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Capítulo 23

ORIENTAÇÃO PARENTAL
EM TEMPOS DE PANDEMIA:
CONTRIBUIÇÕES DO
PSICÓLOGO ESCOLAR

Manuella Martins Santos Moura Batista


UNINASSAU, manuellamtnsb@gmail.com

Lucas Emanoel Matos Cavalcante


Manuella Martins Santos Moura Batista
UNINASSAU, lucasemc1515@gmail.com
UNINASSAU, manuellamtnsb@gmail.com
Mychelle de Moura Ribeiro
Lucas Emanoel Matos Cavalcante
UNINASSAU, mychellemr@hotmail.com
UNINASSAU, lucasemc1515@gmail.com

Mychelle de Moura Ribeiro


Pedro Wilson Ramos da Conceição,
UNINASSAU, pedro_wilson_ramos@hotmail.com
UNINASSAU, mychellemr@hotmail.com

Pedro Wilson Ramos da Conceição


UNINASSAU, pedro_wilson_ramos@hotmail.com

ORIENTAÇÃO PARENTAL
EM TEMPOS
DE PANDEMIA:
CONTRIBUIÇÕES DO PSICÓLOGO ESCOLAR
DOI: 10.31560/PIMENTACULTURAL/2021.441.580-595
INTRODUÇÃO

No ano de 2020, o mundo inteiro está vivendo novamente o que


outrora vivera parecido no ano de 1918 com a gripe espanhola: uma
pandemia de ordem global, dessa vez com o SARS-CoV-2. O vírus
que começou na China, em questão de meses, alastrou-se por todo
o mundo, e, atualmente, em meados de setembro, somamos mais de
100 mil mortes apenas no Brasil (CORONAVÍRUS/BRASIL, 2020).

Uma das lições que podemos aprender com a pandemia da


gripe espanhola, de acordo Ignácio Fariza (2020), é a eficácia do
isolamento social, bem como a sua antecipação. Com o fechamento
do comércio e das instituições de ensino e aprendizagem, a proibição
de reuniões e aglomerações, a quarentena de indivíduos suspeitos/
confirmados, não apenas a mortalidade é reduzida, como também
a economia é favorecida a longo prazo. Tendo em vista a redução
dos impactos que a atual crise pandêmica poderia causar, além da
adoção destas medidas, a lei nº 14.019, de 2 de julho de 2020 foi
decretada, tornando obrigatório o uso de máscara como medida
preventiva contra o coronavírus.

Como citado anteriormente, um dos pontos afetados pelo


isolamento devido ao vírus, são as instituições de ensino e aprendizagem,
e, dentre elas, está a escola. Como bem colocado por Avelino (2020), é
importante salientar a importância e função que todos têm dentro deste
espaço, seja o governo, a família, o núcleo educacional e os próprios
alunos. De acordo com Antunes (2008, p. 469-470):
A concepção de escola como instância que se coloca
hoje como uma das condições fundamentais para a
democratização e o estabelecimento da plena cidadania a
todos, e que, embora não seja o único, é certamente um dos
fatores necessários e contingentes para a construção de uma
sociedade igualitária e justa.

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Com o fechamento das escolas, uma das opções viáveis
encontradas para tentar driblar a situação foram as aulas na modalidade
online, ou EAD – Educação à Distância, que já era regulamentada no
Brasil desde 2017, desde que as medidas de acessibilidade sejam
asseguradas nos meios utilizados, como dispõe no Art. 2 do Decreto
Nº - 9.057, de 25 de maio de 2017 (BRASIL, 2017). Porém, não é o
que os noticiários têm mostrado, como desde maio as aulas tornaram-
se remotas, uma maior responsabilidade em relação à educação dos
estudantes acaba recaindo sobre os pais. O intuito desse capitulo,
através de uma revisão bibliográfica, é compreender como o escopo
teórico e prático da Psicologia escolar pode contribuir para a orientação
dos pais de alunos no período atual de pandemia o qual vivemos,
partindo dos fundamentos da atuação do Psicólogo Escolar, e os
cuidados psicológicos em meio a uma crise humanitária.

