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Tudo que você

precisa saber
sobre créditos
de carbono
(e nunca soube
como perguntar)

Guia RESET de
Créditos de
CARBONO
Um oferecimento:

Julho/2022
UM MERCADO QUENTE…
E COMPLEXO
Nunca antes se falou tanto sobre créditos de carbono.

De olho na emergência climática, cada vez mais empresas anunciam a


compra de créditos para compensar parte de suas emissões de gases de
efeito estufa e cada vez mais países adotam seus próprios sistemas de
comércio de emissões – o Brasil está estudando o seu.

E o assunto não se restringe mais aos CNPJs.

Hoje já é possível comprar créditos de carbono para compensar as


emissões de um carro alugado ou até de uma viagem de avião. E mesmo
quem quer investir nos créditos já encontra opções com tíquete mínimo a
partir de R$ 100.

Mas tão grande quanto o interesse nos créditos de carbono é a confusão


sobre os conceitos fundamentais que estão por trás deles.

Um crédito de carbono equivale a uma tonelada de dióxido de carbono


equivalente que deixou de ser emitida ou foi removida da atmosfera.

Essa é a definição básica – mas a simplicidade para por aí.

Guia Reset de Créditos de Carbono 2


• Qual o sentido de botar um preço no carbono?
• Q
 ual a diferença dos mercados regulados de carbono e o mercado
voluntário?
• Q
 uem garante que o crédito efetivamente está compensando uma
tonelada de carbono? Todo crédito de carbono é igual?
• Tem diferença de preço?
• Como funciona a emissão de créditos?

Esse guia busca resolver dúvidas como essas, tratando o assunto de forma
didática, mas ao mesmo tempo em profundidade para quem quer entender
como funcionam esses mercados na prática.

É um primeiro passo para quem pensa em comprar, vender ou investir em


créditos. Mas, mais do que isso, para quem se preocupa com o planeta.

Entender a engrenagem por trás dos créditos é essencial para evitar o


greenwashing e para garantir que eles possam cumprir o objetivo para o
qual foram desenhados: combater o aquecimento global.

O planeta tem pressa.

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Natalia Viri
Cofundadora do Reset

Guia Reset de Créditos de Carbono 3


ÍNDICE

05 POR QUE COLOCAR UM


PREÇO NO CARBONO?

07 POR FORÇA DE LEI:


os mercados regulados de carbono

10 POR LIVRE E ESPONTÂNEA


PRESSÃO: o mercado voluntário
12 De onde vêm os créditos do mercado voluntário?
13 Um conceito importante: adicionalidade
13 E quem garante a origem dos créditos?
14 Como funciona a emissão de créditos na prática?
15 Crédito de carbono é tudo igual? É tudo o mesmo preço?
16 Créditos florestais: O que é o REDD+?
17 De Kyoto para Paris: O que são créditos MDL?

18 MERCADO REGULADO INTERNACIONAL:


O Artigo 6 do Acordo de Paris
19 E como fica o mercado voluntário?
21 O que ficou (e o que não ficou) definido em Glasgow

22 MANUAL DO NET ZERO:


Boas práticas para o uso de créditos de carbono

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POR QUE COLOCAR
UM PREÇO NO
CARBONO?

Guia Reset de Créditos de Carbono 5


POR QUE COLOCAR UM
PREÇO NO CARBONO?
Para começar, uma pitada de teoria econômica.

As emissões de gases de efeito estufa são um dos principais exemplos


do que na economia é conhecido como “externalidade negativa”: os
benefícios da atividade econômica que causa as emissões são privados,
enquanto os custos gerados pelos gases que vão para a atmosfera acabam
sendo arcados por toda a sociedade.

A ideia por trás de dar um preço ao carbono é corrigir essa falha de


mercado e fazer com que os agentes emissores internalizem esses custos.

A precificação tem potencial para direcionar a demanda dos


consumidores e investidores para produtos de baixo carbono e estimular
investimentos em projetos e tecnologias mais limpas.

Existem duas formas de precificação: impostos sobre emissões ou


mercados de carbono.

Enquanto nos impostos o preço é fixo e definido unilateralmente pelo


governo, a segunda opção é uma forma de deixar que esse valor seja
descoberto pelos agentes do mercado.

