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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO - UFMA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS - CCH


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS - PPGCSOC

Autora/Proponente: Karlene Carvalho Marinho de Araújo.

Título do projeto:

Violência autoprovocada: Uma análise sociológica da prática da automutilação e


tentativa de Suicídio entre estudantes da Rede de Ensino Básico em São Luís/Ma.

Linha de pesquisa:

Relações de poder: Elites, participação política e Políticas Públicas.

São Luís
2022

1
1-INTRODUÇÃO:

O suicídio é um fenômeno que ocorre em todas as regiões do mundo.


Estima-se que, anualmente, mais de 800 mil pessoas morram por suicídio e, a cada
adulto que se suicida, ao menos 20 atentam contra sua própria vida 1.Segundo estudo
descritivo do perfil epidemiológico, no período de 2011 a 2018 foram notificados
339.730 casos de violência autoprovocada, dos quais, 154.279( 45,4%) ocorreram na
faixa etária de 15 a 29 anos, representando 6% das mortes violentas no Brasil. Este
estudo aponta ainda o aumento de 10% nas taxas de suicídio entre 2011 e 2017, sendo
que o maior aumento ocorreu entre os anos de 2016 e 2017.

Maranhão, de acordo com o Boletim Social - Prevenindo o Suicídio, as


lesões autoprovocadas, corresponderam a 10,3% das notificações de violência, no
período de 2011 a 2017. De acordo com o documento, observou-se um aumento no
número de lesões autoprovocadas tanto no Maranhão como no Nordeste, entre 2011 a
2017.

Diante desse cenário, em 2019, entrou em vigor a Lei Federal 13.819/2019


a qual instituiu a política de nacional prevenção da automutilação e do Suicídio a ser
implementada pela União, numa rede de cooperação entre os Estados, o Distrito Federal
e os municípios. Nela definiu-se a violência autoprovocada como um problema de
saúde. Concomitante a essas Políticas Públicas as escolas, enquanto espaço de
agregação dos chamados grupos de risco jovens entre 15 e 20 anos, precisaram
desenvolver políticas de prevenção e debate.

Frente ao debate nacional e também municipal a Escola de aplicação da


Universidade Federal do Maranhão - COLUN/UFMA, por meio do seu Núcleo Técnico
Pedagógico (NTP) resolveu propor a criação de um grupo de trabalho chamado
Habraços pela vida, que tinha por objetivo desenvolver na escola um conjunto de
atividades voltadas para a discussão e problematização dessa temática a partir de
demandas que foram surgindo no espaço escolar. A proposta era discutir o tema,
estimular uma conscientização, além de prevenir e enfrentar o problema no espaço
escolar.

1
Dados do Boletim Epidemiológico. Secretária de Vigilância em Saúde. Ministério da Saúde. Vol.50. Set
2019.

2
A partir dos debates propostos pelo grupo de trabalho Habraços pela vida,
houve uma aproximação do tema, bem como como dos dados construídos pela própria
escola que apontavam um número cada vez maior de jovens que atentavam contra sua
própria vida.

Sendo assim, um dos desafios dessa proposta de pesquisa é a construção de uma


perspectiva de análise pautada na observação dos fatores sociais subjacentes a prática
da automutilação, e tentativa de suicídio, a fim de desconstruir a explicação dessas
práticas pelo viés individual, que suprime muitas vezes, a relevância da coletividade
na sua relação com o indivíduo.

Dessa forma, busca-se reconstruir caminhos para o entendimento desse problema


social a partir de análise e perspectiva sociológica, analisando quais possíveis
instituições sociais podem ser vistas refletidas nesses indivíduos que são movido pelos
desejos de automutilação e de atentados contra própria vida.

2-JUSTIFICATIVA:

Durante o chamado Setembro Amarelo2 do ano de 2019, o Colégio


Universitário - COLUN/UFMA, através do seu Núcleo Técnico Pedagógico, propôs um
calendário, junto aos professores, de discussão e debates sobre a temática: Suicídio e
transtornos emocionais como ansiedade e depressão.

No referido ano, o Núcleo Técnico Pedagógico recebeu um número


expressivo de alunos que já havia atentado contra sua própria vida. Desafiado, diante
da demanda crescente, resolveu propor a criação de um grupo de trabalho, cujo
obejtivo seria promover um conjunto de ações que abordassem o fenômeno da violência
autoprovocada. Dentre os trabalhos planejados foram desenvolvidos: rodas de conversa,
exposições de vídeos e construção de painéis com frases motivacionais, bem como
exposição de relatos por meio de suas estórias de vida. Esses dados foram fundamentais
para o início do processo de construção do objeto de estudo que me proponho a estudar:
A prática da autoviolência e tentativa de suicídio entre jovens matriculados na rede de
ensino Básico.