A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO ESCOLAR

Existe uma discussão em relação as áreas de atuação da


Psicologia no âmbito educacional e no meio escolar. No processo de
construção da história é possível observar a distinção feita entre ambas
por alguns escritores, que as enxergam como áreas totalmente distintas,
porém como colocado por Antunes (2008), elas estão intrinsecamente
ligadas. A primeira tem como objetivo a produção de saberes sobre o
fenômeno psicológico no processo educativo, fomentando a segunda
na constituição como o campo de atuação desse profissional. A
psicologia escolar é uma área de atuação da psicologia no contexto
escolar, tendo como um dos objetivos o estudo dos processos de
ensino e aprendizagem, utilizando-se de conhecimento a partir da
ciência acerca do desenvolvimento emocional, cognitivo e social, com
o intuito de contribuir para o processo de educação com igualdade
e buscando melhorar o modo como os alunos são afetados pelas

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relações escolares e suas interações sociais, atuando em conjunto
com toda a equipe da rede escolar.

Nos primórdios da inserção do psicólogo na escola, a atuação


estava estreitamente relacionada a Psicometria, o que reforçava o estigma
da época sobre o psicólogo ser o profissional dos testes psicológicos. De
acordo com Souza (2007), advém desse modo de pensar, o famigerado
“fracasso escolar”, pois muitos profissionais desconheciam a força de
um laudo no meio escolar e o distribuíam sem responsabilidade. Então,
ao “aluno problema”, era fadado todo o seu fracasso. Mas todo esse
pensamento organicista a respeito do fracasso escolar é substituído por
um pensamento funcional, após a crise da psicologia vivenciada por
L. S. Vygotsky no início do século XIX na Rússia, onde ele elaborou
conceitos sobre como os seres humanos aprendem se todos forem
igualados no processo de aprendizagem, embora existam limitações
de ordem orgânica (ANDRADA, 2005), hoje é sabida a magnitude do
impacto das outras esferas no desempenho acadêmico do aluno, e
todas devem ser levadas em consideração, as mais apontadas são o
despreparo do educador e a desigualdade social.

De acordo com Martins (2003), o psicólogo escolar atua como


um viés de ligação entre o meio acadêmico (alunos) e todo o sistema
escolar. O psicólogo escolar entra como um elo entre o modelo clinico
e o sistema escolar, tendo em vista que ele participa em diversas
áreas da saúde mental e escolar, auxiliando em uma construção de
melhorias para todos. O mesmo autor traz o que Andaló, já em 1984,
mencionava que o melhor meio de intervenção do psicólogo escolar
é aquele que não exclui as contribuições clínicas e acadêmicas,
pois assim o psicólogo escolar irá assumir o papel de mediador de
mudanças dentro da instituição de ensino, na qual ele atuará como
provedor de reflexões, centralizador de ideias e conscientização do
pensar dos profissionais escolares em relação aos alunos.

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Nesse ponto, o psicólogo escolar é provedor de repassar à
equipe multidisciplinar da instituição seu conhecimento teórico, prático
e suas experiências acerca da educação. Tem o objetivo de desmistificar
o pensamento de que todo o aluno é biologicamente responsável por
seus fracassos escolares, desconsiderando os fatores sociais, culturais
e familiares que podem estar envolvidos nos déficits de aprendizagem
dos alunos. Este também busca enfatizar ainda mais a importância
da relação professor-aluno no processo de aprendizagem. Um estudo
feito por Moreira e Oliveira (2016) analisou a importância da atuação
do psicólogo na solução dos problemas de aprendizagem com origem
em distúrbios psicológicos; de acordo com os mesmos:
(1) o motivo do fracasso escolar não se deve somente à escola e
na relação professor/aluno. Por vezes, o êxito na aprendizagem
sujeita a dissolução de problemas psicológicos, fato que solicita
a intervenção de um profissional da psicologia; (2) a atuação do
psicólogo na instituição escolar não pode se restringir a atender
o educando e a sua família, orientar o profissional da educação,
ou seja, professor, orientador, supervisor é essencial para ocorrer
a superação dos barreiras psicológicas da aprendizagem; (3) o
psicólogo escolar deve atuar não somente de forma curativa,
mas especialmente com enfoque na prevenção. (2016, p.14).