Para entender melhor como funciona essa dinâmica, antes de qualquer


coisa, é crucial entender que há dois tipos de mercados de carbono:
• 
os regulados (ou obrigatórios), em que os governos
impõem metas de emissão;
• e
 o voluntário, em que a compra de créditos
acontece de forma espontânea pelas empresas.

Vamos a eles.

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POR FORÇA
DE LEI:
os mercados
regulados de
carbono

Guia Reset de Créditos de Carbono 7


POR FORÇA DE LEI:
os mercados regulados
de carbono
Nos mercados regulados, os governos – nacionais, estaduais ou regionais
– determinam metas obrigatórias de redução de emissões, normalmente
envolvendo setores específicos da economia.

Nesse esquema, conhecido como ‘cap and trade’, é estabelecido um teto


para as emissões dos entes regulados. Então, criam-se permissões de
emissões compatíveis com esse limite, que são vendidas ou distribuídas
gratuitamente. Os preços dessas permissões se ajustam no mercado.

Vamos supor que uma empresa tenha permissão para emitir 100 toneladas
de carbono. Se ela lançar 110 toneladas na atmosfera, vai ter de comprar
permissões para essas 10 toneladas excedentes de outra empresa
regulada pelo sistema que tenha emitido menos do que poderia.

Geralmente, esse teto global de emissões – e a quantidade de permissões


– vai sendo reduzida gradualmente. A ideia é que, ao longo do tempo, o
preço do carbono suba, de forma que as empresas tenham mais incentivo
para reduzir suas emissões internamente do que para comprar permissões
no mercado.

É muito importante entender que cada mercado regulado é um arranjo


fechado, com regras próprias. Isso explica porque os preços variam
tanto entre as jurisdições. Na China, o preço está em cerca de US$ 6, na
Califórnia, US$ 25, e na Europa – o mercado mais antigo e mais maduro –
chega a US$ 85.

“Posso comprar na China e vender na Europa?”


Não, porque os mercados – e as permissões –
têm características diferentes entre si.

E os mercados podem ser unificados?


Em teoria, sim, mas na prática acontece pouco e após muitos
ajustes e tempo de negociação. Para se juntar, os mercados precisam
ter características parecidas, ou “fungibilidade” do jargão do mercado.

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US$ US$

56 84
bilhões bilhões

É quanto os Foi o valor arrecadado Em 2021 pela


32 sistemas de com precificação de primeira vez a
comércio de carbono em 2021, receita gerada por
emissões em considerando também sistemas de comércio
todo o mundo a taxação, em que é de emissões superou
movimentaram cobrado imposto fixo a de impostos de
em 2021 por tonelada emitida carbono

Fonte: Banco Mundial

E como estamos no Brasil?


Após anos em banho-maria, as propostas para a construção de um
mercado regulado brasileiro começam a andar.

Um decreto publicado em maio de 2022 lançou as bases para o que


pode vir a ser um mercado de carbono nacional. Mas ainda deixa muitos
pontos em aberto sobre como funcionaria efetivamente um sistema de
comércio de emissões.

Há projetos de lei sobre o mesmo tema caminhando tanto no


Congresso quanto no Senado – um deles, de autoria do deputado
Marcelo Ramos (PSD), tramita há mais de um ano na Câmara e está
pronto para ser votado. Entre especialistas, a percepção é que uma
lei traria muito mais segurança jurídica, já que um decreto pode ser
derrubado por qualquer outro governo.

>> Mais no Reset:


O decreto que cria o mercado de carbono brasileiro, explicado

Guia Reset de Créditos de Carbono 9


POR LIVRE E
ESPONTÂNEA
PRESSÃO:
o mercado
voluntário

Guia Reset de Créditos de Carbono 10


POR LIVRE E
ESPONTÂNEA PRESSÃO:
o mercado voluntário
No mercado voluntário, as empresas compensam a emissão de CO2
basicamente por uma questão reputacional – leia-se pressão dos
consumidores e dos investidores, que cada vez mais estão cobrando uma
postura ativa em relação às questões ambientais.

