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INTRODUÇÃO
ocupa o primeiro lugar no quesito “tempo gasto para manter a ordem na sala”. Em
aula para gerenciar e combater atitudes indisciplinares dos alunos contra a média de
Contudo, esta não foi a primeira vez que o Brasil amargou a liderança desse
ranking. Em 2008, em outro estudo elaborado pela Talis (OCDE), o país também lide-
rou a estatística de país em que os professores mais perdem tempo com indisciplina
mais repercute entre as queixas dos profissionais da educação, pois sinaliza a desva-
mais uma vez, ganha destaque entre os professores, gestores e pesquisadores. Com
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Teaching and Learning International Survey (Talis) é um estudo realizado pela Organização para Co-
operação de Desenvolvimento Econômico (OCDE), cujo objetivo é avaliar as relações de ensino-apren-
dizagem e as condições do trabalho docente e a atuação de gestores. No Brasil, o desenvolvimento da
pesquisa e análise dos dados são de responsabilidade do INEP - Instituto Nacional de Estudos e Pes-
quisas Educacionais Anísio Teixeira. Disponível em < https://www.gov.br/inep/pt-br/areas-de-atua-
cao/pesquisas-estatisticas-e-indicadores/talis> . Acesso em abr. 2023.
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O estudo foi realizado com profissionais da educação que lecionam nas últimas séries do Ensino
Fundamental.
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dia, são registrados 108 casos de violência diariamente no universo de 5500 escolas
Senna revelou que no universo amostral de 642 mil alunos do Ensino Fundamental e
Médio, 70% dos alunos da rede pública estadual relatam apresentar sintomas de de-
mento de 77% nos casos de bullying e 52% nos casos de ameaça por parte grupos e
às aulas presenciais estão atrelados à própria organização das escolas, que se man-
dêmico. As escolas mantiveram o mesmo modelo de ensino, que pouco dialoga com
Em parceria com o Instituto Ame sua mente, a revista Nova Escola4 realizou uma
pesquisa intitulada “Saúde Mental dos Educadores 2022”. O estudo contou com a
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Disponível em < https://www.cartacapital.com.br/educacao/retomada-as-aulas-presenciais-acirra-a-
violencia-nas-escolas-o-que-fazer-para-supera-la/ > . Acesso em abr. 2023.
4 Disponível em < https://novaescola.org.br/conteudo/21359/pesquisa-revela-que-saude-mental-dos-
professores-piorou-em-2022#:~:text=Houve%20uma%20queda%20significa-
tiva%20da,2022%20(21%2C5%25).> Acesso em abr. 2023.
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rede pública de ensino. Entre os entrevistados, 21,5% revelara que consideram sua
saúde mental “ruim” ou “muito ruim”, contra 13,7% registrados no ano anterior.
a professora Elisabeth Tenório, de 71 anos, foi esfaqueada por um aluno de treze anos
quatro crianças na creche Cantinho Bom Pastor. De acordo com a polícia, um homem
polícia em vários estados busca mapear a incitação a novos ataques planejados prin-
cipalmente pelas redes sociais. O clima de insegurança tomou conta das familiares e
comunidade escolar em todo Brasil e fez com que o debate sobre a vulnerabilidade
Embora ambos casos sejam de extrema violência, não podem ser desconecta-
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Disponível em < https://www.cartacapital.com.br/opiniao/assassinato-da-professora-elisabeth-e-re-
flexo-de-uma-sociedade-doente/> . Acesso em abr. 2023.
6 Disponível em < https://www.bbc.com/portuguese/articles/cgln2de3nvvo > Acesso em abr. 2023.
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cres” não podem ser compreendidos, por meio de justificativas do senso comum, so-
seja em cumprir sua função de formar cidadãos para a vida em sociedade como tam-
escolas que prejudica tanto a formação dos educandos, as condições de trabalho do-
cente como também servem de alerta para a necessidade de refletirmos sobre a rea-
Mas afinal, o que é indisciplina? De acordo com La Taille (1996), definir o que é
indisciplina não é uma tarefa fácil. Pelo contrário, uma abordagem simplista pode até
mesmo dificultar a compreensão do fenômeno. O autor destaca ainda que uma defi-
nição imediatista, que a compreende apenas como uma consequência da falta de va-
lores do nosso tempo, tende a reproduzir um moralismo ingênuo. Ademais, essa re-
flexão pode inibir uma análise mais aprofundada, capaz de dimensionar o fenômeno
como síntese de diversas manifestações, pode acarretar uma análise ambígua e até
mesmo superficial, o que inviabiliza uma abordagem mais crítica sobre suas causas e
consequências.
que significa “aquele que segue”. Segundo Carvalho (1996), o aluno disciplinado é
portamento não condizente com àquilo que é classificado como “ideal” ou até mesmo
“normal”.
punição, que estuda tanto as práticas que destoam das expectativas hegemônicas de
comportamento social como também dos mecanismos criados socialmente para coibir
tais comportamentos e estimular o cumprimento das regras previstas pelo grupo social.
jas obras visam compreender o complexo sistema de normas que incidem sobre os
Howard Becker (1928-). Para esses autores, cada um a seu modo, a compreensão do
comportamento desviando exige uma análise sobre as relações sociais que o envol-
vem.
paço escolar. Para responder a essa questão, determina-se como objetivos específi-
cos:
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sociedade brasileira;
bito escolar.
que não pode ser quantificada. Segundo Minayo (2014), ao invés de estatísticas, re-
interpretações.
meira etapa de uma pesquisa mais ampla”. Nesse sentido, é valido de destacar que o
presente trabalho visa apenas contribuir com o debate acerca de um tema de extrema
científicos.