É atribuição do psicólogo meditar a instituição escolar a


distribuir os conteúdos programáticos adequadamente de acordo
com o desenvolvimento maturacional de cada educando, auxiliar os
educadores com as demandas de diversidades culturais e sociais
de cada aluno, incluir técnicas de inclusões para alunos atípicos,
selecionar estratégias desenvolvimento de habilidades sociais entre
várias outras questões acerca do processo de ensino-aprendizagem
(CASSINS, 2007). O psicólogo escolar pode atuar auxiliando a
escola nos obstáculos que dificultam a aprendizagem dos alunos na
construção do seu conhecimento, e atua na formação de pessoas,
através de práticas educativas que desenvolvem uma humanização e
pensamento crítico nos alunos (TANAMACHI E MEIRA, 2003).

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Segundo o Conselho Federal de Psicologia, além do caráter
preventivo da psicologia escolar, o psicólogo deve favorecer
um ambiente escolar que promova saúde e bem-estar aos seus
frequentadores, visando estratégias que diminuam as dificuldades de
ensino aprendizagem dos educandos (CFP, 1992). Considerando o
contexto atual de Pandemia ocasionada pelo novo coronavírus, Pott
(2020) afirma que o profissional mais apto para atuar na atenção e
cuidado das relações humanas é o psicólogo escolar, pois este é o
profissional com maior conhecimento para favorecer a construção
de um cenário educacional adequado, considerando todo o contexto
de angústia e sofrimento dos alunos e professores, que leva a um
adoecimento mental.

IMPACTOS DA PANDEMIA DA COVID-19


NO ENSINO EDUCACIONAL

No final do ano de 2019, na cidade de Wuhan na China foi


descoberto um vírus com capacidades pandêmicas, acarretando
um estado de alerta no mundo. Com um processo de globalização
avançado nesses tempos modernos, não se conseguiu contingenciar
os casos do inédito corona vírus, de forma a ocasionar uma enorme
disseminação. Tendo um alto índice de contaminação, sua transmissão
generalizada foi reconhecida pela Organização Mundial da Saúde
(OMS) como uma pandemia (ORNELL et al., 2020).

Nesse sentido, no cenário mundial, para o enfrentamento da


pandemia adotou-se como medida não-farmacológica o distanciamento
e isolamento social, sendo estratégias de controle da disseminação da
contaminação na população pelo distanciamento físico e redução da
mobilidade (LINHARES et al., 2020).

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O impacto causado pela pandemia do novo coronavírus
vem impondo drásticas modificações na rotina da população
mundial. Diversas áreas foram atingidas por essas mudanças,
entre elas, a educação. Logo após a OMS declarar pandemia de
coronavírus, o Ministério da Educação passou a definir critérios para
a prevenção ao contágio da COVID-19 nas escolas. Desse modo,
o desafio fundamental da educação brasileira tem ido se readequar
ao cenário para que os estudantes não sejam prejudicados com a
pandemia (DE JESUS PEREIRA, 2020).

Em torno dessa nova vivência atípica, surgem informações


falsas sobre a forma de disseminação, transmissão e mortalidade, de
maneira, a amedrontar toda a população. Em uma pandemia, o medo
aumenta os níveis de ansiedade e estresse em indivíduos saudáveis
e intensifica os sintomas daqueles com transtornos psiquiátricos
preexistentes (ONELL et al., 2020).

Para Pereira et al. (2020), a pandemia causada pela COVID-19


traz consigo para o sistema educacional, além de vários outros
elementos corrosivos, a custosa demanda da constante “reinvenção
docente”, transmudada esteticamente quanto uma necessária
manutenção de uma educação remota que se faça ativa, presente e
minimamente acessível, sem considerar, entretanto, as lacunas das
condições trabalhistas, estruturais e até mesmo formativas, destes
profissionais da educação.

Esse novo contexto exigiu remodelações de comportamentos e


adaptação dos ambientes e das relações sociais. Na educação, surgiu
a necessidade de artifícios que se encaixem nas regras exigidas pelos
órgãos competentes da saúde, como o ensino remoto. Para Silva (2020),
a utilização da tecnologia como apoio educacional facilita as práticas
e desenvolvimento das aulas em busca de novos conhecimentos,
faz ainda com que os alunos se tornem autores e coprodutores da
informação obtida.