Aqui, uma empresa (ou indivíduo) nos Estados Unidos pode comprar um
crédito no Brasil ou em qualquer outro lugar do mundo. A relação é bilateral e
não é sujeita a uma regulação. Mas existem certificadoras e melhores práticas
para garantir a integridade desses créditos, como veremos mais à frente.

O Ecossystem Marketplace – que coleta informações junto aos principais


desenvolvedores de projetos de carbono do mundo – estima que as
transações com créditos voluntários de carbono giraram em torno de
US$ 1 bilhão nos onze primeiros meses de 2021, mais que o dobro dos
US$ 473 milhões de 2020 como um todo.

Apesar de ser ainda relativamente pequeno, com a explosão de compromissos


de net zero por parte das empresas, esse mercado vem crescendo em
velocidade exponencial. Os números variam, mas há estudos que estimam
que ele pode girar entre US$ 50 bilhões e US$ 100 bilhões até 2030.

Valores negociados nos mercados voluntários de carbono (em US$ mm)


1000

800

600

400

200

0
2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021*

Fonte: Ecossystem Marketplace - nov/21. *Acumulado no ano até 31 de novembro.

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De onde vêm os créditos
do mercado voluntário?
Em teoria, os créditos do mercado voluntário podem vir de quaisquer
projetos que sequestraram gases de efeito-estufa, evitaram ou
reduziram a sua emissão.

Mas há categorias e metodologias que já estão mais consolidadas.

Historicamente projetos de energia renovável respondiam pela maior


parte do mercado voluntário, mas essa realidade mudou em 2021,
quando os créditos florestais ganharam a dianteira.

O que significa CO2 equivalente?


Além do CO2, há outros gases de efeito estufa, como o
metano e o óxido nitroso. Por uma questão de padronização,
eles são todos medidos em toneladas de carbono equivalente,
de acordo com seu potencial de contribuição para o aquecimento global.
Uma tonelada de metano, por exemplo, equivale a 21 toneladas de CO2
quando considerado seu efeito ao longo de 100 anos. Os créditos de carbono
também seguem essa padronização.

Volume de créditos de carbono por categoria (em MtCO2eq)

Florestas e
uso da terra 115
Energia renovável 80
Eficiência energética 16,1
Agricultura 3,4
Gestão de resíduos 2,7
Transporte 2,1
Household devices 1,8
Processos químicos/
indústria 1,1
0 25 50 75 100 125
Fonte: Ecossystem Marketplace - set/ 2021 (dados no acumulado de 2021 até agosto)

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Um conceito importante:
adicionalidade
Para emitir um crédito de carbono, ao menos em teoria, não basta um
projeto dizer que está reduzindo ou sequestrando carbono da atmosfera.
Ele precisa provar que tem um efeito ‘adicional’, ou seja, que provoca
um impacto que não existiria na ausência do incentivo dado pelo crédito de
carbono.

As metodologias das principais certificadoras exigem essa comprovação de


adicionalidade.

É uma questão complexa e que gera muita controvérsia, mas dá para ilustrar
o conceito com um exemplo real. No começo da década passada, os projetos
de energia renovável, como eólica e solar, só faziam sentido econômico com
a receita vinda dos créditos de carbono. Não fosse essa receita, eles não
sairiam do papel.

Mas, com o tempo, a tecnologia se aperfeiçoou, ganhou escala e hoje em boa


parte do mundo esses projetos são mais competitivos que outros poluentes.
Resultado: hoje é bem mais difícil que uma certificadora aceite que uma
planta de energia eólica ou solar emita créditos no mercado voluntário,
especialmente nos países desenvolvidos.

E quem garante a
origem dos créditos?
Há diversos programas de certificação de projetos
de carbono desenvolvidos por atores privados.

O mais utilizado pelo mercado voluntário é a Verra, uma plataforma de


registro global que faz a custódia dos créditos. A Verra criou os Voluntary
Carbon Standards (VCS), padrões que são tidos como referência atualmente.

Há ainda a suíça Gold Standard, que foca não só na integridade


ambiental, mas também nos benefícios sociais gerados pelos créditos.

Há diversas certificadoras acreditadas para aplicar as metodologias –


que estão em constante evolução, abarcando novas técnicas e setores.

