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Atividade do 6º Encontro:

Essa pesquisa pode ser realizada entre 2 ou 3 estudantes da turma. Ela compõe-se
de perguntas que deve orientar a entrevista. A lista das perguntas não precisa ser seguida
rigidamente, ela serve como um roteiro para facilitar a geração e análise dos dados.
De preferência, o/a entrevistado/a pode ser alguém que atue na Direção da escola
(Seja diretor/a, coordenador/a pedagógico/a, ou então orientador do S.O.E). Caso isso não
for possível, pode ser um/a professor/a que atua em qualquer nível da escola.
Depois, você pode fazer uma análise pessoal das respostas obtidas, baseada na
interpretação dos dados, estabelecendo relações com o que prevê a BNCC sobre o tema
do desenvolvimento das habilidades socioemocionais.
A pesquisa é direcionada para constatar a existência ou não de registros, em forma
de arquivos nas escolas, materializados em atas, formulários, livro de anotações, etc.,
sobre casos de violência ocorridos na/da/para a escola e no seu entorno. Além disso, se
há algum tipo de estudo, investigação ou reflexão sobre esses casos, visando compreender
o seu significado na educação e para o seu cotidiano. Ela faz parte do desenvolvimento
do projeto de pesquisa "Teorias da violência na educação: formação de professores para
atuar em situações de conflito”.1
A preocupação dessa pesquisa se distingue especificamente do levantamento de
dados para o trabalho estatístico. Ela tem em vista refletir sobre o que significa o trabalho
efetivo com sujeitos, no que tange às possibilidades de intervenção na escola, com o
intuito de mitigar ou diminuir as consequências da violência em situações concretas. O
objetivo é compreender como as escolas estão agindo nesses locais de maneira edificante,
questão para a qual parecem faltar respostas mais palpáveis.
Para isso, procure uma escola próximo de sua casa, de preferência escola pública
municipal ou estadual, e faça uma entrevista com um gestor (diretor/a, coordenador/a
pedagógico/a, orientador/a do S.O.E) ou ainda um professor da escola de qualquer nível
de ensino que se dispõe a responder sobre estas questões.

Questionário para as Entrevista nas Escolas

1) Segundo o Atlas da Violência 2018, que traz o índice de homicídios praticados


por regiões, o índice de homicídios no Brasil é 30 vezes mais alto do que a taxa
na Europa (CERQUEIRA, 2018). Portanto, pelas estatísticas oficiais, o Brasil é
considerado um dos países mais violentos do mundo.
- A escola faz algum trabalho junto à comunidade visando diminuir esses índices
de violência?

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Contemplado na Chamada MCTIC/CNPq nº 28/2018 – Universal/Faixa C, Processo CNPq nº
425947/2018-1, com tempo de execução previsto de 18/02/2019 a 17/02/2022. O projeto conta ainda com
aportes de recursos de AT/CNPq, PIBIC/CNPq e PROBIC/FAPERGS, na modalidade bolsas de iniciação
científica.
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- Em caso positivo, que tipo de trabalho é realizado?

2) De acordo com os dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento


Econômico (OCDE), o Brasil é campeão mundial de violência contra o professor
(GOMES, 2015), ou seja, é o país em que mais ocorre casos de violência
direcionadas ao professor.
- Houve algum tipo de violência contra o professor em sua escola nos últimos
anos?
- Em caso positivo, que tipo de violência ocorreu: física, verbal, psicológica ou
então outra?

3) Segundo informações do Relatório da Situação Global sobre Violência Escolar e


Bullying da Unesco, de 2015, que mede o percentual de alunos em escolas
secundárias onde se relatou que o bullying impediu o seu aprendizado, o Brasil se
encontra em 19º lugar entre todos os países do mundo com maior incidência.
- Há registro de casos de violência nesse sentido ocorridos na escola,
materializado em atas, formulários, livro de anotações, etc.?

4) O resultado do PISA (Programa Internacional de Avaliação) de 2018 revela que


o clima emocional das escolas brasileiras não é dos melhores, estando bem acima
da média mundial em indisciplina, solidão e bullying, e que isso está contribuindo
para que o país não consiga transcender os índices de atraso histórico de
aprendizagem de leitura, Matemática e Ciência. Esses dados trazem à tona a
importância da escola pública como uma instituição em que se institui também a
memória da violência e o seu legado histórico.
- Quais os modos de operar uma saída desse círculo vicioso?

5) De acordo com a nova BNCC (Base Nacional Comum Curricular), quando refere
que entre as tarefas para o ensino médio, por exemplo, compete à escola:
“promover o diálogo, o entendimento e a solução não violenta de conflitos,
possibilitando a manifestação de opiniões e pontos de vista diferentes, divergentes
ou opostos” (BRASIL, 2017, p. 467). Na verdade, compete à escola desenvolver
esforços também no sentido da melhoria sistêmica e universal para gerar um clima
de bem-estar socioemocional e acadêmico dos estudantes, bem como trabalhar na
promoção de um clima seguro, cooperativo e atraente para toda a comunidade
escolar. Quando a criança está sujeita a abusos ou maus-tratos, como preconceitos,
racismos, ciberbullying, intolerâncias ou crimes de ódio, não vai ter um
desempenho correto em outras áreas, como a aprendizagem cognitiva.

- Existe algum tipo de estudo na escola sobre as ocorrências mais comuns de


violência, no sentido da melhoria do clima socioemocional dos estudantes e
professores, bem como para a prevenção de que tais casos não se repitam?