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A quebra de rotinas educativas tem sido objeto de estratégias
de Ensino à Distância (EAD), as quais são existentes desde o final
do século XIX e passaram a possuir maior relevância a partir do final
do século XX conforme a difusão das Tecnologias de Informação e
Comunicação (TICs), não obstante existam limitações relacionadas,
seja ao uso em diferentes níveis, principalmente nas faixas etárias
mais baixas do ensino fundamental e básico, seja à acessibilidade
devido a problemas individuais de inclusão digital ou hardware ou
a problemas estruturais dos backbones de redes em determinadas
localidades (SENHORAS, 2020).

Para Pereira et al. (2020), os docentes, em condições de


mudanças, são impulsionados ou obrigados a se adequarem às
atribuições de um novo perfil profissional e, consequentemente, às
exigências de novas performances para que as demandas sejam
atendidas. As dificuldades presentes nesse novo ambiente escolar,
acarretaram um acúmulo de responsabilidades para os professores,
além do cargo de organizar plano de aula, também tiveram que
desenvolver habilidades para o manejo das plataformas virtuais,
ambientalizar-se ao contexto cibernético, de modo a contribuir com o
ensino e a aprendizagem dos alunos.

Alguns efeitos críticos da pandemia da COVID-19 sobre


a educação que merecem destaque se referem aos impactos
negativos manifestado pelo comprometimento do processo de
ensino aprendizagem e pelo aumento da evasão escolar, os quais
demandaram ações estratégicas de curtíssimo prazo para a eventual
continuidade dos estudos, bem como o esforço de um planejamento
de resolução de problemas para a normalização dos ciclos escolares
no médio prazo (SENHORAS, 2020).

De acordo com Senhoras (2020), os impactos intertemporais


da pandemia da COVID-19 sobre a educação são preocupantes, pois
reproduzem de modo ampliado assimetrias previamente existentes

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nas sociedades, de modo que os atores econômicos privilegiados e
com amplo acesso ao ensino privado e às Tecnologias de Informação
e Comunicação (TICs) conseguem minimizar os efeitos pandêmicos
no curto prazo por meio da continuidade educacional via EAD em
contraposição a atores econômicos mais vulneráveis.

Neste sentido, as famílias com maior escolarização e melhores


condições econômicas têm acesso e dão continuidade aos estudos
por meio de plataformas estáveis e conteúdo de qualidade ao
contrário das famílias com menor escolarização e piores condições
econômicas, as quais são estruturalmente ou individualmente
limitadas ao acesso ao EAD, e, portanto, comprometendo a própria
continuidade dos estudos durante (curto prazo) e após a pandemia
(médio prazo) (SENHORAS, 2020).

Com o novo cenário escolar, a atuação do psicólogo precisou


ser redefinida e adaptada para auxiliar as demandas presentes nesse
meio, alinhando as necessidades entre pais, filhos e escola. Essa
troca entre os pares e gestão é de suma importância ao andamento
progressivo e exitoso no processo escolar (andamento das atividades
escolares) e de ensino (processo de ensino e aprendizagem com os
alunos) (SILVA et al., 2020).

Em suma, compreende-se que a Psicologia pode oferecer


contribuições importantes para o enfrentamento das repercussões da
COVID-19, que vem sendo considerada a maior emergência de saúde
pública que a comunidade internacional enfrenta em décadas. Essas
contribuições envolvem a realização de intervenções psicológicas
durante a vigência da pandemia para minimizar implicações negativas
e promover a saúde mental, bem como em momentos posteriores,
quando as pessoas precisarão se readaptar e lidar com as perdas e
transformações (SCHMIDT et al., 2020).

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ORIENTAÇÃO PARENTAL EM
TEMPOS DE PANDEMIA

Atualmente, é comum observarmos um consenso a respeito do


trabalho colaborativo entre as instituições Escola e Família; todavia, o
papel que cada uma destas irá desempenhar no processo educativo
da criança é alvo de algumas discussões que resultam no crescente
interesse de pesquisar medidas socioeducativas para intervenções
na área. Uma dessas medidas é a orientação parental, descrita por
Simões (2014) como a chave para a preservação familiar, de modo que
os pais são a mais prudente fonte de proteção e recurso para cobrir as
necessidades de seus filhos.