2
mês de combate ao suicídio....
3
Existem hoje muitos escritos na área de Sociologia da educação, bem
como sobre a prática do ensino da sociologia no Ensino Médio: estatísticas relacionadas
ao desempenho escolar (LIMA, 2017), práticas docentes (NEVES, 2015), dinâmicas em
sala de aula envolvendo o ensino da sociologia (SILVA, 2015), entre outros temas, que
tem conquistado cada vez mais espaço entre os pesquisadores, favorecendo assim o
estabelecimento das pesquisas na área da licenciatura em ciências sociais.

A lei 11.684/2008 alterou a Lei de Diretrizes e Base (9495/96) tornando


obrigatória as disciplinas de sociologia e filosofia, durante as 3 séries do ensino médio.
Após essa alteração muitas mudanças foram relaizadas a fim de suprir a demanda de
professores licenciados em Sociologia. Novos cursos em Ciências Sociais/licenciatura
surgiram e com isso o campo da sociologia da educação ganhou mais forma e espaço
com suas pesquisas.

A presença de professores e pesquisadores nas escolas de ensino médio


permitiu uma maior observação do que acontece no chão da escola e tal processo tem se
tornado cada vez mais estimulante aos pesquisadores das ciências sociais cujo objeto de
estudo estão cada vez mais ligados, as tramas sociais que organizam o espaço escolar,
as relações sociais que são estabelecidas entre os indivíduos que compõem esse campo
de estudo.

Ao analisar a produção sociológica sobre educação sistematizada por


Martins e Weber (2010), observamos um tipo de preocupação; algo estrutural que
relaciona o “mundo de dentro” com o mundo de fora” da escola. São reflexões sobre
desigualdades sociais, trajetória de estudantes com o foco no desempenho escolar (e
profissional), relacionando-os à contextualidade familiar, comunitária e social. Mas não
chegam exatamente a perceber de maneira mais profunda a sociabilidade entre os jovens
e as tramas em que estão envolvidos no que se refere a prática da autoviolência.

Nesse caso a escola se apresenta como palco de socializações, formada por


agentes sociais que fazem o cotidiano escolar a partir de suas trajetórias sociais, que se
constroem e se legitimam nesse ambiente. Por isso, a importância em observar como a
escola funciona como pano de fundo para a manifestação de práticas de autoviolência
e tentativa de suicídio praticado entre o alunado.

Enquanto espaço social, a escola, se constrói a partir de uma rede de


relações onde os agentes dessa rede se apresentam, interagem e são de extrema

4
relevância para a construção desse espaço social.Sendo assim, perceber a complexidade
desse ambiente e analisar como as relações são construídas e operadas, que conflitos e
adesões ensejam, constituem uma das preocupações desse projeto. Sobretudo, como os
alunos, integrantes desse espaço social, tem desenvolvido transtornos emocionais que
manifestam-se através da violência autoprovocada, cuja frequência e impacto tem
afetado diretamente a organização do ambiente escolar e a prática do professor em sala
de aula.

A escola nesse aspecto seria entendida como palco dessas relações que
refletem o contexto social dos agentes envolvidos: nela é que se vem refletir os valores
e a estrutura da sociedade na medida em que determinam o processo educativo e suas
regras e formas de comportamento; sendo assim, o processo educativo se organizaria
no jogo entre indivíduo, sociedade e cultura, e a escola seria o reflexo dessas interações
e suas tramas.

É no sentido de contribuir com a discussão sobre a violência autoprovocada,


que esse trabalho se justifica. A emergência em transformar em problema social a
violência autoinfligida, em número cada vez maior entre os jovens estudantes do ensino
médio, transforma esse projeto de pesquisa em um trabalho necessário, visto que
pouco material se construiu sobre essa temática, Dessa forma busca inaugurar uma
reflexão até o momento pouco investigada.