6) Sabemos que no Brasil houve grandes avanços na legislação que facultam abolir
os castigos nas escolas, como o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA, em
1990, e o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo - SINASE,
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promulgado em 2006. Mas isso abriu a possibilidade de criar novas formas de


disciplinamento e padronização de condutas de crianças e adolescentes em
conflito com a lei. Segundo Ratusniak (2012, p. 6), “o consumo da Ritalina
(metilfenidato), droga usada no tratamento do TDAH, conhecida como ‘pílula da
obediência’ aumentou de 71.000 caixas em 2000 para 1.147.000 caixas em 2008”.
Ou seja, o problema do conflito com a lei não foi resolvido, mas transferido para
a esfera da “medicina normalizadora” de condutas atípicas nas escolas.
- Existe algum levantamento em sua escola sobre o uso de medicamentos por
alunos nesse sentido?

7) O silêncio dos indicadores e das pesquisas sobre a questão da violência na/da/para


a educação contrasta visivelmente com o contexto atual. A violência está
onipresente em nosso cotidiano, pois estamos o tempo todo em contato com as
mais diversas mídias, mídia visual ou auditiva. Seja na televisão, internet,
telefones celulares, ou qualquer artefato que nos liga às tecnologias de informação
e comunicação, não podemos fugir de contemplar cenas de violência, inclusive
ocorridas em escolas.
- Mas por que ainda hoje se faz silêncio sobre os arquivos da violência na escola?
- Segundo a sua opinião, essa realidade acima não oportuniza que os arquivos
sobre a violência deveriam falar para a sociedade e serem abertos à pesquisa e ao
debate público?
- Quais os efeitos que a ocultação e o silenciamento dos arquivos e da memória
sobre a violência trazem para o pensamento e para a autocompreensão da docência
e das teorias da educação?

8) Como seres de linguagem, é preciso nos compreendermos dentro de uma


narrativa, que não se coaduna com o status quo da ineficiência, por exemplo, mas
também não recaia no extremo das crenças fascistas, que apostam na resolução da
violência pelo uso da força.
- Em qual narrativa você e/ou a sua escola acredita, de naturalização da violência
na escola e seu entorno ou de seu enfrentamento e elaboração? Justifique o porquê
de sua resposta.

9) Segundo Debarbieu (2002, p. 67), em relação à violência caberia “reconhecer o


que as vítimas têm a dizer, e a reconhecer, portanto, seu poder de colocar seu
sofrimento em palavras”. Sabemos que as reflexões sobre o trabalho com as
narrativas de violência por si só não resolvem os problemas, se não provocarem
gestos de leitura a partir da conjuntura em que foram originadas, mas sem elas não
estaríamos agindo às cegas?
- Qual sua opinião sobre esse questionamento? Concorda ou discorda? Por favor,
justifique sua resposta.
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10) Sabendo que o SINASE – Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo, em


2006, veio preencher uma lacuna, promovendo a unificação das políticas públicas
por intermédio das práticas restaurativas e os círculos de mediação de conflitos e
reorganização de sentido. Esse documento, diz ser preciso “inserir,
obrigatoriamente, nos arquivos técnico-institucionais dos adolescentes o quesito
cor, permitindo um diagnóstico mais preciso da situação do adolescente no
atendimento socioeducativo. (pg. 67, item 9).
- Você acha que essa medida ajudar a coibir a violência ou a discriminar ainda
mais o adolescente no atendimento socioeducativo?

Referências:

CERQUEIRA, Daniel (Coord.). Atlas da violência 2018. Rio de Janeiro, IPEA e


FSBSP, jun. 2018. Disponível em:
http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/relatorio_institucional/180604_atlas
_da_violencia_2018.pdf Acesso: 06/12/2019.
DEBARBIEUX, Eric. “Violência nas escolas”: divergências sobre palavras e um
desafio político. In: DEBARBIEUX, Eric; BLAYA, Catherine. (Orgs.). Violência nas
escolas e políticas públicas. Brasília: UNESCO, 2002, p. 59-92.
OLIVEIRA, E. “Bullying, indisciplina e solidão: o clima nas escolas brasileiras revelado
pelo Pisa 2018”, disponível em:
https://g1.globo.com/educacao/noticia/2019/12/04/bullying-indisciplina-e-solidao-o-
clima-nas-escolas-brasileiras-reveladas-pelo-pisa-2018.ghtml Acesso: 04/12/2019.
RATUSNIAK, Célia. O 'livro negro' como prática de disciplinamento e governo da
infancia 2238-9229. In: IX Seminário de Pesquisa em Educação da Região Sul - A
Pós-Graduação e sua Interlocução com a educação básica. ANPEd Sul, 2012. Caxias do
Sul - RS.
BRASIL. CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. CONSELHO PLENO.
Resolução CNE/CP nº 2, de 22 de dezembro de 2017 (*) Institui e orienta a
implantação da Base Nacional Comum Curricular, a ser respeitada obrigatoriamente ao
longo das etapas e respectivas modalidades no âmbito da Educação Básica. Disponível
em:http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_s
ite.pdf Acesso: 30/04/2020.
BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei 8069 de 13/07/90.
Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm. Acessado em
21/05/ 2020.
BRASIL. Presidência da República. Secretaria Especial dos Direitos Humanos.
Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente. Sistema Nacional de
Atendimento Socioeducativo – SINASE. Brasília-DF: CONANDA, 2012.
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