esquema.” Mesmo assim, ele está construindo um templo de 320
milhões de dólares fora de Lusaka para os seus 700 membros, mas não sabe como que vai
financiá-lo. “Sei que Deus proverá”.

Os africanos sentem que isto é uma contradição. Eles desejam caminhar pela fé financeira,
mas sentem que este pode ser um propósito obscuro. Eles mudam de igreja frequentemente,
analisando as mensagens sobre crença e dinheiro. Sem mais, a própria popularidade da
Palavra da Fé mostra que os africanos sentem saudades de um evangelho que abraça a fé
sobrenatural de corpo e alma.

O discernimento espiritual é preciso para julgar o movimento, diz Synan. Os céticos


ocidentais devem reexaminar suas próprias atitudes antes de criticar a Igreja da África. Nós
somos tão propensos ao materialismo e a ilusão de “poder controlar o destino” quanto à mera
sobrevivência, diz Bacote.

Uma coisa é certa e concordo com Grady quando diz: “Parece hipócrita para os cristãos
ocidentais que vivem em seus subúrbios agradáveis criticarem os africanos que querem
prosperar. Mas esquecem de que muitos africanos estão apenas começando a deixar de morar
em cabanas de palha e experimentando pela primeira vez as alegrias de dirigir um carro,
segurar um trabalho decente e poderem se matricular em uma faculdade. Nós realmente
acreditamos que é errado para eles desejarem ter essas coisas?”.

Sem dúvida nenhuma, os africanos fazem bem em se desenvolverem neste aspecto. Os


celeumas que devem ser tratados, obviamente, são as questões que apontam as
reinterpretações do evangelho e seu real propósito. Pergunto se o que estamos fazendo
realmente com a compra de milagres, com os dízimos e ofertas, não é uma regressão ao
animismo, quando sacrificávamos virgens para aplacar a ira de um deus instável em seu
humor e incapaz de conviver com seus seres humanos. Observando o caso que está
acontecendo no Congo e em outros lugares da África, quando pastores estão caçando crianças
de cinco, seis anos, acusando-as de bruxaria dizendo que por “culpa” delas, certos vilarejos
não estão prosperando, chego á conclusão de que esse não é o caminho pelo qual se deve
seguir.
92

Ásia

A Ásia consiste em pelo menos três diferentes regiões culturais que tem de ser consideradas
separadamente. Onde há uma presença cristã, os movimentos pentecostais e neopentecostais
tem uma influência forte e crescente.

No sul da Ásia, o cristianismo é muito mais uma religião minoritária, com exceção do
nordeste da Índia Central, no estado de Kerala e Tamil Nadu. No Sul da Ásia, as igrejas
protestantes e neopentecostais são muito fortes.

No leste da Ásia, o cristianismo é bem forte na Coréia do Sul, Hong Kong e Singapura. O
Pentecostalismo é predominante. Já no movimento das igrejas domésticas, na China, o
Neopentecostalismo é a vertente que predomina.

No sudeste da Ásia, o pentecostalismo tem um grande impacto onde o protestantismo é


dominante em algumas partes da Malásia e Filipinas. Nas Filipinas, a contagem de cristãos
tende mais ao catolicismo. Contudo, em toda a Ásia, os que professam o cristianismo como
religião, ¾ são considerados pentecostais ou neopentecostais.

Ao que parece, na Ásia existem dois tipos diferentes de concepção do Cristianismo


protestante: um que é chamado de ocidental e outro que é chamado de indígena. Esta última,
com raízes profundas em aspectos de antigas religiões chinesas como o taoísmo.

Raízes Históricas

O começo do Neopentecostalismo na Ásia, vamos encontrar provavelmente associado com o


evangelista John Christian Aroolappen, em Tamil Nadu, na Índia por volta de 1860. Hwa
Yung, no estudo “ENDUED WITH POWER: THE PENTECOSTAL-CHARISMATIC
RENEWALAND THE ASIAN CHURCH IN THE TWENTY-FIRST CENTURY” defende a
ideia de que antes da Rua Azusa, na Ásia, já haviam algumas manifestações pentecostais.

Entre 1905-1907, ocorreu um avivamento quando na Pandita Ramabai’s Mukti Mission em


Pune, também na Índia, uma mulher foi batizada pelo Espírito, dizendo ter visões, entrando
em transe e falando em línguas. Significamente, Pandita entendeu que aquilo era um
reavivamento feito pelo Espírito Santo e estava criando uma forma indígena de cristianismo
indiano (para não confundirmos os termos, a palavra indígena neste caso pode ser entendido
93

como pentecostalismo regional indiano). Embora não trazendo para o aspecto de fenômeno
Pentecostal, o Reavivamento de Mukiti estava trazendo consequências de longo alcance,
espalhadas para o Chile pela primeira vez. Depois de enxertar o papel metodológico no
estudo sobre o Pentecostalismo na história da Índia, Michael Bergunder faz muitas
implicações importantes para o estudo do movimento mundial, concentrando principalmente
em como o movimento se apresentou durante a década de 1930. Roger Hedland nos mostra
como o movimento serviu de matriz para vibrantes igrejas indigenas pentecostais pela Índia,
Sri Lanka e Nepal. Esse movimento teve grande atividade com suas ações, mostrando
criatividade em como esses pentecostais sul-asiáticos embarcaram não apenas na plantação de
igrejas e no evangelismo, mas também redesenhando uma variedade de projetos de elevação
social. A maioria das denominações indígenas pentecostais na Índia tinham regras muito
restritas, incluindo oposição à ornação de jóias e ordenação de mulheres. Uma igreja
independente incentivou o celibato para fortalecimento de poder espiritual. Paul Pulokittil fez
um documento onde discutia sobre o contexto acerca dos Dalits (em sânscrito “dal” significa
"despedaçar, separar, abrir" Diz–se daquela classe de pessoas que dentro do sistema hinduísta,
formam aqueles que estão abaixo do quarto grupo de castas, são os impuros ou intocáveis. Diz
que os Dalits não podem tocar uma casta acima deles sequer com a sua própria sombra).

No sudeste asiático, o pentecostalismo teve grande expansão na Indonésia e nas Filipinas,


porém, também em menor escala em Myanmar (atual Birmânia), Malásia e Singapura.

O caso de Mianmar é muito interessante, onde foi permitido aos missionários não ocidentais
operarem durante 4 décadas, fazendo com que o Pentecostalismo se desenvolvesse de
maneira independente em um movimento indígena, principalmente entre as minorias do
interior, como os Karens e os Chins. Tan Jin Huat trata de uma situação muito diferente na
Malásia, onde os missionários ocidentais operam rigorosa e continuamente desde 1930. De lá,
o Pentecostalismo se expandiu prncipalmente entre as minorias chinesas e indianas, mas o
autor sugere que 75% dos cristãos evangélicos malágos sejam pentecostais-carismáticos
(outro nome confuso para o que parece ser o meio termo entre deuteropentecostal e
Neopentecostal). Havia entre 9 à 11 milhões de pentecostais na Malásia, num país onde os
muçulmanos são a maioria, o que torna o Reavivamento Málago (ou mais precisamente,
reavivamentos), depois da queda do governo de Sukano em 1965, um fato único.Um
reavivamento foi ocorrido em Timor Oeste (Timor Barat) na Indonésia, porém, mais de 2
milhões de javaneses que haviam se convertido entre 1965 e 1971, ficaram oscilando entre o
cristianismo e o islamismo.
94

Nas Filipinas, o Pentecostalismo cresceu tanto que lá ele virou um verdadeiro desafio para a
Igreja Católica. David Martin diz que assim como aconteceu com a América Latina, as
Filipinas tiveram uma colonização católica, o que fez com que depois o número de
pentecostais crescesse. Uma estimativa de 2007, põe o número de pentecostais e carismáticos
com uma soma total em 20 milhões, ou 26% de toda a população, a maior proporção entre os
países asiáticos onde a maioria são de católicos carismáticos. Joseph Suico, um filipino
pentecostal, discute o crescimento do Pentecostalismo Clássico e Lode Wostyn, um padre e
teólogo simpatizante, examinam em um fascinante estudo o enorme movimento da
Renovação Carismática e as suas implicancias para o futuro da Igreja. Há também a distinção
dos movimentos indígenas filipinos, de caráter pentecostal, à qual tem tido uma certa
consideração como pseudo-cristã, como o Movimento Santuela, entre os montanhenses de
Luzon. Em adição à isso, igrejas neopentecostais filipinas estão sendo largamente
estabelecidas como a Jesus is the Lord Fellowship, fundada por Eddie Villanueva em 1978 e a
Bread of Life Ministries, por Butch Conde em 1983. Os trabalhos de Jeong Jae Young
refletem sobre esse desenvolvimento, retirados de 30 anos de experiência como um
missionário sul-coreano no país e sua tese de mestrado refletem sobre a relação entre as
religiões indígenas das Filipinas e o Pentecostalismo. Sobre esses dois líderes, é bom
conhecermos um pouco de suas histórias.

A expansão do Pentecostalismo no extremo leste asiático é uma história formidável. Sabemos


que as missões pentecostais tradicionais começaram em 1907, mas é estimado em um número
de 5 milhões de cristãos na China continental na época do êxodo dos missionários em 1949.
Hoje, a China, provavelmente detém o mais extenso número de cristãos pentecostais e
carismáticos da Ásia e talvez do mundo. É muito difícil ter acesso às membresias das igrejas
da China, especialmente no caso dos movimentos não reconhecidos pelo governo. Uma
estimativa põe o número de cristãos em torno de 54 milhões, contudo, figuras governamentais
admitem que este é um número muito baixo. De qualquer forma, não obstante, esse recente
crescimento do cristianismo na China tenha ocorrido por causa das igrejas indígenas que não
são registradas. A diferença entre essas igrejas indigenas e as independentes e as formas de
pentecostalismo encontradas no ocidente são consideráveis, e talvez parecido com o
movimento de igrejas independentes da África ( as AICs), onde as distintas formas de
cristianismo africano tenham rejeitado as formas ocidentais. As igrejas chinesas tiveram o
desenvolvimento isolado do resto do cristianismo pelos últimos 50 anos e suas igrejas
independentes enfrentaram severa resistência por parte de seus opositores. Todas as atividades
95

eclesiásticas na China foram proibidas à partir de 1966, mas retomadas à partir de 1970. As
Igrejas da China, tiveram no seu reaparecimento, nas palavras de Daniel Bays, “revelação de
alguma continuidade impressionante com o período pré-renovacional.” O movimento das
igrejas domésticas é extremamente diverso, mas marcado por ambos, reavivalistas quanto os
fundamentalistas.

O crescimento do Pentecostalismo na Coréia do Sul, além de dramática, é muito bem


documentada. Não apenas em termos de igrejas pentecostais, mas sim pelo processo de
pentecostalização do protestantismo sul-coreano, sendo que muitos protestantes foram
afetados pelas ênfases pentecostais. O protestantismo coreano teve sua história formada
através de reavivamentos, o mais notável começando no “reavivamento de Wonsan” em 1903
e o “Pentecoste coreano” em Pyongyang, 1907. Pregadores cujo ministério era acompanhado
de curas e milagres, especialmente dos pastores presbiterianos Kil Sun Joo e Kim Ik Du e o
metodista Lee Yong Do, continuaram os avivamentos em 1930. Este era claramente um
movimento carismático, embora o pentecostalismo tradicional tenha chego na Coréia do Sul
em 1928.

Seu progresso foi muito lento, mas o seu notável crescimento ganhou lugar sob o ministério
de Cho Yonggi Gi (antes Paul, agora David Yonggi Cho) e sua mãe na fé, Choi Ja Shil, onde
começaram uma pequena igreja em Seúl e, em 1958 com cinco membros, cresceu até por
volta de 1982, onde os pentecostalistas tradicionais eram o terceiro maior grupo na Coréia do
Sul, com a metade de 1 milhão de membros à quem a metade desse número estava na única
igreja de Cho. Estes eventos estão descritos e refletidos nas obras de três contribuidores
coreanos. Dois estudiosos da Yoido Full Gospel Church de Cho ( Lee e Bae) e outro de um
estudioso presbítero simpatizante, Jeong, que fez sua tese de doutorado sobre pentecostalismo
na Coréia, para a Faculdade Birmingham.

Young Houn Lee, nos dá uma amostra da história dos movimentos de reavivamento da
Coréia, conhecidos também como “Movimentos do Espírito Santo”, começando em 1907,
culminando no potêncial ecumênico do pentecostalismo coreano nos dias de hoje. Hyeon
Sung Bae, oferece uma defesa espiritualizada sobre a teologia do líder da maior igreja do
mundo, David Yonggi Cho, apresentando ela como “Teologia do Evangelho Pleno”, onde ele
argumenta uma forma de teologia coreana “desíndigenisada”. Chong Hee Jeong discute a
relação entre o “Pentecostalismo indígena” e os movimentos reavivalistas no Pentecostalismo
Coreano de vanguarda, demonstrando que essas categorias e paradígmas para discutir o
Pentecostalismo no Ocidente são inapropriados para a Ásia.
96

A questão de como o pentecostalismo coreano conversa com o xamanismo e o confúcionismo


é extraordinária e controversa também. Talvez uma explicação que venturamente explica essa
questão é que este pentecostalismo é uma forma de cristianismo indígena que interage e
confronta essas antigas religiões e filosofias. A Coréia do Sul é um fenômeno de urbanização
em massa e as igrejas pentecostais proporcionam espaços de segurança espiritual e
comunidades personalizadas para as pessoas que carregam uma incerteza com relação à
rápida mudança social. Embora estes fatos sejam determinantes para o crescimento do
movimento pentecostal na Coréia, Harvey Cox sugere mais dois fatores delimitantes: “Para
qualquer religião que cresça no mundo atual, é necessário duas capacidades: é nescessário
pelo menos capacidade para incluir e tranformar certos elementos de religiosidade pré-
existentes que ainda mantém fortes laços na consciência cultural e é preciso preparar as
pessoas para as rápidas mudanças sociais.” Ele diz que estes são os dois segredos encontrados
no pentecostalismo sul-coreano.