3-REFERENCIAL TEÓRICO:

À medida que a modernidade aprofundou as transformações sociais, que pouco


a pouco se expandiu e alcançou novas regiões e povos, o suicídio passou a ser um
problema em quase todos os países (QUEIROZ, 2017). Segundo dados atualizados,
pelo último relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), de 2014, a taxa mundial
de suicídio atingiu o índice de 11,4 suicídios por 100 mil habitantes. Segundo o mesmo
informe, mais de 800 mil pessoas se suicidam todos os anos e deverá alcançar, em 2020,
1,6 milhão de mortes. No Brasil, esse recrudescimento também se faz presente e apesar
de ainda apresentarmos baixas taxas de suicídio, ao nos compararmos com outros países
como por exemplo a XXXXX, já ocupamos o oitavo lugar no número de óbitos
derivados de tal ato. Segundo a OMS, em 2012, 12 mil brasileiros tiraram suas próprias
vidas; este número implicou num aumento de 10,5% quando comparado ao ano de

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2000. Outros dados também são impactantes: no mesmo período a ocorrência de
suicídios cresceu 77,7% na Região Norte do país e apresentou uma tendência de
aumento de casos entre a população mais jovem.

Os dados estatísticos sobre as tentativas de suicídio ainda apresentam grande


sensibilidade devido às subnotificações das ocorrências e, de acordo com a Rosa (ano)
apud Ministério da Saúde (2017): “apenas uma em cada três pessoas que tentam
suicídio é atendida por um serviço médico de urgência”. As lesões autoprovocadas ou
autoaflingidas (tentativas de suicídio) corresponderam a 10,3% das notificações de
violência, no período de 2011 a 2017.
Outra questão ligada a esse debate está relacionada as práticas de automutilação,
que ganham espaço nas escolas onde iniciam, na maioria dos casos, a partir dos 14
anos de idade, tornando-se um grave problema de saúde pública. Todavia, os índices
sobre tais práticas ainda não são contabilizados, no Brasil, pelas estatísticas do
Ministério da Saúde (MS).
As questões referentes aos comportamentos autolesivos no Brasil só
ganharam visibilidade como problema de saúde pública e de ordem social a partir da
segunda metade dos anos 2000, período em que redes sociais e fóruns virtuais de
compartilhamento de experiências autolesivas disseminaram-se rapidamente. Jogos
online de risco como “Baleia Azul”, “Jogo da Asfixia”, o “Desafio do Sat e Gelo” e o
“Desafio da Momo”, por exemplo, “viralizaram” fazendo sucessivas vítimas (dentre
elas crianças) em várias partes do mundo.
A Sociologia clássica debate acerca da violência autoinfligida ligando-a à
prática do suicídio. As altas taxas de Suicídio passaram a preocupar e a exigir
explicações de diversos setores da vida social. À época em formação, as Ciências
Sociais não ficaram alheias a esse fenômeno (QUEIROZ, 2017).

De acordo com Queiroz(2020) estudos sobre a prática do suicídio, aparecem


desde o século XIX, entre médicos, demográfos, estatísticos, mas apesar da contribuição
original dos médicos alienistas e estatísticos, seus estudos sobre o suicídio
desconsideravam o fator social e/ou este era tomado de forma indireta. Por um lado, o
ato da pessoa em tirar sua própria vida estava atrelado e sua justificação reduzida a
fatores biológicos, por outro, tendia-se a não explicar por que determinados aspectos ou
características sociais influenciavam para mais ou para menos as taxas de suicídio.

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A constituição da Sociologia no século XIX contribuiu com superação de alguns
limites que perpassam a metodologia utilizada na captação de dados , bem como de sua
análise e reflexão. Dentre os pensadores clássicos, o texto de Karl Marx, Peuchet: Vom
Selbst- mord, publicado no Brasil em 2008, com o título Sobre o Suicídio (Marx, 2008),
contribui de forma relevante o pensar o suicídio sob uma ótima das ciências sociais. O
relato dePeuchet apresentado por Marx é importante, pelo menos, por dois aspectos: 1)
ele consegue transmitir a dimensão sinistra que o suicídio representava para a sociedade
francesa, em particular parisiense, em fins do século XVIII e início do seguinte; 2) o de
relacionar o suicídio com questões transcendentes à dimensão individual, ou seja, de
acordo coma moral vigente, as convenções e normas estabelecidas, as crenças
religiosas, as crises financeiras etc., o ato de se matar, para muitas pessoas, de diversas
classes, era a única solução possível. Percebe-se assim que , já em 1846,Karl Marx
apresentava que o suicídio também podia estar relacionado e explicado por fatores de
ordem social.