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CAPÍTULO I
se quietos, em silêncio e que não desacatem as ordens dadas por professores e ges-
comportamento, que segundo Garcia (1999, p. 12) precisa ser superado, pois trata-se
A indisciplina pode ser vista como uma expressão de que algo não vai bem
bilita também, identificar problemáticas em outras esferas da vida social. Ainda que se
vitável dentro da dinâmica escolar, pois se trata de um espaço que não é desconec-
tado da sociedade como também reúne indivíduos singulares com aspirações e tem-
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des e interações sociais. Diante dos fatos apresentados, será apresentado breve-
comportamento desviante.
poder. Em sua obra observou que no século XIX, após a superação do Absolutismo
das escolas, hospitais e presídios como organizações laicas e públicas o poder pas-
mento dos indivíduos, ou como o autor aborda “corpos dóceis”, que sejam capazes
O poder disciplinar se baseia em três técnicas que podem ser facilmente ob-
haver uma vigilância dos indivíduos. Ademais há a figura de pessoas em uma dispo-
sição hierárquica cujo papel é punir aqueles que não se comportam conforme as re-
damental. Os comportamentos desviantes, dos mais leves aos mais graves são rapi-
nados.
primento das regras como também exercem um papel de atribuir status social aos
alunos. Aqueles que conquistam boas notas possuem seu desempenho valorizado e
osos sobre transgressões sociais. Em sua obra destaca as três formas mais usuais
dos dados. Para o autor essa abordagem é simplória, pois trata os dados de forma
Mesmo que sejam uma minoria em relação à maioria dos alunos, não significa que o
não possibilitando compreender esses indivíduos como pessoas autônomas que po-
tural e específico de determinados grupos, o que gera análises subjetivistas, que difi-
pela sociedade”. As regras sociais não são inatas, naturais, mas desenvolvidas e di-
fundidas nas interações sociais. Assim o autor chama atenção para a necessidade de
a essa questão não basta estudar os alunos, mas quais as diretrizes impostas aos
seus comportamentos.
refletirmos sobre o papel que as interações sociais têm em reprimir e/ou reproduzir
nar estipula um comportamento social a ser seguido como também estimula a punição
escola permanece igual, reproduzindo os mesmos valores e impondo regras que não
dialogam com a realidade dos alunos. No próximo capítulos será abordada a escola e
sua função enquanto instituição social imprescindível para a formação cidadã dos in-
divíduos.
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CAPÍTULO II
A ESCOLA
as funções institucionais;
crenças
A escola se caracteriza como uma das principias instituições sociais, pois per-
humana em adquirir conhecimento. De acordo com Émile Durkheim (2011, p. 54) “edu-
cação consiste em uma socialização metódica das novas gerações”. Em sua obra
publicada no século XIX, Educação e Sociologia, o autor desenvolve uma análise so-
formação dos indivíduos, capaz de respeitar as regras, a autoridade e lidar com dife-
rentes perspectivas culturais, a escola contribui para manter a coesão social, senso
demais instituições existem para garantir a ordem social. Contudo, o sociólogo francês
não faz uma abordagem crítica acerca das relações de poder que permeiam o funci-
ção: elementos para uma teoria do sistema de ensino. Ainda hoje a obra é uma im-
currículo não pode ser concebida como um campo neutro e imparcial. Pelo contrário,
do poder de certos grupos sociais enquanto limitam e até mesmo excluem o acesso
por esse grupo são transmitidas e valorizadas pelos sistemas educacionais. Os siste-
impedem uma reflexão crítica acerca das dinâmicas de poder que envolvem a vida
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em sociedade.
Nossa escola, que ainda não se estendeu a toda população, continua im-
pondo arbitrariamente os saberes tidos como necessários, assim como a ma-
neira de transmiti-los e avaliá-los. Métodos e conteúdos escolares permane-
cem privilegiando uma relação com o saber e uma forma de cultura que favo-
rece as classes econômica e culturalmente dominantes. A escola persiste na
transmissão de conteúdos tidos como neutros e não tem procurado compen-
sar as diferenças que favorecem essa aquisição. Na medida em que as opor-
tunidades de escolarização se expandem, o mérito escolar figura como refe-
rência essencial de seleção e classificação das novas gerações. As políticas
educacionais não têm conseguido, de modo qualificado, combinar o aporte
das diferentes ciências (dos conteúdos escolares) com os direitos constituci-
onais, dadas as condições desiguais de existência da população (VALLE,
2022, p. 12).