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Como funciona a emissão
de créditos na prática?
Cada padrão de certificação tem suas regras, mas as etapas costumam ser similares:

1 Project Design Document (PDD): Documento que dá o pontapé


inicial no projeto, estimando a quantidade e o período de geração dos
créditos de acordo com a metodologia de quantificação adequada à
atividade correspondente.

2 Relatório de validação: O PDD é submetido à validação, num


processo de auditoria independente conduzido por uma empresa
credenciada pelo padrão de certificação, que emitirá um relatório ao
final da análise.

3 Relatório de monitoramento: Na sequência é gerado um relatório


com os dados e informações relacionados ao monitoramento das
reduções ou remoções de gases de efeito estufa. Cada projeto tem
vários períodos de monitoramento sucessivos, que podem variar de
1 a 5 anos cada.

4 Relatório de verificação: Atesta o volume de créditos gerados no


período apurado.

Emissão dos créditos: Com os relatórios de monitoramento e


5 verificação, o desenvolvedor do projeto poderá pleitear a emissão
dos créditos no período.

 Uma vez emitidos, Se forem vendidos Se forem usados


os créditos recebem para outro para compensação
um número de série participante, de gases de
único, que garante a interessado por efeito estufa
rastreabilidade e evita a exemplo no potencial efetivamente, são
contagem duplicada. Eles de valorização dos “aposentados”
ficam depositados na créditos, podem e saem de
conta do desenvolvedor ser transferidos circulação.
do projeto dentro do para outras contas
ambiente de registro de existentes dentro do
créditos. mesmo ambiente.

Fonte: Q&A básico do mercado de carbono - LAB/CVM

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Crédito de carbono é tudo igual?
É tudo o mesmo preço?
Cada crédito corresponde a uma tonelada de carbono equivalente
que deixou de ser emitido ou foi removido da atmosfera. Mas isso
não significa que todo crédito é igual – e os preços variam muito no
mercado voluntário.

Primeiro, porque como hoje as transações são feitas em mercado


de balcão e descentralizadas, há pouca visibilidade sobre as cotações.

Mas, além disso, há diferenças dependendo da localização dos


projetos, a oferta daquele tipo de crédito no mercado e a percepção
de ‘integridade’do carbono que está sendo negociado.

Há também a questão do volume da compra: grandes compradores


costumam conseguir descontos relevantes no mercado.

As chamadas ‘soluções baseadas na natureza’, que incluem projetos


florestais, com frequência são negociadas com prêmio em relação às
demais.

Os compradores também costumam pagar um ágio para quem


consegue provar que tem um ‘co-benefício’, como a proteção de
biodiversidade ou o desenvolvimento econômico das comunidades
próximas ao projeto.

Soluções que sequestram carbono


e não apenas evitam emissões –
como reflorestamento e técnicas de
agricultura regenerativa – também
costumam ter prêmios. Hoje esse tipo
de crédito ainda é mais raro, mas a
demanda e a oferta vêm crescendo.

Guia Reset de Créditos de Carbono 15


Créditos florestais:
O que é o REDD+?
Um dos créditos cuja oferta mais tem crescido no mercado voluntário é
o chamado REDD+, que envolve projetos florestais.

REDD+ é a sigla para Redução de Emissões Provenientes de


Desmatamento e Degradação Florestal – no jargão do setor, é o
“desmatamento evitado”. Além disso, a metodologia prevê ainda
projetos de conservação e aumento de estoques de carbono florestal,
além de manejo sustentável.

Entram aqui os projetos que conservam a floresta em pé. A lógica é que,


sem o incentivo econômico dos créditos de carbono, provavelmente a
mata seria derrubada para dar lugar a outras atividades.

É aqui que o Brasil tem um grande potencial para se desenvolver, por


conta do perfil de suas emissões de gases de efeito-estufa, associadas
em grande parte ao desmatamento e a mudanças no uso da terra.
Diversos projetos de conservação na Amazônia são REDD+.

A origem do REDD+
O REDD+ nasceu na Convenção-Quadro de Mudanças
Climáticas da ONU, estabelecendo critérios para remunerar
os países que reduzem as emissões causadas pelo desmatamento.