Para Allan Anderson e Edmond Tang, autores do livro Asian and Pentecostal: The
Charismatic Face of Christianity in Asia, “uma das maravilhas que muitos da nova geração de
estudiosos do pentecostalismo asiático, é o0 fato de que eles estão passando longe dos
paradigmas das crenças da teologia norte-americana, ensinada aos seus antepassados pelos
missionários ocidentais e engajando na teologia pentecostal asiática ambas a transformação
das religiões ancestrais da Ásia quanto a sua séria inclusão.” Dizem também que “A tendência
pentecostal herdada dos missionários ocidentais demoniza a revelação de Deus sobre as
religiões ancestrais, não ajudam e criam discussões desnecessárias.”

Para uma compreensão sobre essas questões, vamos trazer um breve ensaio sobre esses
processos nos principais países do continente.

China

Como já dito anteriormente, na China, o pentecostalismo chegou ao final de 1907 através de


Tom J. McIntosh. Ele foi para a China com o financiamento de um grupo Holliness. Ele
passou um tempo em Jerusalém antes de voltar para os Estados Unidos e publicar o livro The
Life and Trip of T.J. McIntosh and Wife and Little Girl, Around the World em 1909. Até o
final deste ano eles permaneceram em Hong Kong. Lá eles trabalharam em conjunto com
A.G. Garrs, veterano da Rua Azusa. Contudo, em 1915, os pentecostalistas chineses acabaram
97

formando suas próprias agências e instituições separadas como muitas outras denominações,
embora, um bom número de missionários se manteve independente e não afiliado à qualquer
organização. No reavivamento de Shandong, de 1930 – 1932, os batistas e presbiterianos
foram batizados com o Espírito Santo, arremessados ao chão e evolvidos no “Riso Santo”.
Eles cresceram muito rapidamente num momento em que enfrentaram grande oposição.

Movimento Indígena

O pentecostalismo na China é um movimento muito popular, prosperando nas tradições orais


com ênfase carismática, orientando uma mudança de mentalidade e de hábitos. A pressão
sobre milagres e o contato com o sobrenatural, provou-se mais eficaz com a religiosidade
popular chinesa do que com as cada vez mais velhas e institucionalizadas missões.

Os pentecostais são considerados menos estruturads e centralizadoros do que as outras


missões e isso deu mais espaço para os talentosos cooperadores chineses evoluírem mais
rápido e de maneira mais responsável. A própria natureza do Pentecostalismo, com o seu
aspecto igualitarista, revelou um Deus acessível a todos de uma maneira dramática,
significando que qualquer chinês poderia ter o mesmo acesso à Deus e aos dons do Espírito
que os missionários estrangeiros tinham. O foco se dava através de uma piedade espiritual
entrelaçada à uma religiosidade popular.

A principal igreja pentecostal da China no século XX é a radicalmente anti-estrangeira e


exclusivamente rígida milenarista International Assembly of the True Jesus Church, fundada
por (Paul) Wei Enbo em Beijing entre 1917 e 1919, independente da direção estrangeira. No
final da década de 1940, a Igreja tinha cerca de 100 mil membros. Em 1958, ela foi banida,
sendo acusada como uma instituição contra a revolução do governo comunista e seus líderes
foram presos. No entento, neste tempo, ela já estava estabelecida em Taiwan e hoje tem
congreações entra a diáspora chinesa em todos os continentes. Desde 1980, a igreja ressurgia
na China e ganhou força suficiente para ser reconhecida pelo governo, com um número
possível de 3 milhões de membros. Esta igreja pratica os fenômenos pentecostais como o falar
em línguas, espasmos, canto, pulo e dança no Espírito. O movimento é indígena em sua
cosmologia sobrenatural e sua ênfase na piedade filial (transferida para a piedade de Jesus) e
na sua simbiose entre a possessão de espírito e Batismo do Espírito.
98

Movimento das Igrejas Domésticas

Em 1949, o movimento pentecostal alcançou cerca de 500 mil membros, mas durante os vinte
primeiros anos do regime de Mao Tse Tung, houve uma grande queda para cerca de 150 mil
membros. Um inesperado, porém significativo desenvolvimento para o cristianismo chinês foi
a ascensão do movimento das igrejas domésticas. Esse grupo celular enfatizava a
informalidade, espontaneidade e uma experiência pessoal pressionada pelo evangelismo
pessoal. Elas permaneceram silenciosamente ativas e estavam mais bem preparadas para a
repressão durante a Revolução Cultural (movimento político-social que instaurava o
socialismo no país, removendo o capitalismo, os elementos da tradição e cultura da sociedade
chinesa, impondo a ortodoxia Maoísta partidária.) entre 1966 e 1976. As reuniões domésticas
eram extremamente perigosas e os grupos tiveram que continuar sendo muito pequenos para
evitar a detecção de sua existência por parte do governo. Hoje, muitas igrejas de minorias
étinicas somam cerca de 1 milhão de membros. No entanto, seria enganoso descrever essas
comunidades como sendo Pentecostais ou Neopentecostais.

Desde a revolução cultural, quando a atividade religiosa foi banida, desde 1995 a Igreja
chinesa cresceu de algo em torno de 2 milhões para 40 à 80 milhões. Em 2000, a China tinha
mais pentecostais e neopentecostais que qualquer outro país do mundo exceto Brasil e Estados
Unidos. Os católicos carismáticos somam algo em torno de um milhã, entre 12 milhões de
católicos tradicionais. Hoje, o Pentecostalismo Chinês permanece igualitário e teologicamente
inexperiente. Seu foco sobre os aspectos miraculosos e sobrenaturais lhe permite manter
distância do governo através das igrejas reconhecidas.

No futuro, no Século XXI, a china poderá se orgulhar de ter o maior número de cristãos no
mundo e certamente o maior número de Pentecostais e Neopentecostais também.

Coréia do Sul

Desde que foi introduzido em 1884 na Coréia do Sul, o cristianismo protestante avançou para
se tornar a maior religião da nação. Desde 1910, primeiro ano da ocupação japonesa, o
cristianismo duplicava à cada 10 anos. Kim Byong-Suh classifica o crescimento do
protestantismo na Coréia em três periodos de tempo.
99

1. Crescimento por motivo de emancipação (1884 – 1910).


2. Crescimento pelo espírito de pioneirismo (1906-1930).
3. Crescimento com o Partidarismo sectário (1940-1960).

O Cristianismo tem sido o agente de modernização econômica e social na Coréia. Ao mesmo


tempo, os aspectos essenciais da crença religiosa e prática indígena têm sido absorvido tanto
pelo cristianismo protestante quanto pelo católico. O cristianismo introduziu alguns valores-
chave que marcam a modernidade como a liberdade, direitos humanos, democracia e
igualdade.

O cristianismo não é apenas um meio de entrada na sociedade moderna, mas também um


acesso ao que se crê, seja uma civilização mais avançada, uma visão de como as coisas
poderiam ou deveriam ser. Os cristãos tem sido proeminentes em vinte séculos de
movimentos de independência e democracia.

Hollenweger, seguindo Yoo (1988) divide o pentecostalismo coreano em três fluxos:

Pentecostalismo Fundamentalista – De 1900 em diante

Pentecostalismo Místico – Desde 1930

Pentecostalismo Minjung – Desde 1970.

Pentecostalismo Fundamentalista

Manifestações pentecostais como curas, dons do Espírito e milagres sobrenaturais aparecem à


um quarto de século antes da chegada do primeiro missionário pentecostal em 1928. O
primeiro reavivamento aconteceu em Wonsan, 1903 e atingiu uma segunda onda em
Pyongyang, Wonsan em 1905-1906, atingindo o clímax no ano seguinte nas reuniões de
Pyongyang. Havia muitos milagres, curas e exorcismos. Na conferência Missionária de
Edimburgo em 1910 foi declarado que “O reavivamento coreano... Tem sido um Pentecoste
legítimo!”

Apesar da perseguição advinda da ocupação japonesa, os coreanos que foram batizados com o
Espírito Santo, espalharam a mensagem. A igreja Holliness da Coréia (de caráter pentecostal)
foi fundada em 1907 e hoje é o terceiro maior corpo pentecostal da Coréia.

Antes da libertação em 1945, houveram 67 novas organizações religiosas na Coréia, de


acordo com o Relatório Geral do Governo coreano. Hoje, cerca de 300 tipos de novas
religiões, incluindo as de origem estrangeiras são propagadas. Este número do movimento de
novas religiões vem sobre um número de fatores que se uniram durante a ocupação e depois
100

com a rápida mudança social após sua independência. Em primeiro lugar, Syn-Duk Choi,
nota, que esse movimento de novas religiões surge depois que certo sistema religioso perde a
sua capacidade de satisfazer as necessidades de uma pessoa ou um determinado grupo. Em
segundo lugar, com o surgimento do Cristianismo, o Confúcionismo perdeu seu monopólio de
500 anos como a única norma de conduta moral e assim, o campo estava aberto.

Em terceiro lugar, as precárias condições políticas e econômicas durante a ocupação trouxe


uma espécie de confusão cultural. Ocupada com uma potência estrangeira, a população
passou à procurar por um salvador cuja chegada iria resolver seus problemas espirituais. E
em quarto lugar, a rápida mudança social e a mobilidade desde 1950, criou conflitos culturais,
alienação e fome espiritual. Existem grupos religiosos, incluindo igrejas, que deixaram de
responder às necessidades sentidas, que são, em primeiro caso, um senso de confiança em
face do ódio, desespero e ansiedade, e em segunda instância, a habilidade de integridade à
ordem social. As igrejas então, se tornaram centradas em sua própria preocupação
organizacional, ignorando a sede das massas em se obter respostas às questões da vida.

Yoido full Gospel Church

A igreja mais proeminente na Coréia é a igreja de Cho Yonggi-Gi (David Yongg Cho).

Yonggi-Gi recebeu sua comissão do Senhor, depois de ter uma doença crítica de tuberculose,
visões e de conhecer um missionário pentecostal. Começando com cinco membros, em 1958,
por volta de 1973, havia 12.500. Entre 1973-1975, a igreja cresceu 83% e entre 1975 à 1977,
ela cresceu em torno de 121%.

Hoje, sua igreja é a maior do mundo, com aproximadamente um milhão de membros. As


características principais da doutrina da igreja Yoido é o ensino da tríplice salvação – física
(saúde), espiritual (perdão) e material (prosperidade), com ênfase no poder do Espírito Santo.
Pregações semanais dão forças e esperança à simples frases como: “Pense nisso”, “Veja”,
“Fale”, “Nomeie”, “Em ousadia” e por fim “Através da visualização do sonho, você pode
incubar o futuro e ver os resultados”. A maior razão para o ingresso na Igreja de Cho é a
chamada “Receba a cura”. A teologia de Cho a respeito da tríplice salvação gerou um forte
movimento em direção a uma melhoria de vida. Doença, pobreza e fracasso empresarial, são
devido aos pecados e impureza espiritual. Segundo Syn-Duk, esta mega-igreja mantém a sua
coesão devido à sua ênfase no sistema de células domiciliares (ou grupos familiares) como o
101

foco do cuidado pastoral, discipulado e evangelismo. Em 1982, a Yoido Full Gospel Church,
tinha 116 missionários trabalhando em 17 países. O reavivamento de Both Lee e a igreja
Yoido de Cho são terapêuticos por natureza.

John Mansford Pryor 14 acredita que o sucesso da igreja se dê ao fato de que talvez metade dos
membros que se filiam à igreja o faz, ou por persuasão da família ou dos amigos e a outra
metade se junta à igreja em busca de curas. Uma terceira razão, essa calculada em 6%, juntou-
se à igreja para buscar uma experiência com o Espírito Santo. As mulheres superam os
homens em números numa proporção de duas para um. Os membros tem um nível de
escolaridade inferior ou igual à quem tem um curso superior. Existe uma preponderância entre
a classe trabalhadora e a classe média. A Igreja de Cho insiste na estabilidade familiar e o seu
papel na sociedade. Suas idéias conservadoras sobre a estrutura familiar e o papel dos
membros da família parecem ir contra a tendência da sociedade em rápida mudança. A base
da estrutura social e cultural da Coréia foi feita em cima dos ensinamentos de Confúcio, sobre
fidelidade e valores tradicionais.

Eungi Kim nota a plausível afinidade entre o xamanismo e o espírito capitalista. Nem o
pacifismo nem o fatalismo são inerentes ao xamanismo cujos seguidores trabalham duro para
alcançar o sucesso para praticar o xamanismo, induzidos pelo sucesso material. Os coreanos
são livres para realizá-lo e como eles são emocionalmente controlados, fazem de tudo, tanto
de forma prática quanto espiritual para conseguir o sucesso. Além disso, as igrejas combinam
responsabilidade pessoal com criatividade, tanto necessário a uma economia empresarial.
Hollenweger sugere um positivo link entre a teologia de Cho, quanto o xamanismo coreano e
esse cruzamento que pode gerar tanto um destino conservador quanto um radical. Essa
acusação de práticas xamânicas na igreja de Yonggi Cho se dá pelo simples fato da
semelhança do xamanismo para com a teologia ensinada por Cho.