Tendo em vista que os pais são os primeiros mediadores


da criança no mundo e possuem diversos deveres quanto ao seu
desenvolvimento e formação saudável, é importante ressaltar que nem
todos estão preparados para exercer a função educativa do seu papel,
e, por este motivo, recorrem a técnicas de ensaio e erro, muitas vezes
orientados por amigos e familiares. Deste modo, alguns programas
de orientação parental têm o propósito de promover um preparo mais
adequado para os pais, utilizando intervenções psicoeducacionais e
treinamento de habilidades a partir da identificação dos fatores que
mantém o comportamento-problema da criança (NEUFELD, 2018).

O conceito da Educação Parental implica na preparação de pais


para que estes melhorem suas capacidades educativas, promovendo o
desenvolvimento pleno da criança e a melhoria das relações familiares.
Sobre as atividades concebidas nesse contexto:
Inclui programas didáticos, grupos de apoio e educacionais
para pais, grupos mais intensivos para pais em risco (por ex.
pais adolescentes), e programas de visitas a casa para famílias
difíceis de alcançar em outros contextos. (SIMÕES, 2014, p. 4).

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É evidente que o bom resultado que a criança alcança em meio
escolar depende não somente da escola como também do contexto
no qual esta se insere e da qualidade de interação familiar. Os pais,
historicamente, ocupam a posição de primeira instituição a prestar
o papel de cuidadores, modelos de comportamento, agentes de
socialização, educadores, etc. dos seus filhos. Contudo, as condições
exigidas por uma criança com problemas no desenvolvimento,
potenciam aumento nos níveis de estresse parentais e clamam destes
pais algumas habilidades que, geralmente, não são cobradas numa
função parental denominada normal (COUTINHO, 2003).

Coelho e Murta (2007) nos trazem que a mudança que se


deseja produzir nos filhos irá demandar alterações no modo de
comunicação dos pais com seus filhos, como habilidades sociais
educativas, que ocasionam mais chances de a criança desenvolver
autonomia, competência social, autoeficácia e melhor desempenho
acadêmico, e constatam que além deste fator, as práticas
educativas parentais também atuam no processo de proteção ao
desenvolvimento socioemocional, contribuindo para o crescimento
de programas de intervenção destinados ao desenvolvimento
dessas competências parentais.

É possível, assim, perceber a importância de um profissional


(corriqueiramente um psicólogo) que volte seu trabalho para a
orientação aos pais sobre maneiras de empregar medidas educativas
e interativas para promover ganhos no processo pedagógico e
emocional da criança. Esta formação parental pode ocorrer em
circunstância individual ou grupal.

Alguns programas de intervenção em grupo são constituídos


por sessões semanais com os pais, tendo como objetivo ensiná-los a
observar e descrever o comportamento da criança e a ser agentes mais
eficazes de reforço, a dar instruções de forma clara e eficiente para
seus filhos, sem comportamentos verbais críticos, questionadores,

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entre outros (COELHO E MURTA, 2007). No programa preventivo de
orientação parental com base em práticas positivas por Rodrigues et
al. (2019), compunha-se sessões baseadas em ensinar e incentivar
os pais a aplicar de forma prática dois princípios desenvolvidos por
Steinberg em sua obra The 10 Basic Principles Of Good Parenting
(2005) no cotidiano dos seus filhos e em trabalhar as dificuldades
apresentadas por mães, através da estimulação das análises de
contingências e treino de repertório.

No contexto da Pandemia ocasionada pelo novo coronavírus,


assim como a necessidade de adaptação nos mais diversos aspectos
do dia a dia, o formato de ensino tem passado por profundas
mudanças, consideradas novas e desafiadoras para muitos. O uso da
tecnologia para um ensino de forma remota, além de outras diversas
problemáticas, também tem preocupado os pais, que apresentam
dúvidas quanto a qualificação deste método, principalmente, para
aqueles que possuem filhos com limitações no desenvolvimento
cognitivo ou outras deficiências.