Nesse contexto, no entanto, ele serve de parâmetro para balizar doações


de países desenvolvidos aos países em desenvolvimento atrelados a
reduções de emissões, numa outra modalidade de pagamento por serviços
ambientais. É esse mecanismo que serve de parâmetro para as doações
feitas ao Brasil pelo Fundo Clima, por exemplo.

Foi o mercado voluntário que incorporou as metodologias de REDD+ da


ONU como elegível para gerar créditos de carbono.

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De Kyoto para Paris:
O que são créditos MDL?
Além dos créditos certificados pela Verra e outras certificadoras
independentes, quem busca compensar emissões se depara ainda com a
oferta dos créditos de “MDL”, sigla para Mecanismo de Desenvolvimento
Limpo (MDL, ou CDM, em inglês).

Para entender o que é o MDL é preciso voltar no tempo para o Protocolo


de Kyoto, assinado em 1997 e que passou a vigorar em 2005.

Kyoto foi a origem dos mercados de carbono. Pelo protocolo, apenas


os países desenvolvidos tinham metas de redução de emissões e para
cumpri-las podiam comprar créditos dos países em desenvolvimento.

Essa troca de créditos se deu por meio do Mecanismo de Desenvolvimento


Limpo, orquestrado pela ONU, e que tem metodologias próprias.

Desde 2015, estamos sob a vigência do Acordo de Paris, em que todos


os países signatários – desenvolvidos ou não – têm metas de redução de
emissões, as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs).

O Acordo de Paris prevê um mercado regulado internacional em seu


artigo 6, mas as regras mais gerais para esse desenho só foram acordadas
na última COP, em 2021.

Nesse meio tempo, o MDL ficou numa espécie de limbo e seus créditos
passaram a ser negociados no mercado voluntário, normalmente a
preços mais baixos.

Guia Reset de Créditos de Carbono 17


MERCADO
REGULADO
INTERNACIONAL:
O Artigo 6 do
Acordo de Paris

Guia Reset de Créditos de Carbono 18


MERCADO REGULADO
INTERNACIONAL:
O Artigo 6 do Acordo
de Paris
Cada um dos países signatários do Acordo de Paris tem sua meta de
redução de gases do efeito estufa. São as chamadas Contribuições
Nacionalmente Determinadas (NDCs, na sigla em inglês).

Hoje, essas metas só podem ser atingidas via reduções de emissões que
acontecem dentro de cada nação. O objetivo central do Artigo 6 é criar
mecanismos que permitam tornar essas metas mais ambiciosas via a
cooperação entre as nações.

Dos 29 artigos que compõem o Acordo de Paris, esse é o que levou mais
tempo para ser implementado: os países só chegaram a um consenso sobre
seu desenho geral na COP 26, realizada em 2021, em Glasgow.

O principal ponto do Artigo 6 é criar um mercado regulado internacional,


sob a batuta da ONU, com regras para transações de créditos de carbono
entre países, entre países e entes privados e algumas transações entre
agentes privados (o foco no “algumas” é importante aqui, como veremos
mais à frente).

Como fica o mercado voluntário?


Primeiro, é importante destacar que, diferentemente do que muita gente
pensa, o Artigo 6 não cria um mercado de carbono mundial centralizado,
uma grande bolsa que vai concentrar as transações de créditos negociados
pelas empresas.

Só entrarão nas regras do Artigo 6 as compras e vendas de créditos que


pretendam ser contabilizadas dentro das NDCs das nações compradoras.

Guia Reset de Créditos de Carbono 19


Num exemplo hipotético, uma empresa brasileira vende 100 mil créditos de
carbono para uma empresa americana que quer compensar suas emissões.
Hoje, os Estados Unidos não podem reivindicar esses créditos para
cumprimento de sua meta.

Grosso modo, quando o mercado do artigo 6 estiver em vigor, se esses


créditos estiverem enquadrados nas suas regras, o Brasil vai adicionar 100
mil créditos de carbono na sua NDC e os Estados Unidos vai reduzir a sua
NDC na mesma proporção.

É o que garante a integridade climática da transação – ou seja, que não haja


dupla contagem do abatimento de emissões.