Jeremy Reynolds 15 que tem alguns trabalhos de pesquisa sobre este assunto, explica que, “os
cristãos coreanos tendem a ver o cristianismo como um caminho para a prosperidade material.
Esssa visão, é um resíduo do xamanismo, que é a religião popular da Coréia e de outros países
do Nordeste asiático. No xamanismo, o curandeiro (ou a) é convidado a interceder com os

14
Jesus Christ the Way to the Father: The Challenge of the Pentecostals Por John Mansford Prior, svd – FABC Papers
nº 119 pág. 10

15
Jeremy Reinolds: Pentecostalism, Shamanism and Capitalism within Contemporary Korean Society, por Sung-Gun
Kim, pág. 7
102

espíritos para garantir a saúde e o sucesso de um negócio. Muitos dos cristãos coreanos
afirmam que os deuses do xamanismo e o Deus cristão são almas gêmeas” Diz.

“Na minha pesquisa, defendo que há uma relação entre os deuses do xamanismo e o líder da
mega-igreja, David Yonggi Cho. Proponho que a relação existente entre o xamanismo e Cho é
que tanto um quanto outro tentam resolver uma propensão comum à natureza humana (o
desejo de ser bem – sucedido externamente) e que ao fazê-la, Cho torna sua fé utilitarista e
que a longa história da influência xamânica na cultura coreana, há, assim, um abiente
favorável criado para receber a sua mensagem.” Termina.

Deve-se ressaltar, no entanto, que a maioria dos coreanos pentecostalistas rejeita qualquer
noção de sincretismo, e sua mensagem é do pentecostalismo clássico. Por exemplo:
Kim Dong Soo 16 não acredita em nenhuma influência direta xamãnica. No entanto, ambos os
movimentos são similares na medida em que desempenham um papel análogo no han
(chineses) no seu desenrolar. O coração ferido, a profunda dor sentida por um povo cujos
sentimentos e dignidade foram agredidos pela ocupação e pobreza. Ele apontou a proximidade
entre os paralelos não apenas entre a função do pentecostalismo e do xamanismo na vida das
pessoas mas também o papel do pastor e o do xamã como também os métodos utilizados em
ambos os movimentos. Do mesmo modo, Allan Anderson, autor do artigo The Contribution
of Cho Yonggi to a Contextual Theology in Korea, nota não apenas a similaridade entre o
pentecostalismo coreano para com o xamanismo, mas a mesma forte continuidade com o
registro bíblico; “O pentecostalismo bíblico é muito parecido com a religião xamânica
primitiva”. Para Anderson, não é uma questão de sincretismo, mas de criativa
contextualização “para as necessidades sentidas de um povo”.

Pentecostalismo Místico

O movimento da montanha de oração é um movimento da religião indígena da Coréia. O


ministro metodista Lee Yong-Do (1901-1933), após se formar numa escola bíblica, foi para a
montanha Kumkang para passar dez dias em jejum e oração. Ele diz ter visto e ouvido uma
voz que vinha do céu, chamando-o “para expulsar demônios”. Em 1930 um grupo de oração
de Pyongyang, líderes altamente críticos da igreja se sentiram constrangidos pela teologia dos
16
Kim Dong Soo: Jesus Christ the Way to the Father: The Challenge of the Pentecostals Por John Mansford Prior, svd
– FABC Papers nº 119, Pág. 10-11
103

missionários. Lee foi expulso por ambas as igrejas presbiterianas quanto pela sua própria
metodista. Ele pregou sobre uma espécie de espiritualidade interna e personalizada
envolvendo a guerra espiritual e piedade pessoal. Ele morreu de tuberculose com apenas 33
anos.

O movimento Montanha de Oração decolou depois a liberação de um espaço específico para a


oração, meditação, jejum e estudo da Bíblia. Mesmo havendo muitos templos budistas nas
montanhas, não havia uma montanha de oração cristã na Coréia do Sul antes da
independência. Em 1942, Wong Moon-Ra estabeleceu o Aehyangsook (conjunto das palavras
Amor – País - Classe, uma comunidade engajada na criação do “País do Amor”). O espírito
do Aehyangsook é expresso em cinco frases de expressão:

1. Adorar à Deus de forma absoluta


2. Amar as outras pessoas como à sí mesmo
3. Levar a verdade
4. Comunhão com a Terra
5. Estudo na vida

Em 1947, milhares se reuniram nesta montanha para serem abençoados nos quatro cantos do
país. Esta benção incluía o poder de resolver os problemas da vida, curar os enfermos e
expulsar a pobreza. Ra viajou de vilarejo em vilarejo para na montanha Yongmun recuperar
seu poder espiritual através de jejum, oração e meditação da Bíblia. Lá ele experimentou a
presença do Senhor e recebeu o dom de línguas e profecias. Em 1954, cerca de dez mil
pessoas realizaram o reavivamento na montanha.

Muitas montanhas de oração foram estabelecidas durante os anos 1980, mais do que em outro
periodo. Mais da metade, próximas de Seúl. Cristãos dos centros urbanos procuram por
lugares isolados, onde eles possam estar com Deus, de maneira privada. Eles vão para as
montanhas para prolongar as experiências espirituais e estas mesmas montanhas enfatizam a
dimensão experimental da vida cristã. Lá, eles vão para as montanhas para resolverem seus
problemas financeiros, familiares, lutas pessoais e para receberem curas físicas e espirituais.
Este movimento de montanhas de oração tem muito em comum com os valores primordiais da
cultura coreana e consoante ao caráter primal da religião. Hoje a montanha também tornou-se
roteiro de férias para as famílias coreanas.
104

Pentecostalismo Minjung

A palavra Minjung é a junção das palavras Ming (as pessoas) e Jung (as massas, ou
população) seu sentido é meio complicado de traduzir para outra língua, pois sua tradução
literal seria algo como “as pessoas populacionais”. Um sentido um tanto redundante. No
contexto político e cultural, “massas” não é uma tradução muito adequada e “as pessoas”
carrega uma conotação comunista, o que torna o seu uso um tanto perigoso para o país anti-
comunista que é a Coréia do Sul. Para os coreanos, minjung são aquelas pessoas oprimidas
politicamente, economicamente exploradas, marginalizados sociologicamente, culturalmente
desprezados e religiosamente condenados. Assim, a noção de minjung veio para identificar e
informar a luta pela democracia na Coréia do Sul. Ou seja, o termo minjung funciona como
uma espécie de visão de mundo que fornece as categorias em que a realidade social é
organizada e compreendida. Um dos preceitos básicos dessa cosmovisão é a de que a história
deve ser compreendida a partir do ponto de vista do minjung, ou que os minjung são os
sujeitos (e não as vítimas) da história.

Trazendo para o contexto cristão, a afinidade do cristianismo ou a convergência com os


valores centrais da religiosidade coreana, particularmente com o xamânismo, tem garantido a
ascensão da então fé recebida. “O cristianismo adotou uma ênfase xamânica no que tange à
realização de desejos materiais, mediante a oração ou comunicação com os espíritos. Tomado
pelo cristianismo deste mundo materialista, até mesmo suas tendências capitalistas foram
tomadas do xamânismo”, diz o professor de Harvard, Harvey Cox 17.

Desta forma, a aceitação do evangelho é muitas vezes, visto como um meio de melhorar a
posição social e financeira, algumas vantagens que alcançam num contexto familiar e social, o
compartilhamento da prosperidade nacional.

Não obstante, para Yoo, Boo Woong (1988) o sentido de uma fusão das correntes do
pentecostalismo com o xamânismo é a paixão minjung pela justiça.

De acordo com Lee Hong - Jung, o movimento pentecostal na Coréia começou como uma
expressão dos politicamente oprimidos, econômicamente explorados, socialmente alienados
minjungs, mas que logo foi idealizado pelos missionários norte-americanos como sendo um
sincretismo com o capitalismo, o xamânismo e o fundamentalismo religioso.

17
Harvey Cox – Livro Fire From Heaven: The Rise of Pentecostal Spirituality and the Reshaping of Religion in
the Twenty First century.
105

A divisão, portanto é entre o evangélico conservador e o minjung radical “xamânico”, analisa


Lee.

Para Syn-Duk, os novos movimentos religiosos da Coréia, incluindo as comunidades


neopentecostais, dão ênfase à este mundo como também ao outro mundo. Cada um destes
movimentos, tantos cristãos quanto de outras formas, apesar do abismo em termos de doutrina
básica, organização, ritos e as relações com a sociedade em geral, todos estão preocupados
com os benefícios, tanto deste mundo, quanto da religião, a da santidade da família e a
integridade cultural da sociedade coreana. O movimento ilumina a vida das pessoas,
libertando-as da inquietação e da incerteza, dão respostas às perguntas de seus seguidores.
Eles aderem ao invés de romperem com a cultura tradicional coreana e sua identidade étnica.
Já Harvey Coz, tem um pequeno problema com o xamânismo e o pentecostalismo coagindo
na Coréia, como em qualquer outro lugar da Ásia. Enquanto isso, Yoo mantém que “enquanto
a teologia libertária (Teologia criada pelo teólogo e ex-padre brasileiro Leonardo Boff na
década de 70, cuja idéia centrava numa espécie de cristianismo de esquerda) de teólogos
profissionais da década de 1970 preocupam-se com a libertação dos pobres, o pentecostalismo
minjung é teologicamente pobre por si mesmo.

Filipinas

O primeiro missionário pentecostal nas Filipinas foi Joseph Warnick em 1921. Ele e mais um
pregador local, Teodorico Lastimosa, abriram uma igreja chamada Philipine Church of God.
O primeiro ministro da Assembléia de Deus chegou em 1926. Na década de 1940, os filipinos
retornaram dos Estados Unidos já como missionários para o seu próprio povo, o que os levou
às maiores igrejas pentecostais. Os primeiros crentes tiveram que suportar o assédio dos
católicos enquanto o movimento crescia “aos trancos e barrancos”. Os anos de 1970 a 1980
levaram ao surgimento de muitos grupos pentecostais. Isso coincidiu com a explosão das
irmandades carismáticas no país.

Hoje, existem pelo menos dezoito denominações pentecostais e grupos pentecostais que
formam as 51 frentes da diretoria do Conselho Filipino de Igrejas Evangélicas. De 1926 até a
ocupação japonesa, 1941-1945, o crescimento pentecostal foi devagar. A entusiasmada
atividade missionária (evangelismo, plantação de igrejas, rádio, literatura ministerial, reuniões
avivalistas e outdoors das cruzadas) começou após a sua libertação. Mas o período de
106

instabilidade política e social da era de Ferdinando Marcos na presidência (1965 a 1986)


testemunhou um crescimento explosivo.

Durante os anos de 1980, o número de igrejas pentecostais mais que triplicou. No ano de
1999, as Assembléias de Deus somavam um número de duas mil trezentos e cinquenta e sete
igrejas locais, quase o dobro do número de vinte anos atrás, com cento e trinta mil membros e
três mil e duzentos ministros filiados e obreiros. A igreja conta com trinta e cinco escolas
ministeriais, incluindo uma para surdos e já treinou e enviou quinze missionários
transculturais para fora ao exterior.

A Igreja do Evangelho Quadrangular através de Vicente Defante, um cozinheiro da marinha


norte-americana na sua terra natal, na cidade de Ohio na metade de 1930,teve congregações
fundadas nas regiões de Minas e no norte de Ilocos por filipinos que tiveram experiências
espirituais na Angelus Temple em Los Angeles. À partir de 1948, haviam treze igrejas
quadrangulares e em 1958 as igrejas se organizaram em quatro distritos: North Luzon, Luzon,
Mindanao e Visayas. Em 1972, havia mais de duzentas igrejas, três escolas bíblicas e duas
escolas cristãs.

Outras igrejas pentecostais nas Filipinas incluem a Filipina Assembléia de Deus do


Primogênito que começou no nordeste de Luzon em 1941, a Igreja de Deus Missionária
Mundial das Filipinas, que começou no noroeste de Luzon em 1947. A década de 1980
revelou-se um momento de grande crescimento como resposta à turbulência social e política
da lei marcial. Em 1981, havia cento e cinquenta igrejas com mais de 30 mil membros,
contando com quatrocentos e cinquenta ministros.

A Igreja Pentecostal Universal foi fundada por Romeo Doming Corpuz em 1976. Este grupo
pentecostal indígena, começou perto de Manila, usando uma capela católica durante 6 meses,
enquanto que a missa tinha sido transferida para o sábado. Hoje, há cento e trinta e três
congregações locais, com cem ministros, dez creches e uma escola cristã. Esta igreja faz parte
do Movimento Filipinas para Jesus (PJM). As três maiores igrejas pentecostais são a Igreja
Jesus é Senhor de 1978, a Cruzada Miraculosa de Jesus e as Assembléias de Deus.

George W. Harper estudou as estatísticas das grandes igrejas fundamentalistas e das


pentecostais indígenas nas Filipinas, comparando e contrastando os diferentes métodos de
cálculo e projeção. Com um número de importantes ressalvas, ele conclui que “em 1990,
5,1% dos filipinos eram evangélicos... Em 2000, evangélicos já constituíam 6,5% da
população e 8,2% em 2010. E a projeção é de que seja de 17,0% em 2040. Se a maior Igreja
107

na Ásia, que é a católica perder 15% a 20% dos seus membros para os grupos evangélicos,
então a situação seria comparável ao o que acontece no Chile”. Conclui.

Jungia Ma vê que uma das razões para o sucesso do pentecostalismo nas Filipinas é a sua
semelhança com a espiritualidade xamânica dos povos tribais, que é centrada em torno do
conceito de poder; a mensagem pentecostal demonstra a supremacia de Deus sobre todos os
espíritos.

