A política estadunidense e o meio ambiente: uma análise comparativa dos
governos Obama e Trump (2013 - 2021)
Porto Alegre 2023 1 INTRODUÇÃO
1.1 Tema
Este trabalho busca entender e analisar as diferenças na política externa e
nacional estadunidense dos governos de Barack Obama (2013 - 2017) e de Donald Trump (2017 - 2021) no que tange o meio ambiente, tema chave nas relações internacionais, bem como o impacto e a reação da comunidade internacional frente às decisões tomadas por cada presidente.
Especialmente após o fim da Guerra Fria, os Estados Unidos da América
assumiram o papel de potência hegemônica no sistema internacional, tornando-o unipolar, e acabando por tomar a frente de inúmeros temas relevantes. Também especificamente após o fim dos conflitos entre Estados Unidos e União Soviética, alguns temas foram aparecendo mais nas discussões entre Estados e na agenda internacional. Esses novos temas denominamos de "low politics", em contraposição a "high politics", este último que diz respeito à segurança nacional, diplomacia, militarização, enfim, tópicos acreditados como necessários para a sobrevivência do Estado e que eram tidos como prioridade por muito tempo, tendo em mente a instabilidade e a anarquia do sistema internacional. O termo "low politics" tende a abranger temas considerados secundários e de menor importância, não ligados a interesses estratégicos e de vitalidade para o Estado em questão. Como exemplos mais comuns, temos os direitos humanos, as desigualdades sociais e o meio-ambiente; este último de maior importância para o presente trabalho. O meio ambiente, as mudanças climáticas e principalmente as políticas ambientais têm sido de grande relevância nos dias atuais, podendo ser observado a partir dos esforços dos Estados em acordos internacionais, nos encontros sobre o clima (como as COPs), na Agenda 2030 da ONU (Organização das Nações Unidas) e outras tentativas, sejam elas de caráter interno, com políticas nacionais; bilaterais, como por exemplo o acordo entre Brasil e Colômbia no período da COP26, onde o Brasil sugeriu uma parceria de cooperação técnica em várias áreas ambientais; ou multilaterais, como a Conferência de Estocolmo, um marco na trajetória da luta climática que reuniu mais de 113 países. A partir do já exposto, fica claro a importância dos esforços climáticos nos dias de hoje e da importância dos Estados Unidos no sistema internacional, seja ele como uma das maiores economias com altos níveis de poluição, seja como um líder a ser seguido. Dessa forma, ao analisarmos os dois governos em questão, mais especificamente o segundo mandato de Barack Obama e o mandato de Donald Trump, percebemos a diferença de importância dada ao meio ambiente por cada presidente. Entende-se a dificuldade no primeiro mandato de Obama, visto que o Senado foi tomado por republicanos que muitas vezes negavam as mudanças climáticas e que a administração iniciou em meio a uma crise econômica; entretanto, no segundo mandato, seu discurso inaugural já apresentou uma postura protagonista na luta climática:
Nós, o povo, ainda acreditamos que nossas obrigações como
americanos não são apenas para nós mesmos, mas para toda a posteridade. Responderemos à ameaça da mudança climática, sabendo que o fracasso em fazê-lo trairia nossos filhos e as gerações futuras. Alguns ainda podem negar o julgamento esmagador da ciência, mas nenhum deles pode evitar o impacto devastador dos incêndios devastadores e da seca devastadora e tempestades mais poderosas. (OBAMA, 2013, Discurso Inaugural)
O governo de Obama mostrou-se condizente com o primeiro discurso inaugural, o que
pode ser observado, por exemplo, no protagonismo que o presidente teve nas negociações do Acordo de Paris de 2015, onde foi estabelecido que os países deveriam agir e evitar que o aumento da temperatura do planeta não ultrapassasse 2ºC até 2100. Ainda em 2015, Obama reforçou uma lei que renova sua antiga lei de 2009, que prevê cortes nos impostos para a geração de energia eólica, hidrelétrica e solar; essa iniciativa mostrou-se bem sucedida, visto que de 2015 até 2016, a energia gerada através de meios renováveis aumentou em 9%. Outro fator a ser observado é o uso da imagem do presidente, conhecido nas relações internacionais como "diplomacia presidencial", e do uso de sua popularidade em função da luta climática, como quando o presidente visitou o Alasca (nunca antes visitado por um chefe de Estado) e a base marinha no Havaí, a fim de retratar as potenciais consequências da mudança climática, e de fato essas visitas explodiram na imprensa estadunidense, em específico, e mundial, num geral. Por outro lado, ao observarmos a trajetória do presidente Donald Trump, é nítido que este deixou o cargo em 2021 com um legado anti ambiental. Dentre as mais radicais decisões, a saída dos Estados Unidos (como antes citado, um modelo a ser seguido) do Acordo de Paris em 2019, assinado por 195 países, foi sem dúvida a mais chocante. Com a justificativa de que o acordo era injusto para o país, Trump ainda em seguida afrouxou as leis que controlavam a emissão de gases prejudiciais à camada de ozônio. Em julho de 2020, Trump enfraqueceu a Lei de Política Ambiental, facilitando a aprovação de empreendimentos (como dutos, rodovias e usinas), que antes precisavam de uma autorização ambiental mais profunda e bem avaliada. A Agência de Proteção Ambiental (EPA) teve seu poder de atuação drenado, apresentando em 2018 o menor número de processos criminais dos últimos 30 anos; a administração defende que as mudanças estariam buscando maior agilidade, mas ambientalistas apontam que a falta de punição aumenta as chances de repetição dos crimes. Outro fato foi a redução do território de dois monumentos nacionais do estado de Utah, o National Bears Ears e o Grand Staircase-Escalante foram, respectivamente, reduzidos em 84% e 50%, caracterizando a maior redução de áreas protegidas dos Estados Unidos.
Enfim, a discussão sobre as disparidades entre os governos analisados quando
falamos de mudanças climáticas é relevante para o campo das relações internacionais, principalmente quando falamos de um Estado forte e modelo como os Estados Unidos. A retirada do país de um acordo multilateral, por exemplo, enfraquece não só o compromisso com o meio ambiente, mas também o próprio multilateralismo em si, além de influenciar outros Estados. A causa do meio ambiente é uma das pautas mais importantes da atualidade, estudada e lutada por todas as camadas da sociedade, e a importância do multilateralismo e de uma posição exemplar de um país potência é incomparável. Cabe, então, um estudo acerca da diferença de postura entre os mandatos para entender os impactos e a importância da permanência de uma das maiores economias do mundo e mais poluidoras na luta climática. REFERÊNCIAS
ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA. Presidente (2009– 2017: Barack Obama).