Cinco décadas depois de Karl Marx, outro autor volta a pesquisar tal fenômeno
social. Desta vez, Durkheim desenvolveu uma pesquisa sobre o suicídio em 1897, que
resultou na publicação do livro: O Suicídio. Diferente de Marx, o francês construiu (com a
inestimável ajuda do seu sobrinho Mauss) seu objeto de estudo e enfrentou a crença
disseminada de que o suicídio era um ato puramente individual e exclusivamente psicológica,
e que, por isso, seria imprevisível e inexplicável. No entanto, Durkheim demonstrou, a
aprtir de pesquisa, que o suicídio apresentava uma grande regularidade. Apoiado nessa
constatação, e fundamentado sobre dados, ele pôde desvincular a causalidade daquele
fenômeno da esfera individual (Durkheim, 2002).
Diferente de Marx, Durkheim construiu seu próprio objeto de estudo, algo
que envolveu diversos aspectos. Por um lado, além do problema social, com o estudo
do suicídio buscou enfrentar a exclusividade que os estudos de psicologia detinham
sobre o tema. Por outro, como corolário, teve como objetivo estabelecer o campo de
estudo da sociologia (QUEIROZ.2017).

Durkheim define o suicídio como “todo caso de morte que resulte direta ou
indiretamente de um ato positivo ou negativo, praticado pela própria vítima, sabedora
de que devia produzir esse resultado” (1982:16) e acrescenta, delimitando claramente
seu objeto de análise: o ato assim definido, mas interrompido antes de resultar em
morte não deve ser considerado”(1982:16). A hipótese de Durkheim é que, se em lugar

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de olharmos para o suicídio como algo isolado, o vermos como um fato social, nele
teremos inúmeras informações sociais e culturais, devendo, portanto ser tratado de
forma coletiva, indo do todo às partes. Dessa forma, Durkheim e o suicídio foi o ponto
de partida para novos estudos, ainda assim os estudos nessa área são escassos ou de
pouca consistência sociológica.

“No portal Scielo,( ...) quando digitamos a palavra “suicídio” temos


como resultado 295 artigos científicos. Destes, somente seis po- dem ser
considerados estudos próximos ou relacionados às Ciências Sociais;
quatro deles adotam uma perspectiva sociológica(...) mas foram
publicados em periódicos da saúde e têm três de seus autores que são
especialistas nessa área18. O sexto artigo, O suicídio como forma de ação
política e social no ceticismo de Montaigne e Hume, de Cesar Kiraly, que
não se trata especificamente de um estudo sobre morte voluntária, foi
publicado na Revista Brasileira de Ciências Sociais (RBCS). Aliás, esse é
o segundo exemplo, se tomarmos em conjunto cinco de nossas revistas
cadêmicas – Sociedade e Estado, Cadernos CRH, Sociologias, Tempo
Social e RBCS – disponibilizadas em seus respectivos sites, que cobrem
mais de 30 anos, encontramos ao todo 331 números em que somente um único
e recente artigo tem como objeto o fenômeno do suicídio no Brasil.Em
contrapartida, a grande maioria dos textos, que trata do suicídio e se
encontra no Scielo, é da área médica: são de revistas de psicologia,
psiquiatria, psicopatologia, medicina, enfermagem, saúde pública,
epidemiologia etc.(QUEIROZ.2020)

Um outro aspecto ligado a discussão sobre o Suicídio, estão as tentativas. a


diversidade de comportamentos autolesivos, a autoviolência. O estudo sociológico do
ato suicidário que não leva a morte (JAROSZ.2005). De acordo com o autora, que
estudou tentativas de suicídio entre crianças e adolescentes Polonesas, os atos de
autodestruição são um sinal da alienação do meio familiar, profissional, social que
refletem a frustração em desempenhar determinado papel social. Por isso a importância
em observar o fator social como pano de fundo dos comportamentos autodestrutivos.

De acordo com esse estudo entre crianças e adolescentes na Polônia, os

comportamentos suicidas são preocupantes pois eles apontam uma tendência ao

aumento, não apenas na Polônia, mas também em outros países, bem como apotam

que os grupos suicidas são cada vez mais jovem. , Aqui no Brasil, já é possivel
observar esse aumento, que, de acordo com artigo, Violência Autoinfligida por
Crianças e Adolescentes em um Município do Interior Paulista, cerca de 900 mil
pessoas morrem em decorrência do suicídio, o equivalente a uma morte a cada 40

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segundos e uma tentativa a cada três segundos.
No ano de 2016, em nível mundial, o suicídio foi dado como a segunda principal
causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos.
A infância e a adolescência são fases marcadas por constantes mudanças de ordem
psicológica, física e/ou social, nas quais o indivíduo passa por diversos conflitos e
ambivalências. Nesse momento, as crianças e os adolescentes também estão desen-
volvendo estratégias para lidar com seus problemas existenciais, como compreender o
sentido do viver e do morrer e, assim, as ideias suicidas podem aparecer como parte do
processo, refletindo apenas a busca pela própria identidade.