Xamãs negociam a relação entre os espíritos e os pentecostais através de aconselhamento,


realização de ações de graças e rituais de cura e interpretações de presságios, sonhos e visões.
Os Filipinos tem um forte sistema de crença no mundo espiritual e são muito atraídos pela
ênfase pentecostal no poder do Espírito Santo. Os ritos de passagem como nascimento,
casamento e morte são acompanhados por rituais xamânicos. Batismo no Espírito Santo
parece bem ser um enxerto para a possessão e exorcismo para o apaziguamento de espíritos
tribais. Enquanto Jungia Ma vê isso como sincretismo, Amos Yong, no estudo “Going Where
the Spirit Goes: Engaging the Spirit(s) in J.C. Ma’s Pneumatological Missiology” avalia as
correlações entre a cosmologia do pentecostalismo e a visão de mundo primária de maneira
positiva.

Os pentecostais acreditam que a mudança social só se dá através da conversão pessoal e a


incorporação da comunidade da fé. A mudança estrutural não faz parte de sua agenda de vida
social. John Mansford Pryor avalia: “Uma vez que a salvação pessoal é alcançada, os efeitos
curativos são perceptíveis na vida pessoal e familiar da pessoa e também na sua saúde física e
no seu bem estar”. Os pentecostais estão se empenhando para reconstruir a vida familiar em
comunidade, desfeitas pelo deslocamento social e político. Após a conversão, a pessoa
adquire um senso de dignidade, um sentido novo para a vida, disciplina para o trabalho e
modelo de vida familiar. Segundo Joseph R. Suico, autor de “Pentecostalism: Towards a
Movement of Social Transformation in the Philippines”, na virada do século, o
pentecostalismo filipino ainda era extensamente limitado à família e as relações interpessoais.

Indonésia

Os primeiros missionários pentecostais que chegaram à Indonésia, (até então Índias Orientais
Holandesas) em 1921 e começaram por trabalhar em Balí, fazendo cultos evangelísticos em
um armazém em Copra. Eles traduziram o evangelho de Lucas para o Balí e dez meses
108

depois, autoridades holandesas os expulsaram de lá. Surubaya, no leste de Java, se tornara a


sua nova base.

A igreja começou com um núcleo de dez pessoas, aumentando para quarenta no final daquele
primeiro ano. A maioria era holandeses e outros mestiços de indonésios com holandeses. Em
1923, os 13 primeiros foram batizados por imersão com a fórmula “Somente Jesus”. Um
grupo de homens jovens, convertidos entre 1924-1926, tornara-se a espinha dorsal do
movimento, quando as autoridades holandesas foram internadas durante a ocupação japonesa
(1942-1945).

A partir do leste de Java, na cidade de Malang, jovens evangelistas foram enviados para o
norte de Sumatra, norte de Sulawesi, Ambor e Timor, onde as primeiras igrejas foram
instaladas na década de 1930. No final de 1920, alguns influentes chino-indonésios se
converteram e posteriormente, o pentecostalismo se tornou um movimento em grande parte
da região Indonésia-China. Não há registro de grande receptividade do pentecostalismo entre
os javaneses nesse período inicial.

Fortes líderes nacionais carismáticos começaram a surgir, especialmente quando da ocupação


japonesa, exigiu que os indonésios assumissem posições de liderança, anteriormente ocupados
por ocidentais.

Um grande reavivamento ocorreu após a derrubada do governo de Soekamo pelo exército em


1965, especialmente na Igreja Presbiteriana do Timor Oeste.

No inicio do século XXI, havia cerca de cem centros evangélicos de estudos, a maioria delas
fundada nos últimos trinta anos. Sua força, além da devoção pessoal, é o seu espírito
evangelístico e missionário, sua fraqueza é a não adequação ao sistema de ensino educacional
do país. Eles tem tido crescimento surpreendente. De uma igreja domiciliar de dez pessoas em
1921, tem se tornado uma grande força no cristianismo da Indonésia. Em 1980, totalizavam
dois milhões de pessoas, chegando vinte anos depois, a seis milhões. Hoje, as denominações
pentecostais, talvez constituam a metade dos evangélicos na Indonésia.

Entre os muçulmanos indonésios, a busca da experiência direta com o divino e da cura pela
fé, encontrou expressão nas tradicionalistas sociedades kebatinan, entre a elite javanesa do
período da independência até 1965 e desde 1985 em movimentos espirituais trans-
denominacionais entre os islâmicos de classe média.

Este último tem muito em comum com o pentecostalismo clássico indonésio e o movimento
carismático.
109

O Gereja Pantekosta di Indonésia (Igreja Pentecostal da Indonésia) é a maior igreja


pentecostal, com mais de três milhões de membros. O Jemaatt Allah di Indonesia
(Assembléias de Deus da indonésia) tem uma participação de setenta mil membros, com 700
igrejas locais na maioria das províncias da Indonésia. Um dos fenômenos proeminentes no
desenvolvimento das igrejas pentecostais na Indonésia é a intensidade do cisma que deu
origem à cerca de 100 novos grupos pentecostais. Existe agora mais de quarenta
denominações pentecostais na Indonésia, a maioria das quais estão em contínuo crescimento.

Características

O pentecostalismo na Indonésia é focado nas orações pela cura. Esta poderosa abordagem,
encontrou no evangelismo uma abertura e capacidade de responder ao evangelho. Quase todos
os testemunhos daqueles que se converteram ao cristianismo à partir de uma origem
muçulmana, envolveu algum tipo de milagre, como cura, libertação ou um sonho. Desde a
cruzada de Jhon Sung em 1939, grandes multidões se reúnem em estádios de futebol, teatros,
salas públicas para ouvir os evangelistas pentecostais. O estilo de louvor adotado são
basicamente o bater palmas, música ao vivo e refrãos de alguns corinhos.

Isto trouxe vida nova para muitas congregações que eram muito sóbrias. As escolas bíblicas
não formaram muitos teólogos, mas tem se mostrado eficaz no plantio de igrejas e na
transformação de pastores. A ênfase está na prática do ministério.

Enquanto alguns como Yakub Nahuway, aluno e seguidor de David Yonggi Cho da Coréia e
líder da Igreja Saron Mawar, adotaram a teologia do sucesso, outros adotaram o senhorio de
Jesus Cristo com responsabilidade social sensível. A ênfase é sobre o evangelismo pessoal e
doméstico. Poucos evangelistas indonésios foram enviados para outros países, como a
Malásia, Singapura, Tailândia, Camboja, Hong Kong, Taiwan, Japão, Nepal, Afeganistão e
Paquistão. Alguns foram para a Europa, América Latina e África com o intuito de plantio de
igrejas.

Os pentecostais antagonizaram através da ansiosa evangelização a outros cristãos, na


tentativa de converter os muçulmanos. Embora outras igrejas protestantes já estivessem
instaladas na Indonésia, eles não hesitam em nada, para através de irmandades domésticas,
fazerem reuniões evangelísticas com o objetivo de abrirem uma nova igreja. Contudo, desde
1990, atitudes foram tomadas para minimizar a tensão e a polarização. O diálogo com os
110

muçulmanos, enraizada nas relações interpessoais, visa forjar pontos de contato de modo à
não antagonizar as vizinhanças muçulmanas. Depois dos incidentes do 11/9 em Nova iorque e
Washington, a antipatia dos evangélicos conservadores norte-americanos pode novamente
acentuar as tensões.

Índia

Talvez a Índia tenha sido o primeiro país à experimentar o derramamento moderno do


Pentecostalismo, mas certamente foi o primeiro na Ásia. Na Índia, alguns movimentos
parecidos com o Pentecostalismo precederam o desenvolvimento do próprio Pentecostalismo
na Europa (Wales) e na América do Norte (Los Angeles) por pelo menos quarenta anos antes.
De acordo com McGee e Burgess no artigo Índia do The New International Dictionary of
Pentecostal and Charismatic Movements, “Durante o século XX, a Ásia se desenvolveu
independentemente da influência de reavivamentos que vieram do Ocidente.”

Grandes avivamentos iniciais foram marcados pela restauração dos dons carismáticos e o
avanço da liderança indígena. Avivamentos foram relatados em Tamilnadu (1860-1861) e se
espalhou para Kerala uma década depois (1874-1875). Nestes dois casos, os dons
carismáticos como profecia, glossolalia, glossografia e interpretação de línguas e outros
fenômenos pentecostais (oração pelos doentes, desmaios e espasmos tal como a restauração
de ofícios como o apostolado) estiveram presentes.O líder era John Cristian Aroolappen, um
evangelista anglicano nativo que havia sido treinado no Pietismo. O ministério de Aroopallen
e o reavivamento desde o início tinham tomado um curso indígena. Os missionários e o
dinheiro ocidental tiveram pouco ou nenhuma influência. Os indianos tiveram visões às quais
foram revelados os nomes de quem deveria ser nomeado como apóstolo, evangelistas e
profetas. Todos eles indianos.

Entre os convertidos por Aroolappen, estava o ex-brâmane Justus José que formou a Revival
Church em 1875. Este grupo também tinha sido indígena na sua natureza, mantendo alguns
traços da cultura hindu, embora José tenha passado à negar as castas entre os seus adeptos. As
músicas foram compostas pelos próprios indianos. Apesar da desaprovação por parte dos
missionários estrangeiros, esse movimento sobreviveu até o século XX, mesmo que de forma
diminuída.
111

Em 1905-1907, um reavivamento aconteceu na Missão Mukti de Pandita Ramabai em Pune,


onde uma jovem mulher foi batizada no Espírito, dizendo ter tido visões, caindo em transe e
falando em línguas. No mesmo ano houve um avivamento entre os povos tribais de Hills
Khassia, nordeste da Índia. Os crentes começaram à confessar seus pecados numa espécie de
“tempestade de oração”, onde são gastas horas em uma fervorosa e em voz alta oração. Vários
fenômenos pentecostais tem sido observados em diversas partes da Índia, como sonhos,
visões, sinais dos céus, recepção da obra “incinerante” do Espírito Santo, “línguas de fogo”,
profecias e até provisões milagrosas de alimentos. Tudo isso estava relacionado com o
nascimento do movimento pentecostal na América do Norte em 1906, embora a primeira
congregaçãp pentecostal na Índia tenha surgido em 1911, na cidade de Kerala, por obra do
missionário alemão George Berg, que foi batizado no Espírito Santo na rua Azusa, EUA. As
mulheres fizeram contribuições notáveis, incluindo reflexões teológicas e missiológicas.

Vários Dalits se converteram ao pentecostalismo por outras igrejas, por causa do insuficiente
progresso que foi feito em relação à sua sorte e por causa da compreensão igualitária que o
Espírito preenchia e o batismo prometia a salvação que tanto buscavam. Porém, a pré-matura
integração não aboliu a discriminação pelas castas e em 1972, os pentecostalistas sírios
separaram formalmente os Dalits. Vinte anos depois, os Dalits segregados haviam crescido de
60 igrejas para 200.

Igrejas Indígenas

O Neopentecostalismo é hoje extensamente o grupo renovacionista na Índia. Estes são de


corpos indígenas. A maior é a New Apostolic Church, fundada em 1969 com 1.448,209
membros em 1995. Eles estabeleceram uma missão no Quênia, África Oriental em 1973. A
segunda maior igreja é a Indian Pentecostal Church, fundada em 1942 com 900 mil adeptos
na Índia e em 10 outros países. A New Life Fellowship, fundada em 1968, tem cerca de 480
mil membros.

Apesar desses números parecerem muito alto em se tratando de países com predominância
muçulmana porém, não podemos esquecer que a India é um país com mais de um bilhão de
habitantes e, também que a India recebeu o evangelho do Senhor Jesus cuja propagação
alcançou todo esse contingente. Portanto são numeros plausíveis.
112

De acordo com fontes pentecostais, o total de membresia indígena de denominações


neopentecostais é maior que 15 milhões. Essas igrejas têm sofrido de todos os lados:
perseguidas por grupos radicais hindus, benefícios do governo negados após a conversão,
enfraquecimento por divisões recentes e a ridicularização por parte dos cristãos da Síria que
os chamam de demasiadamente emotivos.
113

Capitulo VI

Uma Igreja Fora do Seu Contexto

Para um entendimento dessa situação se faz necessário retornamos ao final do Século XIX
para obtermos um pano de fundo e entendermos a nossa preocupação com esse cenário cristão
em nossos dias. Nesse período vamos encontrar a igreja espiritualmente morta, algumas em
completa apostasia da fé.

O protestantismo americano encontrava-se decadente espiritualmente, pois se baseava na sua


riqueza, cultura e influência. O que imperava era o liberalismo, o formalismo, o mundanismo,
o profissionalismo ministerial, a consciência de classes e a total ausência de experiência com
Deus. E, nós herdamos grande parte desse caos. Nesse período o Darwinismo bem como, o
ceticismo em relação à inspiração da Palavra de Deus tinha invadido aquelas instituições
acadêmicas que foram levantadas com a finalidade de preservar a fé e a moral cristã. O novo
nascimento em Cristo tornou-se fato irrelevante caindo quase no esquecimento. Bastava dizer
que pertencia a essa ou aquela igreja para ser considerado cristão. Logo, transformação, nova
vida, separação do mundo já não fazia nenhum sentido, caindo quase em desuso no
vocabulário cristão à ponto de os protestantes de então terem em mente que esses termos
representavam tão somente a Morte Física. O ministério da pregação agora foi ocupado por
aqueles que consideravam este posto nada mais que uma profissão e da qual se orgulhavam,
desprezando aqueles que verdadeiramente haviam sido chamados por Deus para esse nobre
trabalho. Igrejas que antes eram conhecidas como Igrejas dos Pobres tornaram se pouco a
pouco a elite da sociedade.