Na prática, haverá dois tipos de transação: aquelas autorizadas a integrar


o Artigo 6 e aquelas que não fazem parte dele. Caberá ao governo do país
gerador dos créditos dar o aval para quem quiser seguir o primeiro caminho.

A expectativa é que o rigor técnico e metodológico do artigo 6 – que tende


a se tornar o “padrão ouro” – se traduza em preços maiores para os créditos
que se credenciarem pelas suas regras.

Isso não quer dizer que as transações do mercado voluntário como são hoje
não têm integridade e são inócuas. Uma das preocupações nas negociações
era não engessar as trocas espontâneas de créditos e matar um mercado
que está em plena infância e se expandindo rapidamente.

No fim das contas, a decisão sobre encaixar um crédito do mercado


voluntário no Artigo 6 será dos desenvolvedores de projetos e dependerá
do apetite dos compradores.

Guia Reset de Créditos de Carbono 20


O que ficou (e o que não ficou)
definido em Glasgow
Os principais pontos sobre o artigo 6 que foram definidos na COP 26:

Contabilidade:
Ficou definido que, quando o país comprador
usar os créditos de carbono para abater de sua
meta, esses créditos têm que ser descontados
da meta da nação hospedeira do projeto que
originou os créditos, para evitar uma dupla
contagem. O nome desse desconto é “ajuste
correspondente”, um dos principais pontos de
controvérsia que adiou um acordo por anos.

Origem:
Para serem descontáveis das NDCs dos
países compradores, os créditos terão de ser
aprovados pelo país onde foram originados.
Cada país terá que criar uma estrutura de
governança própria para isso.

Importação dos créditos do MDL:


Havia uma preocupação sobre o que fazer
com os créditos herdados do Protocolo de
Kyoto dentro do novo mecanismo. Ficou
decidido que somente serão válidos aqueles
apurados entre 2013 e 2020. E eles poderão
ser utilizados para o abatimento de NDCs
somente até 2030.

Metodologias:
Um comitê de países operando no âmbito
da ONU vai determinar que tipos de projetos
e quais metodologias serão aceitas para fins
de artigo 6. Isso ainda deve levar um tempo.

Guia Reset de Créditos de Carbono 21


MANUAL DO
NET ZERO:
Boas práticas para
o uso de créditos
de carbono

Guia Reset de Créditos de Carbono 22


MANUAL DO NET ZERO:
Boas práticas para o uso
de créditos de carbono
Com cada vez mais empresas fazendo compromissos de neutralidade
climática, tão importante quanto entender como funcionam os créditos
de carbono é entender qual seu papel no combate da mudança climática.

Se uma empresa diz que quer chegar ao net zero, mas sua estratégia é
apoiada principalmente na compensação, sinal amarelo!

Os créditos de compensação são importantes e bem-vindos, e são cruciais


para dar incentivo a atividades como redução de desmatamento. Mas
devem ser usados como estratégia complementar nos planos corporativos.

O importante é ter uma rota de ação para reduzir as emissões da


própria empresa e da sua cadeia de valor, que inclui os fornecedores
e as emissões advindas do uso de seus produtos. Em outras palavras:
no ‘net zero’, o ‘zero’ é mais importante que o ‘net’.

Está na definição de net zero do Painel Intergovernamental de Mudanças


Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) da ONU: a neutralidade é atingida
“ao se reduzir as emissões o mais próximo possível do zero em um
determinado período e compensar quaisquer emissões remanescentes
com projetos que removam emissões de atmosfera.”

A neutralidade, portanto, não pode ser um passe livre para que a


companhia continue o ‘business as usual’. Mais do que isso: se todo
mundo decidir plantar árvores ou comprar offsets para compensar
as emissões, simplesmente não vai ter terra ou projetos geradores de
crédito suficientes no mundo.

As compensações devem ser destinadas às emissões residuais, aquelas


que são muito difíceis de abater, seja porque não há tecnologia disponível
ou porque o preço dessa tecnologia ainda é impeditivo.

>>Mais no Reset:
Como saber se as metas climáticas vão além do marketing

Guia Reset de Créditos de Carbono 23


Guia RESET de
Créditos de
CARBONO

Um oferecimento:

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