4-OBJETIVOS:

4.1-GERAL:

 Entender se o fenômeno da Autoviolência e Suicídio é um ato


individual, decorrente de distúrbios emocionais e psíquicos ou
também se é produto de fatores sociais.

4.2-ESPECÍFICOS:

 Perceber quais fatores sociais tem orientado a ação do aluno que se


automutila, observando as diferentes motivações.
 Mapear aspectos relacionados a origem familiar, contexto social que
o individuo está inserido.
 Perceber as dinâmicas sociais desenvolvidos no ambiente escolar e
quais conflitos são vivenciados pelos alunos.
 Identificar as principais formas de automutilação e sua possível
relação com os chamados transtornos emocionais.
 Realizar estudo comparativo com alunos de outras escolas da rede
básica de ensino: Colégio Batista da rede privada e escola Humberto
de Campos da Rede estadual de Ensino.
 Entender como o ambiente escolar se torna palco para as diversas
manifestações do comportamento autodestrutivo.

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5-PROPOSTA METODOLÓGICA:

Para essa pesquisa é importante inicialmente fazer um levantamento


bibliográfico, bem como construir um entendimento pertinente do objeto a partir das
perspectivas teórico analíticas colocada pelos estudos já realizados nessa área. Os
estudos de Marx, Durkheim, Nicolas Bourgoin, Louis Chauvel, Anne- Sophie
Cousteaux, Jean- Louis Pan Ké Shon, autores brasileiros como Roger Bastide, José
Alípio Goulart, etc.

De maneira específica busca-se contextualizar o início de estudos e


pesquisas no âmbito da sociologia Clássica, almejando um aprofundamento das várias
perspectivas teórico metodológicas que norteiam as categorias “autoviolência e
suicídio” como objeto de pesquisa relacionando-o, principalmente, ao ambiente escolar.
Subjacente a essa discussão faz-se necessário também um levantamento bibliográfico
relativa à sociologia da educação visto que o palco aonde se dará a pesquisa será o
“chão da escola” e estará diretamente ligada ao espaço educacional, a escola como
ambiente onde se constroem os agentes da nossa pesquisa. Sendo assim a leitura das
concepções clássicas da sociologia e da sociologia da educação, em Durkheim (1975),
Weber (1987) e Marx (2004); as visões sobre o processo educacional em Bourdieu
(1992), a construção dos chamados problemas escolares e a forma como a cultura se
organiza em Gramsci (1988) e Mannheim (1961) serão importantes para a construção
teórica deste trabalho.

Para a operacionalização da pesquisa faremos um levantamento empírico


através de questionários e entrevistas da história de vida dos alunos das escolas
envolvidas sua relação com a escola, família e outras instituições sociais.

Uma das etapas da pesquisa será a caracterização do espaço escolar, todos


os seus agentes, professores, psicólogos, porteiro, direção, todo o núcleo técnico
pedagógico que compõe a estrutura de funcionamento do espaço escolar será
caracterizado e investigado durante a pesquisa. Outrossim, será de grande relevância a
participação dos familiares, sua descrição e composição para o entendimento do aluno
nesse cenário.

A observação etnográfica se faz indispensável para a definição e análise das


instituições envolvidas, pois a pesquisa qualitativa do tipo etnográfico, é importante por
garantir o contato direto do pesquisador com a situação e as pessoas ou grupos

10
selecionados, proporcionando novas possibilidades para produzir dados descritivos,
principalmente com base na observação, além de apresentar possibilidade de transitar
constantemente entre as observações e as análises.

Ainda como proposta metodológica relacionaremos o colégio Universitário


COLUN/UFMA, seu corpo discente e os dados coletados nesse campo empírico com
duas outras instituições: uma da rede privada, o Colégio Batista e uma pública estadual,
o Centro de Ensino Humberto de Campo, a fim de realizar o cruzamento das principais
dinâmicas emotivas construídas nesses três espaços escolares, observando quais
aspectos serão evidenciados já que essas escolas atendem públicos diferenciados
(NOGUEIRA,1998) da população para a construção de um comparativo e, assim,
ampliar o campo empírico da pesquisa.

Nesse processo serão adotados os seguintes procedimentos metodológicos


para a produção dos dados da pesquisa: revisão bibliográfica; etnografia do ambiente
escolar, objetivação dos agentes envolvidos na construção do que chamamos de escola,
levantamento quantitativo do número de alunos acometidos por algum transtorno
emocional, realização de entrevistas com uso de gravador junto a interlocutores
selecionados; pais, médicos, professores etc., organização e sistematização das
informações.

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