Contudo, não havia um conformismo com essa situação. Alguns focos de avivamento
começaram a se levantar para modificar esse triste quadro e assim como nos dias de Elias,
havia evidências que nem todos tinham se curvado a esse deus Baal. O texto de Jeremias 33:3
“Clama a mim e responder-te-ei...” começava a ser proclamado e um chamado ao
arrependimento, oração e intercessão ecoava e a busca pela correta interpretação das
Escrituras com perguntas tais como: “Que dizem as Escrituras sobre isto?”; começaram a
ocorrer convenções bíblicas com a finalidade de estudar a Palavra de Deus e verificar o que
Deus estava pensando daquele quadro caótico de Sua igreja naqueles dias.
114

A partir deste anseio começaram a buscar a prometida “Chuva Temporã e a Serôdia” de Joel
2:23, e de Zac. 10:1.

E Deus ouviu esses clamores fazendo acontecer um verdadeiro reboliço no meio cristão e nas
igrejas.

O que se pode fazer para que estas igrejas retornassem ao seu trilho normal, isto é, o de buscar
ao Senhor com fervor? Com certeza foi trazer de volta a contextualização correta da Igreja,
fazendo com que as velhas práticas do humanismo fossem eliminadas, senão totalmente, pelo
menos ficaram evidentes no confronto e assim Deus e Cristo Jesus voltassem à ser o centro da
adoração e da mensagem.

A partir desse fabuloso evento ocorreu um derramamento do Espírito com batismos no


Espirito Santo, o falar em outras línguas conforme está registrado em Aos 1:8 “...e, todos
foram cheios do Espirito Santo...”. Novos crentes revestidos do poder do alto e, como
consequência houve a restauração do sobrenatural surgindo os ministérios de curas divinas e
verdadeiros milagres são registrados ao longo da história oriundos desse período.

Chuva de milagres

Vejamos alguns exemplos ocorridos com a volta da verdadeira pregação:

A Cura Notável de Mary Reynolds – Indianapolis em 1872

Após sete anos de tratamentos especializados e à beira da morte, ela foi


incentivada a crer em sua cura baseada em Tg 5:16. Numa manhã um homem de
Deus orou especificamente por ela ungindo-a com óleo em nome do Senhor. Ele
deixou a casa sem ver aparente mudança, a não ser uma profunda paz e certeza que
invadiram o coração da mulher. As três horas da tarde, de repente onda após onda
de glória inundou sua alma e um poder como eletricidade enviou vibrações para as
partes mais remotas do seu corpo. Ela saltou sobre os seus pés completamente
curados. Toda doença e enfermidade desapareceram. O Espírito encheu
completamente o seu ser. A enfermeira ficou atordoada ao ve-la sair de seu quarto
num ímpeto e se juntar aos vizinhos que ali estavam para saber a noticia do estado
115

de saúde dela. Ela se colocou de joelhos diante deles e derramou uma torrente de
ações de graças à Deus. Fez sua primeira refeição normal em sete anos. Como
resultado desse milagre, muitos foram salvos, inclusive seu esposo. Suas duas filhas
mais velhas foram servir a Deus na China. 18

A Cura Milagrosa de John Easton – Toronto, Canadá - 1900

Outro caso de cura é o de John Easton, em 1900, na missão de Dowie em


Toronto, Canadá. Ele tinha as costas quebradas e por seis anos vivera numa
moldura de gesso com um equipamento em seus ombros, no qual penduravam pesos.
Dormia num vagão em que durante o dia vendia pequenas mercadorias. À noite
dirigia seu cavalo e o vagão para um galpão onde vivia com sua esposa e filhos.
Suas pernas eram tão insensíveis que podia espetar uma agulha na sua carne sem
causar reação de dor. Seus calcanhares eram repuxados fazendo com que os pés
fossem uma continuação das pernas, impossibilitando-o totalmente de andar. Todas
as sextas-feiras à noite, durante mais de um ano, foram realizadas reuniões de
orações para ele com instruções de salvação e de cura. No dia de sua cura Easton
recebeu a certeza de que seria curado e pediu a que sua esposa providenciasse
roupas e sapatos para ele.

Houve um sentimento de expectativa desde o inicio da reunião até o momento em


que o líder, com a ajuda de outros, serrou a moldura. Sob a ordem “Em Nome de
Jesus”, John sentou-se! Seus pés e pernas pairaram ao lado do vagão como dois
sacos. Numa segunda ordem, ele caiu sobre os seus pés, que se tornaram
imediatamente normais. Ele pegou o líder em seus braços e depois se virou para
abraçar sua esposa. Ao ouvirem o som de regozijo, os vizinhos e depois os
jornalistas começaram a chegar. Toda a noite andou e louvou até que pela manhã a
carne tenra de seus “novos” pés estava coberta de bolhas. 19

Enquanto neste contexto vemos uma ação de Deus visando à expansão de sua obra, tendo
como alvo um avivamento que realmente veio à ocorrer, com salvação de muitas almas, nos

18
Do livro A Igreja do Seculo XX-A Historia que não foi contada-John Walker e outros Pg. 9
19
Do livro A Igreja do Seculo XX-A Historia que não foi contada-John Walker e outros Pg. 10
116

dias atuais vemos a operação de milagre ocorrendo como antigamente, entretanto o que
vemos também, em alguns casos, é o aproveitamento de ocasião para o enriquecimento escuso
de líderes que dizem fazer a obra de Deus. E, nesta condição acabam por fazer negociatas
com a fé das pessoas que, por não conhecerem a verdadeira Palavra de Deus são levadas por
ventos de doutrinas pouco confiáveis.

Milagres hoje são reivindicados, ainda que de forma sutíl e persuasiva, de acordo com a oferta
que o “cristão” tenha dado ao seu ministério. Será mesmo que esses milagres vêm da parte de
Deus? Não estarão esses “cristãos” sendo enganados em seus propósitos? Isso me faz lembrar
uma frase de um querido pastor em alguma das aulas da escola dominical em que eu
participava quando ele disse

“Tem muita gente indo para o inferno enganado, pensando que está indo
para o céu”. 20

Qual a diferença dos milagres ocorridos primeiramente nos evangelhos e depois nos vários
movimentos promovidos pelo Espirito Santo nos grandes avivamentos ocorridos?

A diferença está no propósito de Deus e principalmente na forma que eles ocorreram. Os


lideres de então sabiam que havia um clamor por retomada de rumo do evangelho, sabiam que
havia corações sedentos e inconformados com apatia que reinava nos arraiais do povo de
Deus.

Nossa proposta neste trabalho de conclusão de curso é clamar por um avivamento da Palavra
de Deus, não de movimentos que só sirvam de entretenimento, que sirvam para distrair o
povo que está sedento.

Nosso entendimento é que Contextualizar é conhecer os anseios, a cultura, o modus operandi


de nossos dias para que possamos alcançar as pessoas com as quais convivemos, que
frequentam nossos cultos, que fazem parte da sociedade e comunidade em que vivemos, sem
contudo, ser influenciado por esse meio antes, influenciar, fazer a diferença.

Quando lemos as notícias que nos chegam de países aonde o evangelho de Nosso Senhor
Jesus Cristo ainda não chegou à sua totalidade, ou seja, é minoria por causa da perseguição
como é o caso dos países mulçumanos, ou dos países asiáticos como China, Coréia do Norte,
observamos que há uma sede das Boas Novas e aqueles que recebem essas Boas Novas
clamam por mais e mais, tornam-se multiplicadores com alegria apesar dos riscos eminentes.

20
Autor Desconhecido
117

É um percentual reduzido de convertidos? Sim, porém, são fervorosos e o crescimento já é


notório estatisticamente a ponto de começar a preocupar as autoridades daqueles países.

Neste ponto cabe bem uma reflexão nas palavras de um dos pais da igreja chamado Tertuliano
(160 DC – 220 DC),

“O sangue dos mártires é a semente de Deus. Não há perseguição que


possa impedir o avanço do evangelho, disse ele, o evangelho está nos palácios, nos fóruns,
nas tabernas, nas casas, está em todo lugar...”.

Esta palavra deste ícone da igreja que sofreu todo tipo de perseguição e morte nas arenas dos
Césares de sua época foi uma realidade tão tremenda que até hoje o evangelho segue sua
trajetória traçada por Deus e não há nada que o possa parar.

Contudo, perguntamos hoje, podemos dizer o mesmo que foi dito por Tertuliano?

Tristemente eu digo que não, pois nosso comodismo, nossa tolerância, nosso conformismo
tem feito com que a igreja de hoje esteja contextualizada sim, mas de acordo com os padrões
ditados pelo mundo que a cerca.

Vale a pena lembrar que, sempre que os avivamentos aconteceram, foi devido à apatia que
reinava em suas épocas. Isso é o que estamos precisando, de um avivamento, despertamento
baseado na essência da Palavra de Deus, não por estarmos vivendo em apatia mas, ao
contrario, estamos vivendo de forma acomodada, mais preocupados com nossos próprios
prazeres do que com a observância de pregar a genuína Palavra de Deus.

É preciso voltar à velha prática de confrontar os pecadores com o seu pecado. De confrontar a
pecaminosidade do homem com a santidade de Deus para que ele veja que precisa de um
Salvador. Mas não podemos apresentar um evangelho vazio, precisamos apresentar um
evangelho que mostra quem é Jesus Cristo, sua obra e seu sacrifício expiatório.

Parece-nos que as pessoas não suportarão uma pregação como esta pois acham que ela será
muito pesada, confrontar o pecado com a santidade de Deus, por isso não a pregamos. Mas,
nos esquecemos que quando John Wesley, Carlos Wesley, Withfield, John Huss, Jonatas
Edwards, Spurgeon e tantos outros em suas épocas pregaram com autoridade a Palavra de
Deus justamente por causa do pecado, da lascívia, dos vícios, da corrupção e tantos outros
pecados que imperavam.
118

Na contextualização da igreja e do cenário cristão de hoje há que despertar para o retorno


urgente de uma pregação sólida, robusta, confrontadora, não de pregações que não
acrescentam em nada aqueles que a ouvem, os ministros e pastores precisam ser despertados
para uma vida de contemplação e meditação na Palavra de Deus para saber o que Deus está
falando e não o que o iminente psicólogo, antropólogo ou sociólogo está dizendo para a igreja
fazer, não o que os escritores de livros de auto ajuda tem trazido para dentro da Igreja.

Somos nós quem temos a verdadeira mensagem, somos nós quem conhecemos, ou
deveríamos conhecer o verdadeiro Deus, somos nós que experimentamos, se é que
experimentamos uma salvação dígna de ser pregada com nossas vidas à outros miseráveis
como nós éramos.

Esta é proposta do nosso trabalho de conclusão de curso, trazer à lume esta preocupação que
arde em nosso coração. Somos vasos de barro, mas foi à nós que o Senhor confiou tão grande
tesouro!!

Comércio do Evangelho

O contexto atual das igrejas e de muitos ministérios passa pelo fato de que, para ser
abençoado e que fique notório que o cristão é um filho de Deus ele tem que mostrar outros
tipos de frutos, ou seja, a prosperidade, saúde plena, como se isso fosse sinal de uma vida
espiritual elevada, ao invés dos frutos ensinados por Jesus Cristo (Jo. 15) bem como pelos
apóstolos (Gl. 5: 22, 23).

O que se demonstra por parte dessas igrejas e ministérios é um total desvirtuamento da


verdadeira Palavra de Deus, uma completa distorção da mensagem de Nosso Senhor Jesus
Cristo. Desvirtuamento e distorções que já chegaram aos arraiais mais improváveis, eis um
exemplo:

Existe na Nigéria uma tribo que acredita que sempre um dentre seus filhos ou filhas sejam
bruxas. E, de forma aleatória elegem um entre os filhos como sendo ele ou ela a criança bruxa
daquela família. Então essa criança é maltratada, espancada, mutilada das piores formas
possíveis com queimaduras, enfiam-lhes pregos no corpo e algumas ficam aleijadas pelo resto
da vida, quando não chegam ao falecimento provocado pelos próprios familiares. Isso sem
nenhuma comprovação efetiva de que essa criança seja realmente uma bruxa.
119

O mais triste ainda dessa história é que pastores que deveriam pastorear e pregar o genuíno
evangelho trazendo a luz sobre essas famílias escravizadas por suas crenças infundadas os
mantêm nessa escravidão apenas para lhes extorquir até o ultimo centavo com a promessa de
que eles, os pastores claro, é quem tem poderes para libertar essa criança da condição
amaldiçoada, em verdade pelos próprios pais que assim crêem. Sendo que, se a família não
providenciar o valor estipulado tais pastores nada farão.

De onde será que esses mercenários adquiriram tais conhecimentos?

Quantos ministérios completamente descontextualizados tem promovido esse sincretismo


entre esses povos que deveriam ter sido evangelizados com a verdadeira palavra de libertação,
de salvação.

Como se pode ver esse é o contexto em que muitas igrejas, muitos ministérios e muitos
cristãos, não só no Brasil, mas no mundo se encontram.

Nossa contraposição é:

Como explicar esse evangelho para aquele ribeirinho às margens dos rios da Amazônia que,
periodicamente se vê às voltas com as cheias que lhes arrebatam todos os seus bens, casas, e
às vezes até mesmo entes queridos?

Como explicar esse evangelho para esse mesmo ribeirinho que, após as agruras de todas essas
perdas ainda tem que conviver com as doenças ocasionadas pelas enchentes que também lhes
roubam famílias inteiras?

São eles desprezados por Deus?

Estes são alguns dos tantos fenômenos que assolam muitos cristãos em nossos dias, aliás,
sempre ocorreu. Parece que nos esquecemos das palavras do Senhor Jesus escritas em Mateus
7:24-30 dizendo que os ventos, as chuvas, os rios viriam sobre os bons e sobre os maus, sobre
os prudentes e sobre os imprudentes.

Esse é o cenário cristão que temos visto, deixando de lado a verdadeira mensagem do mestre
para se adequar ao contexto do mundo que o cerca.

A igreja hoje deixou de lado a genuína pregação baseada fundamentalmente na pessoa do


Senhor Jesus. Raro são as igrejas cuja pregação baseia-se em Romanos, em Galatas, em
Efésios, Colocessenses, onde a ênfase dessas cartas diz respeito ao novo nascimento, ao estar
crucificado com Cristo, na morte do velho homem com sua natureza adâmica sendo
substituído pela natureza de Cristo e assim viverem o verdadeiro amor com que Cristo nos
120

amou. Quantos cristãos dentro das igrejas chamadas pentecostais ou neo pentescostais são
capazes de compreender o real significado de Gl. 2:20 “Já estou crucificado com Cristo, e
vivo não mais eu, mas Cristo vive em mim...”, ou ainda em Rm 6:6 “Sabendo isto, que o
nosso homem velho foi com ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, para
que não sirvamos mais ao pecado”. Quantos cristãos, baseado nas pregações que tem ouvido
em suas igrejas são capazes de identificar os benefícios que a cruz de Cristo trouxe ao
homem?.

A pergunta que não quer calar é: Como crerão se não há quem pregue?

Quantos ministérios tem se dado ao trabalho de se lançarem em socorro àqueles que não têm
com quem contar.

Tomamos aqui o exemplo das crianças bruxas citadas anteriormente para demonstrar que é
sim possível contextualizar-se e agir como a verdadeira igreja do Senhor Jesus sem se
corromper e ainda tentar descorromper o que está corrompido como é o trabalho desenvolvido
pelo ministério “Caminho das Nações” presidido pelo Pastor Caio Fábio juntamente com o
Pastor Marcelo Quintela onde buscam salvar, resgatar, reintegrar essas crianças a partir da
demonstração do verdadeiro amor, do verdadeiro evangelho. 21

Crescimento: Números x Qualidade

Outra situação que mostra o quanto o mundo cristão encontra-se descontextualizado da


Palavra de Deus é o fenômeno que o Reverendo Hernandes Dias Lopes em um de seus
estudos ministrados para pastores muito apropriadamente denominou de NUMEROLATRIA,
pois, esse é o objetivo de muitas igrejas, o crescimento a qualquer preço. Não se medem
esforços para arrebanhar membros. Estratégias duvidosas, formatos de culto onde o sagrado e
o profano se misturam, onde a Graça não é suficiente para conduzir o frequentador do culto ao
verdadeiro arrependimento porque a mensagem que ele está ouvindo é: “Fica aqui com a
gente, a gente é gente boa” ao invés de, “Arrependa-se, santifique-se, olhe para a cruz de
Cristo”!!

A Palavra de Deus já não é pregada de forma a constranger os corações, o que importa são os
métodos, as estratégias usadas lá fora. O mundanismo está, ou melhor, já invadiu as igrejas. O

21
http://www.salvarcriancasbruxas.com/p/organizador.html
121

marketing hoje fala mais alto do que a Palavra de Deus. Deus virou garoto propaganda ao
invés de ser Senhor e os púlpitos viraram um balcão de negócios.

Essa é uma herança deixada por Donald McGavran que em 1930 deu início ao que ficou
conhecido como o Movimento de Crescimento de Igrejas que, devido ao seu crescimento
vertiginoso, tornou-se em 1961o Instituto de Crescimento de Igrejas vindo a ganhar status de
seminário ao transferir em 1965 sua sede de Eugene, Oregon e unir-se com o Seminário
Teológico Fuller de Pasadena, Ca. Esse movimento teve sua contribuição para o crescimento
da igreja a partir de sua inquietação e sua busca pela resposta do porque as igrejas não
cresciam e o que o levou a uma excelência nesse assunto que o tornou muitíssimo conhecido.
Tanto que seu livro intitulado Bridges of God (Pontes para Deus) em 1955 o fez conhecido
como o “pai do movimento de crescimento da Igreja”. Outro livro seu, Undestanding Church
Growth (Compreendendo o Crescimento da Igreja) o estabeleceu como o principal estrategista
missionário estrangeiro.

Este movimento trouxe crescimento para a igreja, isso é real, mas a que preço? Será que vale
a pena obter resultados apenas como um troféu? Será que é possível avaliar o sucesso de um
ministério ou ainda de uma igreja apenas por seu crescimento numérico? Entre as fraquezas
constatadas do Instituto de Crescimento de Igreja, uma era a sua obsessão com números.

A título de ilustração de que crescimento numérico não é sinônimo de qualidade espiritual


citamos aqui, “A igreja saudável cresce normalmente, mas, nem toda igreja que cresce é
saudável. A “Catedral da Esperança” em Dallas, Texas, que recebe mais de 1.600 pessoas
nos cultos da manhã de domingo, é um centro espiritual de “cristãos” são de homossexuais e
lesbicas”. 22

O crescimento da igreja deve sim ser buscado. O Livro de Atos dos Apóstolos nos mostra o
quanto a igreja cresceu em seus dias, mas a forma era baseada na oração e na pregação da
Palavra.

Não há nada de errado que os pastores se interessem pelo crescimento da igreja, o problema é
que material está sendo utilizado.

No período da existência do Instituto de Crescimento da Igreja ouve cerca de 330 livros


publicados com essa ênfase, no entanto, o que menos tinha em seus conteúdos eram
orientações voltadas para a pregação da Palavra, especialmente a pregação expositiva. Aquela

22
Rev Hernandes Dias Lopes - Livro Pregação Expositiva – Sua importância para o crescimento, pg. 215.
122

pregação que conduz o cristão para dentro da Bíblia, que conduz ao conhecimento de Deus
conforme está registrado nas Sagradas Escrituras.

Um pesquisador por nome de David Eby23 pesquisou mais de cem livros e 377 teses de alunos
do Instituto de Crescimento da Igreja do programa de doutorado do Seminário Fuller e só
encontrou uma tese que enfatizava a pregação como fator de crescimento.

Qualquer pregador que se preze deveria ficar indignado com essa omissão.

A fundação do Seminário Teológico Fuller em Pasadena, California cuja função é a de treinar


pastores e missionários com a filosofia de crescimento da igreja, conseguiu jogar uma cortina
de fumaça de tal forma que esses pastores e missionários entraram na obsessão pelos números
e esqueceram-se da importância da Palavra de Deus, graças à herança deixada por Donald
Mcgavran 24.

E, como consequência, não há conhecimento da Palavra de Deus e, como não há


conhecimento, não há conteúdo para evangelizar, para propagar o reino de Deus. Já não se é
possível dizer “Venha nós o Teu reino”.

E, essa é a mentalidade que tem imperado nos dias atuais em nossas igrejas e ministérios.

Não é nada raro o evangelismo ser na base do: “O cara vamos lá minha igreja sábado, tem
umas gatinha, você vai curtir, vai ser massa”.

Jesus Cristo e seu sacrifício já não são o centro da mensagem ou do culto.

A ignorância à respeito da Palavra de Deus é a coisa mais absurda que pode ocorrer na igreja,
contudo, da forma como o chamado modernismo a tem invadido, é isto que está ocorrendo. E,
como sabemos que já está ocorrendo? Porque já estamos necessitando de entretenimento para
preencher o culto. Muitos cultos não passam de shows, espetáculos onde os artistas exibem
suas performances, onde a egolatria, o hedonismo prevalece.

Alguém já observou:

“Quando a igreja se torna um centro de entretenimento, a alfabetização


bíblica geralmente se torna uma das primeiras vítimas. Após o culto as pessoas voltam pra
casa com um sorriso no rosto, mas com um vazio em suas vidas”25

23
Idem, Idem, pg 216.
24
Idem, Idem, pg 214.
25
Do Livro “A Igreja Desviada” Pg. 12 – SWINDOLL, Charles
123

Profissionalismo no Púlpito

Um grande perigo que a igreja está correndo em nossos dias é o abandono do verdadeiro
chamado onde a renúncia, a dedicação à meditação na Sagrada Escritura que deveria ser a
tônica dos pastores, está sendo substituída pelo que já virou jargão no meio evangélico “fazer
com excelência ou Deus se move na excelência”. Com isso nossos púlpitos estão voltando ao
triste estado que retratamos na igreja americana do século XX isto é, a profissionalização do
pastorado e a transformação da igreja em uma corporação ao invés de uma organização
cristocêntrica.

A esse respeito extrai essa maravilhosa peça do livro que estou lendo nesse momento:

“Nós pastores, estamos sendo massacrados pela profissionalização do ministério


pastoral. A mentalidade do profissional não é a mentalidade do profeta. Não é a
mentalidade do escravo de Cristo. O profissionalismo não tem nada a ver com a
essência e o cerne do ministério cristão. Quanto mais profissionais desejamos ser,
mais morte espiritual deixaremos em nosso rastro. Não existe a versão profissional
do “tornar-se como criança(Mt 18.3)”; não existe compassividade profissional (Ef.
4.32); não existem anseios profissionais por Deus (Sl 42.1)[...].

Nossa atividade é [...] negarmos a nós mesmos, tomarmos a cruz ensanguentada


todos os dias (Lc 9.23). Como é possível carregar a cruz de modo profissional? Nós
fomos crucificados com Cristo e vivemos pela fé naquele que nos amou e se deu por
nós (Gl.2.20). O que seria então é profissional? Não devemos nos encher de vinho,
mas do Espírito (Ef 5.18). Nós somos os inebriados de Deus, loucos por Cristo.
Como é possível se embriagar com Jesus profissionalmente? Então, maravilha das
maravilhas, foi-nos concedido transportar o tesouro do evangelho em vasos de barro
para que a excelência do poder seja de Deus (II Co. 4.7). Existe um modo de ser um
vaso de barro profissional?”26.

Cremos sinceramente que não são técnicas profissionalizantes, estratégias de marketing


baseadas em conceitos mundanos que farão da igreja um ministério sólido e consistente.

26
Do livro “Irmãos, nós não somos profissionais” de John Piper, citado por Charles Swindoll em “A Igreja
Desviada” pg. 44 e 45
124

A forma ainda é a mesma deixada por Jesus e os apóstolos, isto é, ensino da Palavra de Deus
com autoridade, autoridade esta que passa por uma genuína conversão, uma experiência real
de um novo nascimento (ICo. 5: 17), a certeza de que, aquele que estiver pregando ele mesmo
saiba-se crucificado juntamente com Cristo na cruz , não de uma autoridade estabelecida em
convenções políticas ou de satisfação de egos inchados por ostentação de um cargo que não
lhe foi dado do alto, isto é, não estabelecido por Deus.

Vemos a igreja hoje em um processo de erosão.

O perigo disso é que, a erosão não é algo que ocorre repentinamente, ela é sorrateira,
silenciosa, quando menos se espera vem a ruina e toda uma tradição construída por décadas
ou centenas de anos que desaparecem. Mas, desaparecem porque os fundamentos foram
esquecidos, porque a sã doutrina foi renegada à um segundo plano.

Não estamos aqui fazendo observações infundadas. Nossas pesquisas têm nos levado à
informações preciosas como, por exemplo, as obtidas do Pastor Rubens Muzio através de seu
site ou de seus artigos ou ainda de seus livros onde ele apresenta um raio-x da realidade da
Igreja no Brasil. Vejamos suas abordagens no artigo “Análise do crescimento da Igreja no
Brasil”.

“Baseado nos relatórios do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-IBGE do ano de


2007, onde o censo acusava 22% de evangélicos no Brasil, ele faz uma afirmativa de que
realmente é preciso reconhecer que houve um aumento de evangélicos no Brasil, que o fruto
das sementes dos primeiros missionários que, com muito sangue, suor e lágrimas semearam
em nossa pátria, mas a pergunta, ou melhor, as perguntas que precisam ser respondidas são:
Estamos realmente passando por um despertamento/avivamento espiritual no Brasil?

Será que as características e qualidades deste crescimento tipificam um genuíno avivamento?

O que significa este crescimento?

Será que isto não demonstra apenas um despertamento geral da população brasileira para as
questões espirituais, decepcionada com a modernidade e suas promessas de realização e
felicidade?

Para responder esses questionamentos precisaremos saber que tipo de igreja está crescendo e
avaliar algumas características da espiritualidade brasileira porque há sinais evidentes de que
nem tudo vai bem no arraial evangélico. Eis algumas impressões sobre o crescimento
evangélico no Brasil nas ultimas décadas.
125

Uma Espiritualidade Carnal ou uma Carnalidade Espiritual

Uma das características que o novo convertido necessariamente deve passar, é por uma
mudança de atitudes, velhos vícios são abandonados e uma nova linguagem é aprendida. Esse
novo convertido, apesar de experimentar fortes emoções, sentir o amor de Deus, ter as
experiências abençoadoras e válidas espiritualmente falando, elas não demonstram ter
conhecimento profundo da Graça salvadora e da pessoa de Deus. E, todos sabemos que
apenas ter reverência à Deus, sentir fortes emoções religiosas, ser dedicado à igreja não
correspondem à verdadeira espiritualidade que é regada pela água da vida, pela alegria do
Espírito e pelo amor genuíno descoberto no sacrifício que Jesus fez por nós na cruz.
Infelizmente, em muitos casos pessoas com aparência de espiritualidade podem estar vazias
da graça de Deus.

Isso faz com que muitos crentes, participantes das igrejas brasileiras manifestem certos tipos
de pecados religiosos dissimulados, estilos de carnalidade com fachada de espiritualidade.

E, como é possível verificar essa situação?

Aqueles que antes invejavam o carro importado ou a casa luxuosa do colega ou vizinho, agora
desejam as mesmas coisas, porém através de uma oração de posse, decretando a prosperidade
do Filho de Deus.

Aqueles que anteriormente ambicionavam o cargo ou a comissão do chefe do departamento,


agora aspiram, humilde e avidamente, ao titulo de diácono ou a posição de liderança seja ela
de pastor, bispo, apóstolo etc; com a mesma voracidade do mercado de trabalho. Agora não
exageram mais na bebida mas, por vezes esquecem que a glutonaria também é pecado mas,
como isso parece estar liberado afinal não se prega contra isso, no entanto a glutonaria
ambiciosa dos dons espirituais e cargos ministeriais mantém os desejos carnais bem vivos e
ativos.

É claro que tudo isso se disfarça com tanta sutileza passando despercebido para a maioria dos
evangélicos, frequentadores dos cultos sendo, imperceptível até mesmo para os pastores e
líderes. Esses são alguns dos exemplos disso que poderiam ser chamados de Espiritualidade
carnal e Carnalidade espiritual. Tais atitudes embora sutis e inconscientes corroem a
comunidade cristã como um câncer, devorando sua vitalidade de dentro para fora.
126

Há uma grande quantidade de atividade religiosa no mundo, energizada pela natureza humana
e pelo próprio diabo. A natureza humana pode ser facilmente mascarada e encoberta pela
espiritualidade das pessoas. Padrões e atitudes que aparentemente tem cara e jeito de
cristianismo podem encobrir uma carnalidade nos níveis mais íntimos das intenções e desejos
do coração.

É o joio plantado junto com o trigo e como o próprio Jesus alertou eles são muito parecidos
(Mt 13: 24-27). Quase todos os períodos de crescimento e avivamento da história da Igreja
comprovam que o trigo do evangelho fora cercado pelo joio das atividades carnais e
elementos enraizados nos pecados do orgulho, vaidade, impureza, divisões, soberba, lascívia,
etc.

Não é fácil separar o certo do errado, o bem do mal na igreja da atualidade. Por um lado, Deus
está agindo imensamente em todo o Brasil, revitalizando velhas igrejas e especialmente
plantando e fazendo crescer novas comunidades. Mas satanás habilmente planta o joio no
meio do trigo do avivamento, misturando o santo com o profano, bombardeando a luz do
evangelho com os projéteis e mísseis das trevas, mesclando o bom leite espiritual com o café
amanhecido da religiosidade (usando uma linguagem brasileira). A tarefa de arrancar o joio
do meio do trigo – e separar a igreja verdadeira da artificial – é impossível aos homens,
segundo Jesus27.”

Nossa sugestão continua sendo ainda a volta da ministração da Palavra de Deus em sua
essência, sem subterfúgios, sem acomodações às mazelas de quem não quer ter um
compromisso real com o Senhor da Palavra.

Ainda como sugestão muitos líderes, pregadores e ministros brasileiros deveriam assistir uma
mensagem pregada pelo evangelista Paul Washer intitulada “10 acusações contra a igreja
evangélica” disponível na internet. 28 . Em que pese a mesma ser dirigida aos muitos
ministérios norte-americanos, ela cabe bem dentro da realidade em que estamos vivendo hoje,
especialmente sabendo que nossas raízes evangélicas são oriundas dos Estados Unidos, já
estamos sofrendo os mesmos problemas evidenciado na respectiva pregação.

27
Do Artigo “Analise do Crescimento da Igreja no Brasil” do Pastor Rubens Muzio-Sepal Londrina
28
Mensagem disponível no site: www.defesadoevangelho.com
127

Relatório Pew sobre o Cristianismo Global

Em Dezembro de 2011, o Centro de Pesquisas Pew, através do The Pew Forum On Religion e
Public Life lançou o relatório Global Christianity – A Report On The Size And Distribuition
of the World’s Christian Population. Este relatório apresenta de maneira interativa o número
da população cristã nos diversos países do globo, separando eles em diversos grupos, como
população católica, protestante, entre outros.

O Pew Research Center é um centro de estudos apartidário que estuda e fornece informações
sobre as questões, atitudes e tendências que moldam os Estados Unidos e o Mundo. O projeto
analiza as mudanças religiosas e seus impactos nas sociedades ao redor do mundo.

O estudo demográfico abrangente com mais de 200 países, considera que há 2.18 bilhões de
cristãos de todas as idades ao redor do mundo, representando 1/3 da estimativa de população
global de 2010 de 6.9 bilhões, este numero alcançado o montante de 7 bilhões em 2011. Os
cristãos são também geograficamente distribuidos de maneira vasta que, de fato, nenhum
único continente ou região, indiscutívelmente, pode-se dizer ser o centro do cristianismo
mundial. Contudo, um século atrás, este não era o caso.

Em 1910, cerca de dois terços dos cristãos viviam na Europa, onde os cristãos foram a maior
parte durante um milênio, de acordo com o Center for the Study of Global Christianity. Hoje,
apenas cerca de ¼ dos cristãos vivem na Europa (26%). Uma pluralidade, pois mais de 1/3
estão nas Américas (37%), cerca de 1 à cada 4 pessoas são cristãs na África Subsaariana
(24%) e cerca de 1 à cada 8 é encontrado na Ásia e no Pacífico (13%).

Este mesmo estudo, mostrou que, neste intervalo de 1 século, embora a população cristã tenha
mais que triplicado, o crescimento do cristianismo no mundo foi apenas aparente, tendo em
seus números, apenas acompanhado o crescimento numérico da população mundial, não
representando assim, um aumento percentual, pelo contrário, mostrou uma leve queda de 3
porcento.

Em 1910, a população cristã era de 600 milhões de pessoas, totalizando 35% da população
mundial, hoje, com pouco mais de 2 bilhões de pessoas, o cristianismo detém uma fatia de
32% da população mundial. Essa aparente estabilidade esconde, no entanto, uma mudança
importante. Embora a Europa e as Américas ainda sejam o lar da maioria dos cristãos, 63%,
128

esse número é muito menor do que era em 1910, 93%. Na europa, a população era de 95% em
1910, decaindo para 76% em 2010. Nas Américas, de 96% para 86% no mesmo período.

Ao mesmo tempo, o cristianismo cresceu enormemente na África Sub-Saariana e na Região


da Ásia e da Oceania, onde havia relativamente poucos cristãos no início do século XX. A
população crsitã na África Sub-Saariana, subiu de 9% em 1910 para 63% em 2010, enquanto
que na região da Ásia-Oceania, aumentou de 3% para 7% neste século.

A conclusão desse relatório é a de que embora o cristianismo não tenha crescido


porcentualmente, neste século ele efetivamente se tornou uma religião global.

Por fim, este estudo foi elaborado principalmente em uma análise país à país, com cerca de
2.400 fontes de dados, incluindo os recenseamentos e inquéritos mais representativos das
populações nacionais. Para alguns países como a China, as estimativas do Fórum Pew levou
em consideração as estatísticas de grupos religiosos, relatórios governamentais e outras
fontes. Seus números, apresentados em forma de mapas, estão incluídos neste trabalho na
seção de Anexos.
129

Capitulo VI

Pesquisa de Campo

Para saber se as pessoas que frequentam o Templo das Águias tem o conhecimento à respeito
da Igreja Cristã no seu contexto atual, fizemos uma entrevista com as seguintes perguntas:

1. Você sabia que o protestantismo possui quatro grandes tipos de igrejas diferentes?
2. Você sabe o que é o Neopentecostalismo?
3. Você sabe o que é a Teologia da Prosperidade?
4. Você assiste aos programas evangélicos na TV?
5. Você acha que possa haver algum desvio teológico nesses programas?

Respostas em forma de gráfico no anexo

Análise da Pesquisa de Campo

Analisando os dados desta entrevista, observamos que sobre os tipos de igrejas que existem, a
grande maioria não sabe realmente do que trata ou seja cada uma. Talvez neste caso, é
provável de que as características que diferenciam a Igreja Histórica da Pentecostal, não
sejam, aqui, tão claras aos membros. Isso pode ser um problema, pois sem o conhecimento do
tipo de ênfase que é dada nos ensinamentos recebidos, uma igreja histórica que tenha uma
teologia voltada à redenção da humanidade através da cruz, dependendo do número de
membros que esta comporte, caso esta não tenha um número grande de membros como as
neopentecostais detém, passe a ser encarada pela membresia não histórica como uma igreja
morta, de extremo dogmatismo, onde o Espírito Santo não age. O que não necessariamente
deva ser encarada como uma verdade. Sabemos que o Espírito Santo, assim como o vento,
age conforme for de sua vontade e na realidade, não sabemos para que direção ele vá soprar
(João 3:8). Contrastando à essa perspectiva, a encontramos uma proporção próxima de 2 à
cada 10 pessoas que sabem realmente o que as diferencia. Embora seja um número muito
reduzido, essas pessoas, apresentam em seus relatos, terem um discernimento maior à
questões teológicas, como por exemplo, o que distingue a Teologia da Prosperidade de uma
Teologia Determinista, por exemplo. Neste grupo também foi revelado um poder de precisão
130

maior em identificar possíveis desvios teológicos nos programas de tv e por isso, este grupo
se mostrou como um grupo de pessoas com opinião formada à respeito de sua fé.

Na segunda pergunta, à respeito do Neopentecostalismo, observamos que a maioria admite


não saber do que realmente se trata, e de acordo com os resultados desta pergunta,
encontramos uma grande fatia que, embora num primeiro momento tivesse respondido que
sim, quando pedido para que fosse descrito o que era o Neopentecostalismo, muitos
afirmaram não saber descrevê-lo. Outra questão que se mostrou visível nesse grupo foi a idéia
equivocada que o próprio nome tenciona, que é a de que o Neopentecostalismo seria uma
espécie de “Novo Batismo do Espírito Santo”. É fato que tanto Igrejas Tradicionais, quanto
Pentecostais como a Assembleia de Deus, no caso do Brasil, encarem as Neopentecostais
como não-irmãs, devido à grande carga de sincretismo e heresias que muitas destas carregam.
O fator histórico de cisão para justificar o nome, não chega à ser mencionado por este grupo.
O mesmo quadro que encontramos na questão anterior se mostra presente aqui, onde quem
sabia quais eram os tipos de igrejas que existem, sabia muito bem definir o que é o
Neopentecostalismo.

De maneira bem geral, a terceira questão se mostrou bem equilibrada, tendo agora, o número
de pessoas que sabiam ou conheciam os termos que constituem a Teologia da Prosperidade,
bem mais definidos do que as que anteriormente afirmaram não saber do que se tratavam os
termos acima.

Nas duas últimas perguntas, os resultados numéricos se equivaleram, com a diferença dada
apenas na perspectiva mais otimista sobre não haverem desvios teológicos nos programas por
alguns dos que afirmaram assistir aos programas. Um fato curioso é encontrar por parte dos
que afirmaram assistir aos programas, acreditarem haver nestes algum desvio teológico que
mesmo sabendo disso, ainda continuam a assistir aos programas. É uma consciência
dicotomizada. Encontramos aqui nestes dois números, a opinião de quem conseguiu
responder às duas primeiras perguntas, o fato de não assistirem a esse programa devido
justamente à identificação de certos engodos que neles identificaram.

Conclusão sobre a pesquisa de campo

Concluímos que embora estejamos em um ambiente, onde historicamente nos encontramos no


filão da “Terceira Onda”, não recebemos instrução por parte de nossos líderes quanto a essa
131

questão, quando assim assumido por sua parte, a razão da nomenclatura de uma Igreja
Neopentecostal. Embora muitos afirmem já terem ouvido essa palavra, muito poucos foram os
que souberam realmente afirmar o que isto seria e os que o conseguiram, foram por questão
de busca de informação por iniciativa própria. 95% das pessoas entrevistadas são ou já foram
alunos da Emita.

O contraste que se encontra é justamente para com os membros das Igrejas Históricas, onde
geralmente, eles sabem distinguir sua identidade devido ao fator de sua herança histórica e o
embasamento teológico que estes recebem são por deveras muito mais aprofundados, tanto
em termos históricos, documentados, quanto teológicos, bíblicos. Enquanto a maioria das
Igrejas Neopentecostais se mobilizam em apresentar um estilo de vida cristã docética, baseada
nas “10 maneiras de liderar”, as Igrejas Históricas se mobilizam em congressos para
“Compreender a Igreja Contemporânea.” A constatação do hiato da produção intelectual entre
as duas correntes é dado através do número de faculdades que as Históricas mantêm e das
Neopentecostais, ainda que estas últimas consigam arrecadar muito mais recursos, não tem
demonstrado ter um trabalho neste âmbito.

Concluímos também que os programas evangélicos de tv não suprem, nem educam de


maneira pedagógica aos seus telespectadores, no tocante à realidade cristã. Na maioria dos
programas, o que se vê são disputas por número de fiéis, invocações de demônios, livre-oferta
de milagres e quando não raro, manifestações de verdadeiras bravatas. Não encontramos
nestes espaços, ensinos sérios sobre a obra redentora de Jesus na cruz.
132

Capitulo VII

Conclusão

Tendo nós demonstrado através da historia do cristianismo desde os apóstolos do Senhor


Jesus até nossos dias, observamos que em todos os períodos históricos ocorreram as divisões,
as cisões, as rupturas, até mesmo questões que chegam a nos escandalizar como, por exemplo,
as expulsões dos irmãos hispanos lá no começo do Avivamento da rua Azuza, ou ainda, o
precursor desse mesmo avivamento, devido ao racismo reinante da época, ter feito com que
Seymour, por ser negro, assistisse as aulas numa cadeira no corredor, isolado, e tantos outros
que, para não ser repetitivos deixaremos de citá-los, nossa conclusão é que uma coisa fica
claro para nós, Deus sempre cumpre os seus propósitos, apesar da falibilidade do ser humano.

A sua igreja caminha exatamente conforme Sua palavra registra no livro do profeta “Isaias
55: 8 Por que os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos
os meus caminhos, diz o Senhor”29.

Sabemos que a Igreja do Senhor permanece caminhando, ela não está parada, estagnada.
Diferentemente da nação de Israel que é a nação escolhida do Senhor e da qual ainda existe
um remanescente, a Igreja do Senhor ela é única, ela não está esfacelada.

Se formos aos confins da terra, nos lugares onde nossos pés não pisaram, mas homens
destemidos, conscientes de seus chamados, lá estiveram e plantaram a semente do genuíno
evangelho de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, lá encontraremos irmãos, hermanos,
brothers, otokotachi san, fratellis, les freres, bruder e mais quantas línguas quisermos,
encontraremos.

O que não podemos concordar e nos acomodarmos é com a forma que nós, em nossos dias,
estejamos delapidando essa tão preciosa mensagem.

Que é preciso confrontar, examinar as escrituras e contestar aquelas mensagens que não
estejam conforme o Espírito Santo quer nos entregar.

Precisamos urgentemente voltar as pregações de confrontação, as pregações que revelem o


pecado do pecador, que revelem a santidade de Deus.

29
Biblia Sagrada - ARC
133

Precisamos de homens que se gastem em oração. Precisamos de outros John Huss, outros
Withfields, outros Johns Weslley, outros Savonarolas, Jonathas Edwards que possam seguir
juntos com os Glenios Paranaguás (PIB Londrina), Hernandes Dias Lopes (IPB Vitoria-ES),
Nelsons Bomilcar (Sons do Coração - Rádio Transmundial), Pascoal Piragine (PIB Curitiba
PR), Ricardos Bitun , Ariovaldos Ramos, Pauls Washer, Davenhills e tantos outros que temos
certeza que ainda tem espalhado por esse nosso planeta e que estejam comprometidos
verdadeiramente com a ministração do evangelho genuinamente cristocêntrico e que pregam a
mensagem do Senhor a despeito de suas possíveis fraquezas as quais muitas vezes nós não
somos capazes de perdoar ou tolerar por causa de nossa justiça própria e, cujo evangelho são
primeiramente para eles, os pregadores citados, o balsamo que cura, que liberta, que perdoa,
que restaura suas as almas e por isso podem leva-lo a tantos quantos também necessitam dessa
preciosa mensagem.

Precisamos urgentemente de homens que verdadeiramente temam a Deus, homens conforme


descrito nas Sagradas Escrituras em I Tm 3: 1- 16.

Só assim vamos ter uma igreja contextualizada com o seu tempo, sem, contudo estar
contaminada no seu tempo, no mundo, mas não sendo do mundo, uma igreja que não faça
concessões, que não se deixe influenciar antes, influencie a todos os que estão ao seu redor.

Este é o nosso sonho, desejo e oração que colocamos neste trabalho de conclusão de curso e
principalmente diante de Deus para ficar como legado aos que dele tomarem conhecimento
sejam despertados a não se conformarem assim como nós a que a igreja do Senhor Jesus seja
sempre um lugar de refugio aos que se encontram “cansados e sobrecarregados 30” e não
lugar de peso e fardo colocados sobre os ombros daqueles que já podem mais com os seus
próprios.

30
Biblia Sagrada – Evangelho de Mateus 11:28 - ARC
134

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135

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Lopes Henandes Dias Pregação Expositiva: sua importância para o crescimento da igreja
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Prior John Mansford Jesus Christ the Way to the Father: The Challenge of the Pentecostals
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Quintela Pr. Marcelo #22 Caminho Consiencia - A Teologia da Prosperidade e os


Exorcismos Infantis na África Cristã [Online] // You Tube. - Caminho Consiencia, 17 de 12
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Walker John e Outros A Igreja do Século XX - A história que não foi contatda [Livro]. -
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Yung Hwa ENDUED WITH POWER: THE PENTECOSTAL-CHARISMATIC RENEWAL


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Valdemiro Santiago na Igreja Mundial do Poder de Deus [Livro]. - [s.l.] : Mackenzie, 2009. -
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136

Anexos

Pesquisa de Campo
Gráficos de 01 a 05

Relatório PEW – População Cristã Mundial


Gráficos de 01 a 10
Entrevista

Para saber se as pessoas que frequentam o Templo das Águias tem o conhecimento à respeito
da Igreja Cristã no seu contexto atual, fizemos uma entrevista com as seguintes perguntas:

1 – Você sabia que o protestantismo possui 4 grandes tipos de igrejas diferentes?

2- Você sabe o que é o Neopentecostalismo?

3 – Você sabe o que é a Teologia da Prosperidade?

4 - Você assiste aos programas evangélicos na TV?

5 – Você acha que possa haver algum desvio teológico nesses programas?

Eis aqui a resposta em forma de gráfico:


Análise da entrevista.

Analizando aos dados dessa entrevista, observamos que sobre os tipos de igrejas que existem,
a grande maioria não sabe realmente do que se trata cada uma. Talvez neste caso, é provável
de que as características que diferenciam a Igreja Histórica da Pentecostal, não sejam, aqui,
tão claras aos membros. Isso pode ser um problema, pois sem o conhecimento do tipo de
ênfase que é dada nos ensinamentos recebidos, uma igreja histórica que tenha uma teologia
voltada na redenção da humanidade através da cruz, dependendo do número de membros
que esta comporte, caso esta não tenha um número grande de membros como as
neopentecostais detém, passe à ser encarada pela membresia não-histórica como uma igreja
morta, de***, onde o Espírito Santo não age. O que não necessáriamente deva ser encarada
como uma verdade. Sabemos que o Espírito Santo, assim como o vento, age conforme for de
sua vontade e na realidade, não sabemos para que direção ele irá soprar (João
3:8).Contrastando à essa perspectiva,encontramos uma proporção próxima de 2 à cada 10
pessoas que sabem realmente o que as diferencia. Embora seja um número muito reduzido,
essas pessoas, apresentam em seus relatos, terem um discernimento maior à questões
teológicas, como por exemplo, o que distingue a teologia da prosperidade de uma teologia
determinista, por exemplo. Neste grupo também foi revelado um poder de precisão maior em
identificar possíveis desvios teológicos nos programas de Tv e por isso, este grupo se mostrou
como um grupo de pessoas com opinião formada à respeito de sua fé.

Na segunda pergunta, à respeito do Neopentecostalismo, observamos que a maioria admite


não saber do que realmente se trata, e de acordo com os resultados desta pergunta,
encontramos uma grande fatia que, embora num primeiro momento tivesse respondido que
sim, quando pedido para que fosse descrito o que era o Neopentecostalismo, muitos
afirmaram não saber descrevê-lo. Outra questão que se mostrou visível nesse grupo foi a idéia
equivocada que o próprio nome tenciona, que é a de que o Neopentecostalismo seria uma
espécie de “Novo Batismo do Espírito Santo”. É fato que tanto Igrejas Tradicionais, quanto
Pentecostais como a Assembléia de Deus, no caso do Brasil, encarem as Neopentecostais
como não-irmãs, devido à grande carga de sincretismo e heresias que muitas destas carregam.
O fator histórico de cisão para justificar o nome, não chega à ser mencionado por este grupo.
O mesmo quadro que encontramos na questão anterior se mostra presente aqui, onde quem
sabia quais eram os tipos de igrejas que existem, sabia muito bem definir o que é o
Neopentecostalismo.

De maneira bem geral, a terceira questão se mostrou bem equilibrada, tendo agora, o número
de pessoas que sabiam ou conheciam os termos que constituem a Teologia da prosperidade,
bem mais definidos do que as que anteriormente afirmaram não saber do que se tratava os
termos acima.

Nas duas últimas perguntas, os resultados numéricos se equivaleram, com a diferença dada
apenas na perspectiva mais otimista sobre não haverem desvios teológicos nos programas por
alguns dos que afirmaram assistir aos programas. Um fato curioso é encontrar por parte dos
que afirmaram assitir aos programas, acreditarem haver nestes algum desvio teológico que
mesmo sabendo disso, ainda continuam à assistir aos programas. É uma consciência
dicotomizada. Encontramos aqui nestes dois números, a opinião de quem conseguiu
responder às duas primeiras perguntas, o fato de não assistirem à esses programas devido
justamente à identificação de certos engôdos que neles identificaram.

Conclusão sobre a entrevista.

Concluimos que embora estejamos em um ambiente, onde historicamente nos encontramos


no filão da “Terceira Onda”, não recebemos instrução por parte de nossos líderes quanto à
essa questão, quando assim assumido por sua parte, a razão da nomenclatura de uma Igreja
Neopentecostal. Embora muitos afirmem já terem ouvido essa palavra, muito pouco foram os
que souberam realmente afirmar o que isto seria e os que o conseguiram, foram por questão
de busca de informação por iniciativa própria. 95% das pessoas entrevistadas são ou já foram
alunos da Emita.

O contraste que se encontra é justamente para com os membros das igrejas históricas, onde
geralmente, eles sabem distinguir sua identidade devido ao fator de sua herança histórica e o
embasamento teológico que estes recebem são por deveras muito mais aprofundados, tanto
em termos hitóricos, documentados, quanto teológicos, bíblicos. Enquanto a maioria das
Igrejas Neopentecostais se mobilizam em apresentar um estilo de vida cristã docética, baseada
nas “10 maneiras de liderar”, as Igrejas Históricas se mobilizam em congressos para
“compreender a Igreja Contemporânea.” A constatação do hiato da produção intelectual entre
as duas correntes é dado através do número de faculdades que as Históricas mantém e das
Neopentecostais, ainda que estas últimas, consigam arrecadar muito mais recursos, não tem
demonstrado ter um trabalho neste âmbito.

Concluímos também que os programas evangélicos de TV não suprem, nem educam de


maneira pedagógica aos seus telespectadores, no tocante à realidade cristã. Na maioria dos
programas, o que se vê são disputas por número de fiéis, invocações de demônios, livre-oferta
de milagres e quando não raro, manifestações de verdadeiras bravatas. Não encontramos
nestes espaços, ensinos sérios sobre a obra redentora de Jesus na cruz.
Relatório Pew sobre o Cristianismo Global.

Em Dezembro de 2011, o Centro de Pesquisas Pew, através do The Pew Forum On


Religion e Public Life lançou o relatório Global Christianity – A Report On The Size
And Distribuition of the World’s Christian Population. Este relatório apresenta de
maneira interativa o número da população cristã nos diversos países do globo,
separando eles em diversos grupos, como população católica, protestante, entre outros.

O Pew Research Center é um centro de estudos apartidário que estuda e fornece


informações sobre as questões, atitudes e tendências que moldam os Estados Unidos e o
Mundo. O projeto analiza as mudanças religiosas e seus impactos nas sociedades ao
redor do mundo.

O estudo demográfico abrangente com mais de 200 países, considera que há 2.18
bilhões de cristãos de todas as idades ao redor do mundo, representando 1/3 da
estimativa de população global de 2010 de 6.9 bilhões, este numero alcançado o
montante de 7 bilhões em 2011. Os cristãos são também geograficamente distribuidos
de maneira vasta que, de fato, nenhum único continente ou região, indiscutívelmente,
pode-se dizer ser o centro do cristianismo mundial. Contudo, um século atrás, este não
era o caso.

Em 1910, cerca de dois terços dos cristãos viviam na Europa, onde os cristãos foram a
maior parte durante um milênio, de acordo com o Center for the Study of Global
Christianity. Hoje, apenas cerca de ¼ dos cristãos vivem na Europa (26%). Uma
pluralidade, pois mais de 1/3 estão nas Américas (37%), cerca de 1 à cada 4 pessoas são
cristãs na África Subsaariana (24%) e cerca de 1 à cada 8 é encontrado na Ásia e no
Pacífico (13%).

Este mesmo estudo, mostrou que, neste intervalo de 1 século, embora a população cristã
tenha mais que triplicado, o crescimento do cristianismo no mundo foi apenas aparente,
tendo em seus números, apenas acompanhado o crescimento numérico da população
mundial, não representando assim, um aumento percentual, pelo contrário, mostrou uma
leve queda de 3 porcento.

Em 1910, a população cristã era de 600 milhões de pessoas, totalizando 35% da


população mundial, hoje, com pouco mais de 2 bilhões de pessoas, o cristianismo detém
uma fatia de 32% da população mundial. Essa aparente estabilidade esconde, no entanto,
uma mudança importante. Embora a Europa e as Américas ainda sejam o lar da maioria
dos cristãos, 63%, esse número é muito menor do que era em 1910, 93%. Na europa, a
população era de 95% em 1910, decaindo para 76% em 2010. Nas Américas, de 96%
para 86% no mesmo período.

Ao mesmo tempo, o cristianismo cresceu enormemente na África Sub-Saariana e na


Região da Ásia e da Oceania, onde havia relativamente poucos cristãos no início do
século XX. A população crsitã na África Sub-Saariana, subiu de 9% em 1910 para 63%
em 2010, enquanto que na região da Ásia-Oceania, aumentou de 3% para 7% neste
século.

A conclusão desse relatório é a de que embora o cristianismo não tenha crescido


porcentualmente, neste século ele efetivamente se tornou uma religião global.

Por fim, este estudo foi elaborado principalmente em uma análise país à país, com cerca
de 2.400 fontes de dados, incluindo os recenseamentos e inquéritos mais representativos
das populações nacionais. Para alguns países como a China, as estimativas do Fórum
Pew levou em consideração as estatísticas de grupos religiosos, relatórios
governamentais e outras fontes. Seus números, apresentados em forma de mapas, estão
incluídos neste trabalho na seção de Anexos.

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