Dolabella et al. (2020), sugere a importância de incluir familiares


ou cuidadores nas estratégias de atenção psicossocial voltadas a
todas as crianças, sobretudo durante a pandemia. No caso de crianças
que estão enfrentando barreiras à continuidade dos estudos, cabe o
acolhimento da angústia e frustração destas crianças e suas famílias.
O autor também ressalta que:
Por outro lado, há intervenções específicas de cuidado a serem
realizadas no ambiente doméstico (exercícios posturais, de
alimentação, de comunicação, dentre outros) que podem ser
negociadas com os familiares ou cuidadores, de modo que
recebam orientação adequada para realizá-las. (2020, p. 9).

De modo que algumas crianças possuem mais dificuldades para


acompanhar a nova forma de ensino, que exige ainda mais atenção
e concentração por parte dos alunos, observa-se uma oportunidade

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para o trabalho de educação para além da sala de aula remota, sendo
esta a orientação com grupos de pais, visando melhoria na integração
família-escola e nos recursos socioeducativos que podem ser utilizados
em ambiente doméstico.

É importante salientar que quanto antes a orientação de pais


for realizada, melhor e mais duráveis serão os efeitos dos programas
de habilidades parentais. Todavia, a intervenção tardia também pode
ser considerada mais sensata do que nenhuma, pois também oferta
efeitos positivos, tanto na diminuição do estresse dos pais, como no
favorecimento de uma relação familiar harmônica e na melhoria das
capacidades educativas. Para a obtenção do sucesso desta causa,
é igualmente primordial o engajamento dos pais nas atividades
propostas (RODRIGUES et al., 2019).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao refletir sobre os obstáculos que a vivência atípica ocasionada


pelo novo coronavírus trouxe na área da educação, englobando
uma quantidade exacerbada de responsabilidades e competências
exigidas à tríade escola‐pais‐filhos, nota‐se a necessidade de redefinir
e adaptar a atuação do psicólogo escolar, de forma que este possa
oferecer contribuições pertinentes para o enfrentamento dos impasses
decorrentes da COVID‐19 no ambiente de ensino‐aprendizagem.

As discussões obtidas no presente capítulo buscaram


ressaltar a importância da orientação parental de habilidades sociais
educativas no crescimento saudável de crianças. Sugere‐se que
programas de intervenção parental em grupo auxiliam na diminuição
do estresse parental e no enfrentamento dos desajustes emocionais
e comportamentais na fase infantil que são potencializados nesse
período de crise social.

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Certificando-se que um dos maiores estressores para pais e
filhos durante a pandemia é a sobrecarga de demandas no âmbito
familiar e a fragilização do funcionamento das redes de apoio, mostra-
se como uma intervenção favorável, a qual cabe ser encaminhada
às escolas, a orientação parental sobre exercício e manutenção de
medidas socioeducativas durante o atual formato de ensino. Assim,
o debate proposto neste capítulo se mostra apenas uma porta de
entrada das possibilidades de estudos e reflexões sobre a orientação
parental como ferramenta psicológica de grande eficácia no que diz
respeito aos cuidados psicológicos em meio a uma crise humanitária.

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S UMÁRI O 595
Direção editorial Patricia Bieging
Raul Inácio Busarello
Diretor de sistemas Marcelo Eyng
Diretor de criação Raul Inácio Busarello
Assistente de arte Ligia Andrade Machado
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Editora executiva Patricia Bieging
Assistente editorial Peter Valmorbida
Revisão Autores e organizadores
Organizadores Fauston Negreiros
Breno de Oliveira Ferreira

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


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O584 Onde está a psicologia escolar no meio da pandemia?


Fauston Negreiros, Breno de Oliveira Ferreira -
organizadores. São Paulo: Pimenta Cultural, 2021. 1106p..

Inclui bibliografia.
ISBN: 978-65-5939-044-1 (eBook)

1. Escola. 2. Educação. 3. Psicologia. 4. Pandemia.


5. Covid-19. I. Negreiros, Fauston. II. Ferreira, Breno de Oliveira.
III. Título.

CDU: 37.015
CDD: 370

DOI: 10.31560/pimentacultural/2021.441
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