O Novo Ensino Médio, projeto que visa a modernização do currículo das escolas
de nível médio em todo o país. O projeto foi estabelecido pela Lei 13.415/17, conhe-
cido como Reforma do Ensino Médio. Sua realização tem como proposta modernizar
a educação a partir da flexibilização do currículo. Com a Reforma, o aluno teria mais
autonomia em escolher disciplinas caracterizadas como “itinerários formativos” que
visam explorar habilidades mais práticas e que dialoguem com a realidade dos alunos
e os prepare para o mundo do trabalho.
Entretanto, desde sua implementação o projeto vem recebendo críticas. A pri-
meira é resultado da própria formulação da Lei votada como Medida Provisória (MP),
que “são normas com força de lei editadas pelo Presidente da República em situações
de relevância e urgência”8. Nesse sentido, especialistas da área da educação alega-
ram que o projeto possui um caráter impositivo, uma vez que não houve participação
da sociedade civil na elaboração de seu texto base.
Outros dois pontos bastante criticados são a precariedade das condições de in-
fraestrutura e orçamento para as adequações necessárias para a implementação do
novo sistema de ensino como também o empobrecimento do currículo. Nesse novo
modelo, as disciplinas perderam suas especificidades e passaram a ser abordadas de
forma superficial por área do conhecimento.
Após constantes críticas, em março de 2023 o governo federal suspendeu as
mudanças curriculares e abriu uma consulta pública por 90 dias para avaliar as críticas
9 Disponível em , https://g1.globo.com/jornal-hoje/noticia/2023/03/16/novo-ensino-medio-e-alvo-de-cri-
ticas-de-alunos-e-especialistas-em-educacao.ghtml> . Acesso em maio de 2023.
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CAPÍTULO III
A FAMÍLIA
aquela constituída por um adulto responsável familiar, do sexo masculino ou feminino, tendo ao menos
um filho ou outra criança ou adolescente sob sua responsabilidade, com a presença ou não de outros
adultos na mesma unidade doméstica.
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CAPÍTULO IV
A INDISCIPLINA COMO REFLEXO DAS TRANSFORMAÇÕES
SOCIAIS NA ESCOLA E NA FAMÍLIA
Segundo Tiba (2006, p. 159) “Se a criança encontrar terreno fértil dentro de casa,
se tornará uma planta rebelde na escola, expandindo-se depois em direção à socie-
dade. É comum no ambiente escolar queixas por parte dos profissionais da educação
que afirmam haver um aumento significativo nos casos de indisciplina compreendidos
como um reflexo da falta de participação das famílias em supervisionar a rotina escolar
dos filhos e também em conseguirem estabelecer uma postura de autoridade diante
da falta de reconhecimento por parte dos alunos.
Para Basso (2010) “a indisciplina na sala de aula pode ser reflexo da sociedade,
que nos dias de hoje é marcada pelo individualismo, consumismo, racionalismo, con-
flito, insegurança e violência.” Em uma sociedade altamente impactada pela ideologia
do consumismo muitas famílias acabam perdendo o controle sob a formação educa-
tiva de seus filhos, reduzindo a função de educar ao ato de propiciar o acesso irrefre-
ado a bens de consumo. Ao invés de manterem-se presente e vigilantes sobre as
necessidades afetivas da criança de forma responsável as famílias acabam substi-
tuindo o processo educativo por práticas compensatórias, o que lhes retira a possibi-
lidade de exercer autoridade, que é uma condição inerente à função socializada dos
pais.
A criação em um lar isento de regras e de mecanismos coercitivos impostos à
criança e ao adolescente tendem a ter dificuldades em reconhecer a autoridade tanto
dos pais como também de gestores e professores no espaço escolar. As práticas de
desrespeitos e maus comportamentos do aluno indisciplinado são influenciadas desde
o ambiente familiar até a instituição escolar, e quando não se busca soluções, acom-
panhamentos e parcerias através da família-escola, a indisciplina pode ser o estopim
para a violência (AQUINO, 1996).
No âmbito escolar a precariedade da infraestrutura escolar, que carece de aper-
feiçoamento e investimento constante tornam-se fatores que contribuem para a pro-
pagação da indisciplina. Os educadores, assim como os alunos são, ao mesmo tempo
vítimas e atores propagadores da violência.
As necessidades econômicas e socioemocionais das crianças e jovens na con-
temporaneidade exigem da escola uma reformulação do currículo, a necessidade de
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
Gil, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social / Antônio Carlos Gil. - 6.
PIATO, Raiane Straiotto; ALVES, Rozilda das Neves; MARTINS, Sheila Regina Ca-
margo de. Conceito de família contemporânea: uma revisão bibliográfica dos anos
2006-2010. Nova Perspectiva Sistêmica, v. 22, n. 47, p. 41-56, 2013.
SANTOS, Jonabio Barbosa dos; SANTOS Morgana Sales da Costa. Família mono-
parental brasileira. In: Revista Jurídica Brasília, v. 10, n. 92, p.01-30, out./2008.
TIBA, Içami. Disciplina: limite na medida certa. Novos paradigmas/ Içami Tiba. –
Ed. Ver. Atual e ampli. – São Paulo: Integrare Editora